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O documento descreve o dialeto baiano, destacando suas particularidades linguísticas como a eliminação da letra "d" em palavras no gerúndio, o uso indiscriminado da palavra "porra" e expressões como "Bora Baêa, minha porra". Explica também diferenças entre o baianês falado em Salvador e o "braulês", variante mais inacessível, e ensina alguns termos do vocabulário local.
O documento descreve o dialeto baiano, destacando suas particularidades linguísticas como a eliminação da letra "d" em palavras no gerúndio, o uso indiscriminado da palavra "porra" e expressões como "Bora Baêa, minha porra". Explica também diferenças entre o baianês falado em Salvador e o "braulês", variante mais inacessível, e ensina alguns termos do vocabulário local.
O documento descreve o dialeto baiano, destacando suas particularidades linguísticas como a eliminação da letra "d" em palavras no gerúndio, o uso indiscriminado da palavra "porra" e expressões como "Bora Baêa, minha porra". Explica também diferenças entre o baianês falado em Salvador e o "braulês", variante mais inacessível, e ensina alguns termos do vocabulário local.
Adoro ouvir a fala das pessoas. Gosto de acompanhar o ritmo de
suas palavras, descobrir o uso inusitado que do s palavras, desfrutar de seus sotaques. Alis, sotaque coisa muito boa. Como baiana, nascida e criada em Salvador, estou acostumada a ouvir as piadinhas sobre meu falar. Mas vou confessar uma coisa: no h nada mais bonito e divertido do que ouvir dois baianos conversando. E ainda no estou falando de nosso vocabulrio surreal ou de nossas grias alucinadas. Gosto mesmo da fala mansa, das letras suprimidas, das pausas e, sobretudo, do jeito manhoso de liberar as palavras. Certa ocasio, fomos a uma festa de Bodas de Ouro no interior de So Paulo. Mirandpolis, extremo oeste do Estado. Muita gente boa e todos aqueles erres a rasgar o dilogo. Logo minha filha escutou o comentrio, entre sorrisos: Que coisa linda! Ela fala igualzinho Ivete Sangalo Consciente de nossa responsabilidade em bem representar a terra de todos os santos, alertei minha pequena: Presteno: a partir de agora voc s me chama de mainha, viu? Ela, que sempre me chamara de me, teve que vigiar a linguagem durante todo o final de semana, de maneira a no decepcionar a plateia. Alis, esse jeitinho soteropolitano de falar bem devagar, mastigando as letras no tem paralelo. Aqui subvertemos a gramtica, eliminando a letra d das palavras no gerndio. E assim vamos andano, falano, comeno, mordeno, esperano. Mas a lngua viva, falada pelo povo, tem por norma libertar-se das amarras gramaticais. o que acontece quando paulistas e paranaenses destroem a concordncia nominal: as cadeira, as casa, as planta. Ou os irmos nordestinos assassinam a concordncia verbal: Tu vai? E o baians das ruas de meter inveja Alis, h quem diga que j no se fala o baians nas ruas, mas o brauls (leia: O brauls). Ou seja, um sub-dialeto, inacessvel aos novatos. Para quem vem a Salvador pela primeira vez, convm comprar um pequeno dicionrio de baians ou contratar um intrprete. Onde mais, nesse mundo de Deus, se poderia ouvir a cordial saudao entre amigos: Diga a, disgraa!? H variaes:: Cole de mrmo (traduo livre: como vai?) nima significa a ausncia de problemas. Existem, ainda, duas expresses que fazem as vezes de advrbio de negao: Aonde? e L ele. Buz nibus, pozinho francs cacetinho.
Mas, de tudo o que de mais louco h na Bahia, pouca coisa se iguala
ao uso indiscriminado que se faz da palavra porra. Alis, aprendi desde menina que isso era palavro. Cresci e descobri que meus pais estavam enganados. Mais ou menos. Aqui na Bahia , a porra pode ser usada como substituta de quase todas as palavras do dicionrio. Para comear, o grito de guerra da torcida do Bahia Bora Baa, minha porra, carinhosamente abreviado para BBMP. Outros exemplos de uso de nossa palavra chave: , no se saia no que eu lhe pico a porra, viu! uma amea de violncia fsica. Que porra essa? o que isso? ita porra! exclamao, admirao. Esse acaraj t gostoso como a porra. advrbio de intensidade Fique com sua porra, no quero mais no! Usa-se ainda algumas variaes, como porrinha Dizem que, num futuro no muito distante, a porra ser substituda pela mizera: Esqueci a mizera da chave dentro do carro. (leia: O Brau) Algum tempo atrs, aprendi com minha filha algumas novas palavras, que enriqueceram meu vocabulrio brauls: siboteira e migueseira, que significam oferecida e mentirosa, respectivamente. E ha de se ensinar ao visitante que, em Salvador, ningum fala oxente. Isso coisa mais do Norte. Aqui falamos oxe. A toda hora, por qualquer coisa, oxe! H quem goste. H quem critique. Mas uma coisa certa: com esse sol, o mar de guas quentinhas e o sorriso quase sempre presente no rosto dos baianos, o mais resistente dos turistas logo aprende a lngua que vem de l do Curuzu e se espalha por toda a cidade.