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O Primeiro foi o Ac. Costa/ENEL de 15 de Julho de 1964, onde está contida toda
uma teoria das relações entre o Direito Comunitário e o Direito Interno:
Na base deste acórdão encontra-se um caso, preparado em Milão, que pretendia
abordar a lei Italiana sobre a nacionalização da energia eléctrica, e em que se
denunciava que esta era antagónica com disposições do Tratado da CE.
Tendo o Juiz de Milão submetido ao Tribunal de Justiça das Comunidades
Europeias, ao abrigo do Artº 234 do TCE – “O tribunal de Justiça é competente para
decidir, a título prejudicial:
a) …
b) …
c) …
Sempre que uma questão desta natureza seja suscitada perante qualquer órgão
jurisdicional de um Estado-Membro, esse órgão pode, se considerar que uma
decisão sobre essa questão é necessária ao julgamento da causa, pedir ao Tribunal
de Justiça que sobre ela se pronuncie;
Sempre que uma questão desta natureza seja suscitada em processo pendente
perante um órgão jurisdicional nacional, cujas decisões não sejam susceptíveis de
recurso judicial previsto no Direito interno, esse órgão é obrigado a submeter a
questão ao Tribunal de Justiça”.[4]
O Governo Italiano contestou a posição do Juiz Italiano e a decisão do Tribunal de
Justiça das Comunidades Europeias, sustentando, “de um ponto de vista dualista,
que a função do Juiz italiano era a de aplicar a lei nacional”[5].
Contudo, a decisão do Tribunal de Justiça das Comunidades Europeias no caso
Costa/ENEL é fundamental para reforçar a primazia do Direito Comunitário, porque
é bem claro no que toca a esta matéria:
“O Tratado da CE institui uma ordem jurídica própria, integrada na ordem jurídica
dos Estados-membros e que se impõe às suas jurisdições”. Os Estados-membros,
“limitaram, embora em domínios restritos, os seus direitos soberanos e criaram,
assim, um corpo de direito aplicável aos seus súbditos e a eles próprios”. E mais, “
(…) Esta integração no direito de cada país membro, de disposições provenientes
de fonte comunitária, e, mais genericamente, os termos e o espírito do Tratado têm
por corolário – considera o Tribunal – a impossibilidade para os Estados-membros
de fazer prevalecer, contra uma ordem jurídica por eles aceite numa base de
reciprocidade, uma medida unilateral ulterior (…) ”
“ (…) Resulta do Conjunto destes elementos que, emanado de uma fonte autónoma,
o direito resultado do Tratado não poderia, em razão da sua natureza originária
especifica, ver-se judiciariamente confrontado com um texto de direito interno,
qualquer que este fosse, sem perder o seu carácter comunitário e sem que fossem
postos em causa os fundamentos jurídicos da própria Comunidade.”[6]
Por outro lado, esta decisão do Tribunal de Justiça das Comunidades Europeias é
dirigida directamente à ordem jurídica Italiana, mas também, indirectamente, aos
restantes Estados-membros. Foi uma forma que o TJCE encontrou para se afirmar
perante a Comunidade Europeia e passar a mensagem de que prevalece sempre o
Direito Comunitário: “ (…) A força executiva do Direito Comunitário – acrescenta o
TJCE – não poderia, com efeito, variar de Estado para Estado ao sabor das
legislações internas ulteriores, sem por em perigo a realização das finalidades do
Tratado … ou provocar uma discriminação proibida pelo Artº7.”
“ (…) As obrigações contrárias em virtude do Tratado que instituiu a Comunidade
não seriam incondicionais mas tão-somente eventuais se pudessem ser postas em
causa por actos legislativos ulteriores dos signatários.”[7]
Em resposta a este Acórdão do Tribunal de Justiça das Comunidades Europeias, o
Tribunal Italiano (Corte Costituzionale italiana) cumpriu o que lhe foi imposto,
admitindo que, de facto, o Direito Comunitário beneficia de uma primazia sobre as
normas internas que se lhe opunham, mas, por outro lado, afirmou que o Direito
Comunitário “ (…) não beneficia de uma primazia absoluta sobre a ordem
constitucional Italiana, pois há na constituição certos princípios essenciais – e
designadamente o principio dos Direitos Fundamentais – que conferem à Lei
Fundamental a sua identidade própria e que por isso não poderiam ser postos em
causa pela legislação comunitária.”[8]