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De tal modo que a religiosidade cvica dos gregos jamais fechou sua religio
a novas divindades. Eles esto sempre dispostos a aceitarem, desde que
disso tirem proveito, os deuses estrangeiros.
Isto porque os gregos antigos jamais incorporaram a viso de que sua
crena representasse uma verdade absoluta, que precisasse conquistar
novos povos para a verdade. Ou seja, exercitavam a tolerncia entre as
diferentes crenas e valores. Existe nisso um relativismo intrnseco,
utilitrio e complacente: os gregos esto convencidos de que para eles as
coisas so assim, e entendem perfeitamente que para outros povos
possam ser diferentes .
A harmonizao do consciente e do inconsciente- O culto a Dionsio a
ruptura do dando que se recebe.
Dionsio uma dessas divindades de origem asitica, que foi astuta e
resolutamente apropriada pelos gregos e terminou por incorporar-se sua
religiosidade cvica. A abrangncia de seu culto progride ao mesmo tempo
em que a aristocracia derrotada pelas tiranias e essas, substitudas pela
democracia.
Dionsio era o deus que aproximava o homem da natureza e liberava os
instintos, mesmo os mais obscuros. Aqui o culto do deus mscara, com
um forte significado de ruptura radical com os deuses mais antigos, quer os
de Homero, quer os de Hesodo ou de Pndaro.
Em seu culto, contrariamente aos olmpicos, esse deus no se contenta com
momentos de piedade que para com ele tenham os homens, pois
diferentemente de todos os outros, a Dionsio no bastam oraes e
sacrifcios, pois na sua relao com os homens no h o dar e receber, no
h moeda de troca, que era a tnica de toda a religiosidade vista at agora.
Dionsio o deus que somente se satisfaz com o total arrebatamento, sua
satisfao somente se esgota no abranger de todo o ser humano; ele permite
o xtase, a ultrapassagem das medidas, sendo capaz de conduzir os mortais
desde o mais profundo horror ao mais alto patamar da realizao da alma.
Referncias:
1. VERNANT, Jean-Pierre, VIDAL-NAQUET, Pierre. Mito e Tragdia na
Grcia Antiga. So Paulo, Editora Perspectiva, 1999.
2. NIETZSCHE, Friedrich. O Nascimento da Tragdia. So Paulo, Companhia
das Letras, 2007.
3. LESKY, Albin. A Tragdia Grega. So Paulo, Editora Perspectiva, 2003.
* CARLOS RUSSO JR. escritor, ensasta e professor, dedica-se ao
ensino de Literatura e Mitologia, com militncia poltica na esfera dos
Direitos Humanos. Blog: www.proust.net.br