SUSPENSÃO DE LIMINAR E DE SENTENÇA Nº 1.190 - RS (2010/0022299-3)
REQUERENTE : MUNICÍPIO DE TAQUARA
ADVOGADO : ÁLVARO VINÍCIUS PARANHOS SEVERO E OUTRO(S) REQUERIDO : DESEMBARGADOR VICE PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL INTERES. : BANCO SANTANDER BRASIL S/A ADVOGADO : JEFERSON ANTÔNIO ERPEN E OUTRO(S)
DECISÃO
O Município de Taquara – RS ingressa com o presente requerimento para
sustar os efeitos da decisão proferida nos autos da Ação Ordinária n. 070/1.09.0006988-6, do Juiz da Segunda Vara da Comarca de Taquara, que deferiu tutela antecipada "para suspender o ato administrativo que rescindiu o contrato nº 037/97 e, de consequência, manter o Banco Santander (Brasil) S.A. como prestador exclusivo dos serviços referidos na cláusula primeira do contrato, até o julgamento final do processo" (fl. 440). Narra o requerente, para tanto, que:
"1. O Município de Taquara Requerente firmou, após o
devido procedimento licitatório, o Contrato n. 37/2007 com o Banco Santander SA, fls. 81 a 85, visando à prestação de serviços bancários, com exclusividade, necessários ao pagamento dos servidores municipais do Executivo e do Legislativo, ativos e inativos pelo prazo de 60 (sessenta meses). As obrigações da instituição financeira contratada estão previstas nas Cláusulas Primeira, Segunda, Terceira, Sexta e Sétima. Os servidores do Município de Taquara requereram a rescisão do referido contrato em razão do descumprimento de obrigações por parte da instituição contratada, especialmente, taxas elevadas, juros elevados, descontos indevidos e descumprimento de ordens judiciais, que caracterizaria o não cumprimento ou cumprimento irregular de cláusulas contratuais. 2. Visando ao cumprimento do disposto no Art. 5º, inciso LV da Constituição Federal e Parágrafo único do Art. 78 da lei 8.666/93, e à observância dos Princípios do Contraditório, da Ampla Defesa e do Devido Processo Legal, o Município Requerido instaurou procedimento administrativo e notificou o Banco Santander para apresentar defesa (fls. 86 a 174). (...) Neste sentido, a exigência de tarifas/taxas de forma indevida dos servidores demonstrou que o Banco Santander inadimpliu com as obrigações contratutais. 3. (...) Cumpre sublinhar que o Poder Legislativo Municipal Documento: 8304208 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJ: 18/02/2010 Página 1 de 4 Superior Tribunal de Justiça aprovou a Lei Municipal 4.341, de 17 de novembro de 2009, depois de regular processo legislativo (fls. 175 a 367) autorizando o Poder Executivo de Taquara a proceder a rescisão do Contrato 037/2007 com o Banco Santander, pelos motivos constantes do seu Art. 1º, (fl. 371):
'Art. 1º. Fica o Município de Taquara autorizado a
rescindir o contrato 037/2007, firmado com o Banco Santander S.A., em virtude do inadimplemento contratual praticado pelo Banco, conforme previsto nos incisos I e II do artigo 78, da Lei 8.666/93, em razão da cobrança de tarifas/taxas indevidas, contrariando a Cláusula Segunda, Item 3, do referido contrato, bem como da consecução de descontos indevidos nas contas salários dos servidores, cobrança de taxas de juros excessivas, mau atendimento na agência da Instituição, descumprimento de ordens judiciais e a manifestação do Sindicato dos Servidores Municipais de Taquara.'
4. Com efeito, após a rescisão do contrato com o Banco
Santander, (fl. 373), houve a realização de processo administrativo (fls. 374 a 387) e a firmatura de Contrato com a Caixa Econômica Federal (fls. 398 a 407), autorizado pela Lei Municipal nº 4.346/2009 (fl. 388), no valor total de R$ 2.150.000,00 (dois milhões e cento e cinqüenta mil reais). Mediante o referido contrato, que se encontra em vigor e produzindo efeitos, a Caixa Econômica efetuou o pagamento ao Município de Taquara do valor de R$ 2.000.000,00 (dois milhões de reais)" (fls. 1-3).
Acrescenta que ajuizou a Suspensão de Liminar ou Antecipação de Tutela
n. 70034381970, indeferida pelo Vice-Presidente do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Sustenta, então, que a tutela antecipada deferida em favor do Banco Santander (Brasil) S.A. causa grave lesão à economia pública, ressaltando que o valor de R$ 2.000.000,00 (dois milhões de reais), já pagos pela Caixa Econômica Federal, "foi recebido como recurso extra-orçamentário e foi utilizado pelo Município de Taquara para a realização de despesas com investimentos e execução de programas públicos. No mês de dezembro já foi efetuado o pagamento dos servidores pela Caixa Econômica Federal. Impõe-se complementar que o Contrato firmado com a Caixa Econômica Federal possibilita serviços e benefícios mais abrangentes aos servidores e relevante vantagem financeira para o Município de Taquara. Além disso, o Contrato com o Banco Santander ficava restrito ao depósito da folha de pagamento dos servidores do
Documento: 8304208 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJ: 18/02/2010 Página 2 de 4
Superior Tribunal de Justiça Município, enquanto a relação contratual e de parceria com a Caixa Econômica Federal, como banco público, possibilita a realização de programas conjuntos na área social, de saneamento e habitacional, extremamente benéficos para a comunidade e a população de Taquara. A antecipação de tutela que se requer seja suspensa a execução, impede o Município de dar prosseguimento ao contrato em vigor com a Caixa Econômica Federal, sujeitando à perda financeira e inadimplência contratual" (fls. 8). Diz, ainda, que "a situação da Fazenda Pública do Município de Taquara é extremamente séria em razão da queda na arrecadação própria e da redução de transferências tributárias federais e estaduais. A restituição do valor de R$ 2.000.000,00 (dois milhões de reais), sem considerar a penalidade pecuniária pelo inadimplemento contratual, à Caixa Econômica Federal comprometerá o pagamento dos servidores municipais e a permanência dos serviços públicos" (fl. 8). Ademais, afirma "que os servidores do Município de Taquara já abriram contas bancárias na Caixa Econômica Federal para recebimento dos seus salários. Com encerramento das contas no Banco Autor e a abertura na Caixa Econômica Federal, a execução da medida de antecipação de tutela resultaria na reabertura das contas, contas em duplicidade, proporcionaria uma confusão e uma insegurança muito grande entre os próprios servidores, na Administração Municipal e na própria Fazenda Pública" (fl. 8). Mais adiante, também trazendo precedente desta Corte, da minha lavra, invoca o requerente "a prevalência do interesse público" (fl. 10). Decido. O Contrato n. 037/2007 celebrado com o Banco Santander (Brasil) S.A. (fls. 96-100) foi rescindido pela municipalidade mediante autorização da Lei Municipal n. 4.341, de 17.11.2009, "em razão da cobrança de tarifas/taxas indevidas, contrariando a Cláusula Segunda, Item 3, do referido contrato, bem como da consecução de descontos indevidos nas contas salários dos servidores, cobrança de taxas de juros excessivas, mau atendimento na agência da Instituição, descumprimento de ordens judiciais e a manifestação dos Servidores Municipais de Taquara" (art. 1º – fl. 386). Por outro lado, o Município de Taquara, em 18.11.2009, celebrou contrato com a Caixa Econômica Federal (fls. 450-458), de fato, mais abrangente que o contrato rescindido (fls. 96-100). Aquele vai além do pagamento dos servidores públicos e da manutenção das contas-salário. Prevê uma gama enorme de serviços a serem Documento: 8304208 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJ: 18/02/2010 Página 3 de 4 Superior Tribunal de Justiça prestados diretamente ao Município. Observo, ainda, segundo o alegado, que a Caixa Econômica Federal já efetuou o pagamento da importância de R$ 2.000.000,00 (dois milhões de reais), faltando o recolhimento de R$ 150.000,00 (cento e cinquenta mil reais). O quadro fático descrito acima, entendo, revela iminente grave lesão à economia e ao interesse públicos. Sobre os danos ao erário, não há dúvida de que a devolução da importância já recebida, mormente na hipótese de ter sido gasta em despesas públicas, pode sim causar dificuldades orçamentárias à municipalidade, tendo em vista que terá que deslocar verbas de outras áreas para uma possível rescisão do contrato com a Caixa Econômica Federal. Por outro lado, as razões apresentadas para o encerramento do contrato com o Banco Santander (Brasil) S.A. demonstram suficientemente o interesse público que o caso exige. A Lei Municipal n. 4.341, de 17.11.2009, relaciona, para fins de rescisão contratual, a cobrança de tarifas/taxas indevidas, a consecução de descontos indevidos nas contas salários dos servidores, a cobrança de taxas de juros excessivas, o mau atendimento na agência da Instituição e o descumprimento de ordens judiciais. Sem dúvida, as causas para o rompimento contratual afetam, de modo direto, a situação financeira dos funcionários públicos, gerando intranquilidade e prejuízos nos serviços por eles prestados à comunidade. Sob esse enfoque, também tem-se por ferido o interesse público. Ante o exposto, defiro o pedido para suspender a tutela antecipada deferida nos autos da Ação Ordinária n. 070/1.09.0006988-6, do Juiz da Segunda Vara da Comarca de Taquara. Comunique-se ao Presidente do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul e ao Juiz de 1º grau. Publique-se. Brasília, 10 de fevereiro de 2010.
MINISTRO CESAR ASFOR ROCHA
Presidente
Documento: 8304208 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJ: 18/02/2010 Página 4 de 4