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A Ciência não é um monumento rígido e imutável, mas antes um processo (em constante
transformação), uma tentativa de compreender e explicar os fenómenos. Desenvolvendo-se
progressivamente, a ciência é hoje entendida como uma construção racional, assente
fundamentalmente em dois planos: o experimental e o lógico-matemático.
«A Ciência não aparece como a simples constatação de uma verdade dada, que se encontraria ou
revelaria, mas como ma produção de conhecimentos.»
L. Althusser
«Na vida científica os problemas não se põem por si mesmos. Para um espírito científico, todos
os conhecimentos são uma resposta a uma interrogação, a uma questão. Não havendo interrogação, não
pode haver conhecimento científico. Em ciência, nada acontece por si, nada nos é dado, tudo é
construído.»
G. Bachelard
«A ciência moderna é racional, isto é, não consta de elementos empíricos, mas é essencialmente
uma construção do intelecto.»3
F. Selvaggi
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F. Selvaggi
Em Ciência, o problema do erro tem primazia sobre o problema da verdade. O erro é importante
para que o cientista se possa aproximar da verdade: é pela constatação e eliminação/rectificação dos
erros que a Ciência se vai aproximando da verdade. Diz-nos Bachelard: «Não há verdades primeiras,
mas erros primeiros»; «Conhece-se contra um conhecimento anterior, destruindo-o.»
Há muito que a ciência deixou de ser actividade de personalidades isoladas para consistir no
trabalho de investigadores apoiados em grupos e auxiliares. Hoje é indispensável o diálogo entre todos
os cientistas, tanto da mesma área de investigação como de áreas complementares e até distintas.
«Hoje, o perigo maior que a ciência corre é o chamado pragmatismo6. As grandes revoluções no
viver dos homens derivam tanta vez de pesquisas e construções teóricas de que não se esperariam tais
resultados. Acima de tudo, a ciência tem de insuflar nos homens uma maneira de pensar e de encarar as
coisas, a tensão problematizadora, e de os levar a compreender o universo em que se situam e a própria
humanidade. Ela vale principalmente como atitude, forma de mentalidade, e como sistema explicativo
do mundo, racionalmente acessível, testável nas suas explicações.»
Vitorino Magalhães Godinho .
Tarefa
«(…) a ciência é muito mais mutável do que a teologia. O problema tem uma primeira resposta
extremamente clara: a teologia, baseando-se no inverificável, pode ter uma grande estabilidade; em
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Polémica − refere-se aos movimentos de rectificação sucessivos.
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Arquitectónica − como se fosse uma estrutura fixa, imóvel.
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Pragmatismo − doutrina que estabelece como critério de verdade a utilidade e a fecundidade das teorias/conhecimentos.
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contrapartida, a ciência faz surgir incessantemente dados novos que contradizem e tornam obsoleta a
teoria estabelecida. O aparecimento de dados novos necessita de teorias mais latas ou diferentes. Estes
novos dados surgem de forma non-stop, porque o movimento da ciência moderna é ao mesmo tempo
um movimento de aperfeiçoamento dos instrumentos de observação e de experimentação (desde a
luneta de Galileu até ao radiotelescópio e aos instrumentos de detecção para uso dos satélites e dos
viajantes do espaço). Viu-se bem o que aconteceu com a exploração de Saturno: as observações feitas
anteriormente não eram falsas; eram totalmente insuficientes e, assim, induziam teorias erróneas.
Não há apenas o problema dos dados que mudam as teorias; a própria visão das teorias muda.
Karl Popper disse que as teorias não são induzidas dos fenómenos, mas são construções do espírito,
mais ou menos bem aplicadas ao real, isto é, são sistemas dedutivos. Por outras palavras, uma teoria
nunca é, enquanto tal, um 'reflexo' do real. A partir daí, uma teoria científica é admitida, não por ser
verdadeira, mas por resistir à demonstração da sua falsidade. Popper concebe assim a história das
teorias científicas em analogia com a selecção natural: são as teorias mais adaptadas à explicação dos
fenómenos que sobrevivem, até que o mundo dos fenómenos dependente da análise se alargue e exija
novas teorias. Aqui, Popper inverteu a problemática da ciência; julgava-se que a ciência progredia por
acumulação de verdades; ele mostrou que a progressão se faz sobretudo por eliminação de erros na
procura da verdade.
Thomas Kuhn mostrou claramente no seu livro A Estrutura das Revoluções Científicas que a
ciência evolui não só 'progressivamente', não só 'selectivamente', mas também 'revolucionariamente',
por revoluções ao nível dos princípios de explicação, ou paradigmas, que comandam a nossa visão do
mundo(…)
Descobrimos que a verdade não é inalterável, mas frágil, e creio que esta descoberta, como a do
cepticismo, é uma das maiores, das mais belas, das mais comovedoras do espírito humano. Num dado
momento, percebe-se que se pode pôr em dúvida todas as verdades estabelecidas. Mas, ao mesmo
tempo, o cepticismo ilimitado comporta a sua autodestruição, visto que a proposição 'não existe
verdade' é, de facto, uma proposição sobre a ausência de verdade; e é uma afirmação que tem o mesmo
carácter dogmático e absoluto que as verdades condenadas em nome do cepticismo.
É interessante ver que o problema do erro transforma o problema da verdade, mas não o destrói; a
verdade não é negada, mas o caminho da verdade é uma busca sem fim; cabe a cada um a escolha; os
caminhos da verdade passam pela tentativa e o erro; a busca da verdade só pode fazer-se através da
errância e da itinerância7(...)
No domínio teórico, as verdades mais fundadas são as que se fundam nesta negatividade, isto é,
as que são os antierros; é aí que o antierro se torna uma verdade; é este o sentido da ideia popperiana e
é a grandeza da aventura científica, (…)
Qual é a diferença entre a teoria e a doutrina? É que a teoria é aberta e aceita arriscar a sua pró-
pria morte na refutação, enquanto a doutrina se fecha e encontrou a sua prova de uma vez para sempre
na sua fonte, que se torna um dogma: a autoridade dos pais fundadores; é por isso que o dogma recita
incessantemente as palavras dos seus pais fundadores! (…)»
Edgar Morin, Ciência com Consciência.
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Itinerância – refere-se à constante procura de novos caminhos, métodos.