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IDENTIFICAÇÃO DE OPORTUNIDADES
DE MELHORIA NA IMPLANTAÇÃO DE
FERRAMENTAS DA MANUFATURA
ENXUTA EM UMA CÉLULA DE
PRODUÇÃO
Diogo Augusto Fischer (SOCIESC)
dig.joi@terra.com.br
Silene Seibel (UDESC)
silenemestrado@gmail.com
Adelmo Anselmo Martins (SOCIESC)
adelmo74@gmail.com
Tacila Berkenbrock (SOCIESC)
TACILAB@GMAIL.COM
Gustavo Sevegnani (SOCIESC)
gustavos@tupy.com.br
1. Introdução
No início dos anos 90, as empresas brasileiras foram expostas a um aumento radical da
concorrência com a abertura da economia nacional. Desde então, a administração dos recursos
financeiros, tecnológicos e de gestão tornou-se vital para a sobrevivência das empresas frente
às ameaças do mercado e manutenção da competitividade organizacional.
Dentro dessa nova ótica de concorrência, a filosofia de gestão da manufatura enxuta se
apresenta como uma alternativa para a maximização da utilização dos recursos disponíveis e a
eliminação sistemática dos desperdícios em todo o sistema produtivo. Como a essência da
manufatura enxuta é a busca pela perfeição (WOMACK & JONES, 1998), e a redução de
custos deve ser um processo contínuo, logo a identificação de desperdícios remanescentes
após a implantação dos seus conceitos e ferramentas torna-se um valioso instrumento para o
aumento contínuo da competitividade das empresas.
Cabe salientar que mesmo quando realizada de forma pontual, a implantação desta filosofia
pode trazer resultados significativos à organização. Porém, será necessário analisar o
atingimento dos objetivos e procurar desvios entre metas e resultados para proposição de
contramedidas eficazes na redução ou eliminação dos desperdícios.
Diante deste contexto, este artigo tem como objetivo a identificação das oportunidades de
melhoria após a implantação da manufatura enxuta nas operações de montagem e embalagem
em uma célula de produção de uma empresa metal-mecânica.
2. Fundamentação teórica
2.1 Desempenho de um sistema produtivo
De acordo com Maximiano (2000), para avaliar o grau de eficácia de um sistema, é necessário
saber quais são os objetivos e quais os resultados alcançados. Os objetivos relevantes para a
idéia de eficácia relacionam-se com o ambiente da organização, suas necessidades, desafios e
oportunidades de maneira que dêem suporte à obtenção de vantagens competitivas a curto ou
longo prazo. Neste contexto, o ponto de partida é estabelecer critérios de desempenho e que
prioridades relativas devem ser dadas a eles.
Conforme Tubino (2000), os critérios de desempenho devem refletir as necessidades dos
clientes para que estes se mantenham fiéis a um determinado produto. Os principais critérios
nos quais a produção deve agir são custo, qualidade, velocidade e flexibilidade, estes estão
descritos na tabela 1.
Critério Descrição
Custo Produzir bens/serviços a um custo mais baixo do que a concorrência.
Qualidade Produzir bens/serviços com qualidade percebida melhor que a concorrência.
Velocidade Confiabilidade e velocidade de entrega dos produtos maior do que a concorrência.
Flexibilidade Ser capaz de reagir de forma rápida a eventos repentinos e inesperados.
Fonte: Adaptado de Tubino (2000)
Tabela 1 – Descrição dos critérios de desempenho de um sistema produtivo
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A tabela 2 apresenta algumas medidas que podem ser usadas para julgar o desempenho de
uma operação produtiva.
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Hines e Taylor (2000) afirmam que quando pensamos sobre desperdício é comum definir três
diferentes tipos de atividades quanto à sua organização:
Atividades que agregam valor – na percepção do consumidor final, agregam valor ao
produto ou serviço;
Atividades desnecessárias que não agregam valor – aos olhos do consumidor final, não
agregam valor ao produto ou serviço e que são desnecessárias em qualquer circunstância,
sendo nitidamente desperdícios e devem ser eliminadas a curto e médio prazo;
Atividades necessárias que não agregam valor – pela perspectiva do consumidor final, não
agregam valor ao produto ou serviço, mas que são necessárias.
Este diagrama mostra em seu teto a essência da manufatura enxuta, ou seja, melhor qualidade,
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menores lead times e custos. Há outros dois pilares, o Just-in-Time (JIT) e o Jidoka, cuja
essência é nunca deixar um defeito passar para a próxima etapa do processo e “libertar” as
pessoas das máquinas – automação com um toque humano. Finalmente, há várias fundações
que incluem necessidade de padronizar os processos, a melhoria contínua – Kaizen, e
Heijunka que visa nivelar a produção. É necessário para manter o sistema estabilizado e
minimizar os estoques. Cada elemento da casa é crítico, mas o importante é a forma como
cada um reforça o outro. O JIT, por sua vez, visa remover, tanto quanto possível, o inventário
usado para evitar trabalhos ociosos nas operações, mas que escondem os problemas que
poderiam aparecer na produção.
3. Materiais e Métodos
Esta pesquisa foi realizada em uma organização com operação nacional no setor metal-
mecânico, que se destaca como uma das líderes no ramo em que está inserida. Por sua vez, a
unidade em estudo foi a célula de registro de gaveta e pressão, denominada de CRG que
engloba os processos de usinagem dos componentes principais, montagem, teste de
estanqueidade e embalagem. Os componentes dos registros estão indicados na figura 2.
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Não foi estabelecida uma meta para o indicador de rejeição por apresentar índice de 0,7% em
peças, referente à fundição e usinagem, perfeitamente aceitável para tais processos. O custo
de produção não é divulgado por decisão da empresa.
4. Apresentação e Análise dos Resultados
Para estabelecer a base de comparação com os resultados alcançados, foram coletados dados
da célula, conforme disponibilidade, até 2 anos antes da implantação dos conceitos e
ferramentas da manufatura enxuta. As ações descritas foram implementadas durante o mês de
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15.000
12.000
9.000
Kg
6.000
3.000
0
2005 2006 jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
Periodo
2007 2008
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Ao criar o fluxo contínuo de produção, o tempo takt definido, ou seja, o ritmo que todos os
processos deveriam trabalhar, foi conforme a mesa de testes. A montagem deveria fornecer
uma peça a cada 6,9 segundos, ou 520 peças por hora. O tempo total de montagem para o
bujão registro pressão com as concessões para ir ao banheiro, beber água e fadiga é de 36,97
segundos. Este valor dividido pelo tempo takt fornece o número de operadores necessários no
processo, que são 5,34 operadores.
Desta maneira, montou-se 2 postos de trabalho com as operações balanceadas para 3
operadores em cada um deles. Cada posto fornece uma peça a cada 12,3 segundos ou 292
peças por hora.
O mesmo estudo foi realizado na embalagem, que com a distribuição das operações para 2
operadores e o aumento do número de peças embaladas por caixa (o que reduz o tempo gasto
por peça), tanto para registro pressão quanto gaveta conseguiu-se produzir no mesmo ritmo
que a mesa de teste. Com essas modificações obteve-se uma economia média de 3,5% no
custo final dos registros.
4. 4 Produção kg/homem x hora
A produtividade manteve-se praticamente a mesma em 2005 e 2006, com 8,37 e 8,07 kg/Hxh
respectivamente. Houve um aumento significativo em janeiro e abril de 2007 ultrapassando os
10 kg/Hxh retornando em junho para 8,23 kg/Hxh. Durante todo esse período, o número de
operadores não sofreu alterações.
Com a implantação da manufatura enxuta, no entanto, aconteceu uma queda de produtividade
nos meses subsequentes às alterações devido as frequentes interrupções no processo, esta
queda pode ser visualizada na figura 5. Estas paradas eram necessárias para correções e
ajustes. Neste período também se verificou a fase de adaptação de todos os funcionários do
setor ao novo método de trabalho.
Apesar da queda de produtividade com a fase de ajuste e adaptação ao novo processo, a média
de 2007 foi de 8,63 kg/Hxh, 6% a mais que a verificada em 2006 (8,07 kg/Hxh). No ano de
2008, de janeiro a abril, a média foi de 9,42 kg/Hxh.
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Produtividade (kg/Hxh)
12
10
8
2007
Kg/H*h
6 2008
Tendência (2007)
4
0
2005 2006 jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
Período
Tempo de
processamento
(minutos)
0 10 20 30 40 50 60 70 80
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100%
80%
60% 2007
%
2008
40% Tendência (2007)
20%
0%
2005 2006 jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
Período
Os resultados mostram que as ações para redução da área utilizada, lead time e principalmente
estoque em processo foram pouco eficazes. A mudança no leiaute proporcionou uma redução
de 15,4% na área utilizada. Atualmente 23% da área total (9,68 m2) é ocupada com o estoque
em processo, o que sugere ações visando a redução do estoque para diminuir a área ocupada
pela célula.
A programação via kanban dos itens fornecidos pela fundição não trouxe os resultados
esperados para a redução do estoque. Como há componentes utilizados em mais de um
produto, são produzidos grandes lotes para reduzir o tempo de parada das máquinas por
preparação. O kanban se mostrou pouco eficiente para a redução do estoque em processo se
paralelamente não é realizado um trabalho para a redução do tempo de preparação dessas
máquinas.
O lead time reduziu 29%, o que é um resultado satisfatório visto que não há um nivelamento
do mix e do volume de produção, pois o kanban não é distribuído em períodos fixos de tempo.
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Referências
HINES, Peter; TAYLOR, David. Guia para Implementação da Manufatura Enxuta – Lean Manufacturing.
São Paulo: Imam, 2000.
LIKER, Jeffrey K. O Modelo Toyota: 14 princípios de gestão do maior fabricante do mundo. Porto Alegre:
Bookman, 2005.
MARCHWINSKY, Chet; SHOOK, John. Léxico Lean: glossário ilustrado para praticantes do Pensamento
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