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UECE-UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ

Centro de Humanidades
Curso de Filosofia – Diurno - 2009.2
Disciplina: História 2.
Professor : Argileu
Data : 25/02/2010

MONARQUIA ABSOLUTISTA
EM FRANÇA:
ORIGENS E RELAÇÕES DE PODER

ALUNO: Leonardo Neves de Araújo.


Matrícula: 0826065
PREFÁCIO

“Tais obras, quaisquer que sejam seus funcionamentos,


causas e consequências, têm infinito mérito, e dão grande crédito aos
talentos deste homem mui engenhoso e útil, que terá o mérito de,
onde quer que vá, fazer com que os homens pensem... Livre-se desta
indiferença estúpida, sonolenta e preguiçosa, desta negligência
indolente, que prende os homens aos mesmos caminhos de seus
antepassados, sem indagação, sem raciocínio, e sem ambição, e com
certeza você estará fazendo o bem”
(Arthur Young, “Viagens na Inglaterra e no País de Gales”)

Realmente, a efetivação plena da comunicação falada é algo complicado e


difícil de se empreender, pois a compreensão integral, é praticamente impossível,
mesmo entre pessoas de mesma origem, que compartilham a mesma língua e a
mesma cultura. São tantos trejeitos, tiques nervosos, sentimentos, hipocrisias,
voluntários e até, involuntários, que trafegam junto com a comunicação, que acabam
interferindo na mensagem que se quer passar.

Dizem os especialistas que 90% da nossa comunicação se dá através dos


gestos. Eu complementaria a informação chutando que outros 90% dela se dá pela
percepção subjetiva de quem escuta e percebe esses gestos, restando um incrível
saldo de -80% (negativos!) para a parcela de comunicação sob o comando exclusivo
da linguagem verbal. A matemática não está incorreta, acreditem! Este saldo
negativo é o acúmulo de imprecisões e preconceitos em torno do qual gravita a
linguagem, sobretudo quando se refere à comunicação entre pessoas
desconhecidas. Aí, apesar do desconhecimento entre os interlocutores e dos
esforços que fazemos para alcançar um certo nível de formalismo, continuamos
imperceptivelmente a utilizar nossas mais comuns e características gesticulações,
que usamos no nosso ambiente familiar e amigável; coisa que, não nos perdoam
nossos interlocutores desconhecidos.

O reconhecimento de tal limitação deveria nos levar a duas atitudes positivas:


Primeiro: todo orador deveria começar seu discurso com um pedido sincero
de desculpas aos seus ouvintes, pois, sempre poderá ocorrer que, algo do que se
diz será incompreendido, mal compreendido, mal dito, ou até mesmo, maldito! Ainda
mais se o discurso for oriundo da nossa escola filosófica: a Imagética, que versa
fundamentalmente sobre nossos comportamentos e sobre as imagens que os
influenciam.

E segundo: todo ouvinte deveria procurar sempre suspender os sentidos


enquanto escuta, buscando uma atitude aberta e atenta; objetiva e reflexiva;
parcimoniosa e respeitosa; e acima de tudo, anti-preconceituosa, para com quem
comunica. Poderíamos, fazendo, uma analogia, recomendar uma atitude comparável
a de um leitor. Nunca poderíamos bem compreender um livro se nos
propuséssemos a lê-lo enquanto conversamos, brigamos, refutamos, etc. Para uma
leitura é mister silêncio; para uma comunicação verbal é preciso ainda mais do que
silêncio! Seria, na prática, privilegiar o conteúdo da mensagem sobre a forma de sua
apresentação, apesar da dificuldade que isso representa.
1
Em todo caso, fica aqui, desde logo, nosso pedido de desculpas a todos os
nossos ouvintes desta manhã. Procuramos elaborar algumas críticas, primeiro a nós
mesmos; depois aos nossos mestres; e por fim à nossa cultura. Não citamos nomes,
obviamente, mas, se mesmo assim, as críticas aqui apresentadas ferirem os
sentimentos de alguns dos nossos companheiros, pedimos redobradamente a
compreensão de que primeiro: se tomamos exemplos diretamente de vossa
experiência só o fizemos enquanto representação, de forma que não pretendemos
atacar ninguém de vós, até porque, considero-nos todos como colaboradores de um
mesmo barco: o da educação! E segundo: se nos mostramos demasiado belicosos
em nossa exposição, é um tanto por nossa natureza formal, a qual já solicitamos:
seja desprezada em relação ao conteúdo; ademais, tal interpretação pode ser indício
de uma maior resistência em avaliar vossos próprios pontos de vista. Mas também já
pedimos uma atitude sem preconceitos, principalmente para com vossos próprios
arraigados valores. Por fim, justificamos nossa crítica como conseqüência de um
esforço em prol da tentativa de consagração, entre nós, de dois dos mais altos
valores apregoados por nossa mãe, a Filosofia: o nosso auto-conhecimento, e o
melhoramento de nossa espécie. Se este alto e mais geral valor não puder ser
alcançado, esperamos ao menos poder criar grandes imagens determinantes que
possam nos influenciar e guiar beneficamente num futuro exercício da docência.

Qual é o valor que tem para a Filosofia a História? Todos nós, sem exceção,
responderemos que é imenso, certamente! Pois, dada a natureza vasta, belicosa e
contraditória da Filosofia, seu valor máximo jamais poderia ser calculado de forma
particularizada, fragmentada ou individual. Foi preciso um enorme esforço de
inúmeros historiadores e filósofos para juntar tantos tesouros acumulados, bem
como dar seu testemunho a cerca deles. E somente assim: como um conjunto
histórico, a Filosofia tem seu valor respeitado! Sem este magnífico esforço, o que
teria chegado até nós da Filosofia Clássica? E como um tão alto edifício
permaneceria de pé sem suas bases?

De fato não é difícil responder a esta questão. Todos nós sabemos bem falar
da História perante o tribunal da Razão Filosófica! Mas a verdadeiramente capciosa
pergunta seria: quantos de nós, filósofos, tratamos a História de acordo com este
imenso valor agora mesmo testemunhado? Quantos de nós a levamos e temos
levado verdadeiramente a sério?

Imediatamente à falta de ar provocada por tão implicantes questões,


pretendemos fugir. Com efeito, assalta-nos à memória, nossa corrupção em frente à
internet; nossa indolência, mesmo na simples leitura de textos que não têm a marca
do nosso sangue1; envergonha-nos nossas atitudes, e nossa falta de atitude para
com a tão venerada História. Como poderemos ainda encarar nossa bela mãe, a
Filosofia? Melhor é sair para tomar um ar!

____________________________________________________

1
Transcrevemos o primeiro aforismo na íntegra: “De tudo quanto se escreve, agrada-me apenas o que alguém escreveu com o
próprio sangue; escreve com sangue, e aprenderás que sangue é espírito” NIETZSCHE, F.G.W. Assim Falava Zaratustra:
um livro para todos e para ninguém, primeiro livro: “Ler e Escrever”, p.58
2
Mas em vez disso, guerreiros que somos!, enfrentemos todo o mal: em vez de
uma simples confissão de culpa, presenteemos aos nossos inquisidores com a
verdade completa. E a verdade só se conquista quando bombardeamos com todas
as questões, mesmo aquelas que querem se esconder no obscuro de nossas
consciências. Não nos pouparemos, mas também não pouparemos a mais ninguém.
Que as questões emergam do campo de batalha tal qual flechas, e que ninguém
seja poupado. No final, que esta imagem retorcida, triste, sangrenta e até comovente
não nos inspire nem nojo nem terror, pois assim é a verdadeira verdade, quando
despojada das cores românticas que nossa herança cultural nos leva sempre a
pintar, mesmo inconscientemente.

Não nos esconderemos debaixo daquela velha mentira que tantos falsos
professores gostam de nos cantarolar aos ouvidos, desde os primeiros semestres da
faculdade de filosofia: trata-se da já cansada afirmação de que “ao terminar nosso
curso, não seremos filósofos, mas sim estudantes de filosofia!!!”. Talvez seja por se
deixar seduzir por este velho convite à irresponsabilidade que os melhores de nós,
estudantes, se apequenam tanto, a ponto de nunca chegarem sequer a serem
estudantes medíocres, nem de filosofia, nem de seja lá o que for. Com efeito, quem
toma para si esta cômoda desculpa de ser um “eterno leigo”, perdoa-se a si próprio
de qualquer fraqueza, e também força seus professores a tratarem-no com a mesma
ridícula indulgência.

Consagra-se desta forma, a festa dos fracos e dos néscio, com ampla
aprovação tanto do lado docente, quanto discente. É por isso que, muitas vezes, as
aulas na nossa faculdade assemelham-se mais a uma palhaçada de circo! Todos
somos cúmplices nesta hipócrita “Festa do Burro”2, e é o professor que faz a
chamada pelo nome, um a um, para que em voz baixa e religiosa, prestemos nossa
deferência e nossa reverência a esse tosco mecanismo de sanção e aprovação da
incultura: de tudo que é fraco, baixo, ridículo, hipócrita e desprovido de originalidade.
Mas certamente um dia aparecerá um estudante desaforado, que responderá à
chamada em voz alta e petulante, para que ninguém nunca mais esqueça do seu
nome, nem dos verdadeiros nomes que deveriam guiar a educação, e que são tão
contrários a estes que veneramos silenciosamente, por trás dos nossos belos
discursos perante o tribunal de nossa mãe, a Filosofia.

Neste tribunal, portanto, não poderíamos poupar nossos mestres. Por vezes
eles são grandiosos e nos tele-transportam, por horas a fio, como num filme, para
outros mundos, distantes no tempo e nos costumes. E, como retornamos
transformados de tais viagens! Como nossas perspectivas de vida se abrem ante tão
belas imagens, que só os mais sábios professores podem nos proporcionar! Como
tão bem se realiza, ali naquela sala de aula, as mais elevadas finalidades da
educação!

___________________________________________________
2
Para melhor compreensão, recomendamos a leitura de: NIETZSCHE, F.G.W. Assim Falava Zaratustra: um livro para todos
e para ninguém, quarto livro: “A Festa do Asno”, p.383
3
Mas também, é forçoso dizer, é nesta mesma sala de aula, e diante dos
mesmos professores, que assistimos atônitos, ao festim da carne sobre o espírito.
Com que facilidade um aula de História ou Filosofia se transforma numa aula de
tele-dramaturgia! Com que desembaraço nossos mestres, tal qual seus alunos,
esquecem-se da ética! Talvez deixem-se seduzir ainda por aquelas imagens de
selvagens néscios, lendo cópias mal feitas, desavergonhada e indisplicentemente,
sem respeito, nem pelos professores, nem pelos demais alunos. Talvez pensem,
uma vez ou outra, de forma rápida e tristonha: “não passam de bichos, afinal!”, e
algum dia em que estiverem cansados, e tiverem perdido a sua mais alta esperança,
passarão a praticar deliberadamente esta afirmação de forma contínua e indiferente.

De certo, não é justo que os alunos do futuro sejam massacrados por causa
da falta de interesse e de respeito dos alunos do passado, mas tampouco é justo
que estes últimos sejam tratados como bodes expiatórios. Primeiro porque, apesar
de sua incapacidade e sua fraqueza, não merecem o nosso desprezo, nem
tampouco o de seus mestres. Justamente por serem alunos, ou seja: a-lunos,
desprovidos de luz, merecem mais que ninguém serem resgatados dos poços
obscuros da concupiscência mental. E quem é mais digno de realizar tal tarefa que
os mestres que estão no alto, e portanto, podem mais facilmente se abaixar para
nos socorrer?

Segundo, porque os professores nunca devem esquecer de uma das marcas


mais primitivas e uma das maiores forças de nossa espécie: a capacidade de imitar.
Ela está presente nos nossos “primos” macacos, como sua característica mais
graciosa, mais próxima de nós. É ela que faz com que o “ex-fumante” encontre logo
um pretexto matematicamente ilógico (porém fisiologicamente, bastante lógico!) para
fumar “o último cigarrinho”. É ela que nos guia, enquanto consumidores, mesmo
inconscientemente, na direção correta do progresso e da felicidade. E a direção
correta aqui, entenda-se bem, é a direção televisivamente correta e feliz. E, para dar
um último exemplo, é esta mesma força que está presente na determinação de
aprender dos virtuosos alunos que compõem as orquestras sinfônicas que nos
proporcionam tanto maravilhamento em suas apresentações.

Esta força magnífica e invisível não pode ser negligenciada. Portanto, o


professor que finalmente sucumbir ante àquela afirmação nefasta do antepenúltimo
parágrafo, é porque tem agido igualmente como um bicho. Pois seus alunos são em
grande medida, principalmente dentro das quatro paredes da sala de aula,
influenciados pelos seus exemplos. Resta a tais professores, primeiro não caluniar
as mais altas esperanças mesmo que sua mais alta esperança tenha
momentaneamente sucumbido3, livrando-se assim do risco de tornar-se insolente,
gracejador, destruidor. Depois, deve arregalar bem mais os olhos, redobrar o fôlego,
e o policiamento de si mesmo, e continuar a luta, sempre dando o melhor de si.

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3
Para melhor compreensão, recomendamos a leitura de: NIETZSCHE, F.G.W. Assim Falava Zaratustra: um livro para todos
e para ninguém, primeiro livro: “Uma Árvore na Montanha”, p.62
4
É claro que nós alunos não poderíamos nos contentar com a simples
imitação, senão, não passaríamos de primatas. A imitação é apenas o passo inicial
rumo à auto-suficiência e à originalidade, que no fundo, temos de confessar, são
apenas imitações melhor elaboradas e de um mais alto nível.

Mas a tarefa mais árdua só poderá ser realizada em conjunto. Para vislumbrá-
la, basta levantarmos uma questão bastante crônica, já que estamos em época
carnavalesca: até quando a festa da carne sobrepujará a festa do espírito? Quando
poderemos eficazmente suplantar um estado cultural nacional tão imediatista e
transloucado por uma cultura mais pacimonioniosa, contemplativa e desinteressada?
Até quando perseguiremos, cega e loucamente, este sonho de felicidade? Quando
finalmente a sabedoria ocupará o primeiro plano em nossa cultura nacional? Talvez,
se fôssemos menos europeus e mais indígenas e africanos... o indígena e o negro
cultivam sim uma felicidade. Mas a felicidade forjada na libertinagem, e no “só não
vai quem já morreu” é fruto dos sonhos de liberdade da parte européia do nosso
sangue que, fugida do velho mundo, veio a nossa terra como quem vai ao último
baile de carnaval, onde tudo é permitido!

Quando poderemos finalmente responder a esta parte podre do nosso


sangue: Somos indígenas, nossa felicidade é uma felicidade profundamente séria,
de lábios profundamente perfurados, de uma memória imperdoavelmente infalível,
de comunhão profunda com os deuses do infinito, de forma que todo o tempo não é
suficiente para descrever nossa felicidade. Talvez quando tivermos a coragem de
nos identificarmos mais com a parte pura do nosso sangue, possamos, enfim,
incorporar essa grandeza e essa simplicidade a nossa cultura, e talvez nesse dia,
possamos proclamar com toda a felicidade cínica, alegre, maligna e perfurante dos
indígenas: não só não vai apenas aqueles que já morreram, pois muitos deixarão de
ir simplesmente para pensar ou contemplar a natureza, e por outro lado, muitos dos
que foram já estavam mortos em vida, e, ou continuam andando sobre a terra como
mortos-vivos, ou tiveram seus destinos selados na sua busca louca e cega pela
felicidade – este sonho de portugueses! Nós indígenas sempre preferimos o sonho
da força e da liberdade! Eis aí a justificativa de nos identificarmos como selvagens;
outrora, os europeus diziam que tal se dava por faltar em nós a alma, mas sabendo-
se que a alma pesa-se pela consistência dos sonhos, respondam vocês mesmos,
jovens europeus: quem de nós é em verdade desprovido de alma???

Quando formos capazes de assumir tal peso em nossa consciência cultural,


talvez conquistemos a real vivência da felicidade, existencialmente falando, dia-a-
dia, e não aquela busca desenfreada com dias marcados, sejam quatro, cinco ou
dez dias, como ocorre no carnaval. Poderemos enfim, conquistar o luxo de
consagrar dias e semanas inteiras ao conhecimento, em vez de sacrificá-los. E
quiçá, poderemos até mesmo derrubar os muros das universidade, que aprisionam e
maltratam o saber, como outrora a Bastilha fez com o grande Voltaire (Paris, 1694 –
1778).

5
Para finalizar este primeiro prefácio, em forma de desabafo, aviso aos
navegantes que, quem espera neste trabalho encontrar águas rasas e calmas, não
embarque nesta Nau. Se fores destes, cerra imediatamente estas páginas, de
preferência num baú de madeira, ou num garrafão de vinho, e lança-o ao mar de alta
vagas, que é este o lugar a que ele pertence. Não há nada de sucinto, nem de macio
nestes escritos que possa embalar teus sonhos. Mas antes, servirão para
esbugalhar os olhos e despertar a consciência. E se o tempo necessário para sua
exposição não couber em uma aula ou em meia-aula, paciência: não nos
consideramos bastante historiadores para pretender a posteridade, mas temos a
convicção de não sermos suficientemente leigos para aceitar encerrar nossa obra
nos vidros de uma ampulheta. Ela tem, como toda obra sincera, vida própria, e por
isso mesmo, um tempo próprio para ser conhecida. Quem quiser embrenhar-se
nestas matas, deverá ter antes de mais nada, alma de guerreiro, que é este o
verdadeiro espírito desbravador dos historiadores e dos filósofos. E deverá singrar
estes mares sempre de peixeira em punho, deixando na praia, qualquer vestígio de
preguiça, certo de que o trabalho de quem lê não é menor do que o trabalho de
quem escreve, nem a coragem, nem a paciência, nem a força, que são misteres a
quem quer, como disse Arthur Young, por meio de suas obras, fazer o bem: fazer os
homens pensarem! Sim, para fazer o bem, mais que bons pensamentos e fé em
Deus, é preciso atitude. E a primeira delas deve ser uma assassinato: assassinar a
preguiça!

Desde que o alemão, Karl Marx (1818 – 1883) pôs em cena o materialismo
histórico, podemos observar uma característica no discurso do historiador
contemporâneo que nos chama a atenção: a adesão à sedução de prepotência com
que verte suas análises de causas e efeitos históricos, sempre inserindo-as no
contexto dos aspectos políticos ou econômicos. No meio de produção – asseveram!
– está a origem e a base da sociedade, e portanto também, dos movimentos
históricos; e até mesmo os contextos sociais, culturais ou religiosos, que não pode-
se negar: influenciam de alguma forma o movimento das massas, terminam
sagazmente categorizados entre as causas secundárias – já são estas subprodutos
da causa material, e seu papel na história começa apenas neste momento segundo:
o de debaterem-se dialeticamente contra sua tese, contra o ventre que os gerou: a
base político-econômica: os meios de produção material.

Como se pode conceber que um historiador venha assim a promover


tamanhas secções: tudo em nome da compreensão? Mas esta compreensão é da
verdade ou daquilo que lhe seduz? Acaso ele é um médico-cirurgião? Não parecem
mais com médicos-legistas? Parece que a condenação da ciência na História é a
mesma do homem no Tempo: só pode trabalhar sobre dados já rolados! Suas
análises são feitas sempre sobre cadáveres, pobres necrófilos! Estabelecem uma
causa-morte que seja palpável, e, portanto, material, e a seguir, cristalizam tal
resignação num paradigma, disfarçando-o bem sob um nome ou um status de
ciência histórica. Como se estas dissecções, sozinhas, fossem já, plenamente
satisfatórias, na sua missão de dar conta da realidade de uma época.

6
Mas pensamos que, além destas causas mortis, devem ser buscados
“causas-vida” numa História que está sempre em movimento e por isso, é sempre
menos abarcável do que supõe nossa capacidade de conhecer. Devem ser também
levados em consideração, por exemplo, certos efeitos imaginativos – isto é:
pequenas mudanças internas de paradigmas, que certos eventos históricos são
capazes de provocar, e que ganham após seu nascimento, e um certo período de
maturação, o status de “imagens determinantes”, de interpretações de mundo, e
portanto, de comportamentos – e portanto, de eventos históricos igualmente
“materiais”, e que por sua vez, acabam adquirindo um status de movente da marcha
humana, e não apenas uma inerte massa imaginativa dentro das cabeças humanas
sem o menor poder ativo na construção da História. Neste novo momento, de novo
status, perde-se, por conseguinte, através da incompletude, e da indeterminação do
Tempo, o referencial de causa e efeito tão asseverado pela escola marxiana.
Reconhecemos: a sede de poder e de dinheiro, movem sim tanto o homem comum
quanto o rico, mas não podemos também deixar de reconhecer que igualmente, ou
às vezes, até mais, movem o homem o êxtase, o medo, a angústia, e o desprazer,
oriundos desta sede.

Com isso, não deixamos de conceber a História material, mas admitimos que
certos produtos ideais desta materialidade podem chegar a exercer tanto poder
sobre a marcha histórica, que aquele primeiro movente material perde o nexo causal
com o seu próprio efeito, visto que, de tais produtos ideais, geram-se subprodutos,
que são novamente e mais uma vez, um acontecimento material, só que
diferentemente dos seres vivos que herdam o DNA paterno, tais descendentes
históricos materiais, assim intermediados por bases históricas ideais ou
imageticamente determinadas, não trazem consigo, necessariamente, a marca do
evento material histórico original, de forma que perde-se completamente o nexo
causal entre causa material e efeito material, e assim, abre-se espaço para a criação
de um meio produto do homem, tanto quanto este próprio homem é produto de um
meio.

Lendo tais análises “mal influenciadas” destes “historiadores paradidáticos”


contemporâneos, ficamos mesmo seriamente tentados a acreditar que aqueles que
constroem a história, isto é, o povo, realmente foram guiados em sua marcha,
apenas pelos sentimentos de ambição pelo poder, usura, ou servidão. Através desse
procedimento, quase imperceptível, e muitas vezes inocente, pensamos que tais
historiadores marxistas realizam uma permuta de valores entre os atores históricos
de maneira que o verdadeiro protagonista, isto é, o povo, o trabalhador, seja sempre
representado como um movido pelo ímpeto de tornar-se imagem e semelhança
daquelas minorias detentoras do “poder”, na sua “livre” condução da História. Em
troca, o povo – real detentor do poder histórico – confere àquelas mesmas minorias
o poder de guiá-los, e portanto, de assumir o papel de protagonistas da História: do
passado, do presente, e do futuro. Quem neste jogo dialético é o jogador, e quem a
peça de xadrez? O povo encaixota-se como mera peça de tabuleiro pela força
material política e econômica, ou através de uma educação – e portanto, idéia –
pretensiosamente sociológica, mas no fundo, alvoroçadamente seduzida para
baixo?

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4

A dualidade da substância: “matéria – forma” talvez seja o mais clássico e


rebuscado problema filosófico. Aristóteles de Estagira (384 a.C. – 322 a.C.) procurou
abordar esta questão fazendo uma síntese que une o vir-a-ser de Heráclito de Éfeso
(540 a.C. – 470 a.C.) com o ser de Parmênides (530 a.C. – 460 a.C.). Tal conclusão
seguia os passos já demarcados pelos últimos pré-socráticos, e fora grandemente
aperfeiçoada, ainda antes de Aristóteles, por Demócrito (460 a.C. – 370 a.C.)4, que
acreditava que os “entes” macroscópios derivavam da interação microscópica dos
“micro-entes”, chamados por ele de átomos x (denominação dada por Demócrito: “a”
de sem; “tomo” de divisão: á-tomo: sem-divisão. A propósito, a tese de doutorado de
Karl Marx, de 1841 versa sobre as diferenças entre as concepções do átomo de
Epicuro e Demócrito, e intitula-se: “A diferença entre as filosofias da natureza em
Demócrito e Epicuro”): as partes invisíveis e indivisíveis, constituintes daqueles
“macro-entes”5. Tal interação, ocorria justamente, em decorrência das formas
daqueles átomos, isto é, tamanho, proporção, lugar, choques e combinações entre si
dos átomos, e até, do nada, pois para Leucipo e Demócrito, o vácuo seria um “não-
ente”. A matéria então seria descontínua, ou seja, constituída de minúsculas
partículas ligadas entre si pelo vácuo, ou por puro nada. Ente e não-ente
coexistiriam. Mas para Aristóteles, a matéria do ente era contínua, e não subdividida
em tantos “micro-entes”; o ente seria um composto de não-ser e ser; mas o não-ser
de Aristóteles é o ente enquanto possibilidade, que junto com o ser, isto é, o ente
enquanto ato, formariam o sínolo; ele concebe a teoria hilemórfica: o ente – o ser – a
substância – nós – a História, como um duplo composto: uma parte passiva: a
matéria, e outra ativa: a forma. A primeira é enformada pela segunda como uma
cera mole que recebe o formato de um carimbo.

Analogamente, o indivíduo é a marca do carimbo de seu tempo – é potência


realizada, matéria enformada, universal particularizado. A forma ativa e universal da
espécie particulariza-se num indivíduo concebido nos moldes apregoados pelos
marxistas: determinados materialmente pelas infra-estruturas, pelos meios de
produção. Mas pergunta-se: este particular, em determinadas circunstâncias bem
específicas, não será capaz de universalizar? Aristóteles mesmo não foi um grande
exemplo disso, já que seu pensamento influenciou toda a Idade Média, e continua
influenciando até hoje? A célebre questão: “quem nasceu primeiro, o ovo ou a
galinha”, não daremos uma resposta, mas aqui o importante é notar que
materialismo e idealismo, forma e conteúdo, universal e particular, um não existiria
sem o outro, seja quem for o primeiro. Como assim? Quer dizer que além da matéria
ser enformada, também a própria forma pode vir a ser materializada¿ Sim, é o que
pensamos, pois da mesma forma, pensamos que muitas das macro quebras
materiais de paradigmas: as revoluções nos meios de produção, não seriam
possíveis, e vice-versa, sem as anteriores mudanças nos micro paradigmas – as
idéias: tão sutis, que só podem ser influenciados pelo bisturi preciso das “imagens
determinantes” – lá onde a “matéria ideal” não é demasiado grande para entrar nas
mentes humanas.
.

4
http://www.mundodosfilosofos.com.br/aristoteles3.htm
5
Os termos micro-entes e macro-entes são livre interpretações nossas. Tais termos não figuram entre os escritos de
Demócrito, Leucipo ou Aristóteles)

8
Afirmamos, portanto, que a História não é um produto originariamente
material, como apregoam marxistas e marxianos (e nisto, eles consensuam!), posto
que, pelos problemas levantados no tocante à causalidade histórica, torna-se
extremamente complicada e capciosa a proposta de estabelecer quem é o “fator
originário”, ou mesmo determinar onde está a origem – para tanto é mister um
referencial, e um referencial é um dado extremamente móvel, maleável e
manuseável! De forma que, muitas verdades apresentadas nos didáticos livros
contemporâneos de História não passam de expressões da sedução a nós impostas
pelas “mãos invisíveis”6 da nossa Época. Hoje, na nossa contemporaneidade,
parece que já está suficientemente claro que a História não se dá através de
aspectos exclusivamente ideais. Porém, estranhamente, parece que o nosso tempo
ainda não soube perceber que, igualmente, ela não pode se dar por um materialismo
puro. É claro que, nesta época, o Espírito é levado em consideração – protestarão
nossos vizinhos – afinal, em nossa época não se desenvolveram a psicologia e
tantas e inúmeras formas de culto ao Espírito? Não é nosso século o mais liberal
nas questões religiosas? Já não foram todas as fogueiras apagadas, e até mesmo o
demônio exorcizado??? É verdade, esquecemos de mencionar a principal
característica do nosso tempo, além da sedução político-econômica: a hipocrisia!
Mas não transformaremos este tratado de História num tratado teológico. Diremos
apenas que o verdadeiro espírito é bem mais simples e abundante; é o avesso das
hipocrisias religiosas que serão apontadas neste modesto trabalho – aquelas que
datam desde a dinastia merovíngia dos francos, e ainda persistem, porém de forma
mais universal e velada... muito bem dissimulada, poderíamos mesmo dizer, pois a
dissimulação desceu das altas ordens clericais e multiplicou-se em cada
subconsciência, qual um vírus indolor e alucinógeno.

Mas atenção! Não estamos dizendo que o cientista histórico deva agora, pela
impureza de seu objeto de estudo ou pela incapacidade de precisar sua origem,
aquietar sua alma de perscrutador das origens e das explicações – ao contrário: o
homem precisa sempre se alçar a si mesmo, para galgar alguma altitude, mas que
este salto seja em prol de um construtivismo histórico, em vez de ser pró-
reprodutivismo das seduções de uma Época. Mas o que questionamos é a qualidade
desta busca e dos produtos desta caça: que não sejam só animais putrefatos, mas
também, História viva, em pulsação.

Ainda como na questão aristotélica, a melhor resposta parece ser um sínolo:


o materialismo é a manifestação do fenômeno potencial, e as idéias são os atos
reprodutores de novos materialismos. Porém, falamos só em termos de analogia
pois, para Aristóteles, a matéria é passiva; e a forma é o ato que a enforma e
direciona. Também não se trata aqui do “Espírito Objetivo Absoluto” hegeliano, onde
a idéia, única ativa, pois sua essência é a “liberdade”, tem a primazia sobre a
matéria – sinônimo de peso e, portanto, passividade.

Preferimos apostar que ambos os movimentos serão ativos, a depender do


momento: fenômenos geram idéias que geram novos fenômenos, indefinidamente,
sem centro, sem origem, sem descanso, sem exclusivismo, sem uma necessária
herança ou interdependência, mas concordamos com Hegel que são momentos.
.

6
Para melhor compreensão, recomendamos a leitura de: NIETZSCHE, F.G.W. Assim Falava Zaratustra: um livro para todos
e para ninguém, primeiro livro: “Uma Árvore na Montanha”, p.62
9
Forma e conteúdo são respectivamente preparativos e oportunidades; e no
momento em que os dois se encontram, há o sínolo – são os momentos históricos.
Até lá, há uma luta e disputa pela primazia entre idéia e matéria, em busca de uma
conformação entre forma e conteúdo – as parte do ser, da História; e entre estes
momentos, sempre há espaço para o aparentemente absurdo, e insólito.

Quando as imagens determinantes cumprem o seu papel de influenciar e


incentivar a imitação, os espíritos humanos encontram-se de fato num estado de
êxtase, ou de lassidão profundos, o que acaba por aparentá-los a uma massa flácida
e maleável que pode sim ser levada para cima e para baixo – para onde se queira –
facilmente, quando as condições materiais se apresentam, como uma forma de bolo
já untada. Mas é justamente aí que a sedução contemporânea deve reavaliar-se,
para não cair num dogmatismo. Pois se as imagens determinantes podem conduzir
os espíritos rumo à passividade, isto não significa que esta seja sua exclusiva
aplicação. O estado de espírito influenciável do homem pode sim servir, mas pode
também comandar, dependendo de que estado de espírito se cultive. Desta forma, a
questão se existencializa e potencializa numa direção menos abstrata, mais
filosófica e mais fisiológica, e, portanto, mais humana, mais histórica: o historiador
contemporâneo deve saber fazer calar a discussão antiga entre espírito e matéria,
forma e conteúdo, particular e universal. Inicia-se a novíssima discussão
contemporânea: entre atividade e preguiça, materialmente, e espiritualmente
falando: novas potencialidades para novos modos e estados de ser.

É neste contexto que procuraremos abordar a formação do Estado Absolutista


Francês: de um lado condições materiais, economia, política, etc., e de outro,
teorias, idéias, paradigmas que, ora emergiam, ora ruíam. Na verdade não há esta
separação de um lado e de outro. Procuraremos tratar a existência como existência:
como sínolo.

INTRODUÇÃO

O movimento natural de compreensão de uma parte é o movimento que dirige


ao todo; é o aumento gradual da compreensão do particular rumo à compreensão do
mais geral. Seguindo este movimento natural, não pudemos deixar, neste trabalho,
de nos recuar um tanto mais no tempo, e acabar por debruçar-nos sobre as origens
do Reino Franco, e, conseqüentemente, sobre as origens das relações de
deferência prestada pelos seus reis à Cristandade Romana Trinitária.

Reservamos, portanto, a esta introdução, um espaço destinado a abordagem


desta História que se desenrola bem antes da História do Absolutismo Francês, no
intuito de melhor observar o fio condutor que nos levará a uma visão mais clara dos
eventos próprios à época absolutista; eventos estes que estão, em grande medida,
subordinados às condições materio-ideológicas (econômicas, políticas, culturais,
religiosas, imagéticas, tradições, paradigmas, etc.) estabelecidas neste período das
dinastias francas (Merovíngia, Carolíngia e Capetiana), o qual descreveremos a
partir de agora.

10
É sabido que em 380 d.C. o imperador Teodósio I oficializou o cristianismo
como religião oficial do Império Romano. A partir daí, a religião cristã passou a ser
imposta aos povos conquistados. Uma atitude bem diferente daquela adotada no
século II a.C. quando da conquista dos gregos; ocasião em que houve uma fusão
das duas culturas, com evidente fortalecimento do mundo romano pela riquíssima
cultura grega.

Esta imposição cultural do fim do Império Romano Ocidental revela uma


última tentativa de centralizar o fragilizado império em torno de uma ideologia que
tornasse mais fácil mobilizar e controlar os cidadãos a fim de adquirir recursos
humanos e financeiros que pudessem ainda sustentar de pé o Estado. Com
Constantino, o cristianismo tornou-se a religião a obter este monopólio7. Mas as
bases materiais do império já estavam demasiado depauperadas para conseguir
uma reversão no movimento de queda. De forma que o que se conseguiu de fato foi
a consolidação de uma unidade religiosa cristã, que, após substituir a unidade
política romana, conseguiu subsistir, mesmo num mundo medieval ocidental
fragmentado pela queda do império ocidental.

Tal queda ocorreu em 476 d.C., e deveu-se a várias causas: fragmentação do


Estado, corrupção, declínio econômico urbano, política cegamente expansionista,
destruição da classe média sob o peso de pesados impostos implementados pelas
reformas de Diocleciano, êxodo urbano, diminuição no número de escravos,
invasões bárbaras, etc. Dentre estas e outras causas, nos importa aqui abordar
apenas esta última: as invasões bárbaras.

No período de declínio romano, a anarquia militar era um fato; as legiões brigavam


pelo poder de seus generais; o exército permanente, passou a resultar de uma
mescla de soldados romanos com os aliados bárbaros, sobretudo os germanos. A
maioria do exército ainda era de romanos, mas, com o constante crescimento dos
contingentes bárbaros nos quadros romanos e dos foederati8, foi inevitável a
concepção de acordos para que eles ocupassem partes do território do império; ali,
às margens de Roma, eles estariam instalados e preparados para melhor servir ao
Império, mas ali também instalariam eles, embora ainda não soubessem, as bases
do vindouro mundo feudal. “A conseqüência disso foi que as tribos foram,
progressivamente, emancipando-se da tutela romana e formando seus próprios
reinos”9

Entre estas tribos de povos germânicos, destacaram-se os Francos, os


Lombardos, os Visigodos, os Ostrogodos, os Saxões, os Vândalos, os Suevos e os
Burgúndios. “A maioria dos reinos bárbaros tiveram vida curta. Somente os Francos
conseguiram se organizar, estruturar e expandir seus domínios”10.

7
http://pt.wikipedia.org/wiki/Queda_do_Imp%C3%A9rio_Romano
8
Tribo associada a Roma, por tratado (foedus), mas que não tinha foro nem de colônia romana nem de cidadania romana
(civitas) mas que ainda assim, estava obrigada a fornecer um contingente de soldados, caso isso lhe fosse solicitado.
9
http://pt.wikipedia.org/wiki/Queda_do_Imp%C3%A9rio_Romano.
10
http://www.juliobattisti.com.br/tutoriais/adrienearaujo/historia012.asp
11
Os Francos foram os primeiros povos germânicos a estabelecerem-se de
maneira permanente no território romano, por volta de 355 d.C. Entre suas primeiras
dinastias citamos a Merovíngia. Desta, destacamos o rei Clóvis (466 – 511), que
iniciou seu governo no ano 481; portanto, já após a queda do Império Romano
Ocidental. Ele foi o primeiro rei dos francos a unir totalmente a nação bárbara.
Consolidou os vários reinos francos na Gália e na Renânia, região onde encontra-se
Paris 11.

No período merovíngio, as cidades tinham entrado em colapso junto com o


império. A vida da sociedade cada vez mais fragmentada e localizada, era agora
baseada em vilas auto-suficientes. “O conhecimento da leitura e escrita praticamente
desapareceu fora das igrejas e mosteiros” 12. O artesanato entrara em decadência e
as estradas estavam destruídas. A economia rural, característica do fim do império
romano se fortificara, e com ela, o poder dos nobres estabelecidos naqueles feudos.

Em 493, Clóvis converte-se ao cristianismo por ocasião de seu casamento


com a princesa burgúndia, Clotilde. A conversão de Clóvis sinalizou a conversão do
resto dos francos. A santa igreja voltava ao poder após um breve período de jejum.
A unificação que Clóvis promoveu, garantiu aos francos, e portanto, também à
igreja, um reino que correspondia praticamente a área onde localiza-se atualmente a
França. Mas os merovíngios tinham a tradição germânica de dividir o reino entre
todos os herdeiros após a morte do rei. Portanto, quando Clóvis morreu, em 511, o
reino franco foi dividido em três partes: Nêustria, Austrásia e Borgonha.

Apesar do crescimento da área franca através dos filhos de Clóvis, o reino já


não era unificado, contrariando os interesses de estabilidade e pacifismo da igreja, e
gerando uma série de rivalidades entre os reinos e seus descendentes, culminando
num período de reis francos meninos. O poder então era exercido de fato pelos
mordomos 13. Pepino, o breve (714 – 768), foi um desses curadores que, na ocasião,
era mordomo da Nêustria, desde 741 – cargo herdado de seu pai Carlos Martel (688
– 741). Seu irmão, Carlomano exercia a mesma função na Austrásia, mas como
este se retirou para um monastério em 747, o poder franco unificou-se mais uma
vez. A igreja então, na pessoa do papa Estevão III, e investida por uma falsa
autoridade concedida por um falso documento: “A Doação de Constantino”14,
apressou-se por destituir o ultimo rei merovíngio em favor de Pepino, em 753. Em
troca, este livrou Roma da ameaça dos Lombardos, doando-lhe parte das terras
daquela cidade, e instituindo a lei de doação obrigatória do dízimo da décima parte
das rendas dos fiéis. A associação entre francos e a igreja estava consolidada, e
inaugurada estava a dinastia dos carolíngios.

O sucessor de Pepino foi o maior representante desta dinastia, Carlos Magno


(747 – 814), que ampliou o reino franco praticamente a extensão do antigo império
romano do ocidente. Seu reinado consolidou ainda mais a importância da igreja
cristã dentro do reino, fomentando a educação católica através de escolas liberais e
11
http://pt.wikipedia.org/wiki/Francos
12
http://pt.wikipedia.org/wiki/Francos
13
Prefeito do palácio – uma espécie de primeiro ministro real
14
Documento que supostamente decretavam a igreja cristã como guardiã dos bens do antigo império romano ocidental
12
escolas catedrais, dirigidas por representantes do clero, e que mais tarde formariam
as bases das universidades medievais e da filosofia cristã escolástica. Como um
bom exemplo da influência que a igreja conquistara no seu governo, podemos
destacar o fato de que, a partir da coroação de seu filho, Luis, o pio (778 – 840), a
igreja passa a participar de todas as coroações dos reis francos na qualidade de
promotora não só da cerimônia, mas também como legitimadora divina do poder dos
reis. Não é a toa que em 800, a igreja coroaria Carlos Magno como imperador do
ocidente, após este ter definitivamente conquistado a região dos Lombardos que
mais uma vez ameaçava Roma, fundando o até hoje existente Estado papal, e de
quebra, ampliou o império ao sul, anexando o norte e centro da Itália.

Ainda como característica deste novo momento de relações entre francos e


igreja, podemos citar a mudança ocorrida na herança da transmissão do poder do
rei. Até Luis – único herdeiro vivo quando Carlos Magno morreu, esta se dava
segundo as tradições germânicas, dividindo o reino entre tantos filhos quantos o rei
tivesse. Mas a partir de agora, apenas o primogênito teria esse direito. Era a forma
que a igreja encontrara para garantir a perduração e a estabilidade do Sacro Império
Romano protetor da igreja, tão sonhado, restaurado e por tantas vezes demolido e
ameaçado.

Tal situação entretanto, fez com que houvesse disputa pelo poder entre o
mais velho e os dois mais novos filhos de Luis, que se aliaram contra aquele. Desta
disputa, o mais velho, Lotário, saiu perdedor, e quando, finalmente, entraram num
acordo, foi celebrado pelo tratado de Verdun, que dividia o império em dois: o
oriental ficou com o filho do meio, Luis, o Germano, e ocidental ficou com o filho
mais novo, Carlos, o Calvo (823 – 877). Do primeiro, originou-se a Alemanha; do
segundo, a França, e Carlos, o Calvo é considerado o primeiro rei da França, em
857. Na França, os carolíngios desapareceriam apenas com a ascensão de Hugo
Capeto ao trono, em 987, iniciando-se então a dinastia Capetíngia (987 – 1328) que
consolidou o absolutismo monárquico entre os séculos XVI e XVIII e governou a
França até a queda da Bastilha, em 1789, e tornaram-na a “monarquia absoluta
mais poderosa, eminente e influente, em uma palavra, a mais clássica”: a maior
representante da velha ordem social 15.

CAPÍTULO I
A GUERRA DOS CEM ANOS E A PESTE

A Guerra dos Cem Anos, devido sua beligerância e extensão, contribuiu de


forma fundamental para o precoce desenvolvimento nas duas nações de um
originário sentimento de nacionalismo e soberania, que talvez tenha sido o principal
responsável pela evolução das duas nações rumo à condição de propulsoras da
“dupla revolução” que como define Hobsbawm, transformariam o mundo: “a
Revolução Francesa de 1789 e a revolução industrial (inglesa) contemporânea”.

15
Hobsbawm, “A Era das Revoluções”, pg. 18
13
Pode parecer estranho, mas estes sentimentos de nacionalismo e soberania,
teve entre seus fatores originários, um sentimento de inferioridade – e portanto, de
vingança! – que certamente sentiu o Rei da Inglaterra, Henrique II, após casar-se
com a ex-mulher do Rei da França, Luis VII, devido aquele ter se tornado vassalo
deste, nos ducados de Guienne e Gasconha. Imagine você, se seu patrão
começasse a infernizar a sua vida no trabalho, porque você casou-se com a ex-
mulher dele¿ Tinha como não terminar em briga uma história dessas¿

França e Inglaterra já tinham uma breve história de conflitos que girava em


torno da região comercial de Flandres, mas após os acirramentos decorrentes da
Guerra dos Cem Anos, por muitos séculos não haveria paz entre estas duas nações.

Inicialmente, esclareçamos que este conceito de nação, conforme


entendemos hoje, e que veio a se concretizar por ocasião das monarquias
absolutistas e dos Estados Nacionais, não existia no início deste conflito. Como o
poder nas nações ainda era fortemente descentralizado, o que teremos é um
território onde existia plano de cooperação entre os feudos aliados para proteger-se
mutuamente, mas com a alternância do poder dos nobres em cada feudo, estas
frágeis alianças entre a nobreza e a coroa estavam sempre sujeitas a serem
desfeitas, em prol dos interesses particulares de cada condado, que vez por outra
encontrava um melhor negócio unindo-se ao inimigo. Não existia um interesse
comum e coletivo que os unisse em torno de um ideal de nação. O movimento
natural de maturação desta idéia só poderia vir, a partir do estreitamento dos laços
econômicos, culturais, familiares, etc. entre os feudos, e ao mesmo tempo, do
reconhecimento dos inimigos e suas fronteiras. Tudo isso, pensava-se, só poderia
vir com um longo tempo. Mas parece que a guerra, quando levada aos extremos de
acirramento entre os exércitos, e quando um desses exércitos encontra um símbolo
que os une e os entusiasma, enquanto soldados, promove igualmente uma
identificação deles enquanto nação. Parece que este foi o efeito que criou a figura
de Joana D’arc, na etapa final do conflito, causando uma virada a favor da França.
Mas, para além das vitórias militares, esta simples camponesa – em toda sua
obstinação, pureza e inocência, parece ter conseguido, ainda em 1429, pela primeira
vez despertar um sentimento nacionalista, numa época em que, sequer pode-se
falar de nações.

Entre as causas políticas, podemos listar a morte do último dos três filhos de
Felipe IV, O Belo, justamente Carlos IV, também, O Belo, em 1328, deixando
apenas filhas mulheres, que pela tradição sálica não tinham direito à sucessão. Ora,
os territórios de Guienne e Gasconha já eram da Inglaterra, desde que Leonor de
Aquitânia, ex-esposa de Luis VII, havia se casado com o rei da Inglaterra, Henrique
II, em 1152. Acontece que Felipe IV, em seus planos expansionistas, quis resgatar
estes condados que estavam se tornando comercialmente importantes produtores
de tecido da região de Flandres, iniciando, em 1300, um conflito com a Inglaterra,
que lhe rendeu a Gasconha e a Guienne, mas foi obrigado a devolver este último
território e a conceder a mão de sua filha, Isabela, ao príncipe herdeiro Eduardo,
príncipe de Gales, futuro Eduardo II, numa tentativa de selar a paz. O casamento foi
celebrado em 1308. Deste casamento, nasceu Eduardo III (1312-1377), rei da
Inglaterra em 1330, e neto de Felipe IV pelo lado materno, que aproveitando-se da
14
confusão causada pela morte de seu avô e dos seus três filhos homens em pouco
mais de oito anos, declarou-se, herdeiro do trono francês. Mas a lei sálica, em vigor
desde os tempos bárbaros na França, excluía da sucessão os herdeiros
descendentes apenas de mulheres da família real. Desta forma, o trono foi dado a
um primo distante de Carlos IV, Felipe de Valois – Felipe VI. Este fato foi suficiente
para o acirramento das posições das duas nações rivais. E o estopim veio da
mesma região: Felipe VI repetiu o feito de Felipe IV, e atacou Guienne, em 1337.

A partir daí, a guerra foi marcada por inúmeras vitórias inglesas, que só não
foram maiores porque a guerra foi interrompida pela primeira peste, que assolou
toda a Europa em 1348, dizimando um terço da população do continente.
Interessante notar que o poder da igreja era tão absoluto, que o povo, mesmo
tomado em todo fervor de sua superstição, não pensou que a peste poderia ser um
castigo de Deus ao Cisma do Ocidente (1309-1377) ou um aviso para que se
parassem aqueles conflitos recém-iniciados. Preferiram culpar os judeus (ou foram
levados a pensar assim) porque estes eram mais higiênicos.

E os conflitos prosseguiram, de forma descontínua, claro, a partir de 1356,


mas sempre com vantagem para a Inglaterra, porém em dois momentos culminantes
onde a guerra parecia estar decidida, a França conseguiu se reerguer. A primeira,
decorrente da prisão do desastroso rei francês João II, que chegou a ficar refém dos
ingleses por muitos anos (1356-1364); resultando de ampliação do território inglês
sobre o francês, e nas revoltas e insatisfações dos camponeses franceses, que
ficaram conhecidas como “jacqueries”. O outro momento, ainda mais delicado e de
maior desvantagem para a França, foi quando no começo do século XV, o
Borguinhões pretenderam tomar o trono, aliando-se aos ingleses após declararem
Carlos VI como incapaz. A Inglaterra aproveitou-se da guerra interna da França para
impor uma nova e devastadora vitória na “Batalha de Azincourt”, em 1415, obrigando
o rei francês a assinar o tratado de Troyes, que destituiu o Delfim Carlos, e obrigou a
casar a irmã de Carlos VI com o então rei da Inglaterra, Henrique V, colocando-o na
linha sucessória do reino da França. Todo o norte da França pertencia a Inglaterra,
inclusive Paris, e a situação parecia ser irreversível. A guerra parecia já estar
decidida, quando começam a acontecer fatos inusitados.

Em 1422 morrem os dois reis: Carlos VI e Henrique V. Oficialmente, os tronos


dos dois países seria herdado por Henrique VI, que era ainda uma criança recém-
nascida. Num período em que a França pertence a Inglaterra de direito, mas não de
fato, pois o poder não estava consolidado, e ainda existiam focos de resistência no
sul do país, aparece a figura lendária e mística de Joana D´Arc, que após ter visões
que lhe mostram o que seria o seu destino: coroar o Delfim Carlos, vai ao encontro
deste, e solicita um exército que começa a reconquistar territórios ocupados,
devolvendo o entusiasmo e a vontade de lutar dos franceses, que, mesmo após a
morte de Joana16, queimada como herege, o exército francês segue sua reação
inspirada na imagem e no exemplo de Joana e retoma todos os territórios antes
conquistados pela Inglaterra, restabelecendo o equilíbrio entre os dois reinos.

16
Foi capturada após um ato de traição de nobres franceses aliados à coroa inglesa
15
Porém a França sai do combate com o moral elevado e o exército fortificado.
Além disso o espírito nacionalista incutido por Joana, será a semente da futura
nação. Existe o reconhecimento no país de que a difícil guerra só foi ganha por um
esforço coletivo, que mais tarde se transformaria num precoce conceito de
soberania, que seria já suficiente para o alavancamento do processo de
centralização do poder num Estado Monárquico que mais tarde se tornaria num
Estado Monárquico Absolutista.

CAPÍTULO II
O PODER E A TERRA

Diversos fatores contribuíram para o declínio do império fundado por Carlos Magno.
Entre eles, talvez o principal tenha sido a rudimentar administração em contraste
com a magnitude do império. A tradicional administração itinerante dos reis
merovíngios ainda era a única forma de tentar amenizar este problema, mas na
prática, o poder ainda era descentralizado: “O império encontrava-se dividido em
dezenas de condados (perto de duzentos), cada qual governado por um conde – um
nobre de confiança do imperador”17. Além disso, a precariedade das comunicações e
a imensidão do território fazia com que os condes governassem como se o
imperador não existisse, exceto, claro, quando este os visitava.

Esta situação perdurou mesmo depois do declínio do império Carolíngio. Na


verdade ela permaneceu como a mais profunda característica da Idade Média: o
feudalismo. E mesmo após a grande mudança provocada a partir de 1789, pela
Revolução Francesa, o mundo europeu, ainda precisou de algumas décadas para
suplantar definitivamente suas características rurais, coisa que só ocorreu no início
do século XIX. Até lá, o mundo era essencialmente rural, como nos conta Eric J.
Hobsbawm em seu livro “A Era das Revoluções”:

“Mesmo em áreas com uma forte tradição urbana, ainda que


decadente, a porcentagem rural ou agrícola era extraordinariamente
alta: 85% na Lombardia, 72-80% na Venécia, mais de 90% na
Calábria e na Lucânia, segundo dados disponíveis. De fato, fora
algumas áreas comerciais e industriais bastante desenvolvidas, seria
muito difícil encontrar um grande Estado europeu no qual ao menos
quatro de cada cinco habitantes não fossem camponeses.”
(Hobsbawm, 1961, página 7)

A economia medieval era eminentemente dependente da terra, inclusive na


época absolutista, que queremos abordar. Esta característica aliada ao declínio das
cidades, que só voltariam a crescer com o advento das cruzadas, entre os séculos
XI e XIII, e a decomposição do território em diversos ducados ou vilas – produto das
invasões bárbaras e da fragmentação do antigo império romano, constituíram um
mundo dividido em feudos, e portanto, com suas estruturas de poder baseadas na
terra e no poder descentralizado, isto é, no poder dos nobres – um poder
determinado hereditariamente. Vigoravam o colonato e o escravismo, restando
pouca ou nenhuma esperança de melhoria de vida para quem não tivesse a sorte de
berço. Mas, se esta situação era opressora para o camponês, não era, de certo,
mais confortável para o rei e para o clero, que precisavam mudar esta estrutura para
17
http://www.mundovestibular.com.br/articles/4857/1/Origem-e-declinio-do-Imperio-Carolingio/Paacutegina1.html 16
fortalecer a centralização do poder, aumentar o controle sobre a taxação de
impostos, e, portanto, assegurar a própria estabilidade para o seu poder,
aumentando, de quebra, seu acúmulo de riquezas.

O absolutismo, portanto, será, entre outras coisas, a conclusão de um


movimento administrativo que visava a otimização do controle dos impostos sobre a
terra, sobre os ducados, sobre os camponeses, sobre os nobres. Mas esta fórmula
era mais difícil de ser concebida do que parece à primeira vista. Não era possível
efetivar a centralização política sem se pôr em oposição aos nobres. E o Rei
medieval ainda era demasiadamente dependente das relações de vassalagem que
seus nobres lhe prestavam, não somente do ponto de vista econômico-tributário,
mas também do ponto de vista do imprescindível apoio estratégico-militar. Numa
época de inúmeros confrontos, anexações e perdas constantes de território,
qualquer reino que quisesse sobreviver, teria que conceder alguns privilégios aos
nobres em troca de sua submissão, e, conseqüentemente, ajuda militar, sem a qual,
não haveria nem rei, nem clero, nem impostos a recolher.

No mundo feudal, o Rei era o suserano mor. Inevitavelmente, alcançar o


objetivo de estabelecer a centralização do poder tão almejada, ele teve que
gradativamente abandonar essa posição, primeiro para separar-se da identidade
com os demais nobres que deveriam sofrer sanções para este fim. Sendo assim, a
gradual evolução da imagem do rei para monarca absolutista, foi acompanhada pela
mudança da imagem de um grande suserano proprietário para um representante
escolhido por Deus para administrar a soberania territorial.

As sanções citadas no parágrafo anterior, referem-se principalmente a


impostos. Jamais tais sanções poderiam visar as terras dos nobres. A terra, mesmo
durante o absolutismo era tida como um bem sagrado, e, portanto, intocável. Os
teóricos absolutistas todos concordaram sobre este ponto: o direito à propriedade
está acima de qualquer outro. É sobretudo neste ponto que o poder dos reis
encontra limites, pois refere-se a um direito tão incontestável quanto o divino direito
do rei de governar.

Por um lado, este poder conferido à terra remonta ao passado bárbaro e aos
interesses nobres e reais, mas também denota a força da influência do clero, que
herdava muitas terras dos fiéis arrependidos, ou mortos nas cruzadas, bem como já
aponta para um primeiro dispositivo legal de proteção dos negócios burgueses.

CAPÍTULO III
A NOBREZA E A FORMAÇÃO DOS EXÉRCITOS

A tarefa dos reis em busca de centralização e longevidade do poder era


árdua, lenta e contraditória: consistia, por um lado, em estabelecer vínculos cada
vez mais profundos com seus vassalos, através dos casamentos e dos vínculos de
fé, concebendo uma terra que fosse uma propriedade cada vez menos de um
particular – um nobre – e cada vez mais de uma única e grande família real, onde
diga-se de passagem, a igreja tinha seu papel garantido como respeitável ancião e

17
sábio conselheiro, que influenciava, inclusive, na escolha dos nobre sucessores dos
condados, e até mesmo de imperadores, como foi o caso do papa Inocêncio III
(1160-1216).

Porém, como todos que participam de grandes famílias sabem, esta prática
de “aprofundar os laços familiares” sempre vem acompanhada de alguns efeitos
colaterais: hoje são as discussões de velhas tias, brigas de primos, disputa de
orgulho entre irmãos, etc.; mas naquela época haverá um ingrediente a mais: tudo
isso acabava levando à conflitos armados na disputa pelo poder.

Por outro lado, consistia em promover a segurança de forma cada vez mais
profissional, pois disto dependia a sobrevivência do reino e o continuísmo do poder.
O primeiro exército nacional francês data de final do século XII, no governo do rei
Felipe II, o Augusto (1180-1223). Antes disto a segurança era provida
exclusivamente por obrigações militares derivadas das relações de vassalagem
devidas pelos barões ao rei. Dessa forma, quando o rei solicitava, os nobres
deveriam fornecer material bélico e humano para defender tanto os seus territórios,
quanto os da coroa. Durante a fase mais crítica da “Guerra dos Cem Anos”, quando
o rei João II (1319-1364) ficou preso na Inglaterra, teve início uma série de Revoltas
Camponesas, em 1358, refletindo a sensação de insegurança e desespero dos
camponeses devido a Peste e os bandos de mercenários que andavam fazendo
vítimas, e o descrédito do governo após várias derrotas na guerra e o vazio no
poder. Seguiu-se uma série de pilhagens aos castelos nobres pelos camponeses em
busca principalmente de alimentos. Esta situação, depois de contornada (durou
apenas um mês) levou o Rei precedente, Carlos V (1338-1380) a iniciar a contrução
da Bastilha e reorganizar o exército.

Ocorria com certa freqüência, conflitos entre a coroa e seus nobres. Primeiro
por motivos internos: houve um período, por volta do século XII, que “nobres
salteadores assolavam o país, aterrorizando as populações e os domínios
vizinhos”18. Mas os problemas mais graves eram os de motivação externa, como no
caso da região de Flandres que, apesar de ser politicamente ligada a França,
dependia economicamente da Inglaterra. Ou seja, dependendo das inclinações e
interesses dos nobres que a controlassem, esta região aliava-se a um lado ou ao
outro – situação que se alternou diversas vezes, e que foi o estopim da Guerra dos
Cem Anos, em 1337.

Dissemos que são dois movimentos contraditórios porque, apesar de ambos


almejarem a centralização do poder, no primeiro o rei fortalecia e reafirmava suas
relações feudais com os nobres; e no segundo, buscava sua independência militar,
diminuindo assim, gradativamente, a importância que os nobres tinham dentro do
reino. Com a evolução destes dois movimentos, ficará claro, para a monarquia
absolutista francesa, que a nobreza já se tornara um peso, e que sua anterior
imprescindibilidade já não mais existe. A nobreza será então, preterida em favor da
burguesia, que financiará em grande medida o exército nacional.

18
http://pt.wikipedia.org/wiki/Lu%C3%ADs_VII_de_Fran%C3%A7a
18
A partir desta contínua desvalorização, a nobreza começará a se dividir
gradualmente, numa nobreza de cavaleiros e numa aristocracia. A reação desta
última, seria uma infiltração na máquina administrativa francesa, que aconteceria
sobretudo, durante todo o século XVIII. Na medida em que a centralização
absolutista evoluía, aumentava a necessidade de funcionários pagos pela coroa. A
aristocracia, valendo-se de seus privilégios “familiares”, exigiu posse destes
empregos como quem desespera por um último bote salva-vidas. Mas para a coroa
absolutista, era muito mais negócio empregar pessoas do povo, pois tinham a
mesma capacidade técnica e satisfaziam-se com salários mais modestos18
(Hobsbawm pg.41). Aqui, mais uma vez, a monarquia constataria o fardo em que
para ela a nobreza se transformara. Isto levaria o absolutismo a admitir cada vez
mais em seus quadros administrativos os burgueses no lugar dos nobres. Por outro
lado, a baixa nobreza entraria num processo de penúria que a levaria a incitar as
massas contra a coroa. Este conjunto de insatisfações contribuirá para as pressões
que culminariam na Revolução Francesa.

CAPÍTULO IV
O CLERO

Como se pôde perceber na introdução deste trabalho, os estreitos laços entre


o reino francês e a igreja cristã católica apostólica romana remontam a dinastia
Merovíngia. Desde a queda do império romano ela buscava um novo sócio, mas não
poderia ser qualquer um. A igreja havia se acostumado com o poder imperial, e suas
intenções só se conformariam a um outro império, que pudesse igualmente protegê-
la e expandi-la. Esta foi justamente a postura adotada por Clóvis e depois ratificada
por Carlos Magno. Depois disso, esta deferência e respeito foi imitada por todos os
outros reis posteriores. Os capetíngios fizeram disso praticamente um pré-requisito
ao trono, e a simples presença de um nobre não-católico na família real, era capaz
de provocar os maiores impropérios, como observa-se no caso da rainha Catarina,
que acabou envenenando o próprio filho, o rei Carlos, o louco, na tentativa de
assassinar o genro Henrique IV (Henrique de Navarra), que era então calvinista x
(vide o filme “Rainha Margot”).

O fervor religioso de tais reis, pensamos, vinha de uma imagem que ainda
dominaria o aparato imitativo da humanidade por muitos séculos: a imagem do
império romano. O sonho de todos os reis era erigir um império similar. E como a
imagem da igreja romana estava indiscutivelmente associada a esta idéia, e ainda
contava com o peso e a autoridade das tradições e da antiguidade de seu nome, a
monarquia, que também se vale dos pressupostos de um poder baseado na
longevidade e nas tradições, encontrou nesta aliada, tanto um símbolo indiscutível
de poder, quanto um instrumento eficaz de controle ideológicos dos súditos. Tal
poder já se manifestava na confissão auricular, e na contra-reforma, através dos
tribunais da inquisição.

Sabedora desta importância, a igreja exerceu desde cedo o poder ao lado da


coroa francesa num contínuo movimento de elevação que teve seu cume com o
papa Inocêncio III e suas cartas de “Políticas Papais”, que visavam minimizar a
autoridade dos reis, E afirmar a autoridade da igreja sobre a coroa. Vejamos o que
19
dizem suas próprias palavras:

“Assim como o Fundador do universo estabeleceu duas grandes


luzes no firmamento do céu, a luz maior para governar o dia e a luz
menor para governar a noite, assim também Ele estabeleceu duas
grandes dignidades no firmamento da Igreja universal (…), a maior
para governar o dia, isto é, as almas, e a menor para governar a
noite, isto é, os corpos. Estas dignidades são a autoridade papal e o
poder real. Agora, assim como a lua retira sua luz [quando surge] o
sol; e é certamente menor em quantidade e qualidade, na posição e
no poder, assim também o poder real deriva do esplendor da
dignidade da autoridade pontifícia (…)” (Sobre a autoridade papal:
Carta ao prefeito Acérbio e os nobres da Toscana, 1198).

Como esta relação estava baseada eminentemente sobre aspectos


econômicos, qualquer abalo conjuntural seria capaz de promover uma ruptura nesta
delicada associação. Assim a França sofreu interdicto19 por 2 vezes: em 1140 com o
rei Luis VII, devido a impasse pela sucessão de Bourges, em 1200, com seu filho, o
rei Felipe II, por um casamento inválido aos olhos da igreja. Também vários reis
foram excomungados pelos papas católicos: Roberto II (997), Felipe I (1094) e Luis
VIII (1216).

Isto sem falar em Felipe IV, o Belo (1268-1314), que merece um parágrafo a
parte, pois além de confiscar e expulsar os judeus, não poupou nem a igreja de sua
fome por dinheiro para financiar as guerras, iniciando em 1296 um conflito com o
papado por lançar impostos sobre o clero que equivaliam à metade do rendimento
anual da igreja. “Mas em 1300, pela bula Unam Sanctam, o papa Bonifácio VIII,
declarou a superioridade do poder espiritual sobre o poder temporal, e por
ríncipe ia, a superioridade do papa sobre os reis, que responderiam perante o
líder da Igreja. Era de facto uma tentativa de instauração de uma teocracia na
Europa ocidental”20. Felipe reuniu seus nobres e fez oposição dura ao papa,
terminando por pontificar um papa francês e submisso a sua coroa: Clemente V,
numa nova sede papal: em Avingnon, desde 1305. Teve início uma ríncipe de
sete papas franceses. Foi o auge do poder da coroa sobre o papado. Este fato
culminou no chamado “Cisma do Ocidente” – período de 1378 a 1417 quando a
igreja católica teve duas sedes: Avingnon e Roma, sendo normalizada a situação
após o Concílio de Constança. Depois disso, Felipe IV ainda espoliou os cavaleiros
templários franceses, em 1307, com a anuência do papa Clemente V.

Estes desentendimentos iniciais da dinastia Capetíngia com o clero, revelam


um primeiro aviltamento entre realeza e igreja católica, num momento em que os reis
– diferentemente dos carolíngios, que eram excessivamente submissos ao clero –
começam a se impor por enquanto ao menos num pé de igualdade com a igreja.
Após as reformas de Felipe IV, as relações ficam mais ou menos definidas: a igreja
perde certo espaço, pois aumentam os impostos devidos à coroa, porém garantem
um lugar de estabilidade e prestígio junto aos reis franceses que só será novamente
perturbada pela vindoura revolução. Nem mesmo no momento de maior fragilidade
da igreja romana na França: na reforma calvinista, a realeza deixou de defendê-la,
19
Equivalente à excomunhão, aplicado a um território
20
http://pt.wikipedia.org/wiki/Filipe_IV_de_Fran%C3%A7a
20
inclusive derramando muito sangue por ela, como na “Noite de São Bartolomeu” em
1572. Inclusive, Henrique IV, que até então era calvinista, teve que converter-se ao
catolicismo em 1589, para poder adquirir o legítimo poder divino ao trono.

CAPÍTULO V
AS GUERRAS CIVIS, RELIGIOSAS E OS TEÓRICOS ABSOLUTISTAS

As guerras religiosas que ocorreram desde 1562, e representaram a reação


do espírito fervoroso e da fidelidade francesa à fé católica, só tiveram termo em
1599, com a promulgação do Édito de Nantes pelo rei ex-calvinista Henrique IV.
Neste longo período, a França mergulhou num estado de guerra civil, intolerância
religiosa, anarquia e descontrole do povo e do governo.

As imagens destes conflitos, foram talvez, as maiores influências do jurista


Jean Bodin (1530-1596): elas o levarão a concluir que, para evitar tais incidentes, é
necessário que o povo se despoje de seu poder e o concentre nas mãos de um
soberano escolhido por Deus – o detentor da Soberania nacional, que para ele, era
absoluta! Daí, seu exercício conferiria poderes absolutos ao soberano que a
exercesse. A soberania, para ser exercida, necessita de um determinado território.
Sua concepção de direito sobre a terra é inspirada no antigo direito civil romano,
onde a propriedade privada era inviolável. Por isso suas idéias caíram como uma
luva para os interesses burgueses em ascensão, como um primeiro esboço de
aparatos jurídicos em prol de uma economia liberal.

Entre seus escritos, destaca-se “Os Seis Livros da República” (e


“Démonomanie Socier”. Neste último, Bodin detalhou o sabá negro e apontou
métodos eficazes de tortura para obter confissões dos supostos bruxos21. Isto
mostra toda a influência que os Tribunais da Inquisição exerceram sobre seu
pensamento. Através de muitas fogueiras e torturas, aqueles tribunais conseguiram,
de certa forma, restituir o controle sobre os camponeses através do medo. Sem
olhar para os meios, a finalidade de restabelecer a ordem fora cumprida pela contra-
reforma. Aqueles tribunais eram o Júri Divino na Terra. E Bodin, como um jurista
bom, não podia deixar de apoiá-los, nem negar a existência de um justo julgamento
divino que deliberasse, entre outras coisas, sobre o Direito Divino dos Reis. Assim,
foi o primeiro teórico absolutista, fundamentando suas teorias sobre o “Direito
Divino” e “Soberania”, e influenciando Bossuet (1627-1704).

Dos eventos que marcaram a juventude de Bossuet, destacamos a Fronda,


que foi outra guerra civil francesa que durou de 1648 a 1653, tendo por mote as
insatisfações políticas do parlamento e da nobreza francesa contra o regente italiano
Giulio Mazarino, pois o rei Luis XIV (1638-1715) ainda era menor. O povo foi
manipulado por essas correntes políticas motivados por sua revolta contra os altos
impostos da coroa. A desordem, mais uma vez, foi geral. O pai de Bossuet era uma
desses conselheiros parlamentares insatisfeitos. “Nos tempos turbulentos da
Reforma, da Liga e da Fronda, sua família sempre manteve a sua fidelidade à igreja
e ao rei” 22. Decorrente destas influências familiares e das suas ocupações: como

21
Revista Aventuras na História, Edição 75 de Outubro-2009
22
Maria Izabel Barboza, “O ríncipe Pacífico: Bossuet, Luis XIV e Antônio Vieira” – Brasília, 2009, pg.28
21
bispo de Meaux, e defensor da ortodoxia, num tempo explosivo de contra-reforma, e
como conselheiro de Luis XIV e preceptor de seu filho, Bossuet, assim como Bodin,
defendeu o absolutismo e condenou qualquer levante popular contra o poder divino
do rei. Mas a doutrina política de soberania e centralização do poder de Bossuet
diferenciará da de Bodin. Neste ela é de caráter contratual; naquele é de caráter
divino, baseado principalmente nas leituras que fez de Santo Agostinho e nas
Sagradas Escrituras.

CAPÍTULO VI
DO APOGEU À QUEDA

Com Bossuet e Luis XIV, o absolutismo atinge seu grau máximo, tanto na
teoria quanto na prática. Apesar das inúmeras guerras internas e do combate às
ligas anti-francesas, somados a opulência do estilo de vida real, nunca antes levado
por nenhum rei francês a um nível tão elevado, o Estado não faliu economicamente.
Passou por inúmeras dificuldades, mas o processo de mercantilismo industrial
francês23, encabeçado pela eficiente administração do ministro burguês Jean-
Baptiste Colbert (1619-1683), possibilitaram não só uma rápida recuperação, mas a
conquista do status de nação mais rica da Europa, só acompanhada, e bem de
perto, pela Inglaterra, com seu pioneirismo industrial, político, social e científico já
estabelecido desde o século XVII, e em vertiginosa expansão24.

Perceba-se também a rápida mudança que se processou nos quadros


administrativos da coroa, a partir desta fase, digamos, turbinada do absolutismo:
Bossuet e Colbert poderão nos servir de exemplo, pois o primeiro, apesar de não ser
burguês, contava em sua família tanto materna quanto paterna, de “camponeses
elevados à burguesia, desta à magistratura e, finalmente, à nobreza (...)”. Esta
ascendência possibilitou seu acesso à condição de “(...)conselheiro de Estado
eclesiástico”25 do rei.

Outro bom exemplo foi Galileu Galilei (1564-1642), que, apesar de situar-se
na Itália, cumpre o papel de mostrar a inclusão no Estado Absolutista, de pessoas
renomadas não mais apenas pela hereditariedade, mas pelo nome. Também mostra
prestígio que a Ciência e os Estudiosos começavam a ganhar nos círculos nobres
absolutistas e principalmente, esclarecidos. “Galileu dedicou seu livro ‘Sidereus
Nuncius’, de 1610, a Cosino II de Médici, grão-duque da Toscana, e ao batizar os
satélites de Júpiter de ‘estrelas mediceanas’ para homenagear a família nobre,
Galileu conseguiu ser nomeado matemático e filósofo da corte dos Médici” 26.

Colbert, antes de se tornar ministro de Luis XIV, era comerciante de tecidos e


banqueiro. Diferentemente de alguns séculos anteriores, a mobilidade social agora
era um fato. Graças a miscelância dos ideários liberais, iluministas, de individualismo
e antropocentrismo, sem esquecer o calvinismo e as influências vindas do Oriente;
todas essas formas, preenchidas pelos conteúdos materiais de um desenvolvimento
do comércio, das ciências, e das livres profissões, aliado às insatisfações comuns a
23
Balança comercial-metálica favorável, protecionismo rígido, exportação da produção de manufaturados.
24
Hobsbawm, “A Era das Revoluções”, pgs.16 e 23
25
Maria Izabel Barboza, “O ríncipe Pacífico: Bossuet, Luis XIV e Antônio Vieira” – Brasília, 2009, pg.35
26
Revista Aventuras na História: para viajar no tempo, Ed.78 – Jan-2010
22
todos que não participavam do poder; todas essas condições passaram a
proporcionar uma real possibilidade de ascensão social pelos habitantes mais
simples. Em verdade, podemos dizer que houve uma dupla migração da imagem
determinante relacionada naquela época com o homem “invejável”. Primeiro, esta
imagem deixou de se relacionar com a nobreza para agora se identificar com os
mercadores burgueses, que andavam de um feudo ao outro fazendo seus negócios
e exibindo seu orgulho. E por segundo, houve o deslocamento desta imagem de um
limbo inalcançável para dentro do próprio camponês, que passou a enxergar de
forma concreta formas as mais variadas de se tornar um desses homens invejados;
coisa que não era sequer pensável no passado, dado as condições divinas e
hereditárias ali vigentes.

A burguesia, portanto, após séculos apenas financiando o poder dos reis,


começa, na era absolutista, por exercê-lo de fato. Após um longo apogeu, pois o
reinado de Luis XIV foi o mais longo da Europa (72 anos), era o início do declínio do
absolutismo. Seus inimigos já infiltrados e disfarçados, começariam a trabalhar e
governar visando apenas os interesses e o fortalecimento de suas classes,
enfraquecendo o poder da coroa.

Por muito tempo eles influenciaram os reis a mudarem as constituições dos


feudos em troca das vultosas somas de financiamento à coroa. Pois os feudos, cada
um com sua particularidade, eram uma obstrução muito forte ao desenvolvimento
almejado do comércio. Cada vila, cada condado, tinha sua própria moeda, seu
sistema métrico, seus impostos, etc. Era preciso o absolutismo para centralizar e
padronizar tudo, além de garantir a segurança dos mercadores itinerantes. Agora
que eles estavam no poder, agora que ocupavam o lugar privilegiado que outrora
era ocupado pelo clero e pelos nobres, aproximava-se o momento do cheque-mate.
Boa parte do mercado já se desenvolvia independentemente do Estado. O
absolutismo já cumprira seu papel de fortificar e facilitar o comércio interno e
externo. Aproximava-se a hora do descarte.

Luis XV (1710-1774) contribuiu bastante para a aproximação deste momento, pois


fez um governo desastroso. Provavelmente influenciado pelos seus conselheiros
burgueses, implementou reformas fiscais que oneraram ainda mais a nobreza e o
clero, aumentando as oposições internas ao absolutismo. Externamente, a Guerra
dos Sete Anos (1756-1763), e a Revolução Americana, ou seja, a rivalidade com a
poderosa Inglaterra, levaria a França à falência, e conseqüentemente, à revolução27
(). “O reinado viu a prosperidade da aristocracia e da opulenta burguesia, apesar de
o país estar à beira da bancarrota. O fracasso do rei em solucionar os assuntos
financeiros fez com que ele deixasse para seu sucessor, Luis XVI, um governo
insolvente”28.

Após o apogeu do absolutismo monárquico com Luis XIV, veio o rápido


declínio no governo de Luis XV, e a queda final com seu sucessor, Luis XVI, que
terminou guilhotinado pela revolução.

27
Hobsbawm, “A Era das Revoluções”, pg.18
28
http://pt.wikipedia.org/wiki/Lu%C3%ADs_XV_de_Fran%C3%A7a
23
CONCLUSÃO

“O esforço é grande, e o homem é pequeno...” – diz com toda razão Fernando


Pessoa. Empenhamo-nos por realizar uma mudança de paradigma, mas acabamos
por elaborar mais um vil livro didático de História. Os pontos de vista utilizados, salvo
algumas incursões interessantes, porém que serão certamente refutadas. Na
questão da Peste, e no originário sentimento de soberania francês observado da
ótica da Guerra dos Cem Anos pode haver algo a ser aprofundado, mas na imensa
maioria do seu cômputo, este estudo está fadado a ser ignorado. Suas fontes foram
basicamente revistas e ilustrações, fazendo desta obra igualmente uma pequena
ilustração...

...Afinal, somos apenas matéria enformada pelo Tempo.

BIBLIOGRAFIA

HOBSBAWM, Eric J. “A Era das Revoluções”. Arquivo em PDF, Disponível em CD


:: Livro Digital :: 1961 ::

NIETZSCHE, F.G.W. Assim Falava Zaratustra: um livro para todos e para ninguém;
tradução e notas explicativas da simbólica nietzscheana de Mário Ferreira dos
Santos. 2.ed. Petrópolis – RJ: Vozes, 2008. – (Coleção Textos Filosóficos).

OLIVEIRA, Maria Izabel B. de Morais. “O príncipe pacífico: Bossuet, Luís XIV e


Antônio Vieira” Brasília – DF: UNB, 2009.

NIETZSCHE, F.G.W. Segunda Consideração Intempestiva: Da Utilidade e do


Inconveniente da História para a Vida. São Paulo – SP: Escala, 2008. – (Coleção
Grandes Obras do Pensamento Universal).

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