Sunteți pe pagina 1din 3

Folha de S.Paulo - Ferreira Gullar: Pega mal - 28/02/2010 http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq2802201019.

htm

ASSINE BATE-PAPO BUSCA E-MAIL SAC SHOPPING UOL

São Paulo, domingo, 28 de fevereiro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FERREIRA GULLAR

Pega mal

Como convencer-se de que o que


disse naquele discurso era verdade,
se já sabe que não era?

COMO PODE uma senhora de mais de 60 anos -que em


breve será avó- dizer mentiras? E em público, para a nação
inteira, sabendo que as pessoas honestas e informadas do país
saberão que ela está dizendo mentiras e, ainda assim, o faz
em altos brados, para que todos ouçam! Pergunto, sem
maldade: pode alguém confiar numa senhora que mente?
E ela mesma, esta senhora que mente, terminado o ato
público, a solenidade ou o comício, ao voltar para casa e
deitar a cabeça no travesseiro, que dirá a si mesma?
Imaginemos a cena: ela sozinha no quarto, troca de roupas,
deita-se na cama e apaga a luz. Foi um dia agitado, passou a
noite a ouvir discursos no congresso de seu partido, à espera
do momento em que faria seu próprio discurso, por todos
esperado. Dali a alguns momentos, ela seria aclamada
candidata à Presidência da República e, então, faria seu
pronunciamento à nação.
E, nesse pronunciamento, iria mentir, iria afirmar coisas que
sabia não serem verdadeiras, com o propósito de desacreditar
os adversários políticos e futuramente derrotá-los nas urnas.
E então mentiu, mentiu diante de seus companheiros de
partido, que sabiam que ela mentia; mentiu perante o
presidente da República, o inventor de sua candidatura, que
ali estava a exaltar-lhe os méritos e sabia que ela mentia. E,
agora, sozinha, no silêncio do quarto, que diria a si mesma?
Não pode dizer a si mesma que não mentira. Isso o mentiroso
poderá dizer a alguém que o acuse de ter mentido: finge estar
ofendido, faz-se de indignado e chega até a insultar quem o
acusou de mentir. É parte do papel do mentiroso. Mas
consigo mesmo, não consegue fazê-lo. Enganar os outros é
possível, ou pelo menos ele acredita que consegue, mas
enganar a si mesmo é bem mais difícil, se não impossível.

1 de 3 28/02/2010 22:14
Folha de S.Paulo - Ferreira Gullar: Pega mal - 28/02/2010 http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq2802201019.htm

Como convencer-se de que o que disse naquele discurso era


verdade, se sabe que não era? Com a cabeça no travesseiro,
sozinha consigo mesma, será que lhe vem à mente a
confissão dolorosa?
Será que, contra sua vontade, uma voz interior, que só ela
ouve, lhe dirá: "Como teve a coragem de dizer esta noite,
para o país inteiro ouvir, tantas inverdades? Acha certo
enganar as pessoas? E pior ainda, enganá-las ao mesmo
tempo em que se propõe governar o país?".
Não posso garantir que isso tenha ocorrido, pois há casos de
pessoas mentirosas que terminam acreditando nas próprias
mentiras. Se bem que esses que acreditam no que inventam
são outro tipo de mentirosos, que necessitam, sobretudo,
enganar-se a si mesmos, mais do que enganar os outros.
Esse gênero de mentira é diferente da mentira política,
quando o cara afirma coisas que não aconteceram, que todas
as pessoas informadas sabem que não aconteceram e, mais
que todos, o próprio mentiroso o sabe e sabe que todos o
sabem.
Pelo que li nos jornais e vi na TV, no 4º Congresso do Partido
dos Trabalhadores, o que não faltou foi mentira. Creio que a
ministra Dilma Rousseff é essencialmente honesta, tanto que
sempre que afirma certas coisas, percebe-se hesitação em sua
voz. Não se sente à vontade, como Lula, que, ali mesmo,
afirmou ter sido o mensalão uma conspiração contra seu
governo. Uma conspiração da qual deve ter participado o
procurador-geral da República, uma vez que, em sua
denúncia, falou de "uma quadrilha", chefiada pelo chefe da
Casa Civil do Lula.
No segundo turno das eleições de 2006, o PT inventou que
Geraldo Alckmin, se eleito, privatizaria a Petrobras, o Banco
do Brasil e a Caixa Econômica Federal. Isso nunca havia sido
dito nem cogitado pelo PSDB, nem por seu candidato nem
por ninguém. Uma pura e simples calúnia, com o objetivo de
minar a candidatura adversária.
O primeiro a dizer isso foi Lula, num debate na televisão.
Alckmin o desmentiu, no mesmo instante. Lula se calou, mas,
já no dia seguinte, a propaganda do PT insistia na mentira,
que enganou muita gente e garantiu a vitória de Lula. Agora,
mal começa a campanha, Dilma retoma a afirmação
mentirosa, deixando claro qual será o nível em que o PT
pretende conduzir a disputa.
Na verdade, durante o governo FHC, foram feitas várias
privatizações, com resultado altamente positivo para o país, a
começar pela telefônica, cuja privatização tornou o celular
um bem comum a qualquer brasileiro; a CSN, privatizada,
passou a dar lucro em vez de prejuízo aos cofres públicos; e a
Vale do Rio Doce se tornou uma das maiores empresas do
mundo.
Dilma cala sobre essas privatizações que deram certo e
mente sobre as "privatizações" que nunca ninguém pensou
fazer. Para uma senhora já de certa idade, ainda que petista,
pega mal.

2 de 3 28/02/2010 22:14
Folha de S.Paulo - Ferreira Gullar: Pega mal - 28/02/2010 http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq2802201019.htm

Texto Anterior: Novelas da semana


Próximo Texto: Fotografia: Mostra de Mario Crevo Neto
termina hoje
Índice

Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer
meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.

3 de 3 28/02/2010 22:14

S-ar putea să vă placă și