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Clayton Mendonça Cunha Filho

O Partido Republicano e a Questão Tributária: um estudo de caso sobre os


cortes de impostos de George W. Bush (2001-2004)

Fortaleza – Ceará
2006
Clayton Mendonça Cunha Filho

O Partido Republicano e a Questão Tributária: um estudo de caso sobre os


cortes de impostos de George W. Bush (2001-2004)

Monografia apresentada ao
curso de Ciências Sociais da
Universidade Federal do Ceará
para obtenção do grau de
Bacharel em Ciências Sociais

Orientador: Jawdat Abu-El-Haj

Fortaleza – Ceará
2006

2
Esta monografia foi submetida à Coordenação do Curso de Ciências
Sociais da Universidade Federal do Ceará – UFC, como parte dos requisitos
necessários à obtenção do Grau de Bacharel em Ciências Sociais e encontra-se à
disposição na Biblioteca de Humanidades da referida Universidade.

Aprovada em 04 de __julho__ de 2006

Clayton Mendonça Cunha Filho

Banca Examinadora

Jawdat Abu-El-Haj

Bernadete Beserra

Domingos Sávio Abreu

2006

3
Agradecimentos

Gostaria de agradecer a minha família, que sempre me apoiou em tudo, e a todos


os colegas e professores que me incentivaram e de maneira direta ou indireta
tornaram possível a condução deste trabalho, e em especial aos companheiros do
Observatório das Nacionalidades. Não citarei os nomes de cada um sob pena de
ser traído pela memória e cometer alguma injustiça. Vocês sabem quem vocês
são, muito obrigado!

4
“The universal cry of this people is to be taxed”
Congressista republicano em 1864

“Congress will push me to raise taxes, and I’ll say


‘no’, and they’ll push, and I’ll say ‘no’; and they’ll
push again, and I’ll say to them, ‘Read my lips. No
new taxes’”
George H. W. Bush, durante
convenção do Partido Republicano
em 1988, que o indicaria como
candidato presidencial.

5
Resumo
O presente trabalho busca entender a ideologia do Partido Republicano dos EUA com
relação ao Estado a partir de suas idéias e posicionamentos acerca do modo pelo qual
esse Estado é financiado: a tributação dos cidadãos estadunidenses. Para tanto, foi feito
um estudo histórico do Partido Republicano e um estudo de caso dos cortes de impostos
levados a cabo pelo presidente George W. Bush em seu primeiro mandato (2001-2004):
em que consistem, a quem beneficiam e quais seus impactos no financiamento da
máquina pública estadunidense. Foram analisadas as razões ideológicas dos cortes e
como as mesmas refletem a posição atual dos republicanos em relação ao Estado,
contextualizando e contrastando a mesma com as posições defendidas e adotadas pelo
Partido em sua fundação e primeira fase ideológica. Encontramos que a história
ideológica do partido pode ser dividida em duas fases: a primeira, que vai da sua
fundação em 1854 até meados dos anos 1920, em que o Estado é visto como indutor do
crescimento econômico e mantenedor da unidade nacional; e a segunda, que chega até
os dias de hoje, em que o Estado cede progressivamente o lugar de indutor econômico à
liberdade individual e passa a ser visto cada vez mais como um obstáculo a ser eliminado.
É dentro dessa fase ideológica neoliberal, intensificada enormemente nos anos 1980 com
os governos de Ronald Reagan, que podem ser entendidos os recentes cortes de
impostos. Como o Estado é agora um entrave, convém diminuir suas fontes de custeio.
Como a ação dos indivíduos é quem conduz ao desenvolvimento, convém deixar em suas
mãos os recursos econômicos que seriam transferidos ao governo via tributação.

Palavras-chave: Estados Unidos, Partido Republicano, Ideologia, Impostos, Estado.

Abstract
The present work aims to understand the Republican Party’s ideology towards the State
from its ideas and positions about the way this State is financed: the taxation of US
citizens. For such, a historical study of the party was conducted, as well as a case study of
the tax cuts enacted by George W. Bush in his first term (2001-2004): what do they consist
of, who do they benefit and what are their impacts on the financing of the American public
apparatus. The ideological reasons for the cuts and how do they reflect the Party’s current
position about the State were analyzed and contrasted with the same positions
championed by the Party in its foundation and first ideological era. We found that its
ideological history can be divided in two eras: the first, from its foundation in 1854 until
around the 1920s, in which the State is seen as an economic growth stimulator and
maintainer of the national unity; and the second, that reaches present days, in which the
State progressively gives way to the individual liberty as a growth stimulator and starts to
be seen as an obstacle. It’s within this neoliberal ideological stage, enormously intensified
through the 1980s with the Reagan administrations, that the recent tax cuts may be
understood. Since the State is now an obstacle, it’s convenient to diminish its sources of
income. Since the action of individuals is what leads to development, it’s convenient to
leave the economic resources that would be transferred to State via taxation in their
hands.

Keywords: United States, Republican Party, Ideology, Taxes, State.

6
Sumário

1. Introdução ....................................................................................................... 08
2. Um breve histórico do Partido Republicano ................................................ 11
3. George W. Bush e os cortes de impostos .................................................... 34
4. Cortes de impostos e ideologia ..................................................................... 49
5. Referências bibliográficas ............................................................................. 58

7
1. Introdução
Parece ser consenso que, no limiar do século XXI, os Estados Unidos
concentram um poder e uma influência no sistema político internacional
desproporcionais aos de qualquer outro país. Estudá-los e compreendê-los,
portanto, torna-se extremamente importante mesmo (ou quem sabe
principalmente nesse caso) a partir de um país periférico como o Brasil. Mas como
compreender a dinâmica estadunidense? Como entender a influência que os EUA
exercem sobre o Brasil e sobre o mundo sem antes entender a própria dinâmica
político-social interna do país? Tendo estes questionamentos em mente, resolvi
estudar a política estadunidense a partir de seus partidos políticos, e por razões
de corte metodológico, mais especificamente a partir do Partido Republicano, que
teve 18 dentre os 29 presidentes estadunidenses do período entre sua fundação
até hoje1.
Ao contrário do senso comum que trata a política estadunidense e seus
partidos como não-ideológicos, estudos recentes têm mostrado a possibilidade e a
necessidade de se entender e analisar os partidos políticos estadunidenses como
ideologicamente orientados. Apesar das dificuldades em definir o conceito de
ideologia, Gerring diz que “o núcleo da definição do conceito consiste em três
atributos interligados – coerência, diferenciação e estabilidade. Estes são os
traços com que geralmente concordam os autores das ciências sociais” (2001:
6n.15. Grifos no original) e que podem ser observados nos partidos dos EUA,
orientados por temas centrais que os diferenciam desde, pelo menos, as
polêmicas em torno da elaboração e aprovação da Constituição.
Fundado em 1854 por elementos tão distintos quanto abolicionistas
radicais, socialistas utópicos, vegetarianos, abstêmios e dissidentes dos então
dois partidos dominantes (Whig e Democrata), o Partido Republicano teve como
importante catalisador a polêmica levantada pela aprovação da Lei Kansas-
Nebraska em 30 de maio de 1854 (BINKLEY, 1961; GOULD, 2003). A lei, que
criava os dois territórios com esses nomes e anulava na prática os Acordos de

1
Inclui-se nesse número o atual presidente George W. Bush, mas exclui-se o presidente Andrew Johnson
(1865-69), ex-democrata eleito como vice de Lincoln e que assumiu o governo com o assassinato deste.

8
Missouri que restringiam a escravidão ao Sul do país, acirrou os ânimos de uma
nação já bastante dividida social e territorialmente pela existência (ou ausência) da
“instituição peculiar”, como era conhecida a escravidão nos Estados Unidos. A
bem da verdade, os abolicionistas radicais eram minoria dentro do partido e na
sociedade como um todo mesmo no Norte, onde a posição prevalecente sobre o
tema era de que a escravidão deveria simplesmente ser contida ao Sul e não
poderia se espalhar para os novos territórios e a posição do Partido Republicano
sobre o tema em sua primeira vitória eleitoral presidencial nas eleições de 1860 foi
um tanto quanto ambígua, ao assegurar que não interferiria com a escravidão no
Sul mas que a condição natural dos Estados Unidos era a liberdade (GOULD,
2003).
Durante o primeiro ano do governo de Abraham Lincoln, entretanto, veio a
Guerra Civil e com ela a necessidade de se obter recursos para derrotar o Sul
Confederado e preservar a União. Foram então criadas tarifas protecionistas, um
sistema bancário nacional e o primeiro imposto de renda do país (que viria a ser
derrubado em 1872 durante o governo de U.S. Grant), fatos que fizeram com que
os Democratas durante anos criticassem o Partido Republicano como o partido
dos altos impostos e do “governo grande” (GOULD, 2003).
De fato, desde então a questão do tamanho do Estado (ou do governo,
como a questão é mais comumente abordada nos Estados Unidos), seu papel e
os impostos que o financiam sempre ocuparam destaque no programa do Partido
Republicano, embora a visão do partido sobre tais temas tenha mudado bastante
desde então. Apesar de nunca ter sido fã de impostos, o Partido Republicano teve
uma primeira fase em que via a ação do governo como necessária ao
desenvolvimento econômico e nacional e encarava a questão tributária como algo
necessário à sustentação desse governo, herdeiro ideológico que de certa forma
era dos defensores de um Estado centralizado antes representados no Partido
Whig e, antes desse, nos Federalistas. À época, a maior fonte de receitas do
governo americano vinha das tarifas sobre importação de produtos, tema
recorrente nas campanhas republicanas e que, além de prover o governo com

9
recursos, foi crucial na proteção e consolidação da nascente indústria nacional do
país e na aproximação dos grandes capitalistas com o partido.
Essa fase duraria até o início do século XX, quando o partido passaria a se
mostrar cada vez mais cético e desconfiado dos efeitos da intervenção estatal e
cada vez mais hostil à tributação. De fato, o Partido Republicano, especialmente
após o New Deal, criticaria cada vez mais o crescimento do governo e sua
interferência na economia e na vida dos cidadãos, acusando os adversários
democratas de socialismo e estatismo e assumindo as bandeiras dos direitos dos
estados frente ao crescente poder da União, da defesa das liberdades individuais
frente à tirania do Estado e, em especial após Reagan na década de 80, do corte
de impostos como forma de incentivar a economia.
Este estudo busca exatamente compreender, a partir de um estudo de caso
dos cortes de impostos promovidos durante o primeiro mandato do atual
presidente dos Estados Unidos George W. Bush, as raízes ideológicas que
embasam a política tributária contemporânea do Partido Republicano.
Para isso, um breve histórico do partido é traçado no capítulo 2, desde a
fundação no século XIX até a eleição de George W. Bush em 2000. No capítulo 3,
são analisados os cortes de impostos promovidos entre 2001 e 2004, em que
consistiram e que efeitos trouxeram e trarão nos anos vindouros. E no capítulo 4,
discutem-se as relações entre as políticas de cortes tributários e a ideologia atual
do partido, dando especial ênfase aos aspectos ideológicos partidários relativos à
visão republicana sobre o Estado.

10
2. Uma breve história do Partido Republicano
Apesar de ser muitas vezes chamado de Grand Old Party (algo como
“Grande Velho Partido” em português) ou simplesmente GOP, o Partido
Republicano é na verdade o mais jovem dos dois partidos dominantes nos EUA
hoje, cerca de 26 anos mais jovem que o Partido Democrata2. Entretanto, suas
raízes ideológicas são mais antigas e remontam principalmente ao Partido Whig
(GERRINGER, 2001), com o qual chegou a coexistir por um breve período e de
quem herdou importantes quadros, como o próprio Abraham Lincoln, e o núcleo
ideológico que o orientaria durante sua primeira fase.
Entender a rápida ascensão deste partido, formado em 1854 e com seu
primeiro candidato presidencial vitorioso já em 1860, requer a compreensão do
conturbado contexto histórico em que se deu a sua formação e atuação inicial. Os
Estados Unidos eram então uma nação ainda predominantemente rural e agrícola
onde os primeiros sinais de industrialização e urbanização apenas começavam a
se manifestar. Apesar do bom momento econômico vivido, com grandes influxos
de investimento britânico e descoberta de ouro no estado da Califórnia, as tensões
sociais se acirravam. Por um lado, o crescente número de novos imigrantes
católicos, principalmente irlandeses mas também muitos alemães, gerava
desconfiança por parte da maioria protestante local. Por outro, a questão não
resolvida da escravidão ameaçava freqüentemente voltar ao foco das discussões
e literalmente dividia o país entre Norte e Sul.
O tênue equilíbrio acerca da questão mantinha-se sobre as bases dos
Acordos do Missouri de 1820 e dos Acordos de 1850, que estabeleciam a
proibição da escravidão acima de uma linha imaginária estabelecida a 36 graus e
30 minutos de latitude, mas a fragilidade dessa “harmonia” era clara. Enquanto o
Sul via a escravidão como algo “bom tanto para senhores quanto para escravos” e
acreditava que tentativas de restringi-la justificariam a secessão da União

2
Ou mesmo mais de 50 anos mais jovem, a depender do que se considere o marco de fundação do Partido
Democrata. Sua origem remonta ao Partido Republicano-Democrático de Thomas Jefferson, estabelecido no
final dos anos 1790 em oposição ao Partido Federalista e consolidado com sua eleição à presidência em 1800.
Em 1816 o partido se dividiria em Partido Republicano-Nacional, que posteriormente se transformaria no
Partido Whig, e Partido Republicano-Democrático, que com a eleição de Andrew Jackson em 1828 mudaria
seu nome para simplesmente Partido Democrata, com o qual permaneceria até hoje (ver BINKLEY, 1961).

11
(GOULD, 2003: 7), o Norte encontrava-se mais dividido frente ao tema, embora
existisse um sentimento geral de desconforto com relação à “instituição peculiar”,
como a escravidão era conhecida, e temor de que ela viesse a se espalhar pelo
resto do país.

Abolicionistas radicais, definitivamente uma minoria, se opunham à escravidão em


bases morais. Outros não gostavam da escravidão porque sua expansão poderia
trazer negros para o Norte e Oeste como mão-de-obra barata. Em 1848, opositores da
escravidão no Norte criaram o Partido do Solo Livre que buscava bloquear a expansão
da escravidão no Oeste. Outros ainda, movidos por sentimentos racistas, queriam que
os afro-americanos permanecessem no Sul ou fossem devolvidos à África. Quaisquer
que fossem suas atitudes relativas à escravidão, os cidadãos do Norte ressentiam-se
do poder político do Sul e consideravam as regiões abaixo da linha de Mason-Dixon
como atrasadas. (GOULD, 2003:8).

Quando em 1854 a Lei Kansas-Nebraska foi aprovada, criando os dois


territórios (e futuros estados) com esses nomes e revogando os Acordos do
Missouri a fim de que as populações de ambos territórios (situados acima do
paralelo 36º30’) decidissem sobre a existência ou não da escravidão, a frágil paz
social entre Sul e Norte estava definitivamente quebrada e provocaria fortes
impactos na vida político-partidária nacional. Dissidentes dos então dominantes
partidos Whig e Democrata uniram-se ao Partido do Solo Livre e criaram o Partido
Republicano na esteira do descontentamento nortista acerca da expansão
escravista nos territórios.3
Em 1856, primeira eleição presidencial disputada pelo novo partido sob a
bandeira da proibição da escravidão nos novos territórios, o partido obteria com
John C. Fremont impressionantes 112 votos de 296 possíveis no colégio eleitoral,
contra 174 do vencedor James Buchanan do Partido Democrata. Quatro anos
depois, aproveitando a divisão do Partido Democrata que lançaria dois candidatos,
um pelo Sul e outro pelo Norte, o Partido Republicano chegaria à presidência com
Abraham Lincoln.
3
As cidades de Ripon, Winsconsin e Jackson, Michigan disputam as honras de lugar de fundação do partido,
mas diversas outras cidades abrigaram reuniões semelhantes às que fundaram o Partido Republicano por volta
da mesma época. Ver GOULD, 2001:14.

12
Refletindo a ambigüidade do pensamento nortista acerca da escravidão, o
partido declarava em sua plataforma eleitoral que a escravidão no Sul não seria
prejudicada mas que a condição natural dos Estados Unidos era a liberdade e que
portanto a “instituição peculiar” não deveria ser expandida. Ainda na plataforma
eleitoral de 1860, constavam a proteção tarifária do mercado interno, uma lei de
assentamentos em terras públicas e a construção de obras de infra-estrutura
como uma ferrovia de ligação com o Pacífico, refletindo as influências sobre o
partido dos antigos partidos Whig (em plena decadência e cujo último sopro de
vida foi a candidatura de John Bell sob o novo e efêmero nome de Partido da
União Constitucional) e do Solo Livre (sob cujas bases foi construído o Partido
Republicano).
Após a vitória de Lincoln, os estados do Sul declararam a secessão da
União e a formação dos Estados Confederados da América e seguiu-se o início da
Guerra Civil, que duraria até 1865 com a rendição do general Robert Lee na
batalha de Appomattox. “Para os republicanos a experiência do conflito
transformou seu partido... Para vencer a guerra... os republicanos expandiram o
poder do governo nacional na esfera econômica... além mesmo do que os Whigs
tinham imaginado” (GOULD, 2003: 29). Além da total execução da agenda
antiescravidão republicana, que no esforço de guerra chegou a ir além dos
objetivos iniciais abolindo a escravidão em todo o país e garantindo alguns direitos
civis aos negros libertos, foram criados um sistema bancário nacional, o primeiro
imposto de renda da história dos EUA (que duraria até 1872), um sistema de
distribuição de terras públicas no Oeste e foram iniciadas as obras de construção
da Ferrovia do Pacífico. As indústrias de vestuário, processamento de comida e
ferrovias se desenvolveram para atender às demandas da guerra e o Partido
Republicano começou a se identificar cada vez mais com os grandes empresários
e industriais do Norte e Meio-Oeste e a ser identificado pela população como
tendo sido capaz de promover o desenvolvimento econômico mesmo em meio a
uma sangrenta guerra e acusado pelos adversários democratas de ser o partido
do “governo grande” e dos altos impostos.

13
Em 1865 o partido mudaria seu nome para Partido da União Nacional como
estratégia para facilitar o apoio e ingresso dos democratas do Norte, leais à União.
Sob essa legenda, Lincoln seria reeleito e em 14 de abril do mesmo ano seria
assassinado num teatro por John Wilkes Booth, sulista que queria vingar-se da
derrota imposta aos confederados. Assumia então a presidência o vice-presidente
eleito Andrew Johnson, ex-democrata do Tennessee, que se mantivera fiel à
União durante a guerra civil e ocupara o cargo de governador militar de seu
estado. Sua relação com o partido durante a presidência foi bastante controversa,
tendo sido marcada por diversos conflitos com os republicanos do legislativo em
relação ao futuro dos negros na nova sociedade e dos procedimentos a serem
adotados em relação ao Sul derrotado.
Apesar da posição do partido e do recém-assassinado Lincoln com relação
à participação e direitos dos negros após a vitória ianque sobre o Sul confederado
nunca terem sido claras, Johnson era pessoalmente um racista que considerava
os negros inferiores e incapazes de se auto-governarem e suas posições sobre o
tema eram muito mais conservadoras que o sentimento médio republicano. O
presidente chegou a vetar uma lei aprovada pelo Congresso declarando os negros
cidadãos estadunidenses com todos os direitos e privilégios disso decorrentes. O
Congresso derrubou o veto e propôs a 14ª Emenda à constituição estabelecendo
o conceito de cidadania a todos os nascidos ou naturalizados estadunidenses e
retirando dos estados o poder de negar essa cidadania sem o devido processo
legal, como forma de evitar a revogação dos direitos dos negros caso os
democratas voltassem a vencer. Johnson mais uma vez posicionou-se contra e
tentou inutilmente fazer campanha contra sua aprovação, o que mais uma vez
irritou o partido.
Com relação ao Sul, os estados da região, apesar de derrotados na Guerra
Civil, agiam como se o conflito nunca houvesse acontecido e eles não tivessem
recém sido derrotados militarmente e o presidente mostrava-se bastante leniente
com essa posição. Os congressistas, por sua vez, estabeleceram como
procedimento para reintegrar completamente os estados do Sul à União que estes
deveriam elaborar novas constituições estaduais e aprovar a 14ª Emenda.

14
Johnson tentava emperrar as políticas de Reconstrução 4 do Sul afastando
generais nomeados que se mostravam simpáticos ao Congresso e substituindo
secretários de governo, apesar de lei que requeria a aprovação do Senado para
tal procedimento. O desgaste do presidente com o partido, que em tese deveria
ser sua base de apoio, foi se agravando e culminou num processo de
impedimento, do qual Johnson acabaria absolvido por apenas um voto no Senado.
Em 1868, novas eleições e novo presidente republicano, Ulysses S. Grant,
líder militar na guerra contra o Sul mas considerado um dos presidentes mais
fracos da história dos EUA. Um governo marcado por escândalos de corrupção e
pelas últimas iniciativas do partido em relação à reconstrução do Sul. Em 1872,
quando da campanha pela reeleição de Grant, um grupo de republicanos auto-
intitulados Republicanos Liberais aliou-se aos democratas e lançou o republicano
Horace Greeley à presidência contra Grant, em um programa que buscava pôr um
ponto final nas políticas de reconstrução. Os dissidentes perderam, mas suas
críticas da Reconstrução como custosa e corrupta impressionaram a muitos no
Norte e propiciaram aos democratas nas próximas eleições a chance que há muito
não viam.
As eleições de 1876 foram então bastante disputadas entre o democrata
Samuel Tilden e o republicano Rutherford B. Hayes e foram marcadas tanto pela
competitividade quanto pelas fraudes. Nos estados do Sul, abusou-se das fraudes
e intimidação para impedir que negros votassem. Na contagem final, pesquisas de
boca-de-urna indicavam a vitória do democrata, que já somava 184 votos no
colégio eleitoral (sendo necessários 185 para se eleger) contra 165 de Hayes
faltando apenas três estados a serem contabilizados. Os republicanos, entretanto,
começaram a enviar telegramas declarando a vitória de Hayes com 185 votos
eleitorais atingidos e o caso foi parar no Congresso, que criou uma comissão para

4
O termo Reconstrução se refere tanto ao período pós-Guerra Civil durante o qual os ex-Estados
Confederados foram readmitidos à União quanto ao processo político através do qual tal readmissão se deu.
Esse processo incluiu a indicação pela União de governadores militares aos estados do Sul e a exigência de
mudanças nas constituições e leis estaduais e da ratificação das 13ª, 14ª e 15ª Emendas à Constituição Federal,
que respectivamente aboliam a escravidão, garantiam cidadania a todos os estadunidenses natos ou
naturalizados e o reconhecimento das dívidas de guerra da União e repúdio das dívidas dos Confederados, e
proibiam a suspensão do direito ao voto baseado em cor, raça ou condição anterior de servidão, entre outras
medidas.

15
decidir quem de fato havia ganho. Ao final, Hayes foi empossado após acordos
entre republicanos e democratas encerrando de vez as políticas da Reconstrução.
Com a saída do tema da agenda política republicana, destacou-se o
nacionalismo econômico do partido, com sua crença em uma nação social e
economicamente harmônica cujo governo deveria utilizar seus poderes a fim de
“distribuir terras públicas, promover a expansão de ferrovias e outros
empreendimentos e encorajar o crescimento da indústria através de impostos
alfandegários a bens importados” (GOULD, 2003: 84). A aplicação de tais taxas
alfandegárias ou da ‘tarifa’, como era mais conhecida essa herança ideológica do
antigo Partido Whig, converteu-se na maior bandeira capaz de gerar consenso no
partido em oposição aos democratas durante o período final do século XIX
conhecido como “Era Dourada”.
Esse período, apesar da continuidade republicana na Casa Branca
interrompida apenas por dois mandatos do democrata Grover Cleveland (1885-89
e depois 1893-97), foi marcado por um grande equilíbrio político graças ao
domínio democrata nos estados do Sul, onde a participação republicana era
praticamente inexistente, o que tornou as vitórias do partido no executivo bastante
apertadas e garantia um virtual empate no legislativo, em que nenhum dos
partidos tinha domínio suficiente para impor de maneira sistemática sua agenda
política. Também foi marcado pela continuidade dos escândalos de corrupção,
pela utilização de escândalos pessoais como tema de campanhas eleitorais e pela
ascensão de grandes industriais como John D. Rockefeller, Andrew Carnegie e
James J. Hill e a consolidação da aproximação desse setor social com o partido,
em grande parte graças à posição dos republicanos favorável à manutenção de
uma tarifa de importações elevada que, ao proteger o mercado interno da
competição estrangeira, favorecia a consolidação de grandes indústrias e
corporações nacionais.
Essa aproximação dos republicanos com os grandes industriais e a própria
questão da tarifa eram motivo de críticas dos democratas, que a acusavam (com
certa razão em alguns casos) de encarecer os preços de alguns produtos
importados aos consumidores e de ser uma mera retribuição dos republicanos aos

16
industriais que os financiavam. Além disso, suspeitosos de um governo federal
forte, os democratas criticavam o “excesso” de arrecadação do governo pela tarifa
externa, à época a principal fonte de receitas do governo dos Estados Unidos.
O equilíbrio político da “Era Dourada” seria quebrado, em favor dos
republicanos, durante as eleições legislativas de 1894, durante o segundo governo
Cleveland. Em seu segundo mandato, o democrata enfrentou uma severa
recessão econômica que a ortodoxia democrata de não-ação governamental
impedia de superar e os republicanos logo capitalizaram o descontentamento
popular a seu favor, argumentando que os democratas haviam causado a
recessão e que o aumento da tarifa de importação poderia reverter a situação e
trazer novamente bons tempos econômicos.
Após tomar o controle do legislativo em 1894, chegou a vez de retomar o
executivo em 1896 com William McKinley em um governo que ficou marcado pela
política externa imperialista da guerra com a Espanha pela independência de
Cuba e da anexação das Filipinas. No plano interno, afirmação de uma política
monetária de moeda forte baseada no padrão-ouro e novo aumento de tarifas de
importação de bens industrializados seguindo a cartilha republicana, mas dessa
vez contendo na mesma lei a autorização para que o presidente negociasse
tratados de livre comércio com outras nações. A tenacidade com que McKinley
tentou estabelecer esses tratados representou os primeiros movimentos de
heterodoxia com relação ao tema da tarifa desde que ela cristalizara-se na
ideologia republicana. Este era um período em que corporações cresciam
aceleradamente e iam absorvendo outras corporações menores formando
monopólios, altamente criticados pelos democratas que os apontavam como filhos
da proteção tarifária. O presidente sabia que a questão da tarifa deixava o partido
vulnerável às críticas democratas e tentou utilizar o artifício dos tratados de livre
comércio para neutralizar a questão sem ter que desmontar o sistema
protecionista tão caro aos republicanos.
Com a morte do vice-presidente por problemas cardíacos em 1899, o
Partido Republicano teve que selecionar um novo vice para concorrer com
McKinley nas eleições de 1900 e, apesar da desconfiança de muitos de seus

17
membros (incluindo o próprio McKinley) que o consideravam inconstante e temiam
seu desinteresse por questões tarifárias e seu desdém pelos negócios
empresariais, teve que se render à extrema popularidade do governador de Nova
Iorque Theodore Roosevelt. Quando na convenção republicana o senador Marcus
Hanna criticou a escolha de Roosevelt para a vaga de candidato a vice-presidente
dizendo que “apenas uma vida separa aquele louco da presidência” (apud.
GOULD, 2003: 134) não imaginava a profecia contida em suas palavras. Em
setembro de 1901 o reeleito McKinley foi assassinado e Roosevelt assumia a
presidência.
A ascensão de Theodore Roosevelt à presidência representa talvez um dos
momentos mais importantes da história do partido. Se até então os republicanos
acreditavam na necessidade de o governo utilizar seus poderes para incentivar o
crescimento econômico, proteger o mercado interno e desenvolver obras públicas,
intervir diretamente na regulação econômica ainda era um tabu. Com a formação
de grandes monopólios a partir da fusão e aquisição de companhias no contexto
da expansão econômica do fim do século XIX e a acusação dos democratas de
que o Partido Republicano, intimamente ligado aos grandes negócios, era a favor
de tais monopólios, o partido chegou a aprovar em 1890 durante a presidência de
Benjamin Harrison uma lei antitruste, mas nunca a pusera em prática. Com
McKinley, especialmente entre o fim de seu primeiro mandato e seu assassinato,
começara-se a cogitar ações contra os trustes tão odiados pela sociedade, mas o
presidente não teve tempo de passar da retórica à ação e foi com Roosevelt que a
lei foi pela primeira vez utilizada em 1902 contra a companhia Northern
Securities.5
Também em 1902, Roosevelt interveio em uma greve de carvoeiros
obtendo resultados considerados favoráveis aos trabalhadores, aumentando sua
popularidade e a do partido junto à população e a desconfiança de muitos
republicanos em relação a ele. Já em seu segundo mandato, o presidente

5
A Northern Securities Company era um grande conglomerado ferroviário formado em 1901 pelos
financistas J.P. Morgan, James J. Hill, J. D. Rockefeller, E. H. Harriman entre outros e que controlava
diversas companhias ferroviárias, formando um imenso monopólio, o que violava a Lei Sherman Antitruste
de 1890. O presidente Roosevelt processou a companhia por violar a lei , que após vigorosa ação federal foi
finalmente dissolvida pela Suprema Corte em 1904.

18
prosseguiria em direção a uma maior regulação econômica com a aprovação em
1906 da Lei Hepburn, que dava à Comissão Interestadual de Comércio (ICC na
sigla em inglês) um maior poder de fiscalização sobre as companhias ferroviárias,
e da Lei da Pureza de Comidas e Remédios, que estabelecia procedimentos mais
rigorosos de fiscalização da qualidade de tais produtos ante os escândalos sobre
o processamento e venda de alimentos e remédios contaminados divulgados pela
imprensa. Também datam do governo Roosevelt os primeiros esforços de
preservação ambiental e a proposição de um imposto federal sobre heranças.
Roosevelt acreditava que tais esforços reformistas eram cruciais face aos
novos desafios de uma complexa sociedade crescentemente industrial e urbana
que se não fossem enfrentados poderiam deixar margem a radicalismos e
agitações sociais, mas o Partido Republicano dividiu-se entre essa compreensão
e um conservadorismo cada vez maior de muitos membros que chegavam a odiar
o presidente. Muitas das leis e iniciativas aprovadas por Roosevelt encontravam
forte resistência no Congresso apesar do controle republicano sobre o mesmo.
Como o presidente já havia anunciado desde sua campanha pela reeleição que
não concorreria a um novo mandato em 19086, as alas conservadora e
progressista do Partido Republicano buscavam assegurar um candidato
presidencial mais afinado com suas idéias, mas a personalidade forte de
Roosevelt e popularidade de que gozava o presidente acabaram centralizando
nele a escolha do nome, que por fim se definiria pelo seu Secretário de Guerra
William H. Taft. Ambas as facções, progressistas e conservadores, lutavam
internamente pelo controle do partido e pela influência sobre o novo mandato
facilmente conquistado por Taft graças à imensa popularidade com que Roosevelt
deixava o governo.
Durante seu governo, entretanto, apesar de em alguns aspectos como o
combate aos monopólios o novo presidente algumas vezes até exceder
Roosevelt, em muitas outras (como nas políticas de conservação ambiental, em

6
Não havia limite legal ao número de vezes que alguém poderia se eleger presidente, mas uma certa tradição
informal o estabelecia em dois mandatos. Tendo assumido seu primeiro mandato com o assassinato de
McKinley em 1901, T. Roosevelt dizia que sua eleição em 1904 seria seu segundo governo e que não buscaria
um terceiro. Apenas com a 22ª Emenda, proposta pelo Congresso em 1947 e ratificada pelo número
necessário de estados em 1951, seria fixado o limite constitucional de dois mandatos presidenciais.

19
sua posição contrária à entrada do estado de Arizona na União por possuir uma
constituição estadual “progressista demais” ou a própria retórica por ele utilizada
em seus pronunciamentos) ele se aproximava mais dos conservadores, cuja força
no Congresso o fazia crer na necessidade de fazer concessões a fim de manter o
partido unido. Isso e vários outros problemas de ordem pessoal colocaram Taft em
rota de colisão com seu antigo padrinho político e levariam a um racha
republicano que devolveria o governo aos democratas e selaria a virada ideológica
do partido.
Roosevelt resolveu concorrer a nova indicação presidencial republicana
com um programa chamado por ele de “Novo Nacionalismo” e ainda mais a
esquerda do que desenvolvera durante seu governo, lembrando em muitos
aspectos um embrião do que viria a ser chamado no futuro de Estado de Bem-
Estar Social, com propostas de assistência aos desempregados, salário mínimo e
leis de proibição de trabalho infantil. Ao perder na convenção republicana e ver
Taft renomeado, Roosevelt retirou-se do Partido Republicano alegando fraudes no
processo de seleção do candidato e lançou-se à presidência pelo Partido
Progressista por ele fundado. A divisão dos republicanos facilitou a vitória do
democrata Woodrow Wilson mas o sentimento de grandes setores do partido era
de que a derrota eleitoral fora um mal menor se comparado aos benefícios da
saída do “herege” Roosevelt.
A agenda de Wilson no governo de certa forma aproximava-se bastante do
defendido por Roosevelt e seu novo Partido Progressista, com a aprovação de
nova lei antitruste, redução de tarifas de importação, criação de um Imposto de
Renda e do Federal Reserve (Banco Central dos EUA), expansão do direito de
voto às mulheres e apoio a uma lei regulando o trabalho infantil. Entretanto,
graças à forte personalidade do ex-presidente e à desconfiança de seu partido em
relação aos democratas, Wilson não conseguiu ganhar o apoio dos progressistas
logo de início até pelo menos as eleições de 1916, quando Roosevelt impediu o
lançamento de candidato próprio do Partido Progressista para garantir o apoio dos
mesmos ao candidato republicano e acabou provocando a implosão do partido,

20
com parte dos membros (incluindo Roosevelt) retornando ao Partido Republicano
e outra parte apoiando os democratas e a reeleição de Wilson.
A virada à esquerda dos democratas que sob Wilson começaram a se
apropriar das bandeiras dos progressistas fez com que os republicanos cada vez
mais adotassem “uma postura conservadora acerca da regulação dos negócios, o
papel da taxação e o tamanho do governo” (GOULD, 2003: 215) que nem mesmo
o retorno de Roosevelt e parte dos progressistas ao partido pôde reverter. As
eleições congressuais de 1918 em que o partido retomou o controle do Congresso
frente a um Wilson já desgastado pelos efeitos da entrada estadunidense na I
Guerra Mundial marcaram essa primeira consolidação conservadora do partido
que ganharia novos impulsos mais tarde ao longo do século XX.
Quando em 1920 os republicanos retomaram também a Casa Branca com
Warren G. Harding e iniciaram um novo e longo período de hegemonia, que
duraria até a queda da Bolsa de Nova Iorque em 1929 e a recessão que se
seguiu, seu novo posicionamento ideológico à direita dos democratas já estava
bastante claro.
Esse novo período de hegemonia republicana marca-se pelo
conservadorismo fiscal e pela crença num governo limitado em tamanho e alcance
cuja ortodoxia marcaria o colapso do partido quando da severa recessão do final
da década de 1920 e início da de 1930, do mesmo modo que acontecera durante
o segundo governo do democrata Grover Cleveland. A aprovação em 1921 da Lei
de Orçamento, que regulava pela primeira vez o planejamento orçamentário do
governo durante a presidência de Harding, é um reflexo da preocupação
republicana à época com o equilíbrio orçamentário. O partido aprovou ainda sob
Harding uma revisão das tarifas de importação em 1922 que desfez as reduções
aprovadas pelos democratas com Wilson, mas o tema já não tinha mais a mesma
importância que antes já que as receitas governamentais vinham agora
principalmente do imposto de renda recriado pelos democratas. Já sob a
presidência de Calvin Coolidge, viriam a ser aprovados expressivos cortes de
impostos em 1926, no que pode ser entendido como um sinal da nova crença
partidária em um governo limitado, com menos receitas, menos despesas e

21
menos atribuições e que faria escola no ideário partidário durante o decorrer do
século.
Quando a recessão chegou, já sob o governo de Herbert Hoover, a nova
ortodoxia partidária não contribuía em nada para a solução dos problemas, como
não contribuíra aos democratas nos anos de 1890. Hoover até tentou tomar
atitudes de enfrentamento à crise, como a criação em 1932 da Corporação de
Financiamento à Reconstrução, destinada a emprestar dinheiro a bancos e
empresas em vias de falência e o apoio a programas voluntários de assistência.
Contudo, a nova ideologia republicana impunha os limites que Hoover não se
atrevia a atravessar, bem representados em um discurso proferido pelo presidente
em junho de 1931 em que, perguntando retoricamente sobre o que deveria ser
feito, dizia: “Devemos distribuir esmolas a partir do Tesouro Federal? Devemos
adotar a propriedade e operação federal de utilidades públicas em vez de sua
regulação rigorosa (...)? Devemos arregimentar nosso povo através da extensão
do braço da burocracia em uma multitude de interesses?”.
A derrota de Hoover para o democrata Franklin Delano Roosevelt, primo
distante do ex-presidente Theodore Roosevelt, nas eleições presidenciais de 1932
era então bastante previsível e não causou nenhuma surpresa, mas os resultados
que traria e os efeitos que eles causariam sobre o Partido Republicano ainda
estavam por ser conhecidos. Roosevelt continuou a tendência do Partido
Democrata rumo à esquerda iniciada com Wilson e ampliou ainda mais o alcance
e a presença do Estado na sociedade. Consolidou o Estado de Bem-Estar Social
estadunidense com seu “New Deal” (Novo Acordo), que incluía medidas como a
criação da Seguridade Social, leis que reconheciam o poder de negociação dos
sindicatos, a Lei de Propriedade de Companhias de Utilidade Pública e a
regulação de bancos com a Lei Bancária de 1935. Para financiar todo esse novo
ativismo estatal, Roosevelt aumentou o imposto de renda sobre os mais ricos,
além dos impostos sobre heranças e transferências.
O alcance social dos novos programas governamentais favoreceu a
migração do apoio e votos dos negros, que historicamente sempre apoiaram os
republicanos mesmo após o fim da Reconstrução, em favor dos democratas. Parte

22
significativa da população pobre, os negros foram, ainda que indiretamente (pois
não havia políticas específicas para esse segmento no New Deal), bastante
favorecidos pelas políticas de Roosevelt. A tendência de apoio ao Partido
Democrata que se iniciara alguns anos antes e se consolidaria após os anos 1960
teve um importante impulso nessa época e foi bastante importante para as vitórias
democratas no período, visto que fluxos migratórios do início do século XX haviam
trazido números significativos de negros para as grandes cidades do Norte.
Enquanto isso, os republicanos acusavam Roosevelt de subverter a
natureza do sistema político estadunidense e querer implantar o socialismo, mas
se dividiam profundamente em relação a que rumos e estratégias adotar graças à
popularidade de que gozavam o presidente e seu programa.

Pela metade da década de 1930, o conservadorismo prevalecia como a posição


política dominante do partido em assuntos domésticos. Republicanos “liberais”
estavam dispostos a aceitar alguns aspectos do New Deal por razões eleitorais. Os
moderados eram menos entusiastas dessa estratégia mas a aceitariam sempre que
ela aparentasse chances de vitória. Conservadores, que representavam a maioria do
partido, acreditavam que o New Deal representava uma mudança revolucionária nos
valores americanos que deveria ser repelida quando o partido recuperasse o poder. A
fé no poder nacional que tinha sido o coração do pensamento republicano durante o
meio do século XIX fora agora substituída por um crescente comprometimento com os
direitos estaduais, governo menor e um executivo limitado... (GOULD, 2003: 276).

Durante os longos anos de Roosevelt no poder, os republicanos nomearam


candidatos tidos como moderados e supostamente com mais chances de vitória
(incluindo um ex-democrata convertido, Wendell Willkie em 1940),
sucessivamente derrotados por F. D. Roosevelt em 1936, 1940 e 1944. Isso
enfurecia ainda mais a base conservadora do partido, que a cada derrota via
reforçada sua certeza na negação radical do New Deal e suas criações como a
estratégia a ser adotada pelo partido.
Com a morte de Roosevelt em 12 de abril de 1945, ascendia à presidência
o democrata Harry Truman cujas hesitações e erros iniciais no governo
reacenderam a esperança republicana de retornar à Casa Branca, especialmente

23
após a vitória do partido nas eleições legislativas de 1946. Porém, essa vitória
inicial republicana os levaria a superestimar suas chances e a acreditar que
tinham recebido um claro mandato para repelir o New Deal tanto quanto possível,
o que se mostrou claramente um erro frente à popularidade alta de que tais
políticas ainda gozavam, o que foi habilmente explorado na campanha de Truman
pela reeleição.
Seria mais uma derrota de um candidato republicano moderado, Thomas E.
Dewey, que já havia concorrido nas eleições de 1944. Mas mais importante que a
derrota para a história dos republicanos foi o apoio dado por Truman a políticas de
direitos civis, que racharia o apoio de seu partido no Sul já nas eleições de 1948,
com a formação por dissidentes democratas do Partido dos Direitos Estaduais que
concorreria à presidência com o senador Strom Thurmond da Carolina do Sul.
Muitos dos ex-democratas descontentes com o crescente apoio dado pelos
democratas do Norte a políticas de integração dos negros na sociedade
acabariam com o tempo por unir-se ao Partido Republicano, que aproveitando a
crescente onda de apoio no Sul lançaria em 1957 a chamada “Operação Dixie” 7 e
criaria as bases para o fortalecimento de sua presença na região.
O período seria também marcado pelo início da Guerra Fria e pelos
constantes ataques e acusações republicanas de que os democratas eram
lenientes demais com a ameaça comunista ou mesmo que suas políticas eram
passos para a implantação do comunismo no país. Foi nesse período que surgiu a
controvertida figura do senador de Wisconsin Joseph McCarthy, sempre disposto
a acusar a infiltração de agentes soviéticos no governo e que gozou durante um
tempo de grande prestígio no partido, especialmente entre seus setores mais à
direita. Apesar de ter tido sua importância ao desmoralizar parlamentares e
candidatos democratas, suas visões conspiratórias começaram a partir de um
certo ponto a atrapalhar mais que ajudar o partido e McCarthy caiu em desgraça

7
“Para capitalizar a força de Eisenhower com o eleitorado branco no sul, o Comitê Nacional Republicano
criou um braço sulista de sua organização e lançaria a ‘Operação Dixie’ em 1957 para expandir a base do
partido abaixo da linha de Mason-Dixon. A iniciativa apelava à crescente defecção no pós-guerra de eleitores
democratas brancos descontentes com a contínua identificação de seu partido com as aspirações negras. A
maior presença do Partido Republicano no Sul ajudaria conservadores como Barry Goldwater a achar uma
audiência e futuros apoiadores. No começo dos anos 1960, a Operação Dixie forneceria as bases para a
emergência do Partido Republicano no Sul durante a presidência de John F. Kennedy.” (GOULD, 2003: 338).

24
entre seus pares quando começou a acusar supostas infiltrações comunistas
mesmo nas forças armadas e em seu próprio partido.
Nas eleições presidenciais de 1952, o Partido Republicano finalmente
voltaria à presidência com o general herói da II Guerra Dwight Einsenhower mas
sua vitória, antes de acalmar a base cada vez mais conservadora, mostrou o
quanto o partido continuava dividido. Apesar de pessoalmente um conservador em
questões sociais e defensor de um governo austero, Eisenhower reconhecia a
importância que políticas como a Seguridade Social haviam adquirido e sabia que
seria suicídio político desmontá-las. Além disso, Eisenhower acreditava não serem
necessários tantos investimentos militares e buscou entendimentos com a União
Soviética para acordos de redução e controle de armamentos - o que contradizia
enormemente o sentimento médio do partido favorável a investimentos massivos
no desenvolvimento de armas cada vez mais poderosas e que cortes em gastos
sociais eram muito mais adequados face à necessidade de equilíbrio orçamentário
que cortes nos gastos militares. Além disso, os republicanos cobravam do
presidente uma política externa mais agressiva frente ao comunismo que a
simples continuidade da política de contenção iniciada por Truman.
Eisenhower acreditava que o Partido Republicano deveria reciclar-se e
encarar o fato de que muitas das mudanças trazidas pelo New Deal tinham vindo
para ficar, mas seus esforços para remodelar o partido tal como Roosevelt fizera
com os democratas estavam já fadados ao fracasso graças à aprovação da 22ª
Emenda após a II Guerra, que proibia uma terceira candidatura presidencial. Com
a certeza de que Eisenhower sairia de cena em 1960, a base conservadora podia
simplesmente ignorar as tentativas promovidas pelo presidente de mudança
partidária e sua influência sobre o partido era cada vez menor.
Em 1960, o vice-presidente e candidato à presidência Richard Nixon
perderia a disputa para o democrata John Kennedy em uma eleição tão apertada
que deixaria os republicanos com a certeza de que voltariam em 1964. O
assassinato de Kennedy em 22 de novembro de 1963, entretanto, acabou
mudando os prognósticos. Lyndon Johnson, o vice-presidente de Kennedy,
assumiu a presidência e se tornou o favorito no contexto da comoção pelo

25
assassinato do presidente. Concorreria com ele o senador de Arizona e genuíno
representante do conservadorismo republicano Barry Goldwater.
Finalmente o partido escolhia como seu candidato alguém bastante afinado
com a ideologia partidária após vários anos indicando candidatos moderados que,
mesmo quando vitoriosos como no caso de Eisenhower, pareciam aos
conservadores colocar os interesses acima dos princípios, ao defender e poupar
programas governamentais populares mas estranhos ao novo credo republicano
em governos limitados, direitos estaduais e baixos impostos. Goldwater, mesmo
tendo perdido por margens humilhantes as eleições para Johnson em 1964,
marca um ponto de virada na consolidação do poder dos conservadores sobre a
máquina partidária. Sua campanha marca também o surgimento de Ronald
Reagan como político nacional do partido em um discurso televisivo pronunciado a
favor de Barry.
Da presidência de Johnson e seus efeitos no Partido Republicano, destaca-
se seu empenho na aprovação de leis para a garantia dos direitos civis de negros
e latinos, seguindo a tendência cada vez mais forte dentro de seu partido, e que
em médio prazo transformaria o Sul, antigo bastião democrata desde a Guerra
Civil, em domínio republicano.8 Johnson tinha consciência dos efeitos da lei de
direitos civis sobre a antiga base de apoio democrata no racista Sul dos EUA e
profeticamente diria quando da aprovação da lei: “Eu acho que acabamos de
entregar o Sul ao Partido Republicano por um bom tempo” (apud. GOULD, 2003:
363). Goldwater, que no senado se opusera à lei por considerá-la inconstitucional
ao ferir os direitos dos estados, ganharia a eleição em apenas 6 estados: seu
Arizona natal e 5 outros no Sul, iniciando a tendência de migração sulista para a
base republicana que só aumentaria nos anos seguintes.
No plano internacional, o Partido Republicano apoiou o início da Guerra do
Vietnã, demonstrando a força do anticomunismo na ideologia partidária
republicana pós-Segunda Guerra, embora criticasse o presidente Johnson por não

8
A concessão de direitos civis às minorias raciais consolidou a migração do apoio desse segmento do
eleitorado, iniciada por volta do New Deal, ao Partido Democrata, mas ao mesmo tempo intensificou a
tendência de migração do eleitorado branco do Sul, tradicionalmente fiel aos democratas desde a Guerra
Civil, ao Partido Republicano que se consolidaria anos mais tarde. Ver BRENNAN, 1995; GOULD, 2003; e
MICKLETHWAITH & WOOLDRIDGE, 2004.

26
empregar todas as forças do país na busca pela “vitória total”. “A natureza dessa
vitória total normalmente não era definida com precisão, mas a idéia de que
alguma outra estratégia, quer fosse uma escalada mais intensa ou a ameaça de
armas nucleares, poderia ter trazido um fim ao conflito tornou-se comum no
pensamento conservador” (GOULD, 2001: 369).
Quando 1966 e as eleições legislativas de meio-mandato chegaram,
Johnson e os democratas encontravam-se já bastante desgastados com a forte
tensão social levantada com a aprovação das leis de direitos civis dos anos
anteriores e os republicanos, sob lemas de ordem social, conseguiram capitalizar
o descontentamento popular e obtiveram ganhos expressivos no Congresso e nos
governos estaduais, incluindo a Califórnia com Ronald Reagan. O “ressurgimento”
republicano de 1966 renovou o ânimo do partido com relação às eleições gerais
de 1968, quando Nixon surgiria como mais forte candidato. Seu forte empenho na
campanha dos candidatos republicanos em 1966 e seu forte planejamento pré-
eleitoral, que lhe garantia o controle de um bom número de delegados que
votariam na convenção republicana, o colocavam como o mais forte nome na
disputa e lhe garantiriam a vaga. Do lado democrata, a renúncia de Johnson a
uma nova candidatura frente ao desgaste de seu governo pelos fracassos no
Vietnã e à forte tensão racial e a posterior ausência de consenso partidário e de
um nome forte para a disputa colocavam Nixon como favorito.
Seu governo o revelaria muito mais próximo do centro do Partido
Republicano que dos conservadores mais radicais, mas o fato de que desde sua
campanha pela nomeação na convenção republicana Nixon buscou apresentar-se
como mais conservador do que realmente era mostra o controle partidário de que
dispunha a ala mais conservadora dos republicanos (BRENNAN, 1995:137). O
então candidato Nixon prometia paz social, menos impostos e o fim da guerra do
Vietnã em um discurso ambíguo o suficiente para contentar tanto aqueles que se
opunham à guerra quanto aqueles que desejavam o uso de mais força para assim
conseguir vencê-la. No governo, apoiou programas de renda mínima, maiores
gastos em programas sociais, políticas raciais de ação afirmativa e a criação da
EPA (Agência de Proteção Ambiental na sigla em inglês). Quanto à guerra do

27
Vietnã, Nixon começou a progressivamente retirar as tropas estadunidenses do
país e a “vietnamizar” o conflito até seu abandono em 1973. Para desespero ainda
maior dos anticomunistas mais radicais do partido, o presidente visitaria a China e
normalizaria as relações diplomáticas com o país.
Em seu segundo mandato, Nixon acenaria com uma inflexão mais
conservadora com cortes de gastos e diminuição do governo, mas já no início de
1973 começavam a surgir os primeiros indícios do escândalo de Watergate que o
faria renunciar para escapar do impeachment em agosto de 1974. Nixon utilizara-
se de escutas ilegais para espionar o Hotel Watergate, sede da convenção do
Partido Democrata e sua renúncia elevou à presidência o republicano Gerald
Ford, escolhido alguns meses antes para o cargo de vice-presidente após a
renúncia de Spiro Agnew, vice-presidente eleito na chapa de Nixon e acusado de
corrupção.
Fazendo uma presidência mediana, Ford conseguiria garantir a indicação
do partido para disputar as eleições de 1976 mesmo com a forte disputa na
convenção com Ronald Reagan, cada vez mais popular entre os republicanos e
que acabara de encerrar seu segundo mandato como governador da Califórnia.
Mas o triunfo partidário de Ford não foi suficiente para fazê-lo triunfar também nas
eleições presidenciais, que perderia para o democrata Jimmy Carter.
O breve triunfo eleitoral democrata não se sustentaria apesar da ilusória
hegemonia proporcionada pelo controle simultâneo do Congresso e da Casa
Branca. Uma economia desacelerada e um cenário externo turbulento (com a
Revolução Iraniana de 1979 e o seqüestro de reféns da embaixada americana em
Teerã) proporcionaram ao Partido Republicano farta munição para críticas,
prometendo a retomada do crescimento econômico com menos impostos, quanto
uma atitude mais dura na defesa dos interesses estadunidenses no mundo (tema
ao qual a assinatura por Carter de um tratado com o Panamá devolvendo-lhe a
soberania sobre o canal ao fim do século forneceu inúmeros argumentos).
Essa articulação de um pensamento econômico que abominava um Estado
interventor e altos impostos e ao mesmo tempo prometia uma política
anticomunista e de defesa nacional forte atraiu ao partido o grupo dos chamados

28
“neoconservadores”, ex-democratas afastados “pelas posições liberais de seu
partido em questões domésticas e principalmente de política externa” (GOULD,
2003: 397). Além disso, o acirramento do movimento feminista nos anos 1970 e a
legalização do aborto por uma decisão da Suprema Corte em 1973 forneceram
terreno fértil para a aproximação dos republicanos com setores conservadores
“em defesa da família e da vida”, em especial a “Nova Direita Religiosa” de
pastores como Jerry Falwell e Pat Robertson.
A débâcle de Nixon com o caso Watergate provocou a marginalização
definitiva dos setores centristas no interior do Partido Republicano (BRENNAN,
1995) e 1980 finalmente assistiria à candidatura presidencial de Ronald Reagan,
tão conservadora em essência quanto a de Goldwater em 1964, mas muito mais
simpática e carismática. O conservadorismo partidário enfim encontrava em
Reagan seu campeão definitivo, capaz de articular um conservadorismo
ideológico com uma roupagem propositiva e atraente, no que suas habilidades
como ator o ajudavam enormemente.
Na Casa Branca, Reagan executou grande parte do programa que
prometera, conduzindo massivos cortes de impostos e elevando os gastos em
defesa nacional. A teoria econômica dominante em seu governo e no Partido
Republicano era a chamada economia de oferta, que defendia que um corte nas
taxas de impostos levaria a um maior crescimento econômico e
conseqüentemente acabaria por elevar novamente as receitas governamentais,
mesmo com as alíquotas mais baixas. Seus efeitos, entretanto, provocaram um
déficit orçamentário que obrigou o presidente a elevar alguns impostos em 1982
de modo a equilibrar as contas públicas. Ao fim desse ano, a economia voltou a
crescer e juntamente com a política externa agressiva de defesa dos interesses
estadunidenses, com fortes críticas à União Soviética (classificada por Reagan
como um “império do mal”) e a invasão de Granada para depor um governo local
de esquerda, aliados ao carisma pessoal de Reagan, garantiriam ao presidente a
popularidade necessária para vencer facilmente a reeleição em 1984.

29
Nem mesmo escândalos em seu segundo mandato, como o caso Irã-
Contras9, foram capazes de arranhar significativamente a popularidade do
presidente e Reagan seguiu com sua política de conservadorismo social e menos
impostos, com uma reforma que simplificou a estrutura tributária e baixou
alíquotas em 1986, desregulamentação da economia, gastos maiores no setor de
defesa e menos restrições ambientais à política energética.
Para as eleições presidenciais de 1988, o vice-presidente de Reagan,
George H. W. Bush, aparecia como principal favorito à nomeação como candidato
republicano, contando com o apoio inclusive do próprio presidente, mas seu
histórico como centrista e suas críticas à economia de oferta de Reagan na
convenção republicana de 1980 atraíam ainda muita desconfiança por parte de
seus correligionários. Essa desconfiança seria inicialmente vencida na convenção
de 1988 com sua célebre frase de que “o Congresso me pressionará para
aumentar os impostos e eu direi não, e eles pressionarão e eu direi não, e eles
pressionarão novamente e eu lhes direi: leiam meus lábios. Não haverá novos
impostos” (apud. GOULD, 2003:44).
Tal declaração, porém, lhe seria bastante custosa quando em 1990, já
eleito, Bush viu-se forçado a um acordo com a maioria democrata no Congresso
acerca da lei orçamentária do próximo ano que aumentava a alíquota mais alta do
imposto de renda de modo a diminuir o déficit herdado de Reagan. Como muitos
do partido sempre haviam desconfiado do real grau de conservadorismo de Bush,
sua aceitação de um aumento de imposto seja por que alegação fosse parecia à
base uma traição dos princípios partidários republicanos e cerca de ¾ dos
congressistas do partido na câmara e no senado votaram contra a lei
orçamentária, que só foi aprovada graças ao forte apoio democrata.
Mesmo sem contar com grande apoio dentro de seu partido, George Bush
conseguiu a princípio altos índices de popularidade com os seus êxitos em política

9
O escândalo consistiu na venda pela administração Reagan, sem autorização do Congresso, de armas ao Irã
(que se encontrava no meio de uma sangrenta guerra contra o Iraque) em troca da libertação de reféns
estadunidenses mantidos pelo grupo xiita libanês Hezbollah, leal ao aiatolá Khomeini, líder supremo do Irã.
Também sem o consentimento do Congresso, a verba obtida com a venda das armas era revertida ao
financiamento do grupo nicaragüense conhecido como Contras, que promovia oposição armada e sabotagem
ao governo sandinista da Nicarágua. Alguns membros do governo chegaram a ser condenados pela Justiça
mas a participação direta do presidente nunca foi provada.

30
internacional, especialmente após o fim da Guerra do Golfo, quando atingiu
recordes históricos de popularidade, mas a chegada de tempos econômicos
difíceis com crescentes níveis de desemprego e a aparente letargia do governo
em lidar com tais problemas logo derrubaram os índices de avaliação do
presidente e a reeleição que parecera certa naufragou, com a tomada da Casa
Branca pelo democrata Bill Clinton.
Durante os anos Clinton, nas eleições congressuais de 1994, o Partido
Republicano conseguiu recuperar o controle do Congresso (o que não acontecia
há mais de 40 anos) sob a liderança de Newt Gingrich e com a promessa de um
novo “Contrato com a América”, onde menores impostos e menos regulação
econômica ocupavam um papel central. Mas ao contrário de propiciar as bases
para uma nova hegemonia republicana como o partido tanto desejava, esse
domínio do Congresso pelo partido marcou um período de disputa e por diversas
vezes impasse entre a Casa Branca e o legislativo na qual os democratas
acabaram levando a melhor.
Muitos dos projetos aprovados pelos republicanos, incluindo alguns cortes
de impostos, eram vetados seguidamente pelo presidente e tentativas
republicanas de utilizar sua maioria para obstruir os trabalhos do Congresso e
pressionar Clinton acabaram sendo utilizadas por este contra o partido, que
acabava se desgastando perante a opinião pública como uma oposição raivosa e
que impedia o popular presidente de governar.
Escândalos sexuais envolvendo Clinton e uma estagiária da Casa Branca
renderam aos republicanos muita munição para ataques morais ao presidente e
um início de processo de impeachment, mas o bom momento de expansão
econômica que garantia a Clinton popularidade e a inabilidade republicana em
negociar com os democratas no Congresso para atingir a maioria constitucional
necessária para impedir o presidente destinaram a iniciativa ao fracasso.
Ao fim do segundo mandato de Clinton, os republicanos indicariam o
governador do Texas George W. Bush contra o vice-presidente e candidato
democrata Al Gore. Autodefinido em campanha como um “conservador com
compaixão”, o filho mais velho do ex-presidente republicano prometia cortes de

31
impostos, recuperação das forças militares nacionais e menos comprometimento
internacional estadunidense (DONMOYER & GLENN, 1999; GOULD, 2003).
Em uma campanha bastante acirrada, W. Bush perderia por mais de meio
milhão de votos populares mas venceria nos votos eleitorais após um complicado
imbróglio que lhe garantiu os decisivos votos da Flórida, governada por seu irmão
Jeb Bush, onde abundaram denúncias de irregularidades. O episódio lembrou em
parte o caso de 1876, em que o republicano Rutherford Hayes foi eleito presidente
em meio a uma disputa com os democratas acerca da lisura do pleito em que
ambos os lados clamavam vitória, mas um certo senso republicano de “partido
natural do governo” lhes emprestava muito mais vigor na defesa de seu lado, o
mesmo acontecendo nas eleições de 2000. O lado republicano defendia com
muito mais paixão e certeza o seu direito à vitória e essa pusilanimidade
democrata, relutante em levar o questionamento eleitoral até as últimas
conseqüências, foi decisiva na garantia da vitória republicana no estado e,
conseqüentemente, no país.
Os republicanos iniciavam o século XXI mais uma vez no controle da Casa
Branca, mas a natureza das eleições vencidas em 2000 explicitava a divisão
política da sociedade estadunidense, com um presidente sem maioria popular dos
votos e vencedor no colégio eleitoral apenas após batalha judicial e sob fortes
suspeitas de fraude.
Além disso, a correlação de forças no Congresso também mostrava essa
divisão, com os republicanos possuindo apenas uma tímida maioria na Câmara e
um empate no Senado. Permanecia incerto como o novo presidente dos EUA (tido
em seu partido como centrista e relativamente inexperiente apesar dos dois
mandatos como governador do Texas) agiria para formar os consensos
necessários ao cumprimento de suas promessas de campanha.
Após 8 anos de expansão econômica com Clinton, W. Bush assumiria o
governo com a economia em desaceleração e suas promessas de cortes de
impostos (apesar de desenhadas antes mesmo dos sinais de desaceleração
tornarem-se claros) constituíam-se na principal proposta da Casa Branca para
reverter o quadro. A medida do sucesso com que fossem implementados e dos

32
resultados com eles obtidos poderiam ser vitais para o sucesso do Partido
Republicano no novo século, aumentando ainda mais a expectativa sobre o que
seria feito.

33
3. George W. Bush e os cortes de impostos (2001-2004)
Se na história mundial é bastante provável que o governo de George W.
Bush fique marcado por sua política externa, da mesma forma no campo da
política econômica as leis de corte de impostos podem ser consideradas a
principal marca do primeiro presidente estadunidense do século XXI. De acordo
com seu primeiro Secretário do Tesouro Paul O’Neill, o governo de W. Bush se
movia por duas ideologias, “uma era a idéia geral da preempção, que foi o que
orientou a política em relação ao Iraque, e a outra era a idéia de que cortes de
impostos são sempre benéficos e quanto maiores, melhor” (apud. SUSKIND,
2004: 280). Foram aprovadas 5 leis de corte de impostos nos 4 anos do seu
primeiro mandato, representando uma renúncia fiscal de cerca de 1.9 trilhão de
dólares entre 2001 e 2011 e uma “mudança significativa na estrutura, incentivos,
receitas e efeitos distributivos do sistema tributário americano” (GALE e ORSZAG,
2004h), “a maior da história no total em dólares e apenas um pouco menor em
percentual do produto interno bruto que o histórico corte de impostos de Reagan
em 1982” (SUSKIND, 2004: 41).
Tendo ocupado um lugar importante no programa de campanha de Bush,
não causou grande espanto a rapidez com que o novo presidente e o Congresso
começaram a trabalhar pelo corte de impostos, principalmente após 8 anos da
presidência do democrata Bill Clinton que repetidamente vetara leis de cortes de
impostos aprovadas por um Congresso majoritariamente republicano, e previsões
crescentes de superávits, estimados no início de seu governo para 5.6 trilhões de
dólares em dez anos pelo Congressional Budget Office (CBO). A utilização do
chamado ‘procedimento de reconciliação’, presente na Congressional Budget Act
of 1974 e que permite a tramitação mais rápida de leis e resoluções destinadas a
adequar os gastos e receitas ao orçamento real, dá bem a noção do desejo pelo
corte de impostos então presente no Partido Republicano e no presidente.
Originalmente destinado a aumentos de receita tributária e cortes de gastos
com vistas à redução de déficits orçamentários, o ‘procedimento de reconciliação’
foi escolhido por Bush e sua equipe para a tramitação das duas leis de corte de
impostos mais importantes aprovadas, o Economic Growth and Tax Relief

34
Reconciliation Act of 2001 (também conhecido pela sigla EGTRRA) e o Jobs and
Growth Tax Relief Reconciliation Act of 2003 (JGTRRA), pela rapidez permitida à
tramitação. Tal procedimento não era novo ao Congresso, já tendo sido utilizado
pelos republicanos, por exemplo, em 2000 em sua tentativa (vetada por Clinton)
de aprovar um alívio ao chamado “marriage penalty” (POLLACK, 2003).
Dessa forma, a primeira lei de corte de impostos da administração George
W. Bush, o Economic Growth and Tax Relief Reconciliation Act of 2001, foi
aprovada na Câmara dos Deputados já no dia 08/03/2001 por 230 a 198 votos,
com todos os republicanos votando a favor do projeto, o que dá uma idéia da
importância do tema para o partido atualmente, e no Senado em 26/05/2001 por
58 a 33, vindo a ser sancionada pelo presidente no dia 07/06/2001. Trata-se de
um projeto abrangente, contendo vários itens da lista de desejos republicana em
matéria tributária e que prevê uma renúncia fiscal de cerca de 1.35 trilhão de
dólares em 10 anos.
A lei modifica a tabela do imposto de renda, os seus limites de deduções,
aumenta os créditos educativos e para crianças, traz um alívio à chamada
‘penalidade matrimonial’, aumenta o limite de isenção à Alternative Minimum Tax
(AMT) por 2 anos, diminui gradualmente o imposto sobre heranças até sua
extinção e traz incentivos fiscais a planos de previdência particular. Com relação à
tabela do imposto de renda, a lei estabelece uma diminuição gradual e distribuída
ao longo de sua duração nas taxas percentuais do imposto de renda individual,
previamente fixadas em 15%, 28%, 31%, 36% e 39.6% e que cairiam ao longo da
lei até atingir 10% (este imediatamente), 25%, 28%, 33% e 35% respectivamente
a partir de 2006. Além disso, o limite de deduções é gradualmente eliminado
juntamente com as restrições a isenções pessoais, até desaparecer por completo
após 31 de dezembro de 2009.
Do imposto sobre heranças, carinhosamente apelidado pelos republicanos
de Death Tax (imposto sobre a morte), a lei diminui os seus porcentuais e
aumenta os valores isentos, de 1 milhão de dólares em 2002 para 1.5 milhão em
2004, 2 milhões em 2006, 3.5 milhões em 2009 até a extinção em 2010. O
imposto cobrado sobre a transferência não-hereditária de bens e imóveis é

35
limitado para 50% em 2002 e diminuído em 1 ponto percentual anualmente até
chegar em 45% em 2007.
Além disso, a lei traz o alívio para a penalidade matrimonial tão atacada
pelos republicanos e pela Nova Direita religiosa como uma perversidade contra o
casamento. Segundo Pollack, a

penalidade matrimonial resulta da colisão de alguns princípios conflitantes do código


tributário. O primeiro é (...) a “equidade vertical” – a noção de que aqueles com maior
renda devem pagar impostos a taxas maiores que aqueles com renda mais baixa. (...)
O problema em questão surge quando dois indivíduos com uma renda significativa
(digamos, $100.000 cada) se casam e fazem uma declaração conjunta. Como o
código tributário trata um casal como uma única unidade econômica, a renda do casal
será combinada (...) empurrando uma parte de suas rendas para uma faixa com taxa
maior. Como resultado, o imposto total como casal com $200.000 de renda conjunta
será maior que a soma do que cada um teria pago como contribuintes solteiros com
renda de $100.000 cada. (...) Quanto mais progressiva a estrutura tributária, maior a
penalidade matrimonial. (2003: 110-111)

A solução encontrada pela lei foi aumentar gradualmente a dedução básica


padrão para casais declarando conjuntamente até atingir o dobro da dedução de
pessoas solteiras em 2009, além de aumentar o limite de renda até o qual se
cobra a taxa mínima de imposto de renda (no caso dos casais, mantida em 15%),
chegando até o dobro da renda máxima permitida para essa faixa para
contribuintes individuais em 2008. O problema é que ao conceder tal benefício aos
casais que declaram conjuntamente, a lei faz com que contribuintes individuais
acabem pagando proporcionalmente mais, da mesma forma que na estrutura
então vigente alguns casais (especialmente os de mais alta renda) acabavam
pagando mais que esses contribuintes, tornando o “problema” (se é que este seria
mesmo um problema) mais complexo do que a princípio parece.
Além de alguns créditos educativos e de incentivos à previdência privada
por meio do aumento das quantias isentas de tributação nas contas destinadas a
esse fim, a lei traz um dispositivo que a revoga após 31 de dezembro de 2010.
Dessa forma, praticamente toda a estrutura tributária é modificada ao longo de 10

36
anos, com cortes gradualmente maiores de impostos ao longo deste prazo até
atingir o ápice em 2009 chegando, por exemplo, a abolir completamente o imposto
sobre heranças nesse ano para a partir de 1 de janeiro de 2011, em sendo
mantido o texto da lei, voltar tudo ao que era antes de sua aprovação.
A presença de tal artigo parece realmente insólita e contraditória aos
objetivos demonstrados pelo Partido Republicano ao longo dos últimos anos e à
retórica de campanha e de governo de George W. Bush, mas é uma obrigação
imposta pela escolha do procedimento de reconciliação para tramitação da lei.
Destinada originalmente a aumentar receitas e cortar gastos de forma a reduzir
déficits orçamentários e interpretada para servir à tramitação do exatamente
oposto (diminuir receitas e aumentar gastos), o procedimento limita a validez das
leis assim aprovadas aos 10 anos utilizados como base de cálculo do orçamento
pelo Office of Management and Budget (OMB). O que não significa que ao eleger
este método de encaminhamento, Bush tenha se resolvido por cortes realmente
temporários aos impostos, conforme indicou o então Secretário de Tesouro Paul
O’Neill ao declarar ao USA Today após a aprovação da lei que os cortes “vão se
tornar permanentes. Eles serão todos ajustados” (apud. GALE e ORSZAG,
2004a:1293n.4) e conforme indicam os sucessivos pedidos do governo nas leis
orçamentárias subseqüentes para que os cortes sejam tornados permanentes.
Com uma pequena maioria na Câmara e um empate com os democratas
no número de senadores (posteriormente modificado para uma leve desvantagem
de 49 senadores republicanos contra 50 democratas e 1 independente após a
defecção do republicano James Jeffords em junho de 2001), Bush não quis
arriscar a possibilidade de o projeto ser derrotado no Congresso e preferiu a
facilidade de aprovar um corte “temporário” e apostar na modificação dessa parte
da lei antes de sua expiração, tornando-a permanente em um futuro congresso
mais republicano.
Com a chegada do segundo semestre, os sinais já existentes de
desaceleração da economia transformavam-se em quase indícios de recessão e
as antigas previsões de superávits orçamentários a perder de vista logo
começaram a diminuir até anunciar futuros déficits (ajudados pelos próprios cortes

37
de impostos recém-aprovados, já contabilizados nos novos cálculos). Vieram
então os ataques terroristas de 11 de setembro e a já frágil situação econômica
piorou. Se no plano externo os atentados serviriam de justificativa às políticas do
novo presidente, no plano econômico também os atentados foram usados como
justificativa, uma “nova razão para enormes cortes adicionais de impostos”
(SUSKIND, 2004: 194) destinados a estimular a economia, com especial foco na
área de Nova Iorque atingida pelos ataques.
Sancionado pelo presidente no dia 09 de março de 2002, o pacote de
estímulos já vinha sendo discutido no Congresso há mais tempo e sua primeira
versão fora aprovada na Câmara sob o título de Economic Security and Recovery
Act of 2001 já em 24 de outubro de 2001 por 216 votos a 214, mas o projeto não
conseguiu seguir adiante no Senado e, reformulado, viria a ser aprovado somente
em março do ano seguinte, no dia 07 na Câmara (417 a 3 votos) e no dia 08 no
Senado (85 a 9), já sob o nome de Job Creation and Worker Assistance Act of
2002.
A lei concede incentivos a empresas, como deduções de impostos e
créditos especiais diversos, com enfoque especial nas áreas afetadas pelos
atentados em Nova Iorque, receptoras da maior parte das deduções de impostos
contidas na lei, além de algumas correções técnicas ao EGTRRA, extensão de
créditos diversos e do alívio à AMT para os anos fiscais 2002 e 2003 e a
concessão de 13 semanas adicionais de seguro-desemprego (incluído no projeto
por exigência dos democratas). Com pouco mais de um ano de governo, já era o
segundo corte de impostos aprovado.
Ao fim do ano viriam as eleições legislativas e o controle do Congresso era
agora uma incógnita, sendo então incerto quem venceria as eleições. Os
resultados vieram e os republicanos mantiveram-se em vantagem em relação aos
democratas. Embora tenham ampliado sua maioria em ambas as casas, o status
quo do Congresso foi praticamente preservado, com os 227 deputados e 51
senadores republicanos, 210 deputados e 48 senadores democratas e 1
independente em cada casa (contra 222 deputados republicanos, 211 democratas

38
e 2 independentes e 50 senadores democratas, 49 republicanos e 1 independente
anteriormente).
Ainda não era uma maioria sólida o suficiente para permitir a aprovação de
cortes definitivos conforme o desejo da administração Bush, mas pelo menos
permitia a continuidade do trabalho até então realizado. Em abril de 2003 o
presidente lançaria sua “Agenda de alívio tributário” (CASA BRANCA, 2003), uma
descrição dos efeitos das leis aprovadas e dos objetivos da administração em
relação ao assunto, na qual pedia o aprofundamento e a aceleração dos cortes já
aprovados. Seguindo os desejos da presidência, já em maio de 2003 um novo
corte de impostos seria aprovado pelo novo Congresso, mais uma vez através do
procedimento de reconciliação – e portanto também em tese temporário.
O Jobs and Growth Tax Relief Reconciliation Act of 2003 (JGTRRA) viria a
ser aprovado na Câmara por 222 votos a 203 em 09/05/2003 e por 51 votos a 49
no Senado no dia 15/05/2003, sendo sancionada pelo presidente treze dias
depois. A lei trouxe a redução nos impostos individuais sobre ganhos de capital e
dividendos, diminuindo as alíquotas de 10% e 20% para 5% e 15%, sendo a
menor abolida a partir de 2008 (para, em tese, voltar aos patamares anteriores a
partir de 2009). Trouxe também incentivos a empresas sob a forma de aumento
nas deduções, criou um fundo de 10 bilhões de dólares a ser rateado entre os
Estados da União (como compensação por perdas de arrecadação) e acelerou
alguns pontos do EGTRRA, como os créditos por filhos, o alívio à penalidade
matrimonial e a redução nas alíquotas do imposto de renda individual, trazendo já
para 2003 e 2004 alguns dos cortes programados pela lei anterior para anos
posteriores, além de aumentar o limite de isenção à AMT para US$40.250,00 para
indivíduos e US$58.000,00 para casais declarando conjuntamente nos referidos
anos.
Já não seria pouco para um mandato houvesse Bush parado por aí, mas o
último ano de seu primeiro mandato ainda veria a aprovação de mais duas novas
leis de cortes de impostos, a Working Families Tax Relief Act of 2004 (aprovada
na Câmara por 339 a 65 e no Senado por 92-3 no dia 23/09/2004 e sancionada
pelo presidente no dia 04/10 do mesmo ano) e a American Jobs Creation Act of

39
2004 (aprovado por 280-141 na Câmara no dia 07/10/2004 e por 69-17 no Senado
no dia 11/10/2004, vindo a ser sancionada por Bush no dia 22/10/2004). A
primeira, além de mais créditos e incentivos fiscais diversos em matérias como
carros movidos a combustíveis limpos e emprego para indígenas, trouxe nova
extensão de cortes já estabelecidos anteriormente, como deduções por filhos, o
alívio à penalidade matrimonial e à AMT, totalizando uma renúncia fiscal adicional
de 145,942 milhões de dólares entre 2005 e 2014. Já a segunda, uma extensa lei
cujo relatório descritivo elaborado pelo Joint Committee on Taxation do Congresso
possui mais de 250 páginas (2004b), trouxe numerosos incentivos fiscais a
empresas sediadas nos Estados Unidos, como a redução do Imposto Corporativo
para manufaturas e pequenas empresas, alívio à AMT corporativa, redução de
taxas relativas ao mercado de ações, incentivos a reinvestir ganhos obtidos no
exterior nos EUA e diversos incentivos fiscais a setores específicos, além de
novas extensões a vários créditos por expirar concedidos anteriormente e mais
outro alívio à AMT individual, permitindo maiores deduções nos anos de 2004 e
2005.
A recorrência de alívios à AMT nas leis de corte de impostos de Bush deve-
se a um problema do sistema tributário estadunidense criado muito antes de
George W. mas agravado por sua política tributária. Criada em 1969 pelo
Congresso, a Alternative Minimum Tax “foi desenhada para impor algum imposto
de renda a contribuintes ricos que declaram tantas deduções e créditos (...) de
forma a reduzir suas contribuições a praticamente nada” (POLLACK, 2003:122).
Ela age como uma espécie de imposto de renda oculto e paralelo ao regular, com
diferentes alíquotas, definições de renda e deduções permitidas, e que atinge o
contribuinte apenas quando o total de impostos devidos sob o seu cálculo
ultrapassa o valor devido pelo imposto de renda regular.

Apesar de ter historicamente atingido apenas alguns relativamente poucos contribuintes de


alta renda, a AMT está destinada a crescer rapidamente sob a lei atual. (...) Os principais
motivos para o crescimento explosivo projetado da AMT são que o imposto não é indexado
pela inflação e que os cortes aprovados em 2001 e 2003 reduziram o imposto regular

40
devido, mas concederam apenas ajustes pequenos e temporários na AMT (GALE e
ORSZAG, 2004a:1294).

Assim, o que originalmente foi uma espécie de imposto mínimo para os


ricos vem ano a ano atingindo cada vez mais a classe média à medida que, ao
contrário da AMT, vão tendo seus salários e deduções regulares corrigidos pela
inflação. Com o aumento de deduções e benefícios fiscais concedidos pelos
cortes de impostos, espera-se uma aceleração do problema (por enquanto contida
pelos alívios temporários, válidos até o fim de 2005) e estima-se que em 2010,
cerca de 29 milhões (o equivalente a 28% do número total) de contribuintes irão
cair na AMT, contra cerca de 3 milhões em 2004. Caso a legislação não seja
alterada, “a AMT irá eventualmente anular todos os cortes de impostos aprovados
nas leis de 2001 e 2003” (idem). A tabela 1 abaixo mostra os efeitos previstos da
AMT nos diferentes grupos de renda relativos aos cortes de impostos enquanto o
gráfico 1 mostra uma comparação entre os efeitos esperados pela não correção
da AMT com e sem os cortes de impostos aprovados.

Tabela 1: Efeitos da AMT nos cortes de impostos da administração W. Bush


Porcentagem de Unidades Fiscais sem
Classe de Renda (em milhares Porcentual Retomado dos Cortes pela AMT
Cortes devido à AMT
de dólares de 2003)
2006 2009 2014 2006 2009 2014
Todas 0.7 1.4 4.1 15.8 23.4 36.0
0-10 0.0 0.0 0.0 -0.4 -0.1 -0.1
10-20 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0
20-30 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 -0.1
30-40 0.0 0.1 0.3 -0.2 -0.1 0.8
40-50 0.2 0.3 1.2 -0.1 0.3 2.6
50-75 0.6 1.1 3.7 0.3 2.3 11.4
75-100 0.8 2.1 6.0 7.9 18.1 39.3
100-200 2.2 4.5 12.8 25.9 40.0 64.3
200-500 4.2 7.3 12.7 49.2 59.2 68.9
500-1000 1.1 1.1 1.5 14.2 16.9 20.7
Mais de 1000 0.6 1.2 1.1 4.9 5.8 7.0
Fonte: Tax Policy Center Microssimulation Model apud. GALE & ORSZAG 2004a.

Espera-se, entretanto, que Bush e sua equipe apresentem agora no


segundo mandato alguma espécie de projeto corrigindo as distorções da AMT,

41
embora quando e como ainda não estejam certos. Pode ser que continuem
simplesmente empurrando o problema com a barriga, concedendo alívios pontuais
e paliativos aqui e ali como foi feito até agora, que criem alguma espécie de
gatilho indexando automaticamente a correção da AMT à inflação ou mesmo que
implementem alguma solução mais radical como a extinção completa do imposto.

Gráfico 1: Número de Contribuintes da AMT, 2005-2014


Número de Contribuintes da AMT

40
35 Antes dos Cortes de
30 2001
(em milhões)

25
20
15 Com os Cortes
10 Tornados Permanentes
5 e sem Ajustes à AMT
0
2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Fonte: GALE & ORSZAG, 2004a.

Trata-se, é verdade, de especulação acerca do que realmente vai


acontecer ao imposto, sendo a única “certeza” a de que a sua atual situação é
inviável e certamente vai de encontro aos desejos da administração em matéria
tributária e que, portanto, algo será feito. Mas não deixam de ser hipóteses
bastante plausíveis; a primeira por seguir o padrão até aqui adotado a esse
respeito, a segunda por ser uma medida bastante razoável e a terceira por, apesar
de ser algo que beneficiaria principalmente os contribuintes de mais alta renda,
poder ser defendida como uma medida para proteger o cidadão médio da
voracidade tributária do Estado, argumento bastante semelhante ao utilizado na
defesa dos cortes de impostos aprovados mas que não resiste a uma análise mais
detalhada de seus efeitos.
Apesar de bastante abrangente e de, de fato, conceder alguma espécie de
alívio tributário a praticamente todos os grupos de renda estadunidenses, a
comparação entre os benefícios recebidos entre os grupos de mais alta e mais
baixa renda mostra que os primeiros beneficiaram-se mais dos cortes. Um dos
motivos imediatos para isso é o fato de a estrutura tributária americana já ser

42
bastante progressiva, com pouco mais da metade da arrecadação federal vindo do
imposto de renda individual tornando

difícil desenhar um corte de impostos significativo que beneficie contribuintes de renda


média e baixa precisamente porque a maior parte da receita obtida com o imposto de
renda individual vem do topo dos 5% de contribuintes mais ricos. Os 50% da base
contribuem com apenas 4% da receita obtida com o imposto de renda. (POLLACK,
2003: 123)

Além disso, alguns dos outros impostos afetados pelos cortes como o
Imposto sobre Heranças e Transferências e o Imposto sobre Ganhos de Capital
também aplicam-se principalmente (quando não até mesmo exclusivamente)
sobre os contribuintes de alta renda, de modo que as diminuições de suas
alíquotas ou mesmo suas extinções em alguns casos pouco ou nada têm a ver
com a grande maioria da população. A tabela 2 abaixo mostra os efeitos
distributivos dos cortes considerando que eles sejam tornados permanentes e que
a AMT seja ajustada de forma a manter o seu número de contribuintes iguais ao
que seriam antes da aprovação do EGTRRA.
Pode-se perceber pela tabela, por exemplo, que do grupo de contribuintes
de mais baixa renda 15.8% obtiveram algum tipo de corte nos impostos pagos o
que lhes gerou uma mudança positiva na renda de cerca 0.3%, contra 99.2% com
algum corte no grupo de mais alta renda gerando-lhes uma melhora na renda
média pós-impostos de 4.3%. Se isolarmos dentre os contribuintes deste grupo
apenas o 1% de mais alta renda, o aumento médio na renda percebida sobe para
6.4%.
Tais dados já seriam o suficiente para classificar os cortes, em relação a
seus efeitos distributivos, como socialmente regressivos e concentradores de
renda mas há ainda um outro dado que muitas vezes é deixado de lado e que é
fundamental a esse tipo de análise. Os cortes provocaram um desequilíbrio
orçamentário nos Estados Unidos que um dia precisará ser financiado, seja com a
criação de novos impostos, aumento dos já existentes, cortes de gastos ou algum
tipo de combinação dessas possibilidades. Gale e Orszag (2004b) afirmam que a

43
inclusão dos custos do financiamento dos cortes é essencial para a real
compreensão de seus efeitos e face à dificuldade de tal análise sugerem duas
hipóteses nas quais a perda de receita anual decorrente deles seria
completamente coberta no orçamento de 2010.

Tabela 2: Efeitos Distributivos de Cortes Permanentes de Impostos e Ajuste da AMT (em


Percentual da Renda em Dinheiro, 2010)
Mudança na Mudança no
Percentual Mudança na Contribuição Mudança
Percentual da Taxa Média de Pagamento
com Corte Renda Pós- ao Total de Média de
Renda em Impostos de Impostos
de Tributação Impostos Impostos
Dinheiro (Pontos Federais
Impostos (%) Cortados (%) (Dólares)
Porcentuais) (Porcentual)
Grupo de Mais
15.8 0.3 0.3 -26 -0.3 -8.7
Baixa Renda
Segundo Grupo 69.0 1.9 4.1 -387 -1.8 -18.2
Grupo do Meio 83.9 2.1 7.5 -699 -1.8 -10.8
Quarto Grupo 96.3 2.5 14.9 -1392 -2.0 -9.4
Grupo de Mais
99.2 4.3 73.1 -6826 -3.1 -11.1
Alta Renda
Total 72.8 3.4 100.0 -1869 -2.6 -11.0
Adendo
80-99% de Mais
99.3 3.5 43.1 -4236 -2.6 -10.0
Alta Renda
1% de Mais Alta
98.7 6.4 30.0 -56051 -4.3 -13.3
Renda
Fonte: GALE & ORSZAG, 2004b.

A primeira hipótese supõe que cada domicílio receberá os cortes de


impostos de acordo como estabelecido nas leis de 2001 e 2003 mas contribuirá,
através de uma mistura de aumento nos impostos pagos ou diminuição nos
benefícios recebidos do gasto federal, com uma mesma quantia em dólares
(US$1.869 em dólares de 2010) e é por isso chamada de “Financiamento em
Dólares Iguais”. O segundo cenário, chamado por sua vez de financiamento
proporcional, assume que cada domicílio igualmente receberá os cortes de acordo
com as leis de 2001 e 2003 e pagará, novamente via aumentos de impostos e
diminuição de benefícios recebidos, 2.6% de sua renda anual. Ambas as
simulações incluem os custos necessários para ajustar a AMT de forma que

44
permaneça nos padrões anteriores à aprovação dos cortes. As tabelas 3 e 4
abaixo mostram os resultados decorrentes destas duas simulações.
Incluindo-se os custos relativos ao financiamento dos cortes aprovados,
pode-se observar que não apenas as mudanças beneficiam mais os segmentos
de mais alta renda como também passam a prejudicar diretamente a base da
pirâmide social. Com o financiamento por dólar igual, 100% dos contribuintes de
mais baixa renda experimentariam um aumento médio de impostos, contra apenas
10.5% dos contribuintes de alta renda e 4.7% dos afortunados membros do topo
de 1% de contribuintes de altíssima renda. Nenhum dos contribuintes incluídos no
grupo de mais baixa renda experimentaria algum tipo de alívio tributário, pagando
este grupo em média US$1.843,00 a mais do que antes da aprovação do
EGTRRA, enquanto que entre os 1% mais ricos, 95.3% teriam algum tipo de alívio
tributário totalizando uma média de US$54.182,00 a menos em impostos pagos.

Tabela 3: Efeitos Distributivos de Cortes de Impostos Permanentes e Ajuste da AMT com


Financiamento em Dólares Iguais (em Percentual da Renda em Dinheiro, 2010)
Mudança na Taxa
Percentual da Percentual com Percentual Mudança na Mudança Média
Média de Impostos
Renda em Aumento de com Corte de Renda Pós- de Impostos
(Pontos
Dinheiro Impostos Impostos Tributação (%) (Dólares)
Percentuais)
Grupo de Mais
100.0 0.0 -21.7 1.843 21.0
Baixa Renda
Segundo
98.7 1.3 -7.5 1.482 6.7
Grupo
Grupo do Meio 93.8 6.2 -3.5 1.170 3.0
Quarto Grupo 80.2 19.8 -0.9 477 0.7
Grupo de Mais
10.5 89.5 3.1 -4.958 -2.3
Alta Renda
Total 76.6 23.4 0.0 0 0.0
Adendo
80-99% de
Mais Alta 10.8 89.2 2.0 -2.367 -1.5
Renda
1% de Mais
4.7 95.3 6.2 -54.182 -4.2
Alta Renda
Fonte: GALE & ORSZAG, 2004b.

45
Já através do financiamento proporcional, os resultados tornam-se menos
socialmente regressivos mas continuam a prejudicar a maioria dos contribuintes
de mais baixa renda em oposição aos de renda mais alta, beneficiados. A análise
da simulação mostra que 99.7% dos contribuintes mais pobres ainda enfrentariam
um aumento de impostos, pagando em média cerca de 202 dólares a mais em
impostos, enquanto do 1% mais rico apenas 39.1% enfrentaria uma elevação
tributária, com 60.9% dos membros dessa faixa de renda continuando a se
beneficiar dos cortes com uma média de US$22.335,00 pagos a menos por esse
grupo ao Fisco.

Tabela 4: Efeitos Distributivos de Cortes de Impostos Permanentes e Ajuste da AMT com


Financiamento Proporcional (em Percentual da Renda em Dinheiro, 2010)
Mudança na Mudança na Taxa
Percentual da Percentual com Percentual com Mudança Média
Renda Pós- Média de Impostos
Renda em Aumento de Corte de de Impostos
Tributação (Pontos
Dinheiro Impostos Impostos (Dólares)
(Percentual) Percentuais)
Grupo de Mais
99.7 0.3 -2.4 202 2.3
Baixa Renda
Segundo
80.1 19.9 -0.9 184 0.8
Grupo
Grupo do Meio 76.5 23.5 -1.0 325 0.8
Quarto Grupo 79.5 20.5 -0.8 433 0.6
Grupo de Mais
64.0 36.0 0.7 -1.128 -0.5
Alta Renda
Total 79.9 20.1 0.0 0 0.0
Adendo
80-99% de
Mais Alta 65.3 34.7 0.0 -12 0.0
Renda
1% de Mais
39.1 60.9 2.5 -22.335 -1.7
Alta Renda
Fonte: GALE & ORSZAG, 2004b.

A magnitude da renúncia fiscal e do desequilíbrio orçamentário decorrente,


principalmente levando-se em conta também os custos futuros da ainda não
ajustada AMT, deixam poucas dúvidas acerca da inevitabilidade de um ajuste de
contas em que os seus efeitos socialmente perversos se fariam sentir, ainda que
tal possivelmente não se dê antes do fim do governo de George W. Bush. A

46
obstinação com que o presidente defendeu e promoveu as leis de cortes de
impostos aprovadas e a sua perenização e aprofundamento tornam pouco
provável que a administração volte atrás e torne a elevar os impostos reduzidos,
principalmente quando se sabe que o próprio presidente e mais 222 deputados e
46 senadores (dados de março de 2005) assinaram um abaixo-assinado
promovido pela Americans for Tax Reform no qual se comprometem a não elevar
nenhum imposto.

Tabela 5: Pagando por Cortes de Impostos Permanentes


Extensão dos Cortes de Impostos e Ajuste
da AMT
Perda de Receita em 2014 (em $ bilhões) 373
Mudança Necessária em % de gastos ou receitas:
Todas as Despesas Não-Relativas a Juros -11
Gastos Eletivos -32
Defesa, Segurança Interna,
-57
Internacional
Outros -75
Gastos Obrigatórios -18
Seguridade Social -45
Medicare -53
Medicaid -107
Todos os Três -20
Outros -146
Todos os Gastos Exceto:
Juros, Seguridade Social, Medicare, -49
Medicaid, Defesa e Segurança Interna
Receita
Contribuições sobre Folha de
32
Pagamento
Imposto Corporativo 117
Fonte: GALE & ORSZAG, 2004c

Por outro lado, o ajuste fiscal exclusivamente via corte de gastos também
parece pouco provável ao se analisar o tamanho dos cortes necessários. A tabela

47
5 mostra o quanto de alguns dos principais gastos do governo precisaria ser
suprimido ou quanto de dois impostos não afetados pelos cortes já aprovados
precisariam ser aumentados para pagar a renúncia fiscal concedida. O gigantismo
dos cortes necessários, a natureza extremamente sensível de alguns deles e o
histórico de aumento de gastos da administração até o momento, incluindo-se aí
os custos militares da ocupação de Iraque e Afeganistão, tornam pouco provável o
restabelecimento do equilíbrio fiscal somente através de cortes nos gastos,
mantendo uma grande incógnita sobre o futuro da natureza orçamentária, fiscal e
tributária dos Estados Unidos da América.

48
4. Cortes de impostos e ideologia
Subjacente a toda a obsessão republicana atual por cortes de impostos,
está um certo desprezo pela ação do Estado que tomou conta do partido no
século XX. A análise histórica mostra que no início o Partido Republicano
identificava no Estado um agente indutor do desenvolvimento e do crescimento
econômico, mas a partir de meados dos anos 1920 passou a identificá-lo cada vez
mais como um obstáculo, um agente estranho que através da intromissão na
economia prejudicava a liberdade dos cidadãos e das empresas e o
funcionamento adequado da sociedade, e paralelamente a esse processo de
desqualificação do Estado no ideário partidário floresceram também as idéias de
alívio tributário.
É verdade que o partido nunca foi exatamente um entusiasta da taxação
propriamente dita, mas enquanto identificava no Estado o papel de promotor do
crescimento e mantenedor da ordem nacional jamais passou sequer perto da
aversão ao tema que hoje ostenta. Pelo contrário, durante mais de meio século a
principal proposta republicana consistia na manutenção de altas tarifas de
importação, então a principal fonte de receitas estatais, como forma de proteger o
mercado interno e a nascente indústria estadunidense da competição estrangeira.
Tratava-se, é certo, de um imposto indireto sobre a população, mas que era
igualmente atacado pelos rivais democratas por seus efeitos negativos no
encarecimento dos produtos importados, que segundo eles prejudicariam a
população em geral e ajudariam apenas os grandes empresários.
E em períodos excepcionais como a Guerra Civil, os republicanos não
apenas aceitaram opções mais “radicais” de financiamento do Estado e de seu
esforço de guerra pela manutenção da unidade nacional, como a criação do
primeiro imposto de renda em 1861 e suas sucessivas modificações ao longo da
Guerra, por exemplo, como tomados de furor patriótico chegaram a declarar, em
claro exagero, nos debates congressionais de 1864 que “o grito universal deste
povo é ser taxado” (apud. GOULD, 2003:32).
Antes de tudo, é preciso ter em mente que a história política estadunidense
foi muito marcada em seu começo por grandes batalhas acerca dos limites

49
constitucionais do poder do governo federal, bastante limitado originalmente. Nos
primeiros anos da recém-independente república, coube ao Partido Federalista de
Alexander Hamilton o papel de defesa de um governo central forte e soberano.
Papel que depois caberia ao Partido Whig e seu “Sistema Americano” 10 até a
fundação do Partido Republicano em 1854, que durante o século XIX e começo do
século XX sempre esteve ao lado dos que defendiam a legitimidade da ação
federal e sua expansão em diversas áreas, como distribuição de terras públicas,
promoção de obras de infra-estrutura, taxação ou regulação econômica.
O papel republicano na expansão do Estado e na construção da nação
estadunidense moderna a partir da Guerra Civil é inegável, por mais que sua
pregação contemporânea acerca da apropriação indevida do dinheiro dos
cidadãos pelos “burocratas de Washington, DC” possa eclipsá-la. Uma boa chave
para a análise da vida partidária estadunidense e da mudança de lado republicano
no tema Estado é dada por John Gerring em seu livro Party Ideologies in America,
1828-1996 (2001). Ele analisa os dois partidos estadunidenses a partir de suas
ideologias e divide a história do Partido Republicano em duas fases: nacional, que
iria até 192411, e neoliberal, a partir de 1928.
Segundo Gerring, em sua primeira fase, o partido teria girado basicamente
em torno da dicotomia ordem versus anarquia e identificava no Estado um
garantidor da ordem social e da unidade nacional. Economicamente, acreditava no
papel estatal de indutor do crescimento e protetor do mercado nacional (donde o
papel de proeminência que a tarifa externa sempre ocupou nos programas de
governo republicanos do período) e por isso ajudou a expandir o papel e o poder
do Estado. Exemplo claro da ideologia predominante republicana pode ser
encontrado no governo de seu primeiro presidente Abraham Lincoln, que dedicado
a derrotar a ameaça à ordem proveniente da secessão sulista expandiu o alcance

10
O chamado “Sistema Americano” consistia em uma filosofia política que pregava a proteção do mercado
nacional através de tarifas protecionistas, investimentos governamentais em infra-estrutura e apoio à
industrialização nacional, entre outras coisas. De origem atribuída ao líder Whig Henry Clay, seria apropriada
pelo Partido Republicano e se constituiria no seu núcleo ideológico até pelo menos os anos 1920. Ver
GERRING, 2001.
11
Na verdade, ao referir-se a essa primeira fase ideológica republicana, Gerring refere-se à tradição Whig-
Republicana, devido ao enorme grau de continuidade ideológica entre os dois partidos, ainda que tenham
chegado a coexistir e disputar eleições durante um breve período.

50
do governo federal em níveis até então inéditos e para financiar essa expansão
governamental viu-se obrigado a criar novos impostos, como o imposto de renda
de 1861 (que ainda sob o governo de Lincoln seria modificado em 1862 e 1864) e
o imposto sobre heranças e transferências de propriedade de 1862.
Ainda que ao fim da guerra os novos impostos viessem a cair (o de
heranças foi derrubado em 1870 e o de renda em 1872), o ponto é que os
republicanos de então conferiam ao Estado papel de importância na sociedade e
na economia e estavam, em geral, dispostos a aceitar de boa vontade a criação
ou expansão das fontes de financiamento do mesmo. Ainda que em 1894, sob a
presidência do democrata Grover Cleveland, os republicanos tenham votado
contra a criação de novo imposto de renda, que viria a ser julgado inconstitucional
pela Suprema Corte no ano seguinte, em 1909 (sob a presidência do republicano
W. H. Taft) teriam papel importante na aprovação da 16ª Emenda Constitucional
que conferia explicitamente à União o poder de taxar a renda.
Precisar o que exatamente teria causado a virada ideológica republicana é
difícil, mas é provável que a relação cada vez mais orgânica entre o partido e os
grandes industriais que prosperaram sob as políticas públicas por ele promovidas
tenha desempenhado um papel importante nesse sentido. Enquanto concentrava-
se na proteção do mercado interno e na promoção de obras de infra-estrutura, o
Partido Republicano tornava-se mais e mais popular entre os grandes empresários
estadunidenses, mas ao fim do século XIX e início do século XX, a ala dos
“progressistas” do partido queria dar um passo adiante na presença estatal na
economia, atuando de maneira mais forte na regulação econômica e combate aos
monopólios. E sob a presidência de Theodore Roosevelt o partido de fato avançou
nesse sentido, o que desagradava aos industriais e à maioria partidária cada vez
mais conservadora e pode ter sido responsável pela introdução da dúvida acerca
da ação estatal na economia.
Se essa hipótese estiver correta, a apropriação pelos democratas, sob a
presidência de Woodrow Wilson (que aliás seria o responsável pela recriação do
imposto de renda em 1913 e que persiste até hoje), das políticas progressistas
teria então ajudado a consolidar essa mudança na ideologia republicana sobre o

51
Estado, mas mesmo que o tema de porquê os partidos mudam sua ideologia seja
ainda objeto de controvérsias (ver GERRING, 2001: 257-275) o certo é que de fato
o Partido Republicano na década de 1920 já não era mais aquele de 1860.
Segundo Gerring (2001), em sua segunda encarnação ideológica o partido girava
cada vez mais em torno da dicotomia Estado versus indivíduo.
O tema do desenvolvimento econômico persistia no ideário republicano,
mas o papel do Estado frente à idéia mudava radicalmente, de indutor a obstáculo.
Agora, o que garantiria o desenvolvimento seria a liberdade individual, conduzida
a um status quase divino nos programas partidários e essa mudança trouxe
consigo duas importantes conseqüências à questão tributária: primeira, se o
Estado já não é mais tão importante, para quê financiá-lo? Segunda
conseqüência, se a liberdade individual é o que há de mais importante, a
tributação imposta pelo Estado passa a ser vista como uma intromissão nessa
liberdade do indivíduo de dispor de sua própria riqueza.
Ao retornar à Casa Branca em 1920, o Partido Republicano logo tratou de
reduzir as alíquotas dos impostos de renda e de propriedade que haviam sido
fortemente elevadas durante a I Guerra Mundial quando da entrada dos EUA no
conflito, mas a maioria no partido era pragmática o suficiente para aceitar a
existência de tais impostos, contanto que com alíquotas baixas, e assim
permaneceram as coisas até o crash da Bolsa de Nova Iorque em 1929 e a
recessão que marcou fortemente os republicanos e trouxe de volta ao governo os
democratas com Franklin Delano Roosevelt.
A volta dos democratas à Casa Branca e a implantação do New Deal
expandiu ainda mais o Estado, criando o mais próximo que os EUA já tiveram do
Estado de Bem-Estar Social e para financiar essa nova onda de ativismo estatal,
foram necessários novos impostos e a elevação dos já existentes. Reduzidos a
um papel minoritário e secundário na política nacional durante o período, os
republicanos “observavam (...) enquanto o tamanho e o alcance do Estado
nacional se expandiam além de qualquer coisa que eles pudessem ter imaginado
em seus piores pesadelos” (POLLACK, 2003: 45). E ainda que de modo geral os
candidatos presidenciais republicanos do período tenham sido pragmáticos o

52
suficiente para aceitar como um fato ao menos parte da nova realidade,
reconhecendo a impossibilidade de reversão total ao status quo ante, a guinada à
esquerda dos democratas consolidou a virada ideológica republicana e o
sentimento médio no partido de que se tratava de uma subversão radical e
inaceitável dos valores americanos de liberdade e livre iniciativa.
Os novos programas federais, que incluíam obras públicas, estímulos
econômicos e seguridade social, eram vistos como uma intromissão indevida na
economia e os novos impostos, como o Imposto de Heranças ou o Imposto sobre
Lucros Líquidos, e a mudança na estrutura de alíquotas do Imposto de Renda,
tornado mais progressivo, eram encarados como uma espécie de punição ao
sucesso individual.
Essa era, grosso modo, a ideologia do “novo” Partido Republicano
encarnada e que atingiria seu ápice na década de 1980 sob o governo Ronald
Reagan: populismo de direita, anti-estatismo, individualismo e capitalismo de livre
mercado (ver GERRING, 2001:125-158). “Reagan era profundamente dedicado ao
credo republicano de anti-estatismo e federalismo descentralizado [e] (..) [s]ua
filosofia antiimpostos complementava ambas” (POLLACK, 2003:60). Tendo
promovido em seu governo “a mais significativa redução de taxas na história do
imposto de renda federal” (POLLACK, 2003:61), ele logo se converteu no nome
maior da hagiografia republicana e serve hoje como uma espécie de “talismã do
que significa ser republicano” (GOULD, 2003:435).
“Reagan chegou ao cargo profundamente comprometido com três
questões: fortalecer as forças militares estadunidenses, reduzir o tamanho do
governo e dos gastos estatais e reduzir impostos” (POLLACK, 2003:61), mas
embora os dois últimos objetivos pareçam intrinsecamente relacionados “o
tamanho do governo federal era maior em 1988 (...) do que em 1980 quando ele
tomou posse” (POLLACK, 2003:66). Uma das causas para essa aparente
contradição é que além de cortar impostos, Reagan também cumpriu seu primeiro
objetivo e aumentou bastante as despesas militares no esforço de vencer a
Guerra Fria e derrotar o comunismo soviético, e que muitos dos programas
estatais (seguridade social e Medicare, por exemplo) representariam um suicídio

53
político se cortados, dado o elevado número de pessoas atendidas e que deles
dependem.
Por mais que o senso comum possa sugerir o contrário, não há uma
relação direta entre o corte de impostos e a redução da máquina pública, como
mostrou o exemplo reaganiano e como vem mostrando a experiência atual com
George W. Bush, que à mesma maneira cortou impostos, elevou os gastos
militares, mas não foi capaz de reduzir os outros gastos governamentais, obtendo
enormes déficits orçamentários também da mesma forma que Reagan (ver GALE
& ORSZAG, 2004g).
E se não servem para reduzir o tamanho do Estado, um dos objetivos
declarados do Partido Republicano já há um bom tempo, por quê então a
obsessão com cortes de impostos? Uma das razões é que o partido realmente
absorveu muito da pregação neoliberal acerca da ineficiência estatal em sua ação
econômica a ponto de David Stockman, diretor de orçamento de Reagan, falar de
empunhar a espada “forjada na bigorna de livre-mercado de F. A. Hayek” (apud.
MICKLETHWAIT & WOOLDRIDGE, 2004:339. Ver op. cit. acerca da influência da
Escola Econômica Austríaca sobre o pensamento republicano contemporâneo).
Portanto, sob a ótica republicana seria sempre melhor e mais eficiente em termos
econômicos deixar que o cidadão escolha onde gastar o seu dinheiro e alívios
tributários seriam eficientes remédios para recessões econômicas.
Ao Partido Republicano de hoje, é um dogma que qualquer atividade social
ou econômica do Estado pode ser melhor e mais eficientemente desempenhada
pela iniciativa privada e vão nesse sentido as idéias de privatização da seguridade
social defendida por George W. Bush para seu segundo mandato e antecipadas
nos estímulos à aplicação em contas de previdência privada presentes nos cortes
de impostos do primeiro. Mas antes de ser uma rejeição total e absoluta ao
Estado, a ideologia republicana atual representa um corte claro entre algumas
poucas funções em que valeria a pena fortalecer o orçamento estatal e as outras
passíveis de privatização, delegação a grupos voluntários ou simples extinção tão
logo a correlação de forças políticas o permita (o que nunca tem sido tão simples
quanto o discurso republicano sugere).

54
Entre o seleto primeiro grupo, figuram desde sempre as Forças Armadas e
nestes tempos pós-atentados de 11 de setembro cada vez mais também os
aparelhos repressivos internos, como são exemplo a criação do super-
Departamento de Segurança Interna e os dispositivos orwellianos da Lei
Patriótica12. No segundo grupo, praticamente toda a estrutura reguladora criada
durante o fim do século XIX e ao longo do século XX e os aparelhos do welfare
State criado pelos democratas Wilson e F.D. Roosevelt. Como nos mostra Gerring
(2001), os temas do desenvolvimento econômico e da ordem social são
constantes em toda a história republicana, mas o papel do Estado frente aos
mesmos muda de acordo com a fase ideológica analisada.
Em sua primeira fase, o Partido Republicano tinha como anátema a
anarquia e a desintegração social e como enxergava no Estado um agente
promotor do desenvolvimento, suas ações econômica e reguladora eram vistas
como benéficas ao país ao promover a coesão e proteção social e levar ao
crescimento da economia. Já em sua fase neoliberal, a “besta negra” republicana
passa a ser o comunismo (e sua hipertrofia estatal) e portanto o Estado deveria
deixar o mercado econômico livre à iniciativa privada, verdadeira promotora do
desenvolvimento, e preocupar-se com a proteção da nação frente à “ameaça
vermelha”. A liberdade torna-se o valor fundamental do partido, ainda que esta
liberdade restrinja-se apenas a seu caráter econômico, pois os novos tempos no
partido vêem com leniência o sacrifício das liberdades civis sempre que
necessário para combater os “inimigos”.
E mesmo que hoje não haja mais o comunismo como inimigo externo, a
guerra ao terror fornece a justificativa necessária para os investimentos nas
Forças Armadas ou na segurança interna, e como a diminuição do Estado em
outras áreas não é tão fácil quanto fazem parecer os republicanos, o problema dos
déficits públicos, agravados pelas políticas de cortes de impostos, tem sido uma

12
O Departamento de Segurança Interna (Department of Homeland Security) foi criado por lei sancionada no
dia 25 de novembro de 2002 e centralizou diversas agências federais relacionadas a segurança e combate ao
crime, nascendo já com a significativa quantia de mais de 170.000 funcionários. Já a Lei Patriótica (USA
PATRIOT Act) foi sancionada pelo presidente George W. Bush no dia 26 de outubro de 2001 e consiste de
mais de trezentas páginas com artigos complexos e bastante detalhados que, entre outras coisas, permitem a
detenção de suspeitos de terrorismo (definido em termos bastante amplos na lei) sem acusação formal e por
tempo indeterminado.

55
constante no país durante os últimos anos. Ademais de motivo de controvérsia
freqüente entre republicanos mais antigos, em geral defensores de orçamentos
equilibrados, e os mais novos (por exemplo, os freqüentes atritos entre Paul
O´Neill, primeiro secretário do tesouro de George W. Bush e o resto da equipe de
governo, que culminaram em sua saída. A esse respeito, ver SUSKIND, 2004).
Controvérsias essas que vêm sendo perdidas cada vez mais facilmente pelos
defensores do equilíbrio orçamentário.
Se se trata do início de mudanças ideológicas mais duradouras será preciso
tempo para afirmar, mas o fato é que ao contrário do que pregavam os mais
ardorosos defensores da Economia de Oferta dos anos 1980, os cortes tributários
não têm sido capazes de gerar crescimento econômico na intensidade necessária
para compensar a perda de arrecadação, conforme defendido por tal teoria, e o
resultado têm sido déficits orçamentários cada vez maiores. E cada vez menos
membros do partido parecem se importar, como mostra o estudo de Gale e Kelly
(2004) acerca dos signatários do abaixo-assinado conhecido como No New Taxes
Pledge, em que se comprometem a não aumentar as alíquotas do imposto de
renda ou reduzir quaisquer deduções ou créditos tributários sem a redução
equivalente em dólares da alíquota cobrada.
Segundo eles, apesar de a esmagadora maioria dos signatários ter votado
a favor dos cortes de Bush e de propostas para torná-los permanentes, uma
grande parte deles votou também a favor de aumentos de despesas, como a Lei
de Prescrição de Remédios do Medicare de 2003 (86% dos signatários votaram
favoravelmente) ou a Lei das Rodovias de 2004 (74%), o contrário do que seria de
se esperar de quem se compromete a não aumentar as fontes de receita estatal. A
hipótese levantada no estudo para explicar tal comportamento aparentemente
contraditório é de que ao atender a determinados grupos de interesses cortando
impostos, fica difícil aos parlamentares não atender a outros grupos na outra ponta
do orçamento, relativa aos gastos públicos.
Ao analisar as possibilidades de equilíbrio orçamentário, Gale e Kelly
ressaltam que apesar de os signatários não constituírem maioria suficiente para
tornar permanentes os cortes já promovidos, formam uma coalizão grande o

56
bastante para manter eventuais vetos presidenciais a possíveis aumentos
tributários. O que, por sua vez, sinaliza que o déficit público atual não deverá ser
resolvido ainda sob o governo de George W. Bush (cuja assinatura também
consta no abaixo-assinado), já que o total de cortes nos gastos necessários para
se equilibrar o orçamento apenas por esse caminho (ver tabela 5, página 47), sem
ajuda da elevação de receitas, torna essa opção muito pouco provável pela
magnitude dos cortes e do provável desgaste que dele adviria.
O que torna a questão dos déficits ainda mais importante é o fato de que a
geração do Baby Boom está envelhecendo e breve atingirá a idade de receber os
benefícios da Seguridade Social, tornando o número de beneficiários maior que o
de trabalhadores contribuindo, o que pode colocar o sistema em colapso e exigirá
profundos ajustes no mesmo (GOULD, 2003; POLLACK, 2003). Ajustes esses que
consumirão trilhões de dólares e que terão de vir de algum lugar.
E com os déficits públicos cada vez maiores, a perspectiva de gastos
militares igualmente crescentes com as ocupações de Iraque e Afeganistão e a
alternativa do aumento de impostos bloqueada, um teste importante pode estar
chegando à postura republicana atual frente ao Estado caso o partido esteja então
na Casa Branca: de onde virão esses recursos? É possível que quem quer que
seja o líder do partido então finalmente dê razão ao ex-Secretário do Tesouro Paul
O´Neill, quando ele sugeriu que parte dos superávits previstos no início do
governo George W. Bush fossem reservados para os reajustes na previdência, em
vez de gastos na concessão de cortes tributários (ver SUSKIND, 2004). É uma
questão extremamente importante e que tem o potencial de provocar fortes
rearranjos nos dois partidos estadunidenses, como a recessão dos anos 1930 ou
os direitos civis dos anos 1950-60, mas é extremamente difícil, se não impossível,
tentar prever que conseqüências trará efetivamente. O tempo dirá.

57
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