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critica de Marcos César Alves Siqueira sobre o livro GOHN, Maria da Glória. Movimentos Sociais e Redes de Mobilizações Civis no Brasil Contemporâneo. Petrópolis, RJ:
Vozes, 2010.
Titlu original
Critica- Movimentos Sociais e Redes de Mobilização
critica de Marcos César Alves Siqueira sobre o livro GOHN, Maria da Glória. Movimentos Sociais e Redes de Mobilizações Civis no Brasil Contemporâneo. Petrópolis, RJ:
Vozes, 2010.
critica de Marcos César Alves Siqueira sobre o livro GOHN, Maria da Glória. Movimentos Sociais e Redes de Mobilizações Civis no Brasil Contemporâneo. Petrópolis, RJ:
Vozes, 2010.
Sociais e Redes de Mobilizaes Civis no Brasil Contemporneo. Petrpolis, RJ: Vozes, 2010.
Em Movimentos Sociais e Redes de Mobilizaes Civis
no Brasil Contemporneo, Maria da Glria Gohn, professora da Faculdade de Educao da Unicamp e referncia no estudo dos movimentos sociais, realiza, como ela mesma afirma, um mapeamento das principais aes coletivas, organizadas em movimentos, redes de mobilizao ou associaes civis da atualidade. Os dados e o formato inicial do livro originam-se da pesquisa O protagonismo da Sociedade Civil, que teve apoio do CNPq, e do Mapa da rede de instituies e ativos institucionais as redes de movimentos sociais, ONGs, fruns e conselhos. Trata-se, portanto, a obra, de uma sntese de 40 anos de experincia em estudos, pesquisas e reflexes sobre movimentos sociais. O foco do mapeamento so as reas temticas e seus eixos de manifestaes como problemas sociais e a contextualizao desses problemas, sua localizao geogrfica, seus objetivos programticos e caractersticas das suas redes de mobilizao. Mestrando do Programa de Ps-Graduao em Poltica Social, do Departamento de Servio Social da Universidade de Braslia - UnB, e Pesquisador do Ncleo de Estudos e Pesquisas em Poltica Social, do Centro de Estudos Avanados Multidisciplinares da Universidade de Braslia (NEPPOS/CEAM/UnB). E-mail: mcasiqueira@gmail.com
SER Social, Braslia, v. 12, n. 26, p. 234-239, jan./jun. 2010
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Alm disso, so discutidas as categorias analticas mais debatidas
na atualidade - rede e mobilizao social - com seus vrios paradigmas tericos, sem, contudo, consider-las substitutas da categoria movimentos sociais. Com efeito, o livro em apreo, o 15 de autoria individual de Glria Gohn, no se prende a meras listagens, mas apresenta um painel temtico e histrico das organizaes sociais estudadas, conforme suas prprias palavras: imaginem telas de um filme sendo abertas, sequencialmente, descortinando cenrios de sujeitos em movimento (...) A meta perseguida neste desfilar de cenas, cenrios e paisagens a de que se possa fazer um balano das aes coletivas expressas em movimentos sociais que tanto podem ter carter emancipatrio e transformador, como meramente integratrio e conservador (p. 08).
Neste sentido, a autora descreve os problemas detectados de
acordo com as suas linhas temticas, assim como os Movimentos e Organizaes correspondentes, retratando de forma crtica as suas dinmicas, de modo que o retrato seja o mais fiel possvel. Ou melhor, de sorte a garantir que a fotografia produzida no seja apagada, borrada ou inerte, mas que no seja tambm colorida demais, louvatria, com tons propagandsticos (p. 08). Como objetivo final, o livro pretende fomentar o debate sobre os movimentos organizados, voltados para a transformao da realidade social, destacando a dicotomia existente entre os movimentos de emancipao e os de controle social. Contm duas partes ou divises, sendo que, na primeira, realizada uma anlise da conjuntura na qual os movimentos esto inseridos, com destaque para as categorias analticas referentes a essas organizaes. E, na segunda, so descritas as diversas formas de associativismo, organizadas em 10 eixos temticos: 1 Movimentos ao redor da questo urbana; 2 Movimentos em torno da questo SER Social, Braslia, v. 12, n. 26, p. 234-239, jan./jun. 2010
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do meio ambiente: urbano e rural; 3 Movimentos identitrios e
culturais: gnero, etnia e geraes ; 4 Movimentos de demandas na rea dos direitos; 5 Movimentos ao redor da questo da fome; 6 Mobilizaes e movimentos sociais: rea do trabalho; 7 Movimentos decorrentes de questes religiosas; 8 Mobilizaes e movimentos sociais rurais; 9 Movimentos sociais no setor das comunicaes; e 10 Movimentos sociais globais. Na primeira parte so ainda destacados cinco pontos de diferenciao dos movimentos sociais atuais em relao aos do passado, quais sejam: 1 Houve redefinio na sua prpria identidade e na qualificao do tipo de suas aes. Esta mudana est menos focada em pressupostos ideolgicos, como no passado, e mais nos vnculos de integrao com esferas da sociedade, organizadas segundo critrios de cor, raa, gnero, habilidades e capacidades, bem como de conscientizao e gerao de saberes. Alm disso, os movimentos sociais da atualidade, ao atuarem num cenrio contraditrio, em que polticas, programas e projetos podem engess-los, discutem e problematizam a esfera pblica com vista construo de novos modelos organizativos; 2 Os movimentos do passado possuam papel essencialmente universalizante, uma vez que lutavam pelo direito a ter direitos (p. 17). Mas, hoje, o que se busca o reconhecimento e o respeito s diferenas e s demandas e caractersticas particulares, representados pelos movimentos identitrios. Atualmente existe grande variedade de organizaes, articulaes, projetos e experincias, refletindo a ampliao do leque dos movimentos sociais; 3 O prprio Estado est reconfigurando as suas relaes com a sociedade e gradualmente reconhecendo a SER Social, Braslia, v. 12, n. 26, p. 234-239, jan./jun. 2010
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existncia desses novos sujeitos coletivos. No entanto,
conforme Gohn aponta, disso decorre uma inverso de papis: ao estabelecer relaes com os movimentos sociais, o Estado passa a exercer uma influncia poltica de cima para baixo, retirando deles o seu carter poltico e de presso. Em outras palavras, os movimentos sociais passam a sofrer forte influncia e at mesmo controle das estruturas polticas do Estado, que transformam as identidades polticas dos movimentos, e fazem com que a demanda coletiva seja suplantada por uma srie de outras demandas especficas, isoladas e dbeis. E, em decorrncia, o Estado torna-se o nico ponto de integrao e convergncia. 4 Com a alterao do formato das mobilizaes neste milnio e a ampliao dos sujeitos coletivos, os movimentos sociais esto agora dispostos em redes associativas, graas profuso de novas tecnologias de comunicao. Isso decorre tambm do alargamento das fronteiras dos conflitos, como a questo migratria e imigratria e de acesso a recursos estratgicos, como gua, energia, terra, etc. Esses conflitos, por sua vez, deixam de ter somente como eixo os Movimentos Sociais x Estado, e referenciam-se em novos eixos, incluindo corporaes e outros agentes econmicos interessados em tais recursos. 5 Continuam prevalecendo grandes lacunas na produo terica e acadmica acerca dos movimentos sociais, apesar de sua recorrente presena na literatura das Cincias Sociais. Tais lacunas dizem respeito ao prprio conceito de movimento social e englobam: a sua qualificao como novos; a sua distino de outras aes coletivas ou organizaes sociais, como as ONGs; as conseqncias de sua institucionalizao; e o seu SER Social, Braslia, v. 12, n. 26, p. 234-239, jan./jun. 2010
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papel no atual momento histrico. Estas lacunas tm
dificultado o entendimento e o mapeamento corretos da categoria movimentos sociais, a qual se v suplantada pela categoria mobilizao social, que pode ser entendida como simples participao e cooperao muitas vezes induzidas por estruturas polticas externas a ela. Na segunda parte do livro, a autora realizou um mapeamento dos principais atores sociais responsveis pelas aes coletivas, agrupando-os em quatro eixos temticos ou sujeitos: a) Os movimentos sociais (como categoria emprica ou conceitual); b) As ONGs, entidades assistenciais e entidades do chamado Terceiro Setor; c) Os fruns; e d) Os conselhos gestores, programas ou polticas sociais. Desses atores, apenas os conselhos gestores no foram tratados, pois constituram objeto de estudo especfico no livro publicado em 2001, pela prpria autora, e intitulado Conselhos gestores e participao sociopoltica. Nesta parte, Gohn indica as diferenas entre movimentos sociais e aes ou redes de mobilizao civis, salientando que, enquanto os primeiros mobilizam idias, conscincias e demandas, as segundas podem ser organizadas de cima para baixo; ou seja, podem sofrer influncia poltica direta, limitando-se a aes pontuais, de cunho conciliador e no transformador. Mas a autora conclui apontando para a importncia da incluso da categoria mobilizao social (dentro de um contexto de transformao poltica) nas pautas das principais discusses e estudos das Cincias Humanas e Sociais. Alm disso, e seguindo a tnica de toda a obra, refora a importncia de nunca se dissociar o sujeito movimento social do seu contexto histrico, pois a identidade do primeiro surge e se molda no segundo. Para ela, os movimentos sociais so, acima de tudo, entidades capazes de aprender sobre o mundo e sobre si, alterando e revendo suas demandas, propostas e parcerias. SER Social, Braslia, v. 12, n. 26, p. 234-239, jan./jun. 2010
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Entretanto, em que pese a obra conter anlises consistentes
sobre o seu tema central, uma observao merece ser feita quando fala do novo cenrio das polticas pblicas no Brasil. A afirmao de que esse cenrio criou um deslocamento da desigualdade econmica (com nfase na renda) para a social (com nfase nas caractersticas sociais e culturais) pode obscurecer o fato de que a distribuio de renda mnima continua sendo a tbua da salvao para o combate pobreza no pas; e que esse fato explica a implementao de polticas sociais focalizadas na extrema pobreza, em oposio s polticas sociais universais, verdadeiramente pblicas. Todavia, com lucidez que, nesse cenrio, a autora se refere a dois outros deslocamentos a seu ver contraditrios: da questo da desigualdade (que no deve ser tolerada) para as diferenas, ou diversidades (que devem ser respeitadas), e da desigualdade para a equidade. O enfrentamento da complexidade desse cenrio tem, segundo ela, propiciado, de um lado, a atualizao das prticas e reivindicaes das aes coletivas, mas, de outro lado, produzido retrocessos dessas aes para antigas formas clientelistas. Finalmente, cabe registrar que este livro de Maria da Glria Gohn de importncia inconteste tanto para os que desejam ter uma viso ampla dos movimentos sociais do Brasil contemporneo, de suas caractersticas e condicionantes, quanto uma compreenso fundamentada da identidade e da importncia destes sujeitos na construo democrtica. Por tratar de um campo terico ainda carente de estudos e pesquisas, o referido livro ter papel fundamental no preenchimento de lacunas analticas existentes e na catalisao de debates sobre o que se props tematizar.
SER Social, Braslia, v. 12, n. 26, p. 234-239, jan./jun. 2010