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Mauro Souza
Por certo tem sido um dia comum, ordinrio, no muito
diferente dos dias passados. A enxaqueca insisti em no me
deixar sozinho por muito tempo, e ainda tem a festa que
prometi que iria eu disse at breve aos companheiros no
meu trabalho. A expectativa presente aqui e l. Talvez
mais l do que aqui. Veria as mesmas pessoas, ouviria as
mesmas conversas e pouco riria das mesmas anedotas. Um,
dois, trs copos de vinho, msica alta e a Sandra em seu
vestido justo.
Depois que destranquei a porta e chutei os sapatos no canto
do quarto, pensei em jogar o meu corpo na cama. Parecia ser
um plano razovel, e por um segundo me senti livre das
garras sedutoras da festa. Se eu apenas dormisse por um
momento, um momento longo, ningum iria notar a minha
ausncia. Seria uma pessoa sem importncia.
Me desfiz da bolsa tiracolo no corredor. Um cheiro mofo me
envolveu, como se viesse de um quarto que no havia sido
aberto por um longo tempo, mas estava demasiadamente cansado
para investigar. Minha mo apalpou a parede em busca do
interruptor de luz, e algo peludo tocou a minha mo, sem
poder alcanar o interruptor, caminhei na direo contrria.
Quando me dei por mim estava deitado de costas na cama. A
cama era macia, e havia um cobertor muito fino e azul sobre
mim. Olhando para o alto, vi a luz que vinha da velha
cortina da janela do quarto de dormir. Essa estranha
cortina, fora da moda dos dias de hoje, estava amarelada,
tinha um cordo torcido de fios dourados pendurado, com um
n desproporcional amarrado na ponta. Havia uma mancha
familiar na cortina, talvez gua, que mais parecia com uma
cabea de leo que sai de uma rosa, e me sentei na cama com
um suspiro aptico e satisfeito.
Do outro lado do quarto, na parede oposta, esto duas
gravuras com molduras cor-de-rosa, que por vezes olhei sem
me aperceber que estavam l. Em uma est a silhueta de um
gato caricatural vestindo um smoking com um cravo branco na
lapela e um chapu-panam que refletia luz diretamente nos
meus olhos. Na outra, um gato em esquis, usando protetores
de ouvido azuis e sentado em um banco de neve. Quando
criana, eu costumava olhar da minha cama para esses gatosmetade-humanos e os imaginava como parte significativa do