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o u u m l e i t o r c o n s t a n t e e i n t e r e s s a d o da
Revista de História de Biblioteca Nacional há bastante
tempo. Acompanho, sobretudo, as discussões trava-
das na seção Educação. Na condição de leitor e pro-
fessor de História do ensino médio e fundamental,
sinto-me impelido a comentar o artigo “Abaixo o
João Bobão”, escrito a quatro mãos por Luiz Carlos
Villalta e André Pedroso Becho (RHBN n° 28, janei-
ro de 2008).
De modo geral, sempre me causou espanto o cará-
ter prescritivo, repleto de recomendações e regras,
dos textos de Educação. Na área de História, princi-
palmente, esse caráter aparece com a violência e a
Educação 81 JUNHO 2008
L U I Z C A R L O S V I L L A LTA
A N D R É P E D RO S O B E C H O
DIVULGAÇÃO
tados no uso das imagens, não desconsideramos a
utilidade, por exemplo, de uma aquarela de Debret
para confirmar a violência da escravidão. A decodifi-
cação da mensagem veiculada pela aquarela com
certeza é um dos primeiros procedimentos a serem
adotados em sala de aula. Mas se nas primeiras qua-
tro séries da escola fundamental o professor pode
permanecer nessa dimensão com seus alunos, de-
pois disso convém ir além. E foi isso o que quisemos
enfatizar: há professores que estacionam aí.
E ao contrário do professor-leitor, festejamos a
falta relativa de tutela que pode derivar de se pro-
jetar para os alunos uma tela de Debret: que mara-
vilha serão as suas várias falas! Será um Mercado
de Ver-o-Peso fantástico, no qual alunos e professo-
se estivéssemos a espinafrar todos os professores e res avaliam conjuntamente cada hipótese levanta-
sem o cuidado devido. E se estivéssemos a criticá-los da. Isso é uma maravilha! E requer que o professor
todos, do mesmo modo que o professor Maurício faz saiba lidar com a liberalidade, sem tutela.
com a universidade e os acadêmicos? Por que ele se É por acreditar nessa liberdade que jamais po-
julga no direito de fazê-lo, depreciando-nos, em tons deríamos “condenar” o uso de filmes ou minissé-
nem sempre elegantes, e torcendo nossas idéias? ries, como entendeu o leitor. Pelo contrário! O arti-
Além disso, não julgamos inútil a apresentação de go destaca exatamente a riqueza pedagógica que
princípios e procedimentos metodológicos que pos- podem ter esses produtos: “Discussões em sala de
sam beneficiar o trabalho dos professores. Defende- aula e a exibição do filme ‘Carlota Joaquina’ ou de
mos a nossa liberdade de expressar o que considera- capítulos da minissérie ‘O Quinto dos Infernos’
mos ser eficaz e enriquecedor para a prática permitirão identificar o senso comum em voga en-
pedagógica. Mesmo porque esses princípios e proce- tre os alunos, e na sociedade, sobre a presença da
dimentos foram testados em experiências na univer- Corte no Brasil. (...) São testemunhos do tempo em
sidade, em aulas de História do Brasil e de Prática de que foram produzidos, ou seja, década de 90 do sé-
Ensino, e, fora dela, na escola básica. Portanto, caro culo passado, período em que se vivia uma incerte-
colega, nosso artigo realmente tem uma dimensão za econômica, além de pulularem escândalos na vi-
prescritiva, que se alicerça numa longa experiência da pública e privada de políticos, do presidente da
como professores – e não como missionários. República a ministros. Com isso, será possível en-
Insistimos também que os meios de comunica- tender os porquês dos estereótipos”.
ção tratam de forma muito estereotipada o período Viva o bom humor! Fruir e ver criticamente
joanino: aliás, tratavam, pois a comemoração dos “Carlota Joaquina” é sempre um bom exercício. Ao
200 anos da transferência da Corte deu ensejo a pro- mesmo tempo em que reitera os muitos estereóti-
gramas primorosos na TV, inclusive no “Jornal Na- pos que existem sobre o Brasil, o filme esgarça a li-
cional”, e a encartes igualmente de excelente quali- berdade dos historiadores.
dade nos jornais. Deu alento também a textos que, O debate sempre é salutar. Agradecemos ao pro-
embora com uma linguagem acessível e agradável, fessor Maurício pelos comentários, pois a contradi-
vão na contramão do que aponta a historiografia. ção aguça nosso espírito crítico. Que tal, agora,
Logo, a farinha vem de sacos diferentes. A crítica do uma conversa sem armas e sem Quixotes, ainda
professor Maurício, contudo, distorceu nossas pala- que nos domínios do mundo virtual? Estamos à dis-
vras: escrevemos que “os principais meios de comu- posição desde já. H
nicação, como cinema, teatro e televisão, têm con-
tribuído para a produção e difusão desses
LUIZ CARLOS VILLALTA É PROFESSOR DA UFMG E CO-AUTOR
estereótipos”. Não dissemos que todos o fazem! DO ARTIGO “O CINEMA E A HISTÓRIA: REFLEXÕES E RELATOS
Tampouco negamos as contribuições da historio- DE UMA EXPERIÊNCIA DE ENSINO” (IN EDUCAÇÃO EM REVISTA,
grafia desde fins da década de 1970, como o leitor BELO HORIZONTE: FAE/UFMG, V. 41, N. JUN, P. 175-191, 2005).
afirma, nem nos colocamos num suposto pedestal. E ANDRÉ PEDROSO BECHO É MESTRANDO EM HISTÓRIA NA
ao definirmos os procedimentos que devem ser ado- UFMG.