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mundo saturado de
informação
Olhe à sua volta. Preste atenção. O mundo do professor, como você o conhece,
está prestes a mudar. Essa mudança vem acontecendo já há algum tempo, é verdade,
mas agora estamos na eminência dos acontecimentos que vão mudar a sala de
aula para sempre. Mas e o professor? O professor sempre foi o principal agente de
mudanças na sala de aula. Ao contrário do que muitos podem pensar, o professor não
vai desaparecer nesse novo cenário, mas vai ter de se adaptar.
Você pode não acreditar em mim, mas não sou só eu que estou dizendo.
“O professor do meu tempo vai desaparecer. Ele não ficará mais sozinho. Três pessoas
vão elaborar a aula: Aquele que chamamos de professor, alguém que entende de 13
programação para colocar no computador o que o educador quer ensinar, e um
terceiro, da área de telecomunicações, para espalhar isso no mundo”.
“O professor deve estar ciente de que não sabe muita coisa. O que ele aprendeu na
universidade não vale, necessariamente, mais. Por isso, tem que aprender a aprender
de novo! Precisa compreender que o aluno pode estar fazendo coisas que ele não
domina e reconhecer seus limites se não for capaz de usar novas tecnologias. O
professor que não quer usar o computador é como um médico que não quer usar
tomografia computadorizada. O professor TEM que aprender a mexer no computador.”
Como Cristóvam Buarque, também acredito que nessa necessidade, até porque
os computadores estão nas nossas vidas há algum tempo. Essa frase, no entanto, não
seria tão cruel se a realidade do Brasil fosse diferente da que realmente é.
Nosso país, como sabemos, possui um grande déficit educacional. O estudo
Estatísticas dos Professores no Brasil”, produzido pelo Instituto Nacional de Estudos
e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep/MEC), mostrou que 50% dos
estabelecimentos educacionais brasileiros (107 mil ) são escolas rurais, sendo que 28%
não têm nem mesmo eletricidade. Mas eles ainda sofrem de outros problemas como
falta de biblioteca (45%), falta de laboratório de informática (74%) e de laboratórios de
ciências (80%). Alguns números são ainda mais alarmantes: apenas 9% dos professores
têm graduação, sendo que na região norte esse número cai para 1%.
Capacitação de Docentes em Educação a Distância – Módulo II
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Foto - http://www.sxc.hu
Figura 1 – Durante milhares de anos, nosso cérebro pôde comportar uma infinidade de informações,
de todas as áreas do conhecimento. Até bem pouco tempo atrás éramos generalistas, com
conhecimento sobre ciências, filosofia e religião.
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Figura 2 – Atualmente, nosso cérebro se tornou pequeno para o grande volume de informação que vem
sendo produzida continuamente. Estamos sobrecarregados, nos superespecializando em uma área e nos
tornando superficiais em todas as outras.
O professor em um mundo saturado de informação
Figura 3 - “A Escola de Atenas” do artista renascentista italiano Rafael, no Palácio Apostólico do Vaticano. Nela vemos Platão e Aristóteles ao
centro. Hoje em dia ainda ensinamos com aulas teóricas, práticas e descritivas, tal qual os antigos gregos, onde o principal objetivo é a transmissão
da informação.
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Figura 4 - Nos últimos 40.000 anos, desde a época das cavernas, a humanidade produziu cerca de 12 bilhões de
Gigabytes de informação. Nesse período está a invenção do papel (105 dC), da imprensa (1450), do telefone em 1870,
do computador em 1950, da internet em 1960 e da Web em 1993. O volume de informação continua crescendo de
forma exponencial.
Qualquer que seja nosso campo de interesse, o volume de informação dentro dele
é enorme e cabe a pergunta: é útil que mais informações continuem sendo sejam
produzidas?
O professor em um mundo saturado de informação
Foto - http://www.sxc.hu
Figura 5 – Se já era difícil encontrar uma agulha em um palheiro, imaginem em um campo de feno?
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Portanto, o que estamos vivendo hoje é uma era na qual encontrar, filtrar e
organizar a informação tem prioridade em relação a criar a própria informação. E
que o principal critério para essa busca é a relevância da informação para o aluno. É
fundamental que o professor moderno tenha isso em mente. Até porque, como disse
Cristovam Buarque,
“O aluno que navegou à noite pela internet chega na aula, de manhã, sabendo coisas
que o professor desconhece. O ator principal não é mais o professor. São o professor, o
aluno e a mídia. Ele não é mais o dono do saber, nem da informação.”
Essa frase tem várias implicações, mas vamos nos ater à questão do conteúdo. Se
existe informação à vontade, e a internet está facilitando o acesso a ela, o grande
diferencial do professor deveria ser sua capacidade de selecionar e organizar a
informação de acordo com a sua relevância e prioridade.
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Hoje não podemos pensar em encher nosso aluno de informação. Assim
como todos nós, ele está saturado. Pela internet, pelos games, pela televisão, pela
propaganda, pelas ruas (insisto na imagem do cérebro na figura 2). Na nossa primeira
aula, conversaremos sobre o quanto (na verdade o quão pouco) podemos saber sobre
nossos alunos, mas eu já posso adiantar que essa é uma das poucas coisas que podemos
dizer com certeza: jovem ou idoso, pobre ou rico, inteligente ou limitado, nosso aluno
estará saturado de informação!
Está no nosso papel de educadores, portanto, fazer essa interface entre a
informação disponível e o aluno saturado de informação. Em vários momentos
precisaremos achar a agulha para os alunos, mas é nosso papel ensinar nossos alunos a
“encontrarem a agulha”. Essa “agulha” é a informação de que nosso aluno precisa (em
meio ao “palheiro” formado por internet, televisão, revistas e games) para construir
o seu próprio saber.
O professor em um mundo saturado de informação
“Foi quando lhe disseram que o namorado vivia às custas da tal fulana. Edgardina
saltou: “Mentira! Calúnia!” Mas, apesar da reação inicial, muito veemente, a dúvida
ficou. Acabou fazendo, ao bem-amado, uma pergunta frontal:
Capacitação de Docentes em Educação a Distância – Módulo II
Sem saber o quão questionável é índole de Humberto, o leitor deve se ater mais ao
texto do que as suas experiências pessoais. Ainda que a experiência do leitor possa levá-
lo a questionar a capacidade de amar do personagem devido ao seu caráter questionável,
o texto não permite essa interpretação ao dizer categoricamente: “...que, na verdade, era
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seu primeiro e grande amor,...”
Para Rodrigues (2004), o modelo narrativo tem sido preterido por um modelo
dissertativo, onde o foco do texto não é a descrição de eventos e dados, mas as opiniões
e interpretações do autor. Para reverter esse cenário, é importante focar na leitura dos
textos, identificando a ‘intenção do texto’ e separando da ‘intenção do leitor’ (Eco,
2005). Com isso, o autor pode retomar contato com o modelo narrativo e aprimorar
sua capacidade de escrita coesa, precisa e criativa, que por sua vez facilitará a leitura do
texto. No nosso caso, pelo aluno.
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Figura 6 - Tel, celular, computador, televisão, rádio, rua movimentada, crianças chorando… encontrar um lugar adequado para estudar é o
primeiro passo para o aluno conseguir se concentrar na aula. Fotos – http://www.sxc.hu
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Mas não é apenas com conforto que vamos conseguir isso. É importante que
nosso conteúdo seja escolhido pelo professor com base na relevância – se levada a
sério, essa escolha deve poder nos livrar de boa parte dos problemas causados pela
inundação de informação.
Nessa mesma linha, também precisamos saber diferenciar
Figura 7 – Em apenas uma linha, o mecanismo de busca Google (assim como outros que o precederam ou aqueles que
eventualmente o substituirão) coloca à disposição do usuário, mesmo aquele com poucas habilidades com o computador,
virtualmente todo o conhecimento da humanidade.
Finalmente
Em uma aula presencial, o astro é o professor (é verdade que o professor também
pode ser xerife, advogado, conselheiro, carrasco, tudo junto). Ele tem a faca e o queijo
na mão. E também um palco (o tablado), uma platéia cativa e (quase sempre) atenta,
e um arsenal de armas de sedução. Muitos professores têm consciência disso e fazem
uso dessas ferramentas para darem excelentes aulas. Outros, por desconhecimento ou
falta de habilidade, não têm o mesmo sucesso.
A primeira mudança, e possivelmente a maior, pela qual nós professores passamos
quando saímos do universo do ensino presencial para o ensino a distância, é em nós
mesmos: não tem mais tablado, não tem mais quadro negro (ou branco); não podemos
mais transformar aulas em talk-show, não temos mais platéia e nem mais aplauso. O
professor não é mais astro, rei, xerife etc. Mas o professor agora ainda é (e talvez mais
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intensamente ainda) professor! Apesar dessa mudança radical (e da perda relativa
que ela traz, junto a ganhos também notáveis), o professor nem sempre se apercebe
facilmente dela. Se passar muito tempo até que ele se dê conta de que o paradigma
mudou, então o seu papel não será mais de agente dessa mudança. Mesmo assim, ele
terá que se adaptar. O que podemos perceber claramente é que a EAD, junto as novas
tecnologias, propicia uma revolução no ensino, e quem não estiver atento a isso vai
perder o bonde da história. Mas estar atento e se adaptar não é fácil. Nunca foi.
O fato é que o professor não tem mais a faca e o queijo na mão. Ele divide, mais
ainda, a responsabilidade do aprendizado com aluno, e a responsabilidade do ensino
com a tecnologia. Tanto pelo armazenamento do conteúdo como pelas formas de
transmissão. Mas a tecnologia, por si só, pouco ou nada pode fazer pelo aluno. Nem a
quantidade de tecnologia é o grande diferencial para obtenção de resultados. O fator
humano ainda é o recursos mais escasso e mais precioso em qualquer empreitada, e
principalmente na educação.
Dentro dessa concepção, a EAD pode ser considerada como um novo universo
onde você precisará quebrar antigos paradigmas para viver com segurança e eficiência.
Esperamos ajudá-lo nessa transição. Entre, e seja bem vindo!
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Referências Bibliográficas
DE MEIS L; Leta J. 1996. O perfil da ciência brasileira. Editora UFRJ. Rio de Janeiro.
103 pp.
RODRIGUES, Sônia. 2004. Roleplaying game e a pedagogia da imaginação no Brasil.
Editora Bertrand. 210pp.
ECO, Umberto. 2005. Interpretação e Superinterpretação. 2ª edição. Martins Fontes.
São Paulo. 184pp.
BUSH, V. 1945. As we may think. The Atlantic Monthly; 176(1): 101-108
LYMAN, P; VARIAN, HR. 2003. “How Much Information”. Acessado de http:
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