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Sistemas de Informação

Geográfica — Conceitos
Graça Abrantes, 1998
ÍNDICE

1 Natureza da Informação Geográfica *


1.1 Características da informação geográfica *
1.1.1 A "visão dos campos" vs. a "visão dos objectos" *
1.1.2 Características espaciais *
1.1.3 Sistemas de referência espacial *
1.1.4 Dimensionalidade dos objectos espaciais *
1.1.5 Relações espaciais *
1.1.6 Características não espaciais *
1.1.7 Características temporais *
1.1.8 Fontes de informação geográfica *
1.1.9 Aspectos semânticos e normas *
1.2 Características funcionais dos sistemas que incluem dados geográficos
*
1.2.1 Áreas aplicacionais *
1.2.2 Classes de problemas *

2 Suporte computacional de Informação Geográfica *


2.1 Os SIG *
2.1.1 As diversas definições de SIG *
2.2 A evolução histórica dos SIG *
2.3 Funcionalidade genérica *
2.3.1 Classificação taxonómica das operações espaciais *
2.4 Produtos genéricos para suporte de SIG *
2.4.1 Arquitecturas de armazenamento de dados *
2.4.2 Estruturas para armazenamento de dados *
2.4.3 Transacções longas *
2.4.4 Comunicação com outros sistemas computacionais *
2.5 Os SIG e a Internet *
2.6 Interoperabilidade e o OGC *

Anexo A — Classificação taxonómica das operações espaciais *

Referências *
Sistemas de Informação Geográfica —
Conceitos
Os sistemas que suportam informação geográfica integram também, frequentemente, informação
não geográfica textual e numérica. Podem ainda incluir informação audio e imagem. As
características particulares destes sistemas são uma consequência directa da natureza específica
da informação geográfica que suportam devido às áreas de aplicação a que se destinam. Estes
dois aspectos condicionam, nomeadamente, o modo como é realizada a representação
computacional da informação, o tipo de funcionalidade que é genericamente requisito destes
sistemas e o conjunto de técnicas de âmbito computacional mais frequentemente utilizadas na
sua realização.

Assim, este capítulo encontra-se subdividido em duas secções. A secção 1 abordará a natureza
específica da informação geográfica do ponto de vista estrutural e comportamental. O aspecto
estrutural será abordado tal como é mais comum interpretá-lo a partir da observação da
realidade. O aspecto comportamental será apresentado na perspectiva geral das características
funcionais dos sistemas, nomeadamente enumerando as suas principais áreas de aplicação e as
classes de problemas mais características a que se destinam.

Na secção 2 serão caracterizados, numa perspectiva essencialmente tecnológica, diversos tipos


de sistemas para suporte genérico de informação geográfica.

1. Natureza da Informação Geográfica

Embora seja possível caracterizar diversas áreas aplicacionais dos sistemas em causa, é
difícil apresentar um levantamento que se possa considerar exaustivo, pois a utilização
mais generalizada destes sistemas é ainda relativamente recente. Este facto permite
admitir que as actuais aplicações se encontram ainda muito longe de cobrir todas as áreas
possíveis. Por outro lado, as características da informação suportada por estes sistemas,
obtidas a partir da observação do mundo real e objecto de estudo desde há muito tempo,
podem considerar-se o aspecto mais típico e estável destes sistemas. Assim, opta-se por
abordar primeiro, na secção 1.1, o problema da natureza da informação geográfica nas
suas componentes básicas de natureza estrutural, referindo-se também as diversas fontes
de proveniência possíveis e alguns problemas de interpretação relacionados com o
contexto semântico em que essa informação se pode encontrar inserida. Na secção 1.2
serão, então, enumeradas diversas áreas aplicacionais e classes de problemas para que,
actualmente, são criados os sistemas envolvendo informação geográfica.
1.1 Características da informação geográfica
Naturalmente, não existe um modo único de interpretar e descrever a realidade.
Em particular, a realidade geográfica possui um grande número de características
e não é viável representá-las todas num mesmo sistema de informação. Aliás,
qualquer sistema tem apenas capacidade para representar uma dada
conceptualização da realidade. Assim, o conjunto de informações de um sistema
representa apenas uma descrição parcial da realidade, determinada
fundamentalmente tendo em atenção os objectivos a atingir por esse mesmo
sistema. Porém, é possível descrever de um modo muito geral os diversos tipos de
características da informação geográfica.
1.1.1 A "visão dos campos" vs. a "visão dos objectos"
Uma primeira abordagem à conceptualização do mundo geográfico,
baseada no modo como este é actualmente tratado, pode conduzir à
identificação de dois tipos de perspectivas: uma visão do espaço como
sendo composto por campos ou povoado por objectos [Couclelis 92]. Na
primeira perspectiva, o espaço é considerado contínuo e a observação é
feita sobre todos os locais; na segunda, são seleccionados os objectos de
interesse, sendo ignoradas as porções do espaço que não contêm objectos
relevantes (sendo possível dizer-se que, neste caso, o espaço é considerado
discreto). De um modo informal, pode dizer-se que na "visão de campos"
é observado o que ocorre em todos os lugares, enquanto na "visão de
objectos" é observado onde ocorrem todas as coisas [Tomlin 91a].

O debate entre estas duas perspectivas foi inicialmente conduzido apenas


na sua vertente tecnológica, basicamente relacionada com o tipo de
estruturas de dados mais adequado a cada uma delas — raster e vectorial,
respectivamente. Embora importante, esta questão, normalmente, reflecte
apenas condicionalismos de ordem técnica — relacionados com as fontes
da informação ou com limitações técnicas dos produtos utilizados para o
seu processamento — encobrindo outra questão de nível diferente.
Efectivamente, cada uma dessas visões é especialmente adequada a
determinado tipo de problemas, existindo mesmo situações em que é
necessário considerá-las como complementares.

A "visão de campos" é especialmente adequada à interpretação da


realidade geográfica natural, como cobertura do solo, tipos de solo, relevo,
cursos de água ou factores climáticos, a qual é caracterizada por uma
distribuição espacial difusa, isto é, sem contornos rígidos. A observação
das características deste tipo de fenómenos em todos os locais do espaço
deve conduzir a uma representação mais fiel da realidade do que a sua
discretização artificial em objectos, aos quais são atribuídos características
homogéneas e para os quais se tenta fixar um determinado contorno. Por
outro lado, a interpretação de objectos cuja existência resulta de
intervenção humana, como estradas, edifícios ou fronteiras territoriais,
possuindo uma localização geográfica mais definida, adapta-se melhor à
"visão de objectos".

Naturalmente, uma primeira conclusão a retirar da análise desta


classificação dicotómica, das perspectivas de observação da realidade
geográfica, é que existem determinados tipos de informação geográfica
que, por natureza, não possuem uma localização no espaço exacta, sendo
esta definida sempre como um valor apenas aproximado.

Por outro lado, a solução da "visão de campos" para este problema, tal
como foi descrita, é essencialmente teórica. Efectivamente, a observação
do que existe em todos os lugares não é tecnicamente possível e,
actualmente, o que de mais perto se lhe assemelha são as imagens obtidas
por detecção remota e estas, por melhor definição que possuam, não
deixam de ter subjacente a discretização do espaço numa determinada
malha.

Acresce ainda que, as observações segundo a "visão de campos",


conduzindo a volumes elevados de informação, se adaptam apenas a
determinados tipos de processamento — como estatísticas espaciais ou
cálculos de áreas — sendo em muitos outros indispensável identificar e
classificar os objectos espaciais que compõem a realidade.

O termo objecto espacial() é aqui utilizado para referir qualquer tipo de


objecto, entidade ou fenómeno, cujas características relevantes incluem
informação relativa à sua localização na superfície terrestre. Normalmente,
um objecto espacial possui simultaneamente três tipos de características:
espaciais para identificação do local onde se situam, não-espaciais para
descrição das suas propriedades e temporais para a sua localização no
tempo. As características espaciais constituem o aspecto mais específico
dos objectos geográficos. Inevitavelmente, estas características
condicionam decisivamente os requisitos dos sistemas que as pretendem
suportar de um modo adequado.

1.1.2 Características espaciais


Fundamentalmente, existem dois tipos de métodos para identificar os
locais da superfície terrestre: os métodos contínuos e os métodos discretos.

Os métodos contínuos utilizam coordenadas para georreferenciar pontos e


são usados, quer nos casos em que se consideram as três dimensões do
espaço, quer quando se consideram apenas duas dimensões. As
coordenadas podem ser de dois tipos: globais ou do plano — também
designadas, respectivamente, coordenadas absolutas ou relativas. As
coordenadas globais utilizam os conceitos geográficos de latitude e
longitude.

Normalmente, as coordenadas do plano são cartesianas ou polares —


sendo trivial a passagem de um sistema ao outro— e encontram-se
associadas a uma determinada projecção. Uma projecção é um método,
envolvendo transformações matemáticas, pelo qual a superfície terrestre é
representada numa superfície plana. Existem inúmeros tipos de
projecções, que podem ser identificados pelas distorções que evitam,
contudo nenhum é isento desta limitação, sendo a distorção tanto maior
quanto maior for a área representada.

Os métodos discretos permitem georreferenciar pontos indirectamente.


Basicamente, estes métodos utilizam uma chave e uma tabela, que permite
converter a chave em coordenadas. O código postal e os endereços postais
podem ser um exemplo de métodos de georreferenciação deste tipo. Estes
métodos apresentam como vantagem a relativa simplicidade com que pode
ser feito o registo da informação de georreferenciação. Em contrapartida
são métodos que, naturalmente, implicam alguma inexactidão. O conceito
de inexactidão dos dados traduz a diferença existente entre os valores que
são utilizados e os valores reais (ou considerados como tais). Porém, em
algumas aplicações — da área da sociologia, por exemplo — este
problema não diminui a qualidade dos resultados obtidos. Assim, estes
métodos têm sido frequentemente utilizados com sucesso em problemas
como o tratamento espacial de resultados de censos populacionais e de
inquéritos [Aronoff 89].

Os métodos contínuos são os mais utilizados por serem adequados aos


problemas que exigem a integração de dados de diferentes proveniências,
requisito que é comum a muitos dos sistemas actuais. Mesmo nestes
métodos verifica-se sempre o problema da exactidão dos valores das
coordenadas geográficas, podendo afirmar-se que, de um modo geral,
todas as componentes da informação geográfica — espaciais, não-
espaciais e temporais — possuem um grau de inexactidão que lhes é
inerente [Burrough e Frank 95]. Um dos factores limitativos da exactidão
dos dados geográficos é a resolução adoptada para o sistema de medida,
isto é, a distância mínima que pode ser observada. Contudo, exactidão e
precisão são conceitos distintos. Em [Chrisman 91] pode encontrar-se uma
visão geral do problema da exactidão da informação geográfica, suas
origens, formas de controlo e consequências. Fundamentalmente,
relativamente a este problema, é importante reter que o erro é uma
característica indissociável da informação geográfica e, rigorosamente,
deveria ser considerado como uma das dimensões dessa informação. Não
o podendo ser, por razões de ordem prática, o reconhecimento da sua
existência e, sempre que possível, a sua quantificação — por exemplo,
recorrendo a métodos estatísticos — são condições indispensáveis para
garantir a obtenção de resultados confiáveis.

É importante notar que, em algumas situações específicas, este modo de


encarar o erro não é suficiente. Efectivamente, pode suceder que a
informação possua um tal grau de imprecisão inerente que os resultados
sejam demasiado afectados. Alguns destes casos têm vindo a ser tratados
recorrendo a conceitos da teoria dos conjuntos difusos [Klir e Folger 88]
com relativo sucesso. Entre os problemas estudados, podem referir-se as
diversas causas de incerteza dos dados e formas de codificação de erros
em termos estatísticos e como metadados [Dutton 92], a visualização
dinâmica de conjuntos de dados difusos [Fisher 92], a geração e utilização
de metadados na predição da qualidade final dos dados [Hootsmans et al.
92], as técnicas de classificação e visualização de informação difusa
[Leung et al. 92], os procedimentos para criação de overlays de dados
difusos usando estruturas de dados raster ou vectoriais [Edwards 94] e a
modelação formal de dados para representação de objectos difusos
[Molenaar 94].

1.1.3 Sistemas de referência espacial


A interpretação dos valores das coordenadas do plano, utilizadas
maioritariamente nos métodos contínuos, exige o conhecimento do
sistema de referência espacial em que se baseiam esses valores. A
definição de um sistema de referência espacial envolve diversas opções. É
conveniente adoptar um sistema convencional, de forma a garantir uma
mais fácil integração de dados provenientes de diversas fontes. Assim, a
maioria dos países definiu já sistemas de georreferenciação de âmbito
nacional.

Em Portugal, os principais fornecedores de cartografia topográfica e


temática têm utilizado vários sistemas de georreferenciação [IGC 92].

O Sistema Bessel-Bonne (SBB) usa a projecção cartográfica de Bonne do


elipsóide de Bessel, posicionado por meio de um Datum Geodésico
(DtCSJ) situado no vértice Castelo de S. Jorge em Lisboa, num cone
tangente ao paralelo de latitude 39o 40' Norte (aproximadamente a meio de
Portugal); o Ponto Central da Projecção (situado no Centro do Território
Continental) é definido pelo ponto de intersecção deste paralelo e do
meridiano de longitude 8o 7' (WGRW). Para origem das coordenadas
cartográficas foi adoptado o Ponto Central da Projecção, os eixos são
orientados positivamente para Este e Norte. O SBB é utilizado pelo
Instituto Português de Cartografia e Cadastro (IPCC) e pelos Serviços
Geológicos de Portugal.

O Sistema de Hayford-Gauss Antigo (SHGA) usa a projecção cartográfica


de Mercator Transversa, versão Gauss-Kruger, do elipsóide Internacional
(ou de Hayford), posicionado por meio de um Datum geodésico (Dt73)
situado no centro do país (vértice Milriça), num cilindro tangente ao
meridiano de longitude 8o 7' 54,862'' (WGRW); o Ponto Central da
Projecção é definido pelo ponto de intersecção deste meridiano e do
paralelo de latitude 39o 40' Norte. Para origem das coordenadas
cartográficas foi adoptado o Ponto Central da Projecção, os eixos são
orientados positivamente para Este e Norte. O SHGA é utilizado pelo
IPCC.
O terceiro sistema, denominado Sistema Hayford-Gauss Militar (SHGM),
derivou do anterior por aplicação de uma translação da origem das
coordenadas cartográficas para o ponto de coordenadas (-200km, -300km)
no SHGA. O SHGM é utilizado pelo Instituto Geográfico do Exército
(IGE) e pelos fornecedores que usam as cartas do IGE como base, por
exemplo, a Direcção Geral de Florestas (DGF) e o Centro Nacional de
Reconhecimento e Ordenamento Agrário (CNROA).

O Sistema de Hayford-Gauss Moderno (ou Sistema do Datum 73, SHG73)


usa, igualmente, a projecção cartográfica de Gauss-Kruger do elipsóide
Internacional posicionado no Dt73 mas num cilindro tangente ao
meridiano de longitude 8o 7' 53,31'' (WGRW); o Ponto Central da
Projecção é definido pelo ponto de intersecção deste meridiano e do
paralelo de latitude 39o 41' 37,30'' Norte (ponto coincidente com o Dt73).
Para origem das coordenadas cartográficas foi adoptado o ponto de
coordenadas 180,598'' para Oeste e 86,990'' para Norte do Ponto Central
da Projecção, os eixos são orientados positivamente para Este e Norte. O
SHG73 é utilizado pelo IPCC na produção de ortofotomapas.

A projecção Universal Transversa de Mercator usa a projecção


cartográfica de Gauss-Kruger, do elipsóide Internacional entre os paralelos
de latitude 84 o Norte e 80o Sul, posicionado em Potsdam por meio do
Datum Europeu (ED); o Ponto Central da Projecção é definido, em
Portugal, pelo ponto de intersecção do Equador com o meridiano de
longitude 9 o (WGRW). Para origem das coordenadas cartográficas foi
adoptado o ponto obtido por translação de 500Km para Oeste do Ponto
Central da Projecção, os eixos são orientados positivamente para Este e
Norte. Esta projecção é utilizada pela NATO (em colaboração com o IGE)
na produção de Cartas Militares de Portugal. Esta projecção com
diferentes Data é, também, utilizada pelo IPCC e pelo IGE na produção de
cartas da Madeira e Açores.

É possível a conversão de coordenadas entre alguns destes sistemas de


referência recorrendo a funções simples que produzem resultados
aproximados, com erros aceitáveis em função de diferentes escalas. Nesta
situação encontram-se as conversões entre os três sistemas SHG para
escalas iguais ou inferiores a 1/10.000, e entre os sistemas SHG e SBB
para escalas iguais ou inferiores a 1/50.000.

1.1.4 Dimensionalidade dos objectos espaciais


Os métodos de georreferenciação, ao permitirem a definição da
localização geográfica dos objectos, estabelecem simultaneamente a sua
forma geométrica. Classicamente, no espaço a duas dimensões, os
objectos espaciais simples são classificados em três categorias, de acordo
com a sua forma geométrica:
• ponto – geralmente utilizado na representação de objectos de pequenas
dimensões ou do local onde se intersectam linhas;

• linha aberta – definida como um conjunto ordenado de pontos


interligados por segmentos de recta ou por linhas definidas por funções
matemáticas (frequentemente, funções spline) e utilizada na representação
de objectos sem largura suficiente para poderem ser considerados áreas;
por exemplo, estradas, cursos de água, redes de saneamento e utilidade
pública, ou entidades conceptuais como fronteiras territoriais políticas ou
administrativas;

• linha fechada, polígono ou região – definida como um conjunto


ordenado de pontos interligados, em que o primeiro e último ponto
coincidem, e utilizada quase sempre na representação de zonas que
possuem uniformemente uma dada propriedade.

Consideram-se objectos espaciais complexos aqueles cuja localização


geográfica define um conjunto composto de objectos espaciais simples ou
complexos.

A classificação referida considera apenas a dimensão topológica da


observação dos objectos espaciais simples e não a sua forma intrínseca.
Efectivamente, a dimensão topológica observada é, frequentemente,
condicionada pela escala adoptada para a sua representação cartográfica e,
à medida que a escala diminui, os objectos poligonais de menores
dimensões vão sendo sucessivamente reduzidos a pontos ou linhas. O
conceito de escala está associado a representações cartográficas. Neste
sentido, a escala representa o quociente entre uma unidade da carta e a
correspondente distância real, em termos dessa mesma unidade. Assim, as
regiões cuja área ou largura são demasiado pequenas para, na escala
adoptada, serem visualizadas com a sua forma geométrica real são,
respectivamente, reduzidas a pontos ou linhas.

Naturalmente, o conceito de escala não se aplica directamente a


localizações geográficas expressas em termos de coordenadas, por estas
serem, em teoria, valores absolutos. Contudo, na prática, sucede
sistematicamente que a observação do valor de coordenadas geográficas
tem subjacente a adopção de uma determinada escala para a futura
representação cartográfica dos objectos. Acresce ainda que, em muitos
casos, as observações desses valores são efectuadas directamente sobre
cartas ou fotografias aéreas, que se encontram já condicionadas pela escala
utilizada na sua produção. Mas, mesmo as técnicas mais sofisticadas de
recolha de dados — recorrendo a detecção remota ou a um Global
Posisioning System (GPS) — são limitadas, pelo menos, pela resolução
característica de cada uma das suas diversas variantes e este facto
determina, implicitamente, a simplificação da forma geométrica das áreas
de menores dimensões. Por todas estas razões, a forma geométrica
determinada pelas coordenadas geográficas dos objectos espaciais, sendo
um conceito demasiado simplista em termos teóricos, é na prática muito
utilizada e pode-se mesmo considerar como uma característica inerente a
esses objectos.

O conceito de generalização da informação geográfica é frequentemente


associado ao de escala da representação gráfica. Efectivamente, quando é
necessário diminuir a escala de uma carta, é difícil — ou mesmo
impossível — manter o nível de pormenor com que os objectos são
representados. Nestes casos diz-se que se efectuou uma operação de
generalização dos dados. Este tipo de generalização recorre a diversos
tipos de técnicas, por exemplo, diminuição do número de pontos que
definem as linhas, representação de objectos complexos como sendo
objectos simples e, também, redução de áreas a linhas ou pontos.

Contudo, este problema não é específico das representações cartográficas.


O nível de pormenor com que a informação deve ser tratada depende
também dos objectivos a atingir. Em algumas aplicações, e para responder
a uma parte dos seus requisitos, pode ser necessário ignorar as áreas de
medida inferior a um dado valor — o que equivale a transformar os
objectos respectivos em pontos e linhas — ou processar objectos
complexos como um todo, como se de objectos simples se tratassem.
Neste sentido, pode ser necessário que as características espaciais dos
objectos incluam, não só referência à sua localização geográfica tal como
foi observada, mas também uma ou mais representações de generalização.
Em muitos casos, mas nem sempre, as generalizações podem ser obtidas
recorrendo a uma heurística, normalmente definida segundo os diversos
tipos de objectos a processar.

Actualmente, a maior parte dos sistemas são construídos considerando


apenas o espaço bidimensional. Porém, alguns problemas exigem que seja
considerada também a terceira dimensão, vulgarmente designada por
altura. Nos casos mais simples, como os que envolvem apenas a
topografia e o relevo do terreno, a terceira dimensão pode ser tratada como
mais uma característica (não-espacial) dos objectos de tipo ponto,
continuando estes a ser completamente identificados pelas coordenadas
relativas às outras duas dimensões. É vulgar referir que estes sistemas
representam o espaço de dimensão 2,.5. Existem ainda situações em que é
necessário representar volumes. Nestes casos a terceira dimensão faz parte
da identificação única dos pontos; estes sistemas são os que
verdadeiramente representam o espaço tridimensional (ou 3D). Nestes
últimos sistemas, a classificação relativamente à forma geométrica dos
objectos substitui o conceito de polígono pelo de superfícies, planas ou
não planas, e introduz o conceito de volume.
1.1.5 Relações espaciais
Os objectos espaciais relacionam-se de diversos modos no espaço. A
definição formal das relações espaciais exige a adopção de uma
axiomática para o espaço. O espaço geográfico é normalmente
considerado como um espaço Euclidiano. Este tipo de espaço é adequado
à generalidade das situações, particularmente quando as áreas geográficas
a tratar são relativamente pequenas. Neste espaço são usualmente
distinguidos três tipos de relações espaciais: métricas, topológicas e de
ordem parcial ou total (do tipo "em frente", "atrás", "acima" e "em baixo")
[Egenhofer e Franzosa 91].

As relações métricas envolvem o conceito de distância e representam a


proximidade espacial; incluem também o conceito de área ou de ângulo,
este último representando a orientação espacial. O conceito de distância
depende da métrica associada. Embora a métrica Euclidiana se adapte bem
a um número significativo de problemas, em alguns casos há necessidade
de recorrer a outras métricas, como a métrica de Manhatan ou a métrica
definida em função do caminho mais curto. Existem, ainda, problemas em
que não é possível utilizar uma métrica, no sentido matemático do termo.
Nestes casos é frequentemente necessário recorrer a uma matriz de
distâncias — por exemplo, em termos de tempo de percurso ou custo —
para se obterem resultados realísticos.

As relações topológicas podem ser informalmente definidas como sendo


aquelas que não sofrem alteração quando uma carta sofre distorções e
designam relações como "disjuntos", "tocam" e "sobrepõe". A sua
definição formal pode recorrer às operações elementares de conjuntos —
inclusão, intersecção, coincidência, elemento de — ou aos conceitos
clássicos da Topologia [Machado 80] — interior, adjacência, fronteira e
co-fronteira. As primeiras representam interferências espaciais entre
objectos e as segundas a conectividade entre objectos [De Floriani et al.
93].

As definições formais de relações topológicas utilizadas mais


frequentemente na área dos SIG são as propostas em [Egenhofer e
Franzosa 91]. Neste trabalho é demonstrado que entre duas regiões
espaciais só podem ocorrer nove relações topológicas. Por exemplo, a
relação topológica "A e B tocam-se" é definida pela intersecção não vazia
das duas fronteiras de A e B (∂ A∩ ∂ B≠ ∅ ) e pelas intersecções vazias
da fronteira de A e do interior de B (∂ A∩ Bo=∅ ), do interior de A e da
fronteira de B (Ao∩ ∂ B=∅ ), e do interior de A e do interior de B (Ao∩
Bo=∅ ). As definições das outras oito relações topológicas possíveis
podem ser encontradas de uma forma similar, com base nos resultados
(vazio e não vazio) de cada uma das quatro intersecções das fronteiras e
dos interiores de dois conjuntos definidos num espaço topológico e na
verificação da possibilidade de ocorrência de cada uma das combinações
assim definidas.

A definição das relações topológicas recorrendo a relações de ordem em


conjuntos parcialmente ordenados e recticulados [Grä tzer 78] tem
também sido utilizada na investigação de formas eficientes de
processamento da informação geográfica [Kainz et al. 93].

A importância que as relações espaciais revestem, como características


muito distintivas dos SIG, tem atraído a realização de diversos trabalhos
de investigação. Efectivamente, muitas outras abordagens formais têm
sido utilizadas na definição das características espaciais das entidades
geográficas e das suas propriedades [Worboys 92] [Pigot 92] [De Floriani
et al. 93] [Egenhofer et al. 94] [Bertolotto et al. 95] [Puppo e Dettori 95].

Alguns problemas que envolvem informação geográfica, típicos de redes,


não necessitam de recorrer à localização espacial dos objectos, mas apenas
às relações espaciais que se estabelecem entre eles. A criação de sistemas
que ignoram as características relativas à localização espacial precisa dos
objectos é útil, quando apenas se pretende processar informação
qualitativa e não existe informação com referências espaciais adequadas.
Estes sistemas têm sido objecto de estudo relativamente quer à
formalização da estrutura da informação que tratam [Vieu 93] quer aos
algoritmos necessários à sua realização salvaguardando a integridade do
sistema no que respeita à manutenção da coerência da informação
[Hernández 93].

Porém, a maioria dos sistemas tem requisitos relativos a informação


quantitativa e visualização que tornam obrigatória a existência de
referências geográficas. Nestes casos, as relações espaciais podem ser
determinadas recorrendo a algoritmos de computação geométrica ou
baseados em modelos geométricos [Samet 90].

No que respeita a relações espaciais muitos problemas existem ainda em


aberto. Efectivamente, o desenvolvimento de uma teoria sobre relações
espaciais deve dar respostas a questões como, quais as propriedades
geométricas fundamentais dos objectos geográficos necessárias para
descrever as suas relações, de que modo podem estas relações ser
definidas formalmente em termos de propriedades geométricas
fundamentais e qual é o conjunto mínimo de relações espaciais [Abler 87].

Acresce ainda que, para se obter uma teoria sobre relações espaciais com
aplicação em problemas reais, para além dos aspectos puramente
matemáticos, é também necessário considerar aspectos de ordem
cognitiva, linguística e psicológica [NCGIA 89].
1.1.6 Características não espaciais
As características não espaciais da informação geográfica, por vezes
também designadas por temas, são de natureza análoga ao que se encontra
nos Sistemas de Informação convencionais. Classicamente, é classificada
quanto ao tipo como alfanumérica, lógica e numérica inteira ou real.

Com alguma frequência, estas características encontram-se organizadas de


um modo hierárquico. A classificação que por vezes é utilizada para
caracterizar a ocupação dos solos é um exemplo deste tipo de hierarquia:
num primeiro nível são distinguidos os usos urbano e rural. Num segundo
nível, distinguem-se, dentro do tipo urbano, as utilizações públicas, áreas
de habitação de zonas verdes, e dentro do tipo rural, as zonas de floresta,
agrícolas e povoações. Estes subníveis podem ainda ser subdivididos.

1.1.7 Características temporais


A necessidade de incluir na informação geográfica características
temporais tem vindo a fazer-se sentir com crescente relevância [Snodgrass
92]. A necessidade desta componente da informação faz-se sentir em
situações diversas. Como documentação, quanto ao momento em que a
informação foi recolhida, pode constituir uma medida importante da
qualidade dos dados. Como informação imprescindível para a utilização
de alguns modelos que recorrem a taxas de variabilidade por unidade de
tempo, como aqueles que baseiam na análise de séries temporais —
frequentemente utilizada no tratamento das imagens recolhidas por
satélites, nos modelos de previsão e na construção de cenários.

A inclusão das características temporais nos SI tem constituído um


problema difícil. Em primeiro lugar porque na maior parte das áreas não
existe ainda um volume significativo de informação de tipo histórico.
Depois, porque a adição de mais esta característica ainda não simplifica a
percepção, pelo menos visual, da evolução dos fenómenos. Por enquanto
não existe um método para integrar a informação espacial e temporal, e
estas duas e a informação não-espacial, de modo a poder utilizá-las
facilmente, e muito menos a visualizá-las de uma forma perceptível.

Acresce ainda o facto de existirem diversas datas possíveis de ser


consideradas em função dos objectivos do sistema. Efectivamente, só para
citar alguns exemplos já que em [Langran 93] são citados muitos outros,
pode ser relevante a última data em que foi verificada a correcção de um
objecto ou as datas em que o objecto sofreu alterações e um conjunto de
objectos pode ser referido globalmente ou individualmente. Por este
motivo, é também difícil encontrar uma solução geral para o tratamento de
informação temporal.

Os diversos factores mencionados podem explicar por que razão este


problema se encontra ainda por resolver, apesar de ser tão frequentemente
abordado (em [Al-Taha et al. 94] encontram-se listados cerca de 150
artigos e livros sobre o suporte integrado a dados espaciais e temporais).

1.1.8 Fontes de informação geográfica


Muitos aspectos dos dados geográficos suportados por sistemas de
informação, para além de reflectirem a natureza específica da informação
geográfica, encontram-se também condicionados pela respectiva fonte de
proveniência. As fontes de informação geográfica podem ser de tipo
analógico — informação alfanumérica, trabalho de campo, cartas,
fotografia aérea — ou de tipo digital — detecção remota, GPS e Sistemas
de Informação Geográfica. Cada uma destas fontes de dados requer
técnicas distintas para a recolha ou transferência dos dados.

A cartografia tem sido a principal fonte de informação geográfica. Por


carta considera-se uma representação visual de informação espacial,
particularmente se esta é abstracta, generalizada ou esquemática. Segundo
a Associação Cartográfica Internacional, uma carta é uma representação,
normalmente à escala e numa superfície plana, de uma selecção de
características concretas ou abstractas que se situam na superfície terrestre,
ou com ela se encontram relacionadas [Rhind 91].

Geralmente, as cartas são classificadas em dois tipos: cartas topográficas


—representando as linhas limítrofes de características naturais ou criadas
por intervenção humana, como a forma da superfície terrestre e estradas
— e cartas temáticas — utilizadas na representação de conceitos
geográficos tais como a distribuição de densidades populacionais, o clima
e o uso da terra. Esta classificação possui geralmente subjacente a ideia de
que, em relação a cada tema considerado, é sempre possível determinar
uma partição do espaço em que cada região possui um único valor do tema
considerado. No entanto, nem sempre assim sucede. Na fig. 1 encontra-se
representada uma carta cujo tema constitui um exemplo de classificação
que determina regiões possuindo mais do que um valor do tema
considerado [San-Payo e Rolo 97].
fig. 1 - Carta com regiões multivaloradas

A principal condicionante das cartas, como fontes de informação, é que


estas representam uma determinada abstracção da realidade, decidida em
função dos objectivos para os quais a carta é produzida. Efectivamente, a
produção de uma carta requer uma determinada interpretação da realidade
e, por este motivo, retrata-a apenas parcialmente e, frequentemente, de um
modo inexacto. Maioritariamente, as cartas pressupõem, pelo menos, uma
selecção das características a representar (e, consequentemente, a omissão
de outras), a sua classificação em tipos (estradas, rios, vales, montanhas,
edifícios, etc.), a simplificação de algumas formas e o exageramento de
outras. Deste modo, o uso de uma carta, para um objectivo diferente
daquele para que foi produzida e ignorando o tipo de decisões que se lhe
encontram subjacentes, pode conduzir a resultados de qualidade muito
pobre.

As fotografias aéreas — em pares de ortofotomapas — são também fontes


frequentes de informação, quando não existem cartas adequadas. As
fotografias podem considerar-se uma fonte de informação de natureza
semelhante à das cartas, representando simultaneamente informação
topográfica e temática. A sua principal qualidade é que não são produto de
uma determinada interpretação. Assim, esta pode realizar-se em função
dos objectivos a que a informação se destina.
O volume elevado da informação geográfica não permite, normalmente,
que esta possa ser obtida exclusivamente em trabalhos de campo.
Contudo, na maior parte dos casos, a informação proveniente de cartas e
de fotografias necessita ser corrigida ou complementada por trabalhos de
campo, tanto relativamente às suas características espaciais, como não-
espaciais e temporais [Star e Estes 90].

A informação geográfica de carácter económico e social, com base em


censos e inquéritos, é normalmente fornecida sob a forma de tabelas —
recorrendo a um método de georreferenciação discreto — e constitui
tipicamente uma fonte de informação alfanumérica.

Actualmente, os dados recolhidos por detecção remota a partir de satélites


constituem a fonte de maior volume de informação. Os trabalhos de
investigação presentemente em curso, com vista ao reconhecimento
automático de padrões — recorrendo, por exemplo, a técnicas de
inteligência artificial e ao contributo de bases de conhecimentos — podem
vir a desempenhar um papel determinante na transformação eficiente da
informação vinda de satélites em informação útil.

A combinação do uso em trabalhos de campo de GPS (baseados em


satélites ou de sistema dual) para identificação de localizações geográficas
e de dataloggers ou computadores portáteis programados para recolha de
informação não-espacial e temporal é presentemente uma importante fonte
de informação geográfica fidedigna e relativamente eficiente. Em 1995,
43% dos utilizadores inquiridos mencionaram recorrer a GPS em muitas
das suas actividades de recolha de dados [Rajani 96].

Finalmente, é possível adquirir informação geográfica em formato digital


a partir de sistemas de informação com dados geográficos. O problema da
transferência de informação entre sistemas diferentes tem sido objecto de
estudo, quer relativamente a formatos de codificação, quer relativamente a
problemas de natureza semântica idênticos aos que foram referidos para a
cartografia [Guptill 91] [Fegeas et al. 92] [Abrantes 93]. Presentemente,
na maior parte dos países, existem diversos organismos oficiais que se
podem considerar produtores de informação geográfica de carácter
genérico — como topografia de base, meteorologia e geologia.

1.1.9 Aspectos semânticos e normas


A descrição que foi feita dos vários tipos de características da informação geográfica, reflecte a
enorme diversidade de aspectos que a realidade geográfica pode revestir —incluindo as
diferentes semânticas que as associações de tipo espacial podem assumir. Da impossibilidade de
encontrar um modo único de a interpretar e descrever resulta a necessidade de optar por uma
representação simplificada da realidade que seja adequada aos objectivos em causa — tarefa que
normalmente se designa por construção do modelo conceptual do sistema.
O mesmo sucede com a informação em geral. Contudo, no campo dos SI com dados geográficos,
este facto tem assumido consequências especialmente graves. Regra geral, a recolha destes dados
constitui a tarefa mais dispendiosa do desenvolvimento de um sistema, constituindo
frequentemente um impedimento à sua criação. Por este motivo, o estudo de condições, métodos
e técnicas que possibilitem a reutilização de dados geográficos em formato digital tem
constituído um objectivo importante de investigação.

Para que esta possibilidade se torne real, não basta conseguir transferir dados entre diferentes
sistemas. Actualmente, os inúmeros formatos utilizados na codificação da informação geográfica
podem ainda, por vezes, constituir um problema mas existe já um conjunto de formatos de
codificação para informação geográfica — DXF, ERDAS e ARC, entre muitos outros — para os
quais a maior parte dos produtos comerciais para SIG possuem conversores. Contudo, conhecer a
descrição da componente relativa à localização espacial de um objecto tem pouca utilidade, se
não se compreender bem o que está a ser descrito. O que significam realmente os termos
"floresta", "área residencial" ou "ponte"? É difícil ter a certeza de que as definições e
especificações utilizadas pelos produtores da informação coincidem com as interpretações que
dela fazem os utilizadores [Guptill 91].

A resolução deste tipo de problemas passa pela definição da meta-informação (metadata) que
deve ser incluída no SI. O termo meta-informação designa, por exemplo, informação
complementar sobre práticas de codificação, regras de decisão relativas a representação de
características espaciais, definição de características não-espaciais e respectivos valores, critérios
e procedimentos para demarcações de localizações espaciais [Laurini e Thompson 92]. Ainda
segundo estes autores, a inclusão de meta-informação tem como objectivos prioritários servir de
base à manutenção da integridade semântica dos sistemas, permitir a integridade da codificação e
constituir informação suplementar que forneça contexto. Assim, um SI contendo dados espaciais
deve incluir dados tais como:

• definições de entidades;
• definições de atributos;
• explicações para as medidas dos atributos ou das práticas de codificação;
• explicações para codificações com cores falsas em mapas baseados em imagens de detecção
remota;
• regras para delimitação de entidades no espaço;
• referências às fontes dos dados, respectiva qualidade e data;
• explicações para valores em falta e inadequação de medidas;
• qualquer outra informação que forneça explicações claras sobre os dados.
Na sequência deste tipo de preocupações, a criação de normas para transferência de dados entre
diferentes SI tem sido objecto de trabalhos diversos em vários países. Em particular, várias
entidades — como o US Geological Survey, o Institute Géographique National em França ou o
Landesvermessungamt Nordrhein-Westfalen na Alemanha —responsáveis pela produção de
grandes volumes de dados geográficos, na área normalmente designada por cartografia de base,
têm adoptado normas, criadas especialmente para o seu caso específico. Estas visam
essencialmente explicitar de modo inequívoco o significado dos dados, definindo o significado
de termos como floresta ou estrada principal, o domínio de valores que os diferentes tipos de
dados podem tomar, e ainda o significado de cada um deles. Incluem ainda especificações
relativas ao modo como deve ser representada a informação num modelo de dados e como deve
ser indicada a respectiva data de recolha.

A existência de uma norma geral possibilita, como vantagem adicional, que se realizem todos as
transferências de dados recorrendo a um conversor único para traduzir os dados de um sistema
para o formato normalizado e para receber dados que lhe sejam fornecidos nesse formato.
Contudo, não se pretende aqui analisar o problema geral da normalização e de outras soluções
para a transferência de dados entre sistemas diferentes. Em [Guptill 91] este assunto é analisado
em pormenor. Em particular, é referida a dificuldade que reveste criar uma norma que seja,
simultaneamente, uniforme (uma característica indissociável de qualquer norma) e
suficientemente flexível para suportar todos os modelos de dados necessários.

O Spatial Data Transfer Standard (SDTS) [NIST 92], aprovado em Julho de 1992 como Federal
Information Processing Standard (FIPS) Publication 173, constitui um exemplo de um conjunto
de normas gerais para transferência de informação espacial em diversos formatos entre diferentes
sistemas computacionais. As secções iniciais daquele documento são dedicadas ao problema da
criação de um modelo conceptual e lógico de dados espaciais na perspectiva da transferência de
dados e, também, como recomendações para a criação de futuros SI com dados geográficos. O
SDTS destina-se a possibilitar a transferência das várias estruturas de dados utilizadas nas áreas
das ciências espaciais. Estas incluem a cartografia, geografia, geologia e outras ciências afins. O
SDTS é actualmente suportado por alguns produtos como o ARC/INFO e o MGE.

A adopção de princípios deste tipo pode contribuir para que se efective uma correcta reutilização
da informação espacial e, simultaneamente, possibilitar a integração de informação proveniente
de diversas fontes. Deste modo, pode ainda contribuir para resolver o problema da integração dos
SI com dados geográficos na estratégia mais geral de construção de bases de dados de qualquer
organização [Rhind et al. 88].

1.2 Características funcionais dos sistemas que incluem dados geográficos


As características comportamentais dos objectos espaciais são inúmeras e diversas. Também
neste aspecto um sistema de informação pode apenas representar parcialmente o comportamento
real, distinguindo apenas os aspectos relevantes para os objectivos definidos. Uma enumeração
sucinta das áreas aplicacionais mais frequentes dos SI com dados geográficos pode dar uma ideia
da diversidade de características comportamentais que os objectos espaciais podem revestir.
1.2.1 Áreas aplicacionais
Actualmente, podem distinguir-se quatro grande grupos aplicacionais onde os SI com dados
geográficos têm frequentemente revelado excelentes resultados práticos:

1. Aplicações baseadas em redes de ruas para


1. pesquisa de endereços
2. controlo e gestão de tráfego
3. análise de localizações e selecção de locais
4. desenvolvimento de planos de evacuação
2. Aplicações envolvendo recursos naturais para
1. gestão de florestas
2. análise de habitats naturais e planeamento de vias de migração
3. preservação de rios
4. gestão de recursos para recreio
5. gestão de aquíferos
6. gestão dos leitos de cheias
7. preservação de áreas húmidas
8. gestão de terras agrícolas
9. modelação de aquíferos e dispersão de poluentes
10. análises de impacto ambiental
11. análise de visibilidade
3. Aplicações baseadas em parcelas de terreno para
1. planeamento de zonagem e subdivisão de terrenos
2. aquisição de terrenos
3. verificação de impactos ambientais
4. gestão da qualidade das águas
5. manutenção de registos de propriedade
4. Aplicações para gestão de infra-estruturas envolvendo
1. localização subterrânea de canalizações e cabos
2. distribuição de cargas em redes eléctricas
3. planeamento da manutenção de infra-estruturas
4. monitorização do uso de energia
5. gestão e controlo de telecomunicações

Os sistemas que suportam as 3 dimensões do espaço têm vindo a ser


utilizados para planeamento e gestão de empreendimentos tais como
minas, pedreiras, barragens e reservatórios, na realização de explorações
geológicas e em estudos científicos de processos que ocorrem a 3
dimensões, tais como as correntes marítimas e outros fenómenos
oceanográficos.

1.2.2 Classes de problemas


Da diversidade de áreas aplicacionais dos SI com dados geográficos resulta a inviabilidade de
um levantamento exaustivo das classes de problemas a que estes sistemas se aplicam. Contudo, é
possível identificar e caracterizar de um modo geral classes de problemas, envolvendo questões
genericamente denominadas de análise espacial, cuja solução pode basear-se no recurso a um SI
com dados geográficos. Fundamentalmente, estas classes de problemas envolvem relações
métricas, baseadas no conceito de distância ou de área, a manipulação de características não-
espaciais, por generalização ou recurso a operações de overlay, e relações topológicas definidas
numa rede.

1. Problemas envolvendo o conceito de distância — cálculo da distância


entre dois pontos recorrendo a uma métrica pré-definida, geração de
buffers (determinação de áreas cujos pontos se encontram a uma dada
distância de objecto determinado).
2. Problemas envolvendo o conceito de área — cálculo da área de cada um
dos diversos polígonos que constituem uma dada imagem. Esta operação
pode envolver outra, menos trivial, que consiste na identificação de qual o
conjunto de pontos que constitui cada um dos polígonos. Esta operação
pode ainda dar origem a uma outra, designada remoção de polígonos sliver
- polígonos devidos a imprecisões dos dados.
3. Problemas de generalização sobre um conjunto de atributos
frequentemente envolvendo também operações de reclassificação. O
objectivo deste tipo de operações é a modificação do número de atributos,
que caracterizam os vários objectos, ou a diminuição do número de
valores possíveis de determinadas características. O exemplo mais
frequente deste tipo de operação consiste na transformação do conjunto de
valores que uma dada característica pode tomar. Efectivamente, no caso
desta poder tomar um número grande de valores, por ser do tipo numérico
ou mesmo porque inicialmente lhe foi atribuído um tipo enumerado com
demasiados valores, pode ser necessário, para o tipo de análise que se
pretende realizar, tomar para contradomínio um conjunto de cardinalidade
inferior, quer por definição de classes de intervalo para os tipos
numéricos, quer por agregação de valores no caso dos tipos enumerados.
4. Problemas de classificação de áreas resolvidos recorrendo a operações de
overlay. Estas operações são provavelmente as mais utilizadas dadas as
suas enormes potencialidades. A execução de um overlay consiste na
criação de um conjunto de objectos poligonais a partir de dois outros. Por
intersecção dos polígonos, pertencentes aos conjuntos originais, são
determinados novos polígonos, cujos valores das características não-
espaciais são definidos por uma função — de tipo lógico, aritmético ou
expressa em termos de operações da Álgebra dos Conjuntos.
5. Problemas envolvendo relações topológicas definidas numa rede —
envolvendo essencialmente o conceito de conectividade para definição de
caminhos na rede, compostos por linhas com nós comuns. Estes problemas
são típicos de aplicações envolvendo redes de comunicações. Em alguns
destes casos, frequentemente relacionados com a existência de fontes de
emissão e receptores, é apenas relevante a determinação de caminhos entre
2 pontos ou a constatação da sua ausência. Noutros casos, característicos
da área da Investigação Operacional, é também relevante o cálculo do
comprimento de caminhos para resolução de questões baseadas no
"problema do caixeiro viajante" ou numa das suas variantes e
generalizações.

2. Suporte computacional de Informação Geográfica


As características especiais da Informação Geográfica conduziram à criação de sistemas
de informação que constituem uma classe com diversas particularidades.

A estrutura da Informação Geográfica, os requisitos de visualização associados, a


funcionalidade exigida pela maioria das suas áreas de aplicação e o recurso a periféricos
específicos conduziu, de uma forma natural, à criação de um tipo de ambiente
computacional especialmente vocacionado para o seu suporte.
Na subsecção 2.1 será apresentado o conceito de Sistema de Informação Geográfica
adoptado no contexto deste trabalho. Dado que, presentemente, não existe um consenso
relativamente à definição do termo SIG serão também apresentadas outras definições
muito divulgadas.

A compreensão de muitas das características que os SIG actualmente exibem é facilitada


pelo conhecimento da sua evolução ao longo das últimas três décadas. Assim, na
subsecção 2.2 será descrita a sua evolução de um ponto de vista histórico.

O tipo de funcionalidade requerida pelos SIG é um aspecto distintivo destes sistemas e


que contribui decisivamente para a necessidade de utilizar ferramentas computacionais
especialmente vocacionadas para o seu suporte. Na subsecção 2.3 serão identificados os
aspectos de funcionalidade dos SIG que se considera que mais contribuem para a
necessidade de recurso a tecnologia específica.

Finalmente, a subsecção 2.4 é dedicada à descrição genérica das principais características


particulares dos produtos vocacionados para o suporte de SIG mais divulgados.

2.1 Os SIG
O termo Sistema de Informação Geográfica (SIG) tem sido objecto de várias
definições por parte de diferentes autores. De uma forma muito geral pode dizer-
se que o termo SIG é utilizado, fundamentalmente, com dois sentidos distintos.

Efectivamente, o termo SIG tem sido utilizado tanto para referir genericamente
um sistema de informação que contempla características relativas a localizações
espaciais, como para referir um tipo determinado de produtos comerciais,
especialmente vocacionados para a realização de sistemas que envolvem dados
representando localizações geográficas.

Pela mesma razão que é importante distinguir o conceito de Sistema de


Informação (SI) e de Sistema Gestor de Base de Dados (SGBD), também o
conceito de SI incluindo dados relativos a características espaciais de entidades
georreferenciadas deve ser distinguido do conceito de produto tecnológico
vocacionado para a sua realização. Aqui, opta-se por empregar o termo SIG com
o significado indicado em primeiro lugar. Dado que se irão referir os SIG na
perspectiva da sua informatização, as ferramentas utilizadas no seu
desenvolvimento serão consideradas apenas como uma das suas componentes.

Mesmo no sentido aqui adoptado, os SIG são objecto de diferentes interpretações.


Assim, na secção seguinte opta-se por uma determinada definição de SIG,
enquanto se referem outras definições encontradas na literatura sobre este tema.

2.1.1 As diversas definições de SIG


Dá-se o nome de sistema a um grupo de entidades e actividades
relacionadas entre si que interactuam para atingir um objectivo comum.
O termo Sistema de Informação designa um conjunto de processos,
executado sobre dados, de modo a produzir informação. Conjuntos de
dados que incluam referências a localizações no espaço podem ser
classificados como informação geográfica.

Neste contexto adopta-se a definição de SIG proposta em [Cowen 91]. Um


SIG é um sistema constituído por hardware, software e procedimentos,
construído para suportar a captura, gestão, manipulação, análise,
modelação e visualização de informação referenciada no espaço, com o
objectivo de resolver problemas complexos de planeamento e gestão que
envolvem a realização de operações espaciais.

O termo análise espacial designa o conjunto de métodos analíticos que se


baseiam na informação relativa à localização no espaço dos objectos,
eventualmente em conjunto com outros tipos de informação.

Assim, genericamente, um SIG compõe-se de quatro elementos:


hardware, software, informação e recursos humanos.

Actualmente, a componente hardware pode ser qualquer tipo de


plataforma (desde PC ou workstation até minicomputador ou mainframe).
Os sistemas operativos podem também ser variados. O GIS Industry
Survey de 1995 revelou uma forte predominância dos sistemas Windows,
DOS e UNIX, 52% dos produtos recenseados podem ser utilizados com os
dois primeiros e 44% com o terceiro; imediatamente a seguir coloca-se o
Windows NT (24%) [Rajani 96]. São ainda requisitos essenciais alguns
periféricos para entrada e saída de dados gráficos (por exemplo, scanner,
mesa digitalizadora, plotter, impressora a cores e monitores gráficos).

A componente de software é constituída, normalmente, por um produto


comercial específico para o suporte de informação geográfica e,
opcionalmente, por um SGBD relacional, de entre os vários sistemas
relacionais actualmente disponíveis. Na maior parte dos casos, desta
componente fazem ainda parte programas escritos numa linguagem de
programação convencional ou própria do sistema de suporte dos dados
geográficos.

O elemento informação constitui em muitos aspectos o recurso crucial.


Naturalmente, as características particulares da informação geográfica, já
abordadas anteriormente, condicionam de uma forma determinante parte
das particularidades das outras componentes dos SIG.

Finalmente, os recursos humanos são um elemento fundamental que não


pode ser ignorado. Por ser uma área relativamente recente, a falta de
técnicos e especialistas é frequentemente uma limitação à criação de SIG.
A importância de serem aumentados os esforços na educação, nas diversas
disciplinas envolvidas, é um factor que frequentemente é citado como
sendo decisivo para que os SIG possam constituir a solução mais natural
para problemas existentes em diversos campos [Aangeenbrug 92] [Masser
96] [Frank 97] [Kemp et al. 97].

Os SIG têm sido objecto de variadas definições. Alguns autores baseiam-


se nas características tecnológicas e na funcionalidade genérica destes
sistemas para os distinguir de outros tipos de sistemas. Assim, por
exemplo, em [Burrough 86], um SIG é definido como sendo um conjunto
potente de ferramentas para recolher, armazenar, aceder, transformar e
visualizar dados espaciais do mundo real. Esta definição caracteriza de
uma forma genérica os produtos que se destinam ao suporte de aplicações
envolvendo dados geográficos.

Uma definição lata de SIG, não distinguindo sequer se o sistema se


encontra automatizado ou não, é dada em [Aronoff 89]: um SIG tem por
objectivo a recolha, o armazenamento e a análise de objectos e fenómenos,
cuja localização geográfica constitui uma característica importante ou é
crítica para a análise.

Alguns autores definem SIG privilegiando determinadas características.


Nestes casos podem distinguir-se, fundamentalmente, três tipos diferentes
de perspectivas: a visão baseada em mapas, em bases de dados e na análise
espacial [Maguire 91]. Segundo este autor, a primeira perspectiva encara
os SIG como sistemas para processamento e visualização de mapas
[Tomlin 91b]. A segunda enfatiza a importância dos SIG terem subjacente
uma base de dados bem desenhada e possuírem um SGBD potente [Frank
88]. A terceira distingue a capacidade dos SIG para efectuarem análise
espacial, defendendo a existência de uma ciência da informação espacial
em alternativa à perspectiva tecnológica com que geralmente os SIG são
abordados [Openshaw 91] [Goodchild 92] .

Estas três perspectivas, mais do que traduzirem conceitos distintos,


reflectem essencialmente diferentes aplicações dos SIG e interesses
diversos dos seus muitos utilizadores. Frequentemente, um mesmo SIG
deve servir simultaneamente diferentes objectivos e vários tipos de
utilizadores.

Os LIS (Land Information System) são sistemas que se podem considerar


como um caso particular de SIG cujo principal objectivo é o
processamento específico inerente à informação sobre propriedade de
parcelas de terreno, geralmente conhecida como cadastro de propriedades.
Estes sistemas caracterizam-se por utilizar escalas grandes e por conterem
dados sobre os direitos de propriedade de cada parcela de terreno,
conjuntamente com a informação sobre os recursos e utilizações que lhe
correspondem.
Também os sistemas de Automated Mapping and Facility Management
(AM/FM) especialmente adequados a problemas de gestão e planeamento
de redes de infra-estruturas, que envolvem diversos tipos de entidades com
várias características e em que as relações topológicas e a produção de
cartas desempenham um papel fundamental, se podem considerar um caso
especial de SIG.

2.2 A evolução histórica dos SIG


"A recolha de informações sobre a distribuição espacial de propriedades
significativas da superfície da Terra constitui, desde há muito, uma parte
importante das actividades das sociedades organizadas." [Burrough 86]

Efectivamente, a informação geográfica, organizada por temas, tem sido


tradicionalmente apresentada sob a forma de mapas, desde as mais antigas
civilizações. Recorrendo apenas a processos manuais, foi possível representar em
folhas de papel o resultado das observações efectuadas sobre algumas
características da superfície terrestre. Estas eram representadas por meio de
pontos, linhas e áreas aos quais eram associados símbolos, cores e padrões, cujo
significado era explicado numa legenda ou num texto. Com base neste tipo de
mapas era possível realizar alguns tipos de análise. As primeiras operações de
análise efectuadas tinham um carácter essencialmente qualitativo, já que se
baseavam na mera observação visual e na intuição de quem efectuava a análise.
Nos mapas baseados numa escala era também possível realizar algumas operações
de análise quantitativa, basicamente relativas ao cálculo de distâncias e áreas.

Contudo, a utilidade dos mapas desenhados manualmente é limitada por diversos


factores. Um factor importante é o pouco detalhe que a generalidade dos mapas
desse tipo possui; o custo de produção dos mapas desenhados manualmente leva à
adopção preferencial de uma escala pequena e, consequentemente, à
representação da informação com um nível elevado de generalização.
Paralelamente, estes mapas rapidamente se encontram desactualizados; as
alterações da realidade são frequentes e é impossível redesenhar a totalidade de
um mapa sempre que tal sucede. Finalmente, as operações de análise espacial
envolvendo diferentes temas é difícil; apenas teoricamente é possível efectuar
manualmente a análise do resultado da combinação de mapas relativos a temas
diversos, na prática tal só é possível para volumes pequenos de informação.

O recurso a meios computacionais para suporte de informação espacial iniciou-se


no princípio da década de 60, com a codificação digital da informação que,
tradicionalmente, apenas era representada sob a forma de mapas. Contudo, só os
avanços no campo da tecnologia informática alcançados no início da década de
70, particularmente os relacionados com o acesso directo a discos, permitiram
obter resultados significativos. Posteriormente, o enorme aumento de eficiência
do processamento computacional permitiu o recurso a diversos tipos de análise
espacial.
É possível distinguir quatro fases distintas na evolução dos SIG [Coppock e Rhind
91]. Estas sobrepuseram-se no tempo já que ocorreram em momentos diversos
nos diferentes países. Existem factores que podem explicar tais diferenças, como
por exemplo as diferentes atitudes por parte dos detentores da informação
geográfica e os diferentes papéis assumidos pelos Estados.

A primeira fase desenrolou-se entre o início da década de 60 e meados de 70.


Nela predominaram contribuições individuais por parte de diversas
personalidades. A segunda fase, que durou até ao início da década de 80,
caracterizou-se pela realização de diversas experiências desenvolvidas e
promovidas por organismos oficiais; as experiências e acções locais efectuaram-
se de um modo muito independente e a duplicação de esforços foi frequente. Na
terceira fase, até finais de 80, predominou a actividade comercial. Na quarta e
actual fase, a preocupação dominante centra-se nos utilizadores. Esta perspectiva
é facilitada pela grande concorrência existente entre os numerosos vendedores de
produtos destinados à realização de SIG e a preocupação crescente relativamente
à normalização dos sistemas abertos. Seguramente, para tal contribuem também
os consensos que se vão obtendo entre os utilizadores sobre o que deve ser e
como deve comportar-se um SIG.

Os primeiros sistemas que foram desenvolvidos tinham como objectivos


prioritários a produção automática de cartografia — conquanto na época, tal como
agora, apenas fosse possível uma produção assistida por computador — relativa a
temas da responsabilidade de alguns organismos oficiais dos EUA (como por
exemplo, o U. S. Census Bureau). A esta abordagem, de mera substituição do
trabalho manual por procedimentos automáticos, contrapôs-se a iniciativa de
algumas Universidades. Nestas, a investigação dirigia-se principalmente no
sentido da produção rápida de mapas, sem preocupações determinantes
relativamente à sua qualidade e essencialmente para visualizar o resultado de
modelações ou dados de arquivos grandes — como as tabelas de census, por
exemplo — de modo a poder realizar-se alguma análise dos dados por meio do
estabelecimento de relacionamentos entre diversos parâmetros. Neste campo pode
distinguir-se o trabalho de Fisher e do seu grupo de colaboradores que em 1967,
no Laboratory for Computer Graphics da Graduate School of Design da
Universidade de Harvard, iniciaram a distribuição do SYMAP, o primeiro
produto para processamento de mapas desse tipo, que foi largamente distribuído e
adoptado para tipos diversos de aplicações.

O CGIS (Canada Geographic Information System), cujo desenvolvimento se


iniciou em 1966 sob responsabilidade de R.F. Tomlinson, é frequentemente citado
como tendo sido o primeiro verdadeiro SIG, possibilitando não só a produção de
cartografia como a realização de algumas operações de análise espacial. Este
sistema tem vindo a operar ininterruptamente desde finais da década de 60 (tendo
sido desenvolvido a partir de um projecto para classificar e inventariar todas as
possíveis utilizações agrícolas do solo considerado produtivo do Canadá, sofreu
desde essa altura inúmeras alterações e actualmente constitui apenas uma das
componentes de um grupo integrado de sistemas de informação geográfica
computadorizado, o Canada Land Data Systems).

A utilização deste tipo de sistemas, permitindo interpretar os dados segundo


diferentes perspectivas, possibilitou uma visão melhor da informação, bem como
formas novas de proceder e de apresentar resultados. O sucesso obtido deveu-se,
em grande parte, ao poder das representações no espaço para sugerir causas,
explicações e relações.

Os primeiros SIG foram construídos directamente sobre o sistema operativo


recorrendo a compiladores e destinavam-se a responder a requisitos específicos.
Muitos deles foram implementados em ambientes de investigação utilizando o
que se pode classificar, informalmente, como pequenas bases de dados. O facto
destes sistemas permitirem que, com facilidade, se pudesse actualizar a
informação geográfica, visualizá-la e realizar diversos tipos de análise conduziu a
que os SIG se tivessem tornado ferramentas essenciais de ajuda à tomada de
decisões, sendo utilizados na construção de cenários alternativos que podiam ser
refinados progressivamente e com custos relativamente baixos.

Estas características dos SIG justificam que, durante algum tempo, eles fossem
utilizados essencialmente como auxiliares na investigação científica, sobretudo
quando as tomadas de decisão assumiam carácter relevante. Os primeiros sistemas
surgiram para auxiliar a resolução de problemas de planeamento e controlo de
zonas agrícolas, em especial florestas, aproveitamento de solos, gestão de redes
hídricas e exploração mineira. Outras áreas de aplicação se poderiam ainda citar
como a sociologia e a economia.

Aos primeiros sucessos obtidos na utilização de SIG, seguiu-se a disponibilização


de produtos comerciais especialmente desenvolvidos para o seu suporte, tentando
responder de uma forma genérica aos requisitos dos mais variados tipos de
aplicações que envolvem informação geográfica. Os produtos comerciais para
suporte de SIG têm vindo a sofrer sucessivos aperfeiçoamentos, não só com o
objectivo de melhorarem a sua eficiência, mas também para incorporarem novas
técnicas de processamento de dados.

Nos primeiros sistemas desenvolvidos, requisitos como a segurança e integridade


da informação não eram considerados relevantes. Do desenvolvimento de
variadas aplicações resultou um crescimento enorme do volume de informação,
transformando requisitos inicialmente sem importância em factores decisivos de
sucesso. Por esta razão, o sistema gestor de uma base de dados constitui uma
componente fundamental de um grande número de SIG. Alguns produtos para
suporte de SIG caracterizam-se mesmo pelo modo especialmente eficaz de
suportarem esta componente.

Actualmente, os SIG são utilizados como ferramentas de análise geográfica, por


excelência, já que permitem a integração de grandes volumes de informação
espacial e de outros tipos num mesmo sistema e o seu tratamento conjunto. Esta
integração tornou-se possível como resultado da convergência de várias
disciplinas e técnicas tradicionais. Dentre estas podem citar-se como
especialmente relevantes a Geografia, Cartografia, Fotogrametria, Detecção
Remota, Agrimensão, Geodesia, Engenharia Civil, Matemática, Estatística,
Investigação Operacional, Informática, e dentro desta as áreas de CAD,
Computação Gráfica, SGBD (Sistemas Gestores de Bases de Dados), Redes e
Inteligência Artificial.

Hoje em dia, a realização de um SIG faz-se, regra geral, sobre um produto


comercial específico para este tipo de aplicações. Em 1988 eram conhecidas 37
empresas fornecedoras de software para SIG [GISWorld 88]. Em 1990
encontravam-se já recenseados cerca de uma centena de programas deste tipo
[GISWorld 90]. Ao GIS Industry Survey de 1995 responderam 539 organizações
de vários países, envolvidas em actividades relacionadas com SIG quer ao nível
de fornecimento de produtos quer de serviços [Rajani 96]. Destas, 278
organizações fornecem 486 produtos, 50% dos quais foram classificados como
produtos para SIG. Na realidade, a maioria dos produtos foi incluída em mais do
que uma categoria reflectindo as suas diversas utilizações. Entre estas contam-se,
também, as de Desktop mapping (32%), AM/FM (22%), SGBD (21%), Digitizing
(21%), CAD (17%) e Processamento de Imagem (15%).

As empresas ligadas à gestão e aproveitamento de florestas, exploração de redes


de transportes e telecomunicações, e os organismos responsáveis por planeamento
urbanístico, vias de comunicação e defesa do ambiente encontram-se entre os
principais utilizadores de SIG. A limitação na sua utilização reside essencialmente
na necessidade de um grande investimento económico inicial. Este deve-se, em
parte, à aquisição do equipamento informático de suporte, mas sobretudo ao
trabalho inicial de recolha e introdução dos dados. Esta fase requer, por enquanto,
recurso intensivo a processos manuais que exigem uma elevada especialização
por parte de quem os executa. A resolução de qualquer problema envolve sempre
um grande volume de informação geográfica. Como foi já referido, a utilização
crescente de técnicas de detecção remota a partir de satélites fornece, actualmente,
o maior volume de informação. Contudo, este tipo de informação não é adaptado
a todos os problemas e, mesmo nos casos em é considerado adequado, exige
várias fases de pré-processamento e o recurso a diversas técnicas de
processamento para que os dados possam ser utilizados [Aronoff 89].

O uso crescente de produtos comerciais para o desenvolvimento de SIG tendo


contribuído decisivamente para a disseminação deste tipo de sistemas com todas
as naturais vantagens que lhes são inerentes, teve no entanto custos. Em muitos
casos, a perspectiva com que os SIG têm sido encarados é muito limitada pela
tecnologia existente e os esforços são dirigidos essencialmente para encontrar
soluções para problemas imediatos [Peuquet 94].

2.3 Funcionalidade genérica


Um SIG deve, tal como outros SI, permitir que se realizem com eficiência as
operações elementares de adição, remoção e actualização dos dados, bem como
operações do tipo selecção sobre os valores dos vários atributos. O processo de
visualizar, processar ou analisar informação espacial requer, basicamente, que
sejam seleccionados dados existentes num SIG. Estabelecendo um paralelo com o
que é usual fazer nos SI convencionais, poder-se-ia dizer que num SIG também se
realizam queries. Mas, contrariamente ao que sucede nos outros SI, a maior parte
destas incorporam explicitamente relações espaciais para descrever restrições
sobre os objectos espaciais que se pretendem tratar.

Actualmente, num SIG as queries efectuam-se independentemente da sua


semântica, sendo especificadas em termos meramente funcionais, recorrendo a
operações como as que são descritas na subsecção 2.3.1. Assim, nos SIG estas
operações elementares constituem características especiais; acresce ainda que
existem outras operações que se consideram também elementares nos SIG, não o
sendo em outros sistemas que também têm vindo a ser utilizados no suporte de
informação geográfica.

Efectivamente, a distinção entre SIG e outros sistemas, como de Computer-Aided


Design (CAD) ou de produção de cartografia, pode fazer-se recorrendo a um
critério baseado na funcionalidade que cada um desses sistemas disponibiliza.
Nesta perspectiva, a característica mais relevante de um SIG é a sua capacidade
para realizar de uma forma automática a síntese de dados geográficos de diversas
naturezas, incluindo dados calculados também pelo próprio sistema. Deste modo,
os SIG distinguem-se por produzir informação nova — qualidade distinta do
acesso simples a dados previamente registados — que pode ser utilizada para
actualizar os dados desse mesmo SIG.

A capacidade para suportar representações gráficas da informação pode-se


considerar uma qualidade típica dos SIG, mas que é partilhada pela generalidade
dos sistemas que incluem dados relativos a características espaciais da
informação. Efectivamente, a informação geográfica é, normalmente, apresentada
ao sistema (na fase de entrada de dados) e ao utilizador (na saída de resultados)
como uma imagem, frequentemente uma carta, representativa de um conjunto
vasto de informações. Este facto reflecte-se também nos dispositivos para
individualização e selecção de objectos; tradicionalmente um mouse cuja
evolução conduziu aos mais recentes light-pen e data glove.

Assim, a importância de visualizar em conjunto diversos objectos espaciais e os


respectivos atributos determina que a funcionalidade dos sistemas inclua, como
característica fundamental, o suporte de imagens. Aqui, a utilização do termo
imagem pretende realçar o facto da informação ser codificada recorrendo,
nomeadamente, a símbolos, figuras, etiquetas, padrões e cores. Esta codificação,
associada ao local onde ocorre, tem como principal consequência permitir que
uma grande quantidade de informação possa ser fornecida ao utilizador, de um
modo simultaneamente compacto e compreensível. Assim, o termo imagem é aqui
utilizado para referir o que convencionalmente se designa por cartas.

Este processo requer, em contrapartida, que o utilizador seja capaz de interpretar


de um modo correcto a imagem. Empiricamente, a visualização é reconhecida
como um meio privilegiado para se efectuarem reconhecimentos de padrões e
tendências, bem como para se detectarem erros e outliers.

A visualização pode ser considerada como uma disciplina sob várias perspectivas.
Em [Buttenfield e Mackaness 91] esta questão é apresentada detalhadamente,
sendo destacado o papel da visualização nos seus vários aspectos, nomeadamente,
como um meio para seleccionar e aceder a informação pertinente, como um meio
eficaz de comunicar padrões complexos, como formalização de princípios claros
para uma apresentação de dados que optimize os meios de processamento visual e
como um meio para sugerir e controlar o uso de cálculos analíticos para modelar e
interpretar dados.

A investigação neste campo levou à adopção de várias normas para produção de


cartas. Durante muito tempo, por exemplo, a colocação automática de nomes em
cartas —sobretudo topográficas que se caracterizam por uma elevada densidade
de informação —constituíu um problema que se encontra, parcialmente,
ultrapassado pela adopção de algoritmos fornecendo soluções apropriadas e
razoavelmente eficientes para a generalidade dos casos. Actualmente, os esforços
relativamente a este problema têm por objectivo o refinamento de regras, o
desenvolvimento de procedimentos mais sofisticados para resolução de conflitos
entre regras e a criação de novas regras para a produção de cartas temáticas e
topográficas especiais ou de cartas utilizando projecções pouco habituais.

O aspecto da visualização nos SIG tem sido abordado especialmente na


perspectiva da produção automática de cartas e a criação de novos métodos
alternativos tem sido pouco explorada. O recurso à tecnologia só em casos
pontuais tem servido para produzir imagens de tipo diferente daquelas que podem
ser produzidas manualmente. É possível que a investigação presentemente em
curso, versando a integração dos SIG em ambientes de Virtual Representation
(VR), venha alterar significativamente a situação actual.

Conquanto a produção automática de cartas não seja o seu principal objectivo, são
os sistemas cartográficos que melhor se adequam a este requisito, os SIG
permitem, geralmente, a obtenção de cartas com alguma qualidade. Para cumprir
este objectivo, muitos produtos comerciais disponibilizam um conjunto de
operações gráficas, a maioria das quais exige que a plataforma de hardware exiba
algumas capacidades gráficas, tanto no que respeita a monitores, como a
periféricos para saídas em papel; a eficiência e qualidade destes componentes
pode ter um papel determinante no comportamento da globalidade do sistema.

2.3.1 Classificação taxonómica das operações espaciais


As classificações das operações dos SIG vulgarmente apresentadas
encontram-se muito dependentes do contexto em que são tratadas, seja
aplicacional ou de sistema. Aquela que aqui é apresentada pretende apenas
organizar essas operações conceptualmente e independentemente de
qualquer sistema existente e segue de perto a formulação proposta em
[Lanter 92].

ƒ Entrada de dados

Compilação de dados
Georreferenciação de dados
Restruturação dos dados
Edição de dados

ƒ Manipulação de dados

Selecção
Descrição
Transformação por operações
aritméticas
para definição de categorias
geométricas
Derivação de informação por
generalização
geração de buffers
overlays
derivação sobre superfícies curvas

ƒ Saída de resultados

Desenho gráfico
Visualização
Restruturação
Resumo de informação

ƒ Aplicações 3D

Cálculo de altitudes
Manipulação de imagem
As operações que figuram neste esquema de classificação encontram-se
descritas no Anexo I.
A maior parte das operações efectuadas pelos SIG, tanto para realização
de cálculos como para processamento de imagem, envolvem um grande
volume de informação e o recurso a algoritmos frequentemente
complexos. Este facto justifica a necessidade das plataformas de hardware
para SIG possuírem uma capacidade de processamento relativamente
elevada.
2.4Produtos genéricos para suporte de SIG
Como já foi atrás referido, presentemente o desenvolvimento da grande maioria dos SIG, para o
espaço 2D ou 2.5, faz-se recorrendo a um produto especialmente vocacionado para a realização
de sistemas deste tipo.

Embora um SIG possa ser desenvolvido recorrendo a diversos tipos de produtos genéricos,
existem determinados produtos que podem ser considerados como especialmente vocacionados
para esse efeito. A distinção entre este tipo de produtos e outros tem sido realizada recorrendo a
vários critérios. Em [Cowen 88] são referidas algumas abordagens, utilizadas por diferentes
autores, para definir produto para suporte de SIG — orientadas para processos, aplicacionais, de
tipo ferramenta e de tipo base de dados.

Contudo, dada a caracterização de SIG feita anteriormente, a distinção entre produtos


especialmente adequados ao suporte de SIG e outros, também capazes de suportar informação
geográfica, deve ser feita com base na sua melhor adequação ao suporte das operações descritas
como típicas destes sistemas de informação. Embora um produto não necessite de fornecer todas
as funções correspondentes às operações apresentadas para ser considerado um suportes
adequado de SIG, deve suportar a grande maioria delas. Assim, de uma forma resumida, pode
dizer-se que os produtos genéricos para suporte de SIG se caracterizam por exibir funcionalidade
específica para realização de análises de carácter espacial.

De um modo muito geral, um produto para desenvolvimento de SIG pode ser visto como um
conjunto de subsistemas inter-relacionados [Cowen 91]:

1. Um subsistema para a entrada e armazenamento dos dados que permita


1. a aquisição de dados — a partir de mapas em papel, tabelas de atributos, mapas
previamente digitalizados associados à informação sobre os atributos, fotografias
aéreas, imagens de satélite ou trabalhos de campo;
2. a entrada de dados — que geralmente exige o recurso a periféricos específicos,
tais como scanners ou mesas digitalizadoras, bem como a aplicação posterior de
diversas técnicas que garantam a precisão da informação registada;
3. o armazenamento de dados — organizados de modo a garantir a segurança da
informação e uma eficiente utilização dos dados pelo restantes submódulos.
2. Um subsistema de análise de dados para
1. acesso e análise — desde respostas a simples queries até análises espaciais e
estatísticas complexas de grandes volumes de dados;
2. saída de informação — sob a forma de mapas, tabelas, gráficos produzidos por
impressoras ou plotters, ficheiros para entradas noutros sistemas.
3. Um subsistema de interface com o utilizador
1. para a comunicação do utilizador com os restantes subsistemas;
2. que permita a coexistência de utilizadores de vários tipos;
3. que possibilite a interacção com outros sistemas;
4. que seja de tipo gráfico e normalizado.
4. Um subsistema para gestão
1. de acessos múltiplos e da inserção na organização;
2. dos utilizadores do SIG;
3. dos procedimentos.

Na maioria dos produtos comerciais para SIG, os dados relativos a objectos espaciais,
localizados numa determinada área do espaço, são estruturados em camadas — vulgarmente
denominadas layers e, por vezes, coverages [ESRI 92]. Basicamente, cada camada corresponde a
um tema, eventualmente um tema e uma data, o método clássico para representação de
informação com características temporais. Isto é, numa camada são agrupados os dados relativos
a localizações geográficas e atributos de objectos espaciais com características comuns. Assim,
por exemplo, pode ser definida uma camada para conter dados relativos a rios, outra para
estradas, outra para cotas e outra para tipos de solo.

Num grande número de produtos, o conjunto de características comuns, que caracteriza uma
camada, inclui também o tipo de geometria dos objectos; assim, numa mesma camada só podem
ser representados objectos de tipo ponto, linha ou polígono; este tipo de restrição encontra-se,
naturalmente, associado apenas às camadas armazenadas em estruturas de dados vectoriais.

Dependendo das características próprias de cada produto, uma camada pode ser caracterizada
recorrendo apenas a um atributo, cujo tipo de valores é definido pelo utilizador, ou a mais
atributos definidos automaticamente (por exemplo, um identificador dos objectos, o
comprimento de linhas para as camadas deste tipo, o perímetro e área de polígonos para as
camadas de polígonos). Alguns sistemas oferecem a possibilidade do utilizador definir o nome e
tipo de valores de mais do que um atributo.

Para além dos aspectos funcionais, mais ou menos completos relativamente às operações de
análise espacial atrás descritas, existem alguns aspectos técnicos que permitem distinguir tipos
diferentes de produtos. A especificidade dos SIG baseia-se essencialmente na natureza
característica da informação geográfica, a que correspondem tipos de dados particulares, e no
tipo de problemas a que se destinam, a que correspondem determinados conjuntos de
processamento de dados típicos. Assim, é natural que exista um determinado conjunto de
técnicas especialmente adequadas à realização do subsistema responsável pelo armazenamento
dos dados, nomeadamente no que se refere a arquitecturas de armazenamento de dados e a
estruturas (lógicas e físicas) utilizadas na organização dos dados.

Como em qualquer outro sistema, em que o volume de dados é relevante, o modo como é
realizado o armazenamento dos dados deve ser decidido tendo em consideração dois objectivos
importantes: a economia do espaço de armazenamento e a eficiência com que serão realizadas as
operações que manipulam esses dados e que se prevêem vir a ocorrer mais frequentemente.
Relativamente a estes dois problemas, cada um deles apresentando determinados requisitos
difíceis de compatibilizar, as diferentes técnicas podem distinguir-se pela solução de
compromisso que representam, isto é, pelos aspectos a que dão maior ênfase em detrimento de
outros.

A complexidade e diversidade de problemas, para cuja solução os SIG são criados, justifica o
facto de, por vezes, não ser possível encontrar um produto que suporte todo o processamento de
dados necessário. Nestas situações, é indispensável recorrer a outros produtos, os quais podem
ser dos mais variados tipos — desde processamento de estatísticas e cálculos matemáticos, até
sistemas de hypermedia, passando por compiladores de linguagens de programação. Assim, os
meios de comunicação com outros sistemas, que cada produto para suporte de SIG disponibiliza,
podem também constituir um critério de distinção entre eles.

2.4.1 Arquitecturas de armazenamento de dados


Fundamentalmente, as arquitecturas dos vários produtos distinguem-se pelo modo
como estes suportam o armazenamento dos dados. Segundo este critério, os
sistemas podem classificar-se como baseados em ficheiros, em SGBD e híbridos.

Tipicamente, nos sistemas baseados em ficheiros, os dados de cada camada são


armazenados num ficheiro suportado directamente pelo sistema operativo.
Normalmente, é criado um segundo ficheiro documentando o conteúdo do
primeiro e permitindo, por exemplo, a definição de títulos e de textos para criação
de legendas.

Por motivos de eficiência de processamento dos dados, este tipo de arquitectura é


utilizado essencialmente pelos produtos que utilizam apenas estruturas de dados
raster. O IDRISI (da Graduate School of Geography da Clark University) é um
exemplo de sistema com este tipo de arquitectura.

Os sistemas baseados em SGBD recorrem a um produto desta categoria —


comercial ou proprietário — para realizar o armazenamento de dados. Segundo o
modelo de dados que suportam, os SGBD podem ser de vários tipos. Os tipos
mais divulgados são os dos sistemas hierárquicos, em rede e relacionais [Star e
Estes 90]. Os SGBDOO (Sistemas Gestores de Bases de Dados Orientados por
Objectos), sendo mais recentes e encontrando-se ainda numa fase de
desenvolvimento, são mais um tipo de SGBD a considerar. Todos estas categorias
de SGBD têm sido experimentadas no desenvolvimento de SIG; até agora, os
sistemas relacionais foram os que maior sucesso obtiveram.

Efectivamente, os sistemas de tipo hierárquico oferecem uma estrutura de dados


demasiado rígida e pouco adequada à maioria das características típicas da
informação geográfica; embora alguns SIG se adaptem bem a estruturas
hierárquicas — a estrutura em árvore é natural em alguns tipos de informação
geográfica — esta característica não se pode generalizar à maioria deles. Quanto
aos sistemas em rede, oferecendo uma estrutura mais flexível, o problema que
constitui a sua complexidade — e a consequente dificuldade de divulgação —
parece ter sido o maior obstáculo à sua adopção.

Assim, são claramente os sistemas relacionais que dominam na área dos produtos
baseados em SGBD. A flexibilidade e crescente divulgação deste tipo de sistemas
contribuem para facilitar a utilização dos SIG e para uma integração mais natural
nos SI das empresas. De um modo geral, a principal limitação deste tipo de
produtos relaciona-se com a ineficiência dos sistemas relacionais no
processamento de grandes volumes de dados —uma característica inerente aos
dados relativos a localizações geográficas. Este problema tem sido objecto de
investigação, sobretudo com o fim de serem encontradas estruturas de índices
especialmente eficientes para aceder a esse tipo de dados.

Por outro lado, um SIG desenvolvido sobre um SGBD robusto pode oferecer
vantagens importantes relativamente a aspectos como gestão de acessos
concorrenciais e de sistemas distribuídos, recuperação de dados em situações de
falha e estabelecimento de mecanismos de segurança. Por este motivo, e não
obstante as suas limitações, muitos SIG têm sido desenvolvidos sobre sistemas
relacionais.

Trabalhos como [Egenhofer e Frank 87] e [Frank 88] lançaram os fundamentos


para o uso de SGBDOO no desenvolvimento de SIG. Posteriormente, os trabalhos
de carácter exploratório realizados recorrendo ao Postgres (da Universidade da
California, Berkeley) e ao GRASS (do Construction Engineering Research
Laboratory da U.S. Army) [Roberts et al. 91] [Guptill e Stonebraker 92],
recorrendo ao Postgres [van Oosterom e Vijlbrief 91], recorrendo ao O2 (da O2
Technology) [Scholl e Voisard 92]e recorrendo ao ONTOS (da Ontos Inc.) [Milne
et al. 93], parecem confirmar a possibilidade de desenvolvimento de produtos
baseados em SGBDOO com algumas vantagens.

Entre os produtos baseados em SGBD é, ainda, possível distinguir arquitecturas


em camadas e arquitecturas integradas [Vijlbrief e van Oosterom 92]. É
importante notar que, nem sempre é fácil classificar um produto quanto à
arquitectura em que se baseia; o Smallworld GIS (da Smallworld Systems), por
exemplo, possui características de arquitectura em camadas e de arquitectura
integrada.

A arquitectura em camadas caracteriza-se por possuir uma camada, denominada


camada de suporte espacial, para tradução da funcionalidade característica dos
SIG em termos de operações suportadas pelo SGBD. Produtos como o System9
(da Unisys Corporation), GEOVIEW (da Universidade de Edinburgh) e SIRO-
DBMS da (CSIRO Australia), são exemplos típicos de sistemas de arquitectura
em camadas.

Presentemente, o desenvolvimento de produtos de arquitectura integrada


encontra-se em investigação. Contrariamente aos anteriores, este tipo de produtos
não pode recorrer a um sistema relacional convencional. Requer o uso de um
SGBD aberto com capacidades de extensão — como o Postgres — para, por
exemplo, definição de tipos de dados adequados à informação geográfica e
respectivos métodos de acesso. A maior eficiência obtida por este tipo de
arquitectura constitui a principal vantagem adicional. Os sistemas TIGRIS (da
Intergraph) e GEO++ [van Oosterom e Vijlbrief 91] são exemplos característicos
de produtos de arquitectura integrada.
Actualmente, os produtos de uso mais generalizado são sistemas híbridos —
também denominados de arquitectura dual. Nestes, só os valores dos atributos dos
objectos espaciais residem num SGBD relacional. Este pode ser um sistema
comercial, como o Oracle (da Oracle Corp.), dBase (da Borland), Access (da
Microsoft), Fox Pro (da Microsoft), Informix (da Informix) ou Ingres (da Ingres),
ou proprietário. Os dados referentes a localizações geográficas são armazenados
recorrendo a outro tipo de técnicas — normalmente, não descritas na
documentação por serem propriedade dos fabricantes. Deste modo, as
características dos objectos espaciais são distribuídas por dois subsistemas e
ligadas entre si por meio de um identificador comum. O ARC/INFO (da ESRI),
MGE (da Intergraph Corp.), GRASS e SPANS (da TYDAC), constituem
exemplos de produtos de arquitectura híbrida.

A principal vantagem deste tipo de produtos reside na sua eficiência aliada às


vantagens do uso de um sistema relacional para armazenamento e manipulação de
uma parte significativa dos dados. Contudo, o facto da manipulação dos dados
exigir o recurso a linguagens muito distintas, segundo o subsistema que efectua o
processamento — por vezes associadas também a interfaces distintos — torna a
utilização destes sistemas mais difícil do que seria de desejar. Também o facto
dos dois subsistemas não recorrerem a um protocolo comum para gestão de
acessos e regras de segurança pode causar, entre outros problemas, falhas ao nível
da integridade da informação.

2.4.2 Estruturas para armazenamento de dados


As estruturas para armazenamento de dados dos produtos genéricos para suporte
dos SIG devem ser analisadas a dois níveis distintos. Um primeiro, aqui
designado nível lógico, relativo às estruturas que os produtos disponibilizam para
manipulação directa pelo utilizador. O segundo, geralmente designado nível
físico, refere-se ao modo como as estruturas lógicas são realizadas
computacionalmente por cada produto.

As estruturas lógicas de dados são utilizadas frequentemente para caracterizar os


tipos de produtos presentemente disponíveis. Sendo possível estabelecer algumas
relações entre certas estruturas lógicas e o tipo das respectivas realizações físicas,
o conhecimento detalhado das últimas é difícil dado que são, maioritariamente,
propriedade do fornecedor. Se as estruturas lógicas são importantes do ponto de
vista da facilidade de utilização e da adequação especial para um determinado tipo
de problemas, das estruturas físicas depende em grande parte o grau de eficiência
dos sistemas — cuja importância é fundamental para muitos SIG sobretudo os que
envolvem maiores volumes de dados e operações mais complexas, como já foi
por várias vezes referido.

Tradicionalmente, as estruturas para suporte de dados espaciais, típicas dos


produtos para SIG, classificam-se em raster e vectorial. Muitos produtos
fornecem algoritmos para conversão de estruturas de dados raster em vectorial e
vice-versa, que podem ser utilizados sob determinadas condições [van der Knaap
92], permitindo a escolha da estrutura mais adequada a cada situação.

Quando é utilizada uma estrutura raster, a área objecto de estudo, normalmente


um rectângulo, considera-se dividida numa grelha de células com a forma de
quadrados de dimensão fixa. Estas células constituem uma partição da área de
estudo e a cada uma delas encontra-se associado o valor de um determinado
atributo — eventualmente, o identificador único atribuído a cada objecto de um
determinado conjunto de objectos espaciais. O conjunto de células e respectivos
valores constitui uma camada. O tipo de valores que podem ser atribuídos às
células é variável; frequentemente, são utilizados valores inteiros, mas também
podem ser de tipo real, alfanumérico ou lógico. Geralmente, a cada uma destas
células corresponde um pixel do monitor nas operações de visualização —
embora as operações de zoom possam alterar este tipo de correspondência — pelo
que é frequente as células serem denominadas pixels.

As estruturas raster adaptam-se naturalmente ao suporte de dados entrados por


scanner e provenientes de bandas de dados recolhidos por detecção remota via
satélite. O recurso a este tipo de estruturas possibilita, de um modo geral, o
desenvolvimento de produtos de utilização relativamente simples e com níveis
apreciáveis de eficiência na realização de determinadas operações de análise
espacial — tais como, produção de overlays, geração de buffers e uso de filtros.
Contudo, este tipo de estrutura de dados é especialmente adequado a situações em
que os objectos espaciais são georreferenciados por coordenadas do plano e
possuem um pequeno número de atributos, assim como a dois tipos de problemas
com características de algum modo opostas.

Num primeiro tipo, situam-se os problemas em que o espaço é subdividido em


áreas homogéneas relativamente extensas, isto é, quando o espaço em questão
pode ser subdividido num número limitado de áreas, possuindo cada uma destas
um valor comum de um dado atributo — encontram-se neste caso, por exemplo,
os problemas relacionados com a cobertura vegetal dos solos e com as fronteiras
políticas e administrativas.

Num segundo tipo, situam-se os problemas em que a informação varia com


frequência no espaço, os quais também são geralmente caracterizados pela
existência de dificuldades na determinação de contornos distintos para
individualização de áreas com características comuns. Um caso típico desta
categoria de problemas é a representação do relevo do terreno, isto é, o espaço
2.5. Efectivamente, os DEM (Digital Elevation Model) —consistindo numa malha
regular de altitudes determinadas, maioritariamente, recorrendo a funções de
interpolação — são o meio mais simples de representação digital do relevo. Neste
tipo de modelo, a resolução — isto é, a distância entre pontos adjacentes da malha
—é um parâmetro crítico para obtenção de um grau de precisão aceitável.
Uma limitação deste tipo de estruturas de dados, que pode ser relevante em alguns
problemas, baseia-se no facto de as imagens obtidas apresentarem linhas de
contorno irreais, já que estas são formadas a partir de lados de polígonos que
constituem a grelha. Alguns produtos recorrem a funções de tipo spline para
atenuar este aspecto e produzir imagens esteticamente mais aceitáveis, embora
nem por isso mais precisas relativamente à realidade. Efectivamente, uma vez que
a grelha imposta à área em estudo é totalmente independente das características
desta, existem sempre várias células, sobretudo nas fronteiras entre regiões
distintas, que não são realmente homogéneas relativamente ao atributo em
observação. Este tipo de imprecisão pode influenciar de um modo muito negativo
o cálculo de perímetros e áreas, por exemplo.

O uso de estruturas de tipo raster caracteriza-se por envolver um volume elevado


de dados. A constatação de que em muitas situações a informação geográfica
tende a ser espacialmente autocorrelacionada — isto é, a probabilidade de
encontrar células com o mesmo valor observado numa dada célula é tanto maior
quanto mais perto nos encontrarmos desta célula — conduziu ao desenvolvimento
de vários algoritmos para compactação de dados.

Um tipo comum de compactação de dados consiste numa codificação em que


sequências de células com valor idêntico são substituídas pelo número de
repetições e respectivo valor. Este método possui diversas variantes. De entre
estas distingem-se aquelas que procuram a melhor maneira de percorrer as células
da matriz, correspondente a uma estrutura de dados raster, de modo a encontrar
sequências grandes de células com o mesmo valor — como o método de run
encoding, a Ordem de boustrophedon, a Ordem de Morton ou a Ordem de Peano
(ou de Hilbert). Os testes realizados parecem indicar que os métodos de
boustrophedon e de Peano permitem uma maior compactação dos dados, embora
as diferenças não sejam muito significativas [Peuquet 91].

Outras abordagens, relativamente mais eficientes, têm também sido utilizados


para armazenamento e acesso de dados [Aref e Samet 92] [Freeston 92]
[Hjaltason e Samet 95] [Shekhar et al. 95]. Os mais conhecidos baseiam-se na
divisão recursiva de uma matriz em quadrantes, por uma ordem determinada, até
serem encontrados quadrantes homogéneos — isto é, em que todas as células
possuem o mesmo valor. Pertencem a esta categoria o método de pixels indexados
e de quadtrees [Samet 90]. De realçar que, para as estruturas de quadtree, foram
desenvolvidos diversos algoritmos de apreciável eficiência, para medição da área
onde ocorre um determinado atributo, realização de operações de overlay,
determinação de adjacências e medição de fronteiras comuns, entre outros.

A utilização de estruturas de dados vectoriais requer a identificação de objectos


espaciais de geometria simples — isto é, possíveis de classificar quanto à forma
geométrica como ponto, linha ou polígono. A respectiva localização no espaço é
representada por meio de coordenadas geográficas contínuas (globais ou do
plano). De uma forma geral, as características espaciais dos objectos são
representadas sob forma vectorial como conjuntos de pares ordenados do tipo
{(xi,yi),i=1...n}.

Os primeiros produtos desenvolvidos sobre estruturas vectoriais limitavam-se a


armazenar, para cada objecto, as respectivas coordenadas geográficas e atributos.
Este modo de armazenamento, presentemente utilizado ainda por alguns sistemas
para produção de cartografia, é vulgarmente designado modelo spaghetti. A
constatação de que este modelo não possibilita a realização eficiente de operações
envolvendo relacionamentos topológicos, para além de implicar duplicações de
informação sem qualquer controlo (as coordenadas geográficas de contornos
comuns a dois ou mais objectos), conduziu à adopção de outras formas de
estruturar a informação espacial tirando partido de algumas potencialidades das
relações espaciais [de Hoop e van Oosterom 92].

Assim, no sentido de evitar o registo duplicado de linhas, alguns produtos optam


por representações baseadas em nós e arcos, cujas coordenadas são registadas
uma única vez. Um nó define-se como um ponto delimitador de uma linha ou
como um ponto de intersecção de duas ou mais linhas. Um arco é qualquer porção
de linha delimitada por dois nós. Neste caso, uma linha é constituída por um arco
ou por um conjunto ordenado de arcos sujeito a restrições.

Por outro lado, a obtenção de níveis aceitáveis de eficiência no processamento é


alcançada recorrendo à representação explícita de alguns tipos de relacionamentos
topológicos entre os dados. A representação de redes, por exemplo, pode incluir
para cada linha dois atributos para identificação dos respectivos nós inicial e final
e para cada nó os identificadores das linhas que passam por ele. Na representação
de polígonos, por exemplo, para cada arco podem representar-se os
identificadores de cada um dos dois polígonos que o arco delimita. Naturalmente,
este tipo de estruturas implica redundância dos dados, porém, o seu volume — em
termos de espaço de armazenamento global — é menor do que o observado nos
modelos de tipo spaghetti e o seu controlo — em termos de coerência da
informação — possível.

As estruturas de dados vectoriais podem também ser utilizadas para representar


modelos de relevo do terreno. Normalmente, nestes casos é utilizada uma
Triangulated Irregular Network (TIN), na qual se utiliza uma amostra de pontos
irregularmente distribuídos no espaço, tipicamente com mais observações nas
áreas mais rugosas. Isto permite obter modelos mais fiáveis do que os DEM a
partir de amostras de menor dimensão. Recorrendo ao método de construção de
triângulos de Delaunay, ou ao seu dual para criação de polígonos de Thiessen,
esses pontos são unidos criando-se áreas caracterizadas pelo respectivo declive e
orientação. Naturalmente, para a qualidade do modelo final é decisiva uma boa
escolha dos pontos que constituem a amostra, tendo sido desenvolvidas diversas
técnicas específicas para auxiliar esse tipo de decisão [Poiker 91].

2.4.3 Transacções longas


A existência de transacções longas é uma característica comum à maioria dos
sistemas envolvendo dados georreferenciados.

Efectivamente, as alterações efectuadas nestes sistemas realizam-se,


frequentemente, em regiões relativamente grandes e são o resultado de um
processo de planeamento, onde as alterações são concebidas, analisadas e
aperfeiçoadas até ser atingida uma solução correcta. Naturalmente, a introdução
destas alterações na base de dados exige algum tempo e a realização de diversas
operações que não é possível prever de uma forma determinística.

Alguns produtos destacam-se por permitirem o acesso multi-utilizador aos dados,


durante estas operações, e possuem mecanismos para garantia da integridade dos
dados.

Geralmente, o suporte a transacções longas e a acessos concorrentes envolve o


conceito de dados locais. Basicamente, os dados locais são uma cópia da base de
dados espacial para ficheiros de trabalho. As alterações são primeiramente
efectuadas nestes ficheiros, enquanto a base de dados permanece inalterada até
que a transacção termine. Quando o utilizador decide terminar a transacção, os
dados locais são integrados na base de dados. A fig. 2 esquematiza a arquitectura
genérica para o suporte de transacções longas.

fig. 2 - Arquitectura genérica para transacções longas

Existem várias soluções técnicas para o suporte de transacções longas. Na solução


usualmente denominada "pessimista" todas as entidades localizadas numa área
geográfica a alterar deixam completamente de estar acessíveis a outras
transacções; consequentemente, nestes casos não existe verdadeiramente acesso
concorrencial aos dados. As restantes soluções, suporte a versões e lock das
entidades apenas quando estas são alteradas, podem suportar acessos
concorrenciais.

Na solução de suporte a versões, durante períodos de tempo significativos, um


mesmo conjunto de entidades espaciais pode encontrar-se em tantas situações
diferentes quantas as transacções que se encontram iniciadas e já alteraram esse
objecto e, ainda, na situação em que a entidade se encontrava antes dessas
transacções terem iniciado. Cada transacção manipula a entidade na situação em
que esta se encontrava antes de a transacção ter sido iniciada ou numa situação
determinada por alguma operação dessa transacção. Assim, as operações
executadas por uma transacção determinam as características de cada entidade de
uma forma totalmente independente do que está ser executado pelas outras
transacções. Quando uma transacção é finalizada, os eventuais conflitos são
resolvidos recorrendo à intervenção do utilizador sob controlo do produto de
suporte que gere as diferentes versões criadas. Esta solução permite a ocorrência
de conflitos de difícil solução.

Na solução de lock de entidades, uma entidade depois de alterada encontra-se em


duas situações distintas, uma determinada pela transacção que a alterou e ainda
não terminou e outra, locked — isto, é com acesso apenas para leitura — na
situação em que se encontrava antes de ser alterada. A primeira destas situações é
visível apenas pela transacção que alterou essa entidade; as actividades de leitura
executadas pelas outras transacções concorrentes são executadas sobre a entidade
tal como esta se encontrava antes de ser alterada. Esta é a solução técnica que,
presentemente, melhor suporta acessos concorrentes porque impede a geração de
situações de incompatibilidade de difícil solução entre os dados.

A evolução tecnológica na área dos produtos para suporte de dados geográficos,


especificamente o suporte a transacções longas, contribuiu para resolver alguns
dos problemas que no passado limitavam o desenvolvimento de aplicações
geográficas com funcionalidade dinâmica significativa.

2.4.4 Comunicação com outros sistemas computacionais


A maior parte dos produtos para suporte de SIG não são desenhados para permitir a comunicação
com outros sistemas computacionais. Desta regra podem exceptuar-se os produtos desenvolvidos
sem objectivos predominantemente comerciais, como o IDRISI e o GRASS. Genericamente, os
produtos específicos para desenvolvimento de SIG oferecem um ambiente próprio de trabalho e
uma linguagem para interacção com o sistema que, em alguns produtos, pode também ser
utilizada na construção de procedimentos e desenvolvimento de aplicações.

Este facto associado à impossibilidade de aceder directamente aos dados, por falta de informação
relativamente ao modo como são fisicamente armazenados, permite concluir que este tipo de
produtos possui uma arquitectura tipicamente fechada. Só muito recentemente se começaram a
fazer sentir alguns sinais de que esta situação será no futuro alterada [Gomes 97].
Assim, entre os utilizadores de SIG, é frequente referir-se a dificuldade que reveste utilizar os
dados destes sistemas recorrendo a outros produtos, tais como folhas de cálculo ou produtos para
tratamento de problemas da área da Estatística — o SAS (do SAS Institute Inc.) ou o SPSS (da
SPSS Inc.), só para citar alguns dos mais conhecidos. Por outro lado, a hipótese alternativa dos
produtos comerciais para suporte de SIG passarem a dispor do tipo de funcionalidades que
aqueles produtos oferecem não parece credível, dada a quantidade, variedade e complexidade
dos problemas que é possível encontrar.

Outro problema, de algum modo relacionado com o anterior, surge da necessidade frequente de
os dados geográficos serem tratados por programas desenvolvidos para suportarem modelos de
análise espacial. Estes modelos são inúmeros e, geralmente, são utilizados num conjunto de
problemas muito restrito, daí que também não seja expectável que os produtos para SIG os
passem a incorporar.

Nestes casos, a solução mais típica consiste na conversão dos dados do SIG para ficheiros
convencionais ou, pelo menos, para um formato conhecido e posterior formatação destes de um
modo adequado a poderem ser utilizados por outro produto informático ou por um programa.

2.5 Os SIG e a Internet


No tratamento de muitos problemas com características geográficas é indispensável a integração
de dados provenientes de diversas fontes. Naturalmente, a Internet é um meio privilegiado para
aceder e transportar dados que se encontram distribuídos por diferentes sistemas.

A Internet é, também, o local adequado por excelência para a divulgação da existência de dados
geográficos por parte dos seus fornecedores. No entanto, esta divulgação necessita de ser
acompanhada de informação relativa à natureza e qualidade dos dados e exige a criação de
mecanismos de pesquisa eficientes segundo diferentes critérios, quer hierárquicos quer
ortogonais.

Também a capacidade de alguns browsers da World Wide Web (WWW), como o Netscape e o
Internet Explorer, para suporte de diversos tipos e estruturas de dados, conjugados com as
potencialidades de linguagens de programação como o JAVA, permite encarar estes produtos
como potenciais ferramentas para a integração de informação geográfica distribuída e de dados
Multimedia.

Algumas experiências permitiram já a verificação de algumas vantagens desta integração e a


identificação de problemas [Nobre e Costa 96]. A integração de dados Multimedia nos SIG pode
representar um real aumento no seu valor. Efectivamente, em muitos casos, a multiplicidade de
características da informação geográfica e a complexidade de muitas delas são muito mais
eficazmente descritas recorrendo, por exemplo, a som e a fotografia; esta constatação aplica-se
muito particularmente a determinadas aplicações, por exemplo na área de turismo e de apoio ao
combate de incêndios. A maior parte dos problemas identificados neste campo relaciona-se com
a eficiência do produto final e com as restrições impostas pelo carácter fechado dos produtos de
suporte a SIG.
Finalmente, mas não menos importante, a Internet pode ainda constituir uma forma de
rentabilização de muitos SIG mediante a disponibilização de serviços via rede a um grande
conjunto de utilizadores.

A utilização de informação geográfica em ambientes de redes, criou novos problemas na área da


engenharia de computadores. Entres estes contam-se, a criação de estruturas adequadas,
simultaneamente, aos dados geográficos e a uma comunicação eficiente e, também, o desenho de
arquitecturas de suporte ao desenvolvimento de aplicações para uma utilização eficaz desses
dados [Augusto et al. 97a].

Muito do trabalho de investigação realizado mais recentemente na área dos SIG tem sido dirigido
no sentido de explorar as potencialidades desta forma de utilização da informação geográfica,
nomeadamente, numa perspectiva de Intranet. Os sucessos obtidos neste domínio conduziram já
ao surgimento de alguns produtos comerciais para desenvolvimento de gestores de informação
georreferenciada em arquitecturas Cliente/Servidor [Augusto et al. 97b].

2.6 Interoperabilidade e o OGC


Interoperabilidade pode definir-se como uma capacidade do utilizador ou de uma componente do
computador para aceder a uma variedade de recursos heterogéneos por meio de um único
interface operacional [Aybet 97]. Em particular, para os utilizadores de um determinado produto
para suporte de dados georreferenciados, significa a liberdade e capacidade para aceder a
ambientes de processamento de dados que podem utilizar diferentes produtos e conter diversos
formatos de dados.

O problema geral da interoperabilidade tem vindo a ser abordado. Particularmente, o Object


Management Group (OMG) publicou em finais de 1990 a Object Management Architecture
(OMA) [OMG 90], de que apresentou uma revisão em 1992 [OMG 92]. A OMA é uma proposta
de norma para construção de objectos que sejam portáveis e possam interagir entre si sobre redes
de sistemas heterogéneos. A OMA inclui a especificação do mecanismo de suporte à interacção
entre clientes e servidores ⎯ o Object Request Broker (ORB) ⎯ e uma linguagem genérica ⎯
a Interface Definition Language (IDL) ⎯ para definição das interfaces dos objectos que
comunicam via ORB. O ORB é também frequentemente referido como CORBA (Common Object
Request Broker Architecture).

Este tipo de solução não pode ainda ser utilizado nas aplicações geográficas desenvolvidas sobre
os sistemas comerciais para suporte de dados geográficos mais divulgados porque estes não
seguem qualquer tipo de norma.

O reconhecimento desta limitação levou à criação do Open GIS Consortium (OGC), uma
organização não lucrativa, dedicada aos sistemas abertos para geoprocessamento, entre cujos
membros se contam muitos dos principais fornecedores de informática e diversas Universidades.
O OGC tem como objectivos principais o desenvolvimento de especificações para tecnologia de
geoprocessamento interoperável e a promoção da oferta de produtos interoperáveis certificados.
Baseia-se em padrões emergentes da tecnologia da informação envolvendo sistemas abertos,
processamento distribuído e ambientes constituídos por componentes de software.
Presentemente, a actividade do OGC dirige-se para a criação de um conjunto de normas
genericamente denominadas Open Geodata Interoperability Specification (OGIS). A publicação
"The OpenGIS Guide, Part I of the OGIS" pelo OGC em 1996 [Buehler e McKee 96] é um
primeiro passo neste sentido, propondo normas para transferência de dados espaciais e dos
respectivos metadados. O OGIS adopta uma abordagem orientada por objectos para as definições
de dados georreferenciados. Assim, a interoperabilidade de objectos espaciais desempenha um
papel crucial na realização dos sistemas abertos para suporte destes dados.

Anexo A — Classificação taxonómica das operações espaciais

Neste anexo são descritas as operações espaciais incluídas na classificação taxonómica


apresentada na subsecção 2.3.1.

I. Operações de entrada de dados que podem ser de quatro tipos:


A. Para compilação de dados, isto é, codificação de dados geográficos de uma
forma conveniente para o sistema; estas operações incluem a digitalização,
scanning, registo de atributos, etiquetagem de objectos, codificação de
documentos recolhidos em trabalho de campo, construção de topologias e acertos
entre folhas de mapas.
B. Para georreferenciação de dados, desde a referenciação espacial de conjuntos de
dados (por exemplo, provenientes de scanning, digitalização ou detecção remota)
até à conversão de coordenadas entre diferentes sistemas de referência espacial.
C. Para restruturação dos dados, isto é, modificação da estrutura de dados
importados de modo a poderem ser suportados pelo sistema; estas operações
podem ir da simples reformatação dos dados, passando pela conversão entre
variantes de um mesmo tipo de estrutura de dados, até à conversão entre
diferentes estruturas de dados (por exemplo, entre raster e vectorial).
D. Para edição, isto é, para detectar e resolver inconsistências não espaciais,
espaciais ou topológicas.
II. Operações de manipulação dos dados que podem subdividir-se em quatros grupos:
A. Para selecção, utilizando a lógica booleana e um conjunto de critérios sobre um
determinado conjunto de características. As selecções que se baseiam em
características espaciais podem ainda classificar-se como sendo de associação
espacial (com base nos conceitos de contiguidade e conectividade), de inclusão ou
baseado em endereços (muito utilizado nos sistemas de referenciação discreta).
As selecções sobre atributos permitem que sejam utilizados critérios sobre os
valores de atributos temáticos ou de características temporais.
B. Para descrição de informação, isto é, cálculo de índices relacionados com as
propriedades geométricas dos objectos — por exemplo, sobre a forma (medidas
numéricas de convexidade de polígonos, de dimensão fractal, etc.), dimensão
(medida de linhas, curvas, perímetros, caminho mais curto, áreas de polígonos
planos ou não, volumes) ou ângulo (azimute, orientação e posição).
C. Para transformação, isto é, modificação do valor das características. Estas
podem ainda ser subdivididas em aritméticas e de categoria, para atributos, e
geométricas para características espaciais.
1. As operações aritméticas sobre um mapa temático consistem na
aplicação de uma constante (mediante uma operação elementar ou função
trigonométrica, logarítmica ou exponencial) para modificação de um
atributo.
2. As operações para definir categorias modificam os valores dos atributos
reclassificando-os em novas categorias. Dentro destas podem distinguir-se
as operações de classificação, para conversão de atributos quantitativos
contínuos em discretos ou nominais (utilizadas, por exemplo, na
classificação de dados obtidos por detecção remota), e de reclassificação,
para conversão de categorias nominais noutras do mesmo tipo ou de tipo
numérico expressando pesos.
3. As operações geométricas modificam as características espaciais dos
objectos e podem ser de três tipos: transformações por projecções
(utilizadas sempre, nem que seja implicitamente, pois resultam de se
representar a superfície da terra por meio de um plano), transformações
lineares (por exemplo, alteração da escala, rotação ou translação) e não-
lineares (estas são definidas pelos utilizadores e são por isso as que menos
grau de certeza apresentam).
D. Para derivação de informação espacial, permitindo extrair informações novas
por inferência sobre os dados existentes.
1. As operações de generalização simplificam objectos capturando apenas
as suas características espaciais mais salientes. Por exemplo, polígonos
podem ser reduzidos a centróides, a esqueletos ou a rectângulos. Existem
três categorias de operações de generalização: simplificação de linhas,
isto é, redução do número de pontos utilizado na sua definição; atenuação
de linhas, para reduzir ângulos mediante recurso a funções de Bezier,
splines ou outras; e generalizações complexas que podem incluir
mudança do tipo do objecto, agregações de polígonos e detecção e
correcção de conflitos entre a localização dos objectos.
2. As operações de geração de buffers criam novos objectos que incluem
outros mediante um critério especificado. Os buffers podem ser quadrados
ou curvos e podem incluir pontos, linhas ou polígonos.
3. As operações de overlay — também designadas operações aritméticas
multi-atributo — criam novos objectos por aplicação das várias operações
da lógica booleana, da aritmética e da estatística sobre dois mapas
temáticos. Nestas operações cada mapa temático é tratado como uma
variável.
4. As operações de derivação sobre superfícies curvas envolvem a
extracção de informações tri-dimensionais. Nestas incluem-se as funções
de interpolação e de filtro (muito utilizadas no processamento de imagens
recolhidas por detecção remota para acentuar ou atenuar as formas).
Outros filtros são utilizados para determinar o declive e a orientação de
vertentes, localizar redes de drenagem ou identificar regiões de
visibilidade.
III. Operações de saída de resultados, que são as operações que efectivamente permitem que
um mapa ou outro tipo de informação seja extraído do SIG para uso prático. Podem ser
de vários tipos:
A. Operações de desenho gráfico para construção de símbolos, uso de cores,
padrões e anotações de modo a facilitar a composição de mapas e respectivas
legendas.
B. Operações de visualização para representar a informação geográfica graficamente
em periféricos (terminais gráficos, impressoras, etc.).
C. Operações de restruturação que permitem a exportação de dados para outros
sistemas.
D. Operações para resumir informação sob a forma de índices (descritivos, de
inferência estatística, da estatística multi-variada, ou outros) de modo a serem
apresentados em relatórios.
IV. Operações típicas das aplicações que utilizam as 3 dimensões do espaço:
A. Para cálculo de altitudes de pontos, frequentemente recorrendo a funções de
interpolação, de declives e de direcções de superfícies.
B. Para manipulação de imagens — rotação, alteração do ponto de visão e
determinação das superfícies visíveis ou iluminadas.

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