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ESTADO DE GOIÁS

PODER JUDICIÁRIO
COMARCA DE GOIÂNIA
4ª VARA CRIMINAL – EXECUÇÃO PENAL
(Gabinete da Corregedoria dos Presídios da Comarca de Goiânia)

Referência: Pedido de Interdição do Presídio do “novo” Semiaberto

Requerente: Ministério Público Estadual

Requerido: Estado de Goiás

Decisão

Trata-se de ação de interdição do Presídio do Regime Semiaberto

(conhecido como novo semiaberto)proposta pelo órgão de execução ministerial com

assento neste Juízo e em desfavor do Estado de Goiás.

Em síntese, alega-se superlotação na unidade prisional, cuja

capacidade de lotação projetada para 230 ( duzentos e trinta) presos, extrapola,

atualmente, o patamar de 341 (trezentos e quarenta e um). Insurge-se também

quanto às más condições de salubridade/higiene do presídio.

Ao final, pugna-se pela interdição do presídio, com a retirada de


todos os presos do regime semiaberto, autorizando-se àqueles que gozam do trabalho

externo o cumprimento da pena em regime de prisão domiciliar, com comparecimento e

apresentação semanal para monitoramento a cargo de equipes próprias designadas

pela SUSEPE. Quanto àqueles não autorizados ao trabalho externo ou com restrições

de saída em razão de pendências judiciais ou administrativas pede o remanejamento

para outras unidades do Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia,

preferencialmente para aquela conhecida como antigo semiaberto.

Prosseguindo, requer-se a vedação da reutilização do presídio

interditado, enquanto não solucionados definitivamente os problemas estruturais,

particularmente o sistema de esgoto e de iluminação da unidade, sugerindo que a

SUSEP proceda à reforma da unidade em no máximo 90 (noventa) dias. Por fim,

propugna-se pela fixação do limite máximo de ocupação no patamar de 230 (duzentos

e trinta) presos.

Instrui-se o pedido com fotografias indicativas das mazelas

descritas.

Notificada, a Secretaria de Segurança Pública apresentou parcas

informações, tendo, em síntese, fixado-se no levantamento de preliminar (falta de

interesse processual e conseqüente não cabimento do pedido de interdição, sobretudo

por inadequação da via eleita), tocando, basicamente, o mérito - de onde se dessumem

prejudiciais - no que tange à evidência de inconstitucionalidade do art. 66, VIII, da

LEP (pugnando, assim, pela declaração incidental de sua inconstitucionalidade), a

necessidade de preservação do princípio da Separação dos Poderes (socorrendo-se do

princípio da proporcionalidade e da razoabilidade, com enfoque na “reserva de

governo” e necessidade de manutenção na independência e harmonia dos poderes) e a

inexistência de ofensa ao princípio da dignidade da pessoa humana (em decorrência de,

na medida do possível e das inúmeras contingências próprias de um país em


desenvolvimento, o Estado, por sua Secretaria, estar desempenhando a contento o seu

papel).

Acompanha a resposta os documentos de fls. 43/48, com o fito de

comprovar que medidas vêm sendo tomadas a respeito da situação.

Foi realizada inspeção judicial (Termo às fls.), tendo órgão de

execução ministerial sido adrede comunicado.

Em seguida, sobrevieram informações da SUSEPE e solicitação do

CNJ (em atuação no mutirão carcerário da capital) acerca da problemática, com

apresentação de proposta para o direcionamento de soluções.

Os autos vieram na forma de conclusão.

Suficientemente examinados, decido.

I – PRELIMINARES PROCESSUAIS

Assinalo que a propalada carência de ação, por impossibilidade

jurídica do pedido – o que restou cabalmente visualizado, por inferência, pelo viés

defensivo - , suscitada em resposta, não merece guarida.

Isto porque a alegação de que o Poder Executivo ostenta

discricionariedade para decidir as obras que deve realizar, não podendo haver

ingerência do Poder Judiciário, diz com a própria defesa de fundo do Estado e como
tal será apreciada.

Quanto à competência e ao meio adequado, preconiza a Resolução

nº 47/CNJ sobre a inspeção nos estabelecimentos penais pelos juízes de execução

criminal. Seu art. 2º enuncia que o juiz deve elaborar relatório mensal sobre as

condições da casa prisional e encaminhá-lo, até determinada data, à Corregedoria de

Justiça do Tribunal ao qual pertence, sem prejuízo de outras providências para o

adequado funcionamento do estabelecimento. Destaca-se o papel do juiz da execução,

conforme o modelo de fiscalização que delineia a própria Lei de Execuções Penais (Lei

nº 7.210/84).

No caso de ser necessária a interdição do estabelecimento

prisional, surgem posições acerca de qual rito e qual regime recursal estaria aquela

decisão sujeita. Ou seja: trata-se de decisão jurisdicional-administrativa.

A Lei de Execuções Penais parece confirmar tal posicionamento,

mormente diante da hipótese enumerada em seu art. 66, segundo o qual compete ao

juiz da execução decretar a interdição, parcial ou total, do estabelecimento penal que

estiver em condições inadequadas, ou que estiver em situação violadora dos

dispositivos da LEP, como o caso da superpopulação (art. 85).

Quanto à ilegitimidade da Secretaria de Segurança Pública,

esclareço que embora o Estado de Goiás tenha sido intimado na pessoa do Secretário

de Segurança Pública, a defesa técnica ficou a cargo da Procuradoria-Geral do Estado

- órgão que, integrando Poder Executivo estadual, representa o Estado em juízo ou

fora dele, agindo em defesa dos interesses públicos.


Como se observa, os interesses do Estado, concernentes ao

exercício do contraditório nesta ação, foram respeitados, mormente porque o órgão

responsável pela sua representação em Juízo se manifestou a contento. O fato de o

Excelentíssimo Senhor Governador não ter sido intimado pessoalmente para o ato,

constitui mera irregularidade, pois, formalmente a sua manifestação em Juízo é

atribuída à Procuradoria do Estado, conforme ocorreu na espécie.

Quando o Estado é sujeito passivo em ações judiciais, sobretudo

quando o assunto busca restringir o seu âmbito de atuação ou coibir excesso em suas

manifestações, não há discricionariedade para o Governador do Estado quanto à

manifestação. O Estado, através da sua procuradoria, tem o dever legal de defender

os interesses públicos. Assim, não haveria nenhuma justificativa para se proceder a

intimação do governador, pois o único caminho, por ele a ser seguido, é encaminhar os

autos à procuradoria, para manifestação formal, como ocorreu.

Segundo o princípio da instrumentalidade das formas, os atos

processuais não dependem de forma determinada, senão quando a lei expressamente o

exigir. Não obstante, consideram-se válidos os que, realizados de outro modo, lhe

preencham a finalidade essencial e, ainda que a lei prescreva determinada forma, o

juiz poderá considerá-lo válido se, mesmo que tenha sido realizado de outro modo,

tenha alcançado sua finalidade.

Nessa linha, não há motivos para se proceder a nova intimação,

dessa vez direcionada ao Governador, pois, automaticamente, declinará o ato

defensivo à Procuradoria do Estado. Insistir em nova intimação, para preencher mera

irregularidade formal, simplesmente afrontaria o princípio da economia processual e

sobretudo protelaria a análise de pedido de extrema importância ao poder público.

Assim, rejeito também essa preliminar.


Afasto, ainda, a preliminar de ausência de interesse processual,

sobretudo sustentada pela inadequação da via eleita pelo Ministério Público, por

entender sustentável o pedido fulcrado no art. 66 da LEP, que se encontra em plena

vigência e direciona os caminhos a serem tomados quando se tem por objetivo

normalizar a execução penal, chamando o Juiz – dada a necessidade - a cumprir a sua

função não só jurisdicional, mas também administrativa, nos meandros daquilo que

muitas vezes se denomina função judiciária em sentido estrito.

II – DA PREJUDICIAL À ANÁLISE DO MÉRITO

Conforme se denota de sua resposta, o principal argumento

esposado pelo Estado como forma de repelir a pretensão vertida na inicial é no sentido

de que, julgado procedente o pedido, estará caracterizada a desconsideração ao

“poder discricionário dos atos administrativos do Poder Executivo”, o que resultaria

em invasão indevida em sua esfera de competências e, por conseguinte, em afronta ao

“princípio constitucional da separação de poderes”.

Sem razão, o demandado.

Embora não se desconsidere a liberdade outorgada ao

Administrador Público em deliberar sobre a conveniência e oportunidade de realização

do gasto público, tenho que tal não pode servir de amparo à sua inércia, quando norma

cogente está lhe impondo ação.

Os preceptivos constitucionais e da Lei de Execução Penal acima


analisados são taxativos no sentido de que o Estado deve manter estabelecimentos

carcerários capazes de albergar os apenados, de forma que os mesmos cumpram as

reprimendas que lhe foram impostas dentro de limites razoáveis e, no mínimo,

humanos.

Como é cediço, também, a Constituição Federal (art. 5º, inc.

XXXV), assegura que toda e qualquer lesão ou ameaça de direito será passível de

apreciação do Poder Judiciário.

Ao deixar de edificar casas prisionais em quantidade e qualidade

suficientes ao cumprimento das determinações legais e constitucionais, o Estado está

violando indubitavelmente o direito das apenadas, já que os mesmos restam

compelidas ao cumprimento de suas penas em condições mais gravosas que as

legalmente estatuídas, beirando as raias da crueldade.

Com efeito, a nova visão do direito administrativo vem se

mostrando bem mais aberta, no sentido de se relativizar o chamado poder

discricionário da Administração, de forma que até mesmo suas opções possam ser

questionadas, sob o enfoque da finalidade maior que é o atendimento do interesse

público.

O Poder Estatal é uno, embora exercido por seus três Órgãos de

Poder, cujos atos devem se submeter aos princípios constitucionais maiores.

Nessa visão superior, permite-se ao Judiciário, como guardião da

lei e vigia dos interesses coletivos e públicos, exercer o controle das ações
administrativas, quando desviadas sob o pretexto de sua discricionariedade.

Ademais, ensina Diógenes Gasparini que em se tratando de “atos


discricionários, cabe à Administração Pública escolher dito comportamento. Essa escolha

se faz por critério de conveniência e oportunidade, ou seja, de mérito. Há conveniência

sempre que o ato interessa, convém ou satisfaz ao interesse público. Há oportunidade

quando o ato é praticado no momento adequado à satisfação do interesse público. São

juízos subjetivos do agente competente para certos fatos e que levam essa autoridade a

decidir de um ou de outro modo”(in “Direito Administrativo”, 12ª ed., p. 98).

É evidente, pois, que a esfera de liberdade concedida ao gestor

público está adstrita à aferição da conveniência e oportunidade, jamais aos critérios

de legalidade, ao qual estará sempre vinculado.

Havendo ilegalidade estatal, o Poder Judiciário não apenas pode,

mas, quando instado, deve nela se imiscuir, com o escopo de suprimi-la.

Continuo, nesse direcionamento, com as lições de Diógenes

Gasparini:

“(...) Costuma-se, em muito cuidado, dizer que o ato administrativo


discricionário é insuscetível de exame pelo Poder Judiciário. Tal afirmação não é

verdadeira. O que não se admita em relação a ele é o exame por esse Poder da

conveniência e da oportunidade, isto é, do mérito da decisão tomada pela Administração

Pública (...)” (op. Cit., pp. 99/100).

Poder-se-ia, logo, cogitar de discricionariedade do gestor público,


se o mesmo estivesse cumprindo a lei. Se a todos os apenados fosse resguardado o

direito de cumprimento de suas sanções em consonância com o ordenamento jurídico

vigente.

Se o Poder Executivo não estivesse perpetrando ilegalidade pela

sua omissão, por certo não haveria margem para ingerência do Poder Judiciário.

Mas ao deixar de cumprir o seu dever constitucional e legal, o

Poder Executivo submete-se à intervenção do Poder Judiciário, pois esta se torna a

única maneira de resguardar o direito das apenadas, cuja violação, já se viu, não pode

deixar de ser submetida ao crivo jurisdicional (CF, art. 5º, inc. XXXV).

Nesse sentido, digno de referência, o precedente do Colendo

Superior Tribunal de Justiça, no qual ficou positivada a possibilidade de ingerência do

Poder Judiciário em hipótese de ilícita omissão do Administrador Público:

ADMINISTRATIVO E PROCESSO CIVIL – AÇÃO CIVIL PÚBLICA –

OBRAS DE RECUPERAÇÃO EM PROL DO MEIO AMBIENTE – ATO

ADMINISTRATIVO DISCRICIONÁRIO. 1. Na atualidade, a

Administração pública está submetida ao império da lei, inclusive

quanto à conveniência e oportunidade do ato administrativo. 2.

Comprovado tecnicamente ser imprescindível, para o meio ambiente,

a realização de obras de recuperação do solo, tem o Ministério

Público legitimidade para exigi-la. 3. O Poder Judiciário não mais se

limita a examinar os aspectos extrínsecos da administração, pois

pode analisar, ainda, as razões de conveniência e oportunidade, uma

vez que essas razões devem observar critérios de moralidade e

razoabilidade. 4. Outorga de tutela específica para que a


Administração destine do orçamento verba própria para cumpri-la.

5. Recurso especial provido. (REsp 429570/GO, Rel. Ministra ELIANA

CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 11/11/2003, DJ 22/03/2004

p. 277) – grifei.

III - PASSO À MATÉRIA DE FUNDO PROPRIAMENTE DITA.

A medida de interdição total ou parcial de um presídio é hipótese

extrema e deve ser aplicada se não existirem outros meios para solucionarem o

problema. Ao magistrado é dada essa valoração a partir das circunstâncias fáticas e

nos meandros de um juízo de proporcionalidade , a fim de aplicar a medida necessária,

útil e adequada para solucionar as controvérsias instauradas em torno da situação.

A superlotação é uma fator norte e inicial a se ponderar no pedido

de interdição, pois a maioria dos impasses defluem dessa questão. A unidade prisional

do Semiaberto(novo) foi projetada para abrigar 230 (duzentos e trinta) presos, mas

atualmente recolhe cerca de 393 (trezentos e noventa e três). A capacidade dessa

unidade para tal acolhimento praticamente aproxima-se do dobro da quantidade

projetada. Por simples equação matemática, percebe-se o abismo instaurado entre a

possibilidade real de ocupação e a quantidade de preso encarcerada nesta unidade

prisional.

As questões relacionadas à superlotação do presídio semiaberto

são visivelmente graves. As contra-argumentações, neste sentido, seriam

insubsistentes, pois os fatos atestam, por si só, a situação caótica enfrentada por

essa unidade de contenção da liberdade. O dado objetivo, in casu, basta.

Revisito, nesse diapasão, Aluísio Azevedo, em sua clássica obra “O


Cortiço”, onde expõe, com a maestria que é peculiar, a deturpação do caráter humano

e uma consequente zoomorfização dos atos dos homens quando um amontoado

desorganizado de gente se congrega. O desregramento surge a partir da insalubridade

– entendida em variados níveis – do ambiente, provocando ações animalescas para a

garantia da sobrevivência, arraigando o instinto natural de permanência.

A visão naturalista infelizmente parece, em certos contornos,

estampar uma provocação de olhar, sob sua ótica, acerca do assunto que ora se trata.

Por vezes, tem-se assistido, nesta VEP, homens semilibertos, afoitos pela

sobrevivência, que clamam apenas por um espaço que lhes garanta chegarem “vivos” ao

final da empreitada de cumprimento da pena ou, pelo menos, ao alcance de um

benefício de menor vulnerabilidade institucionalizada (Casa do Albergado;

Recolhimento Domiciliar, com PSC; Livramento Condicional).

Volto ao enfrentamento da questão.

Como já aflorado, a superlotação faz surgir uma diversidade de

problemas. O primeiro da lista é a questão da saúde e salubridade.

Após inspeção na unidade prisional, confirmaram-se algumas

questões sopesadas pelo Parquet. Delineio.

Às claras, não se encontrou na unidade prisional nenhum posto de

atendimento médico ou odontológico.

A questão da saúde necessita de implantação de plano que coloque

na unidade penal uma equipe de saúde que conte não só com médicos, mas também com

assistente social, psicólogo, dentistas e enfermeiros. A dignidade da pessoa humana

passa por essa questão.


Em conversa com o presos, insistentemente, tenho ouvido

reclamações sobre a falta de assistência médica primeira. Aqueles que precisam de um

tratamento mais profícuo já mal conseguem descrever o descaso a que se encontram

sujeitos, porque minados pelo desfalecimento.

Reiteradamente, em decisões proferidas em audiência, tenho

determinado a prestação de assistência médica integral aos que dela necessitam ( com

posterior informação, em prazo demarcado, das medidas tomadas a este Juízo),

sopesando à diretoria do estabelecimento a necessidade de cumprimento à risca do

deliberado, sob pena de responsabilização.

A falta de higiene é outro fator de grande impasse. Não estou

falando da higiene pessoal, porque isso não me pareceu problema entre os presos. Falo

da falta de higiene do presídio, em virtude das más condições da estrutura. Os locais

destinados à captação dos restos de detritos humanos estão expostas, ao ar livre, o

que tem provocado a disseminação de odor, a proliferação de diversos insetos e

pernilongos e sérios problemas ambientais.

A inexistência de condições mínimas de higiene degrada a saúde. O

reservatório de esgoto não é limpo diariamente e, na época de inverno, chegam-se a

transbordar as fossas ali instaladas.

Os vasos sanitários instalados dentro das celas – muitos deles –

não têm sequer equipamentos de descarga, o que agrava mais ainda a situação de

salubridade dentro da unidade, provocando a proliferação de doenças e mal cheiro,

tornando a permanência odiosa.

Nesse aspecto, Manuel Bandeira parece muito bem se colocar


quando versou “ Vi ontem um bicho/ Na imundice do pátio/ Catando comida entre os

detritos (...)”.

A situação – agora em prosa – é ímpar e desafiadora, por

extrapolar as nuanças da mera reflexão filosófica e acadêmica –, pois, em uma mão,

encontram-se reeducandos necessitando de tratamento digno e adequado – ajustando-

se a situação ao princípio maior da dignidade da pessoa humana – e, na outra via, a

Administração Penitenciária que não possui recursos financeiros e nem material

humano suficientes para gerir totalmente essa necessidade, em decorrência do

notório fato de descaso governamental no que tange à estrutura carcerária.

Tais situações são incompatíveis e inconciliáveis, mas contornáveis,

desde que sopesadas pela técnica da ponderação de interesses. No conflito entre o

direito fundamental à saúde (tendo como continente a dignidade da pessoa humana) e

a inércia da administração penitenciária em não ofertar atendimento adequado aos

reeducandos, prevalece, logicamente, o primeiro em detrimento do segundo.

Se o Estado assumiu o papel de executar as penas dos seus

algozes, derrocando o sistema de vingança privada, para tornar possível a convivência

em sociedade, deve propiciar meios e mecanismos eficazes para essa contenção

social, sob pena de “ publicizar a vingança”, sem reestruturar e pacificar os conflitos,

mas tão-só camuflá-los.

Cediço é que a unidade prisional em foco não possui aparelhagem

suficiente para atender à comunidade carcerária.

Embora não haja estatísticas oficiais, é notório o avanço de

doenças infecto-contagiosas no cárcere, muitas delas ocasionadas pela insalubridade

do espaço fechado e desestruturado, o que preocupa sobremaneira este magistrado,


co-responsável pela preservação da integridade física do preso.

As celas da prisão não podem constituir óbice para o exercício dos

direitos fundamentais. Seria reduzir a mera folha de papel o texto constitucional ao

se permitir que segregados não possam usufruir de direitos mínimos como a saúde e o

meio-ambiente equilibrado.

A escassez de água dentro da unidade prisional também é

preocupante. Repetir é “chover no molhado”, mas a água é elemento essencial para a

sobrevivência do ser humano. Houve inúmeros reclamações dos presos, na

oportunidade da inspeção judicial, atestando a falta de água potável dentro da unidade

prisional em alguns períodos do dia.

A água ali fornecida se dá na forma de rodízio com horário

marcado. Em razão disso, há a necessidade de se adequar à escassez, cada um ao seu

modo e em constante peregrinação nordestina. A unidade só possui um reservatório de

água, projetado para atender uma população carcerária bem menor da que atualmente

existe.

Os reflexos dessa crise dilatam-se por todo o seio da sociedade

carcerária, pois, à medida que não se efetivam as regras mínimas de sobrevivência no

cárcere, pune-se o condenado duas vezes, e, conseqüentemente, aumentam-se os

números de fugas e diversos incidentes em sede de execução.

Em suas manifestações, a Secretaria de Segurança Pública

apresentou soluções parciais para o problema, quando o enfrentou de forma

extremamente breve.

Em primeiro lugar, informou acerca da construção de um


alojamento, ao lado do presídio, com capacidade de abrigar mais 128 (cento e vinte e

oito) presos e com previsão de conclusão da obra em 30 (trinta) dias – prazo este já

expirado e não cumprido, não havendo nenhum registro de comunicação nesta VEP

neste sentido.

Quanto às equipes de saúde nada informou acerca da sua

estruturação e composição, embora haja uma necessidade urgente na contratação de

equipe de saúde composta por enfermeiros, técnicos em enfermagem, médicos,

psicólogos e odontólogos, de maneira a prestar um serviço contínuo.

Em segundo lugar, também informou que se encontra em estágio

avançado a construção, no exterior da unidade, de uma pequena rede de esgoto com

capacidade para atender 600 (seiscentos) contribuintes.

De fato, a obra encontra-se em fase de acabamento. Segundo

informações obtida in loco, o término na obra está próximo, ainda para o final deste

mês, e propiciará a sensível diminuição do odor putrefante, inclusive a proliferação de

insetos e pernilongos, por ter sido ajustado em espaço externo ao presídio.

Como já se aflorou, em oportunidade pretérita, problemas deste

jaez só podem ser resolvidos com a implantação de política de investimento adequado

e programado. O órgão responsável pela Administração dos Presídios desta capital,

Secretaria de Segurança Pública, apresentou soluções parciais, tímidas e

aparentemente concretas para enfrentar a problemática.

Consoante explicado, o pedido de interdição de um presídio não

pode ser visto somente sob o prisma jurídico, dissociado da realidade social e político-

administrativa. Se se afastar dessa idéia, poder-se-ia acabar gerando mais conflitos

sociais, pois desativar uma unidade prisional requer a elaboração de um plano


estratégico e programado para remanejar os presos que ainda não gozam da liberdade

plena.

Os problemas apresentados pelo Parquet de fato existem e

arrisco em dizer que já são históricos, tendo apenas se desembocado neste momento.

Assisto, diuturnamente, declarações de presos narrando as

mazelas da unidade, sobretudo quanto à superpopulação, insalubridade e insegurança.

Chegam a nomear o espaço de campo da Colônia como “México”, referindo-se ao espaço

das fugas às pressas.

Entretanto, em inspeção realizada no dia 11/09/2009, percebi um

certo empenho da direção local da unidade para solução das questões ventiladas,

tendo, inclusive, demarcado prazos para conclusão de um novo galpão para o abrigo de

presos, com a estrutura mínima necessária, diminuindo a superlotação; conclusão da

rede de esgoto, para melhoria das questões de salubridade; implementação do posto

de saúde médico/odontológico; melhoria da iluminação local; ativação das guaritas

externas de vigilância, com permanência e revezamento de servidores; racionalização

da distribuição de água potável e mecanismos de monitoramento e garantia de

segurança dos presos, com trabalho externo, na travessia da estrada de terra de

acesso ao presídio .

Frise-se que a presente decisão não tem o condão de encerrar o

problema veiculado neste expediente, fato que só é possível com políticas públicas

adequadas de investimento apropriado. Todavia, enquanto isso não ocorrer, não posso

me silenciar, assistindo à distância as cenas dantescas de repetição continuada.

Vejo que as provas carreadas aos autos demonstram que o

estabelecimento do regime semiaberto (novo) desta capital enfrenta graves


problemas em sua estrutura, havendo um certo compromisso da Administração local

em sanar alguns deles. Com isso, entendo, de um lado, ser coerente e proporcional

conceder prazo para a Administração concluir essas obras, amoldando os interesses

em jogo à razoabilidade que o caso exige, e, de outro lado, adotar medidas urgentes

para coibir evidentes excessos de execução, tudo à luz dos paradigmas que a LEP

tratou em relação à maneira própria de execução da pena em regime de semiliberdade.

Por isto, compatível se torna o remanejamento dos reeducandos,

com trabalho externo por certo prazo e sem restrição de cometimento de falta média

ou grave no período e certidão carcerária apta, para outra unidade prisional, e

consequente extensão da medida, em decorrência do princípio da igualdade e devido à

necessidade de obtenção de vagas, àqueles do regime aberto, em iguais condições,

para cumprimento em recolhimento domiciliar com PSC (Prestação de Serviço à

Comunidade), estimulando, dessa forma, o exercício do trabalho como excelente fator

de ressocialização e proporcionando estímulo não só para o integral cumprimento da

pena – evitando as famigeradas e constante fugas –, mas também ao retorno à

convivência social de forma mais sadia e menos degradante.

Em confluência do exposto, incumbe ao Poder Judiciário

determinar o cumprimento dos mandamentos constitucionais, sobretudo no que

concerne ao implemento, no plano material, dos direitos subjetivos

constitucionalmente protegidos. Nesta assentada, buscando dar azo à plena

efetividade dos direitos dos presos, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE O

PEDIDO DE INTERDIÇÃO DO PRESÍDIO DO REGIME SEMIABERTO, devendo-se

obedecer as seguintes regras:

1ª Transferência programada da Colônia Agroindustrial para a

Casa do Albergado.
Os reeducandos do regime semiaberto que exercem trabalho

externo devem ser transferidos, no prazo máximo de 20 (vinte) dias, para a Casa do

Albergado, para pernoitarem, desde que estejam a mais de 04 (quatro) meses

exercendo trabalho externo e sem registro de falta média ou grave durante esse

período e ostentem boa conduta carcerária.

Fica assegurado, ainda, aos reeducandos do regime semiaberto que

laboram, inclusive junto a unidade prisional, em suas atividades cotidianas, o direito de

receberem saída de um dia aos domingos, uma vez ao mês, sem prejuízos do gozo da

saída temporária previsa no art. 123 da LEP, desde que obedecidas as condições

estabelecidas acima (mais de 04 – quatro - meses de atividade laborativa e

inexistência de falta média ou grave durante esse período ) e em pedido formalmente

direcionado à diretoria da unidade prisional que se incumbirá da análise e emitirá

relatórios bimestrais a esta VEP para fiscalização.

Justifica-se esta autorização a partir de uma análise sistemática

da LEP, que garante aos sentenciados o direito de assistência entendida em seus

múltiplos aspectos, incluindo a promoção da unidade familiar e ressocialização

progressiva. Entendo que o parâmetro ora fixado contribuirá para a efetivação do

senso de disciplina, uma vez que estimulará o cumprimento de regras para o alcance do

benefício – que foi reivindicado quando da inspeção judicial por mim realizada junto a

unidade prisional do denominado semiaberto “novo”.

As exigências de autorização para o trabalho externo continuam

dependentes da efetiva comprovação da idoneidade do local de prestação, incluindo-

se, se necessário, a fiscalização por parte da diretoria do Presídio do Semiaberto para

a certificação desse requisito, com a observação de que, como de praxe, a autorização


continua passível de decisão judicial.

2ª Autorização de cumprimento pena em regime domiciliar com

prestação de serviços à comunidade.

Aos reeducandos que cumprem pena em regime aberto,

independentemente da natureza do crime pelo qual foram condenados, desde que

laborem a pelo menos 04 (quatro) meses neste regime ( com a devida comprovação,

não bastando apenas declaração), não tenham cometido nenhuma falta média ou grave

durante esse período e ostentem boa conduta carcerária, fica assegurado o regime

aberto com prestação de serviços à comunidade, ficando a execução e fiscalização a

cargo do Setor Interdisciplinar Penal – SIP, incluindo-se no que tange aos

comparecimentos periódicos .

Caso a atividade laborativa dos reeducandos do regime aberto seja

informal, deverá a Casa do Albergado, por meio de sua equipe própria e a partir de

declaração neste sentido, diligenciar junto ao local informado e certificar a

veracidade da informação, a princípio no prazo susomencionado e, posteriormente, em

prazo não superior a 10(dez) dias da feitura do pedido.

3º Disposições gerais.

A aferição dos requisitos para a transferência dos reeducandos do

regime semiaberto que exercem trabalho externo para a Casa do Albergado, ficará a

cargo da direção das unidades do regime aberto e semiaberto que deverão elaborar

planos estratégicos para se evitar tumultos e preterições na ordem de concessão


destas transferências, devendo este Juízo ser cientificado da listagem de

qualificação dos beneficiários, o que não constituirá óbice para inspeções posteriores

e periódicas.

Deverá, ainda, após o prazo demarcado para a efetivação da

medida, a direção do semiaberto enviar, também , a referida listagem, acompanhada

do endereço dos beneficiários, à Polícia Militar, via Comando Geral e Comando do

Policiamento da Capital , para que esta instituição, nas nuanças únicas do Projeto

Polícia Comunitária, possa contribuir na busca da efetiva ressocialização dos presos,

nos estritos termos do demarcado no ofício nº 1174/2009 – CPC/1 – 1º CRPM. Em

continuidade, deve a direção da unidade prisional atualizar a listagem mensal,

encaminhando-se como determinado.

Quanto aos pedidos do regime aberto para recolhimento domiciliar

com prestação de serviços à comunidade, deverão ser direcionados pela Casa do

Albergado ao Juízo das Vara das Execuções Penais, devidamente instruídos, com

certidão carcerária atualizada, com a data de inclusão do reeducando na unidade

prisional, bem como acompanhado de declaração idônea de exercício de trabalho

externo, no prazo máximo de 10 (dez) dias, para a verificação da regularidade dos

requisitos fixados e agendamento da data de realização de audiência admonitória para

se advertir acerca do cumprimento das condições a serem observadas e propiciar um

melhor controle deste Juízo quanto à redistribuição dos autos à 6ª Vara Criminal

desta Capital (VEPEMA), atual competente para o trato e fiscalização do cumprimento

das penas e medidas alternativas, conforme prevê a Lei Estadual nº 16.435/2008,

devendo este Juízo ser cientificado da listagem de qualificação dos beneficiários, o

que não constituirá óbice para inspeções posteriores e periódicas.

Deverá, ainda, após o prazo demarcado para a efetivação da

medida, a direção da Casa do Albergado enviar, também , a referida listagem,


acompanhada do endereço dos beneficiários, à Polícia Militar, via Comando Geral e

Comando do Policiamento da Capital , para se atender as finalidades já demarcadas e

atentando-se, também, para as atualizações mensais, com o devido encaminhamento.

Ademais, seguem abaixo as medidas que deverão ser adotadas

pela Administração Pública, no prazo de 120 (cento e vinte) dias, sob pena de

poder se proceder à interdição total da unidade do regime semiaberto:

I - Deverá a Administração da unidade prisional adquirir equipamentos, a fim de

fornecer água potável aos reeducandos na quantidade necessária para atender uma

população de aproximadamente 300 (trezentos) presos, sobretudo bombas de água

para viabilizar a distribuição de água tratável;

II - Encaminhar a relação das equipes de saúde, acompanhadas dos nomes dos seus

respectivos membros, o plano de trabalho e lotação, observando que cada equipe

deverá ser composta no mínimo de um técnico em enfermagem, médico, odontólogo,

entre outros profissionais, cujo atendimento deverá ser prestado no mínimo em dias

alternados;

III - Conclusão da reforma imediata da rede de esgoto, a fim de sanar as

irregularidades nas condições de salubridade desta unidade prisional, em especial no

que pertine à canalização do esgoto para local seguro e de moda a não afetar as

condições de saúde e convivência da população carcerária;

IV - Conclusão do novo pavilhão que se encontra em fase de acabamento, bem como a

aquisição de 128 camas e colchões, devendo a sua inauguração ser realizada no prazo

aqui fixado, desde que adrede autorizado pelos órgão do poder público competente.

Fica aqui a observação de que referido pavilhão deverá garantir uma estrutura mínima
de ocupação humana,incluindo-se, entre outros itens, sobretudo boas condições de

salubridade, ventilação e ocupação, sob pena de imediata intervenção judicial.

V - Implantação de novos postes de luz dentro e nos arredores da unidade prisional,

bem como a troca de todas as lâmpadas defeituosas, além de estruturação das

guaritas externas de fiscalização que devem ser ocupadas diuturnamente por agentes

penitenciários e policias militares em escala de plantão .

VI - Detetização periódica contra a proliferação de insetos, e outros transmissores

de doenças, devendo-se, a partir do prazo fixado, ser encaminhado projeto de

detetização, com as prováveis datas da sua realização, sendo que após a

implementação da medida, deverá encaminhar a esta VEP laudo circunstanciado.

VII - Reforma programada de toda unidade do conhecido “novo” semiaberto, com a

construção de novas fossas, feitura de novos pisos, banheiros, pintura e construção

de um muro adequado à manutenção de segurança da unidade. Caso necessário, fica

autorizado o remanejamento dos reeducandos, na medida do necessário, do “novo”

semiaberto para a unidade do denominado “antigo semiaberto”, a fim de se garantir a

segurança da unidade prisional e preservação da salubridade, devendo-se tomar todas

as cautelas próprias.

VIII - Ocupação racional das celas, de modo a vislumbrar a não ocorrência de

superpolução, respeitando-se os seus limites físicos de ocupação, devendo-se, no

período demarcado para a correção das falhas observadas, serem emitidos relatórios

quinzenais acerca do efetivo da população carcerária, para que este Juízo possa

analisar os parâmetros da razoabilidade e intervir, caso necessário, quando houver

excesso de execução, sob pena do diretor incorrer em crime de desobediência.

IX - Patrulhamento contante, sobretudo no período noturno, na área de acesso à


unidade prisional em trato, garantindo-se segurança nos arredores.

Ultimado o prazo acima descrito e não sendo implementadas as

medidas aqui determinadas, oficie-se à Corporação de Bombeiros do Estado de

Goiás para realizar inspeção e juntar laudo acerca das condições físicas da

Colônia Agro-Industrial(novo semiaberto) e à Secretaria Municipal de Saúde para

anexar laudos acerca dos serviços de saúde prestados naquela unidade prisional.

Em seguida, volvam-me os autos, na forma de conclusão, para

analisar a possibilidade de interdição total deste presídio, na forma do art. 66,

VIII, da Lei de Execução Penal.

Em tempo, cumpram-se as determinações que se seguem:

Notifique-se o Parquet.

Notifique-se à Superintendência para Assuntos Penitenciários da


Secretaria de Segurança Pública.

Intime-se o Secretário de Segurança Pública.

Intime-se a Procuradoria Geral do Estado.

Comunique-se à Diretoria do Foro de Goiânia, a Presidência e a


Corregedoria Geral de Justiça do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás.

Comunique-se à Procuradoria Geral de Justiça e a Corregedoria


Geral do Ministério Público do Estado de Goiás.

Comunique-se à Ordem dos Advogados do Brasil- OAB-Seccional


Goiás.

Comunique-se ao Conselho Penitenciário e ao Conselho da


Comunidade de Goiânia/GO.
Comunique-se ao Conselho Nacional de Política Criminal e
Penitenciária (CNPCP) e ao Departamento Penitenciário Nacional - DEPEN.

Comunique-se ao Comando Geral da Polícia Militar do Estado de


Goiás e ao Comando do Policiamento da Capital.

Fica a observação que devem seguir, em anexo aos atos de


comunicação, cópia desta decisão.

P.R.I.

Cumpra-se.

Goiânia, 23 de outubro de 2009.

ALESSANDRO MANSO E SILVA

Juiz Substituto

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