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EDIPUCRS:
Jerônimo Carlos Santos Braga – Diretor
Jorge Campos da Costa – Editor-chefe
JACQUES A. WAINBERG
LÍNGUAS FERINAS:
UM ESTUDO SOBRE A POLÊMICA E OS POLEMISTAS
Porto Alegre
2010
© EDIPUCRS, 2010
Capa: Deborah Cattani
Diagramação: Deborah Cattani
Revisão: Rafael Saraiva
CDD 418.2
MICHEL FOUCAULT
SUMÁRIO
_______________________________________________________________________________________
Apresentação ........................................................................................ 9
APRESENTAÇÃO
_______________________________________________________________________________________
1
Ver os textos de Marcelo Dascal: Epistemology, Controversies and P ragmatics e How rational
can a polemic across the analytic-continental 'divide' be?
em www.tau. ac.il/humanities/Philo/ dascal/papers/dascal3.htm
e www.tau.ac.il/humanities/Philo/dascal/papers/divide.html
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SCHOPE NHAUE R, Arthur. Como Vencer um Debate sem Precisar Ter Razão em 38
Estratagemas. TopBooks 2003, p.197.
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opinião pública. Por isso a luta retórica parece ser tão dramática. O que mais
importa aos polemistas é simplesmente o desejo de superar o adversário. A boa
vontade em ouvir a verdade e a humildade em admitir o equívoco num debate de
ideias é tão difícil e as consequências são tão duras, que os envolvidos nas
disputas fazem de tudo um pouco para postergar esse momento cruel de
revelação.
Nesse tipo de controvérsia predomina mais a apologia e a pregação e
menos o diálogo; mais a oratória, menos a audição; mais a imposição, menos o
consenso; mais a certeza do orador e menos as dúvidas da audiência; mais o
carisma do polemista e menos o espírito crítico do receptor, seja ele leitor,
ouvinte, espectador ou fiel seguidor. O choque entre os interlocutores pode ter
trajetórias variadas. Por vezes começa como uma mera discussão. Pode evoluir a
uma controvérsia culminando por fim numa disputa. Nesse caso mais grave o
embate pode se eternizar por gerações. O confronto torna-se tão profundo e
enredado que os pacificadores têm dificuldade em evitar que predomine a
ruminação. A situação gerada lembra a de um trauma. Os fantasmas do passado
não deixam os rebentos recém nascidos sossegados. Falam e sussuram aos
ouvidos das novas gerações. Enorme energia é canalizada para entender e dar
continuidade a essas lutas dos pais e avós. Por isso, há que se ter cuidado com a
importância e a relevância que se dá por vezes à discórdia. Por ser tão intensa
torna-se difícil domar aquele tipo de discurso que eterniza o mal-entendido, não
deixa sossegada a imaginação, impede a inovação, e torna o culto a certa versão
da história, a certo desencanto, a certo infortúnio, a certo rancor em fator decisivo
na elaboração de uma identidade. Remete-o ao núcleo duro das crenças
cristalizadas na cultura de um povo. Impede uma rota de fuga através da qual os
jovens podem se encaminhar para construir uma vida disponível a um novo
recomeço.
Em determinadas circunstâncias, esse tipo de discurso evocado sem
cessar em disputas de aparência épica só consegue ser superada com o
esquecimento forçado, com o desinteresse que permite a sobrevivência psíquica
de um indivíduo, de um grupo e dos povos. Assim, todos os que querem viver
uma nova vida são obrigados matar pela heresia os seus mortos. Só assim eles
próprios conseguem renascer sem os vícios de linguagem, sem os ódios
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Fontes: Adaptado de DASCAL, Marcelo. Types of Polemics and Types of Polemcial Moves. In: C.
MEJRKOVÁ, S.; H OFFMANNOVÁ, J.; MÜLLEROVÁ, O. & SVETLÁ, J. (eds.) (1998). DialoganalyseVI.
Referate der 6. Arbeitstagung, Prag 1996. Beiträge zur Dialogforschung. Tübingen: Niemeyer, 2
volumes./ Sara Greco. Dascal on Interpretation and Understanding. Studies in Communication
Sciences 5/1(2005) 217-230
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Recolhemos em nossas vidas aquilo que semeamos em nosso passado. Senão entendermos
isso não escaparemos à cadeia de consequências e não saberemos o porquê dos nossos
sofrimentos. Quando uma pessoa semeia desgraças, provocando dano aos demais, colherá ela
própria os efeitos deste infortúnio. Essa é a lei do Karma. Ela ajusta o efeito a sua causa.
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GALTUNG, Jonah. Pax Pacifica. Pluto Press. 2005.
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testamento. Elas tentam projetar ao futuro seu dizer sobre o sentido da vida
social. Assim como os anciões tribais de antigamente, que falavam e contavam as
histórias comunais como narrativas de encantamento e doutrinação dos jovens,
essa peça de oratória tenta comprometer os seguidores de uma liderança
qualquer a certos vínculos morais que dão identidade a um grupo. Ela é uma
tentativa de manter vigoroso um tipo de discurso, permitindo que o orador, mesmo
que do além, continue a influenciar as controvérsias dos novos tempos. Tais falas
vêm disfarçadas por vezes de conversas de aparência casual. A longa entrevista
que Fidel Castro deu a Ignácio Ramonet, o editor espanhol do Le Monde
Diplomatique, em várias oportunidades no período de janeiro de 2003 a dezembro
de 2008, tem sido interpretada como um testamento político desse tipo.
Já a mensagem oferecida em 20 de novembro de 1975, pelo Generalísimo
de los Ejército de Tierra, Mar y Aire, Caudillo de España por la Gracia de Dios,
Vencedor Invicto por Dios y por España Francisco Franco Bahamonde foi mais
formal. Seu testamento político é uma breve, mas categórica declaração ao povo
da Espanha. Resume sua mensagem num parágrafo grave e solene:
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Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma
pressão constante, incessante, tudo supor tando em silêncio, tudo
esquecendo a mim mesmo, para defender o povo que agora se queda
desamparado. Nada mais vos posso dar a não ser meu sangue. Se as
aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando
o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida. Escolho este
meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis
minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater à vossa porta,
sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos.
Quando vos vilipendiarem, sentireis no meu pensamento a força para a
reação. Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa
bandeira de luta. Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na
vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao
ódio respondo com o perdão. E aos que pensam que me derrotaram
respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liber to
para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será
escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e
meu sangue será o preço do seu resgate.
7
Frederick II, Political Testament, in Europe in Review, eds. MOSSE, George L. et al. (Chicago:
Rand MacNally, 1957), p. 110-112. Reprinted in S HERMAN, Dennis, ed., Western Civilization:
Sources, Images, and Interpret ations, Vol. II, (New York; McGraw-Hill, 1995) p. 41-42.
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Ver http://socrates.clarke.edu/aplg0100.htm
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falhas. Aos olhos de Platão a dialética era a única forma segura de se alcançar o
verdadeiro objetivo da filosofia. Ao contrário da erística, a conversação em torno
de proposições (tese) e contra proposições (antítese) em busca de uma síntese
deve estar (como dito) despojada de sentimentos.
Por isso, o raciocínio deve estar atento à esperteza e aos jogos de
linguagem. Busca identificar os objetivos dos participantes em diferentes tipos de
diálogo. Depois observa a conclusão oferecida e as premissas em que o
argumento está baseado. Exige de quem fala provas capazes de sustentar a
veracidade da afirmativa. Busca falhas na argumentação, ora atacando suas
premissas, ora oferecendo contraexemplos, identificando falácias ou ainda
demonstrando que a conclusão oferecida não deriva das proposições
apresentadas.
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Fonte: Adaptado de DASCAL, Marcelo. Types of Polemics and Types of Polemcial Moves. In: C.
MEJRKOVÁ, S.; H OFFMANNOVÁ, J.; MÜLLEROVÁ, O. & SVETLÁ, J. (eds.) (1998). Dialoganalyse
VI. Referate der 6. Ar beitstagung, Prag 1996. Beiträge zur Dialogforschung. Tübingen: Niemeyer, 2
volumes.
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Ver ASH, Timoth Garton. Orwell’s List. The New York Review of Book s. V.50, n.14. 25 de
setembro de 2003.
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Estados Unidos (Chaplinsky versus New Hampshire, 1942) que define e protege a
liberdade de expressão. É considerada uma agressão que visa provocar a
violência. O mesmo ocorre no Canadá (seção 319 do Código Criminal), embora
nesse país se enfatize o tipo de risco que o discurso poderá causar. Por exemplo,
é crime advogar o genocídio e incitar e promover publicamente o ódio contra
algum grupo identificável. A apologia pública (instigar, provocar e excitar por
qualquer meio, inclusive a internet, ou forma) à prática de qualquer fato delituoso
tipificado também é crime segundo o Código Penal do Brasil. A doutrina o
qualifica como ”crime sem fronteira”. Mesmo o indivíduo que simplesmente se
vangloria de algum ato desse tipo é considerado culpado. Nesse tipo de situação
não é necessário que a declaração provoque qualquer resultado prático que
perturbe a paz pública.
Esse cuidado com a palavra explica ainda porque a Presidência do Brasil
publicou em 2004, uma cartilha denominada Politicamente Correto & Direitos
Humanos. Diz seu preâmbulo que
10
ROSS ONI, Roberta Justo. A Escolha Lexical do Uso da Linguagem Politicamente Correta: uma
análise de acordo com a teoria das implicaturas de Grice. Dissertação de Mestrado. Fac uldade de
Letras. PUCRS. 2008, p.7.
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The Politically Incorrect Guide to American History por Thomas E. Woods ; The Politically Incorrect Guide
to Islam (And the Crusades) by Robert Spencer; The Politically Incorrect Guide to Women, Sex, and
Feminism by Carrie L Lukas; The Politically Incorrect Guide to Darwinism and Intelligent Design by
Jonathan Wells; The Politically Incorrect Guide to E nglish and American Literature by Elizabeth
Kantor; The Politically I ncorrect Guide to the Sout h (and Why It Will Rise A gain) by Clint
Johnson; The Politically Incorrect Guide to Global Warming and Environmentalism by Christopher C
Horner (February 2007) ISBN 1596985011;The Politically Incorrect Guide to Capitalism by Robert P.
Murphy (April 2007); The Politically Incorrect Guide to the Constitution by Ke vin R.C. Gutzman; The
Politically Incorrect Guide to Hunting by Frank Miniter;The Politically Incorrect Guide t o the Bible by
Robert J. Hutchins on;The Politically Incorrect Guide to t he Middle East by Martin Sief; The
Politically Incorrect Guide to Western Civilization by Anthony Esolen; The Politically Incorrect Guide
to the Civil War by Harold William Crocker III; The Politically Inc orrect Guide to the Vietnam War by
Phillip Jennings.
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Cabe salientar que por vezes a polidez reflete menos um esforço artificial
para evitar um discurso ofensivo e mais uma tendência natural de certa sociedade
indisposta a expressar abertamente desconforto, emoções e disposição ao
embate teórico. Estudos interculturais têm feito comparações dos traços dessas
“personalidades coletivas”.
Uma das pioneiras contribuições a essa temática dos marcadores culturais
dos povos foi a obra de E. T. Hall, The Silent Language de 1959, considerada
uma das mais influentes no estabelecimento da área dos estudos interculturais. O
livro chamou a atenção às distintas formas de comunicação não verbal dos
grupos humanos. Referiu-se à variedade dos tipos de linguagens corporais, de
organização dos espaços e dos signos paralinguísticos, entre outros fatores.
Depois, em 1969, em The Hidden Dimension, este autor classificou e diferenciou
as culturas humanas como Altamente Dependente de Contexto e Levemente
Dependente de Contexto. No primeiro caso, os interlocutores levam em conta o
não dito. É o caso de culturas tradicionais usualmente referidas como as
existentes nos países árabes e mediterrâneos além do Japão, da França, da
Alemanha e da Rússia entre outros. Nas Culturas Levemente Dependentes de
Contexto seria o contrário, ou seja, a maior parte da informação que está sendo
transmitida precisa estar na mensagem. Precisa ser explicitada. Exemplos
referidos desse tipo de cultura são as existentes em países como os da
Escandinávia, a Alemanha, a Suíça, a China e os Estados Unidos. Nessas
culturas nacionais, o que vale é o que está escrito e afirmado às claras. Tais
sociedades são contratuais e o peso dos usos e costumes é menor.
As tensões políticas internacionais e as trocas comerciais mobilizam e
motivam agora também os negociadores globais a levarem em consideração esas
máximas dos estudos interculturais. Muitos desses levantamentos comparados
entre povos, nações e grupos humanos são realizados por pesquisadores das
relações internacionais, do comércio internacional e de áreas afins como o
marketing e a publicidade internacional. Na verdade, predomina nesses
ambientes acadêmicos e científicos o interesse aplicado pelas temáticas da
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Percentual dos respondentes que afirmam não estarem dispostos a mostrar emoções em público
Kuwait 15
Argentina 28
Brasil 40
Inglaterra 45
Portugal 47
Austrália 48
Áustria 59
Etiópia 81
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Esta é a temática da obra 21Leaders for the 21st Century dos autores.
15
Culture Club: an interview with Fons Trompenaars. Business Strategy Review, 2002, V olume 13
Issue 1, p. 31-35.
16
Professor Emérito de A ntropologia Organizacional e Administração Internacional da
Universidade de Maastricht da Holanda.
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Indiv idualismo é contrastado com coletiv ismo e diz respeito ao grau que se espera que
as pessoas atuem com autonomia ao contrário do que propõe o conceito coletiv ista
que espera que as pessoas atuem em organizações ou grupos. As culturas latino-
americanas apresentam os mais baixos indicadores de indiv idualismo.
Estados Unidos 91, Austrália 90, Bélgica 75, Irlanda 70, Suíça 68, África do Sul 65,
Áustria 55, Espanha 51, Argentina 46, Irã 41, BRASIL 38, Turquia 37, México 30,
Portugal 27, Chile 23, Singapura 20, Colômbia 13, Guatemala 6.
As Categorias de Hofstade: Masculinidade/Feminilidade
Masculinidade diz respeito a valores como competitividade, decisão, ambição,
acumulação de riqueza e bens materiais, enquanto os valores opostos, geralmente
descritos como femininos, valorizam mais os relacionamentos e a qualidade de vida.
Quanto mais alto o escore mais alto o grau de ”masculinidade”.
O Brasil está numa posição bem intermediária entre o Feminino (valores de modéstia e
fraternidade) e o Masculino (assertivo e competitivo).
Japão 95, Hungria 88, Itália 70, México 69, Filipinas 64, Estados Unidos 62, Índia 56,
Bélgica 54, Líbano 52, Paquistão 50, BRASIL 49, Nigéria 46, Gana 46, Irã 43, Espanha
42, Zâmbia 41, Guatemala 37, Chile 28, Dinamarca 16, Noruega 8.
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OS ELEMENTOS DA ERÍSTICA:
O CETICISMO, A IRONIA E O HUMOR
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Professores de Mishná, a lei oral, no período de 219 a 500 a.e.c.
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1776) são alguns dos pensadores que seguiram os passos de Pirron de Elis (360-
272 a.C), referido como o pai do ceticismo. Pirron renunciou ao desejo de buscar
a verdade considerado um objetivo inalcançável. Suspendeu assim qualquer
julgamento. Sua posição extrema acabaria gerando o pirronismo ou ceticismo
pirrônico, corrente fundada por Enesidemo de Cnossos (I d.C) e difundida na
Renascença graças ao trabalho realizado por Sexto Empírico (200 d.C). Na
origem, seu método tratava de abalar as verdades estoicas. A suspensão de
julgamento dos pirronistas acabou gerando um estilo de vida que chamaríamos
hoje de contemplativo, usual em ambientes místicos e nos ermos destinos dos
eremitas.
Montaigne popularizou o ensaio, o gênero preferencial dos polemistas
desde os seus dias. Mesclou a especulação teórica com a ruminação, anedotas e
autobiografia. Julgava que a única forma de capturar a verdade era seu próprio
julgamento. Bayle, por sua vez, ao retornar ao calvinismo após breve conversão
ao catolicismo, acabaria perseguido como herético. Nessa oportunidade
familiarizou-se com as ideias de René Descartes o que lhe ajudou a consolidar
um temperamento crítico. Seu racionalismo visava subverter a autoridade
eclesiástica e filosófica dos seus antecessores. Tal visão contribuiu para seu
alinhamento a uma concepção humanista em ascensão à época. Ela afirmava a
tolerância intelectual, política e religiosa. Já Hume foi figura proeminente do
iluminismo escocês tornando-se polêmico por sua rejeição do deísmo. Era
favorável aos métodos empíricos e de observação como únicas formas de obter o
conhecimento.
Um curioso subproduto contemporâneo dessa tradição rebelde, de crítica
incessante, geraria nos Estados Unidos ”A Sociedade dos Céticos” que visa agora
desmascarar a pseudociência, a superstição, e as crenças irracionais em todo o
mundo. A revista Skeptic tem tratado de temas como percepção extrassensória,
teorias conspiratórias, o monstro do Lago Ness, o poder da pirâmide,
criacionismo, histeria de massa, gênios, bruxaria e a pseudo-história. A
Sociedade afirma que ceticismo é a aplicação da razão e o reconhecimento da
necessidade de se coletar evidência para sustentar ideias. Outro resultado
igualmente contemporâneo dessa tradição é a ”publicidade subversiva” que faz
paródia dos anúncios publicitários das grandes corporações. Seus autores
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tratamento que lhe era dado. O show burlesco tipicamente costumava incluir a
comédia, a dança, o strip tease e a linguagem rude. Muitos comediantes, entre
outros atores desse gênero, acabariam migrando ao vaudeville, uma forma de
entretenimento similar, mas mais respeitado socialmente. Ele tornou-se popular
nos séculos XIX e início do XX nos Estados Unidos. Incluíam em cada ato de 10 a
15 quadros de mágicos, acrobatas, comediantes, animais treinados, cantores e
dançarinos. Hoje há certo renascimento do gênero – o neoburlesco – que apela
menos para a crítica social e mais para a ação cênica, de dança e strip tease.
Já o que caracteriza a sátira é o seu tom. Ele pode variar desde um polo no
qual predomina a crítica moderada a outro em que expressa uma ríspida e
amarga indignação. Ela é encontrada na literatura, na cinematografia, nas artes
visuais, nos panfletos, no jornalismo, na música, na poesia, no teatro, entre outras
formas de comunicação, confundindo-se por vezes com a comédia. Ela combina a
amargura e a raiva com o humor servindo frequentemente a propósitos políticos
variados. Visa ridicularizar o opositor de alguma forma.
Exemplo moderno é o filme de Charles Chapplin, O Grande Ditador, no
qual a vítima de sua ironia é Adolf Hitler. South Park é outro exemplo. Esta série
de TV satiriza o cristianismo, o catolicismo, o mormonismo, o judaísmo, a
cientologia e o Islã entre outras religiões. Outro exemplo, ainda, são as
caricaturas de Maomé que publicadas em vários jornais, em 2006, causaram
emotivas reações por parte das comunidades islâmicas em várias partes do
mundo. Da mesma forma, o filme Borat provocou indignação de grupos distintos.
A Família Simpson igualmente faz alguma sátira, no caso religiosa, através do
Ramo Ocidental da Igreja Reformista Americana Presbiluteranista, denominação
a qual pertence a maioria dos habitantes de Springfield, a fictícia cidade em que
vivem esses personagens. É uma paródia das denominações protestantes dos
Estados Unidos. Seria uma divisão da Igreja Católica durante o também fictício
“Cisma de Lourdes” em que os rebelados lutaram pelo direito de irem à igreja com
o “cabelo molhado”. Também o filme A Vida de Brian satiriza temas bíblicos.
Outra película, Dogma, faz ironia religiosa ao brincar com a ideia de que o último
descendente de Jesus Cristo é uma mulher que trabalha numa clínica de aborto
de Illinois.
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mais fraca no embate. Nas disputas retóricas o humor é bem vindo ainda porque
aumenta a tolerância à dor e provê energia ao público estimulando-lhe o prazer
21
de viver. Ao relaxar a mente e o corpo , dá vazão à ansiedade do público. O
ouvinte ri provocado por vários estímulos, entre eles a tragédia e a deformidade
alheia, o ridículo, o absurdo, a incongruência entre um conceito e um objeto real,
o exagero, a distorção, a malícia e a hostilidade, entre outras causas. Em todas
elas o sorriso surge numa fração de segundo, pois é propriedade do humor
surpreender e ser decodificado sem dificuldades. Como afirmado, através de suas
“tiradas”, o polemista provoca a sensação no ouvinte de que triunfou e se
sobrepôs ao adversário. Por isso, o humor é visto como uma atividade social e
uma arma intelectual que serve de vetor à agressividade dos debatedores. Eleva
o polemista a um nível superior a do rival que lhe serve de alvo. Na imprensa
brasileira contemporânea um exemplo desse gênero de crítica bem-humorada é a
coluna de José Simão, na Folha de São Paulo. Um dos segredos é que este
gênero comunica muito mais do que diz através de implícitos variados. Além
disso, o alcance de suas máximas é universal. Ou seja, (1) o humor é um
fenômeno inato, e que é essencial à sobrevivência das espécies (o humor existe
também em primatas e outros animais); (2) é uma das emoções mais primitivas;
(3) os sorrisos e as gargalhadas expressam prazer; (4) cada proposição
humorística é de certa forma ilógica, por vezes contraditória. No entanto, (4) a
piada é percebida diferentemente pelo humorista e seus ouvintes de um lado, e o
“objeto da agressão” do outro.
As razões do humor
21
Foi estimado que rir 100 vezes ao dia equivale a 10 minutos de esteira de ginástica ou a 15
minutos de bicicleta estacionária. Rir exercita o diafragma, o abdômen, a respiração, a face, as
pernas e os músculos das costas. Alivia a ansiedade, prot ege o coração, diminui o nível de açúcar
no sangue, melhora o fluxo sanguíneo, o sistema imunológico, o sono, a disposição física, embora
desencadeie em ¾ dos casos a asma.
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Conclusões
Absurdo Ambiguidade Trocadilho Alegoria
inesperadas
Simplicidade
Contraste Caricatura Similaridade Contradição
aparente
Expectativa não
Ironia Metáfora Escárnio Ditos populares
resolvida
Compreensão
Exager o
Surpresa Subestimação literal das Paradoxo
(hipérbole)
palavras
Conexão entre Pista a uma
Eufemismo termos Mistura de estilos cadeia de Repetição
incompatíveis associações
Estabelecimento
Duplo sentido Contradição Incompatibilidade Fuga do perigo
da superioridade
Excessiva Desvio do senso Rima
Transferência Grotesco
racionalidade comum imprópria
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Rushdie autor de ”Versos Satânicos”, à somali Ayaan Hirsi Ali, autora de ”Infiel”, e
à Tasleema Nasreen, de Bengladesh, autora de ”Lajja”. Muitos teólogos
muçulmanos liberais e pensadores como estes se refugiaram em países
democráticos de onde continuam a desferir – alguns deles protegidos pela polícia
– seus petardos retóricos. Tal confronto não é novo no Islã. Exemplo de polemista
ferrenho do século XI na Espanha moura é Ibn Hazm. É descrito nas fontes
islâmicas como debatedor feroz, dotado de uma virulência incomum que atacava
seus opositores com veemência e ardorosamente. Faltava-lhe tato e delicadeza.
Acabou, como é usual nesses casos, isolado, excomungado, perseguido e
odiado.
No Islã a apostasia é denominada ”ridda”. Embora o Alcorão não defina
quais punições devam ser aplicadas aos apóstatas, o ato é visto como insultante.
Os que rejeitam o Islã nascidos no seio da ”ummah” (a comunidade islâmica
mundial) são denominados pejorativamente como ”murtad fitri” e os que se
converteram e após se arrependeram são nomeados como ”murtad milli”. Não
raro, e segundo algumas interpretações teológicas, a pena de morte pode ser
aplicada aos homens apóstatas (é o que ocorre na Arábia Saudita, Iêmen, Irã,
Sudão, Afeganistão, Mauritânia e Camarões) e prisão perpétua às mulheres. Os
literalistas aplicam o hadith “Quem mudar sua religião, mate-o”. Alguns
interpretam essa tradição como traição e não somente apostasia. A medida é
bastante controversa e teólogos liberais islâmicos recusam essa leitura da
passagem. No judaísmo ele é rotulado como yetzia bisheila, o que abandona o
pacto.
No período da Guerra Fria, o traidor da fé política era usualmente rotulado
como “desertor”. Foram os casos de inúmeros alemães e soviéticos (entre outros)
que partiram rumo aos países democráticos, e de ocidentais que se refugiaram no
oriente, entre eles, 21 prisioneiros americanos e um britânico que desistiram da
repatriação após a Guerra da Coréia, elegendo permanecer na China. Foi o caso
também do espião britânico Kim Philby. Ele fugiu em 1963, após ser descoberto
que trabalhava para a KGB soviética. Morreria na Rússia em 1988.
Nesse país o destino destes pensadores polemistas tem sido mais cruel.
No alvorecer do regime comunista, cerca de dois terços deles pereceram ao lado
das forças opositoras aos comunistas ou emigraram rumo aos países bálticos
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vizinhos. Lênin costumava definir essa inteligentsia como “podre” e Stalin, após
perseguir e assassinar muitos deles iria substituí-los por uma nova classe de
autores e pensadores fíéis, disciplinados e acima de tudo temorosos de seu
governo. No Camboja, onde igualmente se instalou um cruel regime comunista, a
hostilidade aos intelectuais era tanta que em alguns setores do regime do Khmer
Rouge (1975-1979) pessoas que usassem óculos eram mortas. Ou seja, os
óculos eram interpretados como marcas de educação, refinamento, elitismo e
intelectualismo. O regime islâmico do Irã provocaria também uma nova onda de
emigrados entre seus mais importantes intelectuais. Entre 1980 e 1982, o
currículo universitário foi ”purificado” e autores foram perseguidos e mortos (o
poeta Said Soltanpour, por exemplo, foi executado).
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ao ator. Revela o princípio moral que por fim é consagrado ou ferido na trilha e no
percurso adotado pelo indivíduo.
Por isso, os livros de ética estão cheios de exemplos de dilemas radicais.
O exame dos casos permite observar a polêmica e o cálculo moral dos envolvidos
na controvérsia. Os exemplos de dilemas morais ponderam sobre os limites e as
possibilidades da ação humana. Aos nossos fins, cabe simplesmente assinalar
essa virtude do dilema: gera discussão, produz a dúvida, e não raro, predomina
na sua solução o desejo das pessoas em não se distinguirem com sugestões
atípicas e originais. Tendem a dizer o que o senso comum diz; repetem o que
ouvem; seguem as lideranças. Certamente esse não é o caso dos polemistas que
vieram ao mundo para divergir e atormentar o comportamento de horda das
multidões. A vocação e ação subversora dos polemistas vêm por isso envolta em
certa angústia moral, e produz sempre sua consequência inevitável – a
dissonância cognitiva que abala o comportamento de parcela do público envolvido
na celeuma. Ela permite que se vislumbre alternativas e que se rompa com a
tradição dos costumes.
No caso das disputas teológicas a hostilidade entre os debatedores foi
denominada de Odium theologicum. Ele esteve presente, por exemplo, em
inúmeros embates que teólogos judeus e cristãos travaram ao longo do tempo,
mas em especial nos realizados em Paris em 1240, em Barcelona em 1263, em
Burgos em 1375, em Tortosa em 1413, em Roma em 1450 e na Alemanha em
1500. Foram na verdade espetáculos realizados em praça pública, assistidos por
multidões e pelos dignitários da Igreja, que visavam acusar o Talmud de ser uma
peça literária que em essência era difamatória de Jesus e do dogma cristão.
Visavam também amedrontar as comunidades judaicas forçando-as à conversão
ou à expulsão. Certamente não foram os únicos embates do tipo. O conflito entre
cristãos e muçulmanos foi intenso na Península Ibérica durante o período do
domínio mouro da região. Hostilidade similar desenvolveu-se também entre os
dissidentes protestantes e a Igreja. E agora, mais intensamente, o mesmo tipo de
ódio teológico prevalece entre os diversos ramos do islamismo. Por isso,
inúmeras vozes falam hoje da necessidade de aparecer no seio da ummah uma
espécie de ecumenismo islâmico, principalmente entre xiitas e sunitas.
51
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O DEBATE E A MÍDIA
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56
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23
Jornal, História e Técnica- História da Imprensa Brasileira. São Paulo: Ed. Ática. 1990. p.32.
57
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Onde o Público Norte-A mericano se Infor mou sobre a Campanha Presidencial de 2008
Programas de Entrevista e
15% 17% 16% 12% - 16% - 17% -
Debate no Rádio
Programa de Entrevista e
Debate Político na TV a 14% 14% 15% 12% - 11% - 18% -
Cabo
Programas Políticos de TV
15% 13% 14% 4% - 12% - 21% -
aos domingos
Programas na TV Pública 12% 11% 12% 6% - 12% - 14% -
Revistas 15% 10% 11% 8% - 9% - 13% -
Programas de Entrevistas de
9% 9% 9% 10% - 8% - 9% -
Fim de noite na TV
Rádios religiosas 7% 5% 9% 5% - 8% - 12% -
CSPAN 9% 8% 8% 6% - 9% - 9% -
Programas de humor na TV 6% 8% 8% 12% - 7% - 6% -
Lou Dobbs Tonight 7% 7% - 5% - 8% -
Fonte: Pew Research Center for the People & the Press
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A NATUREZA DA POLÊMICA
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Do que foi dito até aqui cabe recordar a mensagem de que a polêmica
pública envolve uma dimensão educativa que visa influenciar de algum modo o
estado de espírito das pessoas que observam o embate. Não é por consequência
um mero diálogo ou uma conversação intimista. Simples discordância de opinião
não é fator suficiente para evocar uma polêmica. O que entra em jogo aqui é a
potencialidade de seus efeitos. A controvérsia deve ter um peso maior. Deve
envolver uma quantidade de tópicos entrelaçados. Deve provocar a polarização
dos pontos de vista. Suas consequências são existenciais. Há acusadores e há
defensores que buscam, ora negar a suspeita, ora apresentar desculpas e ora
ainda justificar determinado comportamento, decisão, ideia e preferência.
Como afirmado, é condição da polêmica a existência de um dilema 24,
natural ou provocado. A ambiguidade inerente a tais impasses do pensamento
provoca ansiedade, e por decorrência desejo de resolução. É esse fator que dá
ânimo ao embate. Tem-se aqui, por isso mesmo, gladiadores em luta, com a
agressividade que caracteriza tais disputas. No caso, há uma simulação de um
jogo de vida e morte. A agonia esportiva que atrai multidões aos ginásios e
estádios é o mesmo fator mágico que anima o toma-lá-dá-cá de tais falas. Sabe-
se de antemão que haverá sempre torcidas em oposição. Para cada ginga de
corpo da pena haverá sempre um suspiro de surpresa do público, que treme, ora
de prazer, ora de ódio com o tilintar dos verbos.
Ao contrário da referida agonia esportiva, a da polêmica não tem hora para
acabar. O espetáculo proporcionado é a exegese, a capacidade de espremer a
palavra. É isso que diverte as massas. O espetáculo do embate é público, mas
geralmente não é frontal. Como os diplomatas, raramente um polemista enfrenta
seu adversário como boxeador num ringue. O choque é indireto, geralmente
24
No campo científico a opção por modificar genes de vacas leiteiras para permitir que um
rebanho produza em média 60 litros por dia tem como ameaça a possibilidade de que um
determinado vírus passe automaticamente de um animal para outro. Outro exemplo: já se tornou
comum a produção de certos medicament os, como a insulina, por bactérias modificadas com o
implante de genes humanos. O próximo passo é a implantação de porções de DNA humano em
grandes mamíferos, para produção de compostos sanguíneos úteis. Ovelhas modificadas já
produzem experimentalmente o fator de coagulação humano, usado para tratar hemofílicos. O
dilema é que como o DNA não é uma molécula estável, teme-se sua contaminação por genes
animais.
60
LÍNGUAS FERINAS: UM ESTUDO SOBRE A POLÊMICA E OS POLEMISTAS
25
Entrevista concedida a Paul Rabinow em maio de 1984, pouco antes de sua morte.
26
TA RD, G. L’Opinion et la foule. Paris:Presses Universtaires de France. 1989 p. 87 In K IM,
Joohan; KIM, Eun Joo. Theorizing Dialogic Deliberation. Coomunication Theory v.18, n.1, feb
2008. p. 51-70.
27
WELSH, S. Deliberative democracy and rethorical production of political culture. Rethoric and
Public Affairs 5, p.682 In NOLA, J. Heidlebaugh. Invention and Public Dialogue. Communication
Theory. V.18, n.1, feb 2008, p. 27-50.
61
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62
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31
Ver WEHRE NFE NNIG, Daniel. Conflict Management and Communic ative Action.
Communication Theory. V.18, n.3, agosto de 2008. p. 356-377.
32
Em busca de um mundo melhor. p. 90.
33
Ibid, p.173.
34
Ibid, p.187.
35
A Sociedade Democrática e Seus Inimigos. p.179.
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36
Ver o site http://www.examinethetruth.com/
70
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38
O Irracional Superior, Época 12 de fevereiro de 2001. Seus livros de filosofia são Aristóteles em
Nova Perspectiva, O Jardim das Aflições, O Futuro do Pensamento Brasileiro. Suas traduções
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Epílogos
1.
Que falta nesta cidade? ................................. Verdade
Que mais por sua desonra.............................. Honra
Falta mais que se lhe ponha .......................... Vergonha
2.
Quem a pôs neste socrócio? ............................ Negócio
Quem causa tal perdição? ............................... Ambição
E o maior desta loucura? ................................ Usura.
Notável desaventura
De um povo néscio, e sandeu
Que não sabe, que o perdeu
Negócio, Ambição, Usura.
anotadas são Como V encer um Debate S em Precisar Ter Razão, de Schopenhauer. Entre seus
livros de polêmica está O Imbecil Coletivo.
39
Rosas e pedras do meu caminho.
74
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40
Crônicas do viver baiano seiscentista. 1969.
41
ASSIS, Machado de. Bons Dias. Ed. Hucitec/Unicamp. SP:1990.
75
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42
CALAFA TE, Pedro. O Pensamento filosófico de Tobias Barreto. Universidade de Lisboa.
43
BARRE TO, T. S obre a Filosofia do Inconsciente 1874. Estudos de Filosofia, edição dirigida por
Luiz Antonio Barreto. SP, p.181 In Ibid.
44
Trat a-se de um frente formada por intelectuais reunidos na faculdade de Direito de Recife.
Inspira-s e nas ideias de Comte, Darwin, Taine e na filosofia evolucionista de Spencer entre
autores e pensadores. Advoga também o monismo e reage à filosofia oficial do império. Sua
missão política era opor-se à monarquia.
76
LÍNGUAS FERINAS: UM ESTUDO SOBRE A POLÊMICA E OS POLEMISTAS
45
Machado de Assis ia às tardes à Livraria para se encontrar com José Veríssimo, Lúcio de
Mendonça e vários outros. Desse grupo e desses encontros nasceria a Academia Brasileira de
Letras.
46
PEREIRA, Milena da Silveira. A Polêmica no final do oitocentos brasileiro.
http://www.historica.arquivoestado.sp.gov.br/materias/anteriores/edicao20/materia01/texto01.pdf
47
BUENO, A. e E RMKOFF, G(org) Duelos no serpentário: uma antologia da polêmica inetelectual
no Brasil 1850-1950. RJ: G. Ermakoff Cas a Editorial, 2005.
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são cronistas disciplinados que criticam o que todos criticam, dizem o que todos
dizem, exaltam-se quando todos se exaltam, calam quando todos calam. Evitam
migrar – nem que seja por descuido – ao pantanoso campo das ideias
inesperadas.
79
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Palestra proferida em 18 de junho de 1998 em debate promovido pela Associação de Docentes
da UE RJ.
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para “ter razão” em todos os níveis da cultura, das ciências à ética. Mas
como o universal concreto, o Eterno, não se abala com esta guerra de
formigas (satirizada pelo riso amargo de Luciano, de Erasmo, de Diderot,
de Voltaire, de Swift, de Joyce, de Kafka...) os intelectuais, rápido, dão-
se conta que suas “ver dades” limitam-se ao tempo, e com ele
desaparecem. Donde a invenção de conceitos fantasmagóricos: a
hispóstase das ver dades na Verdade, em maiúscula, seguida pela Beleza,
pelo Bem. Assim, os intelectuais nunca se interessariam pelas pequenas
coisas, eles se dirigem ao Absoluto. Donde, imaginariamente, seria uma
perda de substância, de sua par te, “tomar partido”, ou se prender a esta
ou aquela causa “mesquinha.” Todos os intelectuais autênticos julgam-se
puros, dignos de unirem seu nome às divindades acima indicadas, ou
seja, ao verdadeiro com maiúscula, ao belo, ao bom. Mas como todos
estão imersos no tempo, e todos querem, simultaneamente, atingir o
Absoluto, todos passam a maior parte de seu trabalho procurando
destruir a obra dos demais. Sua realização, ilusória, passa pelo suicídio
coletivo. Rápido, todos descobrem que o “desinteresse” alegado é uma
impostura (Betrug). “Assim, o intelectual, sobretudo o que se deseja
grande e célebre”, não se interessa de fato pela sociedade, pelo Estado,
etc. Ele sonha com o "sucesso de sua obra; ele quer atingir uma
'situação', ter um 'lugar', um 'posto', no mundo dado (natural e social).
Assim, ele não se sacrifica pelo Verdadeiro, pelo Belo, pelo Bem (...) o
universo ideal que ele opõe ao mundo é fictício. O que o intelectual
oferece aos outros não possui valor efetivo; ele os engana, pois. E os
outros, admirando ou invectivando a obra e o autor, o enganam por sua
vez, pois não o ‘levam a sério’. Eles enganam a si mesmos, pois
acreditam na impor tância de seu ofício (a ‘elite intelectual’). A república
das letras é um mundo de ladrões roubados”.
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Representações do Intelectual, Cia das Letras.
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50
Ver The Chronicle Review. Volume 54, Issue 18, Page B5.
84
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51
Como todos os rank ings desse tipo também o apresentado no livro de P osner encontrou fort e
reação e crítica. Ver Reactions to Richard P osner’s Public Int ellectuals. Complete Review
Quarterly. V. III n.2, may 2002.
52
Observatório da Imprensa. Int electuais Bons de Mídia. 7/11/2005.
53
Ver BELÉM, Euler de França. Chomsk y não é o int electual mais important e. Jornal Opção. 20 a
26 de novembro de 2005.
86
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54
www.supersitegood.com/atento/texto.php?mat=503
55
Alan Lightman é Professor de humanidades do MIT. É autor de duas novelas, Einstein's Dreams
e Good B enito. Seus títulos de obras que não são de ficção incluem Origins: the Lives and Worlds
of Modern Cosmologists (com R. Brawer), Ancient Light: Our Changing View of the Universe, e
Great Ideas in Physics.
Ver também The Role of the Public Intellectual.
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56
Ver seu texto How t o be a public intellectual.
www.prospect.magazine.co.uk/article_det ails.php?id=10163
57
Ver seu texto The Resurfacing o the P ublic Intellectual: towards the proliferation of public spaces
of critical intervention. www.acme-journal. org/ vol6/UO.pdf
89
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58
A origem das opiniões dominantes. 25 de outubro de 2005. Diário do Comércio.
59
The Intellectuals and Socialism: As Seen from a Post-Communist Country Situated in
Predominantly Post-Democratic Europe. Václav Klaus, Coment ários preparados para o Mont
Pelerin Society Regional Meeting, Reykjavik, Iceland, august 22, 2005.
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todos parecem ser Noam Chomsky, Richard Dawkins, Salman Rushdie, Vargas
Llosa e Ayaan Hirsi Ali.
O que lhes dá destaque é a obra intelectual, a biografia e a militância,
juntas ou em separado. Ayaan Hirsi Ali aliou intensa militância contra os preceitos
islâmicos à sua história pessoal (seu drama apresentado na obra autobiográfica
Infiel tornou-a celebridade internacional). Rushdie, por sua vez, desfruta, como
Ali, dessa especial condição de perseguido político devido à fatwa iraniana que,
como já referido, o condenou à morte por seu romance: Versos Satânicos (1988).
Os outros três, Chomsky, Dawkins e Vargas Llosa combinam suas obras
acadêmicas com a militância política e social. Todos os cinco despertam fortes
simpatias e críticas. Dividem as opiniões. Causam celeumas.
Noam Chomsky, professor do MIT, tornou-se celebridade do mundo da
linguística quando em 1957 publicou em seu livro Syntatic Structures sua teoria
sobre gramática transformacional generativa. Depois gradativamente fez o que se
espera que faça um intelectual público: passou a publicar e opinar sobre temas
políticos e sociais variados. Tornou-se também um ativista. E foi mais nesta
condição de socialista libertário, anarquista, ou liberal radical (os rótulos variam)
que passou à condição de celebridade internacional. Denunciou em vários de
seus livros a mídia, as corporações e a política externa americana. Os livros
Manufacturing Consent (1988), Propaganda and the Public Mind (2001), American
power and the new mandarins (1969), For Reasons of State (1973), entre outros o
tornaram uma espécie de novo guru intelectual da esquerda no mundo.
Dawkins, por sua vez, dedicou sua carreira em Oxford aos estudos
zoológicos. Sua obra The Selfish Gene (1976) tornou-o uma celebridade
científica. Nesse estudo descreveu o comportamento altruísta de pássaros que
sacrificavam suas vidas para alertar os bandos da aproximação de um predador.
O fato foi apresentado pelo autor como o comportamento de um gene egoísta
interessado em assegurar sua sobrevivência. Aplicaria depois a teoria
evolucionista ao estudo da difusão das ideias (a teoria da ”meme”). Sua fama se
ampliaria ainda mais com a militância social e política na promoção do ateísmo,
combatendo o criacionismo e difundindo o racionalismo. Como Chomsky, tem um
estilo vigoroso que confronta e ataca opositores.
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O REFÚGIO UNIVERSITÁRIO
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61
Cardinal Newman. What is a University? Historical Sketches [1872], I, 16.
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não há a outra. Sabe-se que a liberdade do professor está sob fogo cerrado de
diferentes grupos de pressão e interesses e a Instituição vê-se forçada de tempo
em tempo fazer valer com vigor esse princípio que é sua marca registrada nas
democracias.
No entanto, e como exposto, a coerção e a perseguição ao pensamento
livre existe há tempo e em muitos lugares. Na China, por exemplo, durante a
Dinastia Qin (213 e 206 a.C.) todas as publicações clássicas foram queimadas,
visando suprimir a liberdade de expressão, unificar o pensamento e as opiniões
políticas. Motivado pelo medo à dissidência, o primeiro imperador do país, Qin Shi
Huang resolveu escrever seus próprios livros de história. Os que debatessem as
obras do seu índex deveriam ser mortos. Os que utilizassem exemplos antigos
para satirizar a política daqueles dias deveriam igualmente ser eliminados. E os
que não queimassem os livros listados em 30 dias seriam remetidos ao exílio
como condenados a trabalhar na construção da Grande Muralha. Em 213 a.C.
todos os livros de Confúcio foram igualmente queimados, com exceção de uma
cópia de cada obra guardada na biblioteca estatal. Mas como acontece com
frequência, o que é banido e perseguido num regime, torna-se culto no próximo.
O confucionismo superaria as demais escolas de pensamento, tornando-se a
ideologia oficial do estado imperial chinês após a queda da Dinastia Qin.
A fuga desde regimes fechados aos abertos tem sido a rota comum de
pensadores e autores na história, em especial a partir do século XV quando
acadêmicos gregos se dirigiram à Itália. Esse tipo de perseguição aos intelectuais
foi intenso no período da Segunda Guerra Mundial, em que luminares de todas as
áreas do conhecimento deixaram o Velho Mundo fugindo do nazismo em direção
à América, em especial a do norte. Depois, continuou com a eventual fuga do
regime comunista, das ditaduras militares da América Latina e de regimes
autoritários de outros continentes e mais recentemente de países árabes e
islâmicos.
Por outro lado, entre as críticas mais comuns que se ouve em muitas
partes é a de que os professores doutrinam os alunos, apresentando um único
ponto de vista de uma controvérsia ou de um tema polêmico; que enganam
disfarçando nos seus roteiros de cursos suas verdadeiras intenções ideológicas;
que colocam suas atividades docentes a serviço de causas pelas quais militam
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LÍNGUAS FERINAS: UM ESTUDO SOBRE A POLÊMICA E OS POLEMISTAS
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LÍNGUAS FERINAS: UM ESTUDO SOBRE A POLÊMICA E OS POLEMISTAS
É bem verdade que paga o preço de nem sempre acalentar o mais lúcido, o mais
ilustrado e equilibrado.
É verdade que a docência acaba se transformando no reino de uma só
pessoa. E o que se vê nela então, é um pouco de tudo: educação, mas também
alguma dose de alucinação. Por serem narcisistas e personagens de si próprios,
os polemistas não se caracterizam num bom número de casos pela modéstia.
Acompanham-lhe os passos por decorrência as já mencionadas ”palavras
grandiloquentes" e suas coirmãs, as ”incendiárias”. Aparentemente, esse é o
preço que a sociedade é obrigada a pagar por ter que tolerar tais línguas ferinas.
Tolerar não é gostar, cabe recordar. É aprender a suportar a diferença. O preço é
pago porque com a tolerância pode se obter algum benefício, certamente. No
caso, é a inovação, sempre tão necessária, sempre tão temida. Os que favorecem
esse ponto de vista afirmam que sem a ousadia, a liberdade e a tolerância não
teriam surgido notáveis contagiados pelo espírito da desconfiança e da rebeldia.
A premissa é conhecida. Como o sistema social é formado por pessoas
pensantes, ele depende do que essas pessoas pensam. O fato explica porque
tanto esforço é feito pelos atores sociais e políticos para influenciar as imagens
que carregamos em nossas mentes. Afinal, todos sabem que há uma interação
entre ação e pensamento. Se mudarmos o que pensamos mudaremos da mesma
forma a maneira como nos comportamos. Se essa mudança atingir um grande
número de pessoas haverá uma alteração no próprio sistema. O papel que líderes
de opinião têm na manutenção da ordem e na provocação da desordem dos
sistemas parece compreensível. O desempenho desses personagens que atuam
em nossas cabeças é estratégico e o que sai de suas bocas em direção aos
nossos ouvidos é com frequência matéria de disputa. Por ser combustível puro,
seus efeitos são conhecidos, desejados por uns e temidos por outros. As ideias
que tais polemistas difundem através de movimentos intelectuais variados podem,
por consequência, ser monitoradas. Podemos perguntar que ideias novas tais
movimentos advogam? Por que pensam que o que dizem é importante? Que
novo problema ou perspectiva nova de um velho problema eles percebem? Que
tipo de grupo a nova ideia apoia ou se opõe? Quem é o alvo de sua pregação
persuasora? Em que direção a sociedade se encaminhará uma vez aplicada a
nova ideia? Que tipo de lacuna a nova ideia pretende preencher?
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3. O problema ainda não é reconhecido como impor tante pelas pessoas? Por que não? Que tipo
de valor ou crença impede que ele seja reconhecido como tal?
4. Em vez de atentar para o novo problema, no que a atenção das pessoas está interessada
então?
5. Por que no passado o foco da atenção direcionado a outro tema era adequado?
6. Que razões levam agora à exigência de mudança do foco da atenção das pessoas?
10. Quais são as evidências que revelarão a obtenção dos objetivos desejados pelo persuasor? Em
quanto tempo se espera que os primeiros resultados sejam obtidos?
11. Que mudanças de comportamento são esperadas caso as pessoas de fato alterarem crenças e
valores?
É bom salientar que num bom número de casos a irritação que essa gente
causa nos leitores, nos alunos, nos telespectadores e nos crentes é justificável.
Com frequência os polemistas são implicantes e rabugentos. Alguns escondem
nas profecias alguma dose de melancolia por sonhos acalentados e frustrados,
por fantasias revolucionárias e decepções políticas e existenciais. Como
incendiários, também escondem o prazer que sentem em ver a agitação tomar
conta do ambiente. E não são poucos entre eles que atuam também como se
mafiosos fossem: caridosos em casa e cruéis nas páginas dos jornais no embate
aos inimigos.
Noutros casos são as ideias as culpadas. Elas são subversivas mesmo.
Teme-se nelas o ”efeito galileu”. Honra ao mérito é dada a Galileu Galilei (1564-
1564), o primeiro a confirmar a teoria de Copérnico (1473-1543), o astrônomo que
em seu tempo havia sugerido que a Terra não era o centro do universo. Por
perspicácia, e sabedor das consequências de tal ideia perigosa, Copérnico evitou
divulgar sua publicação com essa notícia até os últimos dias de sua vida.
Trabalhou em segredo. Durante 30 anos coletou informações. Propositadamente
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62
Esta lista inclui, entre inúmeras obras e autores, as seguintes: Rabelais (CW) Montaigne
(Essais), De scarte s (Méditations Métaphysiques et 6 autres livres, 1948), La Fontaine (Contes et
Nouvelles), Pascal (Pensées), Monte squieu (Lettres Persanes, 1948), Voltaire (Lettres
philosophiques; Histoire des croisades; Cantiques des Cantiques), Jean-Jacques Rousseau (Du
Cont rat Social; La Nouvelle Héloïs e), Denis Diderot (CW, Encyclopédie), Helvétius (De l'Esprit;
De l'homme, de ses facultés intellectuelles et de son éducation), Ca sanova (Mémoires), Sade
(Justine, Juliette), Mme De Stael (Corinne ou l'Italie), Stendhal (Le Rouge et le noir, 1948), Balzac
(CW), Victor Hugo (Notre Dame de Paris; Les misérables jusqu'en 1959), Gustave Flaubert
(Mme Bovary; Salammbô), Alexandre Dumas (divers omans) Emile Zola (CW), Maeterlinck
(CW), Pierre Larousse (Grand Dictionnaire Universel), Anatole France (prix Nobel en 1921, CW
à l'Index en 1922), Andre Gide (prix Nobel, CW à l'Index en 1952), Jean Paul Sartre (Prix Nobel
(refus é), CW à l'Index en 1959), Peter Abelard, Erasmus, Nicholas. Machiavelli, John Calvin, John
Milton, Malebranc he, Baruch Spinoza, John. Locke, Bishop Berk eley, David Hume, Condillac
d'Holbach, d'Alembert, La Mettrie, Condorc et, Daniel. Defoe, Jonathan. S wift, S wedenborg
Laurence. Sterne Emmanuek. Kant, H. Heine, J. S. Mill, G. D'Annunzio, H. Bergson.
63
Os moviment os heréticos são os seguintes: Anabaptistas, Paulícianos, Montanismo, Ofismo,
Marcionismo, Adocionismo, Adamismo, Monarquianismo, Gnosticismo, Sabelianismo,
Maniqueismo, Donatismo, Arianismo, Apolinarianismo, Monotelismo, Nestorianismo,
Pelagianismo, Monofisismo, Catarismo, Bogomilismo, Socianismo, Quietismo, Americanismo,
Calvinismo, Lut eranismo e Protestantismo.
101
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102
LÍNGUAS FERINAS: UM ESTUDO SOBRE A POLÊMICA E OS POLEMISTAS
Diz Darwin ainda: “Olhando o mundo numa data não muito distante, que incontável
número de raças inferiores terá sido eliminado pelas raças civilizadas mais altas!”
Para completar, diz Carvalho, há ainda um apelo explícito à liquidação dos
indesejáveis:
Essa polêmica sobre o ”design inteligente” é hoje uma das mais intensas e
envolve um esforço concentrado de instituições, intelectuais e igrejas variadas em
todo o mundo que se articulam contra a militância crescente de ateístas e
agnósticos, muito deles posicionados nos círculos científicos. O Discovery
Institute, um think thank cristão e conservador dos Estados Unidos, criaria a
International Society for Complexity, Information and Design, uma sociedade
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LÍNGUAS FERINAS: UM ESTUDO SOBRE A POLÊMICA E OS POLEMISTAS
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JACQUES A. WAINBERG
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LÍNGUAS FERINAS: UM ESTUDO SOBRE A POLÊMICA E OS POLEMISTAS
sua atenção no corpo individual, visando melhorar sua qualidade de vida. Alguns,
como o teórico Raymond Kurzweil, acreditam que haverá nos próximos 50 anos
uma mudança real na natureza humana. Os perigos que cercam essa nova
tendência de ”se brincar de Deus” provocaram uma série de tendências, entre
elas a abolicionista (uma ideologia que visa aplicar as novas tecnologias para
aliviar o sofrimento humano), o transhumanismo democrático, o extropianismo
(defende uma postura pró-ativa sobre a evolução humana); o imortalismo (uma
ideologia baseada na fé que a imortalidade tecnológica é possível e desejável), o
transhumanismo libertário (conjuga libertarianismo e transhumanismo), o pós-
gênero (deseja eliminar a diferenciação entre homem e mulher através da
aplicação de avanços da biotecnologia e tecnologias reprodutivas), o
singularitarianismo (ideologia moral baseada na crença de que a singularidade
tecnológica é possível), e o tecnogainismo (uma ideologia ecológica sobre o
poder que as tecnologias têm de restaurar o ambiente). Esse tipo de provocação
do Edge continuou em 2009 com a pergunta feita a 151 cientistas: ”O que
modificará tudo? Que ideias científicas e desenvolvimento você espera viver para
ver?”. (Anexo 6)
O livro Grandes Idéias Perigosas apresenta uma boa coleção desse tipo de
profecias e alertas. Geralmente elas vêm sob a forma de perguntas. Por exemplo,
Steven Pinker questiona: “terão os homens aptidões e emoções diferentes das
mulheres?” (SIM); “os acontecimentos descritos na Bíblia são fictícios?” (SIM); “as
vítimas de estupro sofrem conseqüências por toda a vida?” (NÃO); “os homens
têm uma tendência ao estupro” (NÃO); “o estupro cairá quando a prostituição for
legalizada?” (SIM); “a sociedade teria mais benefícios se a heroína e a cocaína
forem legalizadas?” (SIM); “as pessoas religiosas mataram mais pessoas que os
nazistas?” (SIM); “mais pessoas seriam salvas se um livre mercado de comércio
fosse implantado para órgãos a serem transplantados?” (SIM) “as pessoas
deveriam ter o direito de se clonar e melhorar as características genéticas dos
seus filhos?” (SIM).
Saber perguntar parece ser um mérito e um atributo de polemistas
vocacionados ao embate erístico e aos cientistas dispostos a abalar crenças com
ideias ”tóxicas”. É a pergunta que anima qualquer tipo de investigação, seja ela
jornalística, acadêmica, médica, policial ou científica. A vocação de todas é a
107
JACQUES A. WAINBERG
mesma. Para que se cumpra sua missão não cabe a pergunta retórica e
protocolar. A que se impõe nesses casos é a que permite acesso à informação
relevante, o primeiro e decisivo degrau rumo ao conhecimento. Os demais
estágios do pensamento, a compreensão, a aplicação, a análise, a síntese e a
avaliação derivam dessa decisiva fase que está na base do pensamento.
Quem não pergunta não conhece, não pensa e não sofre. Quem não sabe
perguntar não descobre. Essa propriedade, é bom reconhecer, é de poucos. A
maior parte pensa como ”empilhador”. Põe dado recém coletado sobre dado já
arquivado e tenta com dificuldade fazer sentido dos mesmos. Com frequência,
apela a intérpretes e provedores de pistas. É uma minoria que pensa como
”cartógrafo”, capaz de descobrir novos mundos e de criar novos mapas mentais
para orientar as pessoas a trilharem novos caminhos, chegando muito
provavelmente onde outros nunca estiveram antes. É uma jornada perigosa que a
maioria das pessoas tenta evitar.
Outra tendência natural é evitar também de pronunciar a opinião dissidente
quando os indivíduos percebem que estão em minoria. Por isso, no conflito entre
a fala e o silêncio, o que é sufocado leva por vezes uma centena de anos para
mover a balança da opinião pública a seu favor. As pessoas tendem a se proteger
na zona de conforto. O desconforto acaba surgindo na voz desses personagens
todos, e dependendo do vigor do novo discurso a fé pública na tradição acaba aos
poucos combalida. E até que a maioria se torne minoria muito embate, e com
frequência, muito sangue corre solto nas páginas dos jornais.
Como é comum em muitas organizações, em muitas universidades e na
sociedade em geral, os servis concordinos parecem avançar mais facilmente e
rapidamente nas carreiras. Encorajar a dúvida e ensinar a perguntar é missão
escolar e educativa com frequência traída. Eterniza-se em muitos desses
ambientes concorridos não só a polidez, mas o hábito. Aprende-se por fim a dizer
o que todos querem ouvir. Predomina o wishful thinking.
A boa investigação demanda outra coisa. A dúvida fertiliza a mente. Ela
provoca as boas perguntas. Traz a novidade a tona. A boa dúvida é construtiva e
está animada pelo encanto de uma nova verdade. As mentes duras e as
personalidades rígidas e inflexíveis acusam incomodadas essas mentes inquietas
de serem desleais, infiéis, destrutivas e hostis.
108
LÍNGUAS FERINAS: UM ESTUDO SOBRE A POLÊMICA E OS POLEMISTAS
APRENDER,
MEMORIZA R E ABSORVER
GERA R E PRODUZIR
1. Arquivar 1. Julgar
2. Calcular 2. Suspeitar
3. Incorporar 3. Desafiar
4. Condensar 4. Persuadir
5. Abstrair 5. Rejeitar
6. Memorizar 6. Destruir
7. Descobrir
7. Compreender 8. Revelar
9. Teorizar
10. Generalizar
11. Planejar
12. Prever
13. Criar
14. Adaptar
15. Inventar
66
Ver In Defense of Dangerous Ideas. 15 de julho de 2007.
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LÍNGUAS FERINAS: UM ESTUDO SOBRE A POLÊMICA E OS POLEMISTAS
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JACQUES A. WAINBERG
vozes pernósticas que só dizem o que tem a dizer com muito floreio e jinga de
corpo nas salas de estar.
Há vozes que só falam aos sussurros, queixosas. Há vozes que fazem um
jogo de esconde-esconde, como crianças a brincar. Há vozes rimadas, vozes
mimadas e agitadas, vozes que se escondem na ficção e na imaginação. Vozes
que só falam por via indireta, por metáforas, através de personagens, alguma
trama e à prestação. Para elas a realidade é a fantasia. Na verdade, são vozes
que vivem no mundo da lua. Para dizer às claras o que pensam demoram um
tempão. Até lá fica esse jogo de faz de conta a exigir muita interpretação e
concentração.
Debatedor x polemista etc.
Exemplo de aplicação dessa metodologia é o cadastro realizado pelo autor
de todas as vozes convocadas, em 2008, por dois programas de debates da
mídia eletrônica de Porto Alegre.
112
LÍNGUAS FERINAS: UM ESTUDO SOBRE A POLÊMICA E OS POLEMISTAS
Número de
Número de
debatedores que Média geral de Média geral de
debatedores com
participaram em debatedor repetido debatedor por
participação nos
mais de um por programa programa
dois programas
debate
14. 15. (14/7) 16. 17. (9/7)
1128 2,1 62 2,25
Os mais frequentes:
Os mais frequentes:
número de
Tipos de debatedores número de Total Ranking
participações no
participações no CC
Polêmica
Observa-se que essa espécie de ave que canta e assobia muito na mídia é
fenômeno mundial. No exame comparado entre esse vozerio dos pampas e os
dos intelectuais mais influentes no mundo parecem estar representados, entre
outros, principalmente, os cientistas políticos, os economistas, os filósofosos,
ativistas/militantes e os jornalistas. O que faltou na lista gaúcha são os cientistas.
Sua influência parece ser menor que a observada no cenário internacional.
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18
16
14
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10
Série1
8
6
4
2
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Ci so fo
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C.
40
35
30
25
20 Série1
15
10
5
0
pa
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Ás
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or
ro
Áf
La
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N
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Eu
A.
As
A.
O
S.
Um total de 1.882 vozes de 1.208 debatedores foi listado nas 535 edições
do “Polêmica” da Rádio Gaúcha e ”Conversas Cruzadas” da TVCom. Ou seja,
uma média de 2,25 debatedores por programa. É fácil entender que o número de
vozes superou o número de debatedores, porque 1.128 debatedores participaram
mais de uma vez nos debates ao longo do ano. Um total de 62 debatedores
frequentaram ambos os programas. É verdade que outros programas similares
existem noutras estações de TV e rádio de Porto Alegre. Também é verdade que
estes números (1.208 debatedores) não incluem fontes exclusivas de outras
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LÍNGUAS FERINAS: UM ESTUDO SOBRE A POLÊMICA E OS POLEMISTAS
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LÍNGUAS FERINAS: UM ESTUDO SOBRE A POLÊMICA E OS POLEMISTAS
sabe, esse tipo de gente está menos interessada na pequenez do dia a dia e mais
focada nas tendências, na memória, no futuro, na ciência, nos sonhos e fantasias.
Nesse cardápio diário de controvérsias provocadas há até mesmo esporte, mas
muito pouco de arte, literatura, ciência, biografia e antropologia. Esse tipo de
temário encontrou um restrito refúgio nas emissoras educativas. Mas nada que se
compare ao gosto pelo desgosto da mídia massiva.
Est ilos de
Tipos de vozes Características Atores
Vozes
Representa figura
jurídica, sela ele o
Representantes de instituições
gover no ou sindicatos.
políticas e/ou representativas
1. Institucional Engaja-se no debate Carismática
que se enfrentam no cenário
para explicar seus atos,
público.
justificar ações fazer e
responder às críticas.
Representa parte
interessada. Representantes de ONGs, Humorada
Usualmente se queixa e associações, independentes
2. Militante rumina. Exige ideologicamente comprometidos,
reparação. O discurso é parlamentares e advogados.
em boa medida Intelectuais engajados. Crítica
emocional.
Mantém equidistância
das partes envolvidas
na celeuma. Faz o Sarcástica
Os acadêmicos com frequência
papel crítico. Analisa
buscam esse espaço do analista.
3. Independente friamente o dilema. Sua
Mas outros personagens podem
postura aparenta ser
igualmente exercê-lo.
racional. Seu prestígio Afetiva
provém de sua
expertise.
Títulos acadêmicos, história de
Esse atributo parece
vida, e honrarias ajudam dar
estar presente e bem Provocadora
credibilidade ao orador. São
distribuído em todas as
atributos de prestígio. Mas o
categorias anteriores.
importante é que seu discurso
Ou seja, todo
remeta a audiência para algo
4. Simbólica debatedor deve Diplomática
maior e mais importante do que
representar algo além
sua figura particular. Quanto
dele próprio. Por vezes
mais dotado for o orador desta
há vozes convocadas
virtude mais apelo terá sua figura
por terem esse atributo Humilde
à participação nesse tipo de
mais forte.
programação.
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LÍNGUAS FERINAS: UM ESTUDO SOBRE A POLÊMICA E OS POLEMISTAS
CONCLUSÃO E DISCUSSÃO
_______________________________________________________________________________________
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LÍNGUAS FERINAS: UM ESTUDO SOBRE A POLÊMICA E OS POLEMISTAS
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JACQUES A. WAINBERG
arrebatada é contida e aprisionada. Este estudo mostrou que entre tantos tipos de
polemistas há um em especial cujo atributo intelectual é demandado. Combina
uma obra de fôlego com sua capacidade e desejo de influenciar o destino
comunitário. Aparentemente, o ”intelectual público” está em todos os lugares, no
ocidente e no oriente, e não raro, coagido, foge em direção às sociedades livres
de onde, protegido, continua a disparar seus petardos retóricos contra seus
opositores, por vezes inimigos.
Nesse tipo de discurso há de tudo um pouco: sátira, ironia, sarcasmo e
humor. O polemista com esse tipo de coquetel retórico e politicamente incorreto e
indisciplinado cumpre um papel que cabe ao diabo. Atormenta a sociedade ora
com ideias brilhantes, ora com alucinações inconsequentes. Foi dito e é agora
repetido que os polemistas tornam-se por vocação celebridades da mídia. Ao
contrário dos autores da era tipográfica, acostumados ao silêncio das bibliotecas
e a sisudez de maçantes e por vezes incompreensíveis compêndios, os de agora,
os deste tempo eletrônico, assumiram um papel menos austero e mais disponível
às massas. Servem-lhes como conselheiros e intérpretes da realidade. Como
exposto, há quem não goste do rebaixamento vocabular a que se submetem para
se comunicar. No entanto, é da adequação de seu verbo às audiências
superficialmente educadas que depende esse seu papel de guia e pároco das
sociedades secularizadas.
A luta entre o velho e o novo encontra assim esse mediador e interlocutor.
O fato de sofrer o ostracismo, a perseguição, a abominação, o exílio e
eventualmente a morte por pensar e dizer o impensável é preço a pagar em
certos ambientes por deflagrar uma luta incerta por corações e mentes. Até que
vença e faça sucumbir seu opositor entricheirado na tradição, no senso comum e
nas verdades incontestáveis terá que suportar estoicamente a desconfiança
pública.
Ao desafiar o senso comum, o polemista faz surgir o novo. Mas o novo não
surge nunca facilmente. Muitos o temem pelo efeito devastador que pode causar
nos equilíbrios existentes. Tal dinâmica pode ser observada nos comportamentos
humanos, nas opiniões expressas sobre temas públicos, nos hábitos cotidianos, e
na ruminação psicológica que impede as pessoas verem os velhos problemas de
um novo jeito. O polemista tem a coragem que falta à maioria dos indivíduos. Na
122
LÍNGUAS FERINAS: UM ESTUDO SOBRE A POLÊMICA E OS POLEMISTAS
verdade, a torcida vibra em seu favor por expressar o que essa parcela da opinião
pública sente, mas evita pronunciar. Esconde-se atrás de sua verbe, como que
entrincheirada num silêncio sepulcral. E há certo gozo nesse desfrute da
petulância de se dizer o indizível. Como paladino do não dito, mas existente,
desafia o establishment. Esse efeito é surpreendente. Há uma ousadia que
encontra ouvidos desconfiados, de mentes que abominam o jogo de forças que
nas sombras empurram a história de um lado para o outro. O polemista educa,
pois estimula o embate. Acorda mentes adormecidas como que narcotizadas pelo
que é usual. Ele está presente nas disputas teológicas, nas controvérsias
científicas, políticas, literárias, culturais e sociais.
Afinal, é a diferença sempre que é percebida. É o estranho que faz os
olhos ver por vezes o que estava já a nossa disposição, mas era desconsiderado.
A sociedade da informação não assegura esse efeito mágico do encantamento
que o entendimento dos fenômenos e processos produz. Como exegeta, sua
ação tem também efeito terapêutico. Com frequência o polemista também irrita.
Desafia e desacomoda com a inquietude o padrão moral estabelecido pela
tradição. Em boa medida, como todo intelectual é um atormentado. Os genuínos
pensadores estão em sofrimento. A busca da cura os leva a problematizar os
dilemas visando à resolução dos impasses humanos. Nesse sentido, a obra, o
discurso, o que sai da alma desses personagens expressa a luta que sustentam
contra os fantasmas que habitam seus espíritos.
123
JACQUES A. WAINBERG
ANEXOS
_______________________________________________________________________________________
ANEXO 1
O MANIFESTO PC
Saul Jerushalmy & Rens Zbignieuw X.
“Para forjar um acordo cósmico sobre uma unidade e harmonia sem precedentes, o Movimento do
Politicamente Correto exige que todas as pessoas, a despeito de suas condições sociais, aceitem a
incipiente or dem mundial que oferecerá felicidade e alegria ilimitada. Dammit.”
Prof. Dr. Skipyy “Houng Lau” Whitmore
Berkeley CA, 1965
O que é PC?
PC significa Politicamente Correto. Nós, da filosofia Politicamente Correto, acreditamos na
tolerância crescente para uma diversidade de culturas, raças, gêneros, ideologias e estilos de vida
alternativos. O Politicamente Correto é a única perspectiva social e moral aceitável. Quem
discordar dessa filosofia é um fanático, preconceituoso, sexista, e/ou conser vador.
Por que eu dever ia ser PC?
Ser PC é legal. O PCismo é não só uma atitude, é um estilo de vida! PC oferece a satisfação de
saber que você está combatendo as maldades sociais de séculos de opressão.
Sou um homem branco. Ainda assim posso ser PC?
Certamente. Na verdade, a maior par te da vanguarda do grande destino PC são homens brancos.
Mas lembre, como homem branco, você deve sempre sentir-se culpado.
Por quê?
Se você é um homem branco, seus ancestrais foram responsáveis por praticamente todas as
injustiças do mundo: escravidão, guerra, genocídio e os xales dos casacos espor tivos. Isso significa
que você é parcialmente responsável por estas atrocidades. Agora é tempo de equilibrar as
balanças da justiça para os descendentes daqueles indivíduos cujos ancestrais seus ancestrais
oprimiram.
Como ?
É simples. Você tem que ser cuidadoso com o que diz, com o que pensa, e com o que faz. Você
não quer ofender a quem quer que seja.
Você quer dizer que devo evitar ofender alguém?
Exato. Ser ofensivo é destrutivo, e não tornará o mundo uma Utopia harmoniosa, como em
Imagine de John Lennon.
O que mais posso fazer para ser um PC?
Oh, há muitas maneiras. Por exemplo, por que comprar sorvete se você pode comprar algo
comestível da Floresta Amazônica? Segregue – opa-opa – separe tudo em diferentes containers:
vidro, metal, papel, plástico, etc. Tenha certeza que sua maquiagem não foi testada em animais.
Tente encontrar pelo menos 60 maneiras de usar sua água, quando você toma banho, escove os
dentes na mesma hora. Então não deixe a água escoar, use-a para irrigar seu gramado. Ou
melhor ainda, troque seu gramado por uma horta. Não use aerosol. De jeito algum, não queime
ou deforme nossa bandeira. Lembre, como cidadão dos Estados Unidos, você está vivendo no país
de Deus. [Na versão brasileira poderíamos sugerir: Lembre-se que Deus é brasileiro.] Se você for
suficientemente afortunado em saber sua origem étnica, vista-se de acor do. Não use drogas. Você
deve ouvir a pelo menos um dos seguintes músicos PC: U2, REM, Sinead O’Connor, Sting ou k d
lang. Assedie as pessoas que usarem casacos com peles de animais. Lembre-se que uma inocente
foquinha foi espancada sem misericór dia. Ou simplesmente grite, “FUR!” Eles odeiam este grito. E
nunca coma carne.
Nunca comer carne? Por que não?
Vacas são animais, assim como seres humanos são animais. Isso significa que eles têm direitos.
Quando você come car ne, você está oprimindo os animais!
Então toda matança é ruim?
124
LÍNGUAS FERINAS: UM ESTUDO SOBRE A POLÊMICA E OS POLEMISTAS
Não, não sempre. Às vezes a matança pode ser justificada, como no Golfo Pérsico. Você tem que
ser capaz de dizer quando um animal tem direito, e quando não.
Como posso saber quando um animal tem direitos?
A regra geral é a seguinte: se o animal é raro, bonito, grande, simpático, peludo, doce ou amável,
então ele tem direitos. Examine a lista abaixo:
125
JACQUES A. WAINBERG
Opa, uma pessoa branca da Líbia ou Egito tecnicamente poderá ser afro-amer icano?
Tecnicamente sim. Mas não é este tipo de afro-americano que eles se referem. Referimos-nos a
afro-americanos negros. Outro exemplo: um imigrante branco da África do Sul também não é afro-
americano.
Gostaria que meu filho fosse PC. O que devo fazer?
Bem, deveríamos encorajar os estudantes a dedicar de forma voluntária seu tempo com
filantropia. Também, deveríamos reenfatizar perspectivas não ocidentais da história. Finalmente,
deveríamos reestruturar testes e questionários para reflet ir preconceitos cult urais.
Não entendi.
Bem, este é o jeito que o sistema funciona agora, “selecione” as minorias sub-representadas que
tendem a se sair pior nos testes de seleção, que têm os piores desempenhos na escola e no
trabalho e eles recebem tratamento preferencial. Isso é injusto e errado.
É?
Sim. O verdadeiro jeito PC de ser tem um escala de avaliação para grupos diferentes de grupos
que dá ou subtrai pontos do escore final, dependendo quem está fazendo o teste. Se você é
branco, então você foi beneficiado pela sociedade durante sua vida. Isso significa que você perde
de dez a quinze pontos para tornar o teste j usto para todos os demais.
Suspeito que isso seja correto.
Está correto. Isso é que é belo no PC.
Com que mais devo tomar cuidado?
Humor. O pessoal PC leva todo comentário muito seriamente. Não aceitamos qualquer comentário,
piada, consideração, ou qualquer coisa que pareça ser insulto racial ou étnico.
Isso é tudo?
Sim. A crença Politicamente Correto é essencialmente o reconhecimento que as pessoas são
diversamente iguais. Alegramos-nos nesta igualdade tratando as pessoas diferentemente baseada
em sua individualidade igualitária. Seja bem-vindo no nosso trem... Seja PC. Ou então você é um
intolerante, racista, sexista e um porco insensível.
ANEXO 2
Estratagema
Conceituação Objetivo Alguns exemplos
Retórico
Tornar a afirmação
Isso permite refutar A: “Você ainda não está iniciado
apresentada extensiva
a segunda nos mistérios da filosofia de
àquilo que pouco ou
2. Homonímia afirmação dando a Kant.”
nada tem em comum
impressão de ter B. “Ah! De mistérios nem quero
com a coisa de que se
refutado a primeira saber.”
trata.
126
LÍNGUAS FERINAS: UM ESTUDO SOBRE A POLÊMICA E OS POLEMISTAS
Estratagema
Conceituação Objetivo Alguns exemplos
Retórico
Numa conversação sobre filosofia,
reconheci que meu sistema
defendia e elogiava os quietistas.
Pouco depois surgiu uma
conversa sobre Hegel e afirmei
que grande parte dos seus
escritos não tem sentido ou, ao
menos, em muitas de suas
passagens o autor colocava as
palavras e o leitor tinha de
A afirmação que foi
A afirmação relativa colocar o sentido. Meu adversário
apresentada em modo
pode ser assim não tentou refutar esta crítica.
3. Mudança relativo é tomada como
refutada com base Disse que eu havia elogiado os
de Modo se tivesse sido
neste segundo quietistas embora estes
apresentada em modo
contexto. escreveram também muitas
absoluto.
coisas sem sentido. Aceitei este
fato, mas corrigi sua afirmação
dizendo que não elogiara os
quietistas enquanto filósofos e
escritores, mas como pessoas,
por seus atos, apenas sob ponto
de vista prático. Mas no caso de
Hegel, ao contrário, de
realizações práticas. Deste modo,
o ataque cessou.
Deve-se atuar de
modo que o
adversário admita
as premissas uma
Se quiser chegar a
de cada vez e
certa conclusão,
dispersas e sem
devemos evitar que
ordem na
esta seja prevista.
conversação.
4. Pré- Temendo a ar gúcia do
Procura-se fazer
Silogismos adversário,
com que admita as
apresentaremos as
premissas de
premissas das
muitos dos pré-
premissas, fazendo pré-
silogismos, sem
silogismo.
ordem e
confusamente,
ocultando o nosso
jogo.
Adotaremos
proposições que
Se o adversário não são falsas em si
5. Uso Se alguém é militante de alguma
quiser aceitar as mesmas, mas
Intencional seita com a qual não estamos de
proposições verdadeiras e
de premissas acordo, podemos adotar contra
verdadeiras, fazer uso argumentaremos a
falsas ele, as máximas dessa seita.
de proposições falsas partir do modo de
pensar do
adversário.
127
JACQUES A. WAINBERG
Estratagema
Conceituação Objetivo Alguns exemplos
Retórico
Para isso deve se
usar um nome
distinto ou
conceitos
6. Petição de intercambiáveis “Boa reputação” em vez de
Ocultar o que se quer
princípio para fazer com que “honra”; “virtude” em vez de
afirmar.
oculta se aceite o que “virgindade.”
parece
controvertido e que
na verdade quer se
afirmar.
Ocultar o que
queremos que seja
Fazer de uma só vez
admitido. Os que
muitas perguntas
compreendem com
pormenorizadas. Em
lentidão não
contrapar tida, expor
7. Perguntas conseguem
rapidamente a sua
em desordem acompanhar a
própria argumentação,
discussão e não se
fundada nas
darão conta das
concessões da outra
eventuais falhas e
parte.
lacunas da
demonstração.
Enfurecido o
Provocar a raiva do adversário não é
adversário com algo capaz de raciocinar
8. Encolerizar
injusto, humilhando-o e o que o impede
o adversário
tratando-o com eventualmente de
insolência. ver sua vantagem
no embate.
O adversário não
conseguirá saber
onde queremos
chegar e não
poderá prevenir-se.
Fazer as perguntas Poderemos ser vir-
9. Perguntas
numa or dem distinta da nos de suas
em ordem
exigida pela conclusão respostas para tirar
alterada
que dela pretendemos. várias conclusões,
até mesmo
contraditórias,
conforme as
respostas o
permitam.
128
LÍNGUAS FERINAS: UM ESTUDO SOBRE A POLÊMICA E OS POLEMISTAS
Estratagema
Conceituação Objetivo Alguns exemplos
Retórico
Se o adversário
responde pela negativa
às perguntas cuja
resposta afirmativa
poderia confirmar
nossas proposições, Impede que o
10. Pista então devemos adversário perceba
Falsa perguntar o contrário qual proposição
da proposição que queremos afirmar.
queremos usar, como
se quiséssemos que
fosse aprovada, ou
então por as duas à
escolha.
Devemos introduzir
Se fizermos alguma a verdade geral
indução e o adversário desde logo como se
admitir os casos estivesse
particulares em que estabelecida e
11. Salto
esta se baseia, não aceita, pois às
Indutivo
devemos perguntar-lhe vezes ele poderá
se admite também a crer que a admitiu,
verdade geral que e o mesmo pode
deriva desses casos. acontecer aos
ouvintes.
Aquilo que se quer
Este é o que mais se
dizer é intr oduzido
usa de maneira O nome ”protestante” foi
12. já na palavra, na
instintiva. É preciso escolhido por eles mesmos. O
Manipulação denominação, da
escolher a metáfora nome herege, em contrapartida,
Semântica qual se deriva por
que mais favoreça a foi escolhido pelos católicos.
um simples juízo
nossa tese.
analítico.
Ressaltar com
veemência a Desejamos que alguém admita
Apresentar a tese oposição entre as que um homem tem que fazer
13.
contrária a nossa e duas teses de tudo o que seu pai lhe ordene.
Alternativa
deixar que o adversário modo que escolha Para isso, perguntamos: “Deve-se
Forçada
escolha. a nossa por ser obedecer ou desobedecer aos
muito mais pais em todas as coisas?”
provável.
Se o adversário for
14. Falsa
Tratar como prova o tímido ou tolo
proclamação
que não é prova. poderá aceitar o
de vitória
golpe.
Se ele suspeitar e
Propor ao adversário
recusar,
para que aceite uma
provaremos o
proposição correta cuja
15. Anulação absurdo da tese,
exatidão não é
do paradoxo mostrando que ela
totalmente evidente.
leva a pelo menos
Ou então aplicaremos o
uma consequência
estratagema anterior.
absurda.
129
JACQUES A. WAINBERG
Estratagema
Conceituação Objetivo Alguns exemplos
Retórico
Se fizer uma afirmação
devemos perguntar-lhe
senão está de algum De uma maneira ou
16.
modo em contradição de outra sempre
Modalidades Se alguém defende o suicídio,
com algo que estamos sujeitos a
do logo gritamos: “Por que você não
anteriormente disse ou nos deixar apanhar
argumentum se enforca?”
aceitou, ou com por semelhante
ad hominem
princípios de uma tramoia.
escola ou seita que ele
elogie ou aprove.
Quando a questão
admite algum tipo de Responder a uma
17. Distinção
dupla inter pretação ou prova contrária a
de
dois casos diferentes, nossa apresentada
emergência
fazer alguma distinção pelo adversário.
sutil.
18. Uso Evitar e interromper o Responder ao uso
Intencional debate a tempo de não de argumentação
da mutatio ser derrotado, ou que ameaça nos
controverse desvia-lo de rumo. abater.
Se tivermosmos de dizer por que
Responder à
uma determinada hipótese física
19. Fuga do Enfocar o aspecto geral objeção do
não é crível, falaremos da
específico da tese e ataca-la adversário contra
incerteza geral do saber humano,
para o geral assim. um ponto concreto
ilustrando-a com toda sorte de
da tese.
exemplos.
Devemos tirar nós
20. Uso da Se já interrogamos o mesmos a
premissa adversário acerca de conclusão dessas
falsa nossas premissas e ele premissas. A
previamente as aceitou não presumiremos
aceita pelo devemos perguntar-lhe como aceita e
adversário mais nada. tiraremos a
conclusão.
Responder o
21. Preferir o O objetivo não é a
argumento sofístico
argumento verdade, mas a
com outro argumento
sofístico vitória.
sofístico
Nosso adversário e
os ouvintes
enxergarão como
Se o adversário exigir
22. Falsa sendo idêntica ao
que admitamos algo do
alegação de problema uma
qual deriva o problema
petitio proposição que lhe
em discussão devemos
principii seja muito afim.
recusar.
Desse modo lhe
subtrairemos seu
melhor argumento.
130
LÍNGUAS FERINAS: UM ESTUDO SOBRE A POLÊMICA E OS POLEMISTAS
Estratagema
Conceituação Objetivo Alguns exemplos
Retórico
Podemos provocar o Ao refutar o
adversário exagero parece
contradizendo-o e termos refutado
induzindo-o ao exagero também a
para além do que é proposição original.
23. Impelir o
verdade uma afirmação Com frequência o
adversário ao
que em si pode ser adversário buscará
exagero
verdadeira. Quando o também nossa
adversário nos afirmação para
contradisser devemos além do que
cuidar para não havíamos
exagerar nossa tese. expressado.
Tiram-se falsas
consequências da
24. Falsa Tira-se a força dos
proposição do
redução ao argumentos do
adversário e fazem-se
absurdo adversário.
distorções dos
conceitos.
Apresentar um único
Assim, o Todos os ruminantes têm chifres.
25. Falsa caso para o qual o
argumento é Mas o camelo é ruminante e não
instância princípio não seja
demolido. tem chifres.
válido.
O adversário diz: “É apenas um
O argumento que o
menino, devemos deixá-lo fazer o
Considerar o adversário usa a
que quiser.” Retorsio:
26. Retorsio argumento do seu favor pode ser
“Precisamente porque é um
argumenti adversário para seus usado com mais
menino, deve-se castigá-lo para
fins de ar gumentação. razão contra ele.
que não persevere em seus maus
hábitos.”
Nesse caso
devemos usar o
argumento com
Frente a um argumento frequência já que
27. Provocar
o adversário fica ao que parece
a raiva
nervoso. tocamos seu lado
fraco. Assim,
dominamos a
situação.
Na formação da crosta r ochosa
Tal invalidade só
primária, a massa que mais tarde
um conhecedor do
se cristalizou para formar o
assunto pode
No caso de uma pessoa granito e outras rochas por efeito
captar. E esse não
28. culta discutir com um era líquida e teria que ser
é o caso dos
Argumento ad auditório inculto faz-se fundida. O falso ar gumento é: a
ouvintes. O
auditores uma objeção inválida a temperatura a 250 graus teria
adversário estará
um argumento. feito a água evaporar. A
assim derrotado
explicação esconde que a
aos olhos do
ebulição depende também da
público.
pressão atmosférica.
131
JACQUES A. WAINBERG
Estratagema
Conceituação Objetivo Alguns exemplos
Retórico
Podemos falar de
algo totalmente
diferente como se Se um debatedor lança ao outro
Se percebermos que fosse pertinente à reprovações pessoais, este não
vamos ser derrotados, questão e responde com uma refutação,
29. Desvio recorremos de forma constituísse um mas sim com reprovações
modesta ou insolente a argumento contra o pessoais ao primeiro, deixando
um desvio. adversário. Na subsistir os lançados contra ele e,
discussão só se portanto, quase os admitindo.
deve usá-lo na falta
de algo melhor.
Utilizamos uma Para evitar ter de pavimentar a
30. autoridade que é rua em frente a sua casa um
Argumento respeitada por nossos As pessoas comuns padre francês citou uma frase da
que apela à adversários para estar têm profundo Bíblia: paveant illi, ego non
credibilidade ao nosso lado. Ou a respeito pelos pavebo (“eles que se apavorem,
e à honra de citamos. Ou podemos especialistas. eu não me apavorarei”). Para os
alguém falsificá-lo para os ouvintes de língua francesa,
nossos fins. paver soou como pavimentar.
Damos a impressão
de que o
argumento do
adversário é
“O que você diz ultrapassa minha
insensato. Esse
31. Declara-se frente ao débil capacidade de
passo pode ser
Incompetênci adversário como compreensão. Não posso
dado quando temos
a irônica incompetente compreendê-lo e renuncio a todo
a certeza de que o
julgamento.”
público tem estima
maior por nós do
que pelo
adversário.
Assim, tornamos
Reduzir o ar gumento
32. Rótulo suspeita a “Isso é maniqueísmo”, “Isso é
do adversário a uma
odioso afirmação do panteísmo”, “Isso é ateísmo”.
categoria odiosa.
adversário.
Aceita-se os
33. Negação Pode ser verdadeiro em Contradiz a regra: da premissa à
fundamentos, mas
da teoria na teoria, mas na prática é consequência a conclusão é
negam-se as
prática falso. obrigatória.
consequências.
Se o adversário não dá
uma informação ou
Refugia-se numa
uma resposta direta a
proposição que não
34. Resposta uma questão ou a um
tem nada a ver Devemos persistir no ponto e não
ao meneio de argumento e se esquiva
com o tema. Isso deixar o adversário sair do lugar
esquiva significa que
corresponde a um
encontramos um ponto
mutismo relativo.
fraco no seu
argumento.
132
LÍNGUAS FERINAS: UM ESTUDO SOBRE A POLÊMICA E OS POLEMISTAS
Estratagema
Conceituação Objetivo Alguns exemplos
Retórico
Em vez de fornecer
razões ao Fazemos o Um eclesiástico defende um
entendimento, influi-se adversário perceber dogma religioso. Fazemo-lo
35. Persuasão com motivações na que sua opinião observar que isso está
pela vontade vontade, e o adversário faria um dano indiretamente em contradição
e os ouvintes são notável a seus com um dogma fundamental de
ganhos para a nossa próprios interesses. sua igreja, e ele o abandonará.
opinião.
Podemos
impressionar o
adversário
oferecendo, com ar
36. Discurso Aturdir o adversário grave, um absurdo
incompreensí com um caudal de que soe como algo
vel palavras sem sentido. douto e pr ofundo, e
como se fosse
prova incontestável
de nossa própria
tese.
Se alguém emprega, para provar
Se o adversário tem a existência de Deus, o
razão, mas escolheu Se ao adversário ou argumento ontológico que é fácil
37. Tomar a para defender-se uma aos ouvintes não refutar. Essa é a forma pela qual
prova pela prova ruim, será fácil lhes vem à mente bons advogados perdem uma
tese refutar, e daremos isto uma prova melhor, causa boa. Querem defendê-la
como refutação da então vencemos. com uma lei que não é aplicável e
própria tese. aquela que é aplicável não lhes
vem à mente.
Quando percebemos
que o adversário é Já que a par tida
superior e que acabará está perdida, ataca-
38. Último por não nos dar razão, se a pessoa do Essa regra é popular e todo
estratagema. então nos tornamos opositor para assim mundo é capaz de aplicá-la.
pessoalmente evitar o objeto da
ofensivos, insultuosos, discussão.
grosseiros.
ANEXO 3
Lista dos intelectuais mais citados na mídia e na academia segundo Richard Posner
Os intelectuais mais citados na mídia americana Os intelectuais mais citados na academia americana
Richard Posner/Lista Publicada na Revista Veja* Richard Posner/Lista publicada na Revista Veja*
1. Henry Kissinger Michel Foucault
2. Daniel Moynihan Pierre Bordieu
3. George F. Will Jürgen Habermas
4. Lawrence Summers Jacques Derrida
5. William J. Bennett Noam Chomsky
6. Robert Reich Max Weber
7. Sidney Blumenthal Anthony Giddens
133
JACQUES A. WAINBERG
Os intelectuais mais citados na mídia americana Os intelectuais mais citados na academia americana
8. Arthur Miller Stephen Jay Gould
9. William Safire Stephen Posner
10. George Orwell John Dewey
11. Alan Dershowit z Cass Sunstein
12. Toni Morrison Roland Barthes
13. Antonin Scalia Amartya Sen
14. Tom Wolfe Erik Erikson.
15. Norman Mailer. Richard Rorty
16. George Bernard Shaw William James
17. Václav Havel Jerome Bruner
18. William Kristol James Coleman
19. William F. Jr. Buckley Paul Krugman
20. Kurt Vonnegut Edward Wilson
21. H.G. Wells Edward Said
22. John Steinbeck Carol Gilligan
23. Stephen G. Breyer Theodor Adorno
24. Gore Vidal Milton Friedman
25. Robert Bork William Justus Wilson
26. Herbert Stein Judith Butler
27. Timothy Leary Paul Ehrlich
28. Thomas Friedman Ronald Dworkin
29. E.J. Dionne Claude Levi-Strauss
30. C.S. Lewis Jared Diamond
31. Philip Roth Charles Taylor
32. John Silber Jean-Paul Sartre
33. Milton Friedman Robert Putman.
34. Bill Moyers Robert Merton
35. Doris Kearns Goodwin George Stigler
36. H.L. Mencken Joseph Stiglitz
37. Jonathan Turley James Q. Wilson
38. W.H. Auden Samuel Huntington
39. Saul Bellow Richard Lewontin
40. Arthur Jr. Schlesinger Jr. Richard Epstein
41. Joyce Carol Oates Paul Samuelson
42. Bertold Brecht Richard Dawkins
43. Ayn Rand Umberto Eco
44. Benjamin Spock Hilary Putnam
45. Gabriel García Marquez William Eskridge Jr.
46. David Halberstam Raymond Willians
47. Betty Friedan Albert Hirschman.
48. Paul Krugman Homi Bhabha
49. Aldous Huxley Akhil Amar
50. Thomas Mann John Seymour Lipset
51. Anthony Lewis John Maynard Keynes
52. James Baldwin Friedrich Hayek
53. E. M. Forster Howard Gardner.
54. Henry Louis Gates Jr. Richard Herrnstein
55. Stephen Jay Gould Laurence Tribe
56. Susan Estrich Michael Walzer
57. Susan Sontag. Amitai Etzioni
58. Rachel Carson Martha Nussbaum
59. Ezra Pound Martin Feldstein
60. E. L. Doctorow Do 60º a 100º
Bruce Ackerman, Robert Solow, Theda Skocpol, E.J.
61. Gloria Steinem
Hobsbawm, Herbert Simon, James Buchanan, Stanley
62. Richard Dawkins Fish, Thomas Schelling, Catharine MacKinnon, H.L.A
134
LÍNGUAS FERINAS: UM ESTUDO SOBRE A POLÊMICA E OS POLEMISTAS
Os intelectuais mais citados na mídia americana Os intelectuais mais citados na academia americana
Hart, Hannah Arendt, Robert Nozick, Robert Bellah,
Francis Fukuyama, Thomas Nagel, Daniel Bell, Ernest
Do 63º a 100º
Gellner, Cornel West, Eve Kosofsky, Georg Lukacs,
Jean-Paul Sartre, John Maynard Keyne, Camille
Kenneth Boulding, Erich Fromm, Cristopher Jencks, C.
Paglia, Oliver Wendell Holmes, Andrew Ross, John
Wright Mills, Henry Louis Gates Jr., Robert Reich,
Kenneth Galbraith, Richard Posner, Ralph Ellison,
Michael Sandel, Duncan Kennedy, Guido Calabresi,
Aleksandr Solzhentsyn, Lillian Helmann, Ann
Isaiah Berlin, Robert Bork, Owen Fish, E.P.
Coulter, David Horwit z, Albert Camus, Christina
Thompson, Robert Frank, Michael McConnell,
Hoff, W.E.B. Du Bois, Allen Ginsburg, Archibald
Cox, Jeffrey Sachs, Marshall Mcluhan, Zbigniew Lawrence Lessig, Gunnar Myrdal, Antonin Scalia,
Brzezinky, Laurence Tribe, David Brooks, Henry Jeffrey Sachs, Alfred Kinsey.
Luce, Pauline Kael, Paul Johnson, Garry Wills,
Isaiah Berlin, Noam Chomsky, Floyd Abrams, John
Hope Franklin, Margaret Mead, James Q. Wilson,
David Frum, William Butler Yeats, Alan Wolfe, Lanu
Guinier, George Stigler.
* O critério de Posner para a inclusão de um nome em sua lista foi uma combinação de menções
na mídia, referências na web e citações em publicações acadêmicas.
ANEXO 4
Os intelectuais
Os intelectuais Os Líderes Os 50 intelectuais
mais influentes do
brasileiros mais Intelect uais do brasileiros mais
mundo ibero-
influentes Bras il influentes
americano
Fonte: Revista O Fonte: Google Fonte: Revista O
Fonte: Foreign
Debatedouro (506 (Número de Debatedouro (720
Policy /edição em
respondentes que referências respondentes que
Espanhol
votaram). encontradas) votaram).
Ano da divulgação: Ano de Divulgação: Ano da divulgação: Ano da divulgação:
2005 2007 2008 2008
1. Reinaldo de
Azevedo
1. Arnaldo Jabor/ TV
1. Fernando Henrique Eleito o Intelectual
Globo 1. Paulo Coelho
Cardoso - Ibero-Americano
pelos leitores da
Revista.
2. Chico Buarque de 2. Chico Buarque de 2. Gabriel Garcia
2. Reinaldo Azevedo
Holanda Holanda Marques
3. Arnaldo Jabor 3. Diogo Mainar di 3. Oscar Niemeyer 3. Mario Vargas Llosa
4. Luís Fernando
4. Luís Fernando
Veríssimo e Olavo de 4. Ariano Suassuna 4. Fidel Castro
Veríssimo
Carvalho
5. Luis Fernando
5. Marilena Chaui 5. Olavo de Carvalho 5. José Saramago
Veríssimo
6. Ariano Suassuna 6. Emir Sader 6. Cristóvão Buar que 6. Yoani Sánchez
7. Rober to DaMatta 7. Paulo Henrique 7. Fernando H.
7. Arnaldo Jabor
Jô Soares Amorim Cardoso
8. Millôr Fernandes
8. Franklin Mar tins 8. Marilena Chauí 8. Eduardo Galeano
Renato Janine Ribeiro
9. Emir Sader 9. Elio Gaspari 9. Diogo Mainar di 9. Fernando Savater
10. Carlos Heitor 10. Fernando Henrique
10. Demétrio Magnoli 10. Carlos Fuentes
Cony Cardoso
135
JACQUES A. WAINBERG
Os intelectuais
Os intelectuais Os Líderes Os 50 intelectuais
mais influentes do
brasileiros mais Intelect uais do brasileiros mais
mundo ibero-
influentes Bras il influentes
americano
11. Cristovam Buarque
Francisco de Oliveira
11. Augusto Nunes 11. Millor Fer nandes 11. Felipe Gonzalez
João Ubaldo Ribeiro
Rubens Ricupero
12. Eduardo Suplicy
12. Tereza Cruvinel 12. Ferreira Gular
Marcelo Gleiser
13. José Murilo de
Carvalho
13. Alexandre Garcia 13. Boris Fausto
Roberto Mangabeira
Unger
14. Alberto Dines
14. Clóvis Rossi/
Elio Gaspari 14. Eduardo Suplicy
Folha de S. Paulo/
Paulo Coelho
15. Antônio Augusto
Cançado Trindade
Antônio Delfim Netto 15. Eliane
15. Olavo de Carvalho
Caetano Veloso Castanhede
Dalmo de Abreu Dallari
Diogo Mainardi
16. Boris Fausto
Eduardo Giannetti da
Fonseca
16. Boris Casoy/
Fernando Morais 16. Tom Zé
Jornal do Brasil
Ives Gandra Martins
Leonar do Boff
Rubem Alves
17. Celso Lafer
Clóvis Rossi
Luiz Felipe de
Alencastro
17. Reinaldo de
Luiz Gonzaga Belluzo 17. Stephen Kanitz
Azevedo
Roberto Pompeu de
Toledo
Aziz Nacib Ab'Saber
Miguel Reale
18. Luiz Carlos
Bresser-Pereira
José Sarney
Mino Carta
Reinaldo Azevedo
José Ângelo Gaiarsa 18. Joelmir Beting/ 18. Roberto DaMatta
Boris Casoy
Enéas Carneiro
Manfredo Araújo de
Oliveira
Paulo Ghiraldelli Jr.
19. Fausto Wolff/
19. João Ubaldi Ribeiro
Jornal do Brasil
20. Maur o
Santayana/ Jor nal do 20. Aziz Ab’Saber
Brasil
21. Caetano Velloso
136
LÍNGUAS FERINAS: UM ESTUDO SOBRE A POLÊMICA E OS POLEMISTAS
Os intelectuais
Os intelectuais Os Líderes Os 50 intelectuais
mais influentes do
brasileiros mais Intelect uais do brasileiros mais
mundo ibero-
influentes Bras il influentes
americano
22. Gilberto Gil
23. José Murilo de
Carvalho
24. Tostão
25. Ali Kamel
26. Antônio Ermírio de
Moraes
27. Fernando Meirelles
28. Lilia Morits
Schwartz
29. Demétrio Magnoli
30. Antônio Delfim Neto
31. Carlos Heitor Cony
32. Elio Gaspari
33. Fernando Novais
34. José Serra
35. Marcelo Gleisser
36. MV Bill
37. Renato Janine
Ribeiro
38. Roberto Pompeu
39. Rui Castro
40. Soninha
41. Carlos Lessa
42. Celso Laffer
43. Eduardo Gianetti
44. Gilberto Dimenstein
45. José Arbex Jr.
46. Luis Felife de
Alencar
47. Mano Brown
48. Miriam Leitão
49. Nelson Motta
50. Roberto Schwar tz
ANEXO 5
137
JACQUES A. WAINBERG
138
LÍNGUAS FERINAS: UM ESTUDO SOBRE A POLÊMICA E OS POLEMISTAS
139
JACQUES A. WAINBERG
ANEXO 6
As ideias tóxicas
Nome Tema
1. Kevin Kelly Um novo tipo de mente
2. Howard Gardner Abrindo o cofre dos talentos
3. Timothy Taylor
4. John Gottamn Colônias terrestres no espaço
5. Ed Regis A manufatura molecular
Descobrindo vida inteligente em algum outro
6. Douglas Rushkoff
lugar
7. Juan CEO Enriquez A evolução humana
8. Roger C. Schank O renascimento da sabedoria
9. Stuart Kauffamn O universo aberto
10. Karl Sabbagh O adeus à ofensa
11. Marc Hauser O real, o possível e o inimaginável
12. Rodney Brooks A vida (ou não) em marte
13. Marcelo Gleiser Administrando a morte
14. Nick Bostrom Superinteligência
15. William Calvin Mudança climática mudará tudo
16. Chris Anderson Uma mudança no ensino graças a web
O primeiro grande avanço no cérebro humano e
17. Gregor y Paul
a mente desde o pleistoceno
18. George Dyson Vírus interestelar
19. Michael Shermer Energia e economia: o caminho à civilização
20. Daniel Everett Desfazendo a Babilônia
21. Thomas Metzinger Viagem da alma ao altruísmo
22. Jesse Bering Deus não precisa ter existido para evoluir
23. Richard Foreman Nada mudará tudo
24. Clifford A. Pickover Prova da hipótese de Riemann
25. Nicholas Humphrey Por que a natureza humana irá se rebelar
Radiotelepatia: a comunicação direta de
26. Freeman Dyson sentimentos e pesnamentos de cérebro à
cérebro.
27. Ian Mcewan O florescimento da teconologia solar
28. Irene Pepper berg Pensando pequeno: compreendendo o cérebr o
29. Haim Harari Finalmente: teconologia mudará a educação
30. Paul Steinhardt Os buracos negros: a última fronteira
31. Mar k Pagel Estamos aprendendo a fazer fenótipos
O próprio organismo como significante
32. Brian Goodwin
emergente
33. Carlo Rovelli E se a grande mudança não ocorrer?
Evolução mais veloz significa mais diferenças
34. Jonathan Haidt
étnicas
35. Andy Clar k Auto re-enegenharia celebratória
36. Leo Chalupa Controlando a plasticidade do cérebro
Antártica occidental e sete outros gigantes
37. Laurence Smith
adormecidos
38. Alison Gopnik A infância que nunca acaba
39. John D. Barrow Uma bateria muito, muito boa
O uso das armas nucleares contra a população
40. Lawrence Krauss
civil
140
LÍNGUAS FERINAS: UM ESTUDO SOBRE A POLÊMICA E OS POLEMISTAS
Nome Tema
41. Stephen H. Schneider Conservando o clima
42. Aubrey de Grey Desmascarando a verdadeira natureza humana
43. Donald D. Hoffman O laptop quantum
44. James J. O’Donnell África
45. Gregor y Benford Viver até os 150
46. Steve Nadis Descobrindo outro universo em nosso universo
Pequenas modificações fazem as maiores
47. Barry Smith
diferenças
Máquinas de memes artificiais e auto-
48. Susan Blackmore
reprodutoras
49. Kenneth W. Ford Lendo as mentes
50. Er nst Poppel O futuro como presente: um experimento final
51. Charles Seife A fome por informação malthusiana
A existência de dimensões adicionais de espaço-
52. Gino Segre
tempo
53. Steven Pinker Se você insistir: genômica pessoal?
54. Lewis Wolpert Fazendo a computação do cérebro
55. Stephon H. Alexander No campo do basquete e a ciência
56. Robert R. Provine O que muda tudo?
57. Alan Alda Cercando um círculo vicioso sem fim
O transporte de um significativo aparato nuclear
58. Gerald Holton
nocivo
59. David Darrylmple Escapando o tonel da gravidade
60. Keith Devlin O telefone móvel
61. Frank J. Tipler Mas nós todos devemos nos modificar
62. Terrence Sejnowski Computadores são os novos microscópios
63. Helen Fisher Os persuasores escondidos
O conhecimento sobre como nós sabemos o que
64. Lera Boroditsky
modificará tudo
65. Tor Norretranders Dentro e fora: a epistemologia de tudo
66. Emanuel Derman ”No more time decay”
67. Gregor y Cochran Formas melhores de medir
68. Howard Rheingold A alfabetização social sobre a mídia
Neurofenomenologia + estimulação direcionada
69. Brian Knutson
= otimização psicológica?
70. Eric Drexler A disseminação do conhecimento
71. Nicholas A. Christakis A antroposfera
A re-implantação da vida em materiais
72. Neil Gershenfeld
inventados
73. Anton Zeilinger O colapso de todos os computadores
74. Yochai Benkler Recombinações do pr óximo possível
75. Paul Davies A biosfera na escuridão
76. Stewart Brand Clima
Barato, consumível, interativo e textos para o
77. David Myers
uso global
78. Martin Seligman Pessoas muito mais inteligentes
79. Max Tegmar k Uma guerra nuclear acidental
80. Stephen M. Kosslyn Superando as diferenças
81. Lee Smolin A liberação do tempo
82. Marti Hearst O declínio do texto
83. April Gomik Os sentimentos dos animais
A erupção das novas religiões causada pela
84. Joel Garreau
revolta
141
JACQUES A. WAINBERG
Nome Tema
85. Rupert Sheldrake O crédito ao materialismo
86. Roger Highfield “Star Power”
87. Alun Anderson O óleo verde
88. Patrick Bateson Adotando a racionalidade e a sustentabilidade
89. David Gelernter ”Tracks & Clusters”
O aumento no tempo de vida dos indivíduos
90. Monica Narula constrangido pela diminuição do tempo de vida
das espécies
ANEXO 7
ANEXO 8
142