PORTUGAL

NOTÍCIAS
06 Outubro 2009 / Março 2010
Publ. Trim. (Num. duplo) • Série V • P.V.P €1.75

DOSSIER
Quanto vale uma vida?
Saiba por que não pode esquecer a Pena de Morte

ENTREVISTA CRÓNICA
Joaquín José Martinez relata a sua Durão Barroso, Presidente da Comissão Europeia,
experiência no corredor da morte fala do consenso europeu em torno da pena capital
ÍNDICE
03.
EDITORIAL
04.
ENTREVISTA
Joaquín José Martinez esteve três
anos no corredor da morte nos
Estados Unidos da América e tenta
explicar como é estar condenado à
pena capital
07.
RETRATO
Piers Bannister é, até ao final de
Março, o Coordenador da Equipa
da Pena de Morte da Amnistia
Internacional
09.
EM FOCO
10.
DOSSIER
Pena de Morte: Quanto vale uma
vida? Conheça os argumentos e
os mitos criados em torno da pena
capital, o caminho percorrido para a
sua abolição e os casos que mostram
bem que este é um castigo cruel e
desumano
FICHA TÉCNICA
• Propriedade: Amnistia Internacional José Justino, Luís Sottomaior Braga, Sara
Portugal
• Director: Presidente da Direcção,
Lucília José Justino
• Equipa Editorial e Redacção: Cátia
Silva, Irene Rodrigues, Pedro Krupenski
• Colaboram neste número: Ana Monteiro,
Departamento de Angariação de Fundos
21.
PRESTAÇÃO DE CONTAS
22.
EM ACÇÃO
INTERNACIONAL
Em alguns países do mundo os
direitos das mulheres continuam a ser
esquecidos, conduzindo a uma realidade
que seria evitável: a mortalidade
materna
24.
EM ACÇÃO NACIONAL
Conheça melhor a estrutura da Amnistia
Internacional Portugal em Matosinhos,
que depois de dois anos de trabalho
intenso como Núcleo se tornou no mais
recente Grupo Local. Saiba ainda como
correu o Exercício de Avaliação da
secção portuguesa.
26.
EM ACÇÃO JOVEM
Conheça a ReAJ, um grupo de jovens
que promove os Direitos Humanos, e
saiba o que a juventude pode fazer pelos
direitos que são de todos nós, Seres
Humanos
e Financeiro, Diana da Silva Antão, José
Manuel Durão Barroso, José Oliveira, Lucília
Coutinho.
• Revisão: Cátia Silva, Irene Rodrigues,
Luísa Marques, Pedro Krupenski
• Concepção Gráfica e Paginação: Maria
João Arnaud
• Impressão: Relgráfica-Artes Gráficas
28.
BOAS NOTÍCIAS
29.
APELOS MUNDIAIS
O cubano Léster González Pentón,
o tibetano Dhondup Wangchen, o
tunisino Saber Ragoubi e a nepalesa
Rita Mahato precisam de si.
Conheça-os e envie os apelos em seu
nome!
32.
AGENDA
33.
CARTOON
Ao fechar o ano de 2009 o mundo
recordou os Direitos Humanos e
aqueles que os defendem, a propósito
do dia 10 de Dezembro
34.
CRÓNICA
O Presidente da Comissão Europeia,
José Manuel Durão Barroso, escreve
sobre a pena capital e a cultura da
morte que a Europa consensualmente
rejeita
Avenida Infante Santo, 42 – 2.º
1350-179 Lisboa
Tel.: 213 861 652
Fax: 213 861 782
Email: boletim@amnistia-internacional.pt
Os artigos assinados são da exclusiva responsa-
bilidade dos seus signatários.

EDITORIAL
Pena de Morte
Por Lucília José Justino, Presidente da Direcção
“E se esse mesmo deputado defender a adopção da pena capital / E o venerável cardeal
disser que vê tanto espírito no feto / E nenhum no marginal...” Caetano Veloso, Haiti
© Privado
Em Janeiro, o Presidente Elgeborj Tsakhia,
da Mongólia, anunciou que, no segui-
mento do que já é feito na maioria dos
Estados do mundo, o seu país deve cami-
nhar para a abolição da pena de morte,
tendo decidido introduzir uma moratória
às execuções, a serem substituídas por
uma pena de 30 anos de prisão. É um
progresso: há 10 anos, a Mongólia re-
cusara, terminantemente, a proposta
de moratória aprovada pela Assembleia
Geral das Nações Unidas, por ocasião da
celebração dos 50 anos da Declaração
Universal dos Direitos Humanos. Mas
ainda não está assegurada a abolição da
pena de morte no país, sendo necessária
a aprovação pelo Parlamento, controlada
pela oposição ao Presidente. A vida dos
condenados fica assim dependente de
uma circunstância política aleatória.
Fica bem clara uma das razões para
se ser absolutamente contra a pena de
morte: contrastar a irreversibilidade da
perda de vidas humanas perante o acaso,
o momento, o erro humano. Lerão à frente
o caso de um português, Nicolas Bento,
condenado a prisão perpétua por um
homicídio que não cometeu. Neste caso,
foi possível sair em liberdade por ter sido
comprovada a sua inocência, num país
sem pena de morte. Mas se, pelos acasos
da vida, noutro país, tivesse sido conde-
nado à morte e executado, essa prova de
inocência tardia, de nada teria servido.
Nos Estados Unidos, país com condições
materiais e um sistema de justiça institu-
cionalizado, existem hoje, vivas e liberta-
das, 139 pessoas cuja inocência pôde ser
comprovada quando já estavam nos cor-
redores da morte, aguardando execução.
Só em 2009 foram nove os libertados,
mas as expectativas é que esse número
se multiplique, se puderem ser utilizadas
(e autorizadas, o que nem sempre acon-
tece), novas técnicas periciais, como os
exames de ADN. Dos libertados, alguns
passaram mais de 20 anos encarcera-
dos. Quantos inocentes terão sido mortos
por erros judiciais? E quantos serão os
que não dispõem de conhecimentos ou
condições para reabrirem os seus proces-
sos, sabido que é que a pena de morte
atinge desproporcionadamente mais os
membros de minorias étnicas, margina-
lizados, iletrados e pobres?
Apesar dos progressos conseguidos a
nível internacional a situação, especial-
mente em alguns países, deve levar-nos a
reflectir. Fizemos um exercício: utilizando
apenas informação oficial (naturalmente
não exaustiva), relativa a uma só semana
de Janeiro, ficámos a saber que o Irão con-
denou e executou seis pessoas por tráfico
de droga (e outros poderão ser condena-
dos à mesma pena por delito de opinião e
de manifestação). Que o Sudão confirmou
a condenação e executou outras seis por
terem resistido à polícia na evacuação
de um campo de fugitivos da guerra. Que
o Iraque condenou à morte mais onze,
Notícias • Amnistia Internacional 03
por envolvimento num atentado. Que o
Mianmar condenou duas pessoas à morte
“por traição” (por terem revelado que
membros do governo fizeram uma visita
secreta à Rússia, e à Coreia do Norte, em
2006 e 2008). Numa só semana. Sabendo
que há países que não divulgam informa-
ções desta natureza, entre os quais isso
pode ser mesmo “segredo de Estado” e
outros em que coexistem Código Penal e
justiça religiosa (que faz execuções, como
acontece no norte da Nigéria) podemos
interrogar-nos quantas outras condena-
ções e execuções terão tido lugar nessa
semana. E na semana anterior. E nas se-
guintes. Muita gente. Demasiada gente.
Apesar da argumentação racional não
conseguir justificar a crueldade e a in-
justiça de uma pena desta natureza, a luta
pela abolição ainda será longa, porque
a irracionalidade colectiva, os medos e
os preconceitos também são poderosos,
especialmente quando manipulados por
demagogos ou aprendizes de feiticeiro.
Tomemos o caso do Uganda, país esco-
lhido por igrejas evangélicas america-
nas para campanhas que, em nome da
“protecção da família” e do combate ao
vício e à imoralidade, desencadearam um
processo que inevitavelmente degenerou
em violência social, culminando na apre-
sentação de uma lei que pune a homos-
sexualidade com enforcamento. Segundo
o ministro ugandês da Ética e da Integri-
dade “os homossexuais podem esquecer
os direitos humanos”.
Afinal, confirma-se, isto anda tudo liga-
do. Se os movimentos de direitos huma-
nos não continuarem a lutar, essa ame-
aça pode tornar-se realidade. Temos que
continuar a agir!
04 Notícias • Amnistia Internacional

ENTREVISTA
Joaquín José Martinez, Condenado à Morte nos Estados Unidos da América
Nascido no Equador, em 1971, Joaquín José Martinez viajou para Espanha aos cinco anos e depois para os
Estados Unidos da América, onde cresceu. A vida decorreu normalmente até ao dia 28 de Janeiro de 1996,
quando a ficção ganhou dimensão real e um inocente foi preso e condenado à morte pelo assassinato
de Douglas Lawson, de 25 anos, filho de um xerife, e da sua namorada, Sherrie McCoy-Ward. Um crime
que desde 31 de Outubro de 1995 chocava a cidade de Tampa, na Florida, onde o culpado era procurado
a todo o custo. Muitos factores contribuíram para que viesse a ser libertado, mas a Justiça, essa, nunca
chegou a ser feita. Conheça a história que poderia ser a sua, a do seu filho ou a de qualquer outro
familiar, relatada pelo próprio quando esteve em Portugal a convite da Amnistia Internacional para um
ciclo de conferências.
Por Cátia Silva

© Amnistia Internacional Portugal
Amnistia Internacional (AI): Numa das
conferências que deu em Portugal
dizia que viveu “o sonho americano”.
A que se referia?
Joaquín José Martinez (JJM): Desde
pequeno que sonhava ser alguém impor-
tante. Ter uma empresa. Ter uma casa na
praia. Ter família. Casei-me aos 19 anos
para tentar adiantar tudo isto. Sempre
fiz tudo a correr. Queria deixar tudo feito:
filhos, família, carro, empresas. Aos 24
anos tinha tudo isto, por isso, estava a
viver o sonho americano.
AI: No entanto, um ano depois, aos 25
anos, tudo se desmorona quando vai
parar a um corredor da morte. O que
o condenou?
JJM: Havia seis provas fundamentais,
segundo a polícia. Primeiro, a declara-
ção da minha ex-mulher, que dizia que
tinha cometido o crime [refira-se que
o casal estava em fase de separação
e que Joaquín deveria, a 27 de Janeiro,
ter ido visitar as filhas. Preferiu passar
o dia com a nova namorada e como des-
culpa disse ter de trabalhar. A ex-mulher
telefonou para o trabalho e confirmou a
desconfiança. Com raiva ligou à polícia
dizendo que tinha o culpado do assassi-
nato brutal que tinha ocorrido três meses
antes]. A segunda prova era uma grava-
ção feita em casa da minha ex-mulher,
onde todos dizem que confesso o crime. A
terceira era a declaração da minha nova
namorada, que primeiro estava a meu
favor e depois foi testemunha de acusa-
ção. A quarta eram depoimentos de 12
presos com quem tinha passado tempo
na prisão antes do julgamento, que es-
tiveram contra mim em troca de redução
da pena. A quinta eram as duas pistolas
que tinha, de nove milímetros, que usava
para fazer tiro ao alvo [que não eram
as armas do crime]. A sexta era o facto
de, segundo a polícia, conhecer o rapaz
assassinado por este ter trabalhado na
mesma empresa que eu há cerca de um
ano e meio ou dois anos. Sinceramente,
nem sei quem era, porque era uma em-
presa muito grande.
AI: Com as provas apresentadas a
acusação era até perceptível, porque
houve uma série de coincidências que
jogaram contra si. Muitas pessoas diri-
am que não há coincidências?
JJM: A verdade é que há. No meu caso
havia. O revólver que fez o assassinato
era de nove milímetros como as minhas
armas. Comento nas gravações com a
minha ex-mulher o acidente de automó-
vel que tinha tido há uns anos [onde mor-
reu o condutor do outro carro] e eles in-
terpretam como se estivesse a dizer que
o assassinato tinha sido um acidente. O
rapaz tinha trabalhado na mesma em-
presa que eu... As coincidências existem
e o mais importante é que se perceba que
pode acontecer a qualquer um.
AI: Falou ainda nos presos que teste-
munharam contra si. Isso significa que
esteve detido preventivamente?
JJM: Sim, antes do julgamento estive na
prisão durante cerca de um ano. E aqui
não era como no corredor da morte, onde
se fica sozinho numa cela. Aqui fica-se
com muita gente.
AI: Foi então com base em tudo isso
que em 1997 entrou no corredor da

morte. Chegou a perguntar-se: porque
é que isto aconteceu comigo?
JJM: Sim. Ao princípio questionava muita
coisa. No primeiro mês no corredor come-
cei a fazer perguntas mentalmente.
Porquê a mim? Será que Deus me aban-
donou? Será que não há Deus? Será que
estou aqui por alguma coisa que fiz na
minha vida? Será por algo que não fiz?
Questiona-se tudo...
AI: Como felizmente muitas das pes-
soas que vão ler a revista nunca esti-
veram num corredor da morte, pode
explicar-nos como é?
JJM: É um corredor largo. À esquerda há
13 celas. À direita uma parede e o muro
que dá para o exterior. É neste corredor
que passam todos os companheiros de
prisão, incluindo os que vão ser executa-
dos.
AI: Há contacto entre os condenados à
morte?
JJM: Os prisioneiros estão divididos de 13
em 13, sempre com a divisão de muros,
por isso, só há mais contacto quando
saímos.
AI: E isso é frequente?
JJM: Ocorre duas vezes por semana, mas
se chove ou está nublado não se sai.
AI: No total, quantos prisioneiros es-
tavam no corredor da morte quando lá
esteve?
JJM: Na altura eram 476. Agora creio que
são menos, 400 e poucos.
AI: Recorda-se quantos foram executa-
dos nos três anos em que lá esteve?
JJM: Uns oito. E desde que saí que o
número tem diminuído. Têm sido exe-
cutadas cada vez menos pessoas.
AI: Um dos seus amigos na prisão,
Frank Lee Smith, esteve 14 anos no
corredor da morte até falecer por
cancro. A maioria das pessoas não faz
ideia que se fica tanto tempo para se
ser executado. Porque é que isso acon-
tece?
JJM: Esse tempo tem a ver com os re-
cursos que se podem colocar pedindo
novo julgamento a várias instâncias, até
chegar ao Supremo Tribunal nacional.
Este é o último a decidir, mas até chegar
aqui pode passar-se por uns quatro ou
cinco tribunais e isso pode demorar uns
15 ou 20 anos.
AI: Há uma grande morosidade nos pro-
cessos então, porque o Joaquín esteve
três anos para conseguir um segundo
julgamento...
JJM: No Estado da Florida, no total, po-
dem realizar-se dois julgamentos ao ano
para casos de condenados à morte.
“As assinaturas [dos apelos da Am-
nistia Internacional] fazem com que
as pessoas abram um pouco mais os
olhos e pensem: vamos ver se, por
acaso, estamos errados neste caso”
AI: Enquanto se aguarda, fica-se numa
cela de 1,80 por 2,9O metros. O que fez
o Joaquín nos três anos em que esteve
preso?
JJM: Li muito. Tinha de me entreter.
Queria manter-me com a cabeça fora
do corredor da morte. Respondia a car-
tas. Estudei Ciência Política e o caste-
lhano, para que um dia, quando saísse,
pudesse dar entrevistas. Preparei-me.
Isto depois do primeiro ano, porque nos
primeiros meses não pensava em mais
nada senão em sobreviver.
AI: Recebia visitas?
JJM: Sim. Uma vez por semana, a um
Sábado ou um Domingo.
AI: Dizia nas conferências que pior do
que a execução é o tratamento pouco
digno dado aos presos que estão no
corredor da morte. Penso que muitas
pessoas não têm noção do que acon-
tece lá. Pode dar-nos alguns exemplos?
JJM: Havia uma lâmpada que piscava
quando iam executar alguém e que se
apagava quando essa pessoa estava
morta, o que é uma forma de tortura
psicológica... Às vezes os guardas vi-
nham de madrugada e passavam com as
chaves a fazer barulho nas grades todas.
Outras vezes faziam testes de urina para
ver se os presos se drogavam, às três da
manhã. Tínhamos cinco minutos para o
fazer. Não vou entrar em detalhes, mas
posso dizer que quem não o fizesse era
levado para a sala do castigo e ficava um
mês em isolamento.
AI: Havia também maus tratos físicos?
JJM: Sim. Perdi na prisão um amigo meu,
Notícias • Amnistia Internacional 05
Frank Valdez, que era porto-riquenho.
Conheci-o em 1997 e em 1998 mataram-
-no à pancada. Foram cinco vigilantes,
que disseram que ele se tinha atirado ao
chão, partido a coluna e perdido a cons-
ciência. Na autópsia perceberam que
havia marcas das botas dos vigilantes
sobre várias partes do corpo. Houve in-
vestigação mas não deu em nada.
AI: Todas essas histórias vão sabendo
ainda dentro do corredor?
JJM: Sim.
AI: Isso deve ajudar a aumentar a
pressão psicológica...
JJM: Alguns prisioneiros suicidam-se de-
vido à pressão. Outros assinam a sua
própria sentença quando dizem que não
querem mais recursos. E muitos recor-
rem a medicamentos.
AI: Imagino que tudo isso piore com o
aproximar da execução. Ela é anun-
ciada?
JJM: Sim, sabe-se um mês antes. Agora
imagine o sofrimento de alguém que
sabe que o vão executar em determinado
dia, a determinada hora, em determi-
nado minuto. Passa-se o mês a lutar por
um recurso e na esperança de que haja
alguma mudança, uma chamada de
última hora. Há sempre a esperança de
que o Governador telefone e diga: anulem
a sentença.
AI: E há ainda a despedida dos fami-
liares...
JJM: É muito difícil... É o momento de
dizer adeus aos pais e saber que nunca
mais os vão ver...
AI: Inimaginável...
JJM: Nem eu consigo imaginar o que es-
sas pessoas sofrem nesse momento. E
ainda há aquelas situações em que os
pais ou mães estão muito doentes e não
podem ir despedir-se dos filhos...
AI: Felizmente, com o Joaquín tudo foi
diferente. Teve direito a um segundo
julgamento, que começou no ano 2000
e terminou em Junho de 2001, e tudo
mudou. O que aconteceu?
JJM: Para entrar no corredor da morte
teve de haver uma quantidade de acon-
tecimentos perfeitos para a minha en-
trada. Da mesma forma que para sair do
corredor teve de haver uma quantidade
06 Notícias • Amnistia Internacional
de eventos perfeitos para que saísse.
AI: Disse nas conferências que um forte
contributo foi a campanha que o seu
pai conseguiu organizar em seu nome
e que fez com que toda a Espanha
[país de origem do seu pai e onde hoje
Joaquín vive] pedisse a sua libertação.
Teve o Papa... Os políticos espanhóis...
JJM: Tive muita sorte. O que mais me dói
é saber que outros presos jamais rece-
berão o apoio que eu recebi. Se eu, sendo
inocente, tive de ter todo esse apoio para
que me libertassem, coitados dos que lá
estão...
AI: Mas ser inocente foi fundamental. O
que diz quando perguntam o que o tirou
do corredor da morte?
JJM: Para mim, para sair do corredor da
morte é fundamental ser-se inocente,
primeiro que tudo. Garanto que o governo
norte-americano não liberta ninguém se
não houver, pelo menos, a dúvida de que
é inocente. O segundo ponto fundamental
para a minha libertação foram os meios
de comunicação social, as organizações
não governamentais e os políticos. Tudo
isso fez com que eu pudesse conseguir,
ao menos, um julgamento justo, porque
havia pessoas lá fora a verem como é
que o julgamento se ia passar. O pro-
curador do Ministério Público já não se
comportou como no primeiro julgamento.
AI: Mas as provas que o condenaram
mudaram?
JJM: Mudaram todas. A gravação que
tinha sido feita em casa da minha ex-
-mulher não se ouvia muito bem, por isso
tinha sido apresentada, no primeiro jul-
gamento, uma transcrição e descobriu-se
que foi preparada pelo xerife, pai de uma
das vítimas, por uma prima da mesma
vítima, por detectives, pela minha ex-
-mulher e por outras pessoas do Depar-
tamento da Polícia. A transcrição era o
que eles diziam que se ouvia na cassete.
No segundo julgamento a gravação e a
transcrição não serviram de provas.
AI: E quanto ao testemunho da sua ex-
-mulher?
JJM: Não a chamam, não querem que
preste declarações. Porque o procurador
do Ministério Público se comportou de
forma correcta. Ele sabia que se fosse
ouvida tinha de mentir a favor do Estado.
AI: Porquê?
JJM: Porque nos Estados Unidos da Amé-
rica quando há uma declaração a favor
do Estado essa pessoa não a pode nunca
mudar, senão é perjúrio. Uma coisa é
mentir a favor do Estado, outra é mentir
contra o Estado.
AI: No seu caso, como disse em relação
à gravação, houve provas que foram
forjadas. Acredito que muitas pessoas
ainda se iludam e não acreditem que
se pode ser condenado à morte quando
não se fez absolutamente nada. Sente
isso?
JJM: Era algo que eu próprio nunca ima-
ginei que fosse possível. Mas quando
aconteceu comigo percebi que é muito
comum. É mais fácil acreditar que uma
pessoa culpada se livrou da pena de
morte, do que pensar que um Estado
pode executar uma pessoa de forma in-
justa facilitando provas.
“É mais fácil acreditar que um culpa-
do se livrou da pena de morte, do que
pensar que um Estado pode executar
uma pessoa de forma injusta”
AI: No entanto, para muitas pessoas o
facto de ter sido possível ir a um se-
gundo julgamento e de ter sido liber-
tado comprova que a Justiça afinal fun-
ciona. O que lhes diria?
JJM: Sempre pensei que a Justiça fosse
dar a cada um o que cada um merece.
Sinceramente, eu não merecia todo o
sofrimento por que passei, nem os meus
pais, nem a minha família. E se não
fosse todo o apoio que recebi, teria, quem
sabe, sido executado. Estava acusado da
morte do filho de um polícia... Nenhum
tribunal me iria dar razão.
AI: É importante então reforçar que
apelos como os que a Amnistia Interna-
cional lança em nome de prisioneiros
são, efectivamente, essenciais e po-
dem fazer toda a diferença...
JJM: As pessoas não entendem, como
eu não entendia, a importância para
um prisioneiro de receber uma carta. E
quando são pedidas assinaturas, todas
são importantes porque chegam ao Go-
vernador. É verdade que uma assinatura
só não faz nada, mas a acumulação de
assinaturas, o total que aparece numa
Embaixada ou no gabinete de um Go-
vernador é importante. Eles vêem o total.
Percebem que lá fora há interesse por
alguém e vão focar a sua atenção nessa
pessoa. As assinaturas fazem com que
as pessoas abram um pouco mais os
olhos e pensem: vamos ver se, por acaso,
estamos errados neste caso.
AI: No entanto, tudo isto pode evitar ape-
nas um mal ainda maior, mas nunca
apagar o que se viveu. O Joaquín mudou
muito?
JJM: Hoje não sou a mesma pessoa. Mu-
dei completamente. Percebi mal saí do
corredor que não iria ser nem a mesma
pessoa que esteve no corredor da morte,
nem a pessoa que era antes. Seria uma
pessoa nova. E nessa altura nem sabia a
magnitude de tudo o que me tinha acon-
tecido. Quando cheguei ao aeroporto em
Espanha, tudo estava bloqueado com a
quantidade de pessoas que me foram
receber. Foi incrível. Percebi então que
não ia voltar a ser o que era e que tinha
de me dedicar à pena de morte.
AI: Hoje, além de trabalhar, viaja por
todo o mundo a falar da pena capital
e do seu caso, gratuitamente, acres-
cente-se. Seria bem mais fácil de es-
quecer se, pelo menos, não estivesse
constantemente a recordar tudo. Não
concorda?
JJM: No momento em que deixar de recor-
dar o que vivi deixarei de apreciar tudo o
que sou e de ser a pessoa que sou hoje.
Recordo o que sofri, para poder lutar por
aqueles que continuam a sofrer. Penso
que se todos fizermos a nossa parte, uma
pequena parte – e não apenas no caso
da pena de morte mas em muitos outros
problemas –, podemos mudar o mundo
em que vivemos.
Entrevista completa em: www.amnistia-interna-
cional.pt (Aprender/Revista da Amnistia Inter-
nacional)
Conheça melhor a história de Joaquín José
Martinez em www.joaquinjosemartinez.com
e no Dossier desta revista.

RETRATO
Piers Bannister, Coordenador da Equipa da Pena de Morte
da Amnistia Internacional - Um percurso escrito nas estrelas
Quando entrou na Amnistia Internacional Piers Bannister tinha 27 anos. Hoje, passadas mais de duas
décadas, recordou com o “Notícias da Amnistia Internacional Portugal” o trajecto percorrido e como
despertou para os Direitos Humanos e para a “bizarra e inaceitável” pena de morte
Por Cátia Silva
© Amnistia Internacional
No final de Março, a Equipa da Pena
de Morte do Secretariado Internacional1
da Amnistia Internacional divulga os
números relativos ao uso da pena capi-
tal no ano de 2009. O britânico Piers
Bannister, de 48 anos, coordena a equipa
até essa data. Depois, só o destino o dirá,
mas o responsável garante que ficará
na Amnistia Internacional, onde entrou
há mais de duas décadas, seguindo o
legado dos seus pais. A mãe era advo-
gada e activista de um grupo local da
Amnistia “quando esta era uma orga-
nização pequena”, reforça. O pai era
escritor, dedicado a temas como a es-
cravatura e os direitos civis, com ênfase
nos Estados Unidos da América. Seguir
os seus passos foi, contudo, totalmente
inconsciente. “Um dia, era investigador
da Amnistia para os Estados Unidos e
percebi que tinha um emprego que me
colocava entre a minha mãe e o meu
pai. Trabalhava em torno da lei e dos
direitos civis, nos Estados Unidos e fa-
lava de Direitos Humanos. Pensei: o que
terá acontecido à rebeldia juvenil?”,
diz, com a boa disposição que demons-
trou em toda a entrevista telefónica.
A verdade é que hoje sabe que esta paixão
era também a sua e que foi sendo culti-
vada enquanto, imagine-se, estudava
para ser actor. “Estava constantemente
interessado em relações internacio-
nais”, recorda, mas só em 1988, aos 27
anos, a escolha se tornou consciente. Op-
tou então por ser voluntário na secção do
Reino Unido da Amnistia Internacional1,
que conhecia bem, e em pouco tempo
conseguiu emprego como Recepcionista.
Uns meses mais tarde, ficou responsável
pela área da Juventude. “Um trabalho
que era feito com os jovens, nas Uni-
versidades, educando para os Direitos
Humanos e fazendo campanha”, ex-
plica. Desses tempos, recorda o que um
estudante lhe disse, entristecido: “Serei
membro da Amnistia para o resto da
vida”. Piers entendeu bem o que queria
dizer: abriram-me os olhos, agora não os
posso voltar a fechar e fingir que não vi.
O mesmo iria acontecer consigo, quando
viu de perto o que é a pena capital.
O ENCONTRO COM A PENA DE MORTE
Nas universidades, Piers Bannister fala-
va sobre violações aos Direitos Humanos,
mas até aqui a dureza da realidade era
ainda teoria, reconhece. Viria, contudo,
a conhecê-la pessoalmente, quando um
acaso o “empurrou” para trabalhar com
a pena de morte. “Houve em 1990 uma
tournée com vários oradores e um era
um advogado norte-americano. No fi-
nal, convidou-me para trabalhar com
ele durante seis meses”, recorda. Piers
Notícias • Amnistia Internacional 07
não hesitou e aos 28 anos mudou-se
para Alabama, nos Estados Unidos da
América, para acompanhar casos de
condenados à morte. “Lembro-me da
primeira vez que entrei com um advo-
gado em Tribunal. Ele explicou porque
o réu não deveria ser executado, mas
depois uma senhora – inteligente, edu-
cada e bem articulada –, começou a
explicar porque devia ser condenado
à morte. A minha primeira reacção foi
gritar: pare, vai fazer com que seja
morto. Depois percebi: ela sabe disso”.
Para Piers Bannister, nesse momento
fez-se luz. “Entendi como é bizarra
e inaceitável a pena capital”. Para a
advogada que viu em Tribunal, para os
juízes que ouviu condenarem pessoas
à morte ou para os guardas prisionais,
a pena de morte é um trabalho como
outro qualquer. “Uma vez estava a fa-
lar com um preso e houve mudança de
guardas. O que saiu disse-lhe adeus
e ele respondeu: «tem um bom fim-
-de-semana». Era claro que havia ali
amizade, mas dentro de meses aquele
guarda podia vir a executá-lo...”. Para
o responsável da Amnistia Internacional,
o distanciamento, ou a frieza, que tan-
tas vezes testemunhou, não podem ser
assim tão reais. “Quando conhecemos
alguém que o Estado diz não merecer
viver e ele se senta à nossa frente a rir,
sorrir, chorar e todas essas coisas que
um Ser Humano faz, penso que é algo
que nunca mais se consegue ultrapas-
sar. Deixa de ser teoria e passa a ser
realidade”.
08 Notícias • Amnistia Internacional
O Coordenador da Equipa da Pena de Morte com a freira Helen Prejean, autora do livro Dead Man Walking e activista contra a pena capital,
numa reunião em Outubro de 2008.
ACABAR COM A PENA CAPITAL
Depois de lidar de perto com o corredor
da morte, Piers Bannister, na altura com
33 anos, sabia que não podia fechar os
olhos. “Vi a injustiça e o horror da pena
de morte e a partir daí quis trabalhar
contra a pena capital”, diz, com a mes-
ma convicção que (acreditamos) terá
tido na altura. O destino tratou do resto:
o Secretariado Internacional da Amnistia
procurava uma pessoa para trabalhar
a pena de morte nos Estados Unidos
da América. A experiência que tinha, e
a paixão que certamente demonstrou,
garantiram-lhe o lugar.
O trabalho era feito a partir de Londres,
mas exigia longas temporadas em solo
norte-americano. O seu papel, sintetiza,
era visitar condenados à morte e realizar
todo o tipo de acções para que não fos-
sem executados. Para isso contou sem-
pre com a ajuda de milhares de activis-
tas de todo o mundo2. Ao mesmo tempo,
Piers investigava violações aos Direitos
Humanos relacionadas com a pena de
morte, como o racismo que lhe é inerente
(ver Dossier desta revista), pressionando
depois o Governo norte-americano para
que mudasse a sua postura.
Um trabalho que, assim sintetizado, pa-
rece simples, mas é preciso não esquecer
que embora tenha sido realizado há ape-
nas 15 anos, “na altura, o Governo
norte-americano sentia-se confortável
a ignorar a Amnistia”, lamenta Piers
Bannister. Além disso, acrescenta, “a
pena de morte era muito pouco deba-
tida e se alguém era contra, era como
se estivesse do lado dos assassinos.
Havia, por isso, muita hostilidade em
relação a nós”. Hoje, garante, a atitude
é bem diferente e a sociedade (ao menos)
respeita quem é contra a pena capital.
© Amnistia Internacional
O CAMINHO TRAÇADO PELAS ESTRELAS
Ao fim de cinco anos a trabalhar contra
a pena de morte nos Estados Unidos,
Piers Bannister agradecia um interreg-
no. A oportunidade surgiu no ano 2000,
quando o Secretariado Internacional da
Amnistia precisava de um investigador
para os países anglófonos das Caraíbas.
Piers, com 38 anos, assume a respon-
sabilidade de investigar as violações aos
Direitos Humanos em todos estes Esta-
dos. Tal como na função anterior, explica,
o trabalho era feito a partir de Londres,
mas durante semanas eram realizadas
missões no terreno e “todos os dias es-
távamos em contacto com as pessoas
de lá, com as organizações não gover-
namentais locais e outros parceiros”.
No fundo, sintetiza, um investigador tem
de “olhar para as informações, procu-
rar informações e verificar informa-
ções”, chegando a conclusões que são
denunciadas em relatórios, comunicados
de imprensa e, sempre que se justifique,
em acções urgentes3. Foi o que Piers
Bannister fez nas paradisíacas ilhas das
Caraíbas, onde o turismo esconde pro-
blemas graves como a excessiva brutali-
dade policial.
Por incrível que pareça, é novamente ao
fim de cinco anos, em 2005, que Piers
assume novas funções, regressando à
pena de morte. Quando alertamos para
a coincidência de ter mudado de posto
a cada meia década, surpreende-se e
diz: “se calhar estava escrito nas es-
trelas”. Acredite-se ou não, a verdade é
que aos 43 anos Piers Bannister assume
a coordenação da equipa de três pessoas
que no Secretariado Internacional realiza
anualmente as estatísticas relativas à
pena capital. Conhecida por Equipa da
Pena de Morte, é ainda responsável por:
1. representar a Amnistia na Coliga-
ção Mundial Contra a Pena de Morte e
nas Nações Unidas; 2. ser porta-voz da
referida Coligação para a comunicação
social e representar a Amnistia Interna-
cional nos média para os assuntos rela-
tivos à Pena de Morte; e 3. aconselhar as
equipas regionais da Amnistia, uma vez
que nos países retencionistas o trabalho
passa, também, por procurar a abolição
da pena capital.
Actividades que Piers Bannister realiza
há cinco anos e que, seguindo aquela
que se tornou já uma regra, vai deixar
de desempenhar no início de Abril. O fu-
turo é ainda incerto, mas Piers não põe
de lado a hipótese de se manter ligado
à pena capital. Até porque hoje, ao fim
de duas décadas, consegue finalmente
“desligar” quando regressa a casa. “Ao
início era difícil, mas as crianças aju-
dam porque nos mantêm equilibrados”,
diz, referindo-se aos dois filhos rapazes,
de seis e quatro anos. Quando estes lhe
dão “descanso” é a música, o cinema e o
mergulho que o ajudam a descomprimir.
No meio de tudo isto a vida de actor ficou
pelo caminho, até porque, diz entre risos,
“a vida real já me chega”.
1. A Amnistia Internacional é uma organização
não governamental com sede em Londres, no
Reino Unido, a que se chama Secretariado Inter-
nacional. Tem depois delegações, denominadas
secções nacionais, em mais de 50 países do mun-
do, entre eles Portugal e o próprio Reino Unido. O
objectivo das secções é ajudar a promover e de-
fender os direitos humanos, difundindo o trabalho
da Amnistia a nível nacional.
2. A Amnistia Internacional é, acima de tudo, um
movimento de activistas e desde o início que a
sua importância reside na máxima: “a união faz
a força”. Em 1961 o advogado britânico Peter
Benenson demonstrou, num artigo publicado no
jornal “The Observer”, vontade de ajudar pes-
soas presas pelas suas convicções políticas e/
ou religiosas. Na altura, sabia que sozinho não
ia conseguir. Hoje são 2,8 milhões os membros e
apoiantes que em todo o mundo dão à Amnistia
Internacional o poder necessário para promover e
defender os direitos humanos. Todos sabem que
fazem toda a diferença!
3. Em termos teóricos, as equipas do Secretari-
ado Internacional – divididas por temas ou por
regiões – são compostas por investigadores e
pelos chamados campaigners. Os primeiros são
os elementos seniores da equipa e realizam o
trabalho de investigação. Os segundos ajudam a
denunciar as situações investigadas, através de
comunicados de imprensa, acções urgentes, entre
outros. Na prática, explica Piers Bannister, “um
investigador faz campanha e um campaigner
faz investigação”.

EM FOCO
Nos últimos meses, dois países destacaram-se pelas piores razões. No Haiti, um sismo trouxe à superfície
problemas estruturais há muito escondidos. Os Estados Unidos da América voltaram a abrir telejornais
quando, em Janeiro, a promessa de Barack Obama de fechar Guantánamo não foi cumprida
HAITI
O QUE NÃO PODEMOS ESQUECER
© Amnistia International
O lixo acumula-se nas ruas dos bairros de Port-au-Prince.
No dia 12 de Janeiro a terra tremeu no
Haiti. Um sismo de magnitude 7.1 na Es-
cala de Ritcher abalou o país das Caraí-
bas causando milhares de mortos e de-
saparecidos. Aos sobreviventes restava
esperar pela ajuda da comunidade inter-
nacional, para proporcionar o acesso a
água potável, comida e cuidados médi-
cos. A Amnistia Internacional expressou
a sua preocupação com a crescente crise
humanitária no Haiti e enfatizou que a
promoção dos Direitos Humanos era es-
sencial para um auxílio eficaz e uma re-
cuperação sustentável.
Durante a distribuição de ajuda e nas
primeiras fases da reconstrução, a
Amnistia levantou algumas questões, a
serem enfrentadas por todos os actores
envolvidos. Primeiro, foi sublinhada a
necessidade de proteger os direitos dos
deslocados internos e de lhes prestar as-
sistência, sendo essencial ter em conta
as necessidades de protecção especi-
ais de crianças e mulheres, mais vul-
neráveis à violência, abusos e tráfico. Em
segundo lugar, a Amnistia sublinhou ser
urgente restabelecer o Estado de Direito,
apesar de o terramoto ter limitado ainda
mais as capacidades das autoridades
haitianas. Foram relatados incidentes
violentos em alguns locais da cidade,
pelo que é essencial realizar investiga-
ções independentes às violações aos Di-
reitos Humanos. Por último, a Amnistia
Internacional pediu que fossem criadas
condições para que a dívida externa do
Haiti seja totalmente perdoada, para que
o país possa agora começar do zero e não
cometer os mesmos erros do passado.
O Haiti já não preenche páginas de jor-
nais, nem é notícia de abertura de tele-
jornais, no entanto, não nos podemos
esquecer do que aconteceu e ainda
acontece no país. A catástrofe natural
deixou a nu uma realidade que há muito
se arrastava no Haiti e para a qual a
Amnistia Internacional tem vindo a aler-
tar com a campanha “Exija Dignidade”:
as más decisões de sucessivos Governos
e as constantes violações aos Direitos
Humanos que originam populações vul-
neráveis, sem estruturas e incapazes de
resolverem de forma autónoma os desa-
fios que o futuro reserva.
GUANTÁNAMO
DETIDOS PRECISAM DE SI
© US DoD
Um detido do Campo Quatro da Base Naval de Guantánamo.
22 de Janeiro de 2010 foi a data que, há
um ano, o então recém-empossado Pre-
sidente dos Estados Unidos da América,
Barack Obama, anunciou para o encer-
ramento da prisão de alta segurança
situada na baía de Guantánamo, em
Cuba. Com o aproximar da data definida
tornou-se claro que o prazo não iria ser
cumprido. O próprio Presidente norte-
Notícias • Amnistia Internacional 09
-americano veio a público confirmá-lo,
tendo alegado que um dos motivos é a
dificuldade de encontrar países de abri-
go para os cerca de 50 detidos que, por
razões de segurança, não podem voltar
ao seu país de origem.
Perante esta situação, a 11 de Janeiro,
quando se assinalaram oito anos desde
a abertura da prisão de Guantánamo,
a Amnistia Internacional juntou-se à
Reprieve e ao Center for Constitutional
Rights (CCR), organizações onde traba-
lham advogados de vários prisioneiros,
para o lançamento de uma tournée eu-
ropeia que visa incentivar alguns países
a receberem detidos da prisão de Cuba.
Recorde-se que, desde 2002, foram pre-
sas em Guantánamo quase 800 pessoas,
mas cerca de 600 foram entretanto liber-
tadas por não existirem provas da sua
ligação ao terrorismo.
O mesmo acontece aos cerca de 50
presos que procuram acolhimento em
Estados europeus. Enquanto a Amnistia,
a Reprieve e o CCR pressionam os gover-
nos, pedimos-lhe a si que nos ajude a
dar coragem aos prisioneiros, injusta-
mente privados da sua liberdade. Tudo o
que tem de fazer é escrever mensagens
de solidariedade e, acredite, estas po-
dem fazer toda a diferença. Como disse
Bisher al-Rawi, do Reino Unido, que em
2007 regressou a casa: “naquela cela
solitária, sem nada a não ser o vazio,
segurar uma fotocópia de uma carta e
ler as palavras que continha significou
muito para mim. Essas cartas abriam
as paredes, davam-me esperança e
sussurravam-me: Não foste esqueci-
do”. Mais informações em www.amnis-
tia-internacional.pt (Aprender / Revista
da Amnistia Internacional Portugal).
10 Notícias • Amnistia Internacional

DOSSIER
PENA DE MORTE - Quanto vale uma vida?
Antes de serem reveladas as estatísticas da Amnistia Internacional relativas à aplicação da pena de
morte no ano de 2009, o “Notícias da Amnistia Internacional” dedica o dossier a esta forma cruel e
desumana de punição, na esperança de que um dia tudo o que aqui está escrito possa apenas fazer
parte dos livros de História

© AP/PA Photo/Halabisaz
Numa cidade perto de Teerão, no Irão, uma plateia assiste ao enforcamento de cinco criminosos, em Agosto de 2007. Vários países continuam a aplicar este método de execução.

Ano de 1987 no Mississípi, Estados Uni-
dos da América. Edward Earl Johnson,
de 26 anos, vivia as suas últimas duas
semanas de vida, com data de execução
marcada para 20 de Maio. Estava há oito
anos no corredor da morte, “sem ver a
lua a céu aberto”, lamentou, num dos
seus últimos momentos com vida. Com
o aproximar do fatídico dia – assinalado
pelo próprio no calendário da cela onde
só cabia uma retrete, uma cama e um
armário –, Edward foi começando a
perder a esperança que até aqui o tinha
alimentado. Na televisão instalada na
cela via crescerem as manifestações e
as notícias em redor da sua execução.
Aguardava por um milagre: o adiamento
ou, melhor ainda, a clemência. Ao mes-
mo tempo, no edifício ao lado, a câmara
de gás que o iria matar era testada com
coelhos.
A três dias da execução, a agitação au-
menta no corredor da morte, contrastan-
do com o maior silêncio de Edward e dos
restantes prisioneiros. Um psiquiatra
vem oferecer calmantes, um padre e uma
freira trazem orações e a família é au-
torizada a visitar o preso todos os dias.
Quando faltam 72 horas para o momento
final, o condenado é transferido para
uma cela à entrada do corredor da morte,
que é literalmente um corredor com celas
de um lado e parede branca do outro. No
último dia, Edward recebe toda a família
numa sala demasiado pequena para o
que parecia ser um velório. A despedida
dá-se às 21 horas e Edward aguarda a
execução na sua cela, com o advogado
e uma freira. A 40 minutos desta ocor-
rer, o condenado é levado para a Sala do
Isolamento. Mais 20 minutos e chega o
médico para o analisar. A cinco minutos
da execução, Edward é sentado e amar-
rado à cadeira da câmara de gás.
Às 24 horas e 1 minuto de 20 de Maio
de 1987, o coração de Edward Earl
Johnson deixou de bater, por ter assas-
sinado um polícia. Um crime que confes-
sou sob tortura. A sua história é seme-
lhante à de milhares outros prisioneiros
que foram já executados e dos quase
20.000 detidos que o consultor Mark
Warren estima estarem neste momento
no corredor da morte em todo o mundo. O
que tornou Edward Earl Johnson diferente
foi o facto de os seus últimos momentos
terem ficado gravados no documentário
14 Days in May, produzido pela BBC e
distribuído pela Amnistia Internacional.
A pretensão do filme não foi a de nos
fazer sentir o que Edward sentiu – o que
é impossível –, mas explicar melhor o
que Joaquín José Martinez (ver Entrevista
desta revista) quis dizer quando esteve
em Portugal e afirmou: “sinceramente,
não é tanto o facto de nos irem matar,
mas o processo e o tempo até esse mo-
mento”.
Mas, por que falar de tudo isto agora?

CADA VEZ MAIS PERTO DE ABOLIR
A PENA DE MORTE
A luta pelo fim da pena de morte é tão
antiga quanto a própria Organização das
Nações Unidas, mas só recentemente
se têm notado verdadeiros progressos.
Primeiro, com a entrada em vigor, em
1991, do Segundo Protocolo Opcional ao
Pacto Internacional sobre os Direitos Ci-
vis e Políticos com vista à Abolição da
Pena de Morte, até hoje ratificado por
72 países. Mais recentemente, a 18 de
Dezembro de 2007, os defensores dos di-
reitos humanos de todo o mundo aplau-
diram a aprovação, na Assembleia Geral
das Nações Unidas, de uma resolução
para uma Moratória ao uso da pena de
morte.
A proposta surgiu da Coligação Mundial
contra a Pena de Morte, à qual a Amnis-
tia Internacional pertence, e foi aprovada
com 104 votos a favor e 54 contra. Um
resultado surpreendente quando até
aqui todas as propostas relacionadas
com a pena de morte tinham sido um
fracasso nas Nações Unidas. A Moratória
tem, como o nome indica, um cariz tem-
porário, mas o seu objectivo é que os
Estados que a ratifiquem se tornem abo-
licionistas na prática (o que acontece
ao fim de 10 anos sem execuções) ou na
lei. Não sendo vinculativa, tem um forte
peso político e moral, como comprovam
alguns sucessos: o Ruanda, que aboliu
a pena capital em 2007, o Uzbequistão
e o Quirguistão, que o fizeram em 2008,
e o Burundi e o Togo, que puseram fim
à pena de morte em 2009. As atenções
da Amnistia Internacional concentram-
-se agora na Mongólia, que já assinou a
Moratória. Ajude-nos a pedir que acabe
com a pena capital. Assine a petição em
www.amnistia-internacional.pt (Apren-
der/Revista da Amnistia Internacional).
– estarão a pensar alguns leitores. E,
acima de tudo, por que falar de pena
de morte num país que não a aplica? Se
motivos fossem precisos para justificar
este Dossier, diríamos que Março é o mês
em que a Amnistia Internacional lança
as estatísticas relativas à aplicação
da pena de morte no ano anterior. Mas
mais do que isso, muito nos chocou a
sondagem de Julho de 2009 publicada
na revista Visão, feita em parceria com
a SIC/GfK Metris/Cesnova, que revelou
que 65% dos portugueses defendem a
prisão perpétua e 26% concordam com a
pena capital. O que estará a fazer regre-
dir um dos países pioneiros na abolição
desta forma de punição (ver caixa “Pena
de Morte em Portugal”) quando o mundo
caminha no sentido contrário (ver caixa
“Cada vez mais perto de abolir a Pena
de Morte”)? Esperamos que os textos
seguintes ajudem a mudar a triste reali-
dade espelhada pela sondagem.
1.
A TEORIA DO EFEITO
DISSUASOR
A sondagem publicada na revista Visão
vem mostrar que se mantém vivo um
mito antigo, que relaciona a pena de
morte com a insegurança, pois o ques-
tionário passava das perguntas sobre
criminalidade violenta para as mais
cruéis e desumanas formas de punição.
É por isso que Piers Bannister, Coordena-
dor da Equipa da Pena de Morte da Am-
nistia Internacional na sede, em Londres,
relativiza os resultados. “Provavelmente
as pessoas leram notícias sobre crimes
e estão zangadas. A pena de morte é
uma expressão de raiva. E as pessoas
têm direito a ficar zangadas com o
que lêem. Mas quanto mais se discutir
a pena de morte, mais se vão afastar
dela”. Desmistifique-se, por isso, o mito
do efeito dissuasor que a pena capital,
na realidade, não tem.
Até hoje nenhum estudo conseguiu
provar que a aplicação da pena de morte
origina menor criminalidade. Várias in-
vestigações têm mesmo concluído pre-
cisamente o contrário. Em 2004, um
estudo realizado nos Estados Unidos da
América mostrou que a taxa de homicí-
dios nos Estados que não aplicam a
pena de morte ronda os quatro por cada
100.000 habitantes, enquanto nos que
aplicam a média de crimes quase chega
aos seis. Além disso, segundo o norte-
-americano Death Penalty Information
Center, 88% das execuções ocorrem
nos Estados localizados a Sul, onde há
também maior criminalidade. Da mesma
forma, no Canadá a taxa de homicídios
tem vindo a cair desde que, em 1975, a
pena de morte foi abolida.
Tudo isto é explicado pelos criminolo-
gistas com o facto de a maioria dos
Notícias • Amnistia Internacional 11
crimes ser cometida de forma passional
ou sob a influência de drogas ou álcool.
Joaquín José Martinez, que esteve no cor-
redor da morte na Florida, não precisou
de estudar para perceber isto mesmo:
“estive com 476 condenados à morte
(continua na pág.14)
OS ESTADOS QUE MAIS MATAM
Em 2008 (últimos dados disponíveis até
ao fecho desta edição), as estimativas
da Amnistia Internacional em relação à
pena de morte nesse ano cifravam-se
em 2.390 pessoas executadas em 25
países e 8.864 condenadas à morte em
52 Estados. Isto, recorde-se, quando 58
Estados mantêm a pena capital na sua
legislação. Números que, muito pro-
vavelmente, estão abaixo da realidade,
pois alguns países, como a China e a
Coreia do Norte, continuam a executar de
forma secreta, sem informarem sequer
os familiares dos condenados ou devol-
verem os seus corpos.
No entanto, é de salientar que nos últi-
mos anos as execuções se têm concen-
trado em poucos países. Em 2008, 93%
foram realizadas em apenas cinco Es-
tados: China (1.718 pessoas), Irão (346
pessoas), Arábia Saudita (102 pessoas),
Paquistão (36 pessoas) e Estados Uni-
dos da América (37 pessoas em nove Es-
tados). Enquanto isso, o resto do mundo
afasta-se cada vez mais desta realidade.
É por isso que Piers Bannister, Coorde-
nador da Equipa da Pena de Morte da
Amnistia Internacional na sede, em Lon-
dres, defende: “cada vez que um Estado
decreta a abolição da pena capital, os
cinco países ficam mais isolados”.
Importa, no entanto, referir que nos Esta-
dos Unidos da América os números tam-
bém denunciam um progresso, com 60
execuções a terem lugar em 2005, 53 em
2006, 42 em 2007 e 37 no ano de 2008.
Joaquín José Martinez, que esteve quatro
anos no corredor da morte na Florida,
está convicto de que “há uma mudança
na América” e arrisca três razões princi-
pais: a crise económica, porque executar
é muito caro; o racismo associado à pena
de morte, quando Barack Obama é negro,
e a Internet. “Há uns anos só havia tele-
visão, rádio e imprensa. O que disses-
sem todos respondiam «Ámen». Agora
há a Internet, onde se pode ver o que se
escreve noutros países”.
12 Notícias • Amnistia Internacional

O MUNDO E A PENA DE MORTE Países Abolicionistas

para todos os crimes
África do Sul Bélgica Costa do Marfim
95 Estados aboliram a pena de morte para todos os crimes Albânia Bósnia-Herzegovina Costa Rica
Alemanha Bulgária Croácia
9 Estados aboliram a pena de morte para os crimes comuns Andorra Burundi Dinamarca
35 Estados aboliram a pena de morte na prática Angola
Argentina
Butão
Cabo Verde
Djibuti
Equador
58 Estados continuam a aplicar a pena de morte Arménia Camboja Eslováquia
Austrália Canadá Eslovénia
Áustria Chipre Espanha
Azerbaijão Colômbia Estónia

Em todo o continente americano,

apenas os Estados Unidos da
América continuam a executar
com regularidade.

Com excepção da
Bielorrússia, a Europa
Países Abolicionistas e a Ásia Central estão
para crimes comuns livres da pena de
morte.
Bolívia
Brasil
Cazaquistão
Chile
El Salvador
Fiji
Israel
Letónia
Peru

PAÍSES ABOLICIONISTAS PARA TODOS OS CRIMES

Onde a lei proíbe a pena capital
Países Abolicionistas
PAÍSES ABOLICIONISTAS PARA CRIMES COMUNS na Prática
Onde a pena capital é aplicável apenas a crimes excepcionais,
incluindo crimes militares ou cometidos em tempo de Guerra Argélia Granada Nauru
Benin Laos Nigéria
PAÍSES ABOLICIONISTAS NA PRÁTICA Brunei Libéria Papua-Nova Guiné
Onde a pena capital existe na lei, mas não se registam execuções Burkina Faso Madagáscar Quénia
há pelo menos uma década ou quando os Estados se compro- Camarões Malawi Rep. Centro-
meteram internacionalmente a não aplicarem a pena de morte Coreia do Sul Maldivas Africana
Eritreia Mali Rep. do Congo
PAÍSES RETENCIONISTAS Gabão Marrocos Rússia
Onde a pena capital continua a ser aplicada Gâmbia Mauritânia Sri Lanka
Gana Mianmar Suazilândia
 Notícias • Amnistia Internacional 13

Estados Abolicionistas
nos E.U.A.
Filipinas Ilhas Cook Macedónia Nepal Quirguistão Senegal Ucrânia Alasca Nova Jérsia
Finlândia Ilhas Marshall Malta Nicarágua Reino Unido Sérvia (inc. Uruguai Dacota do Norte Novo México
França Ilhas Salomão Maurícia Niue República Checa Kosovo) Uzbequistão Distrito de Colômbia Rhode Island
Geórgia Irlanda México Noruega República Dominicana Suécia Vanatu Havai Vermont
Grécia Islândia Micronésia Nova Zelândia Roménia Suíça Vaticano Iowa Virgínia Ocidental
Guiné-Bissau Itália Moçambique Palau Ruanda Timor-Leste Venezuela Maine Wisconsin
Haiti Kiribati Moldávia Panamá Samoa Togo Massachusetts
Holanda Liechtenstein Mónaco Paraguai San Marino Turquemenistão Michigan
Honduras Lituânia Montenegro Polónia São Tomé e Príncipe Turquia Minnesota
Hungria Luxemburgo Namíbia Portugal Seicheles Tuvalu Nova Iorque

Estados Retencionistas
nos E.U.A.
Alabama Maryland
Arcansas Mississipi
Arizona Missouri
Califórnia Montana
Carolina do Norte Nebrasca
Carolina do Sul Nevada
É na Ásia que Colorado New Hampshire
se regista o
Connecticut Ohio
maior número de
execuções. Dacota do Sul Oklahoma
Delaware Oregon
Florida Pensilvânia
O Médio Oriente é a Geórgia Tennessee
segunda região do Idaho Texas
mundo onde a pena Indiana Utah
de morte é mais Illinois Virgínia
utilizada.
Kansas Washington
Kentucky Wyoming
Louisiana

Países
Retencionistas
Suriname Afeganistão Chade Guiana Jordânia Paquistão Sudão
Tajiquistão Antígua e Barbuda China Guiné Kuwait Qatar Tailândia
Tanzânia Arábia Saudita Comoros Guiné Equatorial Lesoto Saint Kitts e Nevis Taiwan
Tonga Bahamas Coreia do Norte Iémen Líbano Rep. Dem. do Congo Trindade e Tobago
Tunísia Bahrein Cuba Índia Líbia Santa Lúcia Uganda
Zâmbia Bangladesh Dominica Indonésia Malásia São Vicente e Granadinas Vietname
Barbados Egipto Irão Mongólia Serra Leoa Zimbabué
Bielorrússia Emiratos Árabes Unidos Iraque Nigéria Singapura
Belize Etiópia Jamaica Omã Síria
Botswana Guatemala Japão Palestina Somália
14 Notícias • Amnistia Internacional
e nenhum me disse que tinha pensado
antes nas consequências de cometer
o crime”. Até porque, acrescentou, ne-
nhum criminoso espera ser apanhado.
Nelson Mandela, ex-Presidente da África
do Sul, defendeu que a pena de morte
não é solução e que o crime se combate
com um sistema policial forte e bem trei-
nado. Outras soluções passariam pela
erradicação da pobreza. A pena de morte
é, na verdade, apenas uma ilusão criada
pelos Governos para dizerem que estão
a combater a criminalidade quando, na
realidade, a estão a promover ao prolon-
garem, assim, o ciclo de violência.
2.
O EFEITO BOOMERANG
DO ARGUMENTO ECONÓMICO
São muitos os que defendem que é mais
barato condenar à morte um “criminoso”
do que alimentá-lo uma vida inteira atrás
das grades. Piers Bannister desconstrói o
argumento, porque, na verdade, os cus-
tos mais elevados estão no processo ju-
dicial. “Num sistema com pena capital
há duas opções: a económica, como na
Arábia Saudita, onde não há julgamen-
tos justos, ou como nos Estados Unidos
MÉTODOS DE EXECUÇÃO AINDA UTILIZADOS
Enforcamento
Estados que utilizam:
Egipto, Irão, Iraque, Japão,
Jordânia, Paquistão e
Singapura.
Electrocussão
Estados que utilizam:
Estados Unidos da América
(Alabama, Arkansas,
Florida, Illinois, Kentucky,
Oklahoma, Carolina do Sul,
Tennessee e Virgínia).
da América, onde os condenados po-
dem, pelo menos, tentar ter um julga-
mento justo”. Esta última custa uma
fortuna, entre investigação, especialis-
tas, juízes e recursos. Para se ter uma
pequena ideia, refira-se que no Texas, o
principal executor nos Estados Unidos da
América, um caso de pena de morte cus-
ta, em média, 2,3 milhões de dólares (1,7
milhões de euros), indica o Death Penalty
Information Center. Um valor idêntico a
manter alguém em prisão perpétua.
Ainda recorrendo aos números, e fazendo
agora contas anuais, veja-se o exemplo
da Califórnia, que não está sequer nos
15 Estados que mais executam nos Es-
tados Unidos da América e onde os con-
tribuintes pagam ao ano, com os impos-
tos, cerca de 114 milhões de dólares (84
milhões de euros) para matar pessoas.
“Dinheiro que poderia ter sido gasto
no fortalecimento da lei, em educação,
em hospitais ou noutra área”, sugere
Piers Bannister. Acrescentamos nós que
poderia até ser usado para o efectivo
combate ao crime violento e a assistên-
cia às suas vítimas. “É isso que as pes-
soas nos Estados Unidos da América
estão a começar a perceber devido aos
problemas económicos actuais”, diz o
Apedrejamento Decapitação
Estados que utilizam: Afe- Estados que utilizam:
ganistão, Irão e Somália. Arábia Saudita.
Injecção Letal Fuzilamento
Estados que utilizam: China, Estados que utilizam: Afe-
Estados Unidos da América ganistão, Bielorússia, China,
(em todos os 35 estados Coreia do Norte, Etiópia,
norte-americanos que Iémen, Somália e Vietname.
mantêm a pena de morte),
Saiba mais em www.amnistia-
Guatemala e Tailândia. internacional.pt (Aprender/ Revista
da Amnistia Internacional)
responsável da Amnistia Internacional.
Até porque, desconfia Joaquín José Mar-
tinez: “para onde vai, na verdade, todo
este dinheiro?”.
3. UMA FORMA SELECTIVA
DE PUNIÇÃO
Quando se fala em pena de morte, Piers
Bannister recorda, de imediato, umas
das figuras mais polémicas da História
da Humanidade: “Hitler julgava que os
Judeus deviam ser mortos. Para mim,
discordar com ele apenas na escolha
de quem deverá ser morto coloca-me
demasiado perto dele”. Quem considera
a afirmação exagerada esquece que a
pena de morte é, efectivamente, um pro-
cesso selectivo. Se tal não fosse verdade,
o Vice-Superintendente norte-americano
Dwight Presley não diria: “No Estado do
Mississípi, cerca de 67% dos prisionei-
ros são pobres, com pouca educação e
negros”.
Uma afirmação corroborada pelos nú-
meros: em 2009 o corredor da morte
norte-americano tinha 42% de negros
e 44% de brancos, quando a população
se divide, segundo o Census de 2000, em
12,9% de negros ou afro-americanos e
87,1% de outros. Piers Bannister escla-
rece: “os afro-americanos estão sobre-
-representados no corredor da morte
em relação à sociedade, mas se
quisermos olhar para onde o sistema
é realmente racista, temos de ver os
números sobre quem é assassinado”.
Uma realidade que o Death Penalty In-
formation Center torna clara: dos casos
que culminaram em pena capital, 77%
são pelo assassinato de brancos e ape-
nas 15% pela morte de negros. “É uma
questão de quanto vale a vida das víti-
mas”, garante Piers Bannister. Joaquín
José Martinez acrescenta que o trata-
mento no corredor da morte é também
muito diferente: “na placa [que tinha
ao peito] dizia «WH», ou seja, white/
branco”. E isso fazia a diferença.
Para além dos negros, outras minorias e
grupos raciais, étnicos ou religiosos têm
ao longo da História provado que a pena
de morte é discricionária. O que mui-
tos de nós desconhece é que o dinheiro
pode, também, fazer a diferença entre
a vida e a morte – mesmo nos chama-
dos “Estados civilizados”. Joaquín José

Um manifestante pede a abolição da pena de morte frente a um Gabinete de Ligação Chinês na Região Administrativa Especial de Hong Kong.
Martinez, que esteve quatro anos no cor-
redor da morte nos Estados Unidos da
América, esclarece: “o dinheiro ajuda
muito. Não tira ninguém de um corre-
dor da morte se não for inocente, mas
o que acontece, e eu conheço alguns
casos, é que o dinheiro pode evitar
chegar lá”. Até porque os endinheira-
dos podem contratar os melhores advo-
gados, enquanto os mais pobres ficam
com os pouco experientes oficiosos. Piers
Bannister complementa: “penso que
não se encontra pessoas ricas no cor-
redor da morte. A partir do momento da
detenção, quem és e os recursos que
tens fazem uma enorme diferença”.
Se tudo isto chegaria para compreender
a selecção inerente à pena de morte, é
importante perceber que esta não é sem-
pre aplicada ao mesmo tipo de crimes.
Para perceber isso basta pensar que en-
quanto países como Portugal discutem
o casamento entre pessoas do mesmo
sexo, outros, como a Arábia Saudita, o
Irão e a Nigéria, punem as relações ho-
mossexuais com pena capital. Nestes
países é também comum executar os
dissidentes políticos, procurando assim
silenciar a oposição. Fariba Amini, escri-
tora iraniana, denuncia esta realidade
no site iranian.com, num artigo traduzi-
do pela revista Courrier Internacional em
Janeiro: “Quer os réus sejam inocentes
ou culpados, a pena capital tornou-se
a regra e não a excepção. Nos últimos
tempos, é utilizada como táctica de in-
timidação contra os presos políticos,
para dissuadir outras pessoas de se
lançarem em actividades subversivas”
leia-se, em tudo o que implica liberdades
fundamentais como a liberdade de ex-
pressão. E também aqui, como prova o
caso de Fariba Amini, a pena capital não
é dissuasora.
4.
A ILUSÃO DE ESTAR A
FAZER JUSTIÇA
Se havia leitores desta revista que de-
fendiam a pena de morte, esperamos
que neste momento estejam, pelo menos,
pensativos. No entanto, acreditamos que
muitos deixariam novamente de hesitar
se a vítima de homicídio pertencesse
à sua família. Uma vez mais, pedimos
que não tenham ilusões. Joaquín José
Notícias • Amnistia Internacional 15
© Privado
Martinez, que hoje dá palestras em todo
o mundo contra a pena de morte, já es-
teve nos dois papéis: primeiro, no cor-
redor da morte e dois anos depois de
sair em liberdade um jovem de 17 anos
atropelou e matou o seu pai. “Sincera-
mente, senti uma raiva e uma vontade
de vingança que me fazia querer ir ter
com o rapaz e, quem sabe, matá-lo eu
mesmo. Inicialmente... É uma reacção
normal. Custou-me muito perdoar o ra-
paz, mas vê-lo sofrer 100 vezes numa
cadeira eléctrica não aliviaria a dor
que sinto pela perda do meu pai. E já
passaram seis anos”.
Piers Bannister, que contactou com
vários condenados à morte e com os
familiares das suas vítimas, garante
que muitos não querem a execução, até
por respeito ao seu ente querido. Marie
Deans, cuja sogra foi assassinada em
1972, disse um dia: “após um homicí-
dio, as famílias das vítimas enfrentam
duas situações: uma morte e um crime.
Sabemos que a vingança não é a res-
posta. É preciso reduzir a violência e
não causar mais mortes”. Joaquín José
Martinez acrescenta: “a execução iria
16 Notícias • Amnistia Internacional
destruir outra família”, porque é pre-
ciso não esquecer que os condenados
são pessoas como todos nós, com pai,
mãe, irmãos...A este propósito Piers
Bannister recorda uma rapariga de 27
anos que conheceu no Texas e que “es-
DEMASIADO NOVOS
PARA MORRER
© www.myspace.com/helpdelara
Na Primavera de 2009 o mundo sensibi-
lizou-se com a história de Delara Darabi
e uniu-se para impedir a sua execução. A
jovem, de 22 anos, estava há seis anos
tava a poupar dinheiro para o funeral
do irmão, porque sabia que ia ser exe-
cutado, quando devia estar a poupar
para educação, para comprar uma
casa ou para uma viagem à volta do
mundo...”
5. ERRAR É HUMANO
Vários pensadores, como Alexander Pope,
afirmaram durante séculos que “errar é
humano”. Hoje, iludidos por uma ideia
de Justiça inabalável, estamos a esque-
cer estes ensinamentos. É novamente
Joaquín José Martinez que nos traz de
volta à realidade, porque esta lhe bateu
à porta quando tinha 24 anos. Separado
e pai de duas filhas, vivia o sonho ameri-
cano, com carros descapotáveis e di-
nheiro que permitia frequentar salas VIP
e estar rodeado de amigos. A 31 de Outu-
bro de 1995 a cidade onde vivia, Tampa,
na Florida, Estados Unidos da América,
acorda assombrada com o brutal assas-
sinato de Douglas Lawson, de 25 anos, e
da sua namorada Sherrie McCoy-Ward. A
polícia procura o culpado – até porque o
rapaz era filho do xerife – sem sucesso,
como, aliás, lhe era característico. No
início de 1996 a ex-mulher de Joaquín dá
à polícia o que esta precisava: um bode
expiatório.
Tudo começou a 27 de Janeiro, quando
Joaquín devia ir buscar as filhas para
passear, mas optou por passar o dia de
anos da nova namorada na DisneyWorld.
Disse à ex-mulher, demasiado ciumenta,
que tinha de trabalhar e que iria no dia
seguinte. Esta, desconfiada, liga para o
escritório e descobre o que Joaquín não
quis contar. Cega pelos ciúmes, telefona
no corredor da morte no Irão por um
crime que confessou ter cometido para
salvar o namorado, o verdadeiro culpado.
Este era maior de idade, enquanto Delara
tinha 17 anos na altura do crime e sabia
que executar jovens por homicídios co-
metidos quando têm menos de 18 anos
é, segundo a Convenção dos Direitos da
Criança e o Pacto Internacional sobre os
Direitos Civis e Políticos, completamente
proibido.
Um dado que, no caso de Delara, não
demoveu as autoridades iranianas,
nem com a mobilização mundial desen-
cadeada pelos activistas da Amnistia
à polícia e diz que encontrou o culpado do
crime que era procurado em cartazes por
toda a cidade. Domingo, 28 de Janeiro de
1996, Joaquín vai ver as filhas numa rá-
pida visita, por ser dia de futebol. Entra
no carro para voltar a casa, onde o espe-
ram pizzas e muitos amigos. Em segun-
dos é cercado por carros da polícia e por
um helicóptero, exactamente como nos
filmes, garante. Foi puxado e algemado
no chão, com as filhas ao fundo, ainda
pequenas, a chorar. Nunca mais voltou à
casa que tinha. Nunca mais viu os mes-
mos amigos.
Já no ano seguinte, Joaquín Martinez
ouve o veredicto final: pena capital.
Joaquín José Martinez quando em Outubro de 2009 esteve em Portugal a convite da secção portuguesa da Amnistia Internacional.
“Toda a arrogância que tinha, perdi.
Jamais poderia imaginar que seria
condenado à morte”, recorda. A sen-
tença teve por base, acima de tudo,
duas armas legalizadas que usava para
fazer tiro ao alvo, que não eram as do
Internacional. A 1 de Maio de 2009 a
mãe recebe o telefonema desesperado
da filha: “Vão executar-me. Por favor
salvem-me...”. A chamada, interrom-
pida, antecedeu o enforcamento que o
mundo não conseguiu impedir. O mesmo
aconteceu, desde 1990, em pelo menos
nove outros países: a Arábia Saudita, a
China, os Estados Unidos da América
(a última vez em 2003), o Iémen, o Irão,
a Nigéria, o Paquistão, a República
Democrática do Congo e o Sudão. Todos
eles assinaram pelo menos um dos refe-
ridos tratados internacionais. E todos os
desrespeitaram.
crime; o testemunho da ex-mulher, que
se voltasse atrás seria acusada de per-
júrio e perderia as filhas; uma gravação
pouco audível transcrita pelo famoso
FBI, onde Joaquín supostamente con-
fessa o crime; e a ligação entre o réu e
Douglas Lawson, que tinha trabalhado
dois meses na mesma empresa que
Joaquín, embora este não o conhecesse.
Foi o suficiente para colocar mais um
inocente num corredor da morte que
deixou marcas irreparáveis. Saiu em
liberdade em 2001, graças a um advo-
gado contratado, que descobriu que a
gravação tinha sido transcrita pelo pai
de Douglas; a um novo Procurador do
© Amnistia Internacional Portugal

Ministério Público, que não quis ouvir a
ex-mulher; e a uma campanha mundial
concertada pelo pai de Joaquín com a
ajuda de organizações como a Amnistia
Internacional.
A sua história não é, infelizmente, caso
único. “Em 2001 era o 96.º a sair de
um corredor da morte”, refere Joaquín.
O Death Penalty Information Center
acrescenta que desde 1973 mais de 130
condenados à morte foram libertados
porque se descobriu serem inocentes.
Pondo de lado tudo o que Joaquín pas-
sou na prisão, de que falámos no início
deste artigo e que pode conhecer melhor
em www.joaquinjosemartinez.com, a
sua libertação é até um sinal positivo,
mas nem todos têm a mesma “sorte”.
Frank Lee Smith, um dos amigos que fez
na prisão, esteve 14 anos no corredor
da morte pela violação e assassinato
de uma rapariga. Disse sempre estar
inocente. Em 2000, morreu sozinho na
enfermaria da prisão pelo cancro que o
consumia. O seu último pedido foi que
as provas de ADN fossem revistas. A
tecnologia, agora mais avançada, per-
mitiu provar que estava inocente e que o
culpado pelo crime cumpria já uma pena
semelhante.
Um condenado à morte espreita pela sua cela nos Estados Unidos da América.
O mesmo aconteceu – pensando só nos
democráticos Estados Unidos da Améri-
ca – a Cameron Todd Willingham, exe-
cutado em 2004, a Gary Graham, morto
no ano 2000, a Leo Jones (1998), a David
Spence e Joseph O’Dell (1997), a Larry
Griffin (1995), a Ruben Cantu (1993) e a
Carlos DeLuna (1989). Para todos eles foi
tarde demais! Hoje, a Amnistia Interna-
cional tenta que Troy Davis não seja mais
um nome desta lista. Ajude-nos a impe-
dir a sua execução. Saiba como em www.
amnistia-internacional.pt (Aprender /
Notícias da Amnistia Internacional).
(continua na pág.19)
PENA DE MORTE EM PORTUGAL
“O CADÁVER NÃO SE CORRIGE”
Por Luís Sottomaior Braga, do Grupo Lo-
cal 24 da Amnistia Internacional Portu-
gal e professor de História no ensino
básico
Em 5 de Julho de 1852, para os crimes
políticos e, em 1 de Julho de 1867, para
os crimes civis, Portugal aboliu a pena
de morte que manteve, apenas, e com
natureza excêntrica (em situações de
combate), para os crimes militares. A
abolição formal estabelecia-se como
Notícias • Amnistia Internacional 17
facto há quase um século para as mu-
lheres e há mais de vinte anos para os
homens.
Alguns, imbuídos de um fervor patriótico
datado, poderão ficar muito enlevados
no seu sentimento nacionalista por ter-
mos sido dos primeiros a abolir (embora
não o 1º país). Aí encontrarão um sinal
comprovativo da nossa suposta natureza
e dos brandos costumes. Não tendo feito
pesquisa histórica para poder assumir
certezas, considero (e numa perspectiva
comparada) que a abolição precoce da
pena de morte em Portugal, que me or-
gulha como português, foi contudo fruto
de um movimento lento e que, embora
haja sinais de alguma adesão popular,
foi fruto de um movimento elitista.
Há sinais contraditórios na análise de
longa duração. Por um lado, podemos
citar o historiador especializado em
temas penais, Luís Miguel Duarte, que
recorda numa passagem da sua tese de
doutoramento a anedota sobre Carlos V
que, ao ler as Ordenações que faziam lei
em Portugal, terá perguntado aos seus
conselheiros como é que ainda havia
portugueses, se tanta coisa era punida
© AP/PA Photo/Stf
18 Notícias • Amnistia Internacional
com a pena de morte. Por outro, além
da reacção popular emotiva aos casos
de injustiça, que entrou nas lendas e
tradições (o galo de Barcelos nasceu de
uma história sobre injustiça na conde-
nação à morte, para não ir mais longe),
há, por exemplo, o sinal institucional
dos reis do período da Expansão que, ao
concederem poderes penais a coloniza-
dores (por exemplo, nas capitanias da
Madeira, Açores e Brasil), reservavam a
condenação à pena de morte para a sua
tutela exclusiva como monarcas.
A humanização e o caminho até à abolição
são lentos e têm algumas voltas, até que
se intensificam, desde o último quartel
do século XVIII, em vários diplomas. O
tempo histórico concreto marcou esta
mudança. A situação humanizou-se logo
após um empolamento da atrocidade,
especialmente em relação aos crimes
de lesa-majestade, no tempo de D. José.
D. Maria, a filha desse monarca suavi-
zou as penas e aumentou os recursos
dos condenados. O espectáculo cruento e
triste dos Távoras a serem mortos, frente
ao Palácio de Belém (sua antiga casa), à
pancada, deitados na roda, deixou mar-
cas no olhar público e, conjugadas com
a influência do pensamento Iluminista,
caiu em desuso o abuso dos tormentos
e das mutilações. Contudo, na primeira
metade do século XIX os sucessivos pro-
jectos de reforma da lei penal e as Cons-
tituições de 1822 e de 1838 e a Carta
Constitucional de 1826, não eliminavam
a pena de morte, que foi mantida no pro-
jecto e no Código Penal de 1852. Aliás,
no Miguelismo a pena de morte teve um
recrudescimento de que foram vítimas os
mesmos grupos liberais que depois, no
poder, promoveram a sua abolição.
Assim, da peculiar história portuguesa,
podem tirar-se uma ou duas conclusões
para o activismo de hoje. A abolição
acaba por ser um processo não linear
(com avanços e recuos) em que, mais
ou menos lentamente, se vai reduzindo o
âmbito do problema. Abolir não foi uma
decisão repentina de um génio individual
ou nacional, foi um processo. Às tantas,
como somos um país velho tivemos mais
tempo para fazer o caminho e chegámos
mais cedo ao fim. A outra conclusão é
que, apesar do contexto do nosso tempo
ser outro, a abolição não foi um movi-
mento de massas.
É justo assinalar o papel individual que
certos elementos de elites culturais e
políticas tiveram no processo: juristas,
políticos liberais e escritores. No pouco
espaço disponível destaco Ayres de Gou-
veia, cuja frase que dá título a este texto
sintetiza um ponto de vista e foi dita no
dia em que o Parlamento produziu o re-
sultado de abolir a pena. O seu livro so-
bre a reforma das cadeias, que Camilo
gozou sem apelo nem agravo, mas in-
justamente, na sua Queda de um Anjo,
foi um dos passos de sensibilização es-
sencial para o problema das penas e sua
aplicação no país.
Naturalmente que o movimento aboli-
cionista foi uma tendência longa, que
passou por 1 de Julho de 1772, data em
que se executou a última mulher; por
1834, em que se fez a última execução
por crime político; por 22 de Abril de
1846, data em que se terá executado, em
Lagos, o último homem. A partir de então,
a pena de morte foi morrendo até à sua
execução final, no Parlamento, por acção
de decisores que a ela se opuseram.
Houve, claro, efeitos da acção do Enci-
clopedismo, do Iluminismo ou do Hu-
manitarismo mas o processo nacional
tem as suas particularidades. Uma delas
(em que realmente fomos pioneiros) foi a
via constitucional de abolição.
Na proposta governamental da reforma
constitucional apresentada em Janeiro
de 1852 não figurava a abolição da pena
de morte, porque o Governo queria que
constasse de uma lei ordinária.
Porém, em 10 de Março de 1852, os De-
putados Rodrigues Cordeiro (por Leiria) e
Mendes Leal (por Aveiro) apresentaram
uma proposta de aditamento ao artigo
16.º do Acto Adicional à Carta, abolindo
a pena de morte para os crimes políti-
cos, que acabou aprovada. Aí se iniciou
um largo processo de discussão entre
juristas com propostas e contrapropos-
tas sobre o tema mas foi o Ministro da
Justiça e professor em Coimbra, Barjona
de Freitas quem expôs, na sessão de 28
de Fevereiro de 1867, a proposta da re-
forma penal e prisional que, no artigo 1.º,
continha, a abolição da pena de morte.
Segundo o relatório do proponente, a
pena “paga o sangue com o sangue,
mata, mas não corrige, vinga, mas não
melhora, e, usurpando a Deus as prer-
rogativas da vida e fechando a porta ao
arrependimento, apaga no coração do
condenado toda a esperança de redenção
e opõe à falibilidade da justiça humana
as trevas de uma punição irreparável”.
“A pena de morte, assassínio particular
respondido por um assassínio oficial”,
como dizia Aires de Gouveia, “é ilegíti-
ma, desnecessária, inútil e absurda. O
primeiro direito da sociedade é o da sua
conservação. A sociedade nunca carece
de assassinar para se manter segura”.
A pena de morte resistiu na lei para os
crimes militares, sendo enfraquecida
num movimento de opinião pública, com
petições e protestos, em 1874, em que o
Rei D. Luís recusou que fosse aplicada
a um militar que assassinara um oficial.
A abolição total deu-se em 1911, logo se
recuando para a restrição para o caso
de guerra com o estrangeiro, por causa
da 1ª Guerra Mundial em que, integra-
dos numa Divisão Inglesa, um ou dois
soldados portugueses foram sujeitos à
dizimação com que os generais britâni-
cos resolviam motins e revoltas1.
O facto é que a longa Ditadura posterior
nunca foi adepta da reintrodução, para
lá da esfera militar, tendo chegado a
haver debates na então Assembleia Na-
cional em que figuras gradas do regime
assumiam, e com vigor, a recusa da ideia
de voltar a ter a pena que alguns radi-
cais defendiam (por exemplo, em 1937
o debate fez-se por causa de atentados
contra Salazar que motivaram alguns
a defender que quem os fazia devia ser
executado). A guerra colonial não susci-
tou mudanças na política oficial e não há
notícia de execuções formais de milita-
res2.
E Portugal tem ainda um crédito histórico
nesta matéria: todos os países de língua
portuguesa já aboliram as execuções e
até em território chinês, o país em que
mais se executa, há uma parcela (Ma-
cau) em que deixámos a excepção.
1. A este propósito vejam-se as acções de acti-
vismo para o perdão de ingleses, australianos e
neozelandeses, mortos injustamente, que ainda
hoje correm na Internet (o termo de pesquisa pode
ser “shot at dawn”).
2. Naturalmente, se falarmos de execuções ex-
trajudiciais, não poderíamos dizer o mesmo visto
que, entre outros ressaltaria logo o caso de Hum-
berto Delgado, claramente sujeito a um acto desse
tipo.

SERÁ A PRISÃO PERPÉTUA
ALTERNATIVA?
O trabalho da Amnistia Internacional pelo
fim da pena de morte tem feito com que
a prisão perpétua não seja até hoje uma
alternativa posta de lado, desde que exis-
ta a possibilidade de revisão da pena,
não podendo esta forma de punição ser
automaticamente sinónimo de uma vida
inteira atrás das grades. Tal seria uma
violação grave ao Pacto Internacional
sobre os Direitos Civis e Políticos, que
no artigo 10.º indica: “o regime peni-
tenciário comportará tratamento dos
reclusos cujo fim essencial é a sua
emenda e a sua recuperação social”.
Se tal possibilidade não estiver prevista,
a prisão perpétua pode ser entendida
como uma forma de tratamento cruel,
desumano ou degradante, proibida pelas
normas internacionais de Direitos Huma-
nos. O português Nicolas Bento, que es-
teve condenado a prisão perpétua, pode
comprovar isso como ninguém: “todos
os dias via um homem enforcado”, diz.
Joaquín José Martinez, que esteve con-
denado à morte, acrescenta: “dar esta
punição a um jovem de 18 anos é toda
a sua vida. E isto pelo mesmo crime
cometido por outra pessoa que tem 50
ou 60 anos e que ficará uns 40 anos na
prisão. É injusto”.
NÃO ACONTECE SÓ AOS OUTROS
Joaquín José Martinez esteve em Portugal
no ano passado, a convite da secção por-
tuguesa da Amnistia Internacional, para
falar sobre esta violação grave ao Direito
à Vida, consagrado há 61 anos na Decla-
ração Universal dos Direitos Humanos.
Às centenas de pessoas que o quiseram
ouvir dizia que em Espanha [país de ori-
gem do seu pai e onde hoje vive] ninguém
falava de pena de morte até terem cinco
espanhóis condenados à pena capital
noutros países. E com isto alertava: pode
acontecer a qualquer um! Um aviso que
tinha, nesse mesmo ano, ficado cravado
na pele do português Nicolas Bento, que
só não esteve condenado à morte porque
foi julgado com a mais grave condena-
ção num país que não tem pena capital:
o Reino Unido, que colocou um inocente
em prisão perpétua (ver mais na caixa
“Será a prisão perpétua alternativa?”).
Para perceber tudo isto é preciso re-
Notícias • Amnistia Internacional 19
© Amnistia Internacional Portugal
Nicolas Bento chegou a Portugal no Verão passado, depois de viver um verdadeiro pesadelo.
montar ao ano de 2005. Nicolas Amilton por terra quando o juiz leu a condenação:
Bento fora sempre um rapaz aventureiro, prisão perpétua. Momentos dramáticos
viajando de país em país em busca da que Nicolas relata no livro que ajudou
felicidade. Encontrou-a em Bedford, a a jornalista Patrícia Lucas a escrever:
200 quilómetros de Londres, onde co- Innocente, Not Guilty, editado pela Ofi-
nheceu a polaca Kamilla Garsztka e en- cina do Livro.
controu um emprego bem remunerado
O que condenou o português Nicolas
numa farmacêutica. Um quadro que
Bento foi bem menos do que o que colo-
mudou radicalmente a 13 de Dezembro
cou Joaquín José Martinez no corredor da
de 2005, quando Nicolas tinha 26 anos.
morte: uma última imagem de Kamilla,
Num dia como tantos outros, voltou a
de má qualidade, captada pela câmara
casa depois do trabalho e a namorada,
de vigilância da ponte por cima do lago
que tinha passado lá a noite anterior,
de Bedford. Na imagem, garantiu Casey
deixara a sua mala branca com tudo lá
Caudle – um perito forense mandado vir
dentro. “Em Inglaterra andamos sem-
de Las Vegas, Estados Unidos da Améri-
pre com os documentos, porque é um
ca, pela polícia de Bedford –, Kamilla
país com muita imigração e a polí-
levava a mala branca que Nicolas en-
cia anda sempre em cima”, ressalva
tregara, preocupado, às autoridades. Os
Nicolas na conversa com o “Notícias da
advogados, oficiosos, disseram que nada
Amnistia Internacional Portugal” que
havia a fazer e os meios de comunicação
decorreu em Lisboa. Começou então uma
ingleses não hesitaram em publicitar “o
longa busca por Kamilla, sem grande
monstro português”. Foi um pesadelo
ajuda da polícia, que só termina a 24 de
que durou “dois anos, quatro meses, 25
Janeiro de 2006 quando o seu corpo apa-
dias e aproximadamente seis horas”,
rece a boiar no lago de Bedford.
diz Nicolas Bento sem sequer pestanejar.
Como acontece com qualquer morte Em Março de 2009 é colocado em prisão
ocorrida num país estrangeiro, seguiu- domiciliária e em Julho é libertado num
-se a pesarosa transladação do corpo segundo julgamento.
e a preparação do funeral, que ocorreu
Tal como aconteceu a Joaquín, no caso
na Polónia. Quando Nicolas regressa a
de Nicolas muitas coisas tinham ficado
Inglaterra espera-o o início de um verda-
por investigar. Foram “apenas” precisos
deiro pesadelo. Primeiro, horas seguidas
mais de 50 mil euros para os honorários
de interrogatório, onde “havia alturas
do prestigiado advogado britânico Peter
em que pedia a Deus: batam-me, que
Hughman, que pediu o que era básico: a
é melhor, porque os maus tratos psi-
reconstituição do crime. Foi preciso es-
cológicos magoam mais”, recorda.
perar por um dia semelhante de Dezem-
Depois, o julgamento, que começou em
bro, agora de 2008, para que uma mu-
Novembro de 2006 e terminou a 25 de
lher vestida com as roupas de Kamilla
Julho de 2007. Desse tempo, que nunca
fizesse o mesmo percurso, agora com a
vai esquecer, diz: “sempre pensei que
mala branca ao ombro. No vídeo, esta
era um mal entendido e que se ajudas-
reluz como um pirilampo. Antes mesmo
se tudo se resolvia. Afinal, Inglaterra é
da reconstituição ser feita, descobre-se
um país modelo”. Uma ilusão que caiu
que Casey Caudle não tinha sequer ter-
20 Notícias • Amnistia Internacional
minado os estudos forenses. O visado
suicidou-se pouco depois. Com a recons-
tituição como nova prova, o julgamento
de Nicolas é marcado para 14 de Julho de
2009 e dias depois o português aterra na
sua Pátria. Hoje garante: “no meu caso
não houve enganos, mas um trabalho
grande para que fosse condenado”.
Quer, por isso, pedir justiça ao Tribunal
Europeu dos Direitos Humanos. Para isso
precisa da sua assinatura. Visite http://
www.thepetitionsite.com/136/justice-
for-nico-bento.
CIDADES PORTUGUESAS UNIDAS
CONTRA A PENA DE MORTE
Todos os anos, a luta para acabar com a
pena de morte pretende chegar, literal-
mente, a todos os cantos do mundo, com
a iniciativa “Cidades para a Vida – Ci-
dades Contra a Pena de Morte”, que se
assinala a 30 de Novembro. Desde 2002
que a Coligação Mundial Contra a Pena
de Morte, da qual a Amnistia Internacio-
nal faz parte, promove esta iniciativa da
Comunidade de Sant’Egidio, que pre-
tende assim distinguir o dia da abolição
da pena de morte pelo primeiro Estado
europeu (existente na altura), o Grão-
Ducado da Toscana, em Itália, no ano de
1786. Neste dia, as autarquias de todo
o mundo iluminam um edifício público
ou um monumento histórico em sinal de
condenação pelo uso da pena capital.
Em 2009 foram 19 as cidades portugue-
sas que deram o exemplo: Benavente,
Castro Verde, Coruche, Évora, Figueira
da Foz, Guimarães, Lajes do Pico, Lou-
res, Matosinhos, Moita, Nelas, Odivelas,
Ovar, Paredes, Reguengos de Monsaraz,
Santarém, Setúbal, Tavira e Torres Ve-
dras. Juntaram-se assim a 1.164 outras
cidades de 81 países do mundo. A todas,
o nosso obrigado!
O QUE PODE FAZER
Para acabar com a pena de morte ainda
precisamos da sua ajuda! Venha fazer par-
te do Grupo da Pena de Morte da Amnistia
Internacional Portugal escrevendo para:
ai.contrapenademorte@gmail.com
ou ligando 213 861 652. Pode ainda visi-
tar o blogue http://contrapenademorte.
wordpress.com e participar nas petições
que lhe propomos.

Nesta edição do “Notícias da Amnistia Internacional Portugal” apresentamos a análise da situação
financeira da secção portuguesa da organização
Por Departamento de Angariação de Fundos e Financeiro
RECEITAS E DESPESAS 2009
Apresentamos os valores de receita e
despesa referentes ao ano de 2009.
Tal como se pode observar na tabela 1, a
Amnistia Internacional (AI) Portugal ob-
teve um saldo positivo em 2009, no valor
total de 89.128,25 euros. Tendo em conta
a situação financeira, a secção liquidou
a dívida congelada que mantinha ao
Secretariado Internacional (SI), sede da
PROJECTO FACE TO FACE
Após finalizado o quarto ano de realiza-
ção do projecto de rua “Face to Face”,
em 2009 inscreveram-se 2.884 novos
apoiantes e membros que contribuem
mensalmente com donativos para a AI.
Durante oito meses (duração anual do
EVOLUÇÃO DE MEMBROS E
APOIANTES
A Amnistia Internacional (AI) terminou
o ano de 2009 com 12.464 apoiantes e
membros activos, uma subida de 8,7%
relativamente ao ano anterior. Neste total
de apoiantes e membros, 10.365 pessoas
chegaram a nós através do Projecto “Face
to Face” (ver texto anterior), mantendo o
seu apoio e contributo regulares a esta
causa.
Para além deste método de angariação
de fundos, a AI desenvolveu diversas
acções em 2009, como formas de explorar
alternativas de crescimento financeiro.
Exemplo disso foram as campanhas
com a Payshop (serviço dos CTT), com os
Magnolia Cafés, com o Montepio (Cartão
“+ Vida”) e a campanha do IRS. A todos
os que apoiaram a AI, das mais diversas
formas, obrigado por participarem nes-
ta causa comum. Para além dos fundos
angariados, é para nós uma prioridade
manter activa a participação de todos,
AI em Londres, para além da já anunciada
amortização total do empréstimo con-
traído ao SI em 2006, no valor de 230.000
euros. Assim, este ano destacou-se por
uma importante consolidação financeira
da secção.
Em 2010 pretendemos manter estraté-
gias de fidelização, uma comunicação
interna eficaz, promover o activismo junto
dos nossos apoiantes e membros e desen-
projecto), as equipas de colaboradores
da Amnistia Internacional percorreram
mais de 10 cidades do país. Após a
pausa em Janeiro de 2010, regressámos
às ruas de Lisboa e Coimbra no dia 22
de Fevereiro. Pode vir colaborar connosco
15.000
11.250
7.500
4.101
3.750
1.777
0
Ano 2005 Ano 2006
GRÁFICO 1: Total de Membros e Apoiantes activos da AI Portugal entre 2005 e 2009.
através do envio de apelos urgentes e da
presença nas acções nacionais e locais.
Visite o site e participe: www.amnistia-
internacional.pt, como e quando quiser!
DÊ À AMNISTIA INTERNACIONAL
0,5% DO SEU IRS, A CUSTO
ZERO!
Anexo H * Campo 9 * 501 223 738
Lembramos que todos os contribuintes podem
consignar 0,5% do seu IRS (Lei n.º 16/2001, 22
de Junho) à Amnistia Internacional, sem que isso
Notícias • Amnistia Internacional 21
volver novos métodos de angariação de
fundos. Para além destas áreas, é nossa
prioridade manter uma gestão financeira
responsável e rigorosa.
RECEITA 730.131,57 €
DESPESA 641.003,32 €
SALDO 89.128,25 €
TABELA 1 - Receitas e Despesas - 2009
nas equipas do projecto: basta enviar o
seu Curriculum Vitae para d.jeronimo@
amnistia-internacional.pt.
12.464
11.378
8.132
Ano 2007 Ano 2008 Ano 2009
implique qualquer custo (pois refere-se à parte do
valor de imposto liquidado que paga ao Estado).
A maioria dos portugueses não tem conhecimento
que pode dar um destino precioso a parte do seu
imposto liquidado. Mas é muito simples: basta
colocar o NIF da Amnistia Internacional (501 223
738) no Campo 9, do Anexo H do seu impresso do
IRS e vai fazer a diferença, a custo zero!
Visite o vídeo/site da campanha: www.irs2009am-
nistia.com.
Em 2009, contámos com o seu apoio
na Defesa dos Direitos Humanos.
Obrigado!
22 Notícias • Amnistia Internacional
MORTALIDADE MATERNA - Morrer em Vão
A falha sistemática dos governos em considerar os direitos das mulheres e jovens com seriedade inibe
acções decisivas numa abordagem à mortalidade materna, que rouba uma nova vida a cada minuto que
passa
Por Sara Coutinho
© Anna Kari
Ramatoulaye, de 25 anos, deu à luz o seu quarto filho à beira do
rio, porque o barqueiro que a podia levar para a outra margem,
onde está o Centro Médico, não estava disponível.
A mortalidade materna é o terceiro pon-
to-chave da nova campanha da Amnis-
tia Internacional, “Exija Dignidade”, e o
último que faltava abordar no Notícias
da Amnistia Internacional Portugal. Foi
adoptado como tema prioritário por se
tratar de uma clara violação dos direitos
da mulher à vida e à saúde, que está di-
rectamente relacionada com o aumento
da pobreza.
De mais de meio milhão de mulheres que
morre todos os anos por complicações
relacionadas com a gravidez ou o parto,
95% são pobres e provêm de países sub-
-desenvolvidos. Esta é uma realidade que
não pode ser ignorada, principalmente
por se saber que as complicações que
podem surgir durante uma gravidez, ain-
da que imprevisíveis, são tratáveis, e as
suas consequências incapacitantes, pas-
síveis de serem prevenidas.
As principais causas da mortalidade
materna prendem-se com a dificuldade
de acesso a cuidados médicos adequa-
dos, quer por questões financeiras, por
má distribuição geográfica dos serviços,
por falta de instalações preparadas para
receber as mulheres e jovens, quer por
mera falta de informação.
No entanto, os problemas que estão na
origem do grave desrespeito pelo direito
das mulheres à vida são muito mais gene-
ralizados: discriminação institucional;
casamentos forçados ou precoces; obs-
táculos culturais, sociais ou económicos
no acesso à saúde; falta de acesso a in-
formação sobre planeamento familiar ou
métodos contraceptivos; ou a ausência
do simples e natural controlo da mulher
sobre o seu próprio corpo são factos que
contribuem para uma elevadíssima taxa
de mortalidade materna que, há mais de
duas décadas, não sofre reduções ex-
pressivas.
Esta preocupação da Amnistia Interna-
cional relativamente à saúde materna
é partilhada pelas Nações Unidas que
na sua Campanha do Milénio–Objectivo
2015, aponta como quinta meta, de oito,
a redução da taxa de mortalidade ma-
terna em 75% até ao ano de 2015.
Dois dos piores cenários mundiais na
questão da mortalidade materna são as
situações actualmente vividas na Nica-
rágua e na Serra Leoa.
NICARÁGUA E A PROBLEMÁTICA
DO ABORTO
A Nicarágua enfrenta vários desafios na
batalha contra a pobreza, malnutrição,
doença, desemprego e a necessidade
urgente de melhorar o acesso a serviços
básicos como os cuidados de saúde e a
educação. Muitos destes problemas de-
morarão décadas a ultrapassar. Em con-
trapartida, as preocupações de Direitos
Humanos associadas à recente decisão
de proibir totalmente a prática do aborto
poderiam, em larga escala, ser resolvi-
das de forma rápida e fácil.
Neste país, o aborto é crime em todas
as circunstâncias. O novo Código Penal
introduzido em 2008 possibilita longas
penas de prisão para mulheres e jovens
que procurem abortar e para profissio-
nais de saúde que providenciem serviços
de aborto e cuidados de conservação da
vida e da saúde das mães quando es-
tes ponham o feto em risco. A proibição
“As mãos dos médicos es-
tão atadas... Temos medo
mesmo quando estamos
simplesmente a tratar um
aborto espontâneo”
Médico nicaraguano, entrevistado pela
Amnistia Internacional em Outubro de
2008.
impõe-se mesmo em diagnósticos de
cancro, VIH/SIDA e malária. Antes des-
ta alteração à lei, o aborto terapêutico
constituía uma prática legal, legítima e
um procedimento médico necessário há
mais de 100 anos.
A proibição não prevê qualquer excepção.
Aplica-se mesmo em situações em que
a continuação da gravidez põe em risco
a vida ou saúde da mulher ou jovem e
quando a gravidez é resultado de uma
violação. A lei aplica-se inclusive a jo-
vens menores de 18 anos. Num país onde
50% das violações sexuais são perpetra-
das sobre jovens e um terço destas en-

gravida na sequência destes episódios, a
proibição total do aborto é, sem margem
para dúvida, um dos principais catalisa-
dores da taxa de mortalidade materna.
As mulheres e jovens da Nicarágua que
engravidem como resultado de uma
violação ou incesto não têm qualquer
opção a não ser levar a gravidez até ao
fim ou procurar abortos ilegais e inse-
guros. Para as mulheres ou jovens com
situações económicas estáveis, é viável
procurar outras soluções fora do país ou
mesmo dentro do país, com condições
não tão precárias como aquelas que es-
tão à disposição de quem vive em situa-
ção de pobreza. Para aquelas que vivem
abaixo do limiar da pobreza, esta não é
uma possibilidade sequer.
87% das jovens que engra-
vidam como resultado de
violação ou incesto têm en-
tre 10 e 14 anos de idade
A Amnistia Internacional reconhece a
importância do anúncio feito pelo go-
verno da Nicarágua de que iria aliviar a
pobreza e reduzir a mortalidade materna.
É precisamente neste contexto que nos
concentramos sobre a questão da proi-
bição total do aborto neste país, conside-
rando que esta marca um grande desvio
face aos compromissos do governo para
com o melhoramento da igualdade so-
cial e dado que tem consequências tão
graves para a protecção dos Direitos Hu-
manos das mulheres e jovens.
SERRA LEOA – A MAIS ALTA TAXA
DE MORTALIDADE MATERNA
Na Serra Leoa morrem milhares de mu-
lheres e jovens todos os dias como resul-
tado de complicações na gravidez e no
parto possíveis de tratar. A maioria morre
nas suas casas. Algumas não sobre-
vivem à viagem até ao hospital, perecen-
do em táxis, motas ou a pé. Mesmo que
consigam chegar aos cuidados médicos,
muitas não recebem o tratamento ne-
cessário para salvar a sua vida. Neste
país, uma em cada oito mulheres morre
como resultado de complicações durante
a gravidez ou parto.
As principais causas directas da morta-
lidade materna na Serra Leoa são, na sua
esmagadora maioria, tratáveis, signifi-
Uma maternidade na Serra Leoa, à qual nem todas as mulheres conseguem chegar a tempo de se salvarem.
cando que as milhares de mortes que se
registam todos os anos são evitáveis. No
entanto, menos de 42% dos partos são
assistidos por profissionais preparados e
menos de um em cada cinco partos são
realizados em instalações médicas. Em
pelo menos seis dos 13 distritos do país
não existem quaisquer cuidados obsté-
tricos de emergência.
Os cuidados médicos são inacessíveis
para a maioria da população também
pelos custos que acarretam. Uma vez
que as taxas de utilização são cobra-
das de forma arbitrária e imprevisível,
o medo de poder ter que assumir custos
insuportáveis inibe muitas mulheres de
procurarem os serviços médicos. Como
resultado, o número relativamente àque-
las que, efectivamente, recorrem a estes
serviços é extremamente baixo.
Além dos custos acrescidos, das própri-
as incapacidades e condições precárias
dos serviços de saúde, estes estão mal
distribuídos geograficamente, sendo a
distância média entre as populações e
as instalações médicas de 18 quilóme-
tros. Facto que, aliado a terrenos muito
acidentados e à ausência de uma rede
de estradas, fazem da necessidade de
chegar a um hospital um autêntico per-
curso de obstáculos.
O acesso a cuidados médicos adequados
“Ainda estou com dificul-
dades para pagar a dívi-
da que contraí por levar
Adama ao hospital e por
pagar medicamentos”
Marido de Adama Kamara, mãe de três
crianças, que acabou por falecer em
casa por não dispor de meios para per-
manecer no hospital.
Notícias • Amnistia Internacional 23
© Amnistia Internacional
é crucial no esforço de reduzir as taxas
de mortalidade materna e é um direito
humano. As evidências comprovam que
as intervenções que contribuem mais
para a redução da taxa de mortalidade
materna são: a prestação de cuidados
adequados no parto, cuidados obstétri-
cos de emergência e uma interligação
eficaz destes cuidados com o planea-
mento familiar.
As mulheres têm direito a cuidados
médicos que podem salvar as suas vidas
ou prevenir consequências graves e os
governos são os principais responsáveis
pela prestação destes serviços, pelo que
deveriam ser responsabilizados sempre
que não cumprirem com as suas obriga-
ções. E, enquanto cidadãos, é também
uma responsabilidade nossa garantir
que isso acontece.
SAIBA MAIS
A Amnistia Internacional realizou dois
relatórios, um sobre a situação na Nica-
rágua, outro sobre a Serra Leoa. “Nicara-
gua: The total abortion ban in Nicaragua:
Women’s lives and health endangered,
medical professionals criminalized” e
“Sierra Leone: Out of Reach: The cost of
maternal health in Sierra Leone” estão
disponíveis em www.amnistia-interna-
cional.pt (Aprender / Revista da Amnis-
tia Internacional)
O QUE PODE FAZER
A Amnistia Internacional vai apelar às
autoridades da Nicarágua para que
revoguem, de imediato, a lei que crimi-
naliza o aborto em qualquer situação.
Participe enviando o postal que encontra
na parte central desta revista.
24 Notícias • Amnistia Internacional
GRUPO LOCAL 34/MATOSINHOS - A ultrapassar obstáculos pelos Direitos Humanos
Nesta edição do “Notícias da Amnistia Internacional Portugal” viajamos até à cidade de Matosinhos para
conhecer o Grupo Local 34
Por Diana da Silva Antão
O grupo durante a montagem de uma exposição sobre a Amnistia Internacional.
De um grupo de amigos preocupados
com os Direitos Humanos, nasceu o Nú-
cleo de Matosinhos da Amnistia Interna-
cional. Com o objectivo de sensibilizar
a população da cidade para este tema,
mas ciente das dificuldades que enfren-
taria, o Núcleo fundado em 2007 cres-
ceu e lutou para divulgar as causas da
Amnistia. Após dois anos de trabalho e
dedicação aos Direitos Humanos, passou
recentemente a Grupo Local 34/Matosi-
nhos. Conferências, debates e tertúlias
sobre temas tão variados como o Tráfico
de Seres Humanos, a Discriminação ou a
violação aos Direitos Humanos na China,
são apenas alguns exemplos das inicia-
tivas promovidas.
O Grupo aposta na comunicação social
para divulgar as suas acções e conta
com a receptividade da imprensa local,
de alguns jornais nacionais e do Porto
Canal. O blogue do Grupo, que pode
visitar em http://nucleodematosinhos.
blogspot.com/, é também um meio de
divulgação. “Tentamos que o nosso
trabalho seja virado para o exterior e
que chegue a públicos variados”, ex-
plica Otília Reisinho, que coordenou o
Grupo Local 34 até ao início deste ano.
Acrescenta ainda que a população adere
às iniciativas promovidas na cidade: “o
© Grupo Local 34/Matosinhos
feedback é sempre positivo e é através
dele que sabemos que chegamos às
pessoas”.
Além das actividades dirigidas a uma
audiência abrangente, o Grupo também
promove acções em escolas. No entanto,
nem sempre foi fácil chegar aos mais
jovens, conta Otília Reisinho. “Tivemos
dificuldade em entrar nos estabeleci-
mentos de ensino de Matosinhos e
trazer esse público até nós. Começá-
mos a fazer acções dentro dos au-
ditórios e inicialmente não obtivemos
resultados, no entanto, agora são as
escolas que nos ligam a pedir colabo-
ração. Essa barreira foi ultrapassada”.
As acções de rua também se revelaram
até hoje compensadoras, tendo sido re-
colhidas, em média, 200 assinaturas em
cada petição realizada, um número com
impacto tendo em conta a realidade por-
tuguesa.
Contudo, o trabalho deste Grupo não fica
por aqui. Na sua comunidade promove a
criação de outras associações envolvidas
na defesa dos Direitos Humanos, ajudan-
do assim a suprimir importantes lacunas
locais. Por último, não podemos esquecer
o principal objectivo da Amnistia Inter-
nacional e deste Grupo: lutar contra os
abusos aos Direitos Humanos e trazer
justiça às vítimas dessas violações.
Neste sentido, o Grupo Local 34 recebe
na sua sede pessoas que se encontrem
nesta situação. “A sede não está sem-
pre aberta, no entanto, temos sistema
de marcação para quem necessita de
ajuda”, informa Otília Reizinho.
Apesar de todo o empenho do Grupo, a
antiga Coordenadora confessa que “por
vezes é difícil sensibilizar para os Di-
reitos Humanos em meios pequenos”.
No entanto, a “possibilidade de agir e
intervir na defesa dos Direitos Huma-
nos” é compensadora, diz Américo Frei-
tas, Secretário do Grupo. Já o Assessor
para a Comunicação Social, Eduardo
Coelho, acrescenta que participar numa
estrutura da Amnistia Internacional é
“termos a possibilidade de contactar
com pessoas e podermos partilhar um
interesse que nos é comum: a Defesa
dos Direitos do Homem”. Por tudo isto,
a agora Vice-Coordenadora do Grupo,
Otília Reisinho, deixa o convite: “Se quer
dedicar parte do seu tempo aos Di-
reitos Humanos, o ideal é vir trabalhar
com o Grupo de Matosinhos”. Junte-se
ao Grupo Local 34. Ajude-nos a lutar pe-
los Direitos Humanos!
FICHA TÉCNICA
Grupo Local 34/ Matosinhos
Coordenadora: Teresa Calisto
Local de encontro: Sede em Leça da
Palmeira
Periodicidade das Reuniões: Quinzenal,
às quartas-feiras com início às 22h
Contacto: amnistia.matosinhos@gmail.
com ou 935 180 218
 Notícias • Amnistia Internacional 25

AMNISTIA INTERNACIONAL PORTUGAL REAVALIADA GRUPOS E NÚCLEOS DA AMNISTIA INTERNACIONAL

(grupo, localidade, coordenador, email, blogue)
Nos últimos anos, a secção portuguesa da Amnistia Internacional
tem feito questão de realizar um exercício de avaliação de desem- GRUPO LOCAL 01 (Lisboa)
Coordenador a designar: grupo1.aiportugal@gmail.
penho. Foi o que aconteceu neste início de 2010 com; http://grupo1aiportugal.blogspot.com/
GRUPO LOCAL 03 (Oeiras)
Lucília José Justino: zjustino@gmail.com
A 30 de Janeiro a sede da Amnistia Internacional Portugal reuniu elementos da Assem- GRUPO LOCAL 06 (Porto)
bleia Geral, da Direcção, funcionários, estagiários, voluntários e membros para mais Virgínia Silva: aiporto6@gmail.com; http://aiporto.
um exercício de Auto-Avaliação de Desenvolvimento Organizacional, conhecido pela si- blogspot.com
GRUPO LOCAL 14 (Lourosa)
gla inglesa OSSA. Valdemar Mota: aigrupo14@gmail.com
O convite à participação tinha sido enviado a todos que estão de alguma forma ligados GRUPO LOCAL 16 (Ribatejo Norte)
ao movimento, para que as opiniões fossem variadas. Compareceram 16 pessoas, que Yvonne Wolf: yvonne_wolff@adsl.xl.pt
guiadas por uma facilitadora apontaram os pontos fortes e fracos de várias áreas da GRUPO LOCAL 18 (Braga)
José Luís Gomes: ai18portugal@hotmail.com
Amnistia Internacional: o Programa e a sua implementação, a Organização Interna e as GRUPO LOCAL 19 (Sintra)
Relações Externas. Fernando Sousa: ai.grupo19@gmail.com; http://blog-
Mais do que ser o Notícias da Amnistia Internacional Portugal a relatar o aconteci- 19.blogspot.com ; http://grupo19aisp.no.sapo.pt
GRUPO LOCAL 24 (Viana do Castelo)
mento, fomos tentar perceber o que este representou para os participantes, que, em- Luís Braga: luismbraga@sapo.pt
bora poucos, deram contributos muito importantes para que a Amnistia Internacional GRUPO LOCAL 32 (Leiria)
Portugal continue a crescer e se torne cada vez mais forte na luta pelos Direitos que são Maria Fernanda Ruivo: fernanda.ruivo@sapo.pt
GRUPO LOCAL 33 (Aveiro)
de todos nós, Seres Humanos! Alexandra Monteiro: amnistiaveiro@gmail.com;
http://amnistiaveiro.blogspot.com/
GRUPO LOCAL 34 (Matosinhos)
“Esta foi uma rara oportunidade de, em programáticas, nomeadamente quando Teresa Calisto: amnistia.matosinhos@gmail.com;
simultâneo: exercer um direito de cidada- as apresentam à Assembleia Geral. Este http://nucleodematosinhos.blogspot.com/
nia, consagrado na Constituição; contribuir OSSA foi muito focalizado no trabalho do
para a vida activa e a transparência das staff. Foi, por isso, mais exaustivo quanto NÚCLEO DE ALMADA
organizações da sociedade civil; partici- às tarefas que cabem aos colaboradores Marlene Oliveira da Conceição: ai.nucleoalmada@
gmail.com; http://ai-nucleoalmada.blogspot.com/
par num dos mais importantes movimentos contratados, que passaram, também, a de- NÚCLEO DE ARCOS DE VALDEVEZ
globais de cidadania, a Amnistia Interna- sempenhar um papel muito relevante nas Rui Mendes: rbritomendes@gmail.com
cional. Contudo, o que mais me sensibi- estruturas de um movimento de Direitos NÚCLEO DE CASTELO BRANCO
lizou foi este “exercício” de participação, Humanos, mais alargado nos seus objecti- (a designar): ai_nucleo_castelobranco@yahoo.com;
aliás, ainda invulgar no nosso país, onde a vos e, necessariamente, mais actualizado, http://amnistiacastelobranco.blogspot.com/
NÚCLEO DE CRIANÇAS (Vila Nova de Famalicão)
autocrítica colectiva tem como objectivo exigente e menos amador nos meios e Vitória Triães: aip.ibeji@gmail.com
ajudar-nos a crescer, como: indivíduos, or- eficácia da sua acção no mundo e em cada NÚCLEO DE ESTREMOZ
ganizações e sociedade”. país”. Maria Céu Pires: amnistiaetz@gmail.com
NÚCLEO DE GUIMARÃES
Álvaro Fernandes, apoiante e voluntário da Amnis- Maria Ângela Pires, Presidente da Mesa da As-
Cristina Lima: amnistia.guimaraes@gmail.com
tia Internacional Portugal sembleia Geral da Amnistia Internacional
NÚCLEO DO OESTE / CALDAS DA RAINHA
Teresa Mendes: ai.nucleooeste@gmail.com; http://
aioeste.blogspot.com
“É um excelente exercício de auto-ava- “O OSSA foi, inquestionavelmente, dos exer- NÚCLEO DO PORTO
liação que permite a participação de um cícios de auto-avaliação mais positivos e André Rubim Rangel: nucleo.ai.porto@gmail.com
construtivos em que participei pois é uma NÚCLEO DE TORRES VEDRAS
leque amplo de pessoas - órgãos sociais, Ana Lopes: aitorresvedras@gmail.com; htp://blog.
funcionários, voluntários, estruturas e experiência que traz grande aprendizagem, comunidades.net/aitorresvedras
membros. Todos colocados em pé de igual- desmistifica ideias pré-concebidas, forta- GRUPO SECTORIAL EDUCAÇÃO PARA OS DIREITOS
dade contribuindo com a sua opinião e lece laços, promove a autocrítica e a críti- HUMANOS
percepção para que se alcance um retrato ca construtiva. Um impulso à evolução! A Fernanda Sousa: mfpsousa@gmail.com
sua importância e utilidade decorre funda- CO-GRUPO DA CHINA
real do estado da secção em todas as suas Maria Teresa Nogueira: nogueiramariateresa@gmail.
áreas de actuação”. mentalmente da heterogeneidade do grupo com
de participantes, cujas percepções, mui- CO-GRUPO DA PENA DE MORTE
Irene Rodrigues, Funcionária da Amnistia Interna-
cional Portugal
tas vezes divergentes, mas nem por isso Coordenador a designar: ai.contrapenademorte@
menos enriquecedoras, contribuem para gmail.com
a tomada de consciência, para a reflexão GRUPO DE JURISTAS
Sónia Pires: sonia.c.pires@gmail.com
“Foi com imenso interesse que estive pre- e para a optimização do desempenho da NÚCLEO LGBT
sente. Convém perceber que se tratou de Secção permitindo, assim, concretizar de Manuel Magalhães: lgbt.amnistia@gmail.com
uma auto-avaliação, o que torna bastante forma mais eficiente, e intensa, os objec-
relativa a leitura dos resultados, que têm tivos da sua missão: a defesa e promoção
dos Direitos Humanos. Só por isto…valeu Se ainda não existe um grupo da Amnistia Interna-
- e não por acaso - a forma de “reco- cional Portugal perto de sua casa, pode sempre ser
mendações”. Mas não deixa de ser um ins- a pena!” pioneiro e começar o activismo na sua localidade.
trumento de indicação para os dirigentes, Joana Froes, Direcção da Amnistia Internacional Fale connosco pelo boletim@amnistia-internacio-
que deverão incluí-lo nas suas abordagens Portugal nal.pt ou ligando 213 861 652.
26 Notícias • Amnistia Internacional
Junta-te à ReAJ, vem fazer mais pelos Direitos Humanos!
Há um ano a Amnistia Internacional Portugal ganhou mais energia com o renascimento da Rede de Acção
Jovem. Se tens até 30 anos, vem fazer parte desta equipa
Por Ana Monteiro, vice-coordenadora da ReAJ e membro da Direcção da Amnistia Internacional Portugal
Alguns elementos da ReAJ numa acção no Chiado a propósito do Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, que se assinala a 17 de Outubro.
A Rede de Acção Jovem da Amnistia In-
ternacional (ReAJ) teve o seu renasci-
mento no dia 18 de Maio de 2009, no 28º
aniversário da Amnistia Internacional
(AI) Portugal.
Desde então ajudámos em campanhas
da AI Portugal, tais como “Acabar com
a Violência sobre as Mulheres” e “Exija
Dignidade”. Usámos máscaras brancas
e vestimo-nos de preto para mostrarmos
que a pobreza por vezes é anónima mas
está presente em todos os segmentos
da sociedade. No ciclo de conferências
de três dias para celebrar o dia em que
se assinou a Declaração Universal dos
Direitos Humanos, conseguimos 405 as-
sinaturas para os casos da Maratona de
Cartas.
Voluntariámo-nos para ajudar na ins-
talação de moda que decorreu a 25 de
Novembro e ilustrava várias situações de
violência contra a mulher e, vários meses
antes, distribuímos flyers e autocolantes
de modo a alertar as pessoas para este
tema.
No Dia Internacional em Memória das
Vítimas do Holocausto, a 27 de Janeiro,
organizámos uma tertúlia sobre propa-
ganda nazi no Liceu Camões, para falar-
mos com outros jovens sobre os perigos
da propaganda aliada à tirania e ao ódio.
Lembrámo-nos de como era importante
não esquecer, mas de como era também
essencial recordar sem ódio.
Este é apenas o início, temos planeadas
muitas mais acções e gostaríamos que
te juntasses a nós na defesa dos Direitos
Humanos.
As nossas próximas acções incluem uma
tertúlia no dia em que se comemoram 16
anos do genocídio ruandês (7 de Abril),
uma festa no dia em que a ReAJ come-
mora um ano (18 de Maio) e presença
nos festivais de Verão.
Fazemos questão de colaborar com esco-
las e universidades onde estudam mem-
bros da ReAJ e, de futuro, pretendemos
colaborar com grupos locais e núcleos
da AI Portugal. Iremos propor a alunos
de uma dessas escolas que façam tra-
balhos de arte relacionados com o tema
da mutilação genital feminina, que serão
depois expostos no site da AI e apresen-
tados durante o debate sobre este tema.
Vamos receber formação do Grupo de
Estudantes da Faculdade de Direito da
Universidade de Lisboa no Dia Interna-
cional de Apoio às Vítimas da Tortura, a
JOVEM
© Pedro Sequeira
26 de Junho, e no dia 17 de Julho iremos
organizar em conjunto uma tertúlia so-
bre justiça transicional.
Temos reservadas mais actividades e
acções que são surpresa. Se quiseres
descobrir mais, junta-te a nós ou fica
atento aos nossos convites.
Peter Benenson, o fundador da Amnistia
Internacional, disse: “Todos aqueles
que hoje ainda sentem um sentimento
de impotência podem fazer algo: po-
dem apoiar a Amnistia Internacional.
Podem ajudá-la a impor-se em nome
da justiça e da liberdade”.
Sabes que as injustiças acontecem a
toda a hora, são raros os minutos em
que ninguém no mundo experiencia
uma violação de Direitos Humanos, são
ainda poucas as pessoas que as ten-
tam defender. Ao ajudar-nos a sermos
mais, estarás a ajudar mais pessoas no
mundo, evitando que sejam vítimas de
violações de direitos humanos. A tua voz
e acção são essenciais, junta-te a nós!
Contacta-nos para redejovem.amnis-
tia@gmail.com

II ENCONTRO INTER
E MULTICULTURAL
ALBUFEIRA APOSTA NA EDUCAÇÃO
PARA A DIFERENÇA
© Amnistia Internacional Portugal
Entre os dias 19 e 22 de Abril, a cidade
de Albufeira, no Algarve, vai desafiar os
mais novos a perceberem as diferenças e
as semelhanças entre as várias culturas.
Naquela que é a segunda edição do En-
contro Inter e Multicultural, a Câmara
Municipal de Albufeira juntou-se à Am-
nistia Internacional para, em parceria,
fazer os alunos das escolas da cidade –
do 1.º, 2.º e 3.º Ciclos do Ensino Básico
e do Secundário – sentirem e pensarem
sobre a diferença, tentando levá-los a
agirem para acabar com a intolerância.
“O programa foi construído com base
num conceito crescente de aprendiza-
gem: sentir, pensar e agir, levando os
participantes à mobilização efectiva”,
explica Luísa Marques, Directora de Cam-
panhas da Amnistia Internacional, que
ressalva que o programa foi elaborado
com o apoio da associação PAR-Respos-
tas Sociais e contará com a participação
do ACIDI-Alto Comissariado para a Imi-
gração e Diálogo Intercultural. Fernando
André, Sociólogo da Câmara Municipal
de Albufeira, explica a necessidade do
Encontro: “no I Encontro tentámos afe-
rir de que forma as pessoas estavam
sensibilizadas para o multiculturalismo
e quais as dinâmicas que existiam [em
Albufeira neste sentido]. Percebemos
que os nossos alunos não estão sensi-
bilizados para o activismo, porque não
experienciam, por norma, esse tipo de
actividades”, diz. Uma realidade que a
autarquia espera agora mudar com este
II Encontro. As inscrições estão abertas
e a participação é gratuita. Se és estu-
dante em Albufeira procura informação
na tua escola!
VEM FAZER PARTE DA
CIMEIRA DO MILÉNIO!
CUMPRE O TEU PAPEL!
Em Setembro do ano 2000 as Nações Uni-
das deram um passo muito importante
para erradicar do mundo os piores males
com a organização da Cimeira do Milénio,
na qual participaram 189 líderes mundi-
ais e de onde resultou a Declaração do
Milénio que contém os 8 Objectivos de
Desenvolvimento do Milénio (ODM). O
prazo para serem cumpridos termina em
2015, mas de cinco em cinco anos os Es-
tados avaliam a evolução da situação. É
o que vai acontecer em Setembro deste
ano, em mais uma Cimeira onde só os
Chefes de Estado e de Governo têm as-
sento. Organizações não governamentais
e associações, que conhecem de perto a
realidade, não terão voz.
A Amnistia Internacional, a Associação
das Nações Unidas de Portugal, a Agên-
cia ODM e a Objectivo 2015-Campanha
do Milénio das Nações Unidas vão tentar
alterar esta realidade com a promoção
da Cimeira (Ideal) dos ODM, só para es-
tudantes universitários, que terá lugar
nos dias 27, 28 e 29 de Abril em Lisboa,
Coimbra e Porto, respectivamente. Ago-
ra, precisamos de ti! Tudo o que tens de
fazer é juntar um grupo de 5 ou 10 amigos
e inscreveres-te. Durante a manhã cada
grupo representa um Chefe de Estado ou
de Governo e avalia o que o seu país tem
feito e à tarde os estudantes assumem
o papel da sociedade civil e apontam
os problemas e/ou virtudes de cada Es-
tado. O objectivo é que desta Cimeira
Ideal saia um conjunto de recomenda-
ções dos estudantes do ensino superior
que será entregue ao Estado português
para ser levado à verdadeira Cimeira do
Milénio que acontece em Setembro deste
ano. Não podemos esperar que os Esta-
dos resolvam sozinhos os problemas do
mundo! Vem cumprir o teu papel e fazer
deste um mundo melhor! Informações e
inscrições para aiportugal@amnistia-
internacional.pt
Notícias • Amnistia Internacional 27
GRUPOS DE ESTUDANTES DA
AMNISTIA INTERNACIONAL
PORTUGAL
(Coordenadores e emails/blogues)
• GE DO COLÉGIO DE SÃO MIGUEL
(Fátima)
Sónia Oliveira: ai_csm@live.com.pt; aia-
teondepodemoschegar.blogspot.com
• GE DO COLÉGIO DIOCESANO DE NOSSA
SENHORA DA APRESENTAÇÃO (Calvão)
Jorge Carvalhais: amnistia@colegiocal-
vao.org
• GE DA ESCOLA SECUNDÁRIA DE
ALBUFEIRA
Rosaria Rego: grupoestudantes_esa_
amnistiainternacional@hotmail.com;
grupodaesaai.blogspot.com
• GE DA ESCOLA SECUNDÁRIA ANTERO
DE QUENTAL (S.Miguel, Açores)
Fernanda Vicente: fpacvicente@sapo.pt
• GE DA ESCOLA SECUNDÁRIA DE
ERMESINDE
Maria Arminda Sousa: ai-ese@sapo.pt;
www.ai-ese.pt.vu
• GE DA ESCOLA SECUNDÁRIA DE
FERNÃO MENDES PINTO (Almada)
Marta Reis: amnistia.internacional@
esfmp.pt
• GE DA ESCOLA SECUNDÁRIA FILIPA DE
VILHENA (Porto)
Carla Ferreira: carlafariaferreira@
hotmail.com
• GE DA ESCOLA SECUNDÁRIA MARIA
LAMAS (Torres Novas)
Teresa Gomes: teresinha_mfrg@hotmail.
com
• GE DA ESCOLA SECUNDÁRIA SANTA
MARIA MAIOR (Viana do Castelo)
Cristina Soares: crisoaresd@hotmail.
com; amnistisiados.blogspot.com
• GE DA FACULDADE DE DIREITO DE
LISBOA
Júlia Maurício: nucleoai.fdul@gmail.com
• GE DO ISCTE
Ana Monteiro: amnistiaiscte@yahoo.com
• ReAJ-REDE DE ACÇÃO JOVEM
Gonçalo Marcelo: redejovem.amnistia@
gmail.com; www.reajportugal.blogspot.
com
Se ainda não existe um Grupo da Am-
nistia Internacional na tua escola ou
universidade, podes ser tu a criá-lo. Nós
dizemos como... Escreve-nos para bole-
tim@amnistia-internacional.pt ou tele-
fona para o 213 861 652.
28 Notícias • Amnistia Internacional
BOAS NOTÍCIAS
Nos últimos meses chegaram-nos novidades que nos dão motivos para sorrir. Igor e Jestina comprovam
que vale a pena continuar a lutar!
UCRÂNIA
IGOR PODIA TER SIDO EXECUTADO
© Privado
Igor Koktysh, hoje com 30 anos, é um ac-
tivista que ousou, no único país europeu
que mantém a pena de morte como for-
ma de punição, a Bielorrússia, pertencer
à oposição política. Por isso, acredita a
Amnistia Internacional, foi preso em Ja-
neiro de 2001 e acusado de “homicídio
premeditado e agravado” do parente de
um amigo, punível com pena capital.
Apesar da tortura e maus tratos de que
foi alvo, nunca confessou o assassinato.
ZIMBABUÉ
DEFENSORA DOS DIREITOS HUMANOS
EM LIBERDADE
© Amnistia Internacional
Em 2002 foi absolvido pelo Supremo Tri-
bunal ao conseguir provar que estava
noutra cidade no momento do crime.
A libertação ocorreu em 2002 e Igor mu-
dou-se de forma definitiva para a vizinha
Ucrânia, onde conheceu Irina, actual
mulher (na imagem). Levou uma vida
normal até ao dia 25 de Junho de 2007,
quando foi preso pelas autoridades ucra-
nianas no seguimento de um pedido de
extradição vindo da Bielorrússia, que
reabriu a acusação arquivada em 2002.
Perante a possibilidade de ser extradita-
do, Igor Koktysh apresentou queixa ao
Tribunal Europeu dos Direitos Humanos
e a Amnistia Internacional e os seus ac-
tivistas começaram a enviar apelos em
seu nome.
Mais de dois anos passados desde a de-
tenção, a 10 de Dezembro de 2009 o Tri-
bunal Europeu deu razão a Igor, alegando
que não havia justificação legal para a
prisão do activista. Ordenou ainda que
A zimbabuana Jestina Mukoko, que dirige
a organização não governamental Pro-
jecto Paz do Zimbabué (que monitoriza
abusos aos Direitos Humanos em todo
o país), foi, a 3 de Dezembro de 2008,
raptada de sua casa e ilegalmente feita
prisioneira. Depois de vários dias em re-
gime de incomunicabilidade, e após ter
sido torturada, foi acusada de recrutar
pessoas para participarem em campos
de treino para milícias no país vizinho,
o Botswana. Situação similar viveram,
na mesma altura, dezenas de outros ac-
tivistas zimbabuanos. Depois de quase
um ano de prisão, Jestina apresentou re-
curso ao Supremo Tribunal do país, que a
29 de Setembro do ano passado ordenou
que todas as acusações que pendiam so-
bre a activista fossem retiradas.
A Amnistia Internacional tinha pedido a
todos os membros e apoiantes que in-
tercedessem pela defensora dos Direitos
fosse de imediato libertado, como pedia
a Amnistia Internacional, e que não po-
dia ser extraditado para a Bielorrússia,
onde correria risco de tortura e de outros
maus tratos, podendo mesmo ser con-
denado à morte. No seguimento de tudo
isto, a 2 de Fevereiro a Ucrânia libertou
Igor Koktysh.
Já em liberdade, o prisioneiro de cons-
ciência pediu à Amnistia Internacional
que enviasse um agradecimento especial
a todos os activistas que intercederam
em seu nome. No seu site oficial disse
ainda: “por favor aceitem as minhas
mais sinceras palavras de gratidão
pelo vosso apoio nesta luta por justiça.
Espero que a nossa vitória fortaleça a
esperança dos que estão à beira do de-
sespero e inspire confiança no coração
dos que continuam a lutar”.
Humanos. Em seu nome, o investigador
da Amnistia Internacional para o país
fez chegar a seguinte mensagem: “Cada
vez que encontro Jestina diz-me para
enviar a todos os membros da Amnis-
tia o seu apreço. (...) Os nossos pos-
tais, cartas, telefonemas e, por vezes,
somente votos de boa sorte deram-lhe
força para continuar a lutar por um dia
melhor”.
No passado dia 10 de Março chegou-nos
mais uma boa notícia: Jestina foi uma
das mulheres activistas escolhida pela
Secretária de Estado norte-americana
Hillary Clinton para receber o Prémio
Mulheres de Coragem, que pretende,
como o nome indica, homenagear mu-
lheres que em todo o mundo lutam pela
justiça social, pela equidade e pelos Di-
reitos Humanos.
 Notícias • Amnistia Internacional 29

APELOS MUNDIAIS
“Quando organizações como a Amnistia Internacional pedem uma assinatura, assinem.
Porque estão a fazer a diferença. Quando estava no corredor da morte na Florida iam
chegando faxes, emails, postais... Eles não liam tudo, mas viam que chegavam 10.000,
20.000 e acreditem que faz a diferença...
Acham que não serve para nada? Quando o meu pai falava com as secretárias do Go-
vernador da Florida na altura, elas diziam «quem é este espanholito que faz com que
tenhamos a caixa de email e o fax bloqueados e que todas as semanas faz chegarem
centenas de assinaturas. Como podem estar todos tão interessados nele». Acreditem,
as assinaturas são fundamentais”.
Foram estas as palavras proferidas pelo espanhol Joaquín José Martinez, um inocente que esteve três anos no corredor da morte na
Florida, Estados Unidos da América. Foram ditas perante dezenas de estudantes, numa conferência que decorreu em Coimbra em
Outubro de 2009.

NAS PRÓXIMAS PÁGINAS APRESENTAMOS-LHE MAIS QUATRO PESSOAS QUE AINDA PRECISAM DA SUA
AJUDA. CONHEÇA OS CASOS E PARTICIPE!
A SI CUSTA MUITO POUCO E PARA TODOS ELES PODE SIGNIFICAR O FIM DE UMA INJUSTIÇA!
30 Notícias • Amnistia Internacional

CUBA
Activista dos Direitos Humanos condenado a 20 anos de prisão

Léster González Pentón, um defensor dos direitos humanos e membro de um sindicato,

foi uma das 75 pessoas detidas em Março de 2003, durante a repressão aos dissiden-
tes do regime cubano.
Casado e pai de uma filha, Léster Pentón, de 33 anos, tem um papel activo no Movi-
mento para os Direitos Humanos Razão, Verdade e Liberdade e é representante da
Confederação Democrática dos Trabalhadores de Cuba, ambas organizações ilegais,
uma vez que todas as associações civis, profissionais e de Direitos Humanos que não
forem controladas pelo Governo de Cuba, não têm autorização para operar.
Desde 2001 que este defensor dos Direitos Humanos enfrentava intimidação por parte
da polícia. Nesse mesmo ano as autoridades ameaçaram deter Léster se não estivesse
a exercer uma profissão, muito embora tenha sido despedido pelo seu envolvimento no
© Privado sindicato. Em Agosto de 2002, agentes de segurança impediram-no de sair de casa e
de participar em iniciativas organizadas por dissidentes.
A detenção em 2003 e a condenação a 20 anos de prisão, decretada a 7 de Abril do mesmo ano, foram politicamente motivadas. As
acusações de que foi alvo estão ligadas ao exercício pacífico do seu direito à liberdade de expressão e de associação. Está a cumprir
pena, no norte de Cuba, por “actos contra a independência ou integridade territorial do Estado”, uma vez que forneceu a estações de
rádio em Miami, nos Estados Unidos da América, “informações erradas” sobre a situação dos Direitos Humanos em Cuba.
Ajude-nos a libertar este prisioneiro de consciência. Ajude-nos a combater as violações aos Direitos Humanos neste país das Caraí-
bas. Participe! Contamos consigo!

(Postal-apelo em anexo no interior desta revista. Tudo o que tem de fazer é assinar, colocar a cidade e o país de onde envia o apelo e
a data. Depois basta enviar por correio.)

CHINA
Realizador de documentário sobre o Tibete detido

O tibetano Dhondup Wangchen, de 35 anos, foi detido em Março de 2008 após realizar
o filme Leaving Fear Behind, no qual mais de 100 tibetanos partilham as suas opiniões
sobre o Dalai Lama, os Jogos Olímpicos de Pequim e as políticas do Governo Chinês. As
cerca de 35 horas de filmagens foram clandestinamente enviadas para a Suíça, onde
um primo de Dhondup Wangchen editou o documentário.
Três meses e meio após a detenção, o realizador conseguiu escapar e telefonou ao
primo afirmando estar a ser torturado. Voltou a ser detido um dia depois da fuga, tendo
sido torturado e espancado. Foi-lhe ainda negado o acesso a comida e a cuidados de
saúde imprescindíveis, uma vez que tem Hepatite B.
Casado e pai de três filhos, a sua família está impedida de o ver. Mesmo os advogados
de defesa apenas tiveram acesso a Dhondup Wangchen uma única vez e em Julho de
2009 foram obrigados a abandonar o caso. Começou por ser acusado de “jornalismo
ilegal”, um crime que não existe na China, no entanto foi processado por “incitar à sub-
versão contra o Estado e ao separatismo”. A 28 de Dezembro de 2009 foi sentenciado
© Filming of Tibet
a seis anos de prisão, no entanto, não foi dada à família qualquer informação sobre o
julgamento ou a pena. Foi ainda negada a possibilidade de recorrer da sentença.
A Amnistia Internacional considera-o um prisioneiro de consciência, detido por exercer pacificamente o seu direito à liberdade de
expressão.
Ajude-nos a libertar Dhondup Wangchen ou a exigir que tenha um julgamento justo, obedecendo aos padrões internacionais.
Participe! Contamos Consigo!
(Postal-apelo em anexo no interior desta revista. Tudo o que tem de fazer é assinar, colocar a cidade e o país de onde envia o apelo e
a data. Depois basta enviar por correio.)
 Notícias • Amnistia Internacional 31

TUNÍSIA
Condenação à morte de Saber Ragoubi é sinal de regressão

Saber Ragoubi, de 26 anos, entregou-se às autoridades da Tunísia após confrontos en-

tre as forças de segurança e membros do grupo armado Soldados Assad Ibn al-Fourat,
alegadamente responsável por actos terroristas e com ligações à al-Qaeda.
Ragoubi faz parte de um grupo de 30 indivíduos, detidos entre Dezembro de 2006 e
Janeiro de 2007, acusado de conspirar para derrubar o Governo, usar armas de fogo e
pertencer a organizações terroristas. Os detidos foram presentes a julgamento a 30 de
Novembro de 2007, no entanto, delegados da Amnistia Internacional comprovaram que
este não obedeceu aos padrões internacionais de Direitos Humanos.
Os detidos afirmaram terem sido vítimas de tortura e de outros maus tratos, incluindo
© Privado agressões físicas com bastões e choques eléctricos. Foram ainda suspensos no tecto,
pisados e ameaçados de violação. Saber Ragoubi contou ao juiz que foi agredido e,
em consequência, perdeu três dentes. No entanto, este não mandou investigar as alegadas práticas de tortura ou a obtenção de
confissões pelo recurso à força.
Os acusados foram sentenciados com penas que vão de três anos de detenção a prisão perpétua e apenas Saber Ragoubi foi conde-
nado à morte. Encontra-se agora em regime de solitária, pelo que não lhe é permitido receber visitas ou correspondência, o que viola
os padrões internacionais de Direitos Humanos.
Para a Amnistia Internacional, a pena de morte não é solução em nenhuma situação. A Tunísia, embora mantenha a pena capital na
lei, é abolicionista na prática, uma vez que não realiza execuções desde 1991. Vamos impedir que o país regrida. Ajude-nos a salvar
a vida de Saber Ragoubi.
Participe! Contamos consigo!
(Postal-apelo em anexo no interior desta revista. Tudo o que tem de fazer é assinar, colocar a cidade e o país de onde envia o apelo e
a data. Depois basta enviar por correio.)

NEPAL
Activista dos Direitos das Mulheres enfrenta perseguição

Rita Mahato tem 35 anos e é consultora de saúde num Centro de Reabilitação para
mulheres vítimas de actos de violência, conhecido pela sigla WOREC, no Nepal. Esta
entidade investiga e documenta casos de violência sexual sobre as mulheres e fornece
assistência legal e médica a todas as mulheres que procuram o Centro.
No entanto, o trabalho desenvolvido por esta activista e pela sua equipa não é bem
recebido na comunidade. Em Junho de 2007, Rita Mahato foi ameaçada de violação e
de morte quando o seu escritório foi atacado por mais de 60 homens. Ainda no mesmo
mês, um grupo de 20 pessoas atirou tijolos contra o Centro de Reabilitação e, quando
os funcionários tentaram confrontar os agressores, estes atiraram-lhes tijolos antes
que pudessem reagir.
A polícia não realizou até à data qualquer investigação às agressões e ameaças de que
© Dixie
Rita Mahato foi vítima, nem ofereceu qualquer tipo de protecção. Casada e mãe de três
crianças, um rapaz e duas raparigas, a activista teme pela sua vida e pela segurança da sua família.
À semelhança do que acontece com Rita Mahato, as activistas que lutam pelos direitos das mulheres no Nepal continuam a enfrentar
ameaças, agressões, discriminação e, por vezes, chegam a ser assassinadas. Tudo isto porque ousam desafiar o sistema patriarcal
vigente no país e tornar públicos casos de violência sexual e doméstica.
Ajude-nos a contrariar esta realidade. É urgente garantir a segurança das mulheres no Nepal, particularmente as que trabalham em
Direitos Humanos, e proteger Rita Mahato e a sua família das ameaças de que são alvo.
Participe! Contamos consigo!

(Postal-apelo em anexo no interior desta revista. Tudo o que tem de fazer é assinar, colocar a cidade e o país de onde envia o apelo e
a data. Depois basta enviar por correio.)
32 Notícias • Amnistia Internacional
AGENDA
A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA NÃO
PODE SER UM SEGREDO
A Amnistia Internacional, em parceria
com a women’secret, lançou no dia 25
de Março a campanha “A violência do-
méstica não pode ser um segredo”, que
visa dar voz a cada mulher afectada por
este tipo de violência em Portugal, as-
sim como sensibilizar a população e a
sociedade para esta realidade, através
de uma colecção exclusiva assinada
pelo ilustrador André Letria. Numa ini-
ciativa conjunta, que visa acabar com
o silêncio, promover o diálogo e terminar
com as situações de sofrimento silen-
cioso, as duas entidades lançam uma
colecção-chave, muito feminina e sem
segredos. As receitas revertem para a
Amnistia Internacional e destinam-se
ao desenvolvimento de acções contra a
violência doméstica e de educação para
os direitos humanos. Fale, Partilhe e de-
nuncie este problema que é de todos nós.
Saiba mais em http://violenciadomes-
ticanaopodesersegredo.blogspot.com/
Visite as lojas existentes em todo o país
e ajude a quebrar o silêncio!
VEM AÍ MAIS UM INDIELISBOA
É já a 22 de Abril que começa a sétima
edição do Festival Internacional de Cine-
ma Independente IndieLisboa, com data
de encerramento marcada para 2 de
Maio. A Amnistia Internacional Portu-
gal continua a ser parceria do evento,
no qual irá entregar, à semelhança dos
anos anteriores, o Prémio com o nome da
organização, no valor de 1.250 Euros, ao
filme do festival que melhor represen-
tar alguma situação relacionada com
a dignidade humana. O júri do prémio,
composto por três personalidades, será
brevemente anunciado e uma vez mais
a Amnistia conta com a Fundação Serra
Henriques para o patrocínio do galardão.
Acompanhe o evento em www.amnistia-
internacional.pt
SEREMOS ASSIM TÃO
DIFERENTES?
É esta a pergunta que se impõe quando
olhamos para as imagens captadas pelo
fotógrafo alemão Uwe Ommer, que du-
rante quatro anos visitou 150 países, dos
cinco continentes, para conceber o álbum
de família do planeta Terra. Em cada Es-
tado procurou famílias que, como disse
Kofi Annan, ex-Secretário Geral das Na-
ções Unidas, “ilustram admiravelmente
e de uma forma positiva a diversidade
e riqueza histórica do nosso mundo”.
Todas as imagens foram reunidas num
livro e numa exposição que tem percor-
rido o mundo, tendo já sido visitada por
mais de 10 milhões de pessoas. A 15 de
Maio, Dia Internacional das Famílias,
as imagens vão ficar junto ao Museu da
Marinha, em Lisboa, trazidas pela Am-
nistia Internacional Portugal e pela Terra
Esplêndida-Produção de Eventos Cultu-
rais, no âmbito do Ano Europeu de Com-
bate à Pobreza e à Exclusão Social. Fique
atento a www.amnistia-internacional.pt
BRINQUEDOS BÉLICOS
TRANSFORMADOS EM ARTE
No ano passado a Amnistia Internacional
Portugal lançou um desafio às escolas
de todo o país: sensibilizar os mais no-
vos para o problema das armas e para o
facto de serem responsáveis por mais de
300 mil mortos todos os anos e por mais
de um milhão de feridos. O objectivo
era que todas as crianças entregassem
brinquedos de cariz bélico à Amnistia In-
ternacional, como sinal da compreensão
do problema. Foram entregues mais de
1.500 “armas”, vindas de 53 escolas,
tendo mais de 8.500 alunos sido sen-
sibilizados. Os brinquedos foram en-
tretanto transformados numa escultura
que evoca a não-violência, pelos alunos
finalistas da Escola Secundária Artística
António Arroio, em Lisboa. A peça vai
ser tornada pública a 28 de Maio, na
capital, quando a Amnistia Internacio-
nal completa 49 anos de vida. Uma se-
gunda peça foi promovida pelo Núcleo de
Crianças da Amnistia, de Vila Nova de
Famalicão, e criada por Alexandre A. R.
Costa e Jorge Fernando dos Santos. Será
apresentada a 21 de Maio na referida
cidade. Mais informações em breve em
www.amnistia-internacional.pt
CAMINHAR PARA ERRADICAR
A FOME
A 6 de Junho a Amnistia Internacional
volta a associar-se a mais uma Marcha
Contra a Fome. O objectivo deste evento é
recolher fundos para acções do Programa
Alimentar Mundial das Nações Unidas e,
mais concretamente, para a alimentação
de crianças em idade escolar que vivam
em situação de pobreza extrema. Faça a
sua parte! Junte-se à Marcha Contra a
Fome. Mais informações brevemente em
www.amnistia-internacional.pt
FALAR DE DIREITOS HUMANOS
NA ESCOLA
Se é professor ou pai de um aluno,
apresentamos-lhe algumas ideias para
que os seus alunos ou filhos interiorizem

os Direitos Humanos. A Amnistia Inter-
nacional Portugal é parceira da Escola
Superior de Educação Paula Frassinetti
e da Universidade do Porto no projecto
intitulado “Aprender os Direitos Huma-
nos: Passado e Presente”. O objectivo é
levar as crianças e os jovens a pensarem
e discutirem questões de Direitos Huma-
nos. Para tal, este projecto propõe três
soluções. Primeiro, um DVD, chamado
Free2Choose, onde são apresentados
dilemas relativos aos Direitos Humanos,
procurando estimular o debate na sala
de aula. Uma ideia destinada aos alu-
nos do Secundário, que têm ainda à sua
disposição a exposição Anne Frank and
Family, composta por fotografias capta-
das pelo pai da famosa judia alemã, que
passou 25 meses escondida num anexo
com a família, tendo acabado por mor-
rer num campo de concentração nazi.
Para todos os alunos, do 1.º ciclo ao
Secundário, há ainda o projecto “Retra-
tos de Família”, que pretende conceber
uma exposição com mais de 2.000 foto-
grafias. Os alunos são convidados a foto-
grafar a sua família e a criar este álbum
da família portuguesa. Mais informações
pelo email direitoshumanos@esepf.pt
ou pelo 225 573 420 (ext. 222).
10 de Dezembro, Dia Internacional dos Direitos Humanos e a entrega do Prémio Nobel da Paz
Por José Oliveira (FecoPortugal)
Notícias • Amnistia Internacional 33
LEITURAS TOME NOTA
THE DEATH PENALTY: A WORLDWIDE
PERSPECTIVE • 4 DE ABRIL
De Roger Hood e Carolyn Hoyle Dia Internacional de Consciencialização
4.ª edição, 2008 para o Perigo das Minas
Oxford University Press, 350 páginas
PVP: 25,04 libras (encomendando pelo site www.amazon.co.uk)
• 7 DE ABRIL
Dia Mundial da Saúde
Este livro é um recurso impor-
tante para quem quer estudar • 8 DE ABRIL
a fundo a pena de morte. Dia Internacional dos Roma/Ciganos
Feito por académicos, aborda Dia Internacional do Luto dos Jorna-
várias problemáticas relacio- listas
nadas com a pena capital,
como a arbitrariedade, a dis- • 3 DE MAIO
criminação e a desigualdade. Dia Mundial da Liberdade de Imprensa
Trata ainda da questão dos mais vulneráveis,
como os jovens, as grávidas e as pessoas com • 18 DE MAIO
debilidade mental. Como foi recentemente re- Aniversário da Amnistia Internacional
editado, apresenta os progressos relativos à
Portugal
abolição da pena capital no mundo.
• 28 DE MAIO
A MORTE COMO PENA: ENSAIO SOBRE Aniversário da Amnistia Internacional
A VIOLÊNCIA LEGAL
De Ítalo Mereu • 4 DE JUNHO
Martins Fontes 21 anos passados desde o Massacre de
224 páginas, PVP: 19,43 Euros Tiananmen, na China
Esta obra pretende olhar para • 20 DE JUNHO
a pena capital como forma Dia Mundial do Refugiado
de punição e analisar a sua
história, tentando perceber • 26 DE JUNHO
o que a tornou algo natural
Dia Internacional de Apoio às Vítimas
para as instituições jurídicas. de Tortura
Está escrito em português do
Brasil.
34 Notícias • Amnistia Internacional
CRÓNICA
Por José Manuel Durão Barroso
Presidente da Comissão Europeia
© Comissão Europeia
A União Europeia opõe-se firmemente à
aplicação da pena de morte em qualquer
circunstância e tem apelado sistemati-
camente à sua abolição universal. Cons-
titui uma violação dos direitos funda-
mentais e é proibida pelo artigo 2.º da
Carta dos Direitos Fundamentais da
União Europeia, que refere expressa-
mente: «Ninguém pode ser condenado
à pena de morte, nem executado». Além
disso, o artigo 19.º proíbe a extradição se
houver o risco de ser aplicada a pena de
morte. As instituições da União Europeia
nunca permitiriam a um dos seus Esta-
dos-Membros a reintrodução da pena de
morte, uma vez que tal significaria uma
grave violação dos princípios em que a
União Europeia se baseia.
Em 2007, a Comissão elaborou uma
Declaração Conjunta União Europeia-
-Conselho da Europa que instituiu o «Dia
Europeu contra a pena de morte», pre-
tendendo assim reforçar o Dia Mundial de acordo com normas mínimas inter-
contra a pena de morte, que foi criado, nacionais. As orientações da política da
em 2003, por um conjunto de ONGs, mas União Europeia em relação aos países
a que faltava um carácter institucional. terceiros no que diz respeito à pena de
Esta Declaração foi assinada um ano morte constituem uma base para acções
mais tarde. como declarações ou diligências em ins-
tâncias internacionais e relativamente a
Tendo abolido a pena de morte por crimes
países terceiros. O Instrumento Europeu
comuns já em 1867, Portugal foi um dos
para a Democracia e os Direitos Hu-
primeiros países abolicionistas da Eu-
manos é a principal fonte de financia-
ropa. E apraz-me registar que, durante a
mento de projectos abolicionistas a nível
Presidência Portuguesa do Conselho da
mundial. Os esforços da UE para tornar
União Europeia, se promoveu a luta con-
possível um mundo sem pena de morte
tra a pena de morte e eu próprio tive oca-
culminaram na adopção das Resoluções
sião de participar numa iniciativa nesse
sobre a moratória na aplicação da pena
domínio. Sinto-me hoje muito orgulhoso
de morte, adoptadas pela Assembleia-
do vasto consenso alcançado na Europa,
-Geral das Nações Unidas em Dezembro
porque se trata de unir os povos euro-
de 2007 e 2008. Estou confiante que to-
peus em torno de um conjunto de valores
dos os Estados europeus possam apoiar
societais comuns. Estes valores dizem
uma outra Resolução no Outono de 2010.
respeito a uma região geográfica que
inclui actualmente os 47 países mem- Temos de desencorajar em todo o mundo
bros do Conselho da Europa, incluindo a cultura da morte como punição. A pena
os Estados-Membros da União Europeia, de morte não tem qualquer objectivo útil
onde não houve qualquer execução desde na prevenção do crime. Antes pelo con-
1997. Na Europa, a Bielorrússia é o único trário, a pena de morte tem um efeito de
país que ainda aplica a pena capital. degradação nas sociedades que a infli-
Existem, contudo, sinais que me fazem gem. Creio sinceramente que a pena de
ter esperança de que dentro em breve morte não deveria ter lugar no sistema
também nesse país a pena de morte será penal de qualquer país moderno e civi-
abolida. lizado.
É importante mostrar ao mundo que a
Europa está unida na sua posição face
à pena de morte. A acção da Europa
neste domínio representa uma prioridade
fundamental da sua política externa em
matéria de direitos humanos. Nos países
onde ainda existe a pena de morte, a
União Europeia apela no sentido da sua
abolição ou, pelo menos, para que a sua
aplicação seja restringida progressiva-
mente e insiste para que seja utilizada
-
AJUDE-NOS A DEFENDER OS DIREITOS HUMANOS NO MUNDO!

TORNE-SE
MEMBRO
DA
AMNISTIA
INTERNACIONAL

© AP/PA Photo/Khalid Mohammed © UNHCR/H Caux © AP/PA Photo/Halabisaz

TODOS OS DIAS, A TODA A HORA E A CADA SEGUNDO, SÃO VIOLADOS DIREITOS HUMANOS FUNDAMENTAIS
A Amnistia Internacional trabalha para acabar com todos eles
Ajude-nos a defender os Direitos Humanos no mundo!

PODE AJUDAR-NOS:
• Tornando-se membro (e passando a participar nas reuniões e assembleias da Amnistia Internacional Portugal)
• Tornando-se um apoiante regular
• Enviando um donativo esporádico
• E participando activamente nas actividades que lhe propomos durante todo o ano

TODOS OS MEMBROS E APOIANTES DA AMNISTIA INTERNACIONAL RECEBEM:

• Informação periódica sobre as Acções e Campanhas da Amnistia Internacional, nas quais pode participar
• A revista trimestral da Amnistia Internacional com notícias e reportagens relacionadas sobre as mais variadas
temáticas ligadas aos Direitos Humanos

CONCORDANDO COM A ACÇÃO DA AMNISTIA INTERNACIONAL:

1. Assinale uma das seguintes quatro opções: * 1. Autorizo a minha entidade bancária a debitar da minha
conta ao lado indicada, por sistema de débitos directos
DESEJO TORNAR-ME MEMBRO (SDD), a pedido da Amnistia Internacional - Secção Por-
Quota Anual: €40 €20 (Estudantes, Reformados e Desempregados) tuguesa, as importâncias indicadas e com a regularidade
indicada 2. Estou informado de que os débitos poderão ser
DESEJO FAZER UM DONATIVO REGULAR (sistema de débito directo*)
efectuados em datas distintas 3. A Amnistia Internacional
Quantia do donativo: €10 €25 €50 €100 €250 Outro: apenas poderá alterar os montantes após uma informação
Regularidade do donativo: Mensal Trimestral Semestral Anual prévia 4. Irei informar a minha entidade bancária, por es-
crito, caso pretenda cancelar as instruções aqui indicadas
DESEJO FAZER UM DONATIVO PONTUAL 5. Tenho conhecimento de que, caso algum débito (efectuado
No valor de € por SDD) não cumpra as instruções aqui indicadas, terei 5
dias úteis para reclamar junto da minha entidade bancária,
QUERO APENAS A REVISTA TRIMESTRAL (poupando sobre o preço da capa) que me devolverá o montante em causa.
Assinatura por 1 ano (4 números) = 6 euros Assinatura por 2 anos (8 números) = 12 euros
** Dados de preenchimento obrigatório

2. Escolha a forma de pagamento:

Sistema de Débito Directo*: NIB (21 dígitos)
Envie o cupão para:
Número de Entidade: 100813 Referência: a preencher pela AI
Junto envio cheque nº (ou vale de correio) no valor de: € AMNISTIA INTERNACIONAL - Secção Portuguesa
Av. Infante Santo, 42 – 2º andar
3. Deixe-nos os seus dados pessoais 1350-179 Lisboa
** Nome: **Contribuinte:
** Morada:
** Código Postal: - Profissão: Data de Nascimento: / /
** Contacto Telefónico: Email:
Data: Ass.: PORTUGAL
A violência doméstica
não pode ser um segredo.
Fale. Partilhe. Denuncie.

A Amnistia Internacional e a women’secret uniram-se para dar voz

às mulheres vítimas de violência doméstica. Deixar de ser um segredo
é o primeiro passo para deixar de ser um problema.
Ao comprar uma peça da colecção da Amnistia Internacional na
women’secret, ilustrada por André Letria, está a apoiar a luta pelos
Direitos Humanos e a denúncia da violência doméstica.

Visite: http://violenciadomesticanaopodesersegred.blogspot.com