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O processo decisório no trabalho em enfermagem *

The decision-making process on work in nursing

1
Jocelda Gonçalves OLIVEIRA
2
Marli Terezinha Stein BACKES
3
Sílvia Lúcia Castro OLIVEIRA
4
Carliuza Luna FERNANDES
5
Alexandra Bittencourt MADUREIRA
6
Antônio Carlos Gastaud MAÇADA

Resumo: O Enfermeiro continuamente defronta-se com situações que exigem decisões


e nem sempre está suficientemente preparado para participar do processo decisório nas
instituições de saúde em que atua. Esta é uma pesquisa de caráter exploratório e
qualitativo, que teve como objetivo identificar o que os enfermeiros entendem por
processo decisório e qual o papel por eles desenvolvido frente à tomada de decisões em
seu trabalho, no ambiente hospitalar. Os dados foram coletados através de uma
entrevista semi-estruturada, aplicada a cinco enfermeiros, chefes de unidades de
internação, em hospitais de grande porte da cidade de Rio Grande - Rio Grande do
Sul/Brasil, em julho de 2002. Através dos resultados obtidos, constatamos que a decisão
dos enfermeiros caracteriza -se mais ao nível operacional, resultando, na maioria das
vezes, em atitudes imediatas e possibilitando a individualização na hora da resolução
dos problemas. Apesar dos enfermeiros trabalharem em equipe inter e transdisciplinar,
nem sempre tomam decisões em conjunto com estas equipes, e os mesmos também
participam muito pouco do processo decisório a nível organizacional nas instituições
de saúde, mesmo sendo a enfermagem a maioria no conjunto das profissões desta
área. É necessário que a formação dos enfermeiros seja reavaliada e que
instrumentalize os mesmos para as atividades administrativas e a participação efetiva na
tomada de decisões junto com os demais profissionais de saúde.

Palavras-chave: processo decisório; decisão; trabalho em equipe

____________________________________
• Trabalho Elaborado durante a Disciplina de Sistemas de Informação em Saúde do Curso de Mestrado de
Enfermagem da Fundação Universidade Federal do Rio Grande (FURG)
1 – Enfermeira Assistencial do Hospital Universitário Prof. Miguel Riet-Corrêa Júnior (FURG), Especialista em
Projetos Assistenciais pela ESPENSUL, Mestranda do Curso de Mestrado de Enfermagem da FURG
2 – Enfermeira, atua no Hospital-Escola da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), Mestranda do Curso de
Mestrado de Enfermagem da FURG
3 – Psicóloga, Licenciada em Psicologia, Mestranda do Curso de Mestrado de Enfermagem da FURG
4 – Enfermeira Assistencial da Rede Básica da Prefeitura Municipal de Rio Grande, Mestranda do Curso de Mestrado
de Enfermagem da FURG
5 – Enfermeira, Especialista em Projetos Assistenciais pela ESPENSUL, Mestranda do Curso de Mestrado de
Enfermagem da FURG
6 – Doutor em Sistemas de Informação e de Decisão, Professor Adjunto da UFRGS, Professor da Disciplina de
Sistemas de Informação em Saúde do Curso de Mestrado de Enfermagem da FURG, Orientador do presente
Estudo.
O processo decisório no trabalho em enfermagem 2

Summary: The nurse is continuously confronted with situations which demand decisions
and she is not always sufficiently prepared to participate in the decision-making process
in the health care center where she works. This research has an exploratory nature
aiming at identifying what nurses understand as decision-making processes and what
part they have taken with reference to decision-making in their jobs in a hospital. The
data were collected by means of a semi-structured interview applied to five nurses,
heads of internment units in large hospitals in the city of Rio Grande – Rio Grande do
Sul/Brazil. From the results obtained, we found that the decision-making process for
nurses is more common at an operational level which results, is most cases, in
immediate attitudes and enables individualization at the moment of problem-solving.
Although the nurses work both in inter and transdisciplinary teams, they don’t always
take group decisions and they also play a small role in the decision-making process at an
organizational level in the health care center. It is therefore necessary that the nurses’
education be reviewed and that the nurse be equipped with administrative activity
knowledge for a stronger participation in the decision-making process with other health
professionals.

Key words: decision-making process; decision; work in team

1. INTRODUÇÃO

Os profissionais de Enfermagem continuamente se defrontam com situações que

exigem decisões e nem sempre estão suficientemente instrumentalizados para participar

do processo decisório nas organizações de saúde (BERTO & CUNHA,2000).

Segundo Moron (1998, p.13), “as decisões são tomadas em resposta a algum

problema a ser resolvido, alguma necessidade a ser satisfeita ou algum objetivo a ser

alcançado. A decisão envolve um processo, isto é, uma seqüência de passos ou fases

que se sucedem. Este é o processo de tomada de decisão”. Para esta autora, o

processo decisório faz parte do dia-a-dia de qualquer indivíduo.

São poucos os estudos publicados que envolvem Enfermagem e Decisão. Entre

eles, citamos: A participação do Enfermeiro no processo decisório, realizado no Oeste

do Paraná, com enfermeiros que atuam nas Unidades Básicas de Saúde e Centros de

Saúde, por Berto e Cunha (2000). Outro estudo de que se tem conhecimento, é o

trabalho de Dissertação de Mestrado, desenvolvido por Dei Svaldi (2000), realizado na


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zona Sul do Estado do Rio Grande do Sul, com uma das equipes de Enfermagem

(Enfermeiro, Auxiliares de Enfermagem e Atendentes de Enfermagem), num Serviço de

Pronto Atendimento de uma instituição hospitalar.

O presente estudo tem por objetivo identificar o que os enfermeiros entendem por

processo decisório e qual o papel por eles desenvolvido frente à tomada de decisões em

seu trabalho no ambiente hospitalar.

2. O PROCESSO DECISÓRIO

O processo decisório é realizado na forma de “cadeias de decisões”, pois envolve

avaliações, mudanças e aprimoramentos, sempre buscando a melhor decisão, que

poderá ser substituída, posteriormente. Como processo, envolve fenômenos individuais

e sociais, fatos e valores. Embora sejam buscadas decisões lógicas e racionais, os

comportamentos envolvidos implicam sempre aspectos subjetivos, pessoais e éticos,

que antecedem e ultrapassam o momento da decisão (SIMON, apud KURCGANT,

1991).

Em verdade, toda racionalidade no processo de decisão é limitada, refere Herbert

Simon, Nobel da Economia de 1978, contestando a visão idílica de processo decisório

como algo “cartesiano” e puramente racional. É extremamente difícil, senão impossível,

conhecer e considerar todos os aspectos que seriam relevantes para a decisão a ser

tomada. “Os seres humanos tem um conhecimento restrito, têm capacidades limitadas

para poder analisar as conseqüências do próprio saber que detém. Há sérios limites

para poder predizer o futuro e as reações dos outros as suas decisões (SIMON, 2001).

A escolha racional busca encontrar os melhores meios para determinados fins. No

entanto, ela não é infalível, uma vez que a pessoa racional pode escolher apenas o que
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acredita ser o melhor meio. O processo pode ser racional e ainda assim deixar de

alcançar a verdade (ELSTER, 1994).

De acordo com a natureza do problema a decisão poderá ser classificada em

vários níveis, tais como, o operacional, no qual, resumidamente, as ações resultam em

uma resposta imediata; o tático, no qual são necessárias informações sobre o

funcionamento planejado e o estratégico, no qual as atividades não possuem um

período com ciclo uniforme, podendo ser irregular (MORON, 1998).

A decisão, provavelmente, será melhor quanto mais indícios reunirmos e quanto

mais tempo deliberarmos, mas precisamos avaliar bem as situações para evitarmos que

uma vez tendo alcançado uma decisão, não tenha passado a oportunidade de agir

(ELSTER, 1994).

Ainda segundo Elster (1994), agir racionalmente é fazer tão bem por si mesmo

quanto se é capaz. No entanto, este autor refere que quando dois ou mais indivíduos

interagem, eles podem fazer muito pior por si mesmos do que quando agem

isoladamente.

Em situações que são únicas, novas e urgentes, tanto custos como benefícios

são altamente incertos e há, por um lado, um risco de agir cedo demais, com informação

de menos e, por outro lado, um risco de protelar até que seja tarde demais. Então, como

não podemos esperar tomar uma decisão ótima, teremos que contentar-nos com uma

que seja suficientemente boa (ELSTER, 1994).

Portanto, a decisão passa da simples forma de determinar o que deve ser feito

para a complexa aquisição da resposta às necessidades do outro e reconhecer os

próprios poderes e limitações.


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3. O PROCESSO DECISÓRIO NA ENFERMAGEM

Quando se trata de estudar o processo decisório em enfermagem é fundamental

conhecer as características da profissão e do contexto de trabalho.

A enfermagem originou-se em paradigmas religiosos de abnegação, obediência e

dedicação. Disciplina e obediência são marcas da formação, sendo essa ideologia

reforçada pela ética profissional. O aspecto ético , segundo Silva, 2002), corresponde a

uma escolha pessoal e ativa, que busca conciliar os interesses individuais aos da

coletividade. No processo de tomada de decisão, o profissional desenvolve reflexões

éticas que serão fundamentadas quanto a autonomia da decisão, a beneficência, a não-

maleficência e a justiça. O princípio da beneficência atua em favor do bem-estar ou em

benefício de outrem para aliviar ou evitar o mal e o dano. A não-maleficência envolve o

compromisso dos profissionais de saúde de não provocar nenhum mal ou dano aos

clientes. O princípio de Justiça implica o direito a todos terem acesso aos cuidados de

saúde de que necessitem , de forma eqüitativa, independente da possibilidade de cura.

(SILVA, 2002).

Esta profissão organiza-se, segundo Lunardi Filho (1999), apoiado em Gomes

(1991), utilizando, principalmente, três instrumentos de trabalho: a administração (para

organizar o ambiente ), as técnicas (para organizar o cuidado) e os mecanismos

disciplinares (para organizar seus agentes). A seguir discutiremos sobre as funções

exercidas pelo enfermeiro no seu dia a dia de trabalho: função administrativa, função

técnica e mecanismos disciplinares.


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3.1 - Função Administrativa:

Ao abordarmos a administração vemos que, as peculiaridades do ambiente de

trabalho caracterizam-no como complexo, geralmente mudando rapidamente com várias

inter e intraconexões (ARNDT & HUCKABAY, 1983). Hospitais sem leitos disponíveis,

falta de material, medicamentos e, ainda, carência de funcionários especializados

(médicos, enfermeiros, dentre outros) são os problemas mais freqüentes. O serviço por

vezes é abreviado por falta de tempo devido a esses problemas (LUNARDI FILHO et al.,

2000).

Os enfermeiros investidos de autoridade e assumindo a responsabilidade, passam

a comprometer-se com os objetivos da organização, não somente agem em

conformidade com as normas padronizadas, como também são responsáveis por

manter esta padronização (TREVIZAN, 1987).

Segundo Trevizan (1987), as funções administrativas do enfermeiro são

classificadas em: função administrativa burocrática: quando ocorre o uso do

conhecimento técnico-especializado sobre administração, visando a consecução dos

objetivos da organização. Tem como elementos essenciais a racionalidade, a eficiência

e a impessoalidade, bem como o seu exercício é pautado em normas e rotinas

preestabelecidas pela organização. São exemplos de funções burocráticas exercidas

pelo enfermeiro: receber, passar ou dirigir passagem de plantão; fazer provisão de

recursos humanos e materiais; implementar ordens médicas; verificar prontuários,

exames, escalas de cirurgias; entre outras. Função administrativa não-burocrática:

esta também visa os objetivos da organização, estando vinculada à competência

profissional do enfermeiro e tem como perspectiva a qualidade do trabalho. Algumas

características desta função são: não é regida detalhadamente por normas, depende

mais da competência do indivíduo, deixa lugar para a criatividade, deixa espaço para um
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estilo pessoal. São exemplos da função administrativa não-burocrática: fazer visitas aos

pacientes; orientar paciente e família sobre exames, cirurgias, cuidados pós-alta, retorno

e estado do paciente; participar de reunião de grupo de estudos de educação

continuada, entre outras.

Tudo isto nos mostra que a função burocrática é comandada pelo compromisso à

organização, enquanto a função não-burocrática é mais orientada pelo compromisso

com a clientela (TREVIZAN, 1987). Assim, o enfermeiro que ocupa o cargo

administrativo, é um profissional competente e investido de autoridade. O exercício da

função administrativa terá como centro a assistência ao paciente. Para isto, o enfermeiro

deverá adequar princípios e medidas administrativas para a decisão e solução de

problemas específicos e para a administração de seu pessoal (TREVIZAN, 1987).

3.2 - Função Técnica

As técnicas são um conjunto de instrumentos utilizados para a realização da

assistência. Conforme Pires (1999), o enfermeiro faz a gerência do trabalho dos demais

membros da equipe de enfermagem e presta os cuidados privativos do enfermeiro.

Esses cuidados privativos são representados por procedimentos complexos, como a

realização de sondagem vesical, sondagem nasogástrica, entre outros. Além disso, o

enfermeiro domina os conhecimentos relativos ao exercício do trabalho assistencial de

enfermagem.

Os trabalhadores de enfermagem têm graus de formação diferenciados e

dividem o trabalho, legitimando ao enfermeiro o papel de detentor do saber e de

controlador do processo de trabalho, cabendo aos demais profissionais de sua equipe

(auxiliares e técnicos de enfermagem) o papel de executores de tarefas delegadas pelo

enfermeiro e até mesmo pelo médico (PIRES, 1999).


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A responsabilidade pelo cuidado direto ao paciente é da enfermagem que , por

isto, sofre a pressão da cobrança de todos os “problemas” por parte dos médicos,

pacientes, familiares e da administração (PIRES, 1999). Embora assuma a

responsabilidade permanente, o controle do processo é atribuído a outro grupo de

profissões, principalmente aos médicos, como refere Leopardi (1999). A delegação de

responsabilidade por parte das profissões que detém o controle não é acompanhada da

correspondente delegação de autoridade e transferência de poder, o que reforça as

características históricas de subordinação e obediência.

3.3 - Mecanismos disciplinares:

O enfermeiro muitas vezes limita seu trabalho aos contornos estabelecidos pelas

normas institucionais ou às determinações emanadas dos médicos. Entretanto, segundo

a Teoria de Orlando, é preciso que os profissionais mudem radicalmente, deixando de

ser auxiliares dos médicos e da instituição para focalizar sua ação no auxílio dos

pacientes. Para desenvolver esse trabalho, a enfermeira pode até mesmo ter que

auxiliar o paciente para que ele não cumpra ordem médica que possa vir a prejudicá-lo.

Da mesma forma, pode intervir para solucionar conflitos entre o paciente e a política da

instituição, sempre buscando focalizar sua ação no indivíduo e no seu bem estar

(LEONARD & CRANE, 1993).

O enfermeiro é confrontado com o processo decisório que compreende o poder de

decidir, ou seja, determinar o que deve ser feito, opinar, escolher e optar acerca de algo,

possuindo como objetivos a ação do momento e a descrição de um futuro provável. As

metas na assistência são normalmente imediatistas, de curto prazo, devido à

complexidade de situações envolvidas e à necessidade de decidir rapidamente – já que

sempre está relacionada à saúde e à vida humana. A enfermagem está constantemente


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envolvida em processos que confrontam múltiplas possibilidades de escolha, com

interpretação de dados e previsão de possíveis conseqüências. É permanente o desafio

de enfrentar processos decisórios, tanto no campo assistencial, quanto no campo

administrativo.

A decisão na clínica da Enfermagem exige maior responsabilidade e autonomia de

julgamento e de decisão do enfermeiro, além de qualidade de informação, de raciocínio

e de decisão clínica (JESUS, 2002). Essas habilidades não estão relacionadas à idade

ou antigüidade profissional, segundo o mesmo autor, que identificou, em seu trabalho

científico, quarenta e cinco estratégias de raciocínio que possibilitam a orientação do

pensamento.

A informação é considerada recurso de extrema importância para tomar a melhor

decisão. Os sistemas de apoio à decisão possibilitam a procura de dados e permitem

que o tomador de decisão construa alternativas para a sua ação. Utilizando este recurso

o enfermeiro pode melhor estabelecer a prescrição que indicará, o modo e o momento

mais adequado de executá-la. A informática aparece como o melhor meio para

disponibilizar, gerenciar e analisar as informações, conforme Lunardi et al. (2002).

4. METODOLOGIA

O presente trabalho de caráter exploratório e qualitativo, teve como universo de

pesquisa, os hospitais de uma cidade da região sul do estado do Rio Grande do Sul. Os

sujeitos do estudo foram cinco enfermeiras desses hospitais gerais, das seguintes

unidades de internação: clínica cirúrgica, clínica médica, pediatria, pronto socorro e

maternidade. Os dados foram coletados por meio de uma entrevista semi-estruturada,

norteada pelas seguintes questões:


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1. O que você entende por processo decisório relacionado ao seu trabalho?

2. Como as decisões são tomadas?

3. Que fatores você leva em consideração ao tomar decisões?

4. Qual foi a decisão mais difícil que você teve de tomar em sua unidade de trabalho e

por que?

Estas enfermeiras foram escolhidas ao acaso, dentro do ambiente hospitalar.

Após a transcrição dos dados obtidos por meio das entrevistas, explorou-se as

respostas dadas a fim de identificar convergências e divergências de opiniões, bem

como interpretar o estudo realizado de acordo com a bibliografia consultada.

5. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

Da análise das entrevistas destacamos na primeira pergunta, referente ao

entendimento do processo decisório, que os sujeitos entendem este processo como

sendo os passos percorridos para solucionar problemas, as decisões tomadas no dia-a-

dia, onde os atores envolvidos na decisão interagem como centro das suas atitudes

decisórias, visando estabelecer alternativas que possibilitem a satisfação de suas

prioridades e a coordenação da sua equipe.

Observou-se na segunda pergunta, a qual detinha-se em saber como as decisões

são tomadas, que as respondentes tomam suas decisões de acordo com as

necessidades do grupo, conforme a gravidade do caso, tornando-se mais

individualizada quando necessita-se de maior urgência na solução do problema.

Algumas enfermeiras revelaram a necessidade de realização de reuniões, para

organização do trabalho, o que facilita, segundo elas, a ação da equipe, procurando

serem sensatas nas suas posições. Destaca-se, também, a ambigüidade de ação no

relato de uma das entrevistadas, a qual adjetivou-se como democrática, desde que as
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opiniões dos demais não fugissem do seu limiar de aceitação, reclamando

posteriormente da posição autocrática da instituição onde trabalha.

Da análise da terceira pergunta, referente aos fatores que são levados em

consideração ao tomar decisões, as entrevistadas relataram como fator administrativo: a

qualidade do trabalho; como fatores técnicos: o melhor para o paciente de acordo com

suas queixas e necessidades terapêuticas e o tempo necessário para alcançar a

solução do problema; e como fator disciplinar: a organização do serviço através de

interferências na equipe, mantendo sua segurança.

Já na abordagem da última pergunta, sobre a decisão mais difícil que tiveram de

tomar, os relatos divergiram, ressaltando desde problemas administrativos de falta de

pessoal e de gerenciamento da equipe, até a conivência constrangedora com o ato

médico de decidir a cerca do “investimento” em salvar ou não a vida do paciente. Como

nos demonstra o seguinte relato:

“Quando você tem um paciente que o médico deixa dito que não vai mais investir e

a paciente “para” e você tem que ir contra seus princípios e tem que fazer o que ele diz.

Isto é difícil, aconteceu várias vezes quando eu trabalhava em UTI, logo que a gente se

forma é muito difícil porque não é isso que passam para a gente em estágios.”

6. DISCUSSÃO

Com as entrevistas realizadas podemos observar que as enfermeiras apresentam

uma visão clara do processo decisório, como uma decisão que é tomada em resposta a

algum problema a ser resolvido, alguma necessidade a ser satisfeita ou a algum objetivo

a ser alcançado, como é conceituado por Moron (1998). O principal objetivo observado

foi o de bem-estar do paciente, seguido da necessidade de organização do serviço

hospitalar onde trabalham. Necessidade esta que, para Trevizan (1999), advêm de
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buscar assegurar o funcionamento eficiente da instituição, visando alcançar suas

finalidades, ou seja, novamente, o bem-estar do paciente.

Ao procurarmos conceituar o termo “democracia”, citado por uma das

entrevistadas, fica claro que: democracia compreende, no sentido lato, direitos iguais

para todos os membros da sociedade e a possibilidade de participar em iguais

condições na instauração e exercício do poder estatal ou público, segundo Rojcó, citado

por Petersen et al. (1988). Já o termo autocracia refere-se a uma única deliberação,

decidindo e agindo isoladamente. Portanto, a profissional citada nos resultados

apresentou características autocráticas mescladas com características democráticas,

uma vez que estipula limites para as ações democráticas frente a equipe em que

trabalha.

A decisão em enfermagem caracterizou-se mais ao nível operacional, resultando,

na maioria das vezes, em uma resposta imediata, inserida na base organizacional da

instituição de saúde, possibilitando a individualização na ho ra da resolução de um

problema.

A concepção tradicional de organização do trabalho é burocrática e hierarquizada

e, as decisões são centralizadas. Dei Svaldi (2000) considera que esta forma de

organização também tem sido utilizada no trabalho em enfermagem, onde ao

trabalhador de níveis hierárquicos inferiores não é permitido participar na busca de

soluções para os problemas existentes.

Ainda segundo Dei Svaldi (2000), a enfermagem, até os dias atuais, na maioria das

vezes, tem usado o empirismo para administrar suas atividades e, desta forma, sua

capacidade de gerenciar é precária, a hierarquização é reforçada e, muitas vezes, o

enfermeiro assume funções gerenciais e a resolução de problemas pertinentes a outros

profissionais e serviços. O seu esforço e criatividade não implicam inovação e não

usufrui dos benefícios desta produção por não colocar tal produção ao seu serviço ou a
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serviço de sua clientela. Para romper com esta prática, a autora aponta o uso de

tecnologias da Gestão de Qualidade Total (GQT), como uma possível estratégia que

possibilita inovar o gerenciamento/assistência de enfermagem, suas energias e saberes

na sua especificação, oferecendo um cuidado mais humanizado e apresentando

melhores resultados para a clientela e para a própria instituição de saúde onde estes

profissionais atuam, além de promover maior satisfação e valorização dos

trabalhadores.

Para Trevizan et al. (1999), a enfermagem desde a década de 60 assumiu a

posição de profissão qualificada para gerenciar, porém, na maioria das ve zes, nas

instituições de saúde em que estes profissionais atuam, o empenho do médico submete

e subjuga o(a) enfermeiro(a) a oferecer seu apoio no processo de tratamento ao cliente,

fundamentado, quase que exclusivamente, nas exigências da estrutura formal e nas

necessidades do trabalho médico. Estando, portanto, o enfermeiro sempre ocupado no

processo organizacional, desde a implantação da burocratização das instituições

hospitalares. O médico tinha como atribuição a supervisão competente e rigorosa do

pessoal vinculado aos serviços técnicos, tendo em vista a manutenção desse trabalho

no mais alto nível de eficiência. Ao enfermeiro era delegada a direção competente e a

habilidade executiva da organização e coordenação destes serviços.

No que se refere aos fatores considerados para a tomada das decisões, partindo

das entrevistas realizadas, podemos ressaltar as decisões programadas, que são

repetitivas e rotineiras, sendo facilmente delegáveis e cujo nível de risco é irrisório; e as

não-programadas, nas quais não se tem regras a seguir e nem possuem um esquema

específico para ser utilizado, sendo mais arriscadas e ambíguas (MORON, 1998). Estas

últimas são caracterizadas nas situações de emergência e urgência dos serviços de

saúde, bem como no restabelecimento do trabalho em situações especiais, como

quando há falta de funcionários. O cotidiano é de processos decisórios a nível


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“interpretativo”, na terminologia de Paterson (MUCCHIELLI, 1976), colocando o

profissional diante de uma múltipla escolha que implica na interpretação dos dados e na

previsão das possíveis conseqüências.

Além disso, conforme citam Berto e Cunha (2000), a tomada de decisão em uma

organização é o resultado de um processo racional e consciente, por isso as

entrevistadas citam o conhecimento como fator importante, estabelecendo uma relação

lógica entre meios e fins. “[...] as enfermeiras possuem poder em potencial, mas

necessitam de entendimento básico sobre como utilizar este potencial para provocar as

mudanças desejadas” ( ELLIS & HARTLEY, 1998, p.98).

De acordo com Dei Svaldi (2000), em seu estudo, os serviços prestados pela

Unidade de Pronto Atendimento não atendem às reais necessidades da clientela,

principalmente pela falta de metodologia e organização que se apóiem em saberes

administrativos, com a possibilidade de se encontrar soluções para os problemas de

forma científica, traçando as prioridades de um sistema de gerenciamento, em que

estejam contemplados aspectos como o planejamento, a execução e a avaliação.

Na abordagem sobre a decisão mais difícil que tiveram de tomar , nota-se que o

médico ainda é o ator principal da assistência e os demais atuam como se fossem

meros coadjuvantes em suas práticas auxiliares. Quando há divergências, o médico

sempre dá a última palavra, independente da sua decisão estar correta ou equivocada

BERTO & CUNHA, 2000).

A situação grave relatada comprovou o quanto o poder decisório do enfermeiro é

pequeno, dependente do médico e das regras de funcionamento da instituição. A ação

do enfermeiro é limitada em suas possibilidades , como refere Pires (1999). Além disso,

como nos mostra Lunardi Filho (2000, p.161) “tanto a formação para a obediência

quanto o aparente despreparo para a argumentação podem ser responsáveis pela

tendência a evitar o confronto, as disputas, a emissão de opiniões, os questionamentos,


O processo decisório no trabalho em enfermagem 15

fazer alianças, requisitar condições apropriadas à realização do trabalho assistencial e

insistir para obtê-las”. Ao buscar a harmonia pode-se chegar à acomodação e a opção

de decidir por não decidir. Não esquecendo-se, de que uma atuação em equipe exige a

recomposição tecnológica do trabalho com a responsabilidade coletiva, resguardando as

especificidades de cada profissional (LEITE, 1999).

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo buscou mostrar como se dá o processo decisório no cotidiano

do trabalho da enfermagem.

A complexidade do processo decisório ficou evidenciada. As características do

trabalho e do ambiente envolvem situações onde múltiplos fatores precisam ser

avaliados. Problemas e limitações consta ntes tem que ser superadas para buscar

garantir a assistência em saúde de forma ética e com qualidade.

No cotidiano de trabalho, há constantes tomadas de decisões, tanto a nível do

fazer assistencial quanto administrativo. As tarefas assistenciais e administrativas não

são nitidamente separadas, embora haja por parte dos enfermeiros uma clara diferença

valorativa: os profissionais que se dedicam à assistência nomeiam seus colegas que

estão trabalhando na administração de “enfermesas(os)”. Essa caracterização pejorativa

da função administrativa não chegou a ficar aparente nos relatos, mas é reconhecida

pelos profissionais da área. Essa rejeição ao valor das funções administrativas precisa

ser melhor estudada pois, possivelmente, é mais um obstáculo para que os profissionais

enfrentem os processos decisórios e consigam conquistar o correspondente poder e a

merecida autoridade.

As decisões em enfermagem, por serem interpretativas, envolvem o grau máximo

de responsabilidade e deveriam estar resguardadas pela correspondente delegação de


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autêntica autoridade, como refere Mucchielli (1979). Entretanto, ficou evidenciado que

ainda hoje o enfermeiro tem seu trabalho submetido à autorização do médico. Mesmo

diante de situações extremas, que envolvem a decisão sobre a vida ou a morte, a

autoridade suprema do médico se sobrepõe até à formação ética do enfermeiro.

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

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O processo decisório no trabalho em enfermagem 18

ENDEREÇO DOS AUTORES

1 - JOCELDA GONÇALVES OLIVEIRA


Enfermeira Assistencial do Hospital Universitário Prof. Miguel Riet-Corrêa Júnior (FURG),
Especialista em Projetos Assistenciais pela ESPENSUL, Mestranda do Curso de Mestrado de
Enfermagem da FURG.
Endereço: Rua Capitão Lemos Farias, 137
CEP: 96202 – 370 - Rio Grande / RS
Fone: (053) 232-60.53
E-mail: jocelgon@vetorialnet.com.br

2 - MARLI TEREZINHA STEIN BACKES


Enfermeira, atua no Hospital-Escola da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), Mestranda do
Curso de Mestrado de Enfermagem da Fundação Universidade Federal do Rio Grande (FURG).
Endereço: Rua Gonçalves Chaves, 65 / Aptº: 304 “A”
CEP: 96015 – 560 - Pelotas / RS
Fone: (053) 227-15.89
E-mail: marli.backes@bol.com.br

3 - SÍLVIA LÚCIA CASTRO OLIVEIRA


Fone: (053) 232.5135/9102.1991
E-mail: silvialucia@vetorialnet.com.br

4 - CARLIUZA LUNA FERNANDES


Fone: (053) 231.8516/9124.0311
E-mail: carliuza@octopus.furg.br

5 - ALEXANDRA BITTENCOURT MADUREIRA


Fone: (053) 232.7933 / 9961. 9700
E-mail: madu@vetorialnet.com.br

6 - ANTÔNIO CARLOS GASTAUD MAÇADA


Doutor em Administração, Professor Adjunto da UFRGS, Professor da Disciplina de Sistemas de Informação
em Saúde do Curso de Mestrado de Enfermagem da FURG, Orientador do presente estudo.
Endereço: Rua Washington Luis, 855
CEP: 90010 – 460 - Porto Alegre / RS
Fone: (051) 3316-3536 FAX: (051) 3316-3991
E-mail: acgmacada@ea.ufrgs.br - www.ea.ufrgs.br

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