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P rojeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LINE

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizacáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(¡n memoríam)
APRESENTAQÁO
DA EDIQÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos estar
preparados para dar a razio da nossa
esperanga a todo aquele que no-la pedir
(1 Pedro 3,15).
Esta necessidade de darmos corita
da nossa esperanga e da nossa fé hoje é
mais premente do que outrora, visto que
somos bombardeados por numerosas
correntes filosóficas e religiosas contrarias á
fé católica. Somos assim incitados a procurar
consolidar nossa crenca católica mediante
um aprofundamento do nosso estudo.
Eis o que neste site Pergunte e
—- Responderemos propóe aos seus leitores:
aborda questoes da atualidade
controvertidas, elucidando-as do ponto de
vista cristáo a fim de que as dúvidas se
i dissipem e a vivencia católica se fortalega no
Brasil e no mundo. Queira Deus abencoar
- - — este trabalho assim como a equipe de
Veritatis Splendor que se encarrega do
respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.


Pe. Estéváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicacáo.
A d. Estéváo Bettencourt agradecemos a confiaga depositada
em nosso trabalho, bem como pela generosidade e zelo pastoral
assim demonstrados.
•*;■■ .„

■ a

Ano xlii Junho 2001


"Com Amor Eterno eu te amei" (Jr 31, 3)

"Ncfinício do Novo Milenio" por Joáo Paulo II

Os Dinossauros e a Biblia

Criagao ou Evolu?áo?

"O Grao de Trigo" por Antonio Mesquita Galvao

"Os Fatos da Vida" por Brian Clowes PhD

A ONU e a Globalizacáo por Michel Schooyans


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i— - \\ /■
PERGUNTE E RESPONDEREMOS JUNHO2001
Publica9áo Mensal N°469

SUMARIO
Diretor Responsável
Estéváo Bettencourt OSB "Com Amor Eterno eu
Autor e Redato r de toda a materia te amei" (Jr 31, 3) 241
publicada neste periódico Cristo ontem, hoje e pelos sáculos:
"No inicio do Novo Milenio" por Joáo
Diretor-Administrador:
Paulo II 242
D. Hildebrando P. Martins OSB
Conciliam-se entre si?
Administracáo e Distribuicáo: Os Dinossauros e a Biblia 249
Edipóes "Lumen Christi"
Dilema?
Rúa Dom Gerardo, 40 - 5" andar - sala 501
Criacáo ou Evolucáo? 257
Tel.: (0XX21) 291-7122
Fax (0XX21) 263-5679 "O que o olho nao viu..."
"O Grao de Trigo" por Antonio Mesquita
Endere9O para Correspondencia:
Galváo 262
Ed. "Lumen Christi"
Caixa Postal 2666 Mini-enciclopedia:

CEP 20001-970 - Rio de Janeiro - RJ "Os Fatos da Vida" por Brian


Clowes PhD 271
Visite o MOSTEIRO DE SAO BENTO
Denuncia Candente:
e "PERGUNTE E RESPONDEREMOS"
A ONU e a Globalizacáo por Michel
na INTERNET: http://www.osb.org.br
Schooyans 277
e-mail: lumen.christi@osb.org.br

COM APROVACÁO ECLESIÁSTICA

NO PRÓXIMO NÚMERO:

O Diálogo inter-religioso e J. Dupuis.-A Igrejaaceitaacomunicacáocomos mortos?-


Perseguicáo Religiosa na Albania comunista. - 'Tu és Pedro" (G. Suffert). - Nova Imagem
de Jesús. -Abusos Sexuais na Igreja. - "Maconaria para Leigos e Macons" (W. Ribeiro).
- Casamentos nulos: quando? Como proceder? - Intato o corpo de Joáo XXIII,

(PARA RENOVACÁO OU NOVA ASSINATURA: R$ 35,00).


(NÚMERO AVULSO RS 3,50).

O pagamento poderá ser á sua escolha:

1. Enviar, em carta, cheque nominal ao MOSTEIRO DE SAO BENTO/RJ.

2. Depósito em qualquer agencia do BANCO DO BRASIL, para agencia 0435-9 Rio na


C/C 31.304-1 do Mosteiro de S. Bento/RJ, enviando em seguida por carta ou fax
comprovante do depósito, para nosso controle.

3 Em qualquer agencia dos Correios, VALE POSTAL, enderecado as EDICÓES "LUMEN


CHRISTI" Caixa Postal 2666 / 20001-970 Rio de Janeiro-RJ

Obs ' Correspondencia para: Edicóes "Lumen Christi"


Caixa Postal 2666
20001-970 Rio de Janeiro - RJ j
"COM AMOR ETERNO EU TE AMEI"
(Jr31,3)

"Com amor eterno eu te amei"... Sao estas as palavras com que o


Senhor Deus se dirige ao seu povo no Antigo Testamento. Sao também as
palavras com que interpela cada membro do seu povo até hoje. - Ao ouvi-
las, o cristáo talvez se sinta assustado; com efeito, o concertó de eternidade
escapa á experiencia de todo ser humano, para quem o temporario e fugaz
é, por assim dizer, o normal. Em Deus, porém, nada é fugaz; tudo é perene
e definitivo. Assim também o amor do Pai para conosco: desde todo sempre
(sem passado nem futuro) Ele nos viu como filhos no FILHO e nos quis bem
com amor divino, irreversível, urna vez por todas. Assim na raiz da existencia
de cada criatura humana há um ato de benevolencia gratuita, que quer co
municar um tanto de sua vida e bem-aventuranca a seres tirados do nada.
Esta verdade básica da mensagem crista é empalidecida, na mente de mui-
tos, por tribulacóes e adversidades que parecem contradizer ao amor divino.
Todavía a lógica da fé certifica o cristáo de que Deus nao ama menos do que
um pai e urna máe da térra.

Precisamente para avivar a consciéncia de tal verdade, o mes de ju-


nho é dedicado ao Sagrado Coracáo de Jesús. O coracáo, na Biblia, é a
sede dos afetos mais profundos do ser humano. Pois bem; o eterno amor de
Deus quis pulsar através de um coracáo humano assumido no seio de María
Virgem. Esse coracáo é o símbolo eloqüente de algo que nada tem de sen
timental, mas é firme e seguro como o Eterno é firme e seguro.
É de notar que a devogáo ao Sagrado Coracáo de Jesús, já cultivada
na Idade Media por santas místicas, tomou seu grande incremento no sécu-
lo XVII, quando Jesús apareceu a Santa Margarida-Maria Alacoque, mos-
trando-lhe "o Coracáo que tanto amou os homens". Estes dizeres tinham em
vista dissipar a mentalidade jansenista que se propagava entre os cristáos,
mentalidade amedrantada pela presenga de Deus e tendente a fazer da
religiáo um motivo de sufocacáo do homem mais do que de engrandeci-
mento. A Igreja acolheu a mensagem de Paray-le-Monial transmitida á san
ta vidente, e realcou na sua piedade a imagem do Coracáo de Jesús, que
muito tem amado, mas pouco tem sido reconhecido pelo amor das criaturas.

Em nossa época de inseguranca e ameacas, faz-se particularmente


importante restaurar nos cristáos (e propagar a todos os homens, peregri
nos titubeantes pelas estradas da vida) a consciéncia de que este mundo -
e, nele, cada individuo - é regido nao pelo acaso, mas por um Amor prímeiro
e irreversível, que tudo sabe dispor para o bem mesmo daqueies que nao o
conhecem ou, se o conhecem, nao Ihe dáo a devida atencáo. Afinal saber
se amado (e amado nao de maneira fugaz, mas eterna) é o que mais pode
reconfortar o homem atribulado e aparentemente esquecido. - Que Ele, pois,
se faga vivamente presente a todos neste mes de junho!
E.B.

241
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS"

Ano XLII - N9 469 - Junho de 2001

Cristo ontem, hoje e pelos séculos:

"NO INÍCIO DO NOVO MILENIO"


por Joáo Paulo II

Em síntese: Ao encerrar o Ano Jubilar e abrir o novo milenio, o


Santo Padre Joáo Paulo II publicou mais urna Carta Apostólica, em que
recorda os beneficios recebidos pela Igreja por ocasiáo do Jubileu e tra
ga linhas de agáo para os próximos tempos. Muito significativas sao a
coragem que o Papa demonstra ao enfrentar os desafios do futuro como
também a énfase dada á preparagáo espiritual ou ao cultivo da vida inte
rior (procura da santidade, oragáo, vida sacramental...) como necessária
preparagáo para o trabalho apostólico.
* * *

Aos 6/1/01 o Santo Padre encerrou o Ano Santo e assinou urna


Carta Apostólica pela qual traca atitudes e linhas de acáo para clérigos e
leigos no terceiro milenio. O documento é muito rico em propostas e
ensinamentos, de modo que será sumariamente apresentado ñas pági
nas que se seguem.

A Carta compreende quatro capítulos, correspondentes a tres tem


pos: o Cap. I diz respeito ao passado ou ao ano Santo e seus beneficios;
o cap. II considera Jesús Cristo hoje (é um olhar para o Cristo, do qual
procede todo o vigor da evangelizacáo); os cap. III e IV olham para p
futuro, sendo que o Cap. III propoe elementos de vida espiritual como
penhor de éxito no apostolado e o cap. IV delineia rumos de acáo apostólica.
Introducto

A Introducáo á Carta comeca citando palavras do Senhor que vol-


tam na Conclusáo como também nos parágrafos 15 e 38: "Duc in altum
- Avanca para aguas mais profundas" (Le 5, 4), ordena Jesús a Pedro.
Pode-se dizer que tal é o fio condutor do documento: é um incentivo a
enfrentar denodadamente os desafios dos novos tempos, continuando a
obra destemida das geracóes missionárias anteriores:

242
"NO INÍCIO DO NOVO MILENIO"

"Duc in altum! Estas palavras ressoam hoje aos nossos ouvidos,


convidando-nos a lembrar com gratidáo o passado, a viver com paixáo o
presente e abrir-nos com confianga ao futuro: 'Jesús Cristo é o mesmo
ontem, hoje e sempre' (Hb 13, 8)" (§ 1).

I. O Encontró com Cristo, Legado do Grande Jubileu

O Santo Padre recorda as grandes gracas recebidas no decorrer


do Ano Santo, especialmente os encontros de jovens, de trabajadores,
das familias, do mundo do espetáculo... Menciona também o Congresso
Eucarístico Internacional em Roma, a participacáo de cristáos nao cató
licos ñas celebracóes jubilares, como também sua viagem á Térra Santa,
o perdáo da divida externa concedido por certos países a nacóes pobres,
e concluí:

"O que realizamos neste ano jubilar nao pode justificar urna sensa-
cáo de saciedade nem induzir-nos a urna atitude de relaxamento. Na causa
do Reino nao há tempopara olharpara tras, menos aínda para entregar
se á preguiga. Há muito trabaiho á nossa espera; por isto devemos dedi
car-nos a urna eficaz programagáo pastoral pós-jubilar" (§ 15).

Essa programagáo, porém, o Papa quer que seja fundamentada


na vida interior dos clérigos e fiéis leigos, para que nao se torne acáo
febril ou mero despacho administrativo:

"É muito importante que tudo o que, com a ajuda de Deus, nos
propusermos, esteja profundamente radicado na contemplagáo e na agao.
Vivemos num tempo em continuo movimento, em que muitas vezes se
chega a agitagáo, caindo-se fácilmente no risco de 'fazer por fazer'. É preci
so resistir a esta tentagao, procurando antes o ser do que o fazer" (§ 15).

Esta advertencia voltará no cap. III com mais minucias. O Papa


muito a enfatiza.

II. Um Rosto a ser contemplado

A contemplagáo preconizada no cap. I consiste em fixar o rosto de


Cristo como ele aparece nos Evangelhos e vem elaborado pela clássica
teología:

"Concluido o Jubileu, enquanto retomamos o caminho de sempre,...


o olhar permanece mais intensamente fixo no rosto do Senhor" (§ 16).

Joáo Paulo II aproveita o ensejo para reafirmar a fidelidade históri


ca dos Evangelhos:

"Os Evangelhos nao pretendem ser urna biografía completa de Je


sús, segundo os cánones da ciencia histórica moderna. No entanto emerge
deles, com fundamento histórico seguro, o rosto do Nazareno, visto que
os evangelistas se preocuparam em delineá-lo, recolhendo testemunhos

243
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 469/2001

fidedignos (cf. Le 1, 3) e trabalhando sobre documentos sujeitos a cuida


doso discernimento eclesial" (§ 18).

O Papa professa também a consciéncia que Jesús, como homem,


tinha da sua ¡dentidade de Deus Filho e Messias:

"Embora seja lícito pensar que, em virtude da sua condigno huma


na que o fazia crescer 'em sabedoria, estatura e graga' (Le 2, 52), tam
bém a consciéncia humana de seu misterio tenha crescido até a expres-
sáo plena de sua humanidade glorificada, nao há dúvida de que Jesús,
nos dias de sua existencia histórica, tinha consciéncia de sua identidade
de Filho de Deus. Joao o sublinha tanto, a ponto de afirmar que, em
última análise, fot esse o motivo por que o rejeitaram e condenaram; na
realidade procuravam matá-lo 'nao só por violar o sábado, mas também
porque dizia que Deus era seu Pai, fazendo-se igual a Deus' (Jo 5, 18).
No cenário do Getsémani e do Góigota, a consciéncia humana de Jesús
será submetida a duraprova; mas nem sequero drama de sua paixáo e
morte conseguirá perturbar a sua serena certeza de ser o Filho do Pai
celeste" (§ 24).

A Igreja se detém na contemplacao do rosto de Cristo dolorido e


glorioso, "no qual se esconde a vida de Deus e se oferece a salvacáo do
mundo" (§ 28).

"No rosto de Cristo ela - a Esposa - contempla seu tesouro, sua


alegría. 'Dulcís lesu memoria, dans vera cordis gaudia. Como é doce
a recordagáo de Jesús, fonte de verdadeira alegría do coragáo!'. Confor
tada por essa experiencia revigoradora, a Igreja retoma agora, no inicio
do terceiro milenio, seu caminho para anunciar Cristo ao mundo: Ele 'é o
mesmo ontem, hoje e sempre' (Hb 13, 8)".

III. Partir de Cristo

Após belas consideracoes cristológicas, diz o Papa que é preciso


traduzi-las em orientacóes pastarais ajustadas as condicóes de cada
comunidade. Estas háo de ser alimentadas por alguns pontos de espiri-
tualidade imprescindíveis para que se tornem realmente fecundas:

"Espera-nos urna entusiasmante obra de retomada pastoral, urna


obra que toca a todos. Entretanto, como estímulo e orientagáo comum,
desejo apontar algumas prioridades pastarais que a experiencia do Grande
Jubileu me fez ver com particular intensidade" (§ 29).

E quais seriam essas prioridades?

a) "Em primeiro lugar, nao hesito em dizer que o horizonte para o


qual deve tender todo caminho pastoral é a santidade" (§ 30). O Papa
lembra que todos os fiéis batizados sao chamados á santidade, como

244
"NO INÍCIO DO NOVO MILENIO"

realcou a Constituicáo Lumen Gentium, cap. V do Concilio do Vaticano


II. "Perguntar a um catecúmeno: 'Queres receber o Batismo?' significa,
ao mesmo tempo, perguntar-lhe: 'Queres fazer-te santo?'. Significa colo
car em sua estrada o radicalismo do sermáo da montanha: 'Sede perfei-
tos como vosso Pai celeste é perfeito' (Mt 5, 48)" (§ 31).

"É claro que os itinerarios da santidade sáopessoais e exigem urna


verdadeira pedagogía da santidade" (ibd.).

b) A Oracáo. "Para esta pedagogía da santídade, necessíta-se de


um Cristianismo que se destaque principalmente pela arte da oracáo...
É necessário aprender a rezar, voltar sempre de novo a conhecer esta
arte dos próprios labios do Divino Mestre, como os primeíros discípulos:
'Senhor, ensina-nos a orar' (Le 11,1). Obra do Espirito Santo em nos, a
oracáo abre-nos, por Cristo e em Cristo, á contemplacáo do rosto do Pai"
(§32).

"Nossas comunidades, amados irmáos e irmás, devem tornarse


auténticas escolas de oragáo, onde o encontró com Cristo se exprima
nao apenas em pedidos de ajuda, mas também em agáo de gragas, lou-
vor, adoragáo, contemplagáo, escuta, afetos de alma, até se chegara um
coragáo verdadeiramente apaixonado" (§ 33).

c) a Eucaristía dominical. "Desejo insistir, na linha do que disse


na Carta Apostólica Dies Domini, em que a participacáo na Eucaristía
seja verdadeiramente, para cada batizado, o coracáo do domingo: um
compromisso irrenunciável, assumido nao só para obedecer a um pre-
ceito, mas como necessidade para urna vida crista realmente consciente
e coerente... Mediante a participacáo eucarística, o dia do Senhor torna
se também o dia da Igreja, que poderá assim desempenhar de modo
eficaz a sua missao de sacramento da unidade" (§ 36).

d) O sacramento da Reconciliacáo. Importa redescobrir o rosto


de Cristo por meio deste sacramento, que constituí, para um cristao, a via
ordinaria para obter o perdáo e a remissáo de seus pecados graves co
metidos após o Batismo" (§ 37). O Papa reconhece que tal sacramento
tem estado em crise; mas adverte:

"Nao devemos render-nos, queridos irmáos no sacerdocio, diante


de crises temporáneas! Os dons do Senhor -eos sacramentos contam-
se entre os mais preciosos - vém daquele que conhece bem o coragáo
do homem eéo Senhor da historia" (§ 37).

e) O primado da graca. "Há urna tentacáo que sempre insidia todo


caminho espiritual e também a acáo pastoral: pensar que os resultados
dependem da nossa capacidade de agir e programar. E certo que Deus
nos pede urna colaboracáo real com a sua graca... mas ai de nos se
esquecermos que 'sem Cristo nada podemos fazer' (cf. Jo 15, 5)... É a

245
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 469/2001

oracáo que nos faz viver nessa verdade. Ela nos recorda constantemen
te o primado de Cristo e, relativo a ele, o primado da vida interior e da
santidade. Quando nao se respeita esse primado, é de se admirar se os
projetos pastarais fracassam e deixam na alma um sentido deprimente
de frustracáo?... Neste inicio de milenio, seja permitido ao sucessor de
Pedro convidar toda a Igreja a este ato de fé, que se exprime num reno
vado compromisso de ora^áo" (§ 38).

f) Escuta da Palavra. "Sem dúvida, este primado da santidade e


da oracáo só é concebível a partir de uma renovada escuta da Palavra de
Deus... É preciso, amados irmáos e irmás, consolidar e aprofundar essa
linha, inclusive com a difusáo do livro da Biblia ñas familias. De modo
particular, é necessário que a escuta da Palavra se torne um encontró
vital segundo a antiga e sempre válida tradicáo da lectio divina; esta
permite ler o texto bíblico como Palavra viva, que interpela, orienta e
plasma a existencia" (§ 39).

g) Anuncio da Palavra. "Ao longo destes anos, muitas vezes repe-


ti o apelo á nova evangelizacáo; e fago-o agora uma vez mais para incul
car sobretudo que é preciso reacender em nos o zelo das origens, dei-
xando-nos invadir pelo ardor da pregacáo apostólica que se seguiu a
Pentecostés...

Essa paixao nao deixará de suscitar na Igreja uma nova


missionaridade, que nao poderá ser delegada a um grupo de especialis
tas, mas deverá estender-se a todos os membros do povo de Deus" (§ 40).
O Papa lembra ainda aos missionários (que sao todos os fiéis) o
testemunho dos mártires, cujo sangue é sementé de novos cristaos, con
forme Tertuliano (t 220 aproximadamente). "Resta-nos seguir, com a graca
de Deus, as suas pegadas" (§ 41).
IV. Testemunhas do Amor

O quarto capítulo da Carta Apostólica propóe normas concretas de


a^áo apostólica, insistindo especialmente em comunháo e diálogo.
"Fazer da Igreja a casa e a escola da comunháo, eis o grande de
safio que nos espera no milenio que comega, se quisermos ser fiéis ao de
signio de Deus e corresponder as expectativas mais profundas do mundo.
Que significa isso em concreto?... Antes de programar iniciativas
concretas, é preciso promover uma espiritualidade de comunháo... Espi-
ritualidade de comunháo significa, em prímeiro lugar, ter o olhar do cora-
gao voltado para o misterio da Trindade, que habita em nos e cuja luz
deve serpercebida também no rosto dos irmáos que estáo ao nosso re
dor... Significa também a capacidade de sentir o irmáo de fé na unidade
profunda do Corpo Místico, isto é, como 'alguém que faz parte de mim',

246
"NO INÍCIO DO NOVO MILENIO"

para saberpartilhar suas alegrías e seus sofrimentos... É aínda a capad-


dade de ver, ácima de tudo, o que há de positivo no outro,... é saber criar
espago para o irmáo, rejeitando as tentagoes egoístas que sempre nos
insidian) e geram competigáo, suspeitas, arrivismo, ciúmes" (§ 43).

A respeito do diálogo diz o Papa:

"Apresenta-se também o grande desafio do diálogo inter-religio-


so... Este nao pode ser fundado sobre a indiferenga religiosa... Nao de-
vemos recear que possa constituir ofensa a identidade de outrem aquilo
que é, inversamente, anuncio jubiloso de um dom que se destina a todos
e, por conseguinte, deve ser proposto a todos com o maior respeito á
liberdade de cada um: o dom da revelagáo do Deus-amor, que 'de tal
modo amou o mundo que Ihe enviouseu Filho único' (Jo 3,16)". (§§ 55 e 56).

O Papa fala aínda dos desafios que o mundo atual propóe á Igreja
e que exigem resposta eficiente nao so dos clérigos, mas também dos lei-
gos cristáos, cuja vocagáo se desenvolve ñas estruturas da sociedade civil:

"E como ficar indiferentes diante das perspectivas de um


desequilibrio ecológico, que torna inabitáveis e hostis ao homem vastas
áreas do planeta? Ou em face dos problemas da paz, freqüentemente
ameagada com o pesadelo de guerras catastróficas? Ou diante do vili
pendio dos direitos humanos fundamentáis de tantas pessoas, especial
mente das criangas? Muitas sao as urgencias as quais o espirito cristáo
nao pode fica insensivel.

Um esforgo especial deve ser posto em alguns aspectos da


radicalidade evangélica que freqüentemente sao menos compreendidos,
chegando a tornar impopular a intervengáo da Igreja, mas que nao po-
dem estar ausentes da agenda eclesial da caridade. Refiro-me á obriga-
gáo de se empenhar pelo respeito a vida de cada ser humano, desde a
concepgáo até seu ocaso natural. De modo igual, o servigo ao homem
obriga-nos a gritar, oportuna e inoportunamente, para todos os que lan-
gam máo das novas potencialidades da ciencia, principalmente no ámbi
to das biotecnologías, a fim de que nao descurem as exigencias funda
mentáis da ética, fazendo apelo a uma discutível solidariedade que aca
ba por discriminar vidas entre si, com desprezo pela dignidade própria de
cada ser humano.

Para a eficacia do testemunho cristáo, especialmente nestes ámbi


tos delicados e controversos, é importante fazer um grande esforgo para
explicar adequadamente os motivos da posigáo da Igreja, sublinhando
sobretudo que nao se trata de imporaos náo-crentes uma perspectiva de
fé, mas de interpretar e defender valores radicados na própria natureza
do ser humano. A caridade tomará, entáo, necessariamente a forma de
servigo á cultura, á política, á economía, á familia, para que em toda parte

247
8 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 469/2001

sejam respeitados os principios fundamentáis de que depende o destino


do ser humano e o futuro da civilizagao" (§ 51).

"Tudo isso deve ser naturalmente realizado com um estilo específi


camente cristáo; compete sobretudo aos leigos, no cumprimento da vo-
cacáo que Ihes é própria, fazerem-se presentes nessas tarefas sem nun
ca ceder á tentacáo de reduzir as comunidades cristas a agencias soci-
ais. De modo particular, o relacionamento com a sociedade civil deverá
verificar-se no respeito de sua autonomía e competencia, segundo os
ensinamentos propostos pela doutrina social da Igreja.

É conhecido o esforco que o Magisterio eclesial tem realizado, so


bretudo no século XX, para ler a realidade social á luz do Evangelho e
oferecer de forma cada vez mais concreta e orgánica seu contributo para
a solucáo da questao social, ampliada hoje á escala planetaria" (§ 52).

Muito importante é a observagáo de que a defesa da vida e o res


peito ao ser humano em qualquer dos seus estágios de desenvolvimento
nao dependem da fé crista, mas decorrem dos principios éticos que todo
homem traz naturalmente em si.

Por fim, Joáo Paulo II recomenda fidelidade ao Concilio do Vatica


no II. "Á medida que os anos passam aqueles textos nao perdem seu
valor nem sua beleza... Concluido o Jubileu, sinto ainda mais intensa
mente o dever de indicar o Concilio como a grande graca de que se
beneficiou a Igreja no século XX; nele se encontra urna bússola segura
para nos orientar no caminho do século que se inicia" (§ 57).

Conclusáo: Duc in altum!

O Papa termina sua Carta com um forte incentivo á tarefa apostó


lica que aguarda a Igreja no terceiro milenio:

"Amados irmáos e irmás! O símbolo da Porta Santa fechase atrás


de nos, mas para deixarmais escancarada ainda a porta viva que é Cris
to. Depois do entusiasmo jubilar, nao é a urna vida cotidiana cimenta que
regressamos. Ao contrario, se nossa peregrinagáo foi auténtica, terá como
que desenferrujado nossas pernas para o caminho que nos espera. De-
vemos imitar o entusiasmo do apostólo Paulo: 'Lango-me para o que está
adiante. Lango-me em diregáo á meta para conquistar o premio que, do
alto, Deus me chama a receber em Cristo Jesús' (Fl 3, 13s)" (§ 59).

A última frase da Carta chamou a atencáo dos comentadores: "En


vió a todos, do fundo do coracáo, minha Béncáo" (§ 59). "Do fundo do
coracáo" é expressáo inédita nos documentos papáis e bem revela o
empenho com que o Santo Padre quis escrever esse descortínio de hori
zontes, realmente denso e belo. Como dito, chama a atencáo pelo prima
do repetidamente atribuido a oracáo como alimento do apostolado.

248
Conciliam-se entre si?

OS DINOSSAUROS E A BÍBLIA

Em síntese: A existencia dos dinossauros, de que fala a


paleontología, nao faz confuto com a mensagem do texto bíblico do
Génesis. Este nao tenciona descrever a ordem ou o modo como apare-
ceram as criaturas; nao entra em questóes de ordem científica ou
paleontológica, mas quer afirmar que o mundo, como querque tenha tído
origem, deve sua existencia a Deus Criador. Deus é bom e fez boas to
das as criaturas; confiou-as ao casal humano, para que, como imagem e
semelhanga de Deus, leve a termo a obra divina, fazendo que todas as
criaturas contribuam para a gloria do Criador mediante o sacerdocio do
homem.
* * *

A Redacáo de PR recebeu a seguinte mensagem:

"Um dos poucos programas a que tenho coragem de assistir na


Rede Globo de televisáo é o Fantástico, até porque acho que um crístáo
nao pode ficar por fora das coisas que estáo acontecendo no mundo.
Urna coisa tem-me deixado intrigado no quadro 'Os dinossauros', exibido
no Fantástico. É lógico que nada sei, nada saberei e nada taivez saiba
sobre muitas coisas, pois existem coisas que jamáis entenderemos.

Mas a pergunta é a seguinte: 'O que a Igreja fala sobre a existencia


dos dinossauros? O senhornáo acha que acreditarnos dinossauros é ter
que desacreditar na Sagrada Escritura?'Acho muito estranho o livro do
Génesis dizer que Deus fez tudo em sete dias, e que no sétimo descan-
sou, e colocou o homem ácima de todas as criaturas.

Como pode ter existido urna erajurássica em que os animáis domi-


naram a térra? isso nao seria contrarío as narrativas do hagiógrafo?"

Para mais aginar o problema, seja transcrita urna noticia de O


GLOBO de 23/2/01, p. 30:

"Desde que se formou, há cerca de 4,6 bilhóes de anos, a Térra


sofreu periódicas extingoes em massa. Há 250 milhóes de anos (quando
a parte emersa da Térra formava apenas um continente, a Pangéia), um
acontecimento imprevisto como a queda de um asteroide poderia ter ex
tinguido varías formas de vida primitivas (como reptéis, insetos e
moluscos). E, mais tarde, favorecido o aparecimento e a adaptacáo de
novas especies como plantas e dinossauros, que ocuparam o planeta

249
10 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 469/2001

durante os períodos triássico, jurássico e cretáceo (entre 250 milhóes e


66 milhóes de anos atrás)".

Passemos á elucidacio da questáo.

EM RESPOSTA

1. Preliminares

Convém, antes do mais, esclarecer os termos em pauta.

Dinossauros eram animáis da classe dos reptéis, superordem dos


Arcossauros. Viveram do período triássico ao cretáceo. O seu tamanho
variava entre um pouco mais do que urna galinha até os tipos gigantes
cos, como foi, por exemplo, o diplodoco, com 27m de comprimento e
cerca de 30 toneladas de peso.

A era mesozoica é urna das divisSes do tempo geológico, situada


entre o paleozoico e o cenozoico. Abrange tres grandes períodos: o
triássico, o jurássico e o cretáceo. Durou cerca de 160 milhóes de anos,
estendendo-se de 225 a 65 milhóes de anos atrás. Conhecida como a
era dos reptéis, foi a época em que dominaram os grandes saurios e
surgiram os mamíferos e as aves.

Todo este aparato científico nao entra em confuto com o texto bíbli
co, pois este nao pretende oferecer urna descricáo científica da origem
das criaturas, mas tem em vista propor o sentido religioso das mesmas
ou o valor que elas tém perante Deus e o homem. Com outras palavras:
a Escritura nao quer ensinar como vai o céu, mas como se vai para o céu.

Faz-se necessário, portanto, examinar de perto o texto bíblico que


propóe a criacao do mundo e do homem em seis dias (Gn 1, 1-2, 4a),
colocando-o, antes do mais, em seu contexto, que é chamado "a pré-
história bíblica". A pré-história bíblica (Gn 1-11) nao se identifica com a
pré-história universal, que vai até 8000 a.C. aproximadamente; ela com-
preende episodios de importancia capital que antecederam a vocagáo do
Patriarca Abraáo, em 1850 a.C. aproximadamente. É somente com A-
braáo, em Gn 12, que comeca a historia bíblica propriamente dita.

Consideremos pois

2. A pré-história bíblica

A seccáo de Gn 1-11 chama-se "pré-história bíblica" porque se re


fere a acontecimentos anteriores á historia bíblica, que comecou com o
Patriarca Abraáo (séc. XIX ou 1850 a.C). Por conseguinte, a pré-história
bíblica nao coincide com a pré-história universal, que vai desde tempos
¡memoriais até o aparecimento da escrita (8000 a.C.?).

250
OS DINOSSAUROS E A BÍBLIA

O género literario dessa seccáo é o da historia religiosa da huma-


nidade primitiva. O autor sagrado nao intencionou propor teses de cienci
as naturais, mas quis apresentar, em linguagem simbolista, alguns fatos
importantes que constituem o fundo de cena e a justificativa da vocacáo
de Abraáo. Tais seriam:

1) a criacáo do mundo bom por parte de Deus, a elevacáo do ho-


mem á filiacáo divina e a violacáo dessa ordem inicial pelo pecado (Gn 1,
1 -o, ¿4),

2) o fraticídio de Caim, conseqüéncia do fato de que o homem aban-


donou a Deus; perdeu também o amor ao seu semelhante (Gn 4, 1-16);
3) a linhagem dos cainitas, que mostra o alastramento do pecado
(Gn 4, 17-24);

4) a linhagem dos setitas ou dos homens retos (Gn 5, 1-32);


5) o diluvio, provocado pela propagacáo do pecado (Gn 6,1-9,28);
6) a tabela dos setenta povos (Gn 10, 1-32);
7) a torre de Babel, nova expressáo do pecado (Gn 11,1-9);
8) as linhagens dos semitas (Gn 11, 10-26) e dos teraquitas ou
descendentes de Terá (11, 27-32), que fazem a ponte até o Patriarca
Abraáo.

Em síntese:

O mundo, criado bom, —^ Fratricidio ^ Genealogías ^ Diluvio


é violado pelo pecado (4,1-16) (4,17-5 32) (6-9)
(Gn1-3) '

—»- Tabela —>- Babel —=_ Genealogías


00) (11,1-9) (11,10-32)

Desta maneira, o autor mostra que Deus fez o mundo bom e convi-
dou o homem para o consorcio da sua vida (ordem sobrenatural). Toda
vía o homem disse Nao. Deus houve por bem reafirmar seu designio de
bondade, prometendo restaurar, mediante o Messias, a amizade violada
pelo pecado {Gn 3,15). Este foi-se alastrando cada vez mais, como ates-
tam os episodios de Caim e Abel, do diluvio e da torre de Babel. Entáo,
para realizar seu intento de reconciliacáo do homem com Deus, o Cria
dor quis chamar Abraáo para constituir a linhagem portadora da fé e da
esperanca messiánicas. Assim chegamos a Gn 12 (a vocacáo de Abraáo).
Passemos agora á consideracáo do bloco inicial dito hexaémeron
ou "obra dos seis dias".

251
12 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 469/2001

3. O hexaémeron (Gn 1,1-2,4a)1

O conjunto Gn 1-3 nao é unitario, mas consta de duas narracoes:


Gn 1,1-2, 4a, a obra dos seis días (hexaémeron, em grego), da fonte P
(século V a.C), e Gn 2,4b-3, 24, da fonte J (séc. X a.C.)2. Isto se deduz
do estilo e do vocabulario próprios de cada urna dessas seccóes como
também do fato seguinte: em Gn 2, 1-4a o mundo está terminado, o ho-
mem e a mulher foram criados; todavía, em Gn 2, 4b.5, o autor sagrado
afirma que nao havia arbusto, nem erva, nem chuva, nem homem, e nar
ra a criacáo do homem a partir do barro como se ignorasse a criacáo já
narrada em Gn 1, 27.

Se, pois, há duas pecas literarias justapostas em Gn 1, 1-3, 24, é


preciso estudar cada urna de per si, pois cada qual tem sua mentalidade
e sua mensagem próprias. Comecemos pelo hexaémeron (Gn 1,1-2, 4a).
Para poder depreender a mensagem deste trecho bíblico, precisa
mos, antes do mais, de observar a sua forma literaria.
Ora verifica-se que tal peca apresenta um cunho fortemente artifi
cioso: após a ¡ntroducáo {1, 1s), o autor descreve urna semana de seis
dias de trabalho e um de repouso; os dias de trabalho poderiam dispor-
se em duas series paralelas, das quais a primeira trata da criacáo das
regioes do mundo e a segunda aborda a povoagáo dessas regioes, como
se vé abaixo:

luz
4°dia
1°dia e

t re vas

1,3-5 1, 14-19

aguas peixes

e 5°dia
2°dia e
firmamento voláteis

1,6-8 1, 20-23

continentes animáis

3°dia vegetacáo terrestres 6°dia


mares HOMEM

1,9-13 1, 24-31
repouso 7°dia

2, 1-4a

1 4a = a primeira parte do versículo 4; 4b = a segunda parte.


2 O Pentateuco (Gn, Ex, Lv, Nm, Dt) consta de quatro fontes ou é um aglomerado de
quatro documentos de épocas diversas, que se foram aglutinando: o J (avista), o E

252
OS DINOSSAUROS E A BÍBLIA 13

Notemos também que cada um dos dias da criacao é descrito se


gundo fórmulas que se repetem e que constituem estrofes de um hiño
litúrgico:

"Deusdisse... Ehouve... Eassimsefez... EDeuschamou... EDeus


viu que era bom... Deus fez... Deus abengoou... Houve tarde e manhá
dia".

A imagem do mundo pressuposta pelo autor é bem diferente da


nossa; haveria a regiáo dos ares, a das aguas e a da térra. Esta seria
urna mesa plana, pousada sobre colunas; debaixo da térra haveria as
aguas, donde emergem as fontes, e também a regiáo dos morios ou o
cheol. A luz era concebida como algo independente do sol e das estre-
las, pois mesmo nos dias em que o sol nao brilha, temos luz (por isto a ■
luz é criada no 1o dia, ao passo que os astros no 4o dia). A vegetacáo
seria o tapete verde inerente á térra; por isto terá sido criada no 3o dia,
anteriormente ao sol. - Tais concepfóes podem parecer irrisorias ao lei-
tor moderno; notemos, porém, que elas nao sao objeto de afirmacáo da
parte do autor sagrado; o autor se refere a elas táo somente para propor
urna mensagem religiosa a respeito do mundo e do homem, sem tencio-
nar definir algum sistema de cosmología.

Pergunta-se, pois: qual a mensagem de Gn 1, 1-2, 4a?

4. A mensagem do hexaémeron

Tres sao as finalidades do texto em foco:

1) Antes do mais, o texto quer incutir a lei do repouso do sétimo


dia (sábado). Com efeito, imaginemos um grupo de sacerdotes rece-
bendo fiéis judeus para celebrarem o culto do sábado1; era obvio que
explicassem a esses fiéis o porqué daquela assembléia e do repouso do
sétimo dia. Conceberam entáo um hiño litúrgico, no qual Deus é apre-
sentado a trabalhar no quadro de seis dias úteis e a repousar no sétimo
dia; em vez de fabricar mesas ou cadeiras, como o homem, o Senhor
Deus terá fabricado o mundo. O importante, porém, é que nesse hiño
Deus observa o repouso do sétimo dia. Esse exemplo imaginario do Se
nhor seria a melhor recomendacáo da lei do sábado; o homem deveria,
pois, trabalhar em seis dias e no sétimo dia afastar-se do trabalho para,
no repouso, elevar mais detidamente o seu espirito a Deus. O exemplo"
divino é evocado em Ex 20,11. Deve-se notar, porém, que a lei do sába-

(lofsta), o D (euteronómico) eoS (acerdotal). Há segmentos do Pentateuco de caté


ter ¡avista, outros de caráter eloísta, outros de índole deuteronómica e outros de
tempera sacerdotal.
1 Sabemos que o hexaémeron é do Código S ou tem orígem em ambientes de sacer
dotes.

253
14 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 469/2001

do é anterior ao texto do hexaémeron (séc. V a.C); ela decorre do ritmo


natural da Lúa, muito importante para os trabajadores rurais (de sete
em sete dias a Lúa passa de nova para crescente, de crescente para
cheia...). Por conseguinte, Deus repousa poéticamente por causa do rit
mo da semana do homem, e nao vice-versa.

Alguns perguntaráo: o cristáo nao deveria entáo observar o sába


do assim incutido? - A propósito lembramos que a palavra sábado vem
de shabbath. A Biblia prescreve o repouso do sétimo dia (cf. Ex 20, 8-11)
sem definir qual deva ser o primeiro dia da semana. Ora os cristáos sa-
bem que Jesús ressuscitou no dia seguinte ao sétimo dia (sábado) dos
judeus; por isto comecaram a contar os dias da semana no segundo dia
(ou na segunda-feira) dos judeus para fazer o sétimo dia coincidir com o
dia da ressurreigáo de Jesús. Assim fazendo, os cristáos observam todo
sétimo dia (sábado); nao é a materialidade do nome sábado que impor
ta, mas é a observancia de todo sétimo dia; o domingo dos cristáos vem
a ser o sábado (sétimo e repouso) dos cristáos.

2) Os autores sagrados quiseram também relacionar o mundo


todo (como os hebreus o podiam conhecer) com Deus, mostrando
que tudo é criatura de Deus e, por conseguinte, nao há muitos deuses.
Com outras palavras, estas sao as verdades teológicas que o hexaémeron
nos transmite:

a) Deus é um só. Nao há, pois, astros sagrados (como os caldeus


da térra de Abraáo admitiam): Nem há bosques sagrados (como os
cananeus da nova térra de Abraáo professavam). Nem há animáis sa
grados (como os egipcios, entre os quais viveu Israel, professavam).

b) Deus é bom e, por isto, fez o mundo muito bom. Se há mal no


mundo, nao vem de Deus, mas do homem (como explica o relato de Gn
3). Os autores assim rejeitavam toda forma de dualismo ou de repudio á
materia como se fosse essencialmente má.

c) O mundo nao é eterno, mas foi criado por Deus e comecou a


existir. Afirmando isto, o texto sagrado nao tenciona dirimir a questáo
"fixismo ou evolucionismo?", mas apenas assevera que a materia e o
espirito tém origem por um ato criador de Deus; qualquer teoría científica
que admita isto, é aceitável aos olhos da fé.

d) O homem é o lugar-tenente (imagem e semelhan$a) de Deus,


nao por sua corporeidade (Deus nao tem corpo), mas por sua alma espi
ritual, dotada de inteligencia e vontade. Tenhamos em vista o relevo que
o autor dá á criacáo do homem: quebrando o esquema habitual, o texto
refere as palavras de Deus: "Facamos o homem á nossa imagem e se-
melhanca..." (Fagamos é um plural intensivo, que póe em relevo a gran-

254
OS DINOSSAUROS E A BÍBLIA 1!

deza do sujeito talante). Note-se, alias, que nao há origem diversa neste
texto, para o homem e para a mulher, mas ambos surgem simultánea
mente.

e) O casamento é abencoado por Deus, tornando-se urna insti


tuido natural, que nao depende dos deuses da fecundidade admitidos
tora do povo bíblico.

f) O trabalho do homem é continuacáo da obra de Deus; é san


to, qualquer que seja a sua modalidade, desde que executado em conso
nancia com o plano do Criador.

De maneira geral, pode-se dizer que toda a tendencia do


hexaémeron é apresentar o homem como mediador entre o mundo infe
rior e Deus; esse mediador exerce, por sua posicáo e sua atividade na
térra, um sacerdocio ou a missáo de fazer que todas as criaturas irracio-
nais, debidamente utilizadas pelo trabalho do homem, déem gloria ao
Criador. E o que o esquema abaixo ilustra:

DEUS

an. terrestres HM

6°dia

Deixes e voláteis

5°dia

astros

4°dia

térra

3°dia

aguas

2°dia

ares

1°dia

3) Pode-se também dizer que o autor sagrado, utilizando o es


quema 6 + 1=7, quer realcar a índole boa da obra de Deus. Sete é,
sim, um símbolo de perfeicáo conforme os antigos; essa índole é
enfatizada pelo fato de se por em evidencia a sétima unidade (há seis
dias de trabalho, homogéneos entre si, e um último, o sétimo de índole
diferente).

255
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS"469/2001

Estes¿-sinamentos, como se vé, nao pretendem dirimir questóes


de ciencias ñajurais. Podem parecer pobres aos olhos de quem procura
na Biblia urna resposta para indagacóes de astronomía, cosmología, ge
ología, botánica, zoología... Todavía, sao de enorme valor, pois nenhum
povo anteriora Cristo, fora Israel, chegou a táo sublime conceito de Deus
e de origem do mundo. O Deus da Biblia é o Senhor único que, com sua
onípoténcia, domina a natureza; por conseguirte, tudo produz a partir do
nada ou por sua vontade criadora. Alias, o verbo bará (= fez), ocorrente
em Gn 1 1 é sempre usado na Biblia para indicar a acáo prodigiosa e
singular de Deus; cf. Is 48, 7; 45, 18; Jr 31, 22; SI 50(51), 12; 103(104),
30...

Resta ainda observar que os dias do hexaémeron nao significam


eras ou períodos geológicos. No sáculo passado, quando as ciencias
naturais mostraram claramente que o mundo nao pode ter surgido em
seis dias de 24 horas, muitos autores julgaram que os dias de Gn 1 eram
períodos longos correspondentes aos da formacáo do globo terrestre (era
azoica, primaria, secundaria...). Assim a Biblia teria antecipadamente
descrito a origem do mundo, que só a ciencia do sáculo XIX conseguiu
averiguar! Tal atitude chama-se "concordismo", porque tenciona obter
concordia (ainda que toreada) entre a Biblia e as ciencias, como se vi-
sassem ao mesmo objetivo de narrar os fenómenos físicos da origem do
mundo. O concordismo é erróneo por causa deste seu pressuposto. O
autor sagrado nao tinha as preocupacóes de um dentista; nao quería
senáo oferecer um ensinamento religioso tal como acabamos de enunci
ar; por isto ele tinha em mira dias de 24 horas (nos quais houve tarde e
manhá, cf. 1, 5.8.13.19.23.31); em outras palavras: ele imaginou urna
semana como a nossa, mas urna semana que nunca existiu,... a semana
na qual Deus, como primeiro trabalhador, teria fabricado o mundo.
Á guisa de complemento, analisaremos, a seguir, o segundo relato
da criagáo ou o texto de Gn 2,4b-25.

CURSOS POR CORRESPONDENCIA


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256
Dilema?

CRIAQÁO OU EVOLUQÁO?

Em síntese: O segundo relato da criagáo do mundo e do homem


(Gn 2, 4b-3,24) póe em confronto o homem e a mulherpara afirmar que
compartilham a mesma natureza e tém a mesma dignidade. Críagáo e
evolugáo nao se opoem entre si, desde que se admita que Deus criou a
materia inicial, dando-lhe as leis de sua evolugáo, e cria até hoje toda
alma humana (que é espiritual).
* * *

A explanacáo do hexaémeron apresentada no artigo anterior exi


ge naturalmente um estudo do relato que Ihe é paralelo e se encontra em Gn
2,4b-25. Por conseguirte as páginas subseqüentes abordaráo o assunto.
1. O relato ¡avista e a origem do homem

Em Gn 2, 4b tem inicio outra narracáo referente ás origens, de


estilo mais primitivo que a anterior: recorre a muitos antropomorfismos
(Deus é oleiro, jardineiro, cirurgiáo, alfaiate, em vez de criar com a sua
palavra apenas, como em Gn 1,1-2, 4a); nao menciona nem o mar com
seus peixes nem os astros (o que revela horizontes limitados). Data do
século X a.C. (fonte javista, J). Essa descricáo comeca por notar que nao
havia arbusto, nem chuva nem homem, mas apenas urna fonte de agua,
que ocasionava a existencia de barro. Para compreender a intencao do
autor sagrado, examinemos, antes do mais, a dinámica do texto em pauta:

Muito estranhamente, Deus cria em primeiro lugar o homem (2, 7).


Depois planta um jardim ameno, onde o coloca (2, 8.15); verifica que o
homem está só {2, 18). Cria os animáis terrestres (2,19); mas o homem
continua só (2, 20). Entáo Deus cria a mulher e a apresenta ao homem,
que exclama: "Esta sim! É osso dos meus ossos e carne da minha car
ne!" (2, 23). Este curso de idéias poderia ser assim reproduzido:

HOMEM r"T7 .*.' .* .*.' .• .* .* ; ; ;; ; ; ; ; ; ; ; ; _u¿. MULHER

• plantas >- animáis


(o homem está só) (o homem está só)

Vé-se, pois, que o relato nao tem em mira descrever a


fenomenología ou o aspecto científico da origem das criaturas, mas, sim,

257
18 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 469/2001

visa a responder a urna pergunta: qual o relacionamento existente entre


o homem e a mulher? Qual o papel da mulher frente ao homem? - Estas
questóes de ordem filosófico-religiosa perpassam todo o relato. Para res-
ponder-lhes, o autor apresenta o homem (varáo) sozinho1; verifica duas ve-
zes que ele está só, porque nenhuma planta e nenhum animal se Ihe equi-
param; finalmente Deus tira materia do próprio homem para com ela formar
a mulher; assim se justifica a exclamacáo: "Esta sim! É da mlnha dignidade!"
Desta forma, o texto sagrado nos diz que a mulher nao é inferior ao homem,
mas compartilha a natureza do homem; é o vis-á-v¡s do homem. Esta afir-
macáo é de enorme valor: já no século X a.C. a S. Escritura propunha urna
verdade que muitos povos hoje nao conseguem reconhecer e viver.
2. Evolucionismo e Criacionismo

O autor sagrado apresenta origem distinta para o homem e para a


mulher. Analisemos um e outro caso.

1. Origem do homem. Será que o texto de Gn 2,7 quer dizer algo


sobre o modo como apareceu o homem na face da térra?
Respondemos negativamente. O autor sagrado utilizou a imagem
do Deus-Oleiro, que era assaz freqüente ñas tradicóes dos povos anti-
gos. Com efeito; no poema babilónico de Gilgamesh conta-se que, para
criar Enkidu, a deusa Aruru "plasmou argila". Na lenda assiro-babilónica
de Ea e Atar-hasis, a deusa Miami, intencionando criar sete homens e
sete muiheres, fez quatorze blocos de argiia; com estes, suas auxiliares
plasmaram quatorze corpos; a deusa rematou-os, imprimindo-lhes tra
gos de individuos humanos e configurando-os á sua própria imagem.
No Egito um baixo-relevo em Deir-el-Bahar¡ e outro em Luxor apre-
sentam o deus Cnum modelando sobre a roda de oleiro os corpos res
pectivamente da rainha Hatshepsout e do Faraó Amenofis III; as deusas
colocavam sob o nariz de tais bonecos o sinal hieroglífico da vida ank,
para que a respirassem e se tornassem seres vivos.
Entre os Maoris da Nova Zelandia, conta-se o seguinte episodio:
um certo deus, conhecido pelos nomes de Tu, Tiki e Tañé, tomou argila
vermelha á margem de um rio, plasmou-a, misturando-lhe o seu próprio
sangue, e déla fez urna copia exata da Divindade; depois, animou-a so-
prando-lhe na boca e ñas narinas; ela entáo nasceu para a vida e espir-
rou. O homem plasmado pelo criador Maori parecia-se tanto com este
que mereceu por ele ser chamado Tiki-Ahua, isto é, imagem de Tiki.
Compreende-se, pois, que o tema do Deus-Oleiro, ocorrente tam-
bém na Biblia, nao passa de metáfora. Quer dizer que, como o oleiro

1 É ceño que o homem nao pode viver sem vegetagao e animáis. Todavía sabemos
que o autor nao escreve urna página de ciencias naturais.

258
CRIAQÁO OU EVOLUCÁO? 19

está para o barro, assim Deus está para o homem. E como é que está o
oleiro para o barro? - Numa atitude de sabedoria, carinho, maestría, pro
videncia... Assim também Deus está para o homem, qualquer que tenha
sido a modalidade de origem do ser humano. Nao se queira extrair desta
passagem alguma licao de teor científico.

2. Origem da mulher. Que significa a costela extraída de Adáo


para dar origem á mulher? - Nao implica que esta tenha tido principio
diferente do homem. O tema da costela há de ser entendido a partir das
palavras fináis de Adáo: "Esta é osso dos meus ossos e carne da minha
carne" (Gn 2, 23); tal afirmacáo é metafórica e significa: a mulher é da
natureza ou da dignidade do próprio homem, em oposicáo aos demais
seres (embora cercado destes, o autor enfatiza que o homem estava só).
Ora, para preparar e justificar esta assercao a respeito da dignidade da
mulher, o autor descreve o próprio Deus a tirar carne e osso (urna coste-
la) do homem a fim de formar o corpo da mulher; a "extracao" da costela e a
formacáo da mulher, no caso, nao tém sentido literal, mas vém a ser a ma-
neira "plástica" de afirmar a igualdade de natureza do homem e da mulher.
É á luz desta verdade que se deve entender também o desfile de
animáis perante o homem e a imposicáo de nome a cada um deles (2,
19s). "Impor o nome", para os antigos, significa "reconhecer a esséncia!
a identidade do ser nomeado". O autor sagrado imagina Adáo a impor
nomes aos animáis para poder enfatizar de modo muito concreto que
nenhum animal era adequado ao homem; notemos que, antes e depois
do "desfile", o texto verifica que o homem estava só (2,18.20). Devemos,
pois, concluir que tal cena nao tem sentido literal, mas visa apenas a
fazer o contraste entre o homem e os animáis inferiores e assim preparar
o surto da mulher "feita da costela" ou participante da dignidade do homem.
Nao se deve, pois, na base do texto bíblico, atribuir á mulher ori
gem diversa da que tocou ao homem.

3. Resta, entáo, indagar: que diz o texto sagrado sobre a maneira


como apareceu o ser humano?

A Biblia nao foi escrita para dirimir o dilema "criacáo ou evolucáo?".


Todavía, a partir de premissas filosóficas e teológicas, é preciso dizer
que o dilema nao existe. Vejamo-lo por partes.

Quanto ao homem, a pergunta é colocada popularmente nestes


termos: "Vem do macaco ou nao?" - Responderemos distinguido entre
corpo e alma do homem. O corpo, sendo materia, pode provir de materia
viva preexistente; nao proviria dos macacos hoje existentes, pois estes já
sao muito especializados e nao evoluem mais; proviria, porém, do primata
ou do ancestral dos macacos e do corpo humano. A alma, contudo, nao
teria origem por evolucáo, mas por criacáo direta de Deus; sendo espiri-

259
20 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 469/2001

tual, ela nao provém da materia em evolucáo (o espirito nao é energía


quantitativa nem fluido nem éter; por isto nao pode originar-se da mate
ria). Assim se conciliam criacáo e evolucáo no aparecimento do homem:
pode-se admitir que, quando o corpo do primata estava suficientemente
evoluído ou organizado, Deus Ihe infundiu a alma espiritual, diretamente
criada para dar-lhe a vida de ser humano. Isto terá ocorrido tanto no surto
do homem como no da mulher.

Considerando agora o universo, podemos dizer que a materia ini


cial, caótica (nebulosa), donde terá procedido a evolucáo, foi criada dire
tamente por Deus (nao é materia eterna). Deus ihe haverá dado as Ieis
de sua evolucáo de modo que déla tiveram origem os minerais, os vege
táis e os animáis irracionais até o limiar do homem. Quando o Senhor
Deus quis que este aparecesse na face da térra, realizou outro ato cria
dor, infundindo a alma espiritual no organismo do primata evoluído. E o
que se pode reproduzir no seguinte esquema:

Ato criador Evolucáo Ato criador

I y

alma espiritual
Materia inicial —>■ minerais —> vegetáis —> animáis—> organismo aperfeicoado
(nebulosa) ¡rracionais I

HM

No tocante á origem da vida, é preciso distinguir vida vegetativa,


vida sensitiva e vida intelectiva. As duas primeiras modalidades depen-
dem de um principio vital material, que bem pode ter sido eduzido da
materia em evolucáo. Ao contrario, a vida intelectiva depende de um prin
cipio vital (alma) espiritual, que só pode provir de um ato criador de Deus.
3. Monogenismo ou poligenismo?

Pergunta-se: quantos individuos houve na origem do género hu


mano atual? É costume responder: um homem (Adáo) e urna mulher
(Eva). Esta afirmacáo pode ser licitamente repensada em nossos dias.

A ciencia reconhece tres hipóteses referentes ao número de indivi


duos primitivos:

Polifiletismo: muitos troncos ou bercos do género humano (na Asia,


na África, na Europa...).

Monofüetismo í P°»gen¡smo: um só berco com muitos casáis;


(um só tronco) 1 monogenismo: um só berco com um casal só.

260
CRIAQÁO OU EVOLUgÁO?

Ora a primeira hipótese (polifiletismo) contraria á fé e as probabili


dades científicas. Nao se diga que o género humano apareceu sobre a
térra em localidades diversas simultáneamente.

O monofiletismo monogenético (um casal só) é a clássica tese,


aparentemente deduzida da Biblia. Todavía verifica-se, após leitura aten
ta do texto sagrado, que nao é a única hipótese conciliável com a fé. O
poligenismo nao se opóe a esta. E por qué?

A palavra hebraica Adam significa homem; nao é nome próprio,


mas substantivo comum. Por conseguinte, quando o autor sagrado diz
que Deus fez Adam, quer dizer que fez o homem, o ser humano, sem
tencionar especificar o número de individuos (um, dois ou mais...). Muito
significativo é o texto de Gn 1, 27: "Deus criou o homem (Adam) á sua
imagem; á imagem de Deus Ele o criou; homem e mulher Ele os criou".
Neste versículo verifica-se que a palavra Adam nao designa um indivi
duo, mas a especie humana diversificada em homem e mulher. - O nome
"Eva" também nao é nome próprio, mas significa em hebraico "máe dos
vivos" (Gn 3, 20). Fica, pois, aberta ao fiel católico a possibilidade de
admitir mais de um casal na origem do género humano. O que importa,
em qualquer hipótese, é afirmar que os primeiros pais {dois ou mais)
foram elevados á filiacáo divina (justica original) e que, submetidos a
uma prova, nao se mantiveram no estado de amizade com Deus (come-
teram o pecado original). - Seria falso, porém, dizer que Adáo e Eva
nunca existiram ou que sao fábula ou alegoría: sao táo reais quanto o
género humano é real; o texto sagrado nos diz que Deus tratou com o ho
mem ñas suas origens,... com o homem real, e nao com um ser ficticio. E a
historia referente aos primeiros pais é historia real, embora narrada em lín-
guagem figurada (serpente, árvore, fruta...). - De resto, é inútil insistir sobre
a questáo "poligenismo ou monogenismo?", poís nao há criterios científicos
para dirími-la (a ciencia até hoje nao tocou a estaca zero do género huma
no); apenas ¡nteressa notar que a hipótese poligenista nao contraria á fé.

A origem das racas nao exige o polifiletismo. Com efeito: o concei-


to de "raca" é assaz flexível; raca resulta de um conjunto de determina
dos elementos do ser humano (cor da pele, forma dos olhos, tipo de
cábelo...). Todavia a mesclagem desses elementos é táo variegada so
bre a face da térra que há uma gama continua de tipos entre o individuo
branco, o negro, o amarelo... Em conseqüéncia, a origem desses tipos
raciais pode explicar-se a partir de um só principio: devem-se nao so-
mente ás diversas condicóes de clima, alimentacao, trabalho... das po-
pulacóes, mas também ao fenómeno do mutacionismo (mudancas brus
cas em individuos raros, que se transmitem estavelmente).

Sao estes alguns comentarios que o texto de Gn sugere ao estudi


oso contemporáneo.

261
"O que o olho nao viu..."

"O GRAO DE TRIGO"


por Antonio Mesquita Galváo

Em síntese: O autor disserta sobre os acontecimentos fináis da


vida humana na térra e o post-mortem. Revela erudigáo, mas é falho em
dois pontos sobre os quais o magisterio da Igreja já se manifestou: a
antropología (o autor nao aceita a separagáo de corpo e alma) e a ressur-
reigáo (o autor a admite logo após a morte, enquanto a Igreja, baseada
na Escritura, a professa relacionada com a parusia no fim dos tempos). O
Iivro é o eco de aulas dada pelo autor, de modo que é muito repetitivo e
nem sempre muito claro. A escatologia é assunto de fé; por conseguinte
nao pode ser explanada na base de premissas filosóficas que contrariem
as fontes da fé, ou seja, a Escritura e a Tradigáo apresentadas pelo ma
gisterio da Igreja.
* * *

O Prof. Antonio Mesquita Galváo é teólogo leigo, com especifica9áo


em Exegese Bíblica e Mestrado em Escatologia. Apresenta ao público o
livro "O Grao de Trigo"1, que contém o teor de cursos ministrados sobre'
os novíssimos ou os acontecimentos fináis; reproduzindo o estilo de ex-
planacáo oral em sala de aula, a obra é muito repetitiva, pouco sistemá
tica, o que a torna cansativa ao leitor. Quanto ao conteúdo, é inegável a
erudicao do autor; contudo na área em pauta é mal aplicada, pois se
afasta da doutrina oficial da Igreja, cedendo a urna corrente de pensa-
mento abracada por Leonardo Boff, Renold J. Blank...

Examinemos os principáis pontos que o livro oferece á nossa refle-


xao.

1. A criteriologia da fé

Logo na sua Introducáo (p. 12) escreve o autor:

"É importante deixar claro que, em teología, nada é definitivo. Tudo


está ligado ao espirito e a interpretagáo de cada época".

O relativismo assim expresso é falho. Nao há dúvida, a Teología


comporta diversas escolas (a tomista, a molinista, a suareziana, a
escotista...) quando se trata de questóes discutíveis. Mas, ao lado disto,
a Teología chega a conclusóes que podem ser vinculantes ou de fé. Te-
nha-se em vista a temática do Filioque, elaborada de tal modo que afir-

1 Ed. Ave-María, Sao Paulo. 2000. 140 x 210 mm, 293 pp.

262
"O GRAO DE TRIGO" 23

ma a processáo do Espirito Santo a partir do Pai e do Filho (Filioque);


esta conclusáo foi declarada pelo magisterio da Igreja como pertencente
ao depósito da fé, pois, se o Espirito nao procede do Filho, nao se distin
gue do Filho.

Baseado em tal premissa, Antonio Galváo subestima urna Decla-


racáo oficial da Congregacao para a Doutrina da Fé, como sendo teolo
gía. Assim formula um artificio para se afastar do magisterio da Igreja
quando este afirma (contrariamente ao que Galváo pensa) que a ressur-
reícáo da carne se dará no fim dos tempos. Cf. p. 222. Como se verá
adiante, a posicáo do magisterio da Igreja é fundamentada sobre a Es
critura e a Tradicáo; nao pode ser menosprezada por um bom teólogo, de
mais a mais que, para menosprezá-la, o Prof. Galváo realiza malabaris-
mos na ¡nterpretacáo da Escritura.

A Teología é o aprofundamento da doutrina de fé tal como vem


professada pelo magisterio da Igreja e nao como é proposta por urna
corrente de pensadores dissidentes desse magisterio. Na filosofía o ar
gumento de autoridade nao tem grande valor; ele o tem, porém, na Teo
logía, que parte nao de premíssas racionáis, mas do Depósito revelado-
cf. 1Tm 6, 20.

2. Antropología

O Prof. Galváo julga que a distincáo e a separabilidade de corpo e


alma sao teses platónicas dualistas nao cristáos. Eis o que escreve á p. 224:
"Se separarmos o corpo da alma, o ser perde sua identidade es-
sencial. Nos fomos criados corpo. Nao fomos criados para ser só alma.
Um corpo sem alma é um defunto; urna alma sem corpo é assombragao:
o ser só é ser com corpo e alma. O ser humano nao é composto (se fosse
composto, poderla serdecomposto=dualismo), mas unitario. Inseparável".
A propósito observemos o seguinte:

O ser humano é uno; a sua unidade resulta da uniáo de duas subs


tancias que se complementan! mutuamente: materia e forma (ou princi
pio vital). O principio vital (também chamado alma) do ser humano é
espiritual (pois realiza operacoes intelectivas, que transcendem a mate
ria); se é espiritual, é ¡mortal por si mesmo. Ora, quando o organismo
humano vivificado pela alma espiritual se acha desgastado pela doenca
ou pela idade, a alma, que é ¡mortal, se separa do corpo; ela subsiste por
si mesma, sem ser assombracáo (termo caricatural).

A distincáo entre corpo material e alma espiritual nada tem que ver
com dualismo platónico (pois Aristóteles a professa); implica, sim,
dualidade e nao dualismo. Eis a terminología exata:

263
24 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 469/2001

- dualismo: distincáo de dois seres postos em antagonismo (o


corpo seria mau por si e a alma espiritual seria boa por si ou ontologica-
mente). Tal posicáo maniquéia nao é crista. Para evitá-la, há quem pro-
fesse o

- monismo: identificacáo de corpo e alma entre si, de modo que


nao se poderia conceber a separacáo de corpo e alma. Tal posicáo tam-
bém nao é crista; veja-se a propósito o livro da Sabedoria (que propóe a
subsistencia da alma sem corpo após a morte do composto) como tam-
bémMUO, 28:

"Nao temáis aqueles que matam o corpo, mas nao podem matar a
alma. Temei antes aquele que pode destruirá alma e o corpo na geena".
A Tradicáo crista, na qual se encontram Santo Agostinho (t 430),
Sao Boaventura (t 1274), Sao Tomás de Aquino (t 1274) professou a
- dualidade: distincáo real entre dois principios nao antagónicos,
mas complementares entre si, como se dá no caso de homem e mulher.
Por conseguinte a doutrina católica professa nao o dualismo plató
nico nem o monismo, mas a dualidade - Corpo e alma sao duas realida
des distintas e separáveis entre si, mas complementares. O magisterio
da Igreja, mediante urna Declaracáo da Congregado para a Doutrina da
Fé, o reafirmou em 1979 precisamente para dissipar a nova tendencia
monista:

"Esta Sagrada Congregagáo, que tem a responsabilidade de pro


moveré de defenderá doutrina da fé, propóe-se hoje recordar aquilo que
a Igreja ensina, em nome de Cristo, especialmente quanto ao que sobre-
vém entre a morte do crístao e a ressurreigáo universal.

3) A Igreja afirma a sobrevivencia e a subsistencia, depois da mor


te, de um elemento espiritual, dotado de consciéncia e de vontade, de tal
modo que o eu humano subsista, aínda que sem corpo. Para designar
esse elemento, a Igreja emprega a palavra 'alma', consagrada pelo uso
que déla fazem a Sagrada Escritura e a Tradigáo. Sem ignorar que este
termo é tomado na Biblia em diversos significados, Elajulga, nao obstan
te, que nao existe qualquer razáo seria para o rejeitare considera mesmo
ser absolutamente indispensável um instrumento verbal para sustentara
fé dos cristáos".

3. Ressurreigáo na hora da morte?

Á pp. 203s o autor expóe repetidamente seu pensamento:

"Na verdade,... juízo, parusia, purgatorio e ressurreigáo ocorrem


dentro do mesmo processo de cognigáo e decisáo. Na morte o homem

264
"O GRAO DE TRIGO" 25

confronta sua vida com o projeto de Deus... A esse ato... podemos cha
mar de julgamento...

Na morte acontece o encontró com Cristo (a parusia), o julgamen


to, o purgatorio e a purificagáo radical.

"Na morte ocorre a parusia, o julgamento, ojuízo, o purgatorio e a


ressurreigáo".

Quanto á parusia, o autor assim a define:

"A parusia é a vinda de Cristo no fim dos tempos do homem, no fim


de sua vida, nao parajulgar, mas para ajudar na hora da decisáo...

Jesús aceña com sua misericordia até o momento em que o ho


mem toma sua decisáo... O homem é convidado a renunciara seuspeca
dos, aos desvíos de sua personalidade, as mazelas de seu genio, ao
excesso de amor próprio (e um mínimo de amor ao próximo), á idolatría
da opiniáo e da vontadeprópría, etc." (p. 215s).

O Prof. Galváo confessa:

"Só nao seise, diante de um apelo assim, alguém é táo obstinado


em dizer nao" (ibd.).

Como se vé, o Prof. Galváo, além de admitir parusia e ressurreicáo


na hora da morte, imagina que o Senhor Jesús procurará persuadir o
pecador na hora da morte para que se converta, e o fará quase irresisti-
velmente. - Esta sua afirmacáo é gratuita, pois nao encontra fundamento
nem na Escritura nem na Tradicáo. Para estas duas instancias, a parusia
é a manifestacáo pública do Senhor Jesús a toda a humanidade no fim
dos tempos, nao no fim da vida terrestre de cada individuo. Eis, por exem-
plo, o que se lé nos Evangelhos:

"Os discípulos, a parte, aproximaram-se de Jesús e perguntaram-


Ihe: 'Qual o sinal da tua vinda (tes ses parousías) e do fim do mundo?'"
(Mt24,3).

"Como o relámpago procede do Oriente e atinge o Ocidente, assim


será a vinda (he parousia) do Filho do homem" (Mt 24, 27).

"Veréis o Filho do homem assentar-se a direita de Deus todo-pode


roso e descer sobre as nuvens do céu" (Me 14, 61 s).

A tese do Prof. Galváo e da corrente que ele segué, está funda


mentada no pressuposto antropológico segundo o qual o ser humano é
um todo monolítico, que nao admite separacáo de alma e corpo; se as
sim é, quando alguém morre, morre por completo, sem sobrevivencia de
sua alma; conseqüentemente há de ressuscitar logo após a morte. Ora,
como dito, tal premissa antropológica é falsa; corpo e alma se distinguem

265
26 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 469/2001

e separam um do outro, de tal modo que a alma, ¡mortal por si mesma,


continua a viver lúcida e consciente até o fim dos tempos sem corpo; ela
aguarda assim a ressurreicáo da carne por ocasiáo da parusia e do juízo
final de toda a humanidade. A ausencia de corpo nao impede que a alma
humana, após a morte do composto, goze da sua sorte final (de modo
especial... goze da visáo de Deus face a face e se sinta plenamente sa-
tisfeita, pois quem vé a Deus sem véus nao pode sentir falta de criatura
alguma)...

A Escritura é muito explícita ao afirmar a ressurreicáo no fim dos


tempos, por ocasiáo da parusia ou da manifestacáo universal do Senhor
Jesús:

1Cor 15,22s: "Assim como todos morrem em Adáo, em Cristo to


dos receberáo a vida. Cada um, porém, em sua ordem: como primicias,
Cristo; depois aqueles que pertencem a Cristo, por ocasiáo da sua vinda
(parousía)".

1Ts 4,16s: "Quando o Senhor, ao sinal dado, á voz do arcanjo e ao


som da trombeta divina, descer do céu, entáo os morios em Cristo res-
suscitaráo primeiro; em seguida, nos, os vivos, que estivermos lá, sere
mos arrebatados com eles ñas nuvens para o encontró com o Senhor,
nos ares. E assim estaremos sempre com o Senhor".
A respeito a Igreja se pronunciou na citada Declarac.ao da Congre
gado para a Doutrina da Fé, na qual se lé:
«4) A Igreja excluí todas as formas de pensamento e de expressáo
que, se adotadas, tornariam absurdos ou ininteligíveis a sua oragáo, os
seus ritos fúnebres e o seu culto dos morios, realidades que, na sua
substancia, constituem lugares teológicos.
5) A Igreja, em conformidade com a Sagrada Escritura, espera 'a
gloriosa manifestagáo de nosso Senhor Jesús Cristo (cf. Constituigáo
Dei Verbum I, 4), que Ela considera como distinta e diferida em relagáo
áquela condigáo própria do homem ¡mediatamente depois da morte.
6) A Igreja, ao expora sua doutrina sobre a sorte do homem após a
morte, excluí qualquer explicagáo que tirasse o sentido á Assungáo de
Nossa Senhora naquilo que ela tem de único; ou seja, o fato de ser a
glorificagáo corporal da Virgem Santíssima urna antecipagáo da glorifica-
gao que está destinada a todos os outros eleitos.
7) A Igreja, em adesáo fiel ao Novo Testamento e á Tradigáo, acre
dita na felicidade dos justos que estaráo um dia com Cristo. Ao mesmo
tempo Ela eré numa pena que há de castigar para sempre o pecador que
foi privado da visáo de Deus, e aínda na repercussáo desta pena em todo
o ser do mesmo pecador. E, por fim, Ela eré existir para os eleitos urna

266
"O GRAO DE TRIGO" 27

eventual purificagáo previa á visáo de Deus, a qual no entanto é absolu


tamente diversa da pena dos condenados. É isto que a Igreja entende
quando Ela fala de Inferno e de Purgatorio.

Pelo que respeita á condigno do homem após a morte, há que pre


caverse particularmente contra o perigo de representagóes fundadas
apenas na imaginagáo e arbitrarias, porque o excesso das mesmas en
tra, em grande parte, ñas dificuldades que muitas vezes a fé crista encon-
tra. No entanto, as imagens de que se serve a Sagrada Escritura mere-
cem todo o respeito. Mas é preciso captar o seu sentido profundo, evitan
do o risco de as atenuar demasiadamente, o que equivale nao raro a
esvaziar da própria substancia as realidades que sao indicadas por tais
imagens".

Os itens 4 e 5 tencionam reafirmar que, ao sair do tempo, a alma


humana nao entra na eternidade. Eternidade significa, a rigor, vida sem
cometo e sem fim ou posse simultánea de toda a existencia do sujeito.
Ora só Deus é eterno. O ser humano, após a vida temporal, nao se torna
eterno; a sua existencia nao é avaliada pelos criterios da eternidade por
que a alma nao terá fim, mas teve comeco. A existencia humana, após
esta vida temporal, é aferida pelos criterios do evo, que se define clara
mente através do seguinte quadro:

Tempo:
implica existencia que tem comeco e fim;
mutabilidade no ser;
mutabilidade do agir.

Evo:
existencia que tem comeco, mas nao tem fim;
imutabilidade no ser;
mutabilidade no agir.

Eternidade:
existencia sem comeco e sem fim;
imutabilidade no ser;
imutabilidade no agir.

O evo é, pois, a existencia de quem nao muda seu ser, isto é, nao
conhece a deterioracáo de sua natureza ou nao experimenta a morte,
mas muda em seu agir, pois nao esgota as suas potencialidades num só
ato (exerce atos sucessivos de conhecimento e amor, que constituem a
trama do seu agir). Por isto o evo é também chamado 'lempo psicológico".
A eternidade nao conhece mutabilidade alguma, pois Deus nao
evolui e exerce toda a sua atividade num só ato, que é perfeito e cabal.

267
28 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 469/2001

O tempo implica mutabilidade no ser e no agir, pois tudo o que é


temporal comeca e acaba.
Na base de tais observacóes, verifica-se que é erróneo dizer que a
alma humana, deixando este mundo, entra no regime da eternidade e, por
isto, nao tem mais que esperar o juízo final e a ressurreicao dos corpos.
Nao, a alma humana, mesmo separada do corpo após a morte, conhece
a sucessao... ou exerce o seu agir de maneira sucessiva (ato após ato).
A sucessao é natural ou congénita á alma humana, pois ela teve comeco
(foi criada) e, por ¡sto, a sua existencia é um continuo desenvolver-se.
Sao estas reflexóes que levam a rejeitar a tese da ressurreicáo do
homem logo após a morte e a ambigua expressáo "Missa da Ressurrei
cáo" (para designar a Missa do 7S dia).
4. Tópicos complementares

4.1.0 Purgatorio
Embora cite textos da Escritura (2Mc 12, 40-43; 1Cor 3, 13-14) e
da Tradicáo, o Prof. Galváo julga que a doutrina do purgatorio só foi ofici
almente professada pela Igreja a partir do século XV:
"A Igreja introduziu oficialmente a doutrina do purgatorio depois dos
Concilios de Florenga e de Trento" (p. 189).
Os Concilios de Florenca e de Trento ocorreram respectivamente
em 1438-1445 e 1545-1563. Ora, já bem antes o magisterio da Igreja
havia colhido e formulado os testemunhos da Escritura e da Tradicáo em
documentos que equivalem a definicóes doutrinárias.

O Concilio de Liáo II (1264), por exemplo, declarou:


"Se (os crístáos que tenham pecado) faleceram realmente possuí-
dos de contrigáo, antes, porém, de ter feito dignos frutos de penitencia
por suas obras más e por suas omissdes, suas almas, depois da morte,
sao purificadas pelas penas purgatorias ou catartéricas... Para aliviar estas
penas, sao de proveito os sufragios dos fiéis vivos, a saber, o sacrificio
da Missa, as oragóes, esmolas e outras obras de piedade que, conforme
as instituigoes da Igreja, sao praticadas habitualmente pelos crístáos em
favor de outros fiéis" (Enquirídio, DS n" 1304 [693]).
Eis um trecho da Constituicao Benedictus Deus do Papa Bento
XII promulgada em 1336:

"As almas... dos fiéis falecidos..., dado que nada tenha havido a
purificar quando morreram ou nada naja a purificar quando futuramente
morrerem ou caso tenha havido ou haja algo a purificar, urna vez
purificadas após a morte... essas almas, logo depois da morte e da purifi-
268
"O GRAO DE TRIGO" 29

cagáo de que precisan)..., foram, estáo e estarao no céu" (Enquirídio Ds


n° 1000 [530]).

Como se vé, este documento ensina a necessidade eventual de


purificacáo que, sendo transitoria, prepara a entrada na visáo celeste.
Mais: a Igreja ensina nao somente por seu magisterio extraordina
rio (definicóes de Concilios ou de Papas), mas também por seu magiste
rio ordinario. Este conta, entre os seus órgáos de expressáo, a Liturgia,
verdadeiro canal pelo qual se exprime a fé da Igreja, conforme o antigo
adagio: "Lex orandi lex credendi. - As normas da oracáo sao as nor
mas ou os artigos da fé".

Ora, encontramos ñas mais antigás colecoes de preces litúrgicas o


testemunho do costume de orar pelos defuntos.

Assim a Didascalia ("Doutrina" atribuida aos doze Apostólos),


redigida nos primeiros decenios do século III para o uso dos cristáos da
Siria, ordena:

"Ao fazerdes as vossas comemoragóes, reuni-vos, lede as Sagra


das Escrituras e oferecei preces a Deus; oferecei também a regia Euca
ristía... tanto em vossas assembléias como nos cemitéríos. O pao puro
que o fogo tiver purificado e que a invocagáo tiver santificado, oferecei-o
orando pelos mortos".

Os chamados "Cánones de Hipólito", que referem em substancia


a Liturgia do século III, contém urna rubrica concernente á "anamnese"
(memorial, sufragios) em favor dos defuntos: "Caso se faca a memoria
em favor daqueles que faleceram...".

Na primeira metade do século IV, o bispo Serapiáo de Tmuis, no


Egito, fez-se autor de urna coletánea litúrgica, em que se lé a seguinte
fórmula de intercessáo pelos falecidos:

"Por todos os defuntos dos quais fazemos comemoragáo, assim


oramos: 'Santifica essas almas, pois tu as conheces todas; santifica to
das aquelas que dormem no Senhor; coloca-as em meio as santas
Potestades (anjos); dá-lhes lugar e permanencia em teu Reino'".

O mesmo Serapiáo consignou urna prece a ser dita por ocasiáo do


enterro do defunto:

"Nos Te suplicamos pelo repouso da alma do teu servo (ou da tua


serva) N.; dá paz ao seu espirito em lugar verdejante e aprazível, ressus-
cita o seu corpo no dia que determinaste".

As Constituicóes Apostólicas foram compiladas no fim do século


IV por um autor que recolheu documentos bem mais antigos. - No livro
VIII da colecáo se lé:

269
30 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 469/2001

"Oremos pelo repouso deN., a fim de que o Deus bom, recebendo


a sua alma, Ihe perdoe todas as faltas voluntarías e, porsua misericordia,
Ihe dé o consorcio das almas santas".

4.2. Morte e Tempo

O Prof. Galváo insiste em dizer que "na morte nao há tempo":

"É um erro usar a palavra 'momento' para referirse a valores de


eternidade. O que é um momento? É um espago, lapso de tempo, medido
ou nao, contido entre dois marcos cronológicos. Na morte, é bom que se
repita sempre: nao há tempo" (p. 203).

A propósito pode-se perguntar: que significa o "nao haver tempo


na morte"? Quer dizer que o ser humano, ao morrer, passa para a eterni
dade? Hipótese esta ilógica, como demonstrado atrás.

Apesar de nao haver tempo na morte, o Prof. Galváo fala de urna


evolucáo no purgatorio. Ora evolucáo só é possível no tempo. Alias a
propósito o autor se mostra hesitante e um tanto confuso, como se
depreende dos dizeres seguintes:

"A evolugáo/conversáo do purgatorio, que ocorre na morte, precisa


de ser compreendida fora do vetor tempo" (p. 210).

"O purgatorio é urna realidade eterna e, como tal, fora do tempo" (p.
210).

Note-se, porém: só Deus é eterno. O purgatorio é o estado postu


mo de urna criatura que teve comeco e, por conseguinte, nao é eterna.

"Na situagáo purgatorio, portanto, nao há tempo.

Pode haver tempo, se comparado com o aqui. É urna situagáo que,


por estar ocorrendo, pode coincidir com um lapso terreno de tempo. A
decisáo no além sempre é um momento presente. Em comparagáo com o
aqui-agora pode levar algum tempo, mas que na eternidade é atemporal"
(p. 210).

Toda essa dialética assaz confusa se tornaría desnecessária se o


autor admitisse, entre o tempo e a eternidade, o evo, ou a duracáo da
criatura (alma humana) que tem comeco, mas nao tem fim (é ¡mortal).
Nunca alguma criatura entrará na eternidade (pois esta é exclusiva de
Deus); entrará, sim, na imortalidade, feliz ou nao, após deixar este mundo.

Estas ponderacóes levam a ver que a obra do Prof. Galváo, por


mais bem intencionada que seja, nao é cartilha para que o fiel católico
possa ilustrar seus conceitos de vida postuma.

270
Mini-enciclopedia:

"OS FATOS DA VIDA"


por Brian Clowes PhD

Em síntese: O Dr. Brian Clowes publicou nos Estados Unidos o


volume The Facts of Ufe, que analisa, do ponto de vista católico, as
questóes relacionadas com aborto, anticoncepgáo, planejamento natu
ral, educagáo sexual, eutanasia..., ilustrando seu pensamento com da
dos estatísticos e exemplos concretos. Ñas páginas que se seguem, se-
rao apresentadas as respectivas ponderagdes sobre o preservativo, a
pílula do dia seguinte e os métodos naturais de contengáo da natalidade.
* * *

Foi publicado em portugués o volume The Facts of Ufe, da autoría


do Dr. Brian Clowes PhD.1 A edicáo brasileira se deve á Associacáo Na
cional Pro-Vida e Pró-Família (PROVIDAFAMÍLIA), que tem como Presi
dente o Dr. Humberto Vieira, com sede em Brasilia {DF): SQS 203, Bloco
C, ap. 204, CEP 70233-030 (Tel/fax 0 xx 61 223-8497).

Tal obra, que consta de 540 páginas, equivale a urna mini-enciclo-


pédia, que aborda, do ponto de vista católico, as questóes atinentes ao
aborto, á anticoncepgáo, ao planejamento natural da natalidade, á edu-
cacáo sexual, á eutanasia... descendo a fatos concretos e a numerosos
dados estatísticos. O autor procede segundo o método de perguntas e
respostas, dedicando a cada tema um conjunto de duas a cinco páginas.
Eis alguns espécimens do questionário:

- Quais sao os diferentes tipos de aborto?

- Quais sao os perigos físicos e psicológicos do aborto?

- Qual a eficacia da camisinha?

- Existe o contraceptivo masculino?

- Quais sao os tres tipos de educagáo sexual?

- Quais os beneficios da educagáo domiciliar?

- O suicidio assistido e a eutanasia devem ser permitidos se a


própria pessoa os solicita?

1 Human Ufe International, Front Royal, Virginia, 1999.

271
32 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 469/2001

Ñas páginas subseqüentes seráo transcritas as ponderales de


Brian Clowes sobre a "eficacia" dos preservativos, a pílula do dia seguin-
te e a contencáo natural da natalidade.

1. A "Eficacia" do presevativo

Dizer que um preservativo de látex é seguro porque ele nao mostra


nenhum poro, quando apenas um dos cinco tipos de esforcos é aplicado,
é o mesmo que dizer que um novo tipo de carro é seguro para o uso na
estrada, porque pode ser dirigido numa linha reta 25 km/h, numa pista
suave e nivelada sem se desintegrar.

O fato de os preservativos de látex realmente conterem poros, foi


ressaltado numa pesquisa importante realizada em 1992, pela Adminis-
tracáo de Alimentos e Drogas (FDA - Food and Drug Administration), a
primeira a simular as condicóes reais da relacáo sexual. Pesquisa essa
que mostrou vazamento detectávei de partículas do tamanho do HIV em
um terco dos preservativos testados. Aqueles que discutem os méritos e
os deméritos dos preservativos, devem lembrar-se de que a cabeca da
célula do espermatozoide humano é de aproximadamente 50 micros
(0.002 polegadas) de diámetro, e a cabeca de um virus HIV é de aproxi
madamente 0.1 micro de diámetro. Isto significa que o espermatozoide
bloqueado por um preservativo de látex, é aproximadamente 100 milhóes
de vezes maior do que o virus HIV.

Esse contraste de tamanho é proporcional a um elefante de cinco


toneladas ao lado de urna pequeña mosca.

Houve poucas pesquisas que realmente usaram casáis ao vivo para


testar as taxas de transmissáo do HIV. No entanto, urna pesquisa da
Escola de Medicina da Universidade de Miami mostrou que tres das 10
muiheres cujos maridos infectados pelo HIV usaram os preservativos
sempre que tinham relacoes sexuais, contraíram complicacoes relacio
nadas a AIDS (ARC - AIDS-Related Complex) num período de 18 me
ses.

Até mesmo o uso ADEQUADO de preservativos intactos, nao pro


tegerá contra as DV's que sao espalhadas pelo contato pele-a-pele, tais
como o papilomavirus (HPV - human papillomavirus) e o virus simples
da herpes (HSV - herpes simplex virus), que freqüentemente Infecciona
toda a regiáo genital. Finalmente, muitas DV's tais como o gonorréia e a
herpes, sao transmitidas pelo sexo oral, que geralmente é praticado com
parceiros sexuais múltiplos (pp. 54s).

272
"OS FATOS DA VIDA" 33

A única maneira de erradicar completamente todas as DV's é se


guir o plano de Deus para a nossa vida sexual: abstinencia antes do
casamento e fidelidade após.

É lógico que os educadores do sexo e os comerciantes de preser


vativos nos dizem que esta nao é urna solucáo "realista".

Claro que estáo equivocados. Pois a abstinéncia/fidelidade é a única


solucáo que funcionará, como também é a única solucáo realista" (p. 56).

2. A pílula RU-486 ou p. do dia seguinte

É judeu francés o inventor da pílula, Etienne-Emile Baulieu, do Ins


tituto Nacional da Saúde e Pesquisa Médica da Franca. Nascido em 1926
foi o médico chamado León Blum, e em 1942 trocou seu nome, presúme
se para evitar ser morto com o gas Zyklon-B, fabricado pela mesma em
presa para a qual ele trabalha atualmente.

Como funciona a RU-486?

A RU-486 imita a progesterona, o hormónio que envia um sinal ao


útero para o mesmo se tornar receptivo ao óvulo fertilizado. A pílula do
aborto é usada conjugada com a prostaglandina que prepara o útero para
evacuacáo.

A RU-486 contém urna progesterona análoga (impostora) e "faz


um contato" com os receptores uterinos da progesterona, mas nao trans
mite a mensagem que, presume-se, a progesterona transiere natural
mente. Esses hormónios impostores sao classificados comumente como
"anti-hormónios".

Urna vez que os anti-hormónios tenham ocupado os receptores da


progesterona, ao blastocisto (o ser humano no inicio do seu desenvolvi-
mento) é negada a fixacáo (na parede do útero) e simplesmente morre
por falta de nutrientes e oxigénio. Ele ou ela é expelido(a) após alguns
dias. Esse mecanismo de acáo funciona para matar os bebés ñas primei-
ras oito semanas de gravidez.

A maioria das pílulas de aborto, inclusive a pílula RU-486, é aproxi


madamente 80 por cento "eficaz" ao serem usadas sozinhas, e cerca de
95 por cento eficazes quando acompanhadas por urna ou mais injecóes
subseqüentes, de prostaglandina sintética E ou Sulproton. As pílulas que
provocam o aborto sao usadas para matar bebés com menos de cinco
semanas de gestacáo, e sua eficiencia diminuí significativamente ao pas-
sar da sétima semana de gestacáo.

Naturalmente, os defensores do aborto sabem que a RU-486 é um


abortivo verdadeiro, e sabem, alias, que foi planejada para ser um abortivo
verdadeiro. No entanto, reconhecem o quanto vale mentir para o público

273
34 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 469/2001

sobre os pretendidos efeitos, porque sabem que o público se senté muito


mais confortável com a contracepcao do que com o aborto.

Por exemplo, a Federacáo Nacional do Aborto (NAF - National


Abortion Federation) disse num artigo intitulado "Estrategias Bem Suce
didas: Administrando a Mídia": Quando se realiza urna pesquisa de opi-
niáo pública sobre a RU-486, a nova pílula francesa, os resultados vari-
am dependendo de como a pergunta é feita. Se a RU-486 for menciona
da como urna "pílula abortiva", terá um apoio significativamente menor
do que se for chamada de urna nova modalidade de controle de nasci-
mentos. Em muitas pesquisas de opiniáo, a descricáo pode mudar o apoio
de até 15 a 20 pontos, e determinar se a maioria daqueles que foram
pesquisados estáo a favor da pílula.

Talvez até o inventor da RU-486, Etienne-Emile Baulieu, se sinta


um pouco envergonhado e culpado devido á associacáo de seu nome ao
que pode muito bem ser considerado o maior assassínio de todos os
tempos. Ele disse: "Nao gosto do aborto e nao gosto de falar sobre o
assunto. Sou um médico e prefiro falar sobre salvar vidas. Realmente nao
sou a favor do aborto, sou a favor da mulher... Ofendo-me quando as pesso-
as apresentam a interrupcáo de urna gravidez bem no inicio como o assas-
sinato de um bebé, moral ou físicamente. Pensó ser um crime dizer isso."

Para confundir a diferenca entre a contracepcáo e o aborto, os


antividas comumente chamam as pílulas do aborto de "reguladores mens-
truais", "contraceptivos pós-cópula", "contraceptivos de emergencia" e
"contragestivos" (pp. 108).

3. A contencáo natural da natalidade

"3.1. Como pode o planejamento familiar natural (PFN) promo


ver a uniáo do casal?

O PFN aumenta o respeito do marido para com a fertilidade de sua


mulher e aprofunda a sua compreensáo da psicología déla. Permite que
o marido e a mulher dividam, igualmente, a responsabilidade pela sua
fertilidade, cumprindo assim com o ideal da "paternidade consciente",
que é representado pelo conceber os fílhos por escolha e vontade, ver-
dadeiramente o fruto do amor nao egoísta. Finalmente, a mulher valoriza
o fato de poder evitar os efeitos prejudicial dos contraceptivos e abortivos.

Quando se leva em consideracáo quanto o carinho e a uniáo repre-


sentam para o marido ou para a esposa ao abster-se, apesar de seus
desejos, por consideracáo ao outro ou á familia, a abstinencia se torna
fator de uniáo e ato de amor. Ao contrario, num casamento estéril quími
ca ou cirurgicamente, a abstinencia é considerada um fardo ou para o
marido ou para a mulher, e se torna um motivo de desuniao.

274
"OS FATOS DA VIDA" 35

Finalmente, os estudos mostraram que um período regular de abs


tinencia ajuda a fortalecer o casamento, obrigando os casáis a mostra-
rem o seu afeto de outras maneiras por um período de tempo a cada
mes, conseqüentemente melhorando as habilidades essenciais da co-
municacáo.

Claro, urna pessoa infetada pela mentalidade antivida pensa que


esta última questáo é discutível, porque acredita básicamente que tanto
os animáis quanto os humanos sao simpiesmente escravos dos seus
hormónios e que nao tém autocontrole. Duas dessas pessoas sao os
aborteiros Slig Newbardt e Harold Schulman, que afirmam: "o método do
ritmo é exigente porque obriga o casal a renunciar a sua vida amorosa
em troca de urna vida sexual."

Essa declaracáo, claro, iguala de forma simples "amor" e "sexo", e


até insinúa que os dois sao mutuamente exclusivos. Essa falsa nocáo é
a origem de grande parte da angustia que aflige atualmente a sociedade"
(pp. 126s).

"Se o PFN oferece tantas vantagens, por que um número mai-


or de casáis nao faz uso dele?

Apesar do constante ensinamento da Igreja de que o planejamento


familiar natural é o único meio moral de regular a fertilidade, estudos
mostram que somente cerca de quatro por cento das pessoas católicas
casadas, na idade de gerar filhos nos EUA, usam o PFN.

Há tres motivos básicos: ignorancia, preguica, dinheiro.

Ignorancia. O PFN nao encaixa na filosofía antivida. Ele vai de


encontró á filosofía do "sexo livre" adotada pela maioria das pessoas. Os
grupos defensores do aborto preferem menosprezar, de forma desde-
nhosa e desonesta, esse método altamente científico, o "ritmo", embora
o conhecam bem. Essa propaganda difusa amedranta muitos homens e
muiheres e faz acreditar que o planejamento familiar natural é atrasado e
ineficaz.

Para os médicos é urna outra estória. Apesar dos seus muitos anos
de educacio, a maioria é estarrecedoramente ignorante em materia de
PFN. Um médico que conhece pouco ou nada sobre o PFN, é improvável
que o promova, mas em vez disso receitará as drogas que sao pronta
mente apresentadas a ele pelos representantes dos mais importantes
laboratorios farmacéuticos. Além disso, muitos médicos acreditam que
as muiheres nao sao motivadas ou suficientemente inteligentes para
aprenderem o PFN. Finalmente, há um enorme lucro a ser obtido no
desenvolvimento, fabricacao e distribuicáo de contraceptivos e abortivos;
tal motivo de lucro nao existe no PFN.

275
36 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS11469/2001

Preguiga. O PFN leva algum tempo e esforco para se aprender.


Nessa era de ganho ¡mediato, a equacáo "RÁPIDO + FÁCIL = BOM" é
quase uma lei inviolável. Se um médico, para regular a concepgáo, re-
quer qualquer esforco, a maioria das pessoas sumariamente o desqua-
lificam. A maioria das mulheres ocidentais prefere assumir um risco a
longo prazo com relacáo a sua saúde, a fazer um esforco a curto prazo
para conhecer seu próprio corpo. E, lastimavelmente, a maioria dos ho-
mens nao está nem ai para o método de contracepcao que suas mulhe
res usam, contanto que eles mesmos nao sejam incomodados e tenham
sempre o acesso ao sexo.

Disse Erma Chardy Craven: 'as mulheres estao sendo vistas como
úteros a serem desativados e nao como seres humanos com vidas a
serem realizadas.'

O Motivo do Lucro. Os fabricantes de contraceptivos e os gineco-


logistas fazem de tudo para o público acreditar que a contracepcao rápi
da e fácil é a única solucáo. Os fabricantes dizem isso porque estáo con-
seguindo enormes quantias de dinheiro explorando as mulheres que vo
luntaria e ignorantemente drogam os seus sistemas reprodutivos - e os
lucros da venda dessas drogas somam mais do que US$ 5 bilhoes por
ano! Esta soma nao inclui os lucros obtidos pelos médicos individual
mente e as organizacóes do controle populacional tal como a IPPF.

Curiosamente, os médicos do PFN provavelmente concordaráo com


uma escritora dos Centros Feministas da Saúde da Mulher, uma rede de
clínicas de aborto, quando ela resume os reais motivos por que o PFN
nao é mais difundido:

"A conscientizagáo sobre a fertilidade representa uma grande ame-


aga a industria contraceptiva hormonal. Se as mulheres tiverem a esco
lha de usar a píiula ou os implantes que resultam em efeitos colaterais,
falta de protegáo contra doengas venéreas, gastos, e dependencia dos
médicos, ou a conscientizagáo de usar a fertilidade natural, com ou sem
métodos de barreira, qual seria a escolha mais lógica? Tanto uma quanto
a outra atingem a mesma eficacia (98,5 a 99,2%). A conscientizagáo so
bre a fertilidade nao custa nada ao usuario, nao produz efeitos colaterais,
e coloca a responsabilidade de reprodugáo firmemente ñas maos do usu
ario".

Tempo é dinheiro para os profissionais que se ocupam da área da


saúde. Ao se depararem com uma escolha entre ganhar fácilmente 20
pratas, receitando uma píiula anticoncepcional em cinco minutos, ou en-
caminhar um casal a um instrutor do PFN, a tentacáo do dinheiro rápido
geralmente sai ganhando" (pp. 136s).

276
Denuncia candente:

A ONU E A GLOBALIZAQÁO
por Michel Schooyana

Em síntese: O autor se refere á globalizagáo como a entende a


Organizagáo das Nagóes Unidas: seria a críagáo de um Super-Estado
com um Super-Governo com suas leis e seus Ministerios próprios, com
sua Policía apta a chamar a urna Corte judicial qualquer nagáo que nao
acate as leis da globalizagáo. Tais leis dependeriam únicamente dos vo
tos dos respectivos legisladores, e careceriam de qualquer fundamento
mais profundo, como seria a lei natural (que é universal, imutável e pere
ne); assim no mundo globalizado poderiam tornarse legítimos o aborto,
o casamento gay, a eutanasia e outras práticas condenadas pela lei na
tural. A globalizagáo assim concebida fere também o principio de
subsidiariedade, segundo o qual urna sociedade ou urna instancia mais
elevada nao deve sufocar sociedades ou instancias inferiores. A Igreja
Católica tem-se pronunciado contrariamente a tal modelo de estrutura da
populagáo mundial.
* * *

O Pe. Michel Schooyans, belga, é Professor emérito da Universi-


dade de Louvain (Bélgica), membro da Pontificia Academia das Ciencias
Sociais e Consultor do Pontificio Conselho para a Familia. Num Coloquio
sobre Globalizagáo promovido pelo Pontificio Conselho para a Familia
de 27 a 29 de novembro de 2000 na Cidade do Vaticano, proferiu valiosa
conferencia cujo texto vai, a seguir, reproduzido em tradugáo portuguesa.

O autor denuncia a ONU (Organizacáo das Nagóes Unidas) pelo


seu projeto de globalizagáo, que pretende instaurar um Super-Estado
com seu governo mundial e suas leis; estas, ao invés de seguir os princi
pios da lei natural (pressupostos pela Declaracao dos Direitos Humanos
promulgada pela ONU em 1948), basear-se-iam exclusivamente na lei
positiva ou na vontade dos legisladores, que assim poderiam tornar mun-
dialmente legítimos o aborto, a eutanasia, as unióes gay..., esfacelando
o conceito de familia. Ademáis esse Super-Estado teria direito de inge
rencia em cada nagáo do globo, ferindo desta maneira o principio de
subsidiariedade ou de respeito a sociedades ou instancias inferiores (que
devem ser incentivadas e nao sufocadas por instancias superiores).

Eis o texto do Pe. Michel Schooyans, a quem PR exprime viva gra-


tidáo pela colaboragáo:

277
38 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 469/2001

Trocas e interdependencia

Os termos mundializagáo e globalizagáo sao hoje em dia parte do


vocabulario corrente. Em um plano bastante ge ral, os dois termos sao,
por assim dizer, intercambiáveis. Significam que, em escala mundial, as
trocas multiplicaram-se e que esta multiplicacao deu-se rápidamente.
Este é o caso evidente nos setores científicos, técnicos e culturáis. Essa
multiplicacao de trocas tornou-se possível gracas a sistemas de comuni-
cacáo mais e mais eficazes e, na maioria das vezes, instantáneos.

Ainda nesse primeiro sentido corrente, os termos mundializagáo e


globalizagáo evocam a interdependencia das sociedades humanas. Urna
crise económica nos EUA, decisóes da OPEP sobre o preco do petróleo,
as tensóes entre palestinos e israelenses - para citar apenas alguns exem-
plos - tém repercussóes de caráter mundial. Somos envolvidos, interpe
lados e mesmo atetados por catástrofes que se passam longe de nos,
sentimos nossa responsabilidade diante da fome e da doenca em toda
parte no mundo.

As próprias religióes dialogam intensamente. No interior mesmo


da Igreja Católica, as comunicacóes se intensificaram.

Adquirimos assim urna aguda consciéncia de pertencermos á co-


munidade humana. Nesse primeiro sentido, habitual, talamos de urna
integragáo. Na linguagem comum diz-se que "as distancias nao contam
mais"; que "as viagens aproximam os homens"; que "o mundo se tomou
urna aldeia".

O mundo tende a maior unidade; em principio nao devemos senáo


nos alegrar. Além disso, é normal que, para atingir esse fim, se torne
necessário considerar novas estruturas políticas e económicas, capazes
de responder a essas novas necessidades. Mas isso nao pode ocorrer a
qualquer preco ou em quaisquer condicóes1.

Unificacáo política, integragáo económica

De alguns anos para cá, o sentido das palavras mundializagáo e


globalizagáo tornou-se um pouco mais preciso. Por mundializagáo en-
tende-se agora a tendencia que leva á organizacáo de um governo mun
dial único. A tónica é portanto colocada sobre a dimensáo política da
unificacáo do mundo. Em sua forma atual, tal tendencia foi desenvolvida
por diversas correntes estudadas pelos internacionalistas2. No ámbito

1 Para urna discussáo mais ampia dos temas abordados nessa comunicagáo, poder-
se-ia referir o nosso livro La face cachee de I'ONU. París. Éditions Le Sarment/
Fayard. 2000.
2 Ver a esse propósito Michael HARDT e Antonio Negri, Empire. Cambridge.
Massachusetts. Harvard University Press, 2000.

278
. A ONU E A GLOBALIZACÁO 39

desta comunicacáo, bastará citar dois exemplos. O primeiro modelo re


monta ao final dos anos 60 e é da autoría de Zbigniev Brzezinki1. Segun
do esse modelo, os USA devem assumir a lideranca mundial, reformuiar
seu tradicional messianismo. Devem organizar as sociedades políticas
particulares, levando em conta urna tipología que classifica tais socieda
des em tres categorías, segundo seu grau de desenvolvímento. A
mundializagáo define-se aqui a partir de um projeto hegemónico com
objetivo de porte: ¡mpor a Pax americana ou mergulhar no caos.
Ao final dos anos 80 surge outro projeto mundialista, do qual Willy
Brandt é um dos principáis artesáos. O Norte (desenvolvido) e o Sul (em
desenvolvimento) necessitam um do outro; seus interesses sao recípro
cos. E urgente tomar iniciativas internacionais novas para superar o abis
mo que os separa. Tais iniciativas devem ser tomadas no plano político;
devem prioritariamente incidir sobre o sistema monetario, o desarma
mento, a fome. Segundo o "programa de sobrevivencia" do relatório Brandt,
será preciso criar "um mecanismo de vigilancia de alto nivel" que teria
por principal missáo tornar a ONU mais eficaz, assim como consolidar o
consenso que a caracteriza2. A concepcáo de mundializagáo que apare
ce aqui nao se vincula de maneira alguma a um projeto hegemónico.
Situa-se na tradicáo do internacionalismo socialista. Sem dúvida, nao se
chega a recomendar a supressáo dos Estados, mas a soberanía destes
deverá ser limitada e colocada sob controle de um poder mundial, se
quisermos garantir a sobrevivencia da humanidade.

Ao mesmo tempo em que o termo mundializagáo adquiría urna


conotagáo sobretudo política, a palavra globalizagáo adquiría, esta, urna
conotacáo sobretudo económica. A multiplicacáo das trocas, a melhoria
das comunicacoes internacionais estimulam a falar de urna integracáo
dos agentes económicos mundiais. As diferentes atividades económicas
seríam divididas entre os diferentes Estados ou regióes: o trabalho seria
dividido. A uns caberiam, por exemplo, as tarefas de extracáo, a outros
aquelas de transformacáo; a outros ainda caberiam as tarefas de produ-
cáo tecnológica, de coordenacáo mundial, de decisao. Essa visáo da
globalizacáo é de inspiracáo francamente liberal. Com urna certa ressal-
va, porém: ainda que seja preconizada, de maneira ampia, a livre circula-
cao de bens e capitais, o mesmo nao se dá quanto á livre circulacáo de
pessoas3.

1 BRZEZINSKI, Zbigniev. Between two ages. Ameríca's Role in the Techneletronic


Era. Harmondsworth, Penguin Book Ltda, 1970.
2 Cf. Nort-South: A Programme for Survival, Londres. Pan Books Woríd Affairs.
1980, especialmente o capítulo 16, pp. 257-266.
3 Entre osprimeiros teóricos "modernos" dessa concepgáo, podemos mencionar Fran
cisco de Victoria (com sua interpretagáo da destinagáo universal dos bens) e Hugo
Grotius (com sua doutrina da liberdade de navegagáo).

279
40 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 469/2001

Globalizagáo e holismo

Nos documentos recentes da ONU, o tema da globalizagáo surge


com mais freqüéncia que o da mundializagáo, sem contudo entrarem esses
temas em concorréncia.

A ONU incorpora as concepcóes correntes que acabamos de lem-


brar. Contudo, aproveita-se da onda favorável que oferece a atual con-
cepcáo da globalizagáo para submeter essa palavra a urna alteragáo
semántica. A globalizagáo vem sendo reinterpretada á luz de urna nova
visáo do mundo e do lugar do homem no mundo. Essa nova visao tem
por nome holismo. Tal palavra, de origem grega, significa que o mundo
constitui um todo, dotado de mais realidade e mais valor que as partes
que o compoem. Nesse todo, o surgimento do homem nao é senáo um
avatar da evolugáo da materia. O homem nao tem realidade senáo em
razáo de sua ineréncia á materia e, pela morte, retornará definitivamente
a materia. O destino do homem é ser votado á morte, é inelutavelmente
desaparecer na Máe-Terra, de onde nasceu.

O Grande Todo, chamemo-lo assim para simplificar a Máe-Terra ou


Gaia, transcende portanto o homem. Este deve curvar-se aos imperati
vos da ecología, as conveniencias da Natureza. O homem deve nao so-
mente aceitar nao mais emergir do mundo ambiente; deve também acei
tar nao ser mais o centro do mundo. Segundo essa leitura, a lei "natural"
nao é mais aquela inscrita em sua inteligencia e no seu coracáo; é a lei
implacável e violenta que a Natureza impóe ao homem. A vulgata econó
mica apresenta-o mesmo como um predador, e, como toda populagáo de
predadores, a populagáo humana deve, como se diz, ser contida dentro
dos limites do desenvolvimento sustentável. O homem, portanto, deve
nao somente aceitar sacrificar-se hoje aos imperativos da Máe Gaia, como
também aceitar sacrificar-se aos imperativos dos tempos vindouros.

A Carta da Térra

A ONU está em processo de montar um documento muito impor


tante sistematizando essa interpretacáo holística da globalizagáo. Trata
se da Carta da Térra, da qual ¡números rascunhos já foram divulgados e
cuja redagáo se encontra em fase final. Esse documento seria invocado
nao apenas para superar a Declaragáo Universal dos Direitos do Homem
de 1948, como, segundo alguns, deveria suplantar o próprio Decálogo.

Vejamos, a título de exemplo, alguns extratos dessa Carta:

"Nos nos encontramos em um momento crítico da historia da Térra,


o momento de escolherseu destino... Devemo-nos unir para fundar urna
sociedade global durável, fundada no respeito á natureza, aos direitos
humanos universais, ájustiga económica e á cultura da paz...

280
. A ONU E A GLOBALIZAgÁO 41

A humanidade é parte de um vasto universo evolutivo... O meio


ambiente global, com seus recursos finitos, é urna preocupagáo comum a
todos os povos. A protegáo da vitalidade, da diversidade e da beleza da
Térra é um dever sagrado...

Um aumento sem precedentes da populacáo humana sobrecarre-


gou os sistemas económicos e sociais...

Eis a escolha: formarmos urna sociedade global para cuidarmos da


Térra e cuidarmos uns dos outros ou nos expormos ao risco de nos des
truir a nos mesmos e destruir a diversidade da vida...

Precisamos com urgencia de urna visáo compartilhada a respeito


dos valores de base que oferegam um fundamento ético a comunidade
mundial emergente..."

As religióes e o globalismo

Para consolidar essa visáo holística do globalismo, alguns obstá


culos devem ser aplainados e instrumentos elaborados.

As religióes em geral, em primeiro lugar a religiáo católica, figuram


entre os obstáculos que se devem neutralizar. Foi com esse objetivo que
se organizou, no quadro das celebracóes do Milenio em setembro de
2000, a Cúpula de líderes espirituais e religiosos. Trata-se de lancar a
"Iniciativa Unida das Religióes", que, tem, entre seus objetivos, velar pela
saúde da Térra e de todos os seres vivos. Fortemente influenciado pela
New Age, esse projeto visa em seu termo a criacáo de urna nova religiáo
mundial única, o que implicaría ¡mediatamente a proibicáo a toda outra
religiáo de fazer proselitismo. Segundo a ONU, a globalizacáo nao deve
envolver apenas as esferas da política, da economía, do direito: deve
envolver a alma global. Representando a Santa Sé, o Cardeal Arinze nao
podia assinar o documento final, colocando todas as religióes no mesmo
pé de ¡gualdade1.

O Pacto económico mundial

Entre os numerosos instrumentos elaborados pela ONU em vista


da globalizacáo, o Pacto Mundial merece ser aqui mencionado. Em seu
discurso de abertura ao Forum do Milenio, o sr. Kofi Annan retomava o
convite que dirigirá em 1999 ao Forum económico de Davos. Propunha
podanto "a adesáo a certos valores essenciais no dominio das normas
de trabalho, dos direitos do homem e do meio ambiente". O Secretario
geral da ONU garantía que dessa maneira se reduziriam os efeitos nega
tivos da globalizacáo. Mais precisamente, segundo o sr. Annan, para su-

1 Foi nessa ocasiáo que a Congregacáo para a Doutrína da Fé publicou sua Declara-
gao Domínus lesus.

281
42 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 469/2001

perar o abismo entre o Norte e o Sul, a ONU deveria fazer amplamente


apelo ao setor privado. Tratar-se-ia de obter a adesáo, a esse pacto, de
um grande número de atores económicos e sociais: companhias, ho-
mens de negocio, sindicatos, ONGs. Esse Global Compact ou Pacto
Mundial seria urna necessidade para se regular os mercados mundiais,
para ampliar o acesso as tecnologías vitáis, para distribuir a informacáo e
o saber, para divulgar cuidados básicos em materia de saúde, etc. Esse
Pacto já recebeu numerosos apoios, entre outros, o da Shell, o de Ted
Turner, proprietário da CNN, o de Bill Gates e mesmo de diversas inter-
nacionais sindicáis.

O Pacto Mundial suscita, é obvio, graves interrogagóes. Será que


podemos contar com as grandes companhias mundiais para resolver os
problemas que elas teriam podido contribuir a resolver há muito tempo
se o tivessem desejado? A multiplicacáo das trocas económicas intema
cionais justifica a instauracao progressiva de urna autorídade centraliza
da, chamada a reger a atividade económica mundial? De que liberdade
gozaráo ainda as organizacóes sindicáis, se as legislacóes trabalhistas,
incorporadas ao direito internacional, se devessem submeter aos impe
rativos económicos globais? De que poder de intervencáo os governos
dos Estados soberanos gozaráo ainda para intervir, em nome da justiga,
ñas questóes económicas, monetarias e sociais? Mais grave ainda: como
a ONU está sempre á beira da falencia, nao se arrisca ela a ser vítima de
urna tentativa de compra por parte de um consorcio de grandes compa
nhias mundiais?

Um projeto político servido pelo direito

É porém no plano político e jurídico que o projeto onusiano de glo-


balizacáo é mais inquietante. Na medida em que, como vimos, a ONU,
influenciada pela New Age, desenvolve urna visáo materialista, estrita-
mente evolucionista do homem, ela desativa, necessariamente, a con-
cepcáo realista do homem que está subjacente á Declaracáo de 1948.
Segundo essa visáo materialista, o homem, pura materia, é definitiva
mente incapaz de dizer seja lá o que for de verdadeiro sobre ele mesmo
ou sobre o sentido de sua vida. É assim reduzido ao agnosticismo de
principio, ao ceticismo e ao relativismo moral. Os por qués? nao tém
sentido algum; só importam os como?

A Declaragáo de 1948 apresentava esse prodigiosa originalidade


de fundar as relacdes intemacionais novas na extensáo universal dos
direitos do homem. Tal deveria ser o fundamento da paz e do desenvolvi-
mento. Tal deveria ser a base legítima da existencia da ONU, que justifi
caría sua missáo. A ordem mundial deveria ser edificada sobre verdades
fundadoras, reconhecidas por todos, protegidas e promovidas progressi-
vamente através da legislacáo de todos os Estados.

282
A ONU E A GLOBALIZAQÁO 43

A ONU hoje desativou essas referencias fundadoras. Hoje, os di-


reitos do homem nao sao mais fundados em uma verdade que se impóe
a todos e por todos é livremente reconhecida: a igual dignidade de todos
os homens. Daqui em diante os direitos do homem sao o resultado de
procedimentos consensuáis. Uma vez que nao somos capazes - é o que
se diz - de atingir uma verdade sólida a respeito do homem, e que, mes-
mo, uma tal verdade nao é accessível ou nao existe, devemos entrar em
acordó e decidir, por um ato de pura vontade, o que é a conduta justa,
pois as necessidades da acáo nos pressionam. Porém, nao iremos mais
decidir referindo-nos todos as exigencias de valores que a nos se im-
póem pela simples forca de sua verdade. Vamo-nos engajar em um pro-
cedimento de discussáo e após ouvir a opiniáo de cada um, decidiremos;
tomaremos uma decisáo. Esta decisáo será considerada justa, porque
será o resultado efetivo do procedimento consensual. Seja reconhecida
aqui a influencia de John Rawls.

Os "novos direitos do homem", segundo a ONU atual, surgiram a


partir de procedimentos consensuáis que podem ser reativados indefini
damente. Nao sao mais expressáo de uma verdade atinente ao homem;
sao a expressáo da vontade daqueles que decidem. Daqui em diante, ao
termo de tal procedimento, qualquer coisa poderá ser apresentada como
"novo direito" do homem: direito ás unióes sexuais diversas, ao repudio,
aos lares monoparentais, á eutanasia, - enquanto se aguarda pelo
infanticidio, já praticado, a eliminacáo dos deficientes físicos, os progra
mas eugenistas, etc. É por essa razio que, ñas assembléias internacio-
nais organizadas pela ONU, os funcionarios onusianos se empenham
com todas suas torgas para chegar ao consenso. De fato, uma vez adqui
rido, o consenso é invocado para fazer com que se adotem convengóes
intemacionais que adquirem forca de lei nos Estados que as ratificaram.

Um sistema de direito internacional positivo

É esse o núcleo do problema colocado pela globalizacáo segundo


a ONU. Através de suas convencóes ou de seus tratados normativos, a
ONU está prestes a articular um sistema de direito supra-estatal, pura
mente positivo, que leva o forte cunho de Kelsen1.0 objeto do Direito nao
é mais a justica, mas sim a lei. Uma tendencia fundamental se observa
cada vez mais: as normas dos direitos estatais nao sao válidas, se nao
forem validadas pelo direito supra-estatal. Como Kelsen antecipara em
sua célebre Teoría pura, o poder da ONU concentra-se de maneira pira
midal. Todos, individuos ou Estados, devem obedecer á norma funda
mental surgida da vontade daqueles que definem o direito internacional.
Esse direito internacional puramente positivo, livre de toda referencia á

1 Cf. KELSEN, Hans, Théorie puré du droit, tradugáo para o francés de Charles
Eisennman, París. LGDJ, 1999.

283
44 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 469/2001

Declaracáo de 1948, é o instrumento utilizado pela ONU para impor ao


mundo a visáo da globalizagáo que Ihe deveria permitir colocar-se como
super-Estado.

Um Tribunal penal internacional

Controlando o direito, colocando-se mesmo, de maneira definitiva,


como a única fonte do direito e podendo a todo momento verificar se
esse direito é respeitado pelas instancias executivas, a ONU entroniza
um sistema de Pensamento Único. Atribui-se portanto um tribunal \a\ha-
do para sua sede de poder. Assim, crimes contra os "novos direitos" do
homem poderiam ser julgados pela Corte Penal Internacional, fundada
em Roma em 1998. Por exemplo, na medida em que o aborto nao seria
legalizado em um determinado Estado, o Estado em questáo poderia ser
excluido da "sociedade global"; na medida em que um grupo religioso se
opusesse á homossexualidade, ou á eutanasia, esse grupo poderia ser
condenado pela Corte penal internacional por atentar contra os "novos
direitos do homem".

A "governáncia" global

Estamos portanto diante de um projeto gigantesco, que ambiciona


realizar a utopia de Kelsen, visando "legitimar" e montar um governo
mundial único, no qual as agencias da ONU poderiam tornar-se ministe
rios. É urgente - garantem-nos - criar urna nova ordem mundial, política
e legal, e é preciso apressar-se para encontrar os fundos para se execu-
tar o projeto.

Essa "governáncia" mundial já fora objeto de um encaixe ao Rela-


tório da PNUD em 1994. O texto, redigido a pedido do PNUD por Jean
Tinbergen, premio Nobel de Economía (1969), apresenta-se com ares de
um manifestó encomendado pela e para a ONU. Eis aqui um extrato1.

"Os problemas da humanidade nao podem mais ser resolvidos pe


los governos nacionais. Necessitamos é de um governo mundial.

A melhor maneira de o conseguir, é reforgar o sistema das Nagoes


Unidas. Em certos casos, isto significaría ser necessárío mudar o papel
das agencias das Nagóes Unidas, que, de consultivas, se tomariam exe
cutivas. Assim, a FAO tornar-se-ia o Ministerio Mundial da Agricultura,
UNIDO tornar-se-ia o Ministerio Mundial da Industria e ILO o Ministerio
Mundial dos Assuntos Sociais.

Em outros casos, instituigóes completamente novas seríam neces-


sárias. Estas poderiam comportar, por exemplo, urna Policía Mundial per-

1 Esse texto encontrase em Human Development Report 1994, publicado pelo


PNUD, New York e Oxford, 1991; a títacáo está na p. 88.

284
A ONU E A GLOBALIZAQÁO 45

manente, que poderla citar nagóes a comparecer diante da Corte Interna


cional de Justiga ou diante de outras cortes especialmente criadas. Se as
nagóes nao respeitassem as decisóes da Corte, seria possível aplicar
sangóes, tanto militares quanto nao-militares".

Sem dúvida, enquanto existem e cumprem bem seu papel, as na-


cóes particulares protegem seus cidadáos; esforcam-se por fazer respei-
tar os direitos do homem e utilizam para esse fim os recursos apropria-
dos.

Atualmente, nos ambientes da ONU, a destruigáo das nagóes apa


rece como objetivo a atingir, se queremos extinguir definitivamente a con-
cepgáo antropocéntríca dos direitos do homem. Eliminando esse corpo
intermediario que é o Estado nacional, eliminar-se-ia a subsidiariedade,
pois seria constituido um Estado mundial centralizado. O caminho esta
ría aberto para a chegada dos tecnocratas globalizantes e outros aspi
rantes á "governáncia" mundial.

Reafirmar o principio da subsidiariedade

Assim, o direito internacional positivo é o instrumento utilizado pela


ONU para organizar a sociedade mundial global. Sob o disfarce de glo-
balizacáo, a ONU organiza em seu beneficio a "governáncia" mundial.
Sob o disfarce de "responsabilidade compartilhada", ela convida os Esta
dos a limitar sua justa soberanía. A ONU globaliza apresentando-se cada
vez mais como super-Estado mundial. Tende a governar todas as dimen-
sóes da vida, do pensamento e das atividades humanas, armando um
controle cada vez mais centralizado da informacao, do conhecimento e
das técnicas: da alimentacáo, da vida humana, da saúde e das popula-
coes; dos recursos do solo e do subsolo; do comercio mundial e das
organizacóes sindicáis; enfim e sobretudo, da política e do direito. Exal
tando o culto néo-pagao da Máe-Terra, priva o homem do lugar central
que Ihe reconhecem as grandes tradigóes filosóficas, jurídicas, políticas
e religiosas.

Diante desse globalismo alicercado na areia, é preciso reafirmar a


necessidade e a urgencia de fundamentar a sociedade internacional no
reconhecimento da igual dignidade de todos os homens. O sistema jurí
dico que predomina na ONU, torna esse reconhecimento estritamente
¡mpossível, pois o direito e os direitos do homem nao podem proceder
senao de determinacoes voluntarias. É preciso portanto reafirmar a pri-
mazia do principio de subsidiariedade tal como deve ser corretamente
compreendido. Isso significa que as organizacoes internacionais nao
podem despojar os Estados, nem os corpos intermediarios, nem em par
ticular a familia, de suas competencias naturais e de seus direitos, mas
que, ao contrario, devem ajudá-los a exercé-los.

285
46 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 469/2001

Quanto á Igreja, nao pode senáo insurgir-se contra essa globa-


lizacáo implicando uma concentracáo do poder que exala totalitarismo.
Diante de uma impossível "globalizacáo", que a ONU se esmera em im-
por alegando um "consenso" sempre precario, a Igreja deve aparecer,
semelhante ao Cristo, como sinal de divisad1. Nao pode endossar nem
uma "unidade" nem uma "universalidade" que estejam ácima da vontade
subjetiva dos individuos ou impostas por alguma instancia pública ou
privada. Diante da emergencia de um novo Leviatá, nao podemos ficar
calados, nem ¡nativos, nem indiferentes.

COMENTANDO...

O artigo em pauta supoe algumas nocoes filosóficas, que convém


esclarecer:

1. Tres nocóes filosóficas

a) Lei natural é a lei impregnada na consciéncia de todo homem,


independentemente de sua raca, cultura ou religiáo. Tem um principio
básico: "Pratica o bem, evita o mal", principio este que se vai explicitando
em normas mais precisas: "Nao mates, nao roubes, nao adulteres, nao
calunies, honra pai e máe, respeita teu irmáo...". Esta lei natural é univer
sal e perene; nao muda com o tempo e deve ser tida como fundamento
de qualquer lei confeccionada pelos homens ou lei dita "positiva". Esta
mesma lei rege nao só as relacoes entre individuos, mas também o rela-
cionamento entre os povos; é o chamado ius gentium (direito das na-
cóes), de que tratou longamente o jurista Hugo Grotius (1583-1645).

b) Lei positiva é aquela que os homens formulam á guisa de apli-


cacao concreta da lei natural, com a qual a lei positiva deve estar em
consonancia. Caso nao esteja assim, é injusta e carece de valor.

c) O principio de subsidiariedade significa que a sociedade, ao


ajudar seus membros, deve favorecer a atividade destes, e nao a absor-
ver ou sufocar. Com outras palavras: as instituicoes existentes na socie
dade nao devem fazer o que a pessoa pode fazer, mas devem proporci
onar a esta as condicóes necessárias para que cumpra sua tarefa. Para
lelamente, a funcáo que pode e deve ser desempenhada por um grupo
menor nao deve ser absorvida por outro maior; assim se conservam com
petencias e autonomías diferenciadas. Por exemplo, a educacáo dos fi-
Ihos pequeños é tarefa dos genitores; conseqüentemente o Estado, ain-
da que disponha de psicólogas, nutricionistas e professoras, nao deve
arrancar da familia as criancas pequeñas para educá-las; ao contrario,
deve oferecer a esta os meios necessários para que bem se desempe-
nhe de sua funcáo educacional. Assim se rejeita todo coletivismo totalitá-

1 Cf. Le 2, 33s; 12. 51-53; 21, 12-19; Mt 10. 34-36; 23; 31s; Jo 1, 6; 1 Jo 3, 22-4.6.

286
A ONU E A GLOBALIZAQÁO 47

rio, seja de direita, seja de esquerda. Tal principio é dito "de subsidia-
riedade" porque preconiza que os grupos mais poderosos proporcionem
subsidios aos mais fracos para que estes realizem dignamente as suas
tarefas próprias.

2. A existencia da lei natural

A natureza é dom e obra de Deus; por isto ela manifesta ao homem


deveres que o próprio Criador impóe á criatura. Hoje em dia há quem
conteste a existencia da lei natural, julgando que esta concepcáo atrela o
homem a leis físicas ou biológicas cegas, em detrimento da sua criativi-
dade pessoal. Eis por que passamos a examinar a existencia da lei
natural.

1. Em todos os povos primitivos encontra-se a nocáo de preceitos


moráis básicos como: "é preciso fazer o bem,... honrar pai e mae,... cultuar
a Divindade..."; tais normas nao sao atribuidas a determinado chefe ou
cacique, mas á própria natureza ou á Divindade. - Também os povos
mais civilizados da antigüidade (gregos e romanos) reconheceram a lei
natural, atribuindo-a á Divindade.

2. Na S. Escritura S. Paulo é o arauto mais explícito da lei natural


existente em todos os homens; ver Rm 1, 24-27; 2, 14s.

3.0 Concilio do Vaticano II reafirmou tal doutrina em termos muito


claros:

"Na intimidade da consciéncia, o homem descobre urna lei. Ele nao


a dá a si mesmo. mas a ela deve obedecer. Chamando-o sempre a amar
e praticar o bem e evitar o mal, no momento oportuno a voz desta lei Ihe
faz ressoar nos ouvidos do coragáo: 'Faze isto, evita aquilo'. De lato, o
homem tem urna lei escrita por Deus em seu coragáo. Obedecer a ela é a
própria dignidade do homem, que serájulgado de acordó com essa lei. A
consciéncia é o núcleo secretíssimo e o sacrário do homem, onde ele
está a sos com Deus e onde ressoa a voz de Deus" (Const. Gaudium et
Spes n° 16).

4. A própria razáo aponta a existencia da lei natural recorrendo a


dois argumentos, entre outros:

a) Quem admite a existencia de Deus Criador, admitirá que tenha


¡nfundido dentro das criaturas livres, feitas á sua imagem, algumas gran
des normas que encaminhem o homem á consecucáo da vida eterna.
Essa orientacáo interior é precisamente o que se chama "a lei natural".

b) A negacáo da lei natural leva a dizer que os atos mais abjetos


podem vir a ser considerados virtudes, e vice-versa. Quem nao reconhe-
ce a lei natural, atribuí ao Estado civil o poder de definir o bem e o mal

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48 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 469/2001

éticos; a vontade do Estado torna-se a fonte da moralidade e do Direito;


deste principio segue-se a legitimado do totalitarismo e da tiranía, de
que testemunha o século XX.

As funestíssimas conseqüéncias do totalitarismo moral do Estado


levaram as Nacoes Unidas a promulgar em 1948 a Declaracáo Universal
dos Direitos do Homem, que nao é senao a reafirmacáo, em grande par
te, da le i natural.

Ora é esta Magna Carta da natureza humana que a ONU pensa


agora em substituir por leis positivas, dependentes exclusivamente do
alvitre de países membros mais influentes. - O momento é serio e exige
firmeza de atitudes da parte de quem nao se quer deixar levar pelo rolo
compressor.

Estévao Bettencourt, O.S.B.

Deus mandou fazer imagens, por Mons. Estanislau Polakowski.


- Curitiba, 2001, 140x200 mm, 54 pp.

Este é um livro corajoso, pois, quando tanto se proclama que Deus


proibiu fazer imagens, o autor afirma, e com razáo, que Deus mandou
fazer imagens. Mons. Estanislau distingue sabiamente entre ídolos (es
tatuas que eram adoradas) e imagens (meras representagóes de pesso-
as caras e veneradas). O que a Biblia proíbe, é a confecgáo de Ídolos; o
que ela manda, é a fabricagáo de símbolos do Invisível: assim Deus man
dou fazer a serpente de bronze (Nm 21,9) e querubins que eram a repre-
sentagáo, de forma humana, de anjos ou espíritos puros (Ex 25, 20; 26,
31...). Essas imagens nada valem como tais, mas tém significado relati
vo, enquanto excitam a atengáo do orante para o mundo sagrado de Deus
e dos seus santos, que o cristáo reverencia. A veneragáo dos heróis pas-
sados é táo espontánea que cada familia, cada sociedade ou nagáo re
verencia seus grandes vultos históricos. O próprio Brasil o faz no día 21
de abril, quando para (em feriado nacional) a fim de venerar a memoria
do herói Tiradentes; o Brasil venera, mas nao adora Tiradentes. Assim
também a Igreja venera, mas nao adora os Santos, e vé ñas respectivas
imagens o venerável sinal da grandeza de tais heróis.

O livro é muito valioso nao sóporsuas explanagóes bíblicas e seus


arrazoados, mas também pelos testemunhos que apresenta em suas
páginas fináis (urna carta do Pe. José Fernandes de Oliveira e dois rela
tos de conversáo, de irmaos separados, ao Catolicismo).

Pedidos ao Santuario de Nossa Senhora do Rosario de Fátima,


Praga Cova da fría 3 (Tarumá), Curitiba (PR), CEP 82800-200. Fone:
0 XX 41-266-5384. Prego: R$ 3,00.

288
Á VENDA NA LUMEN CHRISTI:

UM MONGE QUE SE IMPÓS A SEL) TEMPO - pequeña Introducáo com antología á


vida e obra de SAO BERNARDO DE CLARAVAL. - Pe. Luis Alberto Rúas Santos
O. Cist. Musa e Edicóes Lumen Christi. 2001. 200 pp RS 26,00.

ORACÁO E TRABALHO - Organizacáo: Mosteiro Nossa Senhora da Paz. e llustra-


góes: Claudio Pastro. "Este livro pretende evocar Deus nos ambientes de trabalho.
Suas oracóes nos proporcionaráo momentos de louvor, alegría e graca. De coracáo
aberto, poderemos, entáo, refletir sobre nosso relacionamento cornos companhei-
ros de jornada".
Saga Editora e Mosteiro Nossa Senhora da Paz. 2001. 160 pp RS 19,00.

O EFÉMERO E O ETERNO - poemas de sóror mínima.


Trecho da apresentacáo de Irmáo Eugenia Teixeira O.S.B.: "Com muita alegria, que
remos partilhar com os ¡rmáos e as irmás um dos nossos preciosos tesouros de
familia: as poesías de Ir. Inés, esta coluna de nossa comunidade..."
Mosteiro da Vírgem - Petrópolis - RJ. 2001.170 pp RS 19.00.

TRATADO SOBRE A ORACÁO: TERTULIANO, S. CIPRIANO, ORÍGENES.


Tres grandes mestres da espiritualidade crista dos primeiros séculos comentam
magistralmente o Pai-nosso.
Ed. Mosteiro da Santa Cruz de Juiz de Fora - MG. 2001. 2a ed. 216 pp. ..RS 19,00.

■ VIVENDO COM A CONTRADICÁO, reflexóes sobre a Regra de S. Bento. Esther de


Waal. 1998. 165 páginas. Edicáo do Mosteiro da Santa Cruz de Juiz de Fora, MG.
(Sumario: Explicacáo. Prólogo da Regra de S. Bento. Um caminho de cura. O poder
do Paradoxo. Vivendo com as contradicóes. Vivendo comigo mesma. Vivendo com
os outros. Vivendo com o mundo. Juntos e separados. Dom e Graca. Deserto e feira.
Morte e vida. Rezando os conflitos. Sim. Notas e comentarios) RS 16,00.

- POEMAS E ENSAIOS - RAÍSSA MARITAIN. TRADUCÁO E COMENTARIOS DE


CESAR XAVIER BASTOS.
Edicáo CXB - Juiz de Fora - MG. 2000. 200 páginas RS 20,00.

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NOVIDADE

Á VENDA NA LUMEN CHRISTI:


SAO BENTO DE NÚRSIA - UMA SABEDORIA DE VIDA PARA HOJE
Sumario:
I. Nada mais importante que Cristo
André Borias (Saint-Wandrille, Franca)
SAO BENTO E SUA REGRA
II. Sao Bento e sua Regra
Lin Donnat (Saint-Benoit-sur-Loire, Franca)

ALGUNS ASPECTOS DA HISTORIA BENEDITINA


III. Visáo geral da historia beneditina
Daniel Misonne (Maredsous, Bélgica)
IV. Pequeño sumario da historia beneditina no Novo Mundo
Mauro Mattei (Viña del Mar, Chile)
V. Sao Bento, padroeiro da Europa: por qué?
Philippe de Lignerolles (En Calcat, Franca)
ELEMENTOS DE ESPIRITUAUDADE BENEDITINA
VI. No cora9áo da comunidade beneditina: o Oficio Divino
Denis Hubert (En Calcat, Franca)
Vil. A oracáo pura segundo a Regra de Sao Bento
Terrence G. Kardogn (Abadía da Assuncáo, Estados Unidos)
VIII. A leitura orante da Escritura
Daniel Rees (Downside, Reino Unido)
IX. O equilibrio beneditino
Michael Casey (Tarrawara, Australia)
X A dimensáo comunitaria da vida beneditina
Basilio Penido (Abade Presidente da Congregacáo Brasileira)
XI. Qual espiritualidade?
M. Bernard de Soos (Secretario geral da A.I.M.)
XII. A educacáo para a liberdade na Regra
Charles Hélie (Fundadora de Tofío, Bénin)

A VIDA BENEDITINA HOJE NOS DIFERENTES CONTINENTES


XIII. O monge beneditino na Europa hoje
Jean-Pierre Longeat (Sao Martinho de Ligugé, Franga)
XIV. O monge beneditino na América do Sul
Joél Rippinger (Abadía de Marmion, Estados Unidos)
XV. A vida monástica, um desabrochar da vida batismal
Mawulawoe Yawo (Dzogbegan. Togo)
XVI. A idéia da ordem e da posicáo na comunidade cenobítica e sua relacáo com os valores
filipinos de ordem e posicáo na familia
Eduardo P. África (Malaybalay, Philipinas)
XVII.Que pensam os jovens argentinos sobre a Regra de Sao Bento
Um grupo de monjas da Abadía Santa Escolástica
(Buenos Aires, Argentina)
Formato: 21 x 30 cm, 57 págs RS 25,00.

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