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A HISTÓRIA DO PRESENTE COMO TEMPO DA MEMÓRIA

Antônio Fernando de Araújo Sá∗

RESUMO:
Este trabalho se propõe a discutir, do ponto de vista teórico e metodológico, a prática
investigativa da História do Tempo Presente, buscando situá-la no debate historiográfico
contemporâneo. Ao enfatizar as complexas relações entre a história e a memória, ressaltamos a
importância da mídia na constituição do próprio modo de ver e perceber o mundo
contemporâneo. Nesta perspectiva, reiteramos a necessidade de que os currículos de história
incorporem estas novas fontes, pois não basta formar historiadores apenas lendo livros. É
necessário que os professores de história forneçam ferramentas teórico-metodológicas para que a
formação intelectual dos estudantes esteja de acordo com o tempo em que vivemos.
Palavras-chave: história do tempo presente, historiografia e memória

“Lo histórico es una dimensión ineludible de lo existente y no sólo de lo que ha existido”.


Julio Aróstegui

Escrever a história do presente remonta a uma longa tradição na historiografia ocidental,


constando nas obras de Heródoto, Tucídides, Políbio, César, Tocqueville, Marx, B. Croce e Henri
Pirenne. Contudo, a expansão do ideário positivista no momento da consolidação do ofício do
historiador no século XIX impôs a interdição da história recente e do uso de testemunhos diretos.
Foi Benedetto Croce, ao afirmar que a “história é sempre contemporânea”, que deu o início da
revisão das relações entre a história e o presente, questionando esta historiografia positivista que
atribuía à história a interpretação do passado, um passado cortado epistemologicamente do
presente. Na França, com a revolução historiográfica empreendida pela Escola dos Annales, a
partir de 1929, o contemporâneo encontrou um lugar legítimo na história, ainda que tenha
mantido o estigma de objeto de estudo problemático e a sua legitimidade tenha sido
constantemente questionada, tornando-se mesmo uma história sem historiadores. Na própria
revista dos Annales, na década de 1930, a história do presente ficou por algum tempo restrita aos
cientistas sociais (sociólogos, antropólogos, cientistas políticos e economistas). Entretanto, foi
somente após a Segunda Guerra Mundial que a comunidade de historiadores e a opinião pública
começaram a aceitar a história recente como campo inteligível dos estudos históricos,
especialmente nos Estados Unidos, na Alemanha e na França, quando, por conta da ambigüidade

Professor do Departamento de História da Universidade Federal de Sergipe.
da história contemporânea, foram buscados outros termos como Instant history americana,
“história imediata” ou “história do presente”1.
Como é um debate em aberto, convém explicitarmos a idéia de história do tempo
presente, considerando-a como um conceito em construção, que, por sua vez, expressa uma
história também em construção. François Bédarida propõe que o caráter inacabado e em
constante movimento é, mais do que qualquer outra, constitutivo da história do tempo presente e
é esse o desafio que temos que enfrentar quando nos deparamos com a questão da
responsabilidade social do historiador na abordagem de temas controversos e que ainda tocam
indelevelmente a vida das pessoas, como é o caso do racismo e do anti-semitismo. Utilizando a
imagem do palimpsesto, Bédarida afirma que “o tempo presente é reescrito indefinidamente
utilizando-se o mesmo material, mediante correções, acréscimos, revisões”, num constante
processo de reescrita2.
Podemos afirmar que a história do presente se identifica aqui com a história escrita por
historiadores que testemunharam os acontecimentos do seu tempo e que esta participação nos
acontecimentos é enriquecedora, na medida em que a atualidade é restituída em suas raízes3.
Abdón Mateos distingue a história do tempo presente da história do passado recente ou da
história imediata. Segundo ele, a história do tempo presente estuda “preferencialmente processos
históricos que, ainda que sejam recentes, estão já encerrados ou para os quais existe uma mínima
distância cronológica”4. Já Mudrovcic entende por história do tempo presente aquela
historiografia que tem por objeto acontecimentos ou fenômenos sociais que constituem
recordações de pelo menos três gerações que compartilham o mesmo presente histórico5. Na
mesma direção, Robert Frank também critica a noção de “história imediata”, pois se há
imediatismo entre o historiador do presente e a testemunha, é necessária uma mediação na qual
passa a reflexão crítica sobre o tempo e pela colocação do depoimento na perspectiva da
espessura da duração, tanto do passado próximo, quanto longínquo. Segundo ele, essa é a
diferença fundamental entre a “história do presente” e o trabalho sobre a “atualidade”, entre o
historiador e o jornalista6.
Jean Lacouture, por outro lado, caracterizaria a história imediata como próxima,
participante e, ao mesmo tempo, rápida na execução e produzida por um ator ou uma testemunha
vizinha do acontecimento, da decisão analisada. E ressalta que o veículo e o lugar privilegiado da
“história imediata” assumiu a denominação global de meios de comunicação de massa, o que
impõe certa vigilância na utilização destas fontes de pesquisa. Segundo o autor, a “história
imediata é uma projeção de nosso século convulsionado”. É na imediação da comunicação que
impõe o desenvolvimento da história imediata, “sinais de bruma de uma sociedade alucinada por
informações e no direito de exigir inteligibilidade histórica próxima”7.
Assim, entre as diversas denominações da história do presente, uma definição convincente
é aquela que propõe a “história imediata” como toda investigação e interpretação que trata desde
um ângulo histórico ou historiográfico fatos relevantes ou processos coetâneos ao próprio
historiador.
Em meio a esta polêmica, talvez o mais importante seja estabelecer qual é o impacto da
reintegração do tempo presente no trabalho do historiador, identificando quais são os efeitos
sobre o seu ofício e a prática de seus métodos. De um lado, com relação às fontes, os arquivos
perderam seu caráter exclusivo, na medida em que se recorreu às fontes orais, visuais, da
imprensa etc. O historiador que trabalha com o tempo presente tem a desvantagem da abundância
das fontes ao invés da penúria. Por outro lado, o historiador do tempo presente varreu os últimos
vestígios do positivismo, tanto quando ele sabe que sua objetividade é frágil, quanto sobre sua
importância para a construção dos fatos8.
Além disso, Roger Chartier interpõe um elemento relevante para a análise do tempo
presente, pois o seu historiador “é contemporâneo de seu objeto”, partilhando, assim, “com
aqueles cuja história ele narra as mesmas categorias essenciais, as mesmas referências
fundamentais”. Neste sentido, o historiador do tempo presente é, pois, “o único que pode superar
a descontinuidade fundamental que costuma existir entre o aparato intelectual, afetivo e psíquico
do historiador e o dos homens e mulheres cuja história ele escreve”9.
O reconhecimento da intervenção do sujeito na história do presente, tanto no âmbito da
história vivida – como ator ou testemunho – quanto à escrita da história – historiador do seu
próprio tempo – põe em evidência um caráter de subjetividade na produção do conhecimento
histórico, proporcionando um ponto de partida interessante para se estabelecer um debate
filosófico que acaba por enriquecer a historiografia.

POR UMA HISTÓRIA DA MEMÓRIA


Um dos grandes temas da história do tempo presente é o estudo da presença incorporada
do passado no presente das sociedades e os estudos dedicados às modalidades de construção e
institucionalização das memórias contemporâneas foram decisivos para o início de novas
pesquisas que tentam identificar, além do mero discurso histórico, as formas múltiplas e,
possivelmente, conflitantes de rememoração e utilização do passado.
A relação entre história e memória constitui-se, assim, em permanente reflexão para o
historiador preocupado com o mundo contemporâneo, na medida em que o Tempo Presente é o
Tempo da Memória, isto é, o presente é um conteúdo da memória que constitui o substrato
identitário das diferentes sociedades e a memória possibilita o desvendamento do presente.
Assim, um aspecto fundamental a se ter em conta pelo historiador é a permanente reescritura da
história e o constante diálogo entre o presente e o passado10.
Assim, o que os historiadores precisam é historicizar a memória, na medida em que o que
se busca no passado é algo que pode ter-se perdido, mas que se coloca no presente como uma
questão não resolvida, ou melhor, que é possível buscar um passado perdido a partir das tensões
no imaginário do presente11. Talvez por isso, nas últimas décadas, o discurso sobre a memória,
seus usos e práticas, tem ocupado um lugar proeminente nas diferentes teorias contemporâneas,
assumindo, inclusive, uma dimensão política muito forte para as chamadas minorias étnicas,
mulheres, ambientalistas, homossexuais no mundo atual.
Neste sentido, a memória coletiva é posta no âmbito da luta das forças sociais pelo poder,
pois a memória coletiva “é um instrumento e um objetivo do poder”, na medida em que controlar
o passado “é uma das grandes preocupações das classes, grupos, dos indivíduos que dominaram e
dominam as sociedades históricas. Os esquecimentos e silêncios da história são reveladores
desses mecanismos de manipulação da memória colectiva”12.
Talvez seja menos fácil do que se imagina falar da memória quando se é historiador, pois
ao justapor restos, fragmentos de lembranças, muitas vezes o quadro composto provém menos do
próprio passado do que do sonho do historiador. O território da memória é constituído pela
dialética entre o passado e o presente, o que nos possibilita perceber como o presente condiciona
a percepção do passado, exigindo revisões históricas e, ao mesmo tempo, em que medida em está
sendo influenciado pelo passado. Assim, como os fatos sociais evoluem e mudam com o tempo, a
memória há de ter a sua própria história e uma das “melhores maneiras de ver qual o papel da
memória para a história é observar a memória na história”13. Contudo, os trabalhos
desenvolvidos nesta perspectiva têm se concentrado mais na descrição, sem uma preocupação
teórica definida.
Desenvolvida no âmbito de um campo fragmentado, a história da memória tem sido mais
praticada do que teorizada. Henry Rousso a define como o estado da evolução das representações
do passado, entendidas como fatos políticos, culturais ou sociais, em que inclui tanto a análise
histórica do acontecimento propriamente dito, como a análise de sua posteridade. Não se propõe
aqui a análise de suas conseqüências, mas como se manifesta a sobrevivência ativa e passiva
destas representações do passado no imaginário social e, portanto, nas práticas sociais das
gerações posteriores. Neste sentido, a história da memória tem sido quase sempre “uma história
das feridas abertas pela memória”, sobretudo uma manifestação das “interrogações atuais e
palpitantes sobre certos períodos que ‘não passam’”14.
Pierre Nora afirma que a novidade da história da memória reside no fato de que é uma
história crítica como um todo e não somente por seus próprios instrumentos de trabalho. Segundo
o autor, de agora em diante, a história entrou em sua idade epistemológica, na medida em que ela
“... não se interessa pela memória como recordação, mas como economia geral do passado no
presente”. Trata-se, então, de compreender a administração geral do passado no presente,
mediante a desconstrução de seus pólos de fixação mais significativos, isto é, “uma história
crítica da memória através de seus principais pontos de cristalização ou, dito de outro modo, da
construção de um modelo de relação entre a história e a memória”15.
Periodizando a história da memória, Hutton caracteriza a “primeira geração da história
da memória” por um incipiente debate teórico entre seus autores. Talvez por isso os historiadores
tenham “redescoberto” as obras de Maurice Halbwachs sobre memória coletiva e a de Frances
Yates sobre a arte da memória. Desde então, inúmeros trabalhos sobre as políticas públicas de
comemoração foram realizados, enfatizando o papel desempenhado pela memória coletiva na
construção da identidade nacional, cujo modelo é o projeto enciclopédico organizado por Pierre
Nora, Les Lieux de mémoire (1984-1992), que acabou por influenciar outras iniciativas em
diferentes países como os Estados Unidos, Alemanha, Grã Bretanha, Israel16.
O projeto de Nora é importante não apenas pelos tópicos sugeridos, mas também por seu
método de uma interpretação histórica, na medida em que alguns historiadores da memória,
seguindo seu modelo, começaram a escrever história como se fosse uma arte de memória.
Enquanto os historiadores convencionalmente localizam seus tópicos dentro de uma narrativa
unificada, aqueles que se interessaram pela história da memória localizam suas narrativas em
lugares particulares de memória. Segundo a leitura de Hutton, o interesse pela memória derrubou
a narrativa de seu status privilegiado como a fundação estrutural de história, cujo trabalho a
história de mentalidades preparou o caminho.
Na década de 1990 presenciamos, no âmbito da emergência industrial da memória, a
proliferação dos memoriais do Holocausto através do mundo ocidental, demonstrando que, ao
invés do esquecimento do passado, existe uma verdadeira obsessão com relembrá-lo. Surge,
então, uma série de trabalhos sobre o Holocausto, que se propõem a escrever uma nova história
da memória ao tentar analisar a memória no contexto das redes sociais, isto é, como produto de
uma mistura de interesses e motivações materiais e imateriais. Essa “segunda geração de estudos
da memória” distingue-se com relação aos textos da primeira geração pela tentativa de explorar
como as pessoas comuns constroem suas memórias. A prática da memória tem sido explorada
como um veículo para desestabilizar as fronteiras da historiografia de diversos países17.
Como há “passados que passam e passados que pesam”, a emergente história da memória
aparece como um terreno novo para a história do presente e para a experimentação de alguns de
seus conceitos. A contemporaneidade e, sobretudo a história do presente, podem servir de
laboratório de análise adequado para o conhecimento empírico dos tempos e de sua ação sobre a
memória e sobre a história e sua escrita18.
Assim, a reconstrução histórica é necessária mesmo quando a memória social preserva o
testemunho direto de um acontecimento, pois cabe ao historiador questionar este testemunho não
por duvidar do relato, mas por que se assim não o fizer ele estará negando a sua autonomia como
historiador no exercício de sua profissão. Ao mesmo tempo, o historiador estaria renunciando a
sua independência com relação à memória social, na medida em que se baseia em métodos
próprios a sua ciência e na reivindicação do direito de decidir por si próprio19.
Ao converter a memória em objeto de história no presente, a história da memória nos
oferece novas chaves de inteligibilidade do passado, na medida em que se vincula à atualidade e a
demanda social, bem como aos objetos concretos da lembrança. Deste ponto de vista, o
historiador deve, além do estudo dos acontecimentos em si, estudar como são elaborados,
transmitidos e percebidos no processo de reconstrução ideológica do passado que condiciona a
própria percepção do presente pelos diferentes grupos sociais. Sua tarefa, então, não é mais
descrever ou narrar acontecimentos, mas realizar uma profunda reflexão sobre eles, que ajude-
nos a entender sua função de elementos integrantes de um determinado imaginário coletivo, pois,
apesar de se estabelecer um reconhecimento mútuo da importância de determinado
acontecimento histórico, há que se perceber a reapropriação dele a partir dos valores e da posição
que ocupa determinada corrente de opinião no jogo político.
Atualmente, o conhecimento dos usos do passado talvez seja o melhor antídoto contra a
tentação de considerar-se, enquanto historiador, o depositário da verdade histórica. A
“democratização” da história tem cada vez mais destituído um pouco os intelectuais do
monopólio da história, pois o incremento das reflexões sobre a memória histórica encontra-se
vinculado aos meios de comunicação, especialmente através das comemorações de alguns
acontecimentos históricos relevantes, que propiciam novas leituras do passado em consonância
com o presente vivido.
Assim, a complexidade do mundo em que vivemos e a mundialização dos acontecimentos
colocam uma série de questões para o historiador, especialmente pelo fato de que a massificação
e a mundialização da história desenraiza o cidadão dos grupos humanos originários e o situa num
espaço mundial, fazendo-o sentir a necessidade de construir uma memória coletiva e um marco
de identificação pessoal e coletiva. Neste sentido, os historiadores se vêem diante do
protagonismo adquirido pelos meios de comunicação de massa na produção de uma história,
digamos, mediada20.

HISTÓRIA, MÍDIA E MEMÓRIA


Entre os pressupostos sociais da emergência da história do presente está a nossa
percepção atual do tempo presente, marcada pela aceleração e mundialização, aos quais
contribuem, inexoravelmente, as revoluções científicas com suas vertiginosas descobertas e os
meios de comunicação com sua avalanche de acontecimentos cotidianos. Este impacto dos meios
de comunicação de massa também provoca uma aproximação da experiência do presente com o
cidadão comum. A complexidade do mundo atual desafia ao indivíduo, tornando uma demanda
social a necessidade de um “conhecimento explicativo” para se entender o presente21. Pierre Nora
tem acentuado o protagonismo adquirido no presente pelos meios de comunicação na construção
do acontecimento, reiterando o papel de ator e gestor dos mass-media como ator e gestor da
história do presente.
Entretanto, ao fabricar o presente, os meios de comunicação constroem aquilo que Jesus
Martin-Barbero chamou um presente autista, isto é, os meios contribuem para um debilitamento
do passado, da consciência histórica. Seus modos de se referir ao passado e a história são quase
sempre descontextualizados, reduzindo o passado a uma citação, um adorno para colorir o
presente. Por outro lado, a fabricação do presente implica também uma profunda ausência de
futuro, na medida em que os meios constituíram um dispositivo fundamental de instalação de um
presente contínuo. Assistimos, assim, ao regresso ao tempo do mito, aos eternos retornos, onde o
único futuro possível é o que vem depois, não um futuro a construir pela intervenção dos homens
na história22.
Ao veicular aquilo que pode ser lembrado, ordenando determinada cronologia do mundo e
dos processos em desenvolvimento, a mídia colabora na organização da memória nas sociedades
contemporâneas. Constituindo os acontecimentos, os meios de comunicação tornam-se senhores
da memória da sociedade, na medida em que é “papel da mídia reter assuntos que, guardando
identificação com o leitor, precisam ser permanentemente atualizados”23.
Assim, a mídia “desconsidera as diferenças nas leituras e nas formas de compreensão e
valorização do mundo, tenta ignorá-las para organizar e atribuir sentidos - específicos - aos
processos e discursos, retirando dos grupos primários o papel de atribuir importância e valorizar
relações que antes lhes era específico”. A memória, por conta destas transformações operadas no
âmbito da cultura, com sua mercantilização e industrialização, “perde o sentido de passado e
passa a se fazer como construção ou presente”24.
As novas possibilidades de fontes históricas têm levado a alguns críticos a chamar a
história do presente como uma história perigosamente “mediada”, isto é, dominada pelos meios
de comunicação e seus produtos. Talvez esta reserva se deva mais a falta de domínio do
historiador com relação a estas linguagens. Vale lembrar que o exame crítico deste tipo de fontes
históricas não difere de outras épocas históricas no que tange a ação do tempo, do poder, da
produção e da seleção e tampouco das interpelações de seu próprio momento.
Apesar de haver entre os pesquisadores da história do presente um consenso sobre a
importância da mídia na constituição do próprio modo de ver e perceber o mundo
contemporâneo, os estudos ainda se encontram de forma embrionária, carecendo de uma
discussão mais acurada dos problemas metodológicos e da necessidade de se constituir arquivos
que incorporem as novas linguagens para a pesquisa histórica, tais como televisão, cinema,
quadrinhos, internet, rádio, fotografia etc.
Uma proposta para o historiador lidar com essas novas linguagens é não utilizá-las como
confirmação – ou contraponto – de um conhecimento produzido a partir das fontes textuais. Mas
reivindicá-las como objeto específico de estudo, decodificando a construção, por meio de
imagens, textos e sons, de uma memória das classes dominantes que objetivam utilizar
determinada visão de história para impor seus valores à sociedade como um todo. Isto demonstra
a importância deste material como fonte preciosa para a compreensão de comportamentos, visões
de mundo, valores, identidades e ideologias da sociedade contemporânea, pois os meios de
comunicação estruturam sua cobertura dos acontecimentos no sentido de legitimar os núcleos de
poder, já que os noticiários regem-se pela atuação das instituições e personagens hegemônicos. O
diálogo entre memória e mídia possibilita-nos, então, uma série de reflexões para compreender as
relações entre imprensa e poder.
A interdisciplinaridade tem sido uma das principais bases para a história do presente,
resultando num diálogo frutífero com as ciências da comunicação depois do intenso intercâmbio
com a sociologia e a antropologia ao longo do século XX. Vale lembrar que a historiografia
empreende sua análise do presente, sem contudo, perder de vista as práticas profissionais
consolidadas, ao longo do tempo, no âmbito da comunidade de historiadores. Dialogando com o
jornalismo, ainda que confluam ante ao mesmo fato, seus métodos são distintos.
Existe um progressivo consenso em atribuir o conceito de história imediata à atividade
jornalística de investigação, enquanto ao trabalho do historiador corresponde a história do
presente. Não obstante, o historiador do presente necessita perceber em sua obra o impacto da
atividade profissional do jornalismo na construção dos acontecimentos hoje, na medida em que a
análise histórica da comunicação e a mediatização são fundamentais para compreendermos o
nosso tempo.
Estabelecer critérios de seleção e de interpretação do material proveniente das novas
tecnologias e das novas fontes históricas, somado a intenso debate teórico sobre seus impactos
sobre a sociedade contemporânea, é o que deve mover o historiador hoje, na medida em que o
que importa não são apenas os fatos e eventos da História em si, mas sim como a percepção do
passado é produzida pelos filmes, quadrinhos, reportagens. Marc Ferro propôs buscar “o não-
visível através do visível” para se estabelecer o que ele chamou, apropriadamente, no caso do
cinema, de uma contra-análise da sociedade25.
Então, o que interessa é o uso que se faz da história pelos meios de comunicação,
evidenciando os desejos e as necessidades que estão presentes na representação do passado, pois,
quando abordam um tema histórico artistas e jornalistas não efetuam uma mera reconstituição dos
acontecimentos históricos na sua factualidade circunstanciada, mas sim o registro de
virtualidades latentes da história individual e coletiva. O que se objetiva é tentar entender como
as práticas, complexas, múltiplas, diferenciadas, constroem o mundo como representação.
Portanto, é mais que urgente que os currículos de história incorporem estas novas fontes -
cinema, fontes orais, história em quadrinhos, internet etc., pois não basta formar historiadores
apenas lendo livros. É necessário que os professores de história forneçam ferramentas teórico-
metodológicas para que a formação intelectual dos estudantes esteja de acordo com o tempo em
que vivemos.

BIBLIOGRAFIA:

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NOTAS:

1
DUMOULIN, O. História Contemporânea. In: BURGUIÈRE, André (org.). Dicionário das Ciências Históricas.
Rio de Janeiro: Imago, 1993, p. 172-175.
2
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Janaína (orgs.). Usos e Abusos da História Oral. Rio de Janeiro, Editora da FGV, 1996, p. 221.
3
GAMBOA, Ángel Soto. Historia del presente: Estado de la cuestión y conceptualización. Revista Electrônica
Historia Actual On-Line. Año II, n. 3, Invierno 2004 [http://www.hapress.com].
4
MATEOS, Abdón. Historia, Memoria, Tiempo Presente. In: Hispania Nova: Revista de História
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5
MUDROVCIC, Maria Inês. Alguns consideraciones epistemológicas para una “Historia Del Presente”. In:
Hispania Nova: Revista de História Contemporánea. Capturado no endereço eletrônico
http://hispanianova.rediris.es em 13/4/2000.
6
FRANK, Robert. Questões para as fontes do presente. In: CHAVEAU, A. & TÉTARD, Ph. (org.). Questões para a
história do presente. Bauru/SP: EDUSC, 1999, p. 117.
7
LACOUTURE, Jean. A História Imediata. In: LE GOFF, Jacques (org.). A História Nova. São Paulo: Martins
Fontes, 1990, p. 237-238.
8
RÉMOND, René. Algumas questões de alcance geral à guisa de introdução. In: FERREIRA, Marieta de M. &
AMADO, Janaína (orgs.). Usos e Abusos da História Oral. Rio de Janeiro, Editora da FGV, 1996, p. 203-209.
9
CHARTIER, Roger. A visão do historiador modernista. In: FERREIRA, Marieta de M. & AMADO, Janaína
(orgs.). Usos e Abusos da História Oral. Rio de Janeiro, Editora da FGV, 1996, p. 216.
10
GONZÁLEZ, Juan Sánchez. Sobre la memoria. El pasado presente en los medios de comunicación. Revista
Electrônica Historia Actual On-Line. Año II, n. 4, Primavera 2004 [http://www.hapress.com].
11
BENJAMIN, Walter. Sobre o conceito de História. In: Obras Escolhidas: Magia e Técnica, Arte e Política.
Volume 1. São Paulo: Brasiliense, 1985.
12
LE GOFF, Jacques (org.). Memória e História. Enciclopédia Einaudi. Lisboa: Imprensa Nacional/Casa da
Moeda, 1984, p. 46 e 13.
13
FENTRESS, James e WICKMAN, Chris. Memória Social. Lisboa: Teorema, 1994., p. 20-21.
14
ROUSSO, Henry. A memória não é mais o que era. In: FERREIRA, Marieta de Moraes & AMADO,
Janaína(orgs.). Usos e Abusos da História Oral. Rio de Janeiro, Editora da FGV, 1996, p. 95.
15
NORA, Pierre. La aventura de ‘Les Lieux de mémoire’. In : BUSTILLO, Josefina Cuesta (ed.). Ayer. Madrid:
Marcial Pons/Asociación de Historia Contemporánea, n. 32, 1998 (número especial Memoria e Historia), p. 26 e 32-
33.
16
HUTTON, Patrick. History and Memory; Assassins of Memory: Essays on the Denial of the Holocaust. History
and Theory. Volume 33, Issue 1 (feb., 1994), p. 95.
17
HUTTON, Patrick. Memonic Schemes in the New History of Memory. History and Theory. Volume 36, Issue 3
(Oct., 1997), p. 378-391.
18
CUESTA, Josefina. Historia del presente. Madrid: EUDEMA, 1993.
19
CONNERTON, Paul. Como as sociedades recordam. 2ª edição. Oeiras, Celta, 1999, p. 16.
20
GAMBOA, Ángel Soto. Historia del presente: Estado de la cuestión y conceptualización. Revista Electrônica
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