Desde o início de nossa carreira, recebemos propostas para gravar
arranjos de músicas conhecidas, o que nos indignava, pois sempre
privilegiamos nossas composições e nossa vontade era torná-las “conhecidas” do público. Foi o que fizemos sempre, desde 1989 ,quando gravamos nosso primeiro CD, lançado por uma gravadora alemã.
Vibramos bastante com o convite da gravadora que reconheceu o
valor artístico de nosso trabalho autoral e também com fato de este reconhecimento ter partido de Hamburgo, a cidade que revelou ao mundo a música do quarteto inglês The Beatles, cuja influência em nossa decisão de seguir a carreira de músicos foi fundamental.
Também não foram poucos os convites para que gravássemos
arranjos somente de musicas do quarteto de Liverpool, Vitor Martins, José Amâncio, Eduardo Muskat, Bob Haddad dentro outros, foram alguns dos mais persistentes produtores em seduzir o Duofel a interpretar Beatles. Mesmo assim continuávamos no firme propósito de desenvolver uma carreira autoral que nos rendeu bons frutos além de 8 indicações ao Premio Sharp de Musica e premio de Melhor Musica Instrumental, no ano de 1994 e dez Cds e um DVD. Por outro lado, sempre curtimos tocar Beatles em momentos de lazer e, anos depois do primeiro lançamento em CD, chegou a hora de compartilharmos esses momentos de puro prazer, relembrando ou recriando algumas daquelas músicas que fizeram parte de nossa trajetória.
Escolher o repertório foi extremamente simples, já que os arranjos
foram surgindo durante os ensaios e os instrumentos plugados é que nos sugeriram, através dos timbres e afinações diferentes, quais as melodias que melhor se encaixavam em nossa formação.
Alguns desses temas são simplesmente interpretados e outros
realmente arranjados para nossa linguagem. Merecem comentários:
Norwegian Wood (1965 – Rubber Soul) foi a primeira música e o
arranjo surgiu em Londres, em 1988. Nela utilizamos o efeito “frouxolão” (sexta corda totalmente frouxa no violão de nylon), privilegiando a experimentação e, desde então, tem sido incluída em nossos shows. Daí a vontade dos produtores e fãs de ouvir outras mais. Em Eleanor Rigby (1966 – Revolver) e A Day In the Life (1967 – Sgt Peppers Lonely Hearts Club Band), Fernando utiliza uma afinação muito próxima ao contra-baixo, surpreendendo pela sonoridade na região dos graves e ainda pela utilização de arcos de rabeca e “zig-zum”. Em Eleanor Rugby, remetemo-nos à fase psicodélica, bastante evidente na trajetória do quarteto. Ainda neste contexto, The Fool on the Hill (1967 – Magical Mystery Tour), tocada com arcos no violão tenor e viola de dez, traduz o que se chamava de “música viajante”. É interessante ressaltar que este álbum foi proibido no Brasil pela ditadura militar.
Em Mr. Moonlight, uma das raras composições de outro autor (Roy
Lee Johnson-EUA), gravada no início da carreira, em 1964 (LP Beatles 65, no Brasil), mostramos nossa visão “sertaneja” , já sugerida pelo arranjo original e, com a formação do violão tenor de quatro cordas e da viola de dez cordas, criamos a sonoridade típica do folclore brasileiro, também utilizada em Here Comes the Sun (1969 – Abbey Road). Já em Across the Universe (1969 – Let it Be), substituímos a viola de dez pela de doze cordas.
Sobre a forma de gravar, um fator de muita importância foi a busca
da configuração de ambiente que tornasse o CD bastante próximo do que reproduzimos em shows. Assim, optamos por gravar em sistema digital e com violões plugados, privilegiando uma linguagem POP, gravando “ao vivo” no estúdio, sem over dubs e sem edições, utilizando efeitos de reverb, delay e equalizer tão somente. Esta opção nos causou certa inquietação, apenas abrandada durante o processo de masterização, nos estúdios Audiomobile, do querido Egidio Conde, quando Fernando Ferrari analisava o conteúdo e a sala ia enchendo de “bicões” (rs..) surpreendidos com os graves e toda a sonoridade dos violões.
O projeto gráfico foi desenvolvido pelo Gal Oppido, que, além de
estar envolvido com o Duofel desde o segundo CD, de 1993, é musico, arquiteto e beatlemaníaco. Com certeza, a sessão de fotos para a capa foi um dos momentos de maior prazer neste projeto, sem falar da assistente, Kátia, japonesa, responsável pelo toque que faltava para que tudo se aproximasse da história real dos homenageados.
Porém, a participação de nossos amigos e fãs na escolha da melhor
capa pela web foi o ponto alto deste trabalho e superou nossas expectativas, dando-nos a certeza de que estamos sempre muito bem acompanhados.
Este trabalho possivelmente estaria ainda em fase de projeto, não
fossem:
o bilhete de Mauricio Kubrusly para a liberação com a editora;
Ana Paula de Lima, do lado de lá, para nos ajudar com a liberação;
os amigos do Ao Vivo Music em Sampa nos cederem oito semanas
de seu palco para nossos ensaios abertos até a brincadeira amadurecer;
Rosinha Viegas, que dedicou seu precioso tempo para verter tudo isso para o inglês;
Ronnie Von para nos brindar com um press-release;
a condução da Ana Buono à frente da AB Musical em todas produções, com a assistência da Vera Velozo e Éderson Damasceno, nossa assessora de imprensa Denise Souza, a iluminação do Rafael Leão em nossos shows, nosso arquiteto de som Rodolfo Yadoya, a assistência de palco do Lester Krasny, os efeitos especiais da Marina, as roupas da Paula Yne, nosso desbravador de lojas Waldir Córdoba, o pessoal da FUEGO, Telso Freire, Felipe e Logullo, as editoras de texto Vera Helena e Mônica Maino, nosso webmaster Daniel de Simone e nossas cordas e cabos Elixir.
Assim se faz um álbum, assim se faz mais um capítulo de nossa