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O vizir Calin-Beg quer expulsar os judeus do reino, mas o rei Tajuã defende os judeus. Durante uma visita aos bairros judeus, o rei faz perguntas enigmáticas a um tecelão judeu que só o tecelão pode explicar. Isso mostra a inteligência dos judeus e faz o vizir perceber que ele foi o "pato" na situação.
Descriere originală:
Texto de Malba Tahan apresentado em aula de matemática sobre a importância da contextualização matemática
O vizir Calin-Beg quer expulsar os judeus do reino, mas o rei Tajuã defende os judeus. Durante uma visita aos bairros judeus, o rei faz perguntas enigmáticas a um tecelão judeu que só o tecelão pode explicar. Isso mostra a inteligência dos judeus e faz o vizir perceber que ele foi o "pato" na situação.
O vizir Calin-Beg quer expulsar os judeus do reino, mas o rei Tajuã defende os judeus. Durante uma visita aos bairros judeus, o rei faz perguntas enigmáticas a um tecelão judeu que só o tecelão pode explicar. Isso mostra a inteligência dos judeus e faz o vizir perceber que ele foi o "pato" na situação.
O Rei Taju, do Imen, senhor de cento e oitenta mil tamareiras, tinha
um vizir chamado Calin-Beg, que era excessivamente gordo e digamos, sem receio da verdade, excessivamente mau. A gordura espantosa do tal ministro podia ser pesada facilmente em arrobas numa grande balana de ferro: impossvel seria, entretanto, calcular a soma das maldades que negrejavam seu corao. Um dia, ao terminar a audincia costumeira, o maldoso Calin-Beg, com voz grave e solene assim falou ao poderoso sulto: - Os judeus, senhor, constituem uma raa detestvel. O ouro obtido pelo trabalho penoso de nossas mos vai cair finalmente em poder deles. So infiis incorrigveis e a todo instante proferem blasfmias contra os preceitos mais puros e elevados da nossa religio. Penso que devemos expuls-los o mais depressa possvel do nosso pas e venho pedir-vos para isso a necessria autorizao. O rei Taju, tolerante e bondoso, no ocultava a sua simpatia pelos judeus que viviam em seus domnios. No via, alis, razo alguma para repelir e martirizar um povo que no perturbava a paz de suas cento e oitenta mil palmeiras e, ao contrrio, contribua de algum modo para o progresso de seu reino. Disse pois ao seu odiento vizir: - Uma vez que julgas medida til ao bem-estar de meus sditos eu no hesitaria em decretar, de momento, a expulso de todos os israelitas. Como medida preliminar desejo, entretanto, observar como vivem e trabalham os judeus. Vamos, meu amigo, dar ligeiro passeio pelos arredores da cidade. Acudiu pressuroso o ministro: - Julgo interessante a vossa lembrana, rei! Tereis ocasio de ver durante a nossa excurso que os judeus vivem como chacais imundos, praguejando, cheios de dio contra os servos de Allah (exaltado seja o Altssimo!). Momentos depois o rei Teiju, acompanhado do seu primeiro ministro, saa a passear pelos bairros mais pobres da cidade, observando atentamente os mseros casebres em que viviam os israelitas. Em dado momento aproximou-se o soberano de um pobre tecelo que trabalhava sentado soleira da porta e disse-lhe em tom amistoso:
- Por Allah, meu amigo! Vejo-o a trabalhar incessantemente. Dos dez
j tira voc para os doze? Respondeu o tecelo, esboando um sorriso muito triste: - Ahl Senhor! Eu dos dez no tiro nem para os trinta e dois! Ao ministro, que tudo ouvia com a maior ateno, causou no pequeno espanto aquele estranho dilogo. O rei Taju, entretanto, parecendo no se contentar com a resposta do pobre judeu, interrogou-o novamente: - E quantos so para voc os trinta e dois de cada dia? - Quatro, com dois incndios - tornou o outro. Sorriu o rei ao ouvir essa resposta, cujo sentido a inteligncia do vizir no soube penetrar, e insistiu com bondade: - Se esperas algum incndio para breve, por que no depenas logo o pato? Com as penas poders apagar o fogo. Retorquiu o tecelo: - Assim espero, senhor. Com a ajuda de Deus em breve depenarei o pato. Ao regressar ao palcio, o rei observou muito srio ao vizir: - Estou certo, meu amigo, que compreendeste perfeitamente a conversa que tive h pouco com aquele pobre judeu. - Infelizmente, senhor, confessou constrangido o ministro - ouvi as vossas perguntas e todas as respostas do israelita, sem nada entender! - Pela glria do Profeta! - cortou o rei, - a declarao que acaba de fazer humilhante para um vizir! No posso tolerar semelhante fraqueza! Vou conceder-te o prazo de trs dias para descobrires a significao perfeita das minhas perguntas e explicares claramente todas as respostas dadas pelo judeu. Se no o conseguires sers demitido, por incapacidade, do cargo de vizir.
O odiento ministro, esmagado pela terrvel ameaa do rei, procurou
por todos os meios a decifrao do mistrio. As perguntas do rei no tinham realmente sentido algum. A primeira era obscura charada: - "Dos dez j tira voc para os doze?" E a resposta, logo a seguir dada pelo judeu? No passava, afinal, de um verdadeiro disparate: - "Dos doze, senhor, eu no tiro nem para os trinta e dois!" A segunda indagao do rei parecia traduzir completo absurdo: - "E quanto so para voc os trinta e dois de cada dia?" Eis a enigmtica resposta formulada pelo israelita: - "Quatro com dois incndios!" Havia ainda, como complemento diablico, a terceira pergunta do soberano: - "Se esperas incndio para breve, por que no depenas logo o pato? Com as penas poders apagar o fogo." Convenceu-se o rancoroso vizir de que a sua pobre e acanhada inteligncia no dispunha de recursos para deslindar o segredo que envolvia o estranho dilogo travado entre o rei e o israelita. Consultou s ocultas seus amigos mais atilados, mas nenhum deles soube achar uma explicao para o caso. Recorreu aos ulems que viviam entre livros e manuscritos, e os sbios, depois de largas divagaes filosficas, declararam-se incapazes de esclarecer o mistrio. Que fazer? Preocupado com a grave ameaa que lhe pesava sobre os ombros, resolveu enfim procurar a nica pessoa que poderia auxili-lo naquela dependura. Foi, pois, sem mais hesitar, casa do tecelo judeu. Interrogado pelo vizir, respondeu o velho israelita:
- Sinto dizer-vos, senhor, que sou pobre e luto para viver
modestamente. No posso perder, portanto, as boas oportunidades que se me oferecem para melhorar a triste condio de penria em que me encontro. Exijo, pois, o pagamento de cem dinares pela explicao da primeira pergunta. O ministro Calin-Beg tirou imediatamente da sua bolsa a quantia pedida e entregou-a ao judeu: -------------- A primeira pergunta, vizir! - comeou o israelita - muito simples. O nosso bom soberano queria saber "se dos dez eu tirava para os doze", isto , se com os dez dedos da mo eu ganhava o suficiente para viver durante os doze meses do ano. Respondi-lhe ento (essa a verdade) que "dos dez eu no tirava nem para os trinta e dois", isto , para os trinta e dois dentes da minha boca, ou melhor, com os dez dedos da mo eu no chegava a obter o indispensvel para a minha alimentao! - Realmente! - exclamou radiante o ministro, - muito racional e clara tua explicao. Compreendi tudo perfeitamente. E a segunda parte - filho de Israel! - que sentido tem? - Para a explicao da segunda parte desse enigma - imps o tecelo - quero receber um prmio de duzentos dinares. Satisfeito imediatamente, o judeu depois de guardar o dinheiro assim falou: - Quando o nosso glorioso soberano me interpelou daquela forma: "E quantos so para voc os trinta e dois de cada dia?, compreendi que ele queria saber o nmero de pessoas mantidas por mim, isto , quantos so os trinta e dois (dentes) a que dou de comer a cada dia. A minha resposta clara e evidente: "Quatro, com dois incndios". As quatro pessoas so: minha mulher e trs filhos. "Com dois incndios" significa - com duas filhas para casar. - Pois o casamento de uma filha acarreta para ns judeus tanta despesa, tantos transtornos e aborrecimentos, que pode ser comparado a um verdadeiro incndio. Com a minha resposta, clara e precisa, informei o rei sobre o nmero de pessoas da minha famlia, indicando at o nmero exato de filhas que pretendo casar. - curioso! - refletiu o vizir - Sinto agora que o enigma no tem realmente dificuldade alguma. E a ltima pergunta? Como poderei interpret-la?
Para decifrar a terceira e ltima pergunta o judeu, alegando maior
dificuldade e embarao, exigiu o pagamento de quinhentos dinares. Logo que se viu de posse do dinheiro o astucioso israelita explicou: - A ltima pergunta formulada pelo glorioso soberano tem um sentido muito claro: se espera incndio em sua casa, por que no depena o pato?, isto , "se precisa de recursos para casar sua filha, por que no toma o dinheiro de um tolo qualquer?". Pato, como ningum ignora, o indivduo pouco inteligente, do qual podemos tomar sem dificuldade quantia por vezes avultada. - Tendo compreendido o sentido exato das palavras do rei, respondi que ainda tinha, com a ajuda de Deus, esperana de depenar o pato, isto , de arranjar com um lorpa qualquer o dinheiro necessrio. E foi precisamente o que aconteceu, senhor ministro. Com o dinheiro que acabo de receber de vossas mos generosas poderei custear o prximo casamento de minha filha mais velha! Retirou-se envergonhado e furioso o vizir, mais furioso do que envergonhado, ao perceber que, no fim de contas, ele fizera o papel ridculo de pato, isto , de idiota! Ao chegar ao palcio foi ter presena do monarca e declarou que estava pronto a explicar o sentido de todas as enigmticas perguntas. Sorriu o rei do Imen ao ouvir aquela confisso de seu maldoso secretrio, e lhe disse: - E ainda pretendes, vizir, expulsar de nosso pas um povo to vivo e inteligente? Acabaste de receber a prova eloqente de que um simples e inculto remendo judeu capaz de reduzir ao msero papel de "pato" o vizir mais atilado do mundo. Malba Tahan
Conta-se que, estando Diderot, o enciclopedista, figura destacada do renascimento
intelectual, imediatamente anterior Revoluo Francesa, na corte russa, a deliciar a nobreza com sua elegante irreverncia materialista, a czarina, ciosa da f dos
cortesos, contratou Euller, o mais ilustre matemtico do tempo, para em pblico,
discutir com o filsofo. Informado de que um matemtico descobrira uma prova da existncia de Deus, Diderot foi convidado a comparecer corte sem lhe dizerem, porm, o nome do seu antagonista. Perante a nobreza reunida, Euller lanou-lhe, queima-roupa, a seguinte proposio, pronunciada com devida gravidade: (a+bn)/n = x, donc, Dieu existe; respondez! Para Diderot, porm, lgebra era o mesmo que rabe e por isso, ele no pode precisar onde estava a mistificao. Lamentavelmente, o mestre no sabia o porque. Se soubesse que lgebra no passa de uma linguagem em que se designa o papel representado pelas coisas, contrariamente as lnguas ordinrias, usadas para designar espcies das coisas do universo, teria pedido a Euller que traduzisse para o francs a primeira parte da sentena. Traduzida livremente para o portugus, teramos mais ou menos o seguinte: Pode obter-se um nmero x, primeiro ajuntando a um nmero a um nmero b multiplicado por si mesmo certo nmero de vezes, e depois dividindo tudo pelo nmero de vezes por que se multiplicou b. Portanto, Deus existe. Que me dizes a isto? Se Diderot tivesse pedido a Euller que ilustrasse a primeira parte da sentena para melhor compreenso da corte russa, este poderia ter respondido que x 3 quando a 1, b 2 e n 3; ou ento, que x 21 quando a 3, b 3 e n 4. Euller teria ficado em apuros quando a corte desejasse saber de que maneira a segunda parte da sentena decorre da primeira. Como acontece com muitos de ns, Diderot ficou cheio de dedos quando defrontado com uma frase na linguagem das grandezas. Por isso, retirou-se abruptamente do salo, debaixo do escrnio dos presentes, fechou-se em seus aposentos, pediu seu passaporte e tratou de partir para a Frana. Os gregos os maiores escritores de matemtica da antiguidade, viviam num mundo em que podiam ver homens a medir ngulos entre as estrelas, a edificar templos com o auxlio de figuras rabiscadas na areia, a calcular alturas pelo comprimento da sombra, a desenhar grficos na argila e a fazer ladrilhos. Os primeiros escritores de matemtica viviam num mundo em que a arquitetura sacerdotal das pirmides, os jogos mgicos com nmeros, os vasos de Chipre ornados de padres geomtricos, as paredes e tetos forrados de ladrilhos e mosaicos, eram coisas familiares. Mercadores contavam moedas. Arrecadadores de impostos apuravam o valor das taxas. Escravos artfices edificavam casas, manuseando esquadros, fios de prumo e nveis lquidos. Marinheiros orientavam-se pela estrela polar. Quando muito, o lazer fornece aos homens a oportunidade de refletirem sobre um mundo cujas caractersticas so constantemente transformadas, por aqueles que no dispem de lazeres. Realmente, errneo imaginar que a matemtica foi obra de atenienses folgados e sonhadores, atrados pela absoluta inutilidade desta cincia. [...] A nica razo pela qual costumamos conferir aos gregos o ttulo de primeiros matemticos, no terem deixado os egpcios, nenhuma literatura explicativa de como logravam realizar o que ainda hoje, so os mais estupendos prodgios de medio da histria da humanidade. Os poucos fragmentos que dispomos, como, por exemplo, o papiro de Rhind, da autoria do escriba Ahmes, mostram que sua aritmtica nada ficava a dever dos gregos, seus sucessores intelectuais. Se nos legaram to escassa literatura, por que sua classe letrada no tinha a menor disposio para irradiar seus segredos sacerdotais, e a classe artfice, de mestres de obras, engenheiros, arquitetos e navegantes, por no saberem escrever, transmitiam seus conhecimentos por tradio oral. O fundamento classista da
educao na antiguidade, resultou em muitas perdas e no desperdcio de valiosos
conhecimentos. TRECHOS DO LIVRO: Maravilhas da Matemtica Influncias e funo da matemtica nos conhecimentos humanos. Lancelot Hogben, Editora Globo, 2 Edio, 1970.