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O ESTADO DE S.PAULO
MEMÓRIA
N oempresáriodoho-
mem de cultura,
ambos notáveis.
O nome de José
Mindlin figurou em todas as lis-
ceituado nos corredores da se-
de da Fiesp e candidatar-se de-
pois aos favores de Brasília
com os quais não contava, defi-
nitivamente.
não pode contar com favores
dos governantes. Se a política
do governo coincidir com os ob-
jetivos de sua empresa, então é
justo tirar proveito dela. Mas
melhor tecnologia disponível
no momento.
Lamentava, sim, as agruras
do custo Brasil, a excessiva car-
ga tributária, os juros altos de-
mais, a burocracia paralisante,
a Justiça tão lenta e tão displi-
cente na busca de solução para
os conflitos que cercam o setor
produtivo. Mas considerava es-
sas deficiências apenas proble-
mas adicionais com que lidar e NEGÓCIO – Transformou a pequena fábrica de pistão em multinacional
juntar energia para avançar,
apesar de tudo. po. A despeito da oposição ini- novamente, teve de enfrentar
Enquanto pôde, manteve a cialdosseus sócios,decidiupas- as limitações da vida.
empresaquedirigiu,a MetalLe- sar o controle de sua empresa. Pouco depois de ter comple-
ve, na ponta do setor de autope- Os entendimentos afunilaram tado seus 80 anos, contava
ças. Abriu seu capital no início para um dos seus concorrentes quanto inevitável foi ter de fa-
dos anos 70, modernizou-a, do- internacionais, a alemã Mahle. zer novas escolhas. “Não posso
tou-a de tecnologia avançada, E assim foi feito. ler mais do que dois ou três li-
transformou-a em ilha de exce- No século 4º antes de Cristo, vros por mês, no máximo 36 por
lência, anteviu que seu futuro os sete sábios da Grécia de en- ano. E quantos anos mais terei
pedia mais do que simplesmen- tãoforamconvocadosaosantuá- pelafrente?Uns10?Isso signifi-
te atendimento ao mercado in- rio de Delfos para sintetizar, em ca que só posso ler mais 360 li-
ternoe,porisso,investiunopro- frases curtas, o ideal do pensa- vros, talvez 400...”
jeto de internacionalização. mento grego. E eles apontaram Na condição de consagrado
duas: “conheça-te a ti mesmo” e bibliófilo, José Mindlin foi eleito
“nunca passa do teu limite”. para a Academia Brasileira de
Como empresário Mindlin já havia mostrado Letrasem2006.Paradoxalmen-
antes que sabia conter-se. Mas te, ele nos deixa agora quando o
e intelectual, foi no episódio do desembar- livro passa pela revolução tec-
sempre investiu queda Metal Leveque essaqua- nológica mais importante de-
em si mesmo lidade ficou conhecida. “Meu fi- pois da invenção da imprensa
lho, não é fácil parar. Mas quem por Gutenberg, no século 15.
não para quando tem de parar, Sabe-seláatéquepontoenge-
Um dia entendeu que tinha destrói-se a si próprio” – disse, nhocas eletrônicas, como oKin-
chegadoa seu limitee queo pro- naqueles dias. Quem tem a sa- dle da Amazon, vêm para ficar.
cesso de globalização exigia bedoria de parar quando é pre- Em todo o caso parece inevitá-
maisdoquesimplesmentearro- ciso, também tem a sabedoria vel que o livro virtual ou aquilo
jo e redução de custos. Exigia anterior, a de conhecer-se a si que virá depois dele está fadado
escala de produção ainda próprio, porque sabe dos seus a transformar o próprio livro.
maior,maiscontratosemaisco- limites. Exigirá oredesenho de bibliote-
nexões no mundo dos negócios. Quando repassou a direção cas e livrarias e, eventualmen-
E que a falta de tudo isso derru- da Metal Leve em 1996, deixou te,mudaráoconceitodo queho-
bava decisivamente a qualida- também seu ofício de adminis- je é ser bibliófilo.
de da administração. Isto pos- trador de empresas. E dedicou-
to, não ficou lamentando pelos se definitivamente à Cultura, à * É colunista do caderno
cantos,como tantosno seutem- sua biblioteca e às leituras. E aí, de Economia do Estado