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ARREPENDIMENTO POSTERIOR

Rogério Roberto Gonçalves de Abreu

O arrependimento posterior consiste em uma causa geral de redução da pena


prevista no art. 16 do Código Penal brasileiro. Trata-se de um instrumento normativo
para a promoção da reparação do dano causado à vítima, o que representa traço de
uma corrente que prega formas de “privatização do direito penal” (que consiste em
trabalhar o direito penal também a serviço das vítimas).

De acordo com o CP, art. 16, nos crimes sem violência ou grave ameaça à
pessoa, a reparação do dano ou a restituição da coisa até o recebimento da denúncia,
por ato voluntário do agente, implica na redução da pena em montante de um a dois
terços. Vamos examinar cada pedacinho desse artigo.

Em primeiro lugar, o arrependimento posterior é um benefício exclusivo para os


crimes praticados “sem violência ou grave ameaça à pessoa”. Isso significa que a
violência contra a pessoa e a grave ameaça contra a pessoa não podem ser
elementos do tipo penal. Tais são os crimes de furto, apropriação indébita, estelionato,
calunia, difamação, injúria etc. Há uma construção jurisprudencial que tende a abrir
duas pequenas exceções por causa da ínfima relevância da violência: a lesão corporal
culposa e a lesão corporal leve. Não há qualquer óbice em aplicar o benefício quando
a violência for contra a coisa.

O agente deve reparar o dano ou restituir a coisa. Ora, só cabe falar em


restituição da coisa quando uma coisa houver sido subtraída de modo que possa ser
restituída. É o caso dos crimes contra o patrimônio como furto, receptação e
apropriação indébita. Quando a coisa não puder ser restituída (por ter sido alienada,
destruída etc.) ou quando o objeto material tenha sido dinheiro, deverá o agente
reparar o dano, repondo o equivalente monetário no patrimônio lesado com os devidos
acessórios (juros e correção).

Essa reparação do dano ou restituição da coisa deve ser feita até o


recebimento da denúncia. Vejam só: com a prática de um crime, normalmente a
polícia abre um inquérito policial para investigar o fato. Finalizando o inquérito, o
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delegado escreve um relatório (historiando o que foi apurado) e envia os autos ao


promotor de justiça. Entendendo que há provas da existência do crime e indícios
suficientes de quem seja seu autor, o promotor elabora a denúncia (petição inicial da
ação penal pública) e apresenta denúncia e inquérito ao poder judiciário. Esse ato do
promotor de justiça se chama oferecimento da denúncia. Ao receber a denúncia e os
autos do inquérito policial, o juiz verificará se estão preenchidos os requisitos formais
para o início da ação penal e, assim entendendo, aceitará a acusação e determinará a
citação do réu, chamando-o a se defender. Esse ato do juízo tem o nome de
recebimento da denúncia.

Pois bem: a reparação do dano ou restituição da coisa, segundo o CP, 16, tem
que ocorrer antes do recebimento da denúncia pelo juiz, não importando o momento
em que o promotor tenha providenciado o oferecimento da denúncia.

Finalmente, a reparação do dano ou restituição da coisa tem que ser o


resultado de um ato voluntário do agente. Ato voluntário é o contrário de ato coagido.
A coação elimina a capacidade de autodeterminação da pessoa, de modo que suprime
a autonomia da vontade. Sendo assim, não é voluntária a devolução do bem após sua
apreensão pela polícia. A voluntariedade, entretanto, não se confunde com a
espontaneidade (a idéia ter partido do agente) nem com a pessoalidade (o ato ser
praticado pessoalmente pelo agente). Desde que o agente devolva o bem ou indenize
a vítima sem qualquer coação física ou moral, não importa que tenha feito isso porque
sua mãe o azucrinou a paciência a semana inteira, nem tampouco que tenha pedido a
essa mesma mãe para ir à casa da vítima e devolver a coisa furtada. O ato não terá
sido espontâneo nem pessoal, mas terá sido voluntário, pois poderia ter escolhido ficar
com o bem e não dar ouvidos ao que sua mãe dizia.

A conseqüência disso tudo é a redução da pena em uma fração que poderá ir


de um terço a dois terços. Como o juiz deverá “dosar” essa redução? Com base em
que critérios deverá definir se a redução ficará mais próxima de um terço ou de dois
terços? Simples: deverá utilizar os dados que interessam à concessão do próprio
benefício. Assim, a redução deverá ser tanto maior (resultando em pena final menor)
quanto mais rápida seja a devolução da coisa ou a indenização do dano.

O que acontece se o crime é praticado em coautoria por duas pessoas, sendo


que cada uma leva um bem e apenas uma delas promove a devolução? Uma vez que
a reparação do prejuízo não foi integral, nada de redução da pena para qualquer
deles. E se esse coitado devolve o bem com que ficou e paga o equivalente em
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dinheiro da coisa furtada, repondo integralmente o prejuízo da vítima? Aqui já temos


uma reposição integral, então cabe arrependimento posterior. Para os dois ou só para
quem repôs o bem? Para os dois, pois o arrependimento posterior é uma causa
objetiva de redução da pena: se fosse uma causa subjetiva, como a atenuante do
agente menor de 18 anos, então apenas ele seria beneficiado, mas não é o caso.

Um ponto sempre especial do tratamento do arrependimento posterior em sala


de aula é a questão do enunciado n. 554 da Súmula da Jurisprudência Dominante do
Supremo Tribunal Federal. Diz o enunciado: “O pagamento de cheque emitido sem
provisão de fundos, após o recebimento da denúncia, não obsta ao prosseguimento da
ação penal”. Considerando essa redação, cumpre perguntar: cabe arrependimento
posterior no crime de estelionato praticado com cheque sem fundos?

Antes, uma explicação. O estelionato (CP, 171) tem como conduta padrão a
seguinte: a obtenção de uma vantagem patrimonial indevida mediante o induzimento
(ou manutenção) de alguém em erro, causando-lhe prejuízo. Essa indução em erro
pode ser realizada através de uma fraude, como a falsificação de algum documento,
mas nem sempre é assim.

Dentre as formas específicas de praticar o estelionato, a própria lei se refere ao


estelionato mediante a emissão de cheque sem suficiente provisão de fundos. A
conduta é assim: eu sei que não tenho dinheiro suficiente no banco e, ainda assim,
quero comprar alguma coisa em uma loja. Faço um cheque em valor superior ao que
eu tenho no banco e convenço o vendedor (enganando-o...) de que tenho o dinheiro
suficiente. Levo o bem embora (proveito ilícito) e o vendedor, ao tentar sacar ou
depositar o cheque, descobre que não há fundos suficientes (prejuízo). Desde o início,
minha intenção era enganá-lo para comprar um bem sem ter dinheiro suficiente
(esqueçamos, portanto, a história do cheque pré-datado como garantia de dívida, que
não é crime e, por isso, não vem ao caso).

Bom. Entendido como ocorre o crime, imaginemos agora que o inquérito


policial que apurava o fato foi concluído e o promotor de justiça já ofereceu denúncia
pela prática do crime de estelionato mediante a emissão de cheque sem fundos (CP,
171, VI). Uma vez que eu já recebi a vantagem indevida em contrapartida ao prejuízo
causado mediante a indução do vendedor em erro (através do cheque sem fundos), já
consumei o crime de estelionato e, portanto, não cabe mais falar em arrependimento
eficaz e desistência voluntária (CP, 15), que só tem cabimento antes da consumação.
Pergunto: se eu chegar para o vendedor, pagar o prejuízo integralmente, pegar um
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recibo e juntar aos autos do processo ANTES de o juiz receber a denúncia, deverá o
julgador aplicar ao caso o arrependimento posterior?

A resposta é negativa.

Voltemos à redação do enunciado 554/STF. Em linguagem mais simples, está


escrito ali que, no crime de estelionato mediante a emissão de cheque sem fundos, o
pagamento do cheque (ou seja, a reparação do prejuízo da vítima) depois do
recebimento da denúncia não impede a continuação da ação penal.

Se invertermos os pólos do raciocínio (um raciocínio “a contrario sensu”)


teremos a seguinte conclusão: se o pagamento do cheque (reparação do prejuízo)
ocorrer ANTES do recebimento da denúncia, isso impedirá a continuação da ação
penal. Em linhas bem simples, se o enunciado teve de dizer claramente que o
pagamento efetuado depois da denúncia não impede a continuação da ação – e não
há palavras inúteis – então podemos concluir que o contrário da primeira parte
(pagamento feito antes do recebimento da denúncia) terá como conseqüência o
contrário da segunda parte (impedimento à continuação da ação penal).

Daí o entendimento segundo o qual o pagamento do cheque sem fundos antes


do recebimento da denúncia é uma causa de extinção da punibilidade do fato, que é
um benefício muito melhor para o réu do que a minguada redução de pena que
decorre do arrependimento posterior. Como a conseqüência é melhor, a conclusão a
que chegamos é que a reparação do dano antes do recebimento da denúncia não
comporta arrependimento posterior (redução de pena) porque comporta coisa muito
melhor: a extinção da punibilidade do fato.

A mesma coisa não acontece, contudo, com o estelionato praticado com


cheque FALSO. Notem: uma coisa é o cheque sem fundos; outra, bem diferente, é o
cheque falso. O cheque sem fundos é um cheque de JOÃO, em nome de JOÃO,
assinado por JOÃO e com a assinatura verdadeira do próprio JOÃO. Ele só não tem
dinheiro na conta, mas o cheque e a assinatura são dele e são autênticas. Já o
cheque falso é um cheque de JOÃO, mas assinado por PEDRO com a assinatura de
JOÃO. Se não foi JOÃO quem assinou seu cheque, então a assinatura (a origem) é
falsa e o documento não é autêntico.

Exemplo disso seria a hipótese em que PEDRO encontra a carteira de JOÃO


jogada na rua, com documentos pessoais e uma folha de cheque. Ele pega a folha de
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cheque e procura imitar a assinatura de JOÃO para fazer compras no comércio local,
enganando o empresário (fraude) e obtendo, em prejuízo desse último, uma vantagem
patrimonial indevida. Eis o estelionato praticado mediante cheque FALSO (que, repito,
não se confunde com o estelionato mediante cheque sem fundo).

O enunciado sumular a que me referi acima fala apenas em estelionato


mediante cheque sem provisão de fundos. Não abrange, portanto, o estelionato
mediante cheque falso. Qual a conseqüência disso? Simples: o pagamento do
respectivo cheque, que traduz uma simples reparação do dano, tem conseqüências
diferentes conforme o estelionato tenha sido com cheque sem fundos ou cheque falso.
Se foi praticado com cheque sem fundos, aplica-se a súmula 554 do STF (extinção da
punibilidade); se, por outro lado, foi praticado com cheque falso, aplica-se o art. 16 do
CP (arrependimento posterior) e o réu conseguirá, no máximo, uma redução de pena.

Em suma, o arrependimento posterior não se aplica ao crime de estelionato


praticado mediante cheque sem provisão de fundos (Súmula n. 554 do STF), mas se
aplica perfeitamente ao estelionato praticado mediante cheque falso.

Uma última observação. A lei dos juizados especiais (Lei n. 9099/95), na parte
em que trata da audiência preliminar ao processo criminal (art. 74), prevê a
possibilidade de o autor do fato e a vítima entrarem num acordo sobre a reparação dos
danos civis causados pelo fato. Nos crimes cuja ação penal tenha iniciativa privada
(como o crime de dano) ou pública condicionada a representação (como lesão
corporal leve), a composição (acordo) civil sobre a reparação dos danos, registrada no
termo de audiência, assinada pelas partes e homologada pelo juiz, ao mesmo tempo
que constitui título para a execução daquele valor, tem o efeito de extinguir a
punibilidade pela renúncia (tácita, no caso) ao direito de queixa (ação penal privada)
ou de representação (ação penal pública condicionada).

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