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Tem por objeto a discussão dos alimentos devidos aos filhos por ocasião de dissolução de sociedade
conjugal, destacando a situação em que um dos pais passa a ser administrador das quantias devidas
ao(s) filho(s) cuja pensão alimentícia foi fixada.
Qual a realidade forense nos dias que correm? De um lado, o pai, pessoa comum,
envolvido com problemas profissionais que o assoberbam fora de casa, que não tem tempo
suficiente para dedicar-se aos interesses dos filhos que, como se sabe, exigem atenção
redobrada, quase em tempo integral. De outro, a mãe, que não trabalha além da órbita de
seu lar, que lava, passa, cozinha, cuida de outros afazeres da casa, e que só tem algum
tempo de descanso naquele esperado hiato em que a criança é colocada no colégio.
Com todo o seu tempo absorvido por múltiplos afazeres, não sobra muito para
dedicar-se a outras coisas. Por razões várias que a própria razão desconhece, esse casal,
lamentavelmente, vem a separar-se, após união prolongada.
Esse tem sido o dia-a-dia nas Varas de Família; pessoas, absolutamente comuns,
que batem às portas da justiça para minimizar os agudos problemas em que se debatem.
É intuitivo que essa disposição legal, além de outros comandos, contêm, também,
ínsito caráter econômico, porque aquele que exerce a guarda tem que satisfazer obrigação
primária no que respeita à alimentação, educação, saúde, lazer etc. do menor. O munus
depende, fundamentalmente, de caixa para fazer face a tais compromissos.
Neste sentido, não há dúvida, que é direito e dever de quem presta alimentos,
fiscalizar a boa aplicação do numerário repassado em favor dos filhos, não apenas por
constituir um dever de quem se preocupa pela formação moral e intelectual dos filhos
menores, mas porque, igualmente exsurge de um comando jurídico pelo qual os pais, em
cuja guarda não estejam os filhos, poderão visitá-los e tê-los em sua companhia, segundo
fixar o juiz, bem como fiscalizar sua manutenção e educação (artigo 15 da Lei do
Divórcio).
Legitimidade
Há correntes que dizem que apenas o alimentando teria o direito de a ação contra o
guardião, como se observa:
Vale ressaltar que o guardião administra verba do alimentando, porém, esta verba
provém do pai que não tem a guarda, mas que tem o dever de educação e manutenção, e o
de fiscalização de tais imposições, mesmo porque, a omissão de sua parte, constituir-se-ia,
possivelmente na prática de delito de abandono material, intelectual, além do ilícito
administrativo estabelecido no artigo 249 do E.C.A..
Neste sentido:
"O titular do bem ou interesse gerido ou administrado por outrem, assim como se
legitima à propositura da ação para exigir contas, é também legitimado passivo à ação
para dar contas; em contrapartida, o que administrou ou geriu tem legitimação ativa para
esta ação e passiva para aquela outra" [3]
À evidência, se a cada direito deve corresponder uma ação que o assegure, não há
como negar ao Autor-apelante o direito de exigir da acionada esclarecimentos precisos
acerca da administração da prestação alimentícia recebida por conta da filha menor,
máxime diante da fundada suspeita de malversação.
numerário repassado em favor dos filhos Como afirmado, os pais (ambos), nos
limites de suas possibilidades financeiras, em qualquer circunstância, são obrigados por lei
a sustentar seus filhos. Cada qual tem que contribuir com suas forças para não tornar letra
morta a exigência constitucional que assegura o princípio da igualdade. Se a mulher é
jovem, saudável e qualificada, tem que trabalhar. Se, ao reverso, passou toda sua vinda
cuidando de filhos e família, abandonando o mercado de trabalho, ao qual dificilmente
poderá voltar, haverá de merecer tratamento diferenciado. Cada caso deverá merecer a
atenção devida do magistrado, no momento da decisão, não havendo como informatizar as
sentenças, e simplesmente atirá-las aos quatro ventos, sem se preocupar de forma
detalhada, sobre suas conseqüências.
Não se está aqui, apregoando, por exemplo, a incapacidade da mãe, ora ré, em
administrar a verba alimentar, e gerir os interesses da filha, posto que se assim o fosse, seria
dever de ofício do magistrado, cassar-lhe a guarda, visto a situação de risco da menor. Por
outro lado, não há como negar-se ao alimentante, o direito de lhe ser evidenciado em que
está sendo aplicado o numerário que está sendo entregue, mesmo porque, se há sobras
quanto ao valor repassado, sobras estas que não estão sendo investidas no interesse
exclusivo da alimentada, perde este valor o caráter alimentar, havendo inclusive diferença
de tratamento fiscal e tributário, sendo assim, os fatos devem ser sopesados caso a caso,
pois casamento não é emprego e marido não é órgão previdenciário.
É por isso que a perícia deve funcionar toda vez que as singularidades do caso
assim o impuserem, como fator de fundamentação e auxílio à decisão da causa. É preciso
que se tenha sempre a fixação justa de alimentos definitivos, pois a perícia busca aferir a
capacidade econômica e financeira do alimentante e também verificação de seu patrimônio,
e é imperioso que se oportunize a realização de provas possíveis.
Processamento
A ação de Prestação de Contas situa-se no Código de Processo Civil, Livro IV, dos
Procedimentos Especiais; Título I, dos Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa;
Capítulo IV, regulando-se nos artigos 914 a 919 o seu procedimento.
Esta ação compete àquele que tem o direito de exigir tais contas ou àquele que tem
a obrigação de prestá-las (art. 914, do Código de Processo Civil). O procedimento ocorre da
seguinte forma: quem pretender exigir a prestação das contas, deve requerer a citação do
réu para apresentar as contas ou contestar a ação no prazo de 5 dias (artigo 915, caput).
Caso prestadas, o autor deverá se manifestar sobre as mesmas em 5 dias e, se houver
necessidade de produção de provas, será designada audiência de instrução e julgamento
pelo juiz e, não havendo necessidade, proferir-se-á sentença desde logo (art. 915, §1o.). Se o
réu não contestar ou não negar a obrigação da prestação de contas, o juiz poderá julgar
antecipadamente a lide, e a sentença que julgar procedente a ação condenará o réu à
prestação das contas em 48 horas, sob pena de não poder impugnar as contas que o autor
apresentar (§ 3o, art. 915). Apresentadas as contas no prazo de 48 horas, o autor deverá se
manifestar sobre as mesmas em 5 dias; se houver necessidade de produção de provas, será
designada audiência de instrução e julgamento pelo juiz e, não havendo necessidade,
proferir-se-á sentença desde logo. Se tais contas forem apresentadas fora do prazo, o autor
da ação de prestação de contas, em 10 dias, deverá apresentá-las, julgando o juiz as mesmas
segundo seu prudente arbítrio, podendo determinar, se achar conveniente, exame pericial
contábil (§ 3o, art. 915).
Se a ação de prestação de contas for proposta por aquele que está obrigado a
prestá-las, este deverá requerer a citação do réu para se manifestar em 5 dias, aceitando-as
ou contestando-as (art. 916, caput). Não contestada ou aceita a referida ação, o juiz
proferirá sentença em 10 dias (§1o, art. 916). Caso contrário, contestadas ou impugnadas, se
houver necessidade, o juiz poderá determinar a produção de provas, designando audiência
de instrução e julgamento. (§ 2o., art. 916).
As contas, tanto por parte do autor, como do réu, devem ser apresentadas na forma
mercantil, com a especificação das receitas e despesas, assim como o saldo respectivo,
sendo instruídas com os documentos que justifiquem tais informações (art. 917). Se houver
saldo credor declarado na sentença, este poderá ser cobrado em execução forçada (art. 918).
Com respeito a essa execução forçada, não tenho qualquer dúvida que tal dispositivo só é
aplicado às hipóteses legalmente possíveis, e não é o que ocorre com verbas alimentares,
por definição impossíveis de serem repetidas ou compensadas, por se constituírem como
necessárias à sobrevivência das pessoas, direito à vida, que é irrenunciável e indisponível.
Realmente não se pode pretender prestação de contas nos estritos moldes dos
artigos 914 e seguinte do CPC, com eventual apuração de saldo em favor do alimentante,
haja vista a irrepetibilidade dos alimentos.
Não se pode pretender que o alimentante, uma vez vitorioso na ação, receba de
volta qualquer diferença apurada pela perícia, uma vez que fora absorvida pelas despesas de
quem exerce a guarda dos filhos, mesmo que provada malversação ou desvio. A
providência dirigida para o futuro é não se criar novas polêmicas ou motivos para reacender
antigas querelas em uma relação já deteriorada pelo tempo. A obrigação compartilhada de
prevenir a segurança dos menores é que define a providência acautelatória insculpida na
parte final do artigo 15 da Lei do Divórcio.
Os Juizes de um país nem sempre se apercebem por inteiro da sua própria inserção
na realidade axiológica da sociedade em que vivem. Nem todos se dão conta do seu próprio
grande potencial de trabalho e produção diferentes daquilo que ordinariamente fazem. A
profissão faz do juiz o artífice da justiça do caso concreto e nisso, talvez, resida a mais
palpável das diferenças entre ele e o legislador.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
RODRIGUES, Silvio. Direito civil: direito de família. 27. ed. São Paulo: Saraiva,
2002. v. 6.