Sunteți pe pagina 1din 6

A riqueza e outros bens que procuramos

José Castro Caldas


Centro de Estudos Sociais da Universidades de Coimbra (CES)

A riqueza não é evidentemente o bem que procuramos…

Aristoteles, Ética a Nicomaco

O que o Produto Interno (seja ele bruto ou líquido) procura medir


não anda muito longe do que Adam Smith e outros filósofos
iluministas do século XVIII entendiam ser a riqueza: “o conjunto dos
bens necessários à vida e ao conforto produzidos pelo trabalho”.

Esta concepção de riqueza, referida à Nação e aos indivíduos, era


então inovadora. Antes disso a riqueza tinha sido um atributo da
grandeza (do status, como hoje diríamos) e do poder do soberano e
da nobreza, sendo muitas vezes confundida com tesouros em ouro e
prata com que se podem adquirir tanto os bens “necessários à vida”,
como outros necessários à guerra. Tudo o resto era subsistência.

Com a filosofia iluminista, a riqueza, assim concebida, transformou-


se num objecto apropriado de reflexão filosófica. Mais tarde,
constituir-se-ia em campo de uma ciência – a Economia.

Pensada como ciência da riqueza, a Economia, foi então burilando e


transformando o conceito: passou a distinguir entre fluxo e stock;
reservou o termo riqueza para o stock e designou por rendimento o
fluxo. Quando a Contabilidade Nacional foi inventada nos anos 30
do século XX o que o Produto Interno procurava medir era o fluxo,
não o stock.

O Produto Interno tornou-se então medida única do “progresso” e


base de todas as comparações no tempo e no espaço. No entanto,
antes de existir Produto Interno, já a grandeza que ele procura medir
– a riqueza – se havia transformado, apesar de todos os protestos,
no bem, por excelência, que todos procuramos.
II

De um bem que evidentemente não é o que procuramos, em


Aristóteles, a bem, por excelência, que todos perseguimos, vai um
grande salto. Como aconteceu?

Na passagem de Aristóteles de que foi extraída a citação em epígrafe


pode ler-se: “A vida consagrada à aquisição de dinheiro é uma vida
forçada, a riqueza não é evidentemente o bem que procuramos; é um
meio para a obtenção de outras coisas.”

Vemos assim que Aristóteles negava à riqueza valor intrínseco, ou


valor como fim, mas não ignorava a sua importância como meio para
outros fins. Por esta via se pode tentar compatibilizar Aristóteles
com os filósofos e os economistas que lhe viriam a conferir a
dignidade de objecto de reflexão filosófica e de investigação
científica, e que contribuíram, pelo menos no plano das ideias, para
transformar a riqueza, de simples meio, no bem que individual e
colectivamente devemos, sem dúvida, perseguir.

Pressupunham os filósofos iluministas e depois os economistas que


a persecução da riqueza individual e colectiva não conflituava com a
efectivação de outros bens, sendo antes uma pré-condição de todos
eles. Nisto divergiam do filosofo grego para quem a arte da aquisição
– a crematística – deveria estar subordinada à economia – a
provisão e uso da riqueza orientada para a “vida boa” (virtuosa) na
polis – sob pena de colapso da própria comunidade política.

Não quer isto dizer que entre os economistas de todos os tempos não
houvesse alguns, mesmo na tradição liberal, que questionassem a
ideia de progresso como acumulação ilimitada de riqueza. Dentre
eles, John Stuart Mill deve ser destacado. Para Mill o “estado
estacionário” – o fim do crescimento – antecipado e receado por
outros, nomeadamente David Ricardo, não era necessariamente
uma perspectiva lúgubre: se a estagnação do produto fosse
acompanhada de estabilidade demográfica, a humanidade poderia
colher os frutos do progresso, não sob a forma de mais bens de
consumo, mas na de redução do tempo de trabalho penoso, fruição
intelectual e estética, participação reforçada na vida da polis,
convívio com a natureza preservada.
Mas o que fez caminho no pensamento económico e a partir dele se
tornou ideologia foi a ideia de progresso como crescimento. Notas de
reflexão crítica, como as de Stuart Mill, chegaram até nós em pés de
página obscuros de alguns manuais de História do Pensamento
Económico, como curiosidades ou aberrações.

III

Ao logo do século XX a experiência do crescimento a ritmos sem


precedente histórico foi revelando a futilidade da ideia de que a
persecução da riqueza individual e colectiva não conflitua com a
efectivação de outros bens. Por outras palavras, fomos descobrindo
colectivamente que a riqueza não está necessariamente
correlacionada com todos os outros bens.

Primeiro foi a descoberta de que crescimento não é necessariamente


desenvolvimento: o crescimento agregado da riqueza da nação não
significa necessariamente erradicação da pobreza seja ela relativa ou
absoluta (além do agregado ou da média, a distribuição também
conta); há dimensões do bem-estar que também são importantes,
como a saúde, a segurança, as liberdades e os direitos, a participação
cívica, os laços sociais….

Depois, a percepção cada vez mais clara de que o crescimento está a


desafiar limites ambientais e a pôr em causa a própria vida.

É este o ponto em que hoje estamos.

Quando um político improvável como o actual presidente francês


reconhece a futilidade do PIB como métrica do progresso e base para
comparações, e patrocina uma comissão para reflectir sobre os seus
limites e possíveis alternativas, não está senão a dar voz a um
sentimento muito difundido na sociedade que se traduz
normalmente em “estranhamento” relativamente às estatísticas
oficiais: não sentimos os “progressos” que as estatísticas registam
(embora possamos sentir os retrocessos).

IV

De há algum tempo a esta parte alguns cientistas sociais têm vindo a


trabalhar sobre a possibilidade de medir a felicidade tal como é
subjectivamente avaliada pelos indivíduos. Independente de dúvidas
sobre a viabilidade deste empreendimento ou de considerações
acerca da própria noção de felicidade, é inegável que os dados que
até agora conseguiram compilar nos proporcionam um quadro
sugestivo.

Consideremos o gráfico seguinte (figura 1) que situa diferentes


países num plano “indicador de felicidade” x “PIB per capita 1995
(em PPP1)”:

Figura 1: Felicidade e PIB per capita (em PPP, 1995)

Fonte: Jackson, Tim (Coord.), Prosperity Without Growth? The Transition to a


Sustainable Economy, UK Sustainable Development, 2009.

Esta representação sugere imediatamente duas conclusões:

(a) Para níveis baixos do PIB per capita, pequenos incrementos


do PIB resultam em grandes aumentos de “felicidade”;
(b) Para níveis altos do PIB, o incremento do PIB (seja ele qual
for) não tem efeito na “felicidade”.

1
Paridades de Poder de Compra.
Diríamos portanto que a riqueza é importante até certo ponto e
deixa de o ser a partir de um limiar. Ou, dito de outra forma, a
riqueza estará correlacionada com (ou é pré-requisito de) outras
dimensões importantes da “felicidade” em situações de escassez
aguda e deixa de o estar (ou ser) em condições de afluência.

Isto sugere que os filósofos iluministas e os economistas clássicos


que viveram e escreveram em contextos que nada se assemelham às
sociedades afluentes actuais podem não ter errado absolutamente, e
que o erro reside em transportar os seus pressupostos para as
condições das sociedades afluentes que eles não conheceram e muito
menos podiam imaginar.

Temos assim que a adopção do PIB como medida única de


“progresso” se vai tornando mais problemática à medida que, com a
acumulação de riqueza, a correlação da riqueza com outras
dimensões do bem-estar se vai dissolvendo e que os conflitos com
outros bens importantes, nomeadamente os ambientais, vão
emergindo.

Nessas condições fazer do PIB a métrica única do progresso é o


mesmo que pilotar um navio com os olhos fixados apenas no
mostrador da velocidade. Sem bússola, mapa e medida do
carburante no depósito, navegamos certamente para o naufrágio.

Existe alternativa para o PIB? Ou, perguntado de outra forma, é


possível e desejável conceber uma outra medida do “progresso” que
o possa substituir como critério para comparações no tempo e no
espaço?

Provavelmente não. A agregação de diferentes dimensões de valor


(os diferentes bens que procuramos) num número que permita
comparações e ordenações, colide inevitavelmente com dificuldades
insuperáveis. Primeiro, a escolha de ponderadores para as diferentes
dimensões é um exercício que envolve sempre arbitrariedade.

Segundo, e mais fundamental, mesmo que fosse possível obter um


consenso quanto aos ponderadores a utilizar, a agregação envolve
sempre um pressuposto de comensurabilidade entre os valores em
presença. Impor uma equivalência entre certos valores a que
atribuímos dignidade e outros, nomeadamente a riqueza, é privar os
primeiros da dignidade que lhes conferimos à partida. Qual é a
contrapartida em bens de consumo de danos ambientais que podem
ser irreversíveis?

Terceiro, como vimos com o caso da relação entre a riqueza e outros


bens, a importância relativa e a própria relação entre os múltiplos
bens é sempre contextual. Critérios de agregação contextualmente
definidos não permitem comparações.

Estamos assim condenados a viver com a ideia, familiar a


Aristóteles, de que os fins são múltiplos e de que a virtude reside na
forma como articulamos os múltiplos bens que procuramos.
Estamos condenados a pilotar o navio com o olhar em vários
“mostradores” ao mesmo tempo. A vida assim vivida não é simples.

Mas, por outro lado, é reconfortante constatar que a perda da


medida única de progresso e a necessidade de consideração de
múltiplas dimensões de avaliação trás consigo a exigência de uma
clarificação pública dos fins que queremos colectivamente
prosseguir, dos conflitos entre fins e das escolhas difíceis que temos
de enfrentar colectivamente. Pressupondo uma clarificação pública
democrática e participada, isso só pode facilitar a descoberta de
melhores meios e conduzir a escolhas colectivas mais inteligentes.

S-ar putea să vă placă și