4 n poder
política
Vereadores ganham bem, As 3 maiores mentiras forenses
mas produzem quase nada D
MARCHA LENTA
paula sampaio
Em 30 dias
de trabalho, foi
votado apenas
um projeto
KEILA FERREIRA
Da Redação
O
s vereadores da Câmara
Municipal de Belém (CMB)
votaram um único projeto
em quase um mês de trabalho.
Apenas a proposta do vereador
Marquinho do PT, que regula-
menta o serviço de mototaxis-
ta, foi discutida e aprovada na
última segunda-feira (26). Isso
graças ao apelo e à pressão da
categoria, que desde o início do
ano marcava presença, diaria-
mente, nas galerias da Casa.
Nos outros dias das últimas
três semanas, não houve quó-
rum suficiente para a realiza-
ção da sessão deliberativa.
Os vereadores são eleitos para
exercer, principalmente, a função
de fiscalizar e julgar as contas do
Executivo e legislar sobre assuntos
de interesse local. Para isso, rece-
bem um subsídio de R$ 9.250, fora
as vantagens, como tíquete-alimen-
tação e combustível. Mas, com o
plenário vazio na hora da votação,
a produtividade dos parlamentares
tem deixado a desejar.
“Era preciso mais empe-
nho para o que eles ganham,
mais qualidade. Precisamos
muito do trabalho deles”, ob-
serva o comerciante Antônio
Rocha, 46 anos. A situação
chama a atenção dos próprios
políticos, como o vereador
PT responsabiliza base aliada, que contesta
Dos 35 vereadores que
atuam na Câmara, pelo me-
nos 18 devem estar presentes
para que possa haver sessão
deliberativa. Líder do PT, Otá-
vio Pinheiro responsabiliza a
base aliada pela falta de quó-
rum dos últimos dias. “Eu
penso que isto está acontecen-
do, nesse momento, porque
quando é um projeto polêmi-
co e uma das partes não tem
maioria, ela usa esse artifício
de se retirar do plenário. En-
tão, a base aliada tem retirado
de quorum. Ou seja, isso tem
ocorrido mais em função des-
sa disputa parlamentar do que
afastamento, gazeta dos verea-
Dilma ainda busca espaço próprio na campanha
BRASÍLIA
Agência O Globo
Dilma tem que sorrir mais,
tem que afinar a voz, tem que
se vestir assim. Dilma não po-
de viajar a tal lugar, tem que
ser mas afirmativa, menos
arrogante, tem que apoiar tal
candidato. A ex-gerentona do
governo Lula já fez de tudo,
dançou fado português, can-
tou “El día que me quieras” em
programa popular de TV, mas,
para os “experts” em cam-
panhas políticas, ainda não
encontrou um rumo que dê
segurança aos aliados. E está
ainda procurando seu espaço
próprio na campanha.
Dilma passa a maior parte do
tempo cercada por assessores
de tudo: de imprensa, internet,
imagem, comunicação, voz. Sem
autonomia, não sabe o rumo das
negociações de palanques nos
estados ou mesmo o que está
sendo agendado de viagem.
Diante de tantos comentá-
rios, opiniões e críticas, a pré-
candidata petista tem se mos-
trado mais insegura e solitá-
ria. Segundo interlocutores da
ex-ministra, isso tem feito com
que ela mostre fraco desempe-
nho público na primeira fase
da campanha. Também há
Câmara: produtividade inversa aos subsídios mensais que vão para o bolso dos vereadores
Carlos Augusto (DEM), que
nos últimos dias tem assu-
mido a presidência da Mesa
na falta do presidente Walter
Arbage (PTB). “Quando esta-
va empacado o requerimento
de dispensa de interstício do
projeto [de privatização] da
água, foram mais de 20 dias
sem quórum. Uma bobagem.
Realmente é praxe ter a dis-
pensa, mas como a oposição
não queria, a base aliada saía
do plenário quando não ti-
nha maioria suficiente para
aprovar. Todos os dias havia
mais de 20 vereadores em
plenário, mas na hora não
tinha quórum. Uns não re-
gistravam presença, outros
saíam do plenário. Eu acho
legítima essa estratégia, mas
dores. Nós, da oposição, temos
procurado, mesmo que a gente
vá perder o projeto, permane-
cer no local. Eu acho que todos
deveriam estar no plenário,
para perder ou ganhar. Mas
nem sempre ocorre dessa for-
ma”, argumenta.
O líder do governo, Orlando
Reis (PV), condena a falta de
quorum e achoa que a gazeta
dos parlamentares precisa ser
combatida. “Porque o vereador
é eleito para, além de fazer o seu
trabalho externo, legislar e estar
no plenário”, destaca. Sobre as
alegações de que a base aliada é
que estaria se retirando do ple-
nário, Orlando justifica que ha-
críticas de conteúdo. Aliados
externam preocupação com
táticas erráticas e acreditam
que Dilma precisa sinalizar
para o futuro, não só compa-
rar gestões passadas
Por esses relatos, Dilma che-
ga a ter dúvidas até mesmo de
que roupa vestir. Quase sem-
pre, está inadequada, segundo
críticas do marqueteiro Duda
Mendonça, que fez a campa-
nha de Lula. Na quinta-feira,
estava de terninho num evento
agropecuário no interior de São
Paulo. Já na semana anterior es-
tava com braços e axilas à mos-
tra numa entrevista na TV.
“Ela está aprendendo. São
observações naturais que fa-
zem sobre a Dilma. Foi contra-
tado “media training”. Todos
fazem isso. Até o Lula e o Ser-
ra. Ninguém ficou descaracte-
rizado. Por que a Dilma fica-
ria?”, reage o líder do governo
na Câmara, deputado Cândido
Vaccarezza (PT-SP), da coorde-
nação de campanha petista.
Para petistas mais próxi-
mos, é um risco o que estão
fazendo com Dilma: primeiro
descaracterizaram a ex-minis-
tra, que tinha um estilo pró-
prio. E agora ela não se enqua-
dra no figurino novo. Alguns
reconhecem que há risco de
oliberal
Reforma política só sairá sob pressão, diz advogado. Página 6.
Subsídio mensal
de cada vereador
é de R$ 9,2
mil. Fora as
vantagens.
não sistematicamente, como
vinha acontecendo”, diz o de-
mocrata.
CONFUSÃO
Para Carlos Augusto, os
parlamentares só compare-
cem à Câmara de forma maciça
quando há projeto do Executi-
vo. “Dá uma confusão danada,
mas eles vão. Mas não é só o
projeto do prefeito [Duciomar
Costa] que tem relevância pa-
ra o município. Eu acho que a
via uma falta de entendimento
sobre o requerimento com pe-
dido de dispensa de interstício
- quando não há necessidade de
ser votado em segundo turno -
do projeto que revoga a lei que
permitiu a concessão dos ser-
viços de distribuição de água e
de coleta e tratamento de esgoto
da cidade à Companhia de Sa-
neamento do Pará (Cosanpa),
devolvendo o atendimento ao
Serviço de Água e Esgoto de Be-
lém (Saaeb).
A oposição pretendia der-
rubar o pedido e, por isso, os
aliados deixavam de regis-
trar a presença quando não
tinham maioria suficiente.
ela começar a campanha em
julho sem ter ajustado o dis-
curso, em forma e conteúdo.
“Podiam reclamar, mas
Dilma era uma ministra com
personalidade forte. Agora,
perdeu a identidade e está à
procura de outra mais leve.
Espero que encontre logo”,
desabafou um integrante da
Executiva Nacional do PT.
A insegurança é evidencia-
da pela candidata quando, por
exemplo, é questionada em
entrevistas sobre ações corri-
queiras. Dia desses, pergunta-
da que dia seria a convenção
nacional do PT, respondeu: “A
coordenação ainda vai deci-
dir”. Os aliados, como o vice-
líder do PR, Luciano Castro
(RR), que integra o conselho
politico da campanha, dizem
que nessa fase Dilma tem mes-
mo que obedecer. Mandar, só
depois de eleita.
DECISÕES
“O Conselho decide e co-
munica a ela. Depois de eleita
ela pode fazer o que quiser.
Mandar ela sabe”, diz Castro.
Quem visita o seu escritório de
campanha, num bairro nobre
de Brasília, tem visto a ex-mi-
nistra solitária, sem participar
gente tem que fazer uma refle-
xão, para que a Câmara tenha
uma melhor produtividade. Vai
ficar pior, porque a gente está
entrando em período eleitoral
e muitos vão entrar em campa-
nha”, observa.
Carlos Augusto acredita
ainda que, à falta de quórum,
pode levar a sociedade a ter
uma impressão negativa do
Poder Legislativo. “A opinião
pública acompanha a gente.
Há pessoas que vão para a
galeria, e isso vai revoltan-
do. Eu penso que a principal
função da gente é estar lá
apresentando os projetos, de-
fendendo a população e indo
nas comunidades, mas a gen-
te tem que dar prioridade ao
plenário”, afirma.
Mas a base conseguiu provar
que a dispensa já havia sido
aprovada em outra votação.
“No momento em que foi es-
clarecido através das notas
taquigráficas, voltou a ter quó-
rum de novo”, observa o líder
do governo, que também teme
pela imagem do Legislativo.
“Acho que a falta de quórum
ajuda a congestionar mais
ainda a pauta. Temos cerca de
200 projetos na pauta. A mídia
tem um papel fundamental de
divulgar quais são os vereado-
res que estão dia a dia na Câ-
mara, até porque a população
precisa saber quem é quem”,
conclui. (K. F.)
das decisões da campanha. As
alianças ficaram a cargo de
sua coordenação política. Ou
seja, diferentemente do seu
tempo de Casa Civil, quando
Dilma mandava e desmanda-
va, agora, ela influi pouco.
“Campanha eleitoral é igual
a jogo de futebol. Tem um mi-
lhão de técnicos e cada um dá
pitaco”, reconhece um integran-
te da campanha de Dilma. Há o
reconhecimento do presidente
Lula, feito internamente, de
que o rumo da campanha não
está correto e que será preciso
fazer ajustes em toda a campa-
nha. Há pressão para que Lula
esteja mais presente e, se pos-
sível, assuma o comando da
campanha, mesmo que infor-
malmente. Lula pôs como seu
representante na coordenação
da campanha o deputado e ex-
ministro Antonio Palocci. Mas
Dilma tem resistido aos conse-
lhos de Palocci. Cada vez mais
Lula manda recado.
Depois das convenções
partidárias, em junho, Lula
deve entrar com tudo na cam-
panha. Mesmo assim, os pe-
tistas estão temerosos com a
presença de Lula no palanque.
Isso porque todas as vezes em
que ele discursou ao lado de
Dilma ofuscou a candidata.
Belém, domingo,2 DE maio de 2010
opinião
SÉRGIO COUTO
esde tempos imemoriais,
quando ainda era o “pa-
jé” quem dizia o direito
(servia de magistrado), que o
sistema judiciário e os demais
do Estado se assentam em
mentiras.
Platão, lá no século IV antes
de Cristo, dizia que “a mentira
é permitida quando proferida
no interesse do Estado”. O “pa-
jé”, para manter sua autorida-
de acima de qualquer suspeita,
dizia que recebia de Deus seus
poderes. O que decidisse esta-
va decidido!
Ninguém poderia desafiar
a autoridade “divina” do “pa-
jé”? Deve ter acontecido que,
em um dia qualquer, algum
heróico incréu, revoltado com
alguma decisão que lhe pare-
ceu iníqua, percebeu que Deus,
o Perfeito, não tinha nada a ver
com os erros que eram come-
tidos pelo arrogante “pajé”. E
resolveu contestar. Seus con-
sórcios da tribo, que também
já não deveriam estar satisfei-
tos com as decisões erradas - e
até mesmo com as certas - do
“pajé” autoritário, aderiram ao
protesto do incréu. Imagine-se
o tamanho do tumulto.
Mas tem sido a partir de-
les que a humanidade tem
depurado suas crenças. Hoje
sabe-se que Justiça é atributo
divino, indelegável a qualquer
mortal. Só Ele conhece a natu-
reza humana em toda a sua
vastidão e pode dizer o que é
justo e o que é injusto.
A justiça dos homens se
conforma com a segurança.
Resolver os conflitos para que
os participantes do contrato so-
cial não saiam por aí fazendo o
que acreditam ser a justiça pe-
las próprias mãos. Preservar, o
quanto possível, a paz social. Se,
ao garantir a segurança, coinci-
dentemente, se conseguir fazer
Justiça, tanto melhor.
Mas não é prudente se con-
fiar muito na falibilidade do
ser humano, sempre sequioso
de poder. Por isso, foi preciso
criarem-se meios e maneiras
capazes de, senão evitar, pelo
menos dificultar o cometimen-
to de injustiças. Ainda que se
aceite certa “taxa de deslizes”.
E foi para isso que se fize-
ram as leis. A começar pelos
Dez Mandamentos. Para con-
ter a fúria dos desavindos,
inventaram-se os processos
civil, criminal e administrati-
vo, sob a condução dos magis-
trados. Por suposto, isentos e
imparciais. Mas cuidou-se de
se estabelecerem os recursos,
para controlar os poderes dos
e também:
Dividido, PT mineiro vai às prévias
Dividido e conflagrado, o PT
de Minas promove neste do-
mingo uma prévia inusitada, a
contragosto do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva. Na teoria, a
consulta aos filiados vai definir
o candidato do partido ao go-
juízes singulares. Ou seja, a
partir de um determinado
grau de evolução, ninguém
mais poderia ser obrigado a
fazer ou deixar de fazer al-
guma coisa senão em virtude
da lei. Nem ser julgado senão
dentro de um processo onde
se lhe garantisse a ampla de-
fesa com acesso aos recursos
a ela inerentes.
Mas o que essa sociologia
jurídica tem a ver com as men-
tiras forenses? Tudo! A come-
çar pela permanência, ainda
hoje, de pelo menos três enor-
mes delas, a saber: “A justiça
tarda, mas não falha”; “Sen-
tença judicial não se discute.
Cumpre-se ou recorre-se”; “O
que não está nos autos não es-
tá no mundo”.
Segundo Geraldo Jellison,
da Universidade do Sul da
Califórnia, todos mentimos
naturalmente cerca de 200
vezes por dia. Uma mentira a
cada cinco minutos. A come-
çar pelos falsos elogios. Mary
Mason, de Berkeley, diz que
“viver sem mentira seria insu-
portável”. Robert Feldman, de
Massachusetts, avisa que “o
maior mentiroso é quem ve-
mos diariamente no espelho.
É com ele que temos de apren-
der a lidar”.
O Judiciário, por longos
anos, viveu encastelado em si
mesmo. Agora, quando se o
coloca “na berlinda”, parece ter
entrado em pânico. Coisa que
não abala os bons juízes. Em
minha opinião, para melhorar
o Judiciário brasileiro, o pro-
blema não será tanto controlar
os mentirosos. Difícil mesmo
vai ser neutralizar aqueles que
ainda pensam que são “pajés”.
Ou que, tendo feito concurso
para juízes, pensam que toma-
ram posse como deuses...
P.S.: O juiz Mairton Marques
Carneiro reformou a decisão
de arquivar na da Meta 2 a ação
do carente Otávio Cunha, meu
constituinte: afastou da lide a
Prefeitura de Salinas e marcou
a audiência de tentativa de con-
ciliação para o dia 26 de maio
próximo. Um gesto de rara
grandeza, profissionalismo e
Justiça. Em sua homenagem,
adaptei a célebre frase do mo-
leiro de Sans-Souci, rechaçando
a ameaça de Frederico II, impe-
rador da Alemanha, que queria
demolir seu moinho: “Ainda
existem juízes em Belém!”.To-
mara que tenha seguidores.
nSérgio Couto é advogado e
ex-presidente da OAB-PA
E-mail: sergiocouto@sergiocouto.
verno mineiro, mas, na prática,
o escolhido deverá concorrer
ao Senado e o perdedor, indicar
o vice da chapa. Lula prometeu
ao PMDB que vai resolver “de
qualquer maneira” a queda de
braço em Minas.