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A BÍBLIA SUPORTA O CALVINISMO?

Por Eliel Vieira

Pergunta:

Caro Eliel, o conteúdo do seu blog é riquíssimo. Os textos são de boa qualidade bem como as
traduções. Contudo, como calvinista, não consigo entender como você pode ter deixado de ser
calvinista. Gostaria de saber porque você acha que a Bíblia não suporta o calvinismo.

Um abraço,

Ricardo.

Resposta:1

Eu já escrevi uma crítica ao calvinismo anteriormente, chamada Predestinação e Livre-


Arbítrio2. Não se trata de um estudo bíblico sobre o calvinismo, mas como pode ser observado ele
contém menções bíblicas e, a rigor, não se trata de jogos filosóficos nem de analogias fracas. Os
argumentos e as analogias foram postos, e se alguém quiser que eu acredite eles são fracos, então o
ônus está com estas pessoas. Ademais, apesar do meu texto específico não se tratar de um argumento
bíblico, eu não acho que a pergunta “Onde Deus deixa de ser soberano quando Ele cria um ser humano
livre?” seja um jogo filosófico, nem uma analogia fraca – trata-se de uma dúvida válida.

Quando eu ainda era calvinista, um fato interessante que li na Teologia Sistemática de A. B.


Langston foi que “a Bíblia não traz uma discussão sistemática sobre este assunto”3. E é verdade. Não
existe sequer um capítulo na Bíblia sobre a predestinação que não seja ambíguo e que não possa ser
interpretado de outras formas (que eu penso ser mais plausíveis). Peguemos, por exemplo, o nono

1
Coincidentemente, alguns dias antes de receber seu email, Ricardo, eu havia escrito a resposta abaixo em uma discussão
via e-mail com alguns amigos cristãos. Então, a resposta que você lerá, é uma adaptação de um texto que eu já havia
escrito na mesma semana em que você me enviou sua pergunta.
2
<http://www.elielvieira.org/2008/06/predestinao-e-livre-arbtrio.html>.
3
LANGSTON, A. B. Esboço de Teologia Sistemática. Rio de Janeiro: JUERP, 1999. p. 101.

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capítulo de Romanos, a mais famosa passagem bíblica calvinista de todas. Ora, ela simplesmente não
fala sobre dupla predestinação: ela fala sobre a rejeição da outrora intocável exclusividade de Israel.
Depois que eu abandonei o calvinismo eu fiz um teste interessante: eu pedi para a oito pessoas cristãs
sinceras, com certo grau de instrução (uma delas, letrista) e que jamais tinham ouvido sobre a
controvérsia sobre a predestinação para que lessem e refletissem sobre Romanos 9 durante a semana e
que no sábado seguinte me falassem suas conclusões. Resultado: nenhuma delas chegou a qualquer
conclusão sequer parecida com a conclusão calvinista.

No livro Filosofia da Ciência: introdução ao jogo e suas regras4 o teólogo brasileiro Rubem
Alves apresenta algumas críticas ao método científico que são pertinentes também a alguns teólogos.
De acordo com a argumentação de Alves, as teorias sempre surgem antes da análise dos dados
existentes, jamais depois, como muitos pensam e defendem. Peguemos o evolucionismo como
exemplo. De acordo com o autor, a conclusão evolucionista não seria absolutamente inferida depois da
análise dos dados da natureza. Apenas sendo a teoria em questão pressuposta, então os dados
existentes na natureza a corroboram. Se alguém analisar a natureza à parte de qualquer pressuposição,
dificilmente esta pessoa chegaria à conclusão evolucionista. Na verdade, a rigor, a existência de
similaridades entre as espécies existentes pode significar tanto uma ancestralidade comum quanto uma
criação em comum, ou podem não significar nada. Então, diz Alves, os dados corroboram apenas
teorias já pressupostas de antemão.

Eu penso que o caso do calvinismo é exatamente este. Como a Bíblia é ambígua, se você
pressupor como teoria soteriológica explicativa o calvinismo, você achará na Bíblia centenas de
versículos que suportam esta teoria, e ainda vai encontrar mil desculpas para minar a credibilidade e
eficácia das passagens que a contradizem. Desta forma, se a Bíblia nos disser que Deus quer que todos
sejam salvos5, como você já pressupôs de antemão o calvinismo, necessariamente, este versículo não
pode ter o significado que ele aparentemente possui. Assim, basta argumentar que este “todos”
mencionado no texto bíblico não significa “todos” na verdade, mas sim “alguns”.

Como disse Voltaire, a razão é escrava das paixões.

Dificilmente o calvinismo será concluído através de uma analise imparcial da Bíblia por uma
pessoa que jamais ouviu falar sobre esta teoria soteriológica. A mesma Bíblia que diz que Deus é
impassível e imutável, mostra em alguns momentos Deus se arrependendo, se entristecendo, mudando
de idéia – características que não observaríamos no Deus calvinista, que de tão “Soberano” sequer é
4
ALVES, Rubem. Filosofia da Ciência: introdução ao jogo e a suas regras. São Paulo: Edições Loyola, 2000.
5
I Timóteo 2:3.

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livre para criar seres livres. E isto é fato: se você perguntar a cristãos – não instruídos teologicamente,
mas sinceros – o que eles enxergam na Bíblia quando a lêem, se monergismo ou sinergismo, a resposta
para a totalidade dos casos será o sinergismo. (Em caso de dúvidas, façam o mesmo teste que eu fiz.)

A predestinação e suas esquisitices não são claras na Bíblia como são claros vários outros
pontos importantes e necessários da fé cristã. Pressupondo aqui a Inspiração da Bíblia e a submissão
do que foi escrito à vontade de Deus, podemos concluir que, já que há tanto descaso da Bíblia para
com o calvinismo, se a predestinação for verdadeira, então Deus não tinha muito interesse que as
pessoas a conhecessem, ou pelo menos julgava que isto não era importante..

De fato a Bíblia é ambígua neste assunto e o calvinismo supralapsário6 não existe lá. As
passagens que o suportam só são interpretadas como evidências da dupla predestinação por pessoas
que já são calvinistas! Olha que incrível!

Ademais, além do problema da falta de objetividade das evidências bíblicas que sustentem o
calvinismo, a predestinação absoluta traz problemas aparentemente insolúveis à fé. O Problema do
Mal, por exemplo, não poderia ser mais explicado usando o livre-arbítrio, pois, em suma, ele não
existiria. A principal resposta cristã ao Problema do Mal, desde Agostinho7, tem sido que o agente
efetivamente responsável pela ocorrência de mal no mundo é o ser humano, pelo mau uso do seu livre-
arbítrio. Mas se a causa efetiva para a ocorrência de todas as ações no mundo, inclusive os pecados dos
homens e todas as catástrofes e desgraças já ocorridas, for Deus, como eximi-Lo da responsabilidade
pela existência do mal no mundo?

De acordo com o calvinismo um homem que trai sua esposa, não é o responsável efetivo pelo
seu ato. O responsável efetivo é Deus, pois Ele predestinou, desde antes do universo, que este homem
haveria de trair a sua esposa. O “Deus Santo”, de acordo com o calvinismo, predestinou todas as
traições, todos os assassinatos, todas as mentiras, todos os estupros, todos os seqüestros, todas as
catástrofes, toda a blasfêmia, toda a pobreza e, mais incrível, toda a descrença!

Mas, veja bem. O calvinismo não diz que Deus, por ser onisciente, previu a ocorrência de todas
as coisas desde a eternidade. Não! O calvinismo está dizendo que Deus planejou e predestinou todos
os acontecimentos da história do universo de acordo com sua vontade!

6
Posição mais radical do calvinismo, de acordo com a qual, absolutamente tudo no universo, inclusive os nossos pecados,
foram efetivamente predestinados por Deus antes da criação do universo.
7
Agostinho de Hipona foi o primeiro a responder ao “Problema do Mal” responsabilizando o ser humano e sua liberdade
como responsáveis pela ocorrência de maldade no mundo. Agostinho apresenta seus argumentos em “O Livre-Arbítrio”,
lançado no Brasil pela Editora Paulus, 1995.

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Se a predestinação absoluta é verdadeira, portanto, os ateus são ateus não por decisão
voluntária e livre da parte deles, mas sim porque Deus efetivamente quis que eles não cressem nEle.
Para que então nós, apologistas, vamos defender a existência de Deus? Que perda de tempo! Se o
próprio Deus quis que os ateus não cressem neles, quem somos nós para agir contra a Sua vontade?
Para que evangelizar? Para que pregar? Para que tentar fazer a diferença? Para que ser sal da terra e luz
no mundo? Se tudo o que existe e acontece, existe e acontece porque Deus assim quis, e nós não temos
poder de fazer nada diferente do que Deus quis que fosse, porque tentar ser diferente?

Aliás, cabe lembrar aos calvinistas que até mesmo o fato de não acreditar na predestinação
seria, assim, algo predestinado por Deus. Desta forma, de acordo com o calvinismo, eu não creio na
predestinação não porque eu decidi não crer, mas porque Deus efetivamente predestinou que fosse
assim. Deus predestinou desde a eternidade que eu primeiramente seria calvinista, também predestinou
que posteriormente eu iria abandonar o calvinismo e por fim predestinou até esta resposta que eu estou
escrevendo!

Incoerentemente, o calvinismo conduz nossa existência a uma espécie de niilismo gospel. Pois,
se a predestinação efetiva é verdadeira, então este mundo é apenas um teatro no qual nós somos apenas
marionetes. Simplesmente não há sentindo em nada. A vida humana é um vazio que possui tanto
sentido e importância quanto uma marionete de ventríloquo. De acordo com o calvinismo, qualquer
bem ou qualquer mal que venhamos a fazer não passará de algo que nós efetivamente não fomos
responsáveis por ter feito. E se é assim, por que devemos, afinal de contas, nos esforçar para algo?

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