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ERRO DE TIPO
O erro que incide sobre um aspecto do fato pode compreender um erro sobre
elemento essencial do crime (sobre uma das elementares do crime, previstas na
descrição do fato típico) ou sobre um elemento meramente acidental (um aspecto do
fato que não tem qualquer relevância para a sua configuração como crime). Assim, o
erro de tipo se classifica como essencial ou acidental, sendo que o erro do primeiro
tipo exclui sempre o dolo e pode responsabilizar o agente pela modalidade culposa
do crime, se ela existir. O erro do segundo tipo não exclui o crime.
Se, por outro lado, o erro não decorrer de culpa (negligência, afoiteza,
precipitação etc.) do agente, então teremos um fato que preenche os elementos
objetivos do fato típico de crime, mas sem qualquer dos elementos subjetivos
possíveis e necessários. Sem elemento subjetivo, não existe crime. Resultado: o
agente não terá praticado crime algum e deverá ser absolvido por atipicidade da
conduta (faltaria o elemento subjetivo).
dados de fato que, uma vez modificados, alteram a definição jurídica do próprio
crime.
TÍCIO (sempre ele...) vai caçar e, sendo inexperiente, atira na primeira coisa
que se mexe quando entra no mato, matando outro caçador. A pergunta que nos
devemos fazer é a seguinte: se TÍCIO tivesse tido o cuidado e a atenção que se
exige de qualquer caçador, teria evitado o acidente? A resposta é sim. Logo, o
acidente decorreu dessa falta (com o dever) de cuidado de TÍCIO, que configura a
conduta culposa. Como esse cuidado teria evitado o acidente, concluímos que o erro
era evitável (vencível) e, portanto, indesculpável (inescusável). Deverá o agente
responder pela modalidade culposa do crime praticado: se praticou um homicídio
(“matar alguém”), deverá responder por homicídio culposo (CP, 121, §3º).
TÍCIO, estudante do curso de direito, leva para a sala de aula seu gravador de
MP3 azul (bem velhinho...) e o coloca, juntamente com outros, na mesa do
professor. Ao sair, como está apressado para não perder sua van, pega um aparelho
de MP3 verde (bem novinho) e vai embora. Como acreditava que levava o seu
aparelho, seu erro exclui o dolo de “subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia
móvel” (CP, 155, caput). Notem que seu erro incide sobre o elementar “alheia”
constante do tipo legal do furto. Embora não tenha agido com dolo, pode-se afirmar
que se TÍCIO houvesse sido mais cuidadoso, não teria levado um aparelho verde
novinho em lugar do seu azul velhinho. Seu erro decorreu de culpa. Contudo, uma
vez que não existe a figura do furto culposo, TÍCIO não responderá por qualquer
crime, ficando, contudo, obrigado a devolver o aparelho a seu proprietário ou a
indenizá-lo pelo valor equivalente.
Como falei acima, o erro acidental não impede que o fato seja considerado
crime, pois não influi no dolo ou na culpa. O fato praticado com erro acidental é
crime do mesmo jeito, até porque, nesse caso, o sujeito realmente quer praticar um
crime. Vamos examinar as cinco modalidades normalmente apresentadas pela
doutrina.
De acordo com o CP, art. 20, §1º, para efeito de responsabilização penal do
agente (leia-se: para efeito de adequação típica e de fixação da pena) devemos
desconsiderar as condições pessoas da pessoa que foi efetivamente atingida e levar
em conta exclusivamente as condições pessoais da pessoa que o agente pretendia
ofender. Assim, se queria matar seu pai e matou seu tio (irmão gêmeo), responderá
como se houvesse matado seu pai, inclusive com a agravante do crime praticado
contra ascendente (CP, 61, II, “e”).
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De acordo com o art. 73, primeira parte, do Código Penal, “quando, por
acidente ou erro no uso dos meios de execução, o agente, ao invés de atingir a
pessoa que pretendia ofender, atinge pessoa diversa, responde como se tivesse
praticado o crime contra aquela, atendendo-se ao disposto no § 3º do art. 20 deste
Código”. Isso significa que, exatamente como no caso do “error in personae”, para
efeito de responsabilidade penal devemos desconsiderar as condições pessoais de
quem foi atingido e levar em conta apenas as condições pessoais de quem o agente
queria atingir. Em casos como esse, em que ocorre apenas um resultado, dizemos
que houve “aberratio ictus” com unidade simples.
(1/6) a um meio (1/2). Se esse cálculo resultar em uma pena superior ao que seria a
soma de todas, aplica-se a soma (chama-se concurso material benéfico). Se os
crimes resultarem de desígnios autônomos, somam-se as penas também.
segundo (um ano). Nessa mesma primeira vista, responderia pela maior das penas
(dois anos) acrescida de um sexto, resultando em dois anos e quatro meses.
Ocorre que, nesse caso, terá aplicação o art. 20, §1º, do Código Penal, que
disciplina a “aberratio ictus” com unidade simples. Desse modo, deveremos
desconsiderar as condições pessoais da vítima real (CAIO) e levar em conta as
condições pessoas da vítima pretendida (TÍCIO). Em termos mais simples o agente
deverá responder como se tivesse praticado um homicídio doloso consumado contra
TÍCIO, sem o concurso formal, o que implicará em uma pena mínima privativa de
liberdade de seis anos. Em suma, aplicamos aqui a regra da unidade simples,
descartando as condições da vítima real e levando em conta apenas as da vítima
pretendida.
Imaginem que o agente quer ferir TÍCIO com uma pedrada, mas erra o alvo e
acerta um carro que estava por trás. Praticou contra o primeiro um crime de lesão
corporal dolosa tentada (CP, 129, caput, c/c 14, II) e com relação ao segundo um
fato culposo de dano. Como não existe o crime de dano culposo (CP, 163), o agente
deverá responder exclusivamente pela lesão corporal tentada.
Imaginem agora que o agente quer danificar um carro e erra, atingindo TÍCIO
que lhe estava por trás. Terá praticado um crime de dano tentado (CP, 163 c/c 14, II)
e um crime de lesão corporal culposa (CP, 129, §6º) com uma só conduta, o que
caracteriza o concurso formal de crimes (CP, 70). Sua pena será definida pela
aplicação do aumento decorrente do concurso formal de crimes (um sexto a um
meio) à maior das penas fixadas.