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MÚSICA + CÉREBRO = X
Projecto de Investigação
1. Tema geral: Domínio Mental
2. Tema específico: Neurologia
3. Título do trabalho: Música + Cérebro = X
4. Pergunta a que o trabalho responde: O que se passa dentro da cabeça de um músico
enquanto toca?
5. Programa: Para responder a esta pergunta, irei utilizar entrevistas e documentários
sobre o assunto, tentando encontrar a relação entre o físico e o mental.
ÁREA DE PROJECTO
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INTRODUÇÃO
A capacidade musical sempre foi uma das características que distinguem o Homem dos animais
irracionais. Para perceber a complexidade desta capacidade, vou tentar responder à seguinte
pergunta: “O que se passa dentro da cabeça de um músico enquanto toca?”, recorrendo a
entrevistas e documentários sobre o assunto, entre outros.
QUANDO SE TOCA
Tocar um instrumento activa mais áreas do cérebro do que a maioria das actividades. Quando
tocamos, temos o aspecto motor, que tem origem no cerebelo e nos córtex motor e pré-motor;
a memória para saber onde estamos na música - hipocampo; conseguir antecipar o que vem a
seguir - córtex pré-frontal; a parte emocional da interpretação da música; e, obviamente, o
aspecto auditivo, que envolve o lobo temporal (córtex auditivo primário e secundário). Além
disto, se estivermos também a ler a música, temos o aspecto visual e espacial, que envolve os
lobos parietal e occipital. Toda esta actividade cerebral acaba por levar a uma maior
inteligência. (Documentário The Musical Brain)
QUANDO SE COMPÕE
Quando um músico compõe uma música ou improvisa, há certas áreas cerebrais que ficam
activas, nomeadamente o núcleo caudado, que é responsável pela organização e planeamento
de movimento corporal e respostas a estímulos. Pode explicar-se esta activação de uma
maneira simples: quando pensamos num padrão ritmico, o nosso cérebro utiliza o núcleo
caudado para imaginar como moveriamos o nosso corpo a esse ritmo.
Outra área importante durante a improvisação é o córtex pré-frontal médio, que é
normalmente activado quando contamos uma narrativa autobiográfica. A activação desta área
mostra que, através da música, estamos na verdade a contar a nossa própria história.
Além disso, durante este processo criativo as áreas de expressão no cérebro ficam excitadas e
as áreas de inibição adormecem, permitindo um à vontade e sinceridade não existentes
normalmente no indivíduo. (Documentário The Musical Brain)
O CÉREBRO DO MÚSICO
Tendo em conta toda a actividade cerebral que a música promove e a plasticidade do cérebro,
é natural que os músicos tenham áreas mais desenvolvidas que um leigo.
Começando pela parte mais óbvia, quanto a analisar material melódico, verificou-se que,
quando expostos a frases musicais com finais congruentes ou incongruentes, as ondas cerebrais
evocadas por este final diferem entre músicos e leigos, sendo a resposta cerebral mais rápida
nos músicos (Besson, 1994). Em paralelo, os músicos são mais capazes de distinguir timbres.
Quando sujeitos a testes de diferenciação de timbre de instrumentos, a amplitude das ondas
cerebrais destes é maior do que nos leigos (Crummer, 1994). No geral, a interpretação de
material musical é mais fácil e automática para músicos. Estes analisam sequências melódicas
com o hemisfério esquerdo do cérebro, em oposição a leigos, que utilizam o direito. Isto
constitui um aspecto fundamental no cérebro do músico, pois mostra uma análise mais
analítica e detalhada da música (Bever, 1974).
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No entanto, também há alterações menos óbvias: o corpo caloso passa a ter mais ligações
nervosas e a transportar mais informação entre os dois hemisférios cerebrais. Este aumento é
mais acentuado em músicos que tenham começado cedo a tocar (Schlaug, 1995).
O cerebelo também se altera no músico. Esta área está associada à coordenação motora e,
num músico, é muito estimulada devido à grande coordenação necessária para obter correcção
técnica.
Pegando num exemplo específico, um estudo revelou que, nos músicos de cordas, a
representação cortical da mão esquerda é maior do que a dos leigos, devido à extensa
utilização dessa parte do cérebro. Novamente, esta reorganização cortical é maior em músicos
que tenham começado a tocar desde cedo (Elbert, 1995).
Foram publicados vários ensaios nos quais se conclui que a música nos ajuda nas capacidades
de leitura e linguagem, tarefas espaciais, habilidades verbais e quantitativas, concentração,
atenção, memória e coordenação motora (Weinberger, 1995).
Relacionando especificamente música e leitura, pensa-se que, como resultado de aprender a
ouvir mudanças no tom da música, se melhora as capacidades de leitura pois promove-se a
habilidade de pronunciar palavras novas.
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Todas estas vantagens vêm mostrar que é benéfico aprender música desde cedo. As crianças
sujeitas a esta aprendizagem têm uma melhor expressão pessoal, maior criatividade e
coordenação motora e rítmica, um melhor senso de herança cultural, maior desenvolvimento
vocal, linguístico, social e cognitivo e facilidade para o pensamento abstracto (Draper, 1987).
“...[aumentou-me] a capacidade de concentração e o raciocício matemático.” (Rita Neves,
guitarrista)
Numa nota paralela, acredita-se que, como consequência dos nossos instintos primitivos, a
música também traga vantagens a nível de relações interpessoais: as mulheres sentem-se mais
atraídas por músicos, por razões evolutivas. Estes sempre apresentaram, desde o início da
história do ser humano, poderes físicos e criativos superiores aos demais, ficando assim em
vantagem (Documentário The Musical Brain).
CONCLUSÃO
Com este trabalho concluo que a música é um aspecto importante da cultura e que tanto altera
como é alterada pelo ser humano. A ligação entre música e cérebro é algo bastante complexo,
pois é exigido aos músicos um grande domínio mental para tocar e, ao mesmo tempo, a
entrega emocional total à música. Quanto à aprendizagem, penso que só há vantagens em
aprender música: tornamo-nos seres mais evoluidos.
“Eu vivo da música, é o que gosto mais de fazer , paga-me as contas todas. Fico feliz com o que
faço, por isso acho que foram só vantagens.” (Ricardo Barriga, guitarrista)
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BIBLIOGRAFIA
Besson, M.; Faita, F.; Requin, H. (1994) "Brain waves associated with musical incongruities differ
for musicians and non-musicians" in Neuroscience Letters, 168. Amsterdão, Elsevier, pp. 101 a
105.
Bever, T.G. & Chiarello, R.J.(1974) "Cerebral dominance in musicians and non-musicians" in
Science, 185. New York, AAAS, pp. 537 a 539.
Schlaug, G.; et al (1995) "Increased corpus callosum size in musicians" in Neuropsychology, 33.
USA, Philadelphia Clinical Neuropsychology Group, pp. 1047 a 1055.
Elbert, T.; et al (1995) "Increased cortical representation of the left hand in string players" in
Science, 270. New York, AAAS, pp. 305 a 307.
Draper, T.W.; et al (1987) Music and child development. New York, Springer-Verlag.
Entrevistas a: Sibila Lind, Ricardo Barriga, Rita Neves, Luis Santos, João Monteiro, Sofia Paes e
Katia Reis.