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exibindo todas essas caractersticas e prometem desejo sem ansiedade, esforo sem suor
e resultados sem esforo. Para Zygmunt Bauma, vivemos num mundo lquido, em que
as relaes humanas so dominadas pela incerteza, volubilidade, superficialidade e
liberdade, caractersticas essas que alteram muito significativamente o modo como
vivemos as relaes amorosas.
Roland Barthes, no livro Fragmentos de um discurso amoroso refere a reprovao da
sentimentalidade por parte da sociedade. Segundo ele, j no o elemento sexual que
indecente ou obsceno, o elemento sentimental. De facto, existe uma maior
compreenso face aos problemas relacionados com a componente sexual, do que com os
problemas de ndole sentimental. A sociedade no perdoa nenhum adulto que
desempenhe eternamente o papel da velha criana sentimental (Fourier). Dou a
palavra a Roland Barthes: Na vida apaixonada, o tecido dos incidentes de uma
incrvel futilidade e essa futilidade, aliada maior seriedade, propriamente
inconveniente. Quando gravemente imagino suicidar-me por causa de um telefonema
que no vem, produz-se uma obscenidade to grande como, em Sade, quando o papa
sodomiza um asno. Mas a obscenidade sentimental menos estranha e isso que a torna
mais abjecta; nada pode ultrapassar a inconvenincia de um sujeito que se despedaa
porque o seu outro tomou um ar ausente, quando ainda h tantos homens no mundo
que morrem de fome, quando tantos povos lutam duramente pela sua libertao,etc.
Reduzir o universo do amor a uma questo de libido, como fizeram alguns filsofos,
quase grotesco. O amor no se resume certamente a uma mera troca de fluidos corporais
(Paul Valery), est muito para l disso. Sentir a nossa alma tremer at ao ltimo osso
perante a viso e a ria da voz do ser amado no explicvel por nenhum conceito, quer
seja biolgico, sociolgico ou psicolgico. Desejar caminhar em direco morte
devido ausncia da pessoa amada penetrar nos domnios da irracionalidade. Penso
muitas vezes na expresso sabedoria do sangue do romancista norte-americano
D.H.Lawrence. Esta expresso resume magnificamente o amor. Sempre que a leio,
sinto-me esmagado por ela.
Como dizia o poeta argentino Jorge Luis Borges, amar algum acreditar num Deus
que falha. Acreditemos, ento. Talvez seja a nossa nica possibilidade de justificar a
nossa prpria existncia.