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Religiões e sexualidade no cenário

brasileiro contemporâneo
Religião e sexualidade: em redes religiosas” (Mesa II) teve a participação
de um padre católico, responsável pela criação
convicções e responsabilidades. e administração de uma casa de apoio a
pessoas soropositivas para o HIV, uma represen-
GIUMBELLI, Emerson (Org.). tante dos psicólogos e psiquiatras cristãos, um
representante das ações das religiões de
Rio de Janeiro: Garamond, 2005. 181 p. descendência africana em saúde e um
representante do grupo de convivência cristã,
tendo como debatedores Luis Felipe Rios e
Liandro Lindner.
Tendo como objeto um seminário realizado As propostas das mesas, mesmo girando
pelo Centro Latino-Americano em Sexualidade em torno da temática das religiões e
e Direitos Humanos (CLAM) em parceria com o sexualidade, assumiram proporções diferencia-
Instituto de Estudos da Religião (ISER), o livro das, já que inseriram na discussão elementos e
debruça-se sobre questões e problemáticas que perspectivas diferentes. Enquanto na primeira
giram em torno das temáticas sobre religião e parte da Mesa I houve a exposição de “teóricos”
sexualidade. O Brasil contemporâneo é tomado da religião (mesmo tendo papel ativo na
como pano de fundo, pensando-se, especial- execução dessas teorias), a parte II contou com
mente, a diversidade religiosa que compõe o a exposição de pessoas (e grupos) que põem
cenário nacional. A coletânea é composta pela em voga alguns dos pressupostos que guiam
transcrição do debate e das discussões ocor- essas mesmas teorias. Já a Mesa II procurou
ridas nesse evento que contou com profissionais discutir aspectos intrínsecos à prática e
da área das ciências sociais e humanas como aplicação dos paradigmas, muitas vezes
debatedores e de pessoas vinculadas a reinventando alguns desses pressupostos.
movimentos religiosos como expositores. Como salienta o organizador da coletânea,
O encontro foi organizado contemplan- Emerson Giumbelli, esses diferentes atores
do várias religiões, religiosos e militantes de possibilitam a focalização em duas questões
causas em torno da temática proposta no pertinentes da religião no cenário brasileiro: uma
evento, com três mesas, sendo uma delas dividi- delas compreende a religião como
da em dois momentos. O livro traz apenas as posicionamento (ideologia) e a outra como
duas primeiras como foco da transcrição. De instrumento de ação e intervenção social. Ora,
uma delas, intitulada “Religiões e seus posicio- se pensarmos que a religião é um importante
namentos” (Mesa I, 1.ª Parte), participa-ram um campo nas configurações sociais, suas
sacerdote franciscano, um representante da convicções, posicionamentos e atuações no
Igreja Episcopal Anglicana, um pastor presbi- campo da sexualidade irão influenciar, de
teriano e um representante do espiritismo, tendo alguma forma, nas configurações tanto vivenciais
como debatedor o antropólogo Rubem César quanto políticas de organização e vivência
Fernandes. Essa primeira parte da mesa contem- desta. Ainda, temas polêmicos dentro do
plou várias perspectivas do cristianismo, com campo da religião foram trazidos à baila, em
leituras diferenciadas. especial aqueles vinculadas à vivência das
A segunda parte dessa mesa contou com homossexualidades, bem como a questão do
uma representante do grupo Católicas pelo aborto, sendo esses temas de grande relevância
Direito de Decidir, um representante da Igreja também no cenário das configurações políticas
Presbiteriana Bethesda, uma representante das do país. Assim, militantes, especialmente do
religiões afro-brasileiras e um representante do movimento gay, foram convidados e
Movimento pela Sexualidade Sadia (MOSES) da estimulados a participar das discussões com o
Igreja Presbiteriana, tendo como debatedor o intuito de fornecer mais elementos.
psicanalista Jurandir Freire Costa. Não cabe aqui apresentar detalhada-
Encerrando as discussões apresentadas mente os pressupostos que guiam cada uma
nesse livro, a mesa “Experiências e propostas das falas dos representantes das religiões ou de

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outros palestrantes, mas apenas apontar similari- O amor, enquanto sinônimo da sexuali-
dades e diferenças no contexto da produção dade, é proposto enquanto realização plena
de um discurso que, para além da esfera desta, ora dando ênfase a um amor supremo,
religiosa, irá influenciar na tomada de decisões, que transcende o ato (como no caso dos
tanto na política do cotidiano (reprimindo ou católicos), ora dando o tom da normalização do
liberando algumas práticas) quanto na política amor, através do matrimônio como para-digma
judiciária e deliberativa estatal. Isso se faz interes- máximo da expressão da sexualidade (dado pelo
sante na medida em que vivenciamos no Brasil episcopal anglicano), ou ainda intensificando e
um momento em que inúmeros representantes afunilando a relação, ao colocar a relação
de setores religiosos se fazem presentes também heterossexual monogâmica como central na sua
na esfera legislativa e executiva da nação ou relação com o divino, seu criador (proposto pelo
dos estados, influenciando assim diretamente grupo MOSES, da Igreja Presbiteriana). É
na tomada de decisões sobre questões interessante que o discurso do amor é recorrente
pertinentes aos cidadãos brasileiros. como forma de expressão máxima da
Uma das semelhanças presentes nos sexualidade, dando ao prazer ou ao ato sexual
debates dos religiosos diz respeito à ênfase dada papel secundário ou até mesmo inexistente.
à sexualidade como uma criação divina e, Isso fica claro na medida em que setores
portanto, merecedora da atenção da religião. das religiões, representados no seminário,
A pergunta feita por um dos debatedores é propõem medidas de mudança da sexuali-
estimulante, na medida em que questiona o dade, partindo do pressuposto de que existe
porquê da atenção a essas questões, já que a uma sexualidade ‘normal’. Os ministérios, bem
própria Bíblia (princípio que guia grande parte como outros movimentos, afirmam possuir a
dos expositores) não menciona abertamente propriedade, através da palavra “divina”, da
essas questões. O que está em voga não se mudança na sexualidade de indivíduos
trata apenas de uma preconcepção da homossexuais que assim se dispuserem. Porém,
sociedade e das relações humanas, mas, acima como bem lembrado pela platéia, não há
de tudo, de ideologias e princípios “filosóficos” nenhum questionamento quanto às condições
que guiam determinadas ações. Assim, os estruturais que guiam as ações individuais (isso
escritos bíblicos, enquanto alvo de uma foi pautado por Luis Felipe Rios, ao refletir sobre
hermenêutica dos sujeitos religiosos, propõe as vulnerabilidades que trabalham com noções
questões que, dependendo do contexto estruturantes do pensamento e da ação
histórico, serão enfatizadas, como ressaltam individual). O debate, nesse sentido, girou em
grande parte dos cristãos participantes do torno das questões sobre a legitimidade das
debate. Mas, ao mesmo tempo que o contexto ações tanto das igrejas, com suas propostas
sócio-histórico é lembrado, ele também é ‘salvacionistas’ quanto dos ativistas homos-
deixado de lado, pois algumas práticas sexuais, com suas propostas ‘libertárias’. O normal
cotidianas são tratadas como tabus e, algumas e o desvio, sob duas perspectivas diferenciadas,
vezes, reinventadas. foram postos em voga de forma acalorada.
“A naturalidade [em referência à questão Outra questão trazida pela platéia foi a do
da sexualidade] é tamanha que as escrituras prazer e da liberdade de escolha:
sagradas não deram muita atenção à sexuali- questionando a ênfase dada pelos religiosos à
dade; ela faz parte dos projetos de Deus e heterossexualidade e à monogamia, é proposta
ponto” (p. 22), afirma o sacerdote franciscano outra forma de encarar a sexualidade. “A igreja
na primeira exposição. Essa leitura, baseada na têm a genitália no cérebro”, frase pronunciada
natureza da sexualidade enquanto elemento pelo representante da Igreja Presbiteriana
divino, é recorrente nas falas dos indivíduos Bethesda, é modular para pensar essa relação,
cristãos no decorrer das exposições. Enquanto já que aponta para o lado racional, mas ao
elemento sagrado, expresso no mundano, ela mesmo tempo sagrado da sexualidade: é
assume proporções diferenciadas dependendo através das escrituras sagradas (sendo elas
do indivíduo. Ao mesmo tempo que pode ser ‘cruas’ ou relidas pelo espiritismo) que serão
benéfica, ela também pode ser maléfica. A definidas e denominadas as sexualidades
dubiedade completa o demarcador da humanas.
naturalização da sexualidade no discurso cristão Isso é, de alguma forma, contraposto pelos
(dos católicos aos espíritas, passando pelos cultos afro-brasileiros. Um representante dessa
protestantes), acionando elementos como instituição conta o mito de Xangô, quando esse,
pecado, normalidade e patologia. ao escolher o local da genitália no corpo

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humano, a insere, num primeiro momento, nos dentro dos pressupostos protestantes, todos esses
pés (e fica impressionado com a poeira), num segmentos demonstram como, ao mesmo
segundo momento, embaixo do nariz (e não se tempo que a religião auxilia no processo de
contenta por causa dos odores), logo após construção dos indivíduos, esses também são
embaixo das axilas (e não gosta pela transpi- agentes ativos na reestruturação (e reinvenção)
ração), tendo, numa quarta fase, posto a da própria tradição religiosa.
genitália entre a cabeça e os pés – no meio É aqui que aparece, de alguma forma,
das pernas. Aqui, o sagrado e o profano (o céu as novas configurações religiosas, pois, ao
e a terra) podem servir de analogia, pois nesse mesmo tempo que as ‘leis’ (enquanto diretrizes
setor das religiões também são quebrados teológicas) apontam caminhos para o exercício
estereótipos de masculino e feminino, bem da fé, elas também não engessam os indivíduos,
como de sexualidades ‘normais’ e ‘desviantes’ sendo esses, em alguma medida, criativos no
(através, por exemplo, da Pombagira – que processo de vivência da religião. Não obstante,
representa uma prostituta – e de Iansã – que é importante considerar também as questões
mesmo tendo nove filhos não se restringe ao estruturais como as violências simbólicas e físicas
lar). Leitura diferenciada de realidade (e muitas vezes cometidas por várias religiões
religiosidade) é acionada também pela platéia, contra pessoas que encaram e vivenciam a
tendo-se como exemplo o caso de uma lésbica sexualidade de forma diferente da proposta pela
que pega a palavra e diz-se participante das doutrina ‘maior’.
religiões afro por falta de aceite em outras seitas. O debate é fértil. Ao mesmo tempo que
O plano das idéias exposto acima é as ideologias religiosas são reinventadas, elas
suspenso no último momento do livro, e ações estão sendo postas em prática. A prática e a
concretas são apresentadas como forma de própria filosofia (enquanto agentes imbricados)
reinvenção das culturas religiosas. Seja o padre auxiliam tanto na elaboração de sujeitos quanto
católico que funda uma casa de apoio a na elaboração de discursos e instrumentos de
pessoas soropositivas para o HIV, seja o grupo de poder e dominação.
católicas pelo direito de decidir (e suas reivin-
dicações, dentro da própria igreja), seja os Felipe Bruno Martins Fernandes
grupos de consciência homossexual formada Universidade Federal de Santa Catarina

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