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Paraíso proibido

Andreia Fanzeres

19.08.2006 OECO

Para conhecer Aventureiro é preciso levar o nome desta praia de Ilha Grande, no Rio de
Janeiro, ao pé da letra. Ou você passa horas num barquinho em mar aberto, ou atravessa
uma das montanhas mais íngremes de toda ilha. Mas se ao pisar naquela praia você decidir
ficar por lá alguns dias, vai ser enquadrado em outra categoria de visitante: aventureiro-
fora-da-lei.

Está proibido acampar na praia desde a interdição policial realizada no carnaval deste ano ,
decorrente dos impactos ambientais causados pela superlotação de turistas. Segundo as
autoridades locais, os campings só vão poder voltar a funcionar sob regras ainda a serem
criadas e quando terminar um processo que corre dentro da Feema, fundação ambiental do
Rio, que pretende excluir a Praia de Aventureiro da Reserva Biológica Estadual da Praia do
Sul – algo que demora, apesar dos pedidos de tramitação prioritária dentro do órgão. A
pressão aumentou depois que cerca de 80 moradores da praia de Aventureiro acionaram o
Ministério Público em março e cobraram das autoridades ambientais uma solução para o
seu problema de subsistência, pois faziam do turismo sua fonte principal de renda.

A reserva biológica foi criada em 1981 e por lei ninguém pode morar dentro deste tipo de
unidade de conservação, mas os habitantes da praia nunca receberam indenização nem
foram removidos. “Naquela época o Brizola administrava o Rio. E em função de uma
política extremamente voltada para o social, nunca conseguimos retirar as pessoas do
Aventureiro”, lamenta a bióloga Norma Crud Maciel, chefe da Rebio e funcionária da
Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente (Feema) desde 1975. “Jamais
conseguimos um político para nos apoiar”, diz.

Depois de tanto tempo, os moradores acabaram adaptando seu estilo de vida à presença
cada vez mais significativa do turismo. Antes, não funcionavam na praia bares e
restaurantes com alvará da prefeitura de Angra dos Reis, nem havia gente que pagava IPTU
ao município – imposto que passou a ser cobrado em 1988. “Os moradores recebem
serviços da prefeitura, como uma escola, coleta de lixo, além de manter uma merendeira e
um agente de saúde no Aventureiro”, justifica Elisabeth Brito, secretária municipal de meio
ambiente.

Por temer a desafetação da praia e o que ela pode vir a se tornar fora da Rebio e ao alcance
da especulação imobiliária, os moradores se organizaram. Conseguiram o apoio de um
grupo de pesquisadores que em julho assinou um manifesto pedindo para que Aventureiro
seja transformada em uma Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS).

Controvérsia

Uma vez retirada da reserva, a praia do Aventureiro vai automaticamente fazer parte da
Área de Proteção Ambiental (APA) dos Tamoios, sobreposta pela reserva biológica. Norma
Maciel acredita que essa seja a melhor opção. “A área vai se transformar
em Vila do Aventureiro e as pessoas vão poder continuar do jeito que
estão”, diz a bióloga. Ela explica que como a gerente da área é também a
própria Feema, se eles respeitarem as restrições de moradias previstas no
plano diretor (que ainda não foi feito), não haverá risco algum de expulsão
dos moradores por pressões imobiliárias. “Eles só vão sair se quiserem vender suas terras
para algum magnata. Mesmo assim, caberá à Feema não licenciar nada que desrespeite o
plano diretor”, informa a chefe da reserva biológica.

Mas isso não basta para quem acompanha os diversos casos de empreendimentos luxuosos
que têm ameaçado Ilha Grande. “A ilha tem enormes problemas fundiários. Volta e meia
aparece um empresário se dizendo dono de alguma praia, com documentos grilados. Já
existem diversas delas privatizadas. Se isso acontecer em Aventureiro, vai ser difícil
reverter”, considera Alexandre Guilherme de Oliveira e Silva, membro do Comitê de
Defesa da Ilha Grande (Codig).

Os pesquisadores que assinaram o manifesto concordam. Por isso formalizaram a proposta


da RDS. Segundo o documento, a categoria é ideal porque vai servir de zona de
amortecimento para segurar a pressão sobre a reserva, além de permitir turismo, pesquisa
cientifica e educação ambiental. Norma Maciel vê desvantagens nessa idéia, que vai
implicar em mais sobreposição de unidades de conservação na Ilha Grande, sendo que elas
nunca foram implementadas. “Eu estou farta de ver figuras no papel, umas por cima das
outras. Vai ser mais um papel, com outro plano de manejo, outro diretor, e vai precisar de
outros recursos”, diz.

A prefeitura de Angra dos Reis é a única que não acredita no risco de especulação
imobiliária. “Ainda estamos fazendo estudos, mas a prefeitura quer uma unidade de
conservação que permita a permanência das pessoas que já estão lá e não comprometa a
renda nem o meio ambiente”, resume Elisabeth Brito.

Solução cuidadosa

A coexistência da população local com os turistas naquela região será uma tarefa delicada.
Segundo estimativas do órgão, em épocas de carnaval e fim de ano, Aventureiro chegava a
receber entres três e quatro mil pessoas, quando avaliações preliminares indicam que a
praia suporta, no máximo, 800 visitantes. A ocupação excessiva, ainda que temporária,
provocava graves problemas de falta d’água, línguas negras decorrentes do lançamento do
esgoto no mar e desmatamento para abertura de novas áreas para camping. Inclusive no
entorno do posto da Feema, sem que nenhum funcionário do órgão impedisse a prática.

Essas são agressões inadmissíveis em um lugar como Aventureiro. Trata-se de uma


pequena enseada virada para o mar aberto, na extremidade sul da ilha. Sua geografia a
deixa literalmente de frente para as duas praias menos visitadas e mais selvagens de toda
região: as praias do Sul e do Leste. Em uma de suas extremidades, onde o mar é calmo, não
é preciso nem máscara de mergulho para apreciar os peixinhos coloridos. O cais de
atracação fica justamente ali, já que ao longo dos apenas 600 metros de areia de
Aventureiro as ondas costumam atrair também surfistas. Um local digno de apreciação.
As praias do Leste e do Sul são consideradas umas das áreas de restingas
mais preservadas do Brasil. Segundo Norma Maciel, entre essas duas
praias deságua no mar o rio Capivari, que abastece duas lagoas intocadas.
“Aquilo lá é um maná, uma benção”, diz. “As lagoas são perfeitas. As
tainhas entram naquela região de rio e mangue, reproduzem-se e crescem. É a Rebio que
fornece grande parte desses peixes encontrados na Baía de Sepetiba hoje”, conta.

São cerca de sete quilômetros de areias contínuas, com ondas tão límpidas quanto violentas.
Apesar de ser reserva biológica e de haver mais uma barreira natural contra a passagem de
turistas – o Costão do Demo (foto ao lado) – os fiscais da Feema baseados na praia de
Aventureiro não impediam a entrada de visitantes nas praias da reserva. Elas, aliás, são rota
obrigatória de quem vai à Ilha Grande com objetivo de dar a volta completa na região
insular, ainda que a prática seja proibida ali.

A Feema diz que, agora isso mudou. Depois do escândalo dos acampamentos e da
ocupação ilegal na Ilha Grande, a entidade dispensou os trabalhos do funcionário que
mantinha no posto do Aventureiro e colocou em seu lugar a esposa do presidente da
associação dos moradores, Daise Benevides. Ela passou a ocupar um cargo de confiança
dentro da Feema depois de ter apresentado projetos ambientais para minimizar os impactos
da presença humana na praia e garantir aos moradores alternativas de renda que não
dependam tanto do turismo, como cultivos marinhos.

Os novos caiçaras

Mas os moradores insistem que dependem do turismo, o que não os descaracteriza como
caiçaras. Os estudiosos que assinaram o manifesto defendem a presença dessas pessoas há
pelo menos quatro gerações em Aventureiro. Dizem que eles têm práticas locais de
pertencimento, como o enterro do cordão umbilical dos recém nascidos nos terrenos. Além
disso, a população local adquiriu conhecimento empírico do ambiente no que se refere à
flora, fauna, clima e regime de marés. Com base em estudos em Aventureiro, os
pesquisadores constataram ainda que a população conserva um padrão tradicional de
organização do trabalho, baseado na divisão sexual das tarefas. A exploração do turismo foi
conjugada à manutenção do trabalho familiar, prática das roças e pesca.

Algumas pessoas dizem que a pesca deixou de ser importante economicamente na região
porque o Parque Estadual Marinho do Aventureiro, criado em 1990, impediu a prática
naquela zona costeira. Algo que Norma Maciel, que também administra o parque, nega
veementemente. “O nosso parque foi criado com o viés básico de que seria permitido seu
uso pelos caiçaras”, afirma a bióloga. Mas as queixas são de que, em vez deles, companhias
de pesca industrial adotam o arrasto para capturar os peixes na área protegida. “É fácil
reclamar, mas nunca nenhum morador do Aventureiro me telefonou para denunciar o
arrasto. Eles não colaboram com a fiscalização. Se eles ajudassem, seria melhor para
todos”, diz Norma.

De acordo com relatos de quem vive na região, com o fim do turismo, não existe mais uma
atividade principal sob a qual os moradores de Aventureiro baseiam sua subsistência.
Alguns continuam pescando, outros têm residência em Angra dos Reis e
passam a semana sobrevivendo de fretamento de barcos, ou de outro tipo
de ocupação no continente. A prefeitura de Angra afirma estar fazendo um
levantamento sócio-econômico daquela comunidade para descobrir como
eles vivem hoje e como era antes da proibição dos acampamentos. “Eles
cobravam pouco pelo camping, não dá para sobreviver do que eles ganhavam nos feriadões
durante o ano inteiro. Só depois de sabermos isso poderemos discutir uma alternativa de
renda e preservação do ambiente para eles”, explica Elisabeth Brito.

No meio dessa indefinição, se você é tão somente um turista bem intencionado, ávido por
conhecer as belezas de Ilha Grande, informe-se nos sites IlhaGrande.com ou
IlhaGrande.com.br sobre os locais onde há campings, pousadas e casas para alugar em
situação legalizada. Se fizer isso, não precisa se assustar com as enormes placas no cais de
Angra dos Reis (foto ao lado) que informam ser ilegal acampar na Ilha Grande. Elisabeth
Brito, secretária de meio ambiente, garante que os estabelecimentos regularizados estão
identificados com placas informativas.

Mas para chegar em Aventureiro é preciso entrar em contato com moradores que tenham
barcos e combinar um dia e uma hora. Não há transporte regular. O preço da travessia varia
entre 20 e 25 reais. Mas se você optar pela aventura, lembre-se que o passeio vai ter que ser
curto porque dormir por lá continua proibido.

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