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DOMINGO, 23 DE MAIO DE 2010 O ESTADO DE S. PAULO

México
em guerra
* ESPECIAL
*

Confrontos entre cartéis da droga mergulham país em banho de


sangue, enquanto governo do presidente Felipe Calderón
mobiliza aparato espetacular para enfrentar a violência

Ciudad Juárez.
Corpo de vítima fica
estendido na rua

Fausto Macedo (TEXTOS) nos a mando do narcotráfico, o tões chegarem, dali a uns minu- para-choque, de costas, braços purra a barreira, mas um escudo põe-se a correr, sem rumo.
Evelson de Freitas (FOTOS) inimigo número 1. Alguém dirá tos, quatro baleados já terão sido abertose esticados. A cabeça par- de coronhas a faz recuar.
ENVIADOS ESPECIAIS mais tarde que eram pelo menos removidospara morrer no hospi- tida ao meio. Um pouco mais Os peritos forenses estão vin- Mensagem. A noite cai em Ciu-
15ospistoleirosequeestavamar- tal Star Médica, nas imediações. atrás, ao lado do carro da polícia do pela Calle Durango. São 12h15. dad Juárez. No grande paredão
mados até os dentes e os peritos Restamquatrocorposnarua.To- municipal, três uniformizados, Abrem caminho com suas vali- branco da Calle Colômbia, rabis-
confirmarão que eles usaram fu- dospoliciais. Não há nada a fazer. quase amontoados. ses, que são quase um laborató- camumalongamensagem.Égen-
zisAK-47,riflesdeassalto AR-15e Daqui a pouco chegam os peri- rio, equipamentos de precisão e tedeLaLínea,queassumeaauto-
● O ESTADO NO MÉXICO automáticas para abater seus al- tos, para sua rotina miserável – a Vingança. Mais soldados e mais químicos para captar vestígios da ria da matança.
vos. eles cabe a missão de contar um a federais estão chegando. Capu- chuva de balas. La Línea tem sede de sangue, é
A emboscada aos federais é um os tiros que derrubaram seus zes negros escondem o rosto da Sãohorasdeumtrabalhometi- rival de “El Chapo”, comandante
maisumdurogolpedesferidope- colegas,definirânguloseidentifi- polícia.Haverávingança,ouve-se culoso em busca da pista promis- doCartel doGolfo.A pichaçãono
rezentostiros con- lo crime organizado contra o go- cardeondepartiramosprojéteis. entre eles. Estão agitados, des- sora.Doisespecialistasespalham muro acusa federais de dar apoio

T
tra a patrulha dos vernodopresidenteFelipeCalde- Corpos sangram entre a pa- controlados. O próximo ataque, peloasfaltopequenosconesama- ao oponente.
federais e o México rón,quemobilizouumaparatoes- trulha 10627, da PF, e a eles sabem, é só uma ques- relos – que servem para marcar A Secretaria de Segurança Pú-
vai abrir mais oito petacularepôsoMéxicoemguer- 367, da Polícia Munici- tão de tempo. os pontos de onde partiram as ra- blica e a Polícia Federal emitem
sepulturas. Num
entroncamento
ra contra os narcos – tanques, ba-
zucas,lança-granadase50milsol-
pal de Juárez. O san-
gue escorre pela rua
8 Lá em cima, o heli-
cóptero militar risca
jadas e estabelecer a posição dos
atiradores.
um comunicado conjunto. Atri-
buem a ofensiva dos bandidos às
CARTÉIS
tãomovimentado, o céu acinzen- dadosestão nas ruas. Oito cartéis em declive e acom- EXPLORAM, PELO o céu, faz manobras O perito mais encorpado, ócu- “contundentesdetençõesrealiza-
tado por testemunha, nessa ma- queexploram11Estados,pelome- panha o traçado da MENOS, 11 em círculo, desce los de grau, ajoelha-se a um mor- das nas últimas horas”.
nhã gelada, a morte chegou para nos, desafiam o poder legal. guia da calçada. O ESTADOS até muito perto da to. Mãos que calçam luvas reco- Os federais reafirmam seu
seis agentes federais, uma poli- O país, que mergulhou no ba- vento forte não dá MEXICANOS rua e depois sobe de lhem aqui e ali pedaços de chum- compromisso de proteger a co-
cial municipal e um civil. nho de sangue, habitua-se às exe- trégua. Castiga os novoatévirarumpon- bo calibres 3.08, 7.62, .39 e 9 mm. munidade. “Continuamos fir-
São 11h40, 23 de abril, a sexta- cuções e chacinas à luz do dia. Já mortos e levanta as to negro nas alturas. Faz cinco graus às 12h58 em mes no combate à delinquência
feira terrível em Ciudad Juárez, são 22,7 mil os mortos. Ciudad mantas brancas emborra- Uma policial estende o Juárez. para recuperar o México que nos
nafronteiracomElPaso,noEsta- Juárez é o foco mais cruel. chadas que os cobriam. Uiva e cordão que isola a cena do crime. Do lado de cá, contida pelos pertence.”
doamericanodoTexas.Cincoau- joga areia para o alto. Ela desenrola fitas amarelas e de- cordões, ela chora nos ombros
tomóveisdeslizampelaCalleDu- Comoção. Trezentos balaços. O Cinco metros separam os dois pois fitas vermelhas e fecha uma de um rapaz de boné e brincos
rango até a Avenida Santiago massacre paralisa e comove a ci- carros da polícia, o da PF à frente, área de 250m², mais ou menos, que lhe faz companhia. “Saiu ce- estadão.com.br
Troncoso. Aqui, montam guarda dadequeamorteespreita. Astro- vidros furados, três pneus no que vai do posto de gasolina até o do para trabalhar, não volta nun-
Olhar Sobre o Mundo. A violên-
os federais. Eles não pressentem pas sitiam o Bosque dos Salvár- chão porque teve bala para todos terrenodooutrolado,deterraba- camais para casa”, soluça.É uma
cia no México, em imagens
o perigo. cas,ondeosfederaisforamtocaia- os lados. tida. A multidão avança para ver menina, ainda. Ela aponta para
estadão.com.br/e/h1
Aqueles carros trazem assassi- dos. Quando os primeiros pelo- Um federal está caído junto ao bem de perto os dilacerados, em- um daqueles que está no chão. E

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DOMINGO, 23 DE MAIO DE 2010 O ESTADO DE S. PAULO

MÉXICO EM GUERRA ● ESTADO ARMADO

Calderón sofre com efeitos


da luta contra o tráfico
Estratégia de líder mexicano, que tem como objetivo recuperar os territórios
dominados por cartéis, é criticada e tachada de ‘inconstitucional’ pela oposição

México chora os um ex-senador sumiu. É ano de mumàs duas nações – o intrigan-

O
seus mortos – eleições, o País vai eleger gover- te é que 15 milhões de armas
são 22.700 exe- nadores, deputados e prefeitos. PRINCIPAIS CARTÉIS clandestinas circulam no Méxi-
cutados à bala Opleitoestásobameaçaemalgu- co e o grosso do material vem
ou na lâmina do mas localidades. Alguns parti- l Organizações criminosas controlam 11 Estados mexicanos dos EUA, onde são vendidas li-
machado desde dos estão abrindo mão de candi- vremente.
que a guerra ao narcotráfico foi daturas. A oposição agita o Congres-
declarada, em 2007, e mergu- Calderón é um determinado, so, pede o retorno dos militares
Ciudad
C Juárez EUA
lhou o país em um banho de san- não admite capitular. Em Wa- aos quartéis, sustenta que Exér-
gue. Decidido a enfrentar o gran- shington, o subsecretário de Es- cito nas ruas é inconstitucional.
Juárez
de desafio dos cartéis da droga, tado dos EUA para o Narcotráfi- A imprensa paga um preço alto.
que plantaram raízes em 11 Esta- co Internacional, David John- Jornalistas agredidos, executa-
dos, e sob pressão dos EUA, que son, questionou o desempenho dos, por apontarem movimen-
exigem o bloqueio da entrada de do Exército do México. A Hu- GOLFO tos do tráfico ou identificarem
DO MÉXICO
cocaína, heroína e maconha em man Rights Watch, ONG mun- MÉXICO alto grau de corrupção em seto-
seu território, o presidente Feli- dialmente reconhecida, pediu Tijuana res importantes do poder públi-
pe Calderón, já no primeiro ano ao governo Barack Obama que Zetas e co – policiais graduados e admi-
Sinaloa Golfo
de mandato, partiu para o cobre do presidente mexi- nistradores desleais, a serviço
tudo ou nada. cano respeito aos direi- México dos cartéis, são desmascarados.
Convocou as for- tos humanos. O Comitê para Proteção de
ças de segurança, 5 MIL Ocentrodoconfli- BELIZE Jornalistas indica que, desde
mobilizou compul- MEXICANOS to é Ciudad Juárez, N 2006, foram 17 os profissionais
soriamente todo o MORRERAM EM ao norte. Aqui, em Pacífico GUATEMALA assassinados. Hostilizados, sob
OCEANO
contingentedaPolí- CIUDAD JUÁREZ dois anos e quatro PACÍFICO ameaça de bombas, a mídia de-
DESDE JANEIRO 0 km 340
cia Federal e das po- meses– dejaneiro de creta autocensura. “O México
lícias estaduais e mu- DE 2008 2008 até abril –, 5.002 INFOGRÁFICO/AE está perdendo a guerra”, afirma
nicipais e militarizou a mexicanos perderam a o professor Edgardo Buscaglia,
repressão. Mandou o Exér- vida. o dia a dia de um país doente. das de cocaína, 47 de metanfeta- estudioso da escalada dos narco-
cito para as ruas. Cinquenta mil O México jamais conheceu Civis indefesos golpeados, pre- minas,70milarmas,4.950grana- traficantes.
soldados vasculham o país con- tanta dor. Os barões do tráfico, sas fáceis dos cartéis que os es- das, 28 mil carros, 470 aviões. O secretário de governo Fer-
flagrado. Tanques, bazucas e que gira US$ 24 bilhões por ano, colhem como alvo para intimi- Trinta chefões apanhados. Mas nando Gómez Mont é contun-
morteiros para destruir o inimi- não se curvaram ao cerco e res- dar e jogar a população contra tudo isso não basta para abalar a dente. “A ofensiva é uma deci-
go. ponderam com uma brutal e au- o governo. O México caótico longa era de supremacia do cri- sãoirreversível.” Calderón avan-
Calderón está convencido de daciosa contraofensiva. De pos- atinge seu limite. me organizado. ça em sua marcha e manda um
que o caminho é esse, pela hon- se de arsenal bélico – metralha- Procuradores federais ma- A grande jornada, com desfe- aviso a quem dele espera um re-
ra e resgate da soberania de seu doras Uzi israelense, fuzis peiam rotas do tráfico. São dois cho imprevisível, custa segui- cuo. “Seguiremos atuando con-
país, à beira dos 200 anos de in- AK-47, da Rússia, fuzis deassalto objetivos: reunir provas cabais dos protestos que desconfor- tra o crime organizado em todo
dependência. Por isso, preten- AR-15, granadas e outros equipa- contra os líderes do narcotráfico tam o governo. Entidades civis, o país. Temos um compromisso
de cumprir à risca os termos da mentos de alto poder de fogo –, e confiscar bens e ativos. A Pro- políticos e juristas clamam por expresso, de palavra e de traba-
famosa Iniciativa Mérida – pro- as temíveis “pandillas”, quadri- curadoria-Geral da República mudanças urgentes na estraté- lho, precisamente contra quem
tocolo de cooperação pelo qual lhas a serviço dos cartéis, asso- mostra que, de dezembro de gia. Denunciam abusos e viola- ameaça a segurança e a paz.”
o México se compromete a ani- lam o México com ações diabóli- 2006a20demarço, foram toma- ções. Do lado de lá, Obama quer
quilar os narcotraficantes, en- cas e métodos cruéis. dos dos cartéis US$ 390 milhões mais rigor contra o inimigo co-
quanto os americanos injetam e 300 milhões de pesos mexica-
US$ 1,4 bilhão para capacitação Violência. É uma época infeliz nos. Foram recolhidas 91 tonela-
e treinamento das forças de Cal- para o povo de Calderón. Cabe-
derón. ças decapitadas a golpes de ma-
A meta da qual o presidente chado, mulhe-
nãoabremãoérecuperarterritó- res e crian-
rios dos quais o crime organiza- ças calcina-
do se apossou. Cidades inteiras das, homens
caíram nas mãos do tráfico e o enforcados e
governo admite que o México, pendurados nos
em alguns episódios, guarda se- becos formam o
melhança com a Colômbia. Nas cenário macabro ao
últimas semanas, dois políticos qual o México se habi-
mexicanos foram assassinados e tua. Confrontos marcam

A cidade
enlouquecida
não descansa
Eles jogam granadas e despejam
As patrulhas, de soldados rajadas de metralhadoras.
e policiais federais, Ciudad Juárez é um território
de grande extensão que segue a
circulam noite e dia e linha da divisa com os EUA, país
montam barricadas nas do qual é separada por um rio e
vias de acesso aos EUA uma cerca sem fim, dizem de 350
quilômetros, que nasce em al-
gum ponto da periferia e avança

P
or todo o dia e por toda a por todo Michoacán, em
noite é correria de polí- Chihuaha.
cia, patrulhas circulam A cidade já conheceu dias me-
comasireneligadalevan- lhores e também as noites auspi-
do para lá e para cá homens com ciosas com suas casas e bares em
seusfuzis.Acidadeenlouquecida grande fase e faturamento certo Controle. Soldados do Exército patrulham saída de Ciudad Juárez, perto da fronteira com os EUA: abordagens peremptórias
não descansa. até que as gangues puseram de
Tanques militares varrem as joelhos os negócios e levaram à tadodoconfronto diretoentreos to, metralhadoras e lança-grana- umtanquecomdoismilita-
ruas e colônias, os bairros mais falênciacomercianteseempresá- cartéisdeJuárezedeSinaloa,que das. Homens treinados por espe- res.Veículossãointercep-
remotos e a zona urbana. Cinco rios da região. disputam palmo a palmo as rotas
VÍTIMAS DO TRÁFICO cialistasamericanos,comorezao tados.Ospatrulheirosfa-
mil federais e soldados em trajes Sob a Ponte Santa Fé, que liga do tráfico. O efetivo de soldados pacto com o vizinho – em troca zem a revista.
para a guerra ocupam Juárez, que CiudadJuárez aElPaso, primeira aumentou depois do fuzilamen- EM NÚMERO DE MORTOS da ofensiva aos narcos, o México Primeiro, exigem a do-
tem 1,3 milhão de habitantes e se cidade do lado americano, um todeumafuncionáriadoconsula- 2008 2009 recebe equipamentos e capacita- cumentação, do carro e de
situa na divisa com os Estados alerta a quem planeja driblar as do americano em Juárez, Lesley ção. Eles esperam o inimigo para seusocupantes.Ànoiteelesjo-
Unidos, ao norte do México. forças da fronteira. Na placa está Enríquez, que trabalhava na pre- oconfrontoquepareceiminente, gam o facho de uma lanterna nos
Unidades terrestres, canhões e escrito:“Perigo.Rioecanaladian- paraçãodedocumentosparacida- México
5.630 7.724 que pode ocorrer a qualquer hora olhos de motoristas e passagei-
bazucas tomam posições cru- te. Não tente cruzá-los. É muito dãos de seu país. No ataque, em porque tem sido assim desde que ros, a quem interrogam. Pergun-
ciais nos entroncamentos e nas perigoso.Cuidedesuavidaepen- janeiro, também foi atingido e a guerra foi declarada. tam de onde vêm e para onde vão
viasdegrandemovimentoquele- se em sua família, ela te espera.” mortoo marido deLesley. O con- No entroncamento do Cami- e por quanto tempo pretendem
vam às rodovias e a outros Esta- sulado fechou as portas por al- Ciudad 1.587 2.643 nho Real com Casas Grandes, ficar em seu destino. As aborda-
dos. Suas bases são endereços Obstáculo. A grande cerca, que guns dias. “Estamos fartos, se- Juárez que conduz ao Novo México, as gens são peremptórias. Civis re-
não convencionais, construções é de aço e tela, vai a 5 metros de nhorpresidente”,advertiuaman- três faixas da pista se encolhem e clamam de atos desrespeitosos.
antigaseaparentementeabando- altura. Os americanos ergueram- chete do El Diário, principal jor- viram uma só porque as outras Outros elogiam a ação, dizem
INFOGRÁFICO/AE
nadas e galpões imensos por trás na para conter imigrantes clan- nal da cidade, no dia em que Feli- duas dão lugar a um pelotão en- que se sentem seguros.
de muros altos sem nenhuma destinoseotráfico.Equemsupe- peCalderón,presidentedoMéxi- Comboios de quatro ou cinco trincheirado. Uma barricada é a No Caminho Real postes orna-
identificação – é assim para des- raresseobstáculo podedardeca- co, a visitou. O governo veio com camburões circulam num vai e pilha de sacos de areia que prote- dos com cruzes cor de rosa, que
pistar as “pandillas” (gangues), ra com outro desafio, uma polícia mais blindados que armam bar- vem incessante do cenário de ge soldados com capacete e ca- sãoparalembrarmulheresdeJuá-
franco-atiradores que passam a implacável do lado de lá. reirasnasprincipaisviasatéadivi- guerra. Soldados camuflados, puz preto. A outra é uma monta- rez assassinadas sem clemência.
bordo de carros em velocidade. A violência sem limites é resul- sa com os EUA. sobsolechuva,comfuzisdeassal- nhade pneus.No sentidooposto, Crimes sem punição.
Especial/Internacional H3
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O ESTADO DE S. PAULO DOMINGO, 23 DE MAIO DE 2010

NÚMEROS DA GUERRA
Gangues
22.700
pessoas foram executadas desde
dezembro de 2006,
tomam as ruas
vítimas do narcotráfico
das forças americanas, o que de-
Quadrilhas como Los flagrou uma batalha interna pelo
Zetas são formadas por comando do Golfo. A disputa en-

50 mil
soldados combatem as
gangues dos cartéis
policiais de elite que
se associaram ao
tráfico de drogas
volve pelo menos seis persona-
gens: Heriberto “Lazca” Lazca-
no; Jorge “El Coss” Costilla; Juan
José Esparagoza, “El Azul”; Joa-
quin “El Chapo” Guzmán; Salva-

S
em todo o país ão oito os mais podero- dor “Chava” Moralles; “El 88”; e
sos cartéis do narcotráfi- Ismael Zambada, “El Maio”.
co,quelevamdoremedo Los Zetas, de 1994, têm origem
ao México. Um relatório no recrutamento de algumas de-
Entrada de divisas por ano da Interpol dá os nomes do gran- zenas de oficiais de elite do Exér-
(Em 2009) de inimigo: Pacífico, Sinaloa, Ti- citomexicano,treinadospormili-
juana,Milênio,FamíliaMichoaca- tares israelenses e americanos.
1º. US$ 40 bi narcotráfico na,Golfo/LosZetas,ColimaeJuá- Eles desertaram e se associaram
2º. US$ 30 bi petróleo rez.Eles disputamaferro e fogoo ao tráfico. Parte desse efetivo es-
domínio de extensos territórios tá no comando do cartel do Gol-
3º. US$ 21 bi turismo dessepaísde110milhõesdehabi- fo. “Seus treinamentos são equi-
tantes. valentes aos dos boinas verdes”,
Trinta e dois barões do narco- assinala relatório da Interpol.
tráfico estão na lista dos homens Los Zetas usam roupas negras

214
grupos criminosos ligados
aos oito cartéis do
maisprocuradosdomundo.AIn- e atiram com fuzis AK-47. Seus
terpol, que mantém conexão em líderesintegraramoGrupoAero-
quase 190 países, os incluiu na di- móvel de Forças Especiais, Gru-
fusão vermelha, índex dos maio- po Anfíbio de Forças Especiais e
res alvos da Justiça. O México en- BrigadadeFuzileirosParaquedis-
tráfico atuam no México contra severas dificuldades para tas do Exército mexicano.
reunirprovascontraocrimeorga- Segundo a Procuradoria-Geral
nizado que se oculta à sombra de ao menos 40 ex-militares for-
negócios aparentemente lícitos. mam as fileiras de Los Zetas,

15 milhões
de armas clandestinas circulam
no México, a maioria vinda dos EUA,
O cartel do Pacífico é controla- além de soldados da Guatemala.
dopelosBeltránLeyva.OdeSina- Sua área de influência original-
loa atua sob a direção de Joaquín mente era Tamaulipas, mas ex-
Guzmán, “El Chapo”, lendário pandiu as atividades a Nuevo
traficante que teria obtido uma León e Coahuila e, mais tarde, a
onde são vendidas livremente fortuna com o negócio das dro- Nayarit, Sonora e Sinaloa.
gas. Ele é apontado como um dos Relatório da procuradoria di-
homens mais ricos do mundo. vulgado por El Universal, um
AProcuradoria-GeraldaRepú- dos mais importantes jornais
blica obteve o confisco de pro- do país, mostra 214 gangues em
priedades em nome de Griselda ação. São quadrilhas sanguiná-
López Pérez, ou Karla Pérez Ro- rias. Atacam a mando dos car-
jo, mulher de “El Chapo”. téis. Assaltam, sequestram, ex-
Sete imóveis supostamente torquem empresários, matam.
vinculados ao capo de Sinaloa fo- “Pandillas Delitivas”, docu-
ram embargados, além de cinco mento oficial, revela a ação de
cofrescomjoias,computadorese pistoleiros em 11 Estados mexi-
sete veículos de luxo – um Audi canos – Sonora, Chihuahua,
conversível, duas caminhonetes Coahuila, Nuevo León, Tamau-
Land Rover, um Cadillac, uma lipas, Baja Califórnia, Guanajua-
Toyota,umaCheyenneeumMer- to, Querétaro, Michoacán,
cedes-Benz. Guerrero e Chiapas. Na região
Nas mãos dos Arellano Félix o norte do país fica a maior con-
cartel de Tijuana. Os Valência to- centração dessas gangues. São
cam o cartel do Milênio. A família 165 ao todo – 8 delas classifica-
Amezcua dá as cartas no cartel de das de “altíssima periculosida-
Colima. O cartel de Juárez é feu- de”. O FBI, polícia federal ame-
dodossucessoresdeAmadoCar- ricana, aponta MS-3 e Barrio 18
rillo Fuentes, que morreu em como grupos “extremamente
1997depoisquetentouocultar- violentos”. São citados Los
se no Brasil e se submeteu Aztecas, do cartel de Juá-
aumamalsucedidacirur-
gia plástica. 32
CHEFES ESTÃO
rez, Máfia Mexicana,
que recruta menores
O cadastro da Inter- ENTRE OS MAIS de 12 anos a 17 anos,
pol informa que no car- PROCURADOS
Mexicles, do cartel de
tel do Golfo, de Osiel Sinaloa, e Artistas As-
Cárdenas Guillén, traba- sassinos, do cartel de
lham facções de Los Zetas, a Chihuahua.
quem o México atribui as ações A quadrilha Mara Salvatru-
maisferozes.Segundo aInterpol, cha, que atua para Los Zetas e
em julho de 1996, Cárdenas assu- para o Sinaloa, adota táticas si-
miu o poder do cartel do Golfo, milares às do Exército. Usa fu-
depois que o principal líder, Juan zis Barret, lança-granadas, ar-
García Abrego, foi capturado. mas antitanque. Procuradores
GolfofoicriadoporJuanNepo- empenhados no cerco ao crime
mucenoGuerra,ouJuan‘N’Guer- organizado destacam que os nar-
ra em Matamoros, Tamaulipas, cotraficantes criaram células “al-
que depois transferiu o comando tamente especializadas em inte-
aum sobrinho, Juan García Abre- ligência” e deixaram a cargo das
go, nos anos 70. gangues as ações de rua.
O novo dirigente passou a José Reyes Ferríz, prefeito de
transportar grandes quantidades Juárez, onde digladiam dois car-
de maconha para os EUA. Osiel téis, disse que “a luta (contra os
Violência. Corpo Cárdenas era lugar-tenente das narcos) tem tido êxito, ainda
de vítima da luta operaçõesetomouocontroleab- que obviamente este objetivo
entre cartéis no soluto do cartel. Ele recrutou Los tem sido custoso para a socieda-
centro de Ciudad Zetas. Contudo, em março de de mexicana pela perda de vi-
Juárez: tiroteio 2003, Cárdenas caiu nas mãos das de policiais e de inocentes”.

das múltiplas de car. Enchem de balas civis desar-


metralhadoras ou mados que não têm nada com a
nos projéteis de guerra e também policiais e auto- Cidade é a mais
um AK-47, o fu- ridadesqueousaramatravessar o
zil russo mais caminho do tráfico ou que a ele violenta do mundo,
usadoportrafi- umdiaseassociaram–jásão17os diz ONU
cantes, armas federais afastados de suas fun-
fornecidaspor ções, 16 deles detidos por abusos,
contrabandis- roubos e extorsões. ● Há mais 772 cruzes nos cemi-
tas da América. O prefeito de Juárez, José térios de Juárez porque esse é o
Golpes brutais têm ReyesFerríz, considera quea luta número de vítimas na guerra dos
dos de Juárez não são as únicas assinatura, seus autores não se empreendida por Felipe Calde- cartéis nos primeiros 4 meses do
Corpos sem cabeça vítimas da guerra dos cartéis na
divisadoMéxicocom osEUA. Há
omitem. Mensagens ilustram a
cena do crime. Gravações che-
rón “era inadiável para não hipo-
tecar o futuro do País”. Por meio
ano. A violência explodiu na fron-
teira. Os capos do crime enfren-
também os calcinados, famílias gamàinternetcommúsicaaofun- de sua assessoria de comunica- tam-se e atacam militares e fede-
apavoram Juárez derretidas em banho de ácido. E
osenforcados,queaparecempen-
do,acordes,estribilhosebordões
empolgados que anunciam mais
ção, Ferrís declarou que quando
teve início a gestão Calderón
rais. De 2008 até abril, 4.002 as-
sassinatos ocorreram na cidade,
durados. “Para que respeitem”, chacinas no inferno de Juárez. 90% da cocaína que se consome aponta a Procuradoria de Justi-
alerta a pichação no muro próxi- “Bem-vindos a Michoacán. nos Estados Unidos passava pelo ça. Em 2008 foram 1.587 execu-

T
roncos humanos espa- soscomoosdeumcirurgião.Cor- mo a homens que amanheceram Att: La Família”, diz o cartaz em México,quantidadeagorareduzi- ções. Em 2009, mais 2.643. Juá-
lhados pelas ruas em- pos sem cabeça apavoram Juá- comasmãosamarradasparatrás, um cordão estendido sobre três da em 60%. “Juárez tem proble- rez é a cidade mais violenta do
poeiradas. Braços e per- rez. a cabeça enfiada em saco plástico homens mutilados. La Família é ma de confronto particular entre mundo, segundo a ONU. Em
nas decepados na lâmi- Nafronteiraaonorteéassim.À e o pescoço envolto em uma cor- um bando de malucos, o cartel dois grupos que estão brigando 2009, foram 191 homicídios por
naafiada do facãoou no golpepe- luz do dia, cadáveres. No breu da dapresanoaltodavigadeconcre- sanguinário.Homensquenãoco- pela praça deixando uma grande 100 mil habitantes.
sado do machado. Cortes preci- noite, cadáveres. Os esquarteja- to. A morte pode chegar nas raja- nhecem limites. Atacam por ata- quantidade de mortes.”
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DOMINGO, 23 DE MAIO DE 2010 O ESTADO DE S. PAULO

MÉXICO EM GUERRA ● HISTÓRIAS DO FRONT

Comércio
sitiado
e falido
Ação dos cartéis fecha negócios em
Ciudad Juárez, asfixiando a economia
local e acabando com a vida social

homem desolado anos estabelecimento de prestí- tudo. Tantos foram os ataques desfilampor láosCadillacseMer- tos suas em jornal, é um homem ções dos dois edifícios.

O
contempla o fim gio e fama ao norte do México, das “pandillas” (gangues), tantas cedes-Benz, as moças levaram arrasado. “Perdi tudo, não há co- Estima que suas casas de diver-
de um ciclo vito- atração certa em Ciudad Juá- foram as hostilidades à sua suas virtudes e o seu calor para mo me sustentar”, desabafa o ho- são acolhiam 25 mil pessoas em
rioso. É um em- rez. Tempos em que a casa clientela que o empresário outra freguesia e os donos da noi- me de 39 anos e cinco filhos. uma única noite. “Era incrível, in-
presário, mais
um que a violên-
faturava até US$ 22 mil 85% deu fim a La Mulata e logo
numa única noitada com DAS BOATES fechou também as portas
te renderam-se – 85% deles de-
ram adeus a Juárez.
Ele conta que veio de Monter-
rey em 2002, apostou tudo em
crível mesmo, os negócios evo-
luindo bem”, fala sobre os tem-
cia dos narcotraficantes desman- os texanos alegres de El FECHARAM de Don Quintin. Alguns puseram à venda pré- Juárez e montou com gosto e ca- pos mais gratos de sua vida. Em-
telou e levou à falência. Paso que atravessavam a Abraham Lincoln, que dios inteiros, outros querem alu- pricho as duas casas, primeiro La pregava cem pessoas, “entre pos-
Ele olha o entulho no amplo sa- fronteiraem buscade diver- um dia foi pujante e alegre, é gar. Está difícil aparecer interes- Mulata e depois o Don Quintin. tos diretos e indiretos”.
lão do bar que um dia abrigou bel- timentos e prazeres. agoraumaavenidamalassombra- sado. O criador de La Mulata, e “Não há mais nada”, protesta, en- Os problemas bateram à porta
dades faceiras que davam vida e Mas as boas temporadas fica- da. A luzde neon não pulsa láfora, não adianta insistir que ele não quantoorienta três operários que em 2008 e, em menos de dois
graça à La Mulata, por muitos ram para trás. A violência levou a música ao vivo calou-se, já não quer dizer o nome e nem quer fo- contratouparademoliras instala- anos, veio a ruína. Os negócios

conflagrada. Empreendimentos, que é aquele amante apaixonado No cativeiro, suportou toda a


‘Desconfio até restaurantes e bares, curva- que ainda manda flores. pressão do mundo. “Arranca a ca- O triste funeral
ram-se aos narcotraficantes e ba- Sobre uma mesa de vidro, a pri- beça dele”, ordenou um carcerei-
de tudo e teram em retirada. Ele, não. meira página do PM, periódico ro.“Corta um braço e manda para do filho do dono
Desde 1989 instalado na perife- matutino que é só sangue. “De- a família”, sugeriu outro.
de todos’ ria de Juárez, esse comerciante ram-lhes 300 balaços”, é a man- Não sabe – e diz que nem quer da funerária
de 53 anos, nascido em Durango, chete sobre a emboscada do dia saber – quem foram seus algozes.
decidiu ficar no mesmo endere- anterior – seis federais dilacera- A polícia suspeita de gente ligada

A U
cuado, ele diz: “Medo, eu ço, apesar do medo que o perse- dos à bala por agentes do narco- aos narcotraficantes. “São pes- m homem crivado de
tenho muito medo.” Ele gue. tráfico. soas protegidas que estavam a balas dentro do carro
foi alvo de uma “pan- Em um sábado desses, às mando de algum cartel”, sussur- fúnebre – a carroça dos
dilla”, quadrilha de se- 14h30, em seu escritório que é Traficantes. O terror passou ra. mortos, como chamam
questradoresepistoleirosqueagea uma sala acanhada e sem janelas poraqui, emagosto de2009 edei- Os seis filhos, que ele quer ver por aqui. José Ramón Acosta Ro- Cortejo. ‘Carroça’ leva corpo
mando dos cartéis do narcotráfico. nos fundos da drogaria de esqui- xou sua marca. “Tenho medo. doutores de direito e de fato, são cha, de 32 anos, era filho do dono de José Ramón Acosta Rocha
Farmacêutico, profissão que lhe na, o homem assustado conta sua Desconfiode tudo ede todos”, re- o motivo de sua resistência em da Funerária Latina. Na noite de
confere prerrogativas de doutor história. Mas avisa que não dirá peteo homem, com os olhosarre- permanecer na região de Ciudad 22 de abril, às 23h30, ele estava de para um lado. A polícia chega, iso-
por estas bandas de Ciudad Juá- seu nome e não adianta insistir, galados atrás dos óculos. Juárez. Não guarda esperanças saída da loja de caixões mortuá- la um quarteirão inteiro da Rua
rez, por três dias e três noites fi- senão não fala com ninguém so- Dois sujeitos chegaram à loja. nas autoridades nem nas institui- rios quando os pistoleiros o pega- Pedro de Alba, Colônia Emiliano
cou amarrado e amordaçado em bre a vida de angústias que leva. “Logo vi que era a minha vez.” O ções mexicanas, mas ainda assim ram. Zapata. Toma os procedimentos
algum lugar que jamais descobriu Colada à parede, a TV exibe um primeiro estranho apontou uma considera que não deve fechar a Dois estranhos, talvez três, em de praxe. Não há pistas.
onde fica e nem quer saber – ape- clássico do futebol mexicano. O arma. O outro deu a volta e cobriu drogaria. um carro que ninguém viu as pla- UmchorocortaanoitefriadeCiu-
nas “agradece muito ao Senhor” Vera Cruz vai batendo o Chivas seus olhos com uma tira de pano “Todas as noites, peço muito a cas nem anotou a marca. Um de- dad Juárez. É uma mulher. Ela
por estar vivo agora. por1a0, são23 minutosdosegun- preto, da qual só se livrou depois Deus que mantenha longe de lessaltou,apontouaarmaedispa- veio há pouco. É a mãe do morto.
Em Ciudad Juárez, são muitos dotempo.Norádio,sobreumapa- que sua família pagou um resgate mim esses bandidos”, é sua pre- rou. Seis tiros certeiros, calibre TantosforamosmortosqueRa-
os empresários que fecharam rador atrás do balcão, Roberto de US$ 50 mil e os bandidos o ce, enquanto receita “unguento 45, de pistola automática. món levou. Agora, é ele quem jaz
suas portas e deixaram a cidade Carlos declama, em espanhol, abandonaram em um matagal. vitacilina” para a freguesia. A cabeça de José Ramón pende em sua carroça.

● ● ● ●
1980 1985 1988 1993
O México
México, fornecedor de Enrique Camarena, Presidente Carlos Joaquín “El Chapo” Guzmán,
contra o
maconha e heroína, agente secreto da polícia Salinas de Gortari líder do cartel de Sinaloa, é
narcotráfico
transforma-se em ponto dos EUA antidrogas, assume, prometendo preso na Guatemala e
de distribuição da é sequestrado, acabar com os enviado para o México;
cocaína colombiana torturado e morto traficantes de drogas foge da prisão em 2001
O ESTADO DE S. PAULO DOMINGO, 23 DE MAIO DE 2010 Especial/Internacional H5

GrandeeAcapulco.Outros14sus- tráfico de drogas da organização


Prisão de líder peitos foram detidos. Beltrán Leyva e responsável por
“El Índio” estava disputando a facilitar comunicação entre a hie-
de cartel é liderança do cartel dos Beltrán rarquia do cartel e os fornecedo-
Leyva em aliança com Edgar Val- res de cocaína da América Cen-
trunfo para país déz Villarreal, “La Barbie”; Héc- tral e da América do Sul”.
tor Beltrán Leyva, el “H”; e Sergio Autoridades judiciais america-
Villarreal Barragán, “El Grande”. nasdestacam que,em2008,o car-

O
grande troféu que o Seu nome é associado à produção tel dos Beltrán Leyva separou-se
México mostra para o de metanfetaminas ice, ou cris- do cartel de Sinaloa e “El Indio”
mundo chama-se José tal, em laboratórios clandesti- assumiu “a responsabilidade pela
Gerardo Álvarez Váz- nos, para posterior remessa aos aquisição de armas e munições
quez. “El Indio” ou “Chayanne”, Estados Unidos, atividade que desdeos EstadosUnidosparaam-
como é conhecido o famoso capo exercia para diversas organiza- pliarsua empresacriminosa etrá-
dos narcotraficantes, foi preso ções, como a dos Beltrán Leyva e fico de drogas – cocaína, maco-
por um comando militar na últi- o cartel do Pacífico. nha, heroína e metanfetaminas”.
ma semana de abril. Era um dos É citado também em averigua- O bando de “El Indio” também
homens mais procurados em to- ções prévias sobre crimes contra é suspeito por sequestros, tortu-
do o país. Por ele, os Estados Uni- a saúde, operações com recursos ras, assassinatos e outros atos de
dos ofereciam recompensa de de procedência ilegal e falsifica- violência “contra numerosos ho-
US$ 2 milhões. ção de documentos. É acusado mens,mulheresecrianças noMé-
Os americanos querem sua ex- por uma série de violências nos xico”, assinala relatório da polí-
tradição. “El Indio” está na lista Estados de Guerrero e Morelos. cia.
negra do Tesouro americano. O O México atribui a ele o papel de Aprisãodocapofoicomemora-
supertraficante será enviado pa- contato com cartéis da América da pelos Estados Unidos, que
ra a Califórnia, mas antes investi- Central e da América do Sul. cumprimentaram o governo de
gadores da Subprocuradoria de Contra ele pesa uma ordem de FelipeCalderóne“osvalentessol-
Investigação Especializada em prisão com fins de extradição para dados do Exército mexicano”, se-
Delinquência Organizada que- os Estados Unidos, emitida pela gundo anunciou El Universal, im-
rem interrogá-lo. CortedoDistritoSuldaCalifórnia. portante jornal da capital. Emno-
Acaptura de“El Indio”ocorreu O Departamento de Estado dos me do governo americano, o em-
emmeio aum confronto com efe- EUA informa que “El Indio” en- baixador no México, Carlos Pas-
tivos da Secretaria da Defesa Na- frenta processos desde 1997 por cual, transmitiu mensagem em
cional em Huixquilucan, Estado narcotráfico, primeiro ligado ao que felicitou Calderón, as Forças
do México. Ele é suspeito de con- cartelde Sinaloae, depois,aservi- Armadas e unidades federais me-
trolar atividades de narcotráfico ço dos Beltrán Leyva. xicanas “pela prisão do capo que
en Naucalpan e Huixquilucan e O capo, de 45 anos, é qualifica- éconsideradoumdoslíderes ope-
também nas regiões da Costa do como “um membro-chave do racionais do cartel”.

‘Para a Igreja,
todos são
inocentes’
rinta e oito cruzes espe-

T tadas diante da Igreja


Nossa Senhora Del Car-
men, nos arredores de
Ciudad Juárez. Trazem mensa-
gens de fé e alento às famílias que
perderamfilhos naguerradostra-
ficantes. Cada cruz carrega um
nome, uma história, um desfecho Ricardo Reina. Uma cruz para cada fiel morto por traficantes
de sangue. “Todas as orações são
para pedir a Deus que dê paz para da vítima da violência. E ele ainda os filhos, os pais e as mães que se
nossa comunidade”, prega Ricar- vai cravar nessa fileira tantas ou- foram.”
do Reina, vigário da colônia Del tras que seu rebanho lhe trouxer. Ele une as mãos espalmadas e
Carmen. Lá de muito longe, quem passa levanta os olhos para os céus. “As
Ruínas. As cruzes que Reina fincou, pelas ruas mais afastadas de Juá- causas eu não sei, mas doponto de
Proprietário uma a uma, na amurada muro que rez, avista a mensagem das cru- vista religioso as agressões mos-
visita o que cerca o pátio de entrada do tem- zes.“Todososesforçosdos traba- tram a ausência de Deus nos cora-
sobrou de plo, são um alerta aos corações lhos pastorais são para que a vio- ções. O pecado leva à autodestrui-
sua casa aflitos do México, assim ele defi- lência não se torne uma parte de çãodohomem.Amorteéogrande
noturna, ne seu gesto. Faz uns meses o pa- nosso ser e para que essa brutali- pecado da humanidade. Trafican-
fechada por dredecidiuespalhar ascruzes,co- dade termine”, diz o vigário. “As te não é Deus. Este vive, aquele
pressão do mo uma súplica à santa que vene- cruzessãoosímbolodenossasoli- morre.ParaaIgrejatodos sãoino-
tráfico ram. Até aqui são 38, uma para ca- dariedade aos mortos inocentes, centes, todos devem viver.”

afundaram. Quadrilhas promo- varam sua caminhonete de 290 restrições aos Estados Unidos.
viam invasões e tumultos. Houve mil pesos (cerca de US$ 27 mil) “Na Califórnia compra-se drogas Vinteeumdeabril,22h15.Anoi- tam-se. Eles são discretos. Que-
ocasiões em que cadáveres de de- quenemtinhabatidoos100quilô- como aqui se compra los burritos Duas irmãs te de Ciudad Juárez é muito escu- rem alguma testemunha do fato,
safetos dos narcotraficantes metros de rodagem. A segurado- (tortilhas de farinha com carne), ra,asruasdacidadesãomalilumi- alguém que lhes dê uma indica-
eramdepositadosaolongodaave- ra vê alguma trama por trás da lá oferecem maconha a cada es- assassinadas na nadas. Os técnicos usam lanter- ção.
nida. Emissários dos cartéis vi- ocorrênciaenãoquercobriropre- quina, a cada 100 metros.” nasna CalleManuelAcosta,Colô- Perguntam a uma mulher o que
nhamcobrarimposto,umaparce- juízo. “Eles tomaram o carro de Voltar a Monterrey nem pen- praça da cidade nia Insurgentes, na periferia, de- ela sabe, se viu alguma coisa, se
la do faturamento, para fazer ces- mim, eram uns meninos arma- sar. Disseram a ele que lá, onde pois da linha do trem. anotou características do carro
sar a pressão. “Não há mais saí- dos”, conta o empresário. nasceu e foi criado, gangues estão Ninguém chega perto. Ordens dos atiradores. Depois, abordam

H
da”, ele não se conforma. A corrupção o deixa indignado. usandogranadasearmasparader- á um corpo estendido da polícia e da Procuradoria de umrapaz, que afirma nada ter vis-
Nãoconfiaemninguémeoceti- Acha que o México “é muito mais rubar até helicópteros. “Vale no chão. É Sandra Yor- Justiça. Um perito bate fotos do to, que apenas ouviu “estampi-
cismo é ainda maior agora que le- corrupto que a Colômbia”. Faz mais a vida.” me Rosales Benítez, corpo, das casas ao redor e até do dos”. A polícia descobre que San-
de 20 anos. Os peritos asfalto onde encontrou algum si- dra e uma irmã, Wendy Arely Ro-
da polícia, que são três, vascu- nal, alguma evidência. Fitas ama- sales, de 18 anos, saíram de casa
lham tudo. Um rabisca o caderno relas e vermelhas isolam a cena paraumpasseio até apraça.Estão
Rosélio Salvador Cioñeros, o lhos que se desviaram do bem” e que segura com a mão esquerda, do crime. dizendo que elas queriam “tomar
Fervor religioso pastor, empunha o microfone e atende às “almas desgraçadas” anota os tiros que a moça levou. Fotógrafos dos jornais buscam um ar fresco”.
dá início a seu ofício. Gesticula que recorreram às drogas. Foram oito. Do lado de lá da rua, bons ângulos. Amanhã, as pági- Um carro aproximou-se vaga-
substitui vício com veemência, grita, saltita e Muitos desses que agora ba- outro perito mira a calçada, na nas policiais publicarão mais um rosamente. Tiros. As duas atingi-
diz a todos que o caminho é um tem à porta do El Pescador fo- busca paciente por fragmentos crime em Ciudad Juárez. Mas das. Sandra morre ali, Wendy
em cocaína só: “El corazón de Dios”. ram rechaçados pelo vizinho, a de balas e vestígios de pneus do nem eles têm permissão para se morre no hospital. Ciudad Juárez
Homens enfraquecidos pela potência que ergueu uma mura- carro que os atiradores usavam. aproximar.Ospoliciaismovimen- conta mais dois óbitos.
miséria, mal ajambrados em ban- lha de cinco metros de altura por-

À
s margens do Rio Bra- cos de plástico ou em pé, ouvem que não quer em seus domínios
vo, os dez metros de a mensagem. “O Senhor mostra os clandestinos do México.
água que dividem as raízes da compaixão a to- Expulsos pelos americanos,
o México dos dos os irmãos.” de volta a seu país, os mexicanos
EUA, drogados de Na cozinha, fer- enjeitados encontram algum am-
Ciudad Juárez bus-
cam a paz divina.
150 vem os panelões
com comida para
paro e conforto aqui.
PESSOAS
Eles se acomo- 150 famintos, Pregação. Antes da refeição,
PARTICIPAM DE
dam em uma cons- mais água que co- uma hora de meditação.
CULTO EM
trução tosca, de al- mida, mas não im- O pastor vai em frente com to-
CENTRO DE
venaria esfarelada, porta, pois bendi- da a sua vibração. Ele ensina o
REABILITAÇÃO
onde fica o Centro to é o prato que à caminho da fé. “Quando a men- Morte.
Comunitário El Pes- mesa será servido. te é perversa, a balança dos céus Sandra
cador. É meio-dia. César Quiñonez Lo- inclina para o mal.” Homens can- Rosales,
Dependentes de maconha e pez, coordenador há nove tam e batem palmas, no ritmo do assassinada
cocaína, e também reféns do ál- anos do centro de reabilitação, pregador. É assim, em Ciudad na rua com 8
cool, vêm para o sermão e tam- diz que a casa oferece “serviço Juárez, todo o santo dia, de do- tiros
bém para o almoço. bíblico e apoio completo aos fi- mingo a domingo.

● ● ● ● ● ● ●
1996 1997 2004 2006 2007 2008 2009
Juan García Amado Carrillo Fuentes Presidente Vicente Fox Presidente 2.600 pessoas Congresso Arturo Beltrán Leyva e três
Abrego, líder do morre na Cidade do lança o plano “México Felipe Calderón morrem por americano aprova membros de seu cartel
cartel do Golfo, México durante uma Seguro” para combater declara guerra causa do a Iniciativa Mérida são mortos; ele é o mais
é preso e enviado cirurgia plástica para o tráfico e o crime contra o tráfico de para combater o importante capo morto no
para os EUA mudar sua aparência organizado narcotráfico drogas tráfico no México governo Calderón
H6 Internacional/Especial
%HermesFileInfo:H-6:20100523:

DOMINGO, 23 DE MAIO DE 2010 O ESTADO DE S. PAULO

MÉXICO EM GUERRA. ENTREVISTA: EDGARDO BUSCAGLIA


EVELSON DE FREITAS/AE
cem intactos. O México não precisa
de mais tanques, mais revólveres,
mais metralhadoras.

● Qual a melhor estratégia?


A inteligência operativa. O proble-
ma é multinacional, vai muito além
dos Estados Unidos e do México.
Os grupos criminosos mexicanos es-
tão presentes em 47 países, inclusi-
ve o Brasil. Em Ciudad Juárez há
uma infraestrutura física criminosa
muito importante. É cidade de fron-
teira com galpões de armazenamen-
to, autoridades corrompidas. Em La-
redo, Tijuana e Chihuahua há maior
concentração de infraestrutura cri-
minosa. O grupo criminoso mais
consolidado do México é a Confede-
ração de Sinaloa, com centro de pro-
dução, armazenamento, logística pa-
ra transporte de drogas e armas tra-
ficadas. Temos 982 focos de ingover-
nabilidade similares ao Iraque, ao
Afeganistão e ao Paquistão. Nesses
bolsões não há autoridade política,
não há autoridade policial.

● O que fazer?
O México tem de adotar medidas
que estão bem explicadas na Con-
venção das Nações Unidas. Entrar
em Durango, por exemplo, é como
entrar no Afeganistão. Tem autori-
dade formal que não é respeitada e
narcotraficante que tem autorida-
de. Há um Estado falido nesses pe-
quenos pedaços. Ingovernabilidade,
empresários que colaboram para
Sem saída. Buscaglia faz projeção pessimista para o futuro da segurança pública no México e diz que saída não depende do envio de reforços militares não ser sequestrados e assassinados
e pagam impostos a grupos crimino-
sos. O México não é um Estado fali-

‘O NARCOTRÁFICO ESTÁ do no sentido total. Mas não toma


patrimônio dos cartéis, não confis-
ca. O Judiciário é omisso. Não se vê
um programa de ataque à corrup-
ção. A classe política e a empresa-

ENGOLINDO O ESTADO’ rial estão comprometidas, formam


parte da estrutura criminosa. Em-
presários mexicanos formam parte
desse sistema de contrabando, de pi-
rataria, de pornografia. A elite em-
presarial e a política se beneficiam
enormemente dessa festa, desse car-
Para especialista, décadas de omissão governamental permitiu crescimento dos naval sangrento do México.

cartéis que já controlam governos municipais e ameaçam o poder central no México ● Os cartéis financiam políticos?
Há financiamento ilegais de campa-
nhas eleitorais, mas essa violência
só vai preocupar as elites quando
seus filhos forem sequestrados e
massacrados, como ocorreu na Co-
México está uma disputa desordenada, principal- ● A participação dos Estados Unidos no lômbia. Quando a elite começar a

“O
perdendo a mente entre correntes partidárias que combate aos cartéis acirrou ainda mais sentir a mesma dor que as mães e os
guerra”, de- formam parte de grupo político que os confrontos nas ruas do México? ‘Aliança com os EUA e pais de Juárez sentem, aí vão aplicar
creta o pro- não tem uma visão comum de Estado. A participação dos EUA era basicamen- medidas. Não é um problema de ig-
fessor Edgar- Municípios mexicanos estão à deriva, te por meio da DEA (agência de comba- Exército na rua são norância do México. As elites estão
do Buscaglia, sem controles políticos, patrimoniais te às drogas). A partir da intervenção dois tiros no pé’ comprometidas. O México foi trans-
respeitado estudioso das questões e administrativos. Partidos políticos do presidente (Barack) Obama é que formado num foco mundial de paraí-
que atormentam seu país, notada- não submetem suas finanças a audito- há uma ideia mais clara para poder pre- so patrimonial para muitos grupos
mente aquelas relacionadas à ofensi- rias, os sindicatos tampouco. Há um venir e combater grupos criminosos. ● Sob ameaças, o homem que defende criminosos de outros países. E isso
va dos narcotraficantes. vazio de pacto de governabilidade polí- Mas há necessidade de uma política o que restou de direitos humanos em dá muito dinheiro a políticos e a em-
Presidente do Instituto de Ação tica no México. muito ativa de desmantelamento patri- Juárez não se cala. “A pior estratégia presários que nunca estarão dispos-
Cidadã para Justiça e Democracia, monial e econômico de empresas me- que o México poderia ter adotado é a par- tos a combater o problema.
assessor da ONU, professor de Di- ● Quais os motivos dessa violência? xicanas nas mãos de grupos crimino- ceria com os EUA porque repete erro
reito e Economia do Instituto Tec- A competição entre cartéis para captu- sos, como galpões de armazenamento, grave de outros países ao declarar guer- ● O crime infiltrou-se no poder?
nológico Autônomo do México rar municípios e unidades da federa- frotas de transportes, centros de pro- ra ao tráfico em troca de ajudas meno- A corrupção é de alto nível em pre-
(Itam) e também professor da Uni- ção. Policiais são emboscados e assassi- dução de insumo para indústrias sinté- res.” Para Gustavo de la Rosa Hickerson, feituras, governos estaduais e entre
versidade Columbia (EUA), Busca- nados. A população sofre atos de terro- ticas. Empresas legais do setor farma- diretor da Comissão Estatal de Direitos legisladores. Não se investiga a cor-
glia faz um alerta: “O crime organi- rismo. Métodos violentíssimos para cêutico, mineiro, agropecuário, finan- Humanos de Chihuahua, o México nunca rupção. Campanhas políticas estão
zado está assumindo o controle de apavorar e mostrar que quem manda ceiro e imobiliário. Todo o dinheiro deveria ter aderido à Iniciativa Mérida. infiltradas por grupos criminosos. E
segmentos importantes do Estado.” são eles. Terror para que possam extor- que os Estados Unidos injetarem não “O Exército é incapacitado para ações eles não querem que a festa termi-
Intensa dedicação ao tema fez dele quir, para que a população pague im- trará resultados se o México não ado- típicas de polícia. Juárez vive a mãe de ne. O México não cumpre 77% das
analista reconhecido das origens postos a eles. Aí começam a cortar ca- tar medidas efetivas. O México não todas as batalhas. Cerca de 7.500 viola- cláusulas do plano Mérida. O presi-
dos cartéis e seus males. beças. A escalada da violência é produ- precisa de dinheiro para mais tanques, ções graves e mais de 100 casos de tor- dente Calderón está muito preocu-
to da competição entre grupos para mas de capacidade para adoção de pac- tura. É uma cidade em choque.” pado, mas muito pouco ocupado.
● Por que os narcotraficantes cresce- capturar os Estados e para controlar to político e terminar com a impunida- Apenas 1% dos bens do tráfico sofre
ram tanto? mercados ilícitos que vão desde tráfi- de. Necessita de melhores políticos e confisco. Com boas intenções e
Nos últimos dez anos, o país convi- co de seres humanos, extorsões, pirata- melhores políticas. te ao tráfico de drogas. A diversidade preocupações não se soluciona o
ve com um governo cada vez menos ria, contrabando, sequestro, pornogra- de delitos organizados não permite so- problema. De retóricas estamos to-
capaz de tomar decisões de caráter fia infantil, até drogas. O comércio das ● A mobilização militar não é suficiente? luções simplistas. Tanques não ata- dos cansados. Se o México não com-
coletivo e institucional. As organiza- drogas é uma das 21 modalidades deli- O problema não vai ser resolvido com cam a estrutura empresarial, o patri- bater patrimonialmente as empre-
ções do crime debilitam o Estado, tuosas. Os cartéis competem para con- mais soldados e mais tanques. É pro- mônio dos grupos criminosos. Utiliza- sas criminosas, o país vai continuar
aproveitam-se de sua incapacidade. trolar territórios e municípios com efe- blema de estratégia. O México não es- se o Exército simplesmente para deter sendo o paraíso não só para grupos
Querem capturar o Estado. Temos tivos policiais cooptados. tá diante de grupos dedicados somen- pessoas, mas os negócios permane- mexicanos como para estrangeiros.

pação das Forças Arnadas na lu- reforma da Lei de Segurança Na-


‘Só o governo pode exercer a força’, diz líder taporsegurançanãosóéprescin-
dível como indevida. É um equí-
cional que enviou ao Congresso.
Parao presidente, “o crime orga-
voco. É importante assinalar nizado é um fenômeno transna-
CLIFF OWEN/AP–19/5/2010
que, por um lado, a responsabili- cional e não conhece frontei-
Ele não se esquiva quando dade das Forças Armadas não é ras”.Calderón avalia queoMéxi-
Presidente defende ação questionado pela imprensa ou só defender a soberania externa co reagiu a tempo para evitar a
dos militares e afirma pela oposição sobre o elevado ín- do país, mas também preservar a escalada do crime organizado.
dice de mortos, 22,7 mil executa- segurança interna, particular- “Na Colômbia se registram 39
que o Estado agiu a dos desde que declarou a guerra mente quando afeta assuntos de homicídiospara cada100mil ha-
tempo para evitar a às facções que impõem dias de interesse nacional.” bitantes, enquanto no México,
escalada do crime cão ao México. Em frequentes “Tem sido necessário entrar com toda a espetacularidade
pronunciamentos, o presidente com todo o poder do Estado”, que tem tido esse tema do crime

F
elipe Calderón Hinojo- demonstra toda a sua disposição assevera o presidente. “Tem si- organizado, se registram 12 ho-
sa, presidente do Méxi- no combate aos mais poderosos do necessário contar com todo o micídios para cada 100 mil habi-
co, está convencido de cartéis. “Nossa batalha é para apoio, e o apoio generoso e deci- tantes, quase metade do que se
que trilha o caminho que o governo, e só o governo, dido das Forças Armadas, por- registra no Brasil.”
certo. Ele compara o narcotráfi- reconhecidoconstitucionalmen- que onde as Forças Armadas e o Calderón não se curva. Ele
co a “um câncer que destrói so- te em quaisquer de seus níveis, Estado não estão presentes com mandou um duro recado aos ca-
ciedades e governos”. “O gover- exerça o monopólio da força, e a sua força, os delinquentes posdonarcotráfico.“Nãoimpor-
nodoMéxico,atravésdaaçãode- Calderón. ‘Militares também têm de prover segurança interna’ única lei que prevaleça entre os atuam com impunidade e atuam ta quem seja o inimigo do Méxi-
cididaquetemtomadoparacom- cidadãos seja a que o Legislativo contra pessoas inocentes, as ex- co,nãoimportasuafama,suafor-
bater o crime organizado, agiu a seu país, o mandatário informou um quadrimestre”. Eleito em emita em cumprimento de suas torquem, as sequestram, as rou- ça, nem sua crueldade, nem suas
tempo, independentemente dos estasemana,emviagemdetraba- 2006 para mandato de 6 anos, normas constitucionais.” bam,cobram dinheiroporprote- ameaças ou o poder que detém,
custos que isso implica, como é lho aos Estados Unidos, que o semreeleição,Calderónestá dis- Sua defesa à atuação dos mili- ção egeram umaviolência crimi- porqueem cadamexicano há um
dito insistentemente, em recur- México criou nos primeiros me- posto a superar sem tréguas o tares é enfática. Ele rechaça as nosa da qual todos somos teste- patriotadispostoadefenderana-
sos e vidas humanas.” sesdoano mais de400 milnovos maior obstáculo de seu povo, o críticas. “Existe em alguns seto- munhas todos os dias”. ção e a bandeira, um soldado em
De bem com a economia de empregos, “a cifra mais alta para crime organizado. res a percepção de que a partici- Ele destaca a importância da cada mexicano.”
Especial/Internacional H7
%HermesFileInfo:H-7:20100523:

O ESTADO DE S. PAULO DOMINGO, 23 DE MAIO DE 2010

MÉXICO EM GUERRA ● LONGOS TENTÁCULOS

O elo do tráfico entre México e Brasil


Prisão de narcotraficante mexicano em Curitiba revela rede milionária, que começou a agir ilegalmente no País há 9 anos; defesa nega

E
rnesto Plascência San dele,passouporCuritibaumcer- e Toyota – foram confiscados. A Bustos foi militar do Exército Steven Soderbergh, que ganhou Afirma que ele nunca foi denun-
Vicente, distinto em- to Amado Carrillo Fuentes, nú- PF constatou que o patrimônio mexicano, mas desertou depois o Oscar em 2001. Fuentes en- ciado por qualquer crime no Mé-
presário mexicano, de- mero 1 do cartel de Juárez.. do ex-dirigente do cartel de Juá- que seu envolvimento com car- trou no Brasil com o nome de xico e que na única vez em que
sembarcou no Rio de Bustosfoicondenadoporlava- rez foi registrado em nome Cín- téis foirevelado. Ele chegou a ser Juan Antônio Arriaga Rangel foi processado nos EUA, há mais
Janeiro, em 2006, aparentemen- gem de dinheiro. Pegou 7 anos e tiaPlascência,brasileira,sua mu- preso nos EUA por conspiração em 6 de fevereiro de 1997, se- de 27 anos, o júri o absolveu. Se-
te para fazer turismo, mas logo meio de prisão em sentença im- lher.AvarreduramostraqueBus- para o tráfico de drogas. Acabou gundo relatório da DEA, a agên- gundoadefesa, aJustiçabrasilei-
foi para Curitiba, que escolheu posta pelo juiz Sérgio Fernando tosexpandiunegóciosparaoBal- absolvido com o álibi de que cia americana de combate às ra,paraaponta-locomotrafican-
para explorar o mercado imobi- Moro,da 2.ª VaraCriminal Fede- neário Camboriú (SC) e Catan- estava agindo como agen- drogas. Depois veio Bus- te, “numa inadmissível revisão
liário. Trazia na bagagem US$ 30 ral de Curitiba. A condenação foi duva e São José do Rio Preto, in- te infiltrado do Exército tos, ou San Vicente. Poli- deumadecisãofirmadaporauto-
milhões que investiu no setor – confirmadapelo Tribunal Regio- terior de São Paulo. –para aJustiçabrasilei- 7 ciais civis do Paraná o ridade soberana, afirmou que os
prédios, casas em condomínios nal Federal da 4.ª Região, mas a A internação do dinheiro do ra ele disse que foi aos ANOS E MEIO FOI descobriram. Para se li- juradosamericanosforamlogra-
fechados,chácaras etambémau- defesa de Bustos recorreu. A pe- tráfico mexicano em território EUA comprar gado e A PENA DADA vrar da prisão ele pagou dos”. A defesa destaca que na
tomóveis de luxo. nafoireduzidapeloSuperiorTri- brasileiro pode ter ocorrido a alegou que seus capto- A BUSTOS propina. Acabou captu- sentençaSan Vicentefoi classifi-
O império de San Vicente ruiu bunal de Justiça. Agora ele está partir de 2001. O rastreamento res teriam confundido, rado quando a PF investi- cado de primário e de bons ante-
quando a Polícia Federal desco- em regime semiaberto. fiscal de Cíntia revelou que ela na interceptação telefônica, gavaospoliciaisque corrom- cedentes, “o que contradiz a
briu sua identidade de fato, Lú- A PF concluiu que Bustos in- era “pessoa de modestos rendi- gado com droga. peu – os tiras foram condena- aventada relação com o Cartel
cio Rueda Bustos, e a verdadeira gressou no Brasil com “produto mentosepatrimônio”.Suadecla- Em Juárez, Bustos associou- dos. A PF suspeita que outros in- de Juárez”.
atividade que escondia por trás de tráfico de drogas” – a fortuna raçãode2002apontarecebimen- seaAmadoCarrilloFuentes,len- tegrantes do cartel buscaram re- Os advogados de San Vicente
dosnegócios–tráficointernacio- que empregou em contratos for- to de “doação” de R$ 500 mil. dário fundador e capo do cartel fúgio no sul do Brasil depois do anotam que “todas as transa-
nal de entorpecentes. A PF está malmente lícitos com a intenção Em 2003, nova “doação”, no de Juárez. Fuentes morreu em acirramento da guerra dos nar- ções financeiras realizadas por
convencida de que Bustos é o elo de ocultar recursos do narcotrá- montante de R$ 1,69 milhão. Os 1997apósfrustradacirurgiaplás- cos nas fronteiras do México. ele entre México e Brasil foram
dos cartéis do México com o cri- fico.SeusbensnoBrasil–20imó- repasses foram realizados por tica. Ele inspirou o personagem A defesa de San Vicente recha- feitas por meio do Banco Cen-
me organizado no Brasil. Antes veis e 7 veículos Mercedes, Audi Bustos, segundo a PF. Escorpião no filme Traffic, de ça com veemência as acusações. tral, tudo transparente e lícito”.

Imprensa sofre DEPOIMENTO

Blanca relata
com as ações as últimas
reportagens do
jornalista policial
dos cartéis ● “Uma semana antes de seu
assassinato, Armando El Choco
Rodríguez havia escrito uma re-
conta.O seguro foi concedido há portagem sobre um jovem que
Censura, pressão, poucos dias – 10 mil pesos, ou foi assassinado em Ciudad Chi-
ameaças e assassinatos US$ 900 mensais –, mas a paz huahua. Ele era sobrinho da pro-
lhe parece distante. “A morte foi curadora do Estado, Patricia Gon-
são as armas do consequência de seu trabalho. O zález. Esse jovem foi morto quan-
narcotráfico contra a México deve se conscientizar da do viajava em um veículo de pro-
liberdade de expressão importânciadeprotegerseusjor- priedade do governo do Estado,
nalistas”, argumenta Blanca, mas ele não trabalhava para o

O
s jornalistas da cidade também jornalista. governo.
assombradapelosnar- Entidades de direitos huma- Outra reportagem que Arman-
cotraficantes pedem nos contabilizam 17 jornalistas do escreveu dias antes de sua
“Justícia para El Cho- eliminados nos últimos anos no morte era sobre a presença, em
co”. “Sin periodistas no hay de- México pela violência do narco- Ciudad Juárez, de agentes minis-
mocracia”,alerta a faixa estendi- tráfico. “São muitas as vítimas teriais que chegaram para cum-
da à porta do El Diário, principal inocentes. É uma guerra que te- Luta por direitos. Blanca diante da faixa que pede justiça pela morte de seu marido prir algumas ordens de apreen-
jornal de Juárez. mos de enfrentar”, diz Blanca. são contra integrantes de um
Armando El Choco Rodri- Ela conta que, em 2008, Choco vésperas de sua morte, Choco ocorrências que envolvem nar- de Blancornelas foi morto. O grupo de delinquentes que se
guez, repórter, três filhas, foi fu- confidenciou-lhe sobre recados eraumhomem entristecido. Um cotraficantes. Ano passado, El jornalista sobreviveu. O gover- chama “Los Aztecas” e têm rela-
zilado na porta de casa na manhã sinistros que vinha recebendo amigohavia sido sequestrado e o Diário desvendou uma célula no do México outorgou à famí- ção com o crime organizado no
de 13 de novembro de 2008. A por mensagens de texto no celu- corpo atirado em um beco. da delinquência que lavava di- lia um serviço de proteção espe- México.
seu lado, a menina de 8 anos, que lar.“Abaixaotom”, diziaum des- Ficou a mesa de trabalho de nheiro dos cartéis em casas de cial a cargo de um batalhão do Antes de seu assassinato, Ar-
levariaparaa escola.Nove dispa- ses avisos. Choco – é a homenagem da dire- câmbio e instituições financei- Exército. Autoridades suspei- mando também assinou outra
ros de grosso calibre explodiram ção do El Diario a seu repórter. ras. A primeira reportagem saiu, tam que o ataque foi uma rea- reportagem sobre um homem
a cabeça e o peito de Choco e Fuga. Uma procuradora de Chi- “Choco está aqui”, escreveu um a segunda foi para o arquivo – ção do cartel de Tijuana. que foi decapitado e teve seu cor-
silenciaram para sempre o expe- huahua o aconselhou a deixar colega.Sobreamesa,ocomputa- muitos foram os telefonemas Documento produzido pelo po pendurado em uma ponte im-
riente jornalista policial. Juárez por uns tempos. Choco dor, dois retratos dele e mais um avisando que a retaliação estava Centro de Jornalismo e Ética portante da região, que fica sobre
A polícia jamais chegou aos até pensou em se mudar para El em que aparece com os amigos, a caminho. “A publicidade caiu Pública mostra que a violência um dos cruzamentos mais movi-
bandoleiros que o tocaiaram na- Paso, onde vive uma de o telefone, três pequenos 40%no pior momento da violên- contra jornalistas e meios de co- mentados de Ciudad Juárez”
quela manhã nem identificou suas irmãs, mas decidiu vasosdeplantas,ogave- cia”, lamenta Torres. municação aumentou 10% em
mandantes. A suspeita recai so- ficar.Tudooqueama- teiro, o calendário de Sua equipe de repórteres é in- 2009 em relação ao ano ante-
bre Los Astecas, facção mafiosa va estava ali – o tra- 17 2008. cansável. José Luís González e rior. Integrantes de corpora- dade de expressão, mas não há
ligado a um cartel da fronteira. balho, a escola das JORNALISTAS Pedro Torres, Ernesto Rodriguez Neto Pedro- ções policiais e militares são condições e garantias para o
Choco se foi, tinha 40 anos, crianças, o trabalho FORAM MORTOS prestigiadojornalis- za,fotógrafos,atravessamasnoi- acusados de abusos. exercício desse direito funda-
masseunomeficoucomosímbo- da mulher, os ami- NO MÉXICO ta mexicano, há no- tes de Juárez em busca de mor- mental”, ela revela. “O Estado
lo da imprensa que ainda não se gos e o ciclismo nas NOS ÚLTIMOS ve anos editor chefe tos. Integra a equipe o repórter Direitos humanos. Segundo a não garante a segurança dos jor-
curvou ao crime organizado. montanhas. ANOS do El Diário, revela Teófilo Alvarado Campa, de 37 entidade no ano passado foram nalistas e dos meios de comuni-
“Minha luta é por Justiça”, diz Ficou e não abriu que as ameaças a sua anos,hásetenacarreira. Elesfor- registrados 140 incidentes ca- cação.”
Blanca Alicia Martinez de la Ro- mão de sua linha de ação e equipe são constantes, mam um grupo de correspon- racterizados como atos de viola- Ela considera que “a impuni-
cha, viúva de Choco, que cuida princípios. Avançou ainda mais mas não o intimidam. “Não se dentes de guerra sem medo de ção à liberdade de expressão dade converte o Estado em
das três filhas, a mais velha agora nas apurações e no levantamen- pode viver assustado”. bala perdida nem da truculência contra pelo menos 183 jornalis- cúmplice de quem comete os
com 10 anos, a do meio tem 8 e a toestatístico sobreocrime orga- DesdequeperdeuChoco,ojor- da polícia. tas e 19 meios de comunicação. ataques porque a omissão tam-
menor 3. nizado. Era referência e era sem- nal adotou medidas para preser- Maria Idália Gomez, concei- bém é responsabilidade”.
Blanca passou 2009 atrás do pre consultado por colegas e au- var a redação. Os jornalistas que Atentados. Em novembro de tuada jornalista com 17 anos de Idália condena a pressão de
seguro social, direito que consi- toridades. cobrem o setor policial não assi- 1997, Jesús Blancornelas, funda- experiência na cobertura sobre “grupos de poder, vinculados
deraelementar, mas que lhe cus- Estimado, com boas fontes na nam mais as reportagens e nem dor e diretor do semanário Zeta temas de segurança nacional, ao crime organizado” no norte
tou noites de sono. “O governo polícia, o jornalista voltou a ser os fotógrafos assinam suas fo- de Tijuana, sofreu um atentado Justiça e direitos humanos, é do país. “Praticamente contro-
entendia que a morte de Choco ameaçado quando fez reporta- tos. O crédito sai para o “staff”. – pistoleiros do cartel Arellano freelancer e trabalha para a So- lam a agenda dos meios de co-
não estava relacionada a seu tra- gens sobre o assassinato do pa- Há casos de autocensura. O Félix o balearam quatro vezes ciedade Interamericana de Im- municação em temas que po-
balho, que fora um acidente”, rente de uma procuradora. Às jornal não investiga a fundo com uma AK-47. O motorista prensa. “No México existe liber- dem afetá-los.”

Artigo

nos em sua resposta punitiva: ao en-


Calderón já perdeu a guerra da popularidade durecer leis e armar o Exército e a
polícia sem uma estratégia ampla pa-
ra transformar seu aparato de segu-

N
O líder mexicano não soube as duras estatísticas da crise gar às relacionadas à segurança. Metade teguerrilheiro de1994. Nãofoiestabele- rança em um regime democrático.
desegurançaqueoMéxicoen- dos mexicanos se sente ameaçada pela cida a agenda de uma reestruturação Talvez a análise de certos setores
aproveitar a confiança que lhe frenta desde 2006 é preciso violência e – o que é mais significativo – das polícias estatais e municipais. Em americanos – como o do general Bar-
foi dada na fase inicial do notar o contraste entre o que começa a duvidar da eficácia do gover- vez disso, criou-se uma polícia nacional ry McCaffrey, ex-czar anti-drogas
combate ao tráfico; ao restrin- dizo governo e o que não está no discur- no. Em 2009, 41% acreditava no discur- – que em dois anos já pode ter sido infil- dos EUA – de que o México está a
so oficial. Por um lado, há uma marcada so oficial de que a reação violenta dos trada pelo crime. O saldo para o gover- ponto de tornar-se um Estado falido,
gir sua estratégia ao uso do tendência a exaltar os grandes volumes narcotraficantes é sinal da eficácia da no é negativo. Não se restabeleceu a or- seja exagerada por não considerar
Exército, selou seu fracasso deconfiscos de drogas, armase proprie- estratégia do governo. Agora, a porcen- dem e as estruturas de segurança nas que a crise de segurança é restrita a
dades dos narcotraficantes, que supe- tagem é de 29%. Essa é a batalha que o quaisse baseava a estratégia do governo algumas regiões. Isso, entre outras
ramnesses trêsanosdegoverno deFeli- governo já perdeu – a da percepção. começam a dar sinais de fratura. Há coisas,impede,por enquanto,umco-
pe Calderón o que foi feito no governo A razão da persistência da crise de se- 500% mais queixas de violações e abu- lapso do Estado, como se observa em
anterior, de Vicente Fox (2000-2006). gurançano México seencontra noenfo- sosaos direitoshumanoscometidospe- outras latitudes. Mas não há dúvida
Por outro, o saldo de mortes também queeminentementepunitivodaestraté- lo Exército. Isso sem falar no conteúdo que,pormuitos anos,– emesmo com
cresce de forma exponencial: desde giadogoverno enouso políticodoExér- dealgumasacusações:sequestros,desa- a Iniciativa Mérida e a ajuda dos EUA
2006 foram 22.700 vítimas do tráfico. cito, cuja ação não está sujeita a julga- parições e execuções extrajudiciais. – o México será incapaz de garantir a
A população já não está tão convenci- mentos dentro e fora do país. Inicial- A comparação da situação na qual o segurança para a sua população.
da de que a estratégia do governo é a mente, Calderón ganhou popularidade México está hoje com a da Colômbia

✽ correta, o que mina a popularidade de
Calderón.Desde2009,segundopesqui-
por enfrentar os narcotraficantes. Mas
as suas ações se limitaram a colocar o
nos anos 80 e 90, antes da ajuda dos
EUA, é rechaçada oficialmente. Mas é

É COORDENADOR DOS ESTUDOS DE SEGU-
ERUBIEL
TIRADO sas Buendía & Laredo, as preocupações Exército na rua – um total de 75 mil ho- preciso dizer que o governo mexicano é RANÇA NACIONAL DA UNIVERSIDADE IBE-
econômicas dos mexicanos deram lu- mens, o dobro do mobilizado no levan- quem só aceita parâmetros colombia- RO-AMERICANA, NO MÉXICO
H8 Internacional/Especial
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DOMINGO, 23 DE MAIO DE 2010 O ESTADO DE S. PAULO

MÉXICO EM GUERRA. DESAFIO GLOBAL

Lobby interno freia ação americana


Obama assume responsabilidade dos EUA sobre tráfico de armas e de drogas, mas política doméstica ainda impede ajuda efetiva
Patrícia Campos Mello presidente americano, Barack Os republicanos, de modo ge-
CORRESPONDENTE / WASHINGTON Obama, reforçou seu compro- ral, querem apenas medidas que
misso com os mexicanos, ao as- endureçam a aplicação das leis
os últimos meses, sumir a Casa Branca no ano pas- de imigração, com mais policia-

N
várias notícias so- sado. mento nas fronteiras e mais de-
bre americanos portações. Eles acham que a imi-
mortosnafrontei- Omissão. Mesmo assim, ainda gração ilegal está aumentando a
ra entre o México há muito a ser feito. Quando criminalidade.
e os Estados Uni- Obama visitou o México logo Jáos defensoresda reformada
dos por traficantes de pessoas e apóssuaposse,em 2009,elepro- imigração dizem que é preciso
de drogas ganharam as páginas meteu aprovar a Convenção In- ter algum caminho para a legali-
dos jornais. Com a violência do teramericanacontraamanufatu- zação dos 11 milhões que já estão
México ultrapassando cada vez ra e tráfico de armas de fogo, co- emterritórioamericano.Eles di-
mais a fronteira, os Estados Uni- nhecida pela sigla Cifta. Os Esta- zem que verificar no local de tra-
dos resolveram assumir sua par- dos Unidos são um dos quatro balho a legalidade dos funcioná-
celaderesponsabilidadenaguer- países-membros da Organiza- rios é mais eficiente do que na
ra contra as drogas. Em março, o ção dos Estados Americanos fronteira,enãoadiantasódepor-
governo americano promoveu (OEA) que não ratificaram o tra- tar gente.
uma viagem de alto escalão ao tado, de 1998. O grande medo é que, sem
México para discutir relações bi- O Cifta é um passo essencial uma reforma da imigração, leis
laterais,comfocoespecialemse- para conter o fluxo de armas dos estaduais como a do Arizona
gurança. E a secretária america- Estados Unidos para o território multipliquem-se – Estados co-
na de Estado, Hillary Clinton, mexicano.NoMéxico, nãose po- mo Texas, Georgia e Oklahoma
fez questão de enfatizar: “Os decomprar armaemnenhum lu- já anunciaram medidas seme-
EUA reconhecem que o tráfico gar. Mas nos Estados Unidos, lhantes. A reforma da imigração
de drogas não é um problema só em qualquer supermercado Wal tem poucas chances de ser vota-
do México, é também dos Mart perto da fronteira, é da ainda este ano no Congresso,
EUA”. Ela falou nova- possível adquirir arma- já que as eleições legislativas de
mente sobrea corres- mento. Mas, apesar novembro deixam senadores e
ponsabilidade ame- dapromessadeOba- deputados sob enorme pressão.
ricana, já que tanto
a demanda pelas
US$1,4 bi ma, até hoje o Cifta
nãofoiaprovadope- Muro. Para completar, alguns
É A AJUDA
drogasquantoas ar- PROMETIDA lo Senado, vítima de senadores estão tentando res-
mas usadas pelos PELOS EUA pressões do lobby suscitar o muro na fronteira –
narcotraficantes vêm pró-armas nos Esta- faz parte de uma proposta do se-
dos EUA, funcionando dos Unidos, principal- nador Jim De Mint completar os
como combustível para a menteda National RifleAs- mil quilômetros que faltam para
guerra travada atualmente em sociation. No Congresso, até de- terminar a cerca. Se o muro vol-
solo mexicano, que já matou fensores do tratado, como o se- tar a ser construído, e os EUA
3.800 pessoas só neste ano. nador John Kerry, admitem que endurecerem leis de imigração,
“Não se trata apenas de retóri- oCiftaestánofimdafiladeproje- sem uma reforma que preveja le-
ca”, diz a pesquisadora do centro tos a ser considerados. galização de alguns dos milhões
de estudos Council on Foreign A Iniciativa Mérida passou de mexicanos ilegalmente no
Relations Shannon O’Neil. “Mu- dois anos a passo de tartaruga. país, isso vai azedar a relação
dou mesmo a abordagem e os Es- Até hoje, só liberaram US$ 300 com o México.
tados Unidos estão enfatizando milhões dos US$ 1,4 bilhão auto- Segundo analistas, há ainda
a corresponsabilidade.” rizados pelo Congresso. Final- uma grande nuvem de incerteza
Antes,osamericanosnãoassu- mente, os EUA prometeram en- pairando,porque oopositor Par-
miamessaresponsabilidadeetra- tregar os três helicópteros Black tido Revolucionário Institucio-
tavam o problema das drogas no Hawk, em outubro. Havia gran- nal (PRI) está na frente nas pes-
México como uma coisa para os deinsatisfação entreoficiaisme- quisas e pode vencer a próxima
mexicanos cuidarem. “Os gover- xicanos com a ineficiência do eleição presidencial. “Estamos
nosdoMéxicoedosEstadosUni- programa. E agora começa uma diante de uma potencial regres-
dos vêm trabalhando bem juntos segundafase,defendidaporOba- sãonapolítica”, dizDeniseDres-
nos últimos quatro anos, melho- ma, com plano de fortalecer ins- ser, professora de ciência políti-
rou bastante”, diz Shannon. tituições em vez de privilegiar ca do Instituto Tecnológico Au-
Em parte, esse cenário come- apenas a compra de equipamen- tônomo de México,
çou a mudar com a chamada Ini- tos militares. Antes, durante o domínio do
ciativa Mérida, assinada em ju- O lado da demanda por drogas PRI (1929-2000), havia uma co-
nhode2008peloentãopresiden- também precisa de muito traba- Sem auxílio. Na Colonia El Carmen, em Ciudad Juárez, grafite faz referência à violência local nivência entre membros do go-
te George W. Bush e pelo líder lho. “O nível de engajamento en- verno e as gangues. Quando Cal-
mexicanoFelipeCalderón. Aini- treEUAeMéxicomelhoroumui- deilegaisaquinopaís.Temosfra- Imigração. O problema dos imi- do estadual, entra em vigor em derón iniciou sua guerra contra
ciativa prevê o investimento de to, há muito mais cooperação”, cassado na tentativa de reduzir o grantes ilegais – há 11 milhões julho, caso não seja derrubada onarcotráfico,em2006,aviolên-
US$ 1,4 bilhão para combater o disse David Shirk, diretor do ins- consumo de drogas aqui”, afir- nos EUA, a maioria mexicanos – nos tribunais. Para os críticos, a cia explodiu.
tráfico de drogas e a lavagem de titutodefronteiradaUniversida- ma Shirk. “Se não cortarmos o voltou ao foco com a lei aprova- lei vai levar a um “perfil racial”, “As pessoas aprovam o fato de
dinheiro,principalmenteno Mé- de de San Diego. “Mas precisa- consumoepusermosmaisrecur- da pelo Estado do Arizona. A lei ou seja, qualquer pessoa com ca- o presidente Calderón travar a
xico, com recursos para equipa- mos nos concentrar no ponto de sos no combate às drogas aqui exige que policiais estaduais ra de hispânico que for pega sem guerracontraosgruposdenarco-
mento militar e treinamento de vendas, ou seja, no consumo das nos EUA, não adianta ter guerra questionem e prendam suspei- documentos pode acabar presa. traficantes, mas ninguém acha
pessoal, além de cooperação en- drogasnosEUAe,nocaso deimi- contra os narcotraficantes no tos de ser imigrantes ilegais. A Algumas entidades já declara- que ele esteja ganhando”, disse
tre as polícias dos dois países. O gração ilegal, nos empregadores México.” legislação, proposta pelo Sena- ram boicote contra o Arizona. Dresser.

cia como o 7.º homem mais rico ram US$ 6 bilhões no Plano Co- sumidanomundo.SaidaColôm- Na Colômbia, desde os anos 90,
Apesar de ajuda dos EUA, do mundo – chegou a assassinar
três candidatos presidenciais.
lômbia desde 2000. E é difícil
pensar em um governo que cola-
bia boa parte da droga que cruza
a fronteira dos EUA com o Méxi-
o negócio vem se dispersando. O
Cartel do Norte del Valle conse-
Bogotá faz avanços lentos Só ele, faturava US$ 30 bilhões
por ano – quatro vezes o PIB da
Bolívia –, o suficiente para apli-
borou tanto com os EUA como o
do colombiano Álvaro Uribe.
Tropasdopaísreceberamtrei-
co e da que abastece capitais bra-
sileiras.Recentemente,foidesar-
ticulada uma base das Forças Ar-
guiu conquistar espaço até
2007, quando foram presos dois
deseuslíderes–JuanCarlosAba-
car em larga escala sua política namento e equipamentos de madas Revolucionárias da Co- día, o “Chupeta”, detido no Bra-
Ruth Costas cia. Para os colombianos, é uma do “plata o plomo” (dinheiro ou ponta. Foram registrados avan- lômbia em Manaus, que coorde- sil,eDiegoMontoya,o“Don Die-
lembrança triste de um período chumbo). Escobar foi morto em ços – como a queda de 18% na nava a venda de cocado lado bra- go”. Desde então, grupos meno-

O
termo“colombianiza- em que o país chegou perto de se 1993. A Colômbia é um exemplo área de cultivo de coca, segundo sileiro da fronteira. res se multiplicaram. “Aqui, esse
ção” designa hoje o transformar num narcoestado de que a luta contra drogas é, em relatórioda ONUde2009 (parte Oproblema,explicamosespe- já é um negócio antigo. Quando
processo no qual o nas mãos dos poderosos cartéis geral, muito mais um processo do negócio migrou para Peru e cialistas, é a lucratividade sem a polícia mata um chefão da dro-
narcotráfico infiltra- de Cali e Medellín. Entre os anos lento, com avanços e retroces- Bolívia). Ainda assim, os colom- igual do negócio da droga, que ga, há três para substituí-lo”, diz
se no Estado e declara guerra aos 80 e 90, o traficante Pablo Esco- sos, do que uma guerra definiti- bianos continuam produzindo arregimenta de pequenos cam- Alejo Vargas, da Universidade
que nele resistem a sua influên- bar – que na revista Forbes apare- va. Só os americanos já investi- mais da metade da cocaína con- poneses a grandes empresários. Nacional da Colômbia.

ENTREVISTA

Vanda Felbab-Brown mico e político que diz isso. Cla- tráfico de ópio e heroína? mitados. O terreno é acidenta- ● Até que ponto a ditadura de
PROFESSORA DA UNIVERSIDADE GEORGETOWN E ANALISTA ro que há um envolvimento Não acredito que o cultivo da do e pouco fértil. Não há recur- Mianmar também se serve do
DO BROOKINGS INSTITUTION com o tráfico, mas as Farc nun- papoula, matéria-prima do ópio sos naturais. Sob essas circuns- tráfico de ópio e heroína?
ca obtiveram mais de 50% de e da heroína, represente mais tâncias, é difícil empreender Em Mianmar, muita gente fatu-
suas receitas com a cocaína. As do que 50% de sua receita. A ló- um projeto de desenvolvimen- ra com a produção de papoula,
‘A droga não é a única fonte de drogas foram mais importantes
para os paramilitares da AUC
gica é a mesma do México e da
Colômbia. O Taleban também
to econômico, ainda mais com
a insurgência. Primeiro, é preci-
até mesmo a junta militar que
governa o país. Mas, nos últi-
renda dos grupos insurgentes’ (Autodefesas Unidas da Colôm- tem outras fontes de renda: con- so limpar o terreno. É impossí- mos três anos, os militares têm
bia), que tomavam mais de 70% trabando, extração de madeira vel promover desenvolvimento tentado combater a produção,
Cristiano Dias da pela demanda, que está nos de suas receitas do tráfico. A ilegal e tráfico de pedras precio- debaixo de bala. muito por causa da pressão fei-
EUA. Mas esse não foi o único maioria dos cocaleiros colom- sas. A droga é importante, mas ta pela China. O cultivo de pa-
Em conversa com o Estado, azar do México. O país foi atin- bianos não tem alternativa, ex- não é a única fonte de receita. ● Não seria o caso de transfor- poula decaiu, mas boa parte dis-
Vanda Felbab-Brown, professo- gido dessa forma pelo narcotrá- ceto a coca. Por isso, a política O problema é mais grave por- mar uma pequena parcela dos so foi por causa do aumento da
ra da Universidade George- fico porque permitiu que seu de erradicação do plantio só ser- que quase a metade do PIB afe- gastos militares em subsídios produção no Afeganistão. Infe-
town e analista do Brookings sistema judiciário se corrompes- viu para aumentar a popularida- gão vem da droga. Nenhum agrícolas para os afegãos? lizmente, a junta nunca deu
Institution, fala sobre o impac- se e muitas de suas instituições de das Farc com eles. país no mundo é tão dependen- O orçamento para esse tipo de uma alternativa para os agricul-
to do comércio ilegal de drogas se enfraquecessem. Cerca de te da droga quanto o Afeganis- programa já é alto. São cerca de tores, que foram forçados a aca-
nos principais movimentos in- 30% da população mexicana vi- ● É o mesmo problema de Peru tão. US$ 230 milhões por ano. É bar com as plantações e a viver
surgentes do mundo. A seguir, ve na extrema pobreza e é atraí- e Bolívia: a falta de uma alternati- muito dinheiro para a agricultu- na absoluta miséria. Diante da
os principais trechos da entre- da para a economia informal ou va agrícola? ● Qual a dificuldade em substi- ra, até mesmo para os EUA. situação, para muitos, a única al-
vista. ilegal. É claro. O mesmo problema tuir a papoula? Não acho que seja justo tirar di- ternativa foi recorrer ao comér-
tem o Afeganistão, só que mais O Afeganistão é o segundo país nheiro dos militares. Afinal, se cio ilegal de madeira, ao contra-
● Por que o México é tão afetado ● A droga ainda é a maior fonte grave. mais pobre do mundo. Só a So- eles não conseguirem limpar o bando de animais silvestres, de
pela violência do tráfico? de receita das Farc? mália é mais miserável. O capi- terreno, nenhum projeto social pedras preciosas e a outras ativi-
A oferta de drogas é determina- Nunca foram. Tem muito acadê- ● Quanto o Taleban lucra com o tal e os recursos humanos são li- será viável. dades criminosas.

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