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O documento discute a obra literária O Morro dos Ventos Uivantes no contexto da literatura inglesa do século XIX. Primeiro, contextualiza a obra como pouco conhecida no Brasil, apesar de sua importância no mundo anglófono. Em seguida, argumenta que a obra ganha sentido quando analisada comparativamente em relação aos romances realistas e não realistas da época, explorando a tensão entre esses gêneros presente na estrutura da obra. Por fim, discute o personagem Lockwood e como sua perspectiva revela aspectos do campo
O documento discute a obra literária O Morro dos Ventos Uivantes no contexto da literatura inglesa do século XIX. Primeiro, contextualiza a obra como pouco conhecida no Brasil, apesar de sua importância no mundo anglófono. Em seguida, argumenta que a obra ganha sentido quando analisada comparativamente em relação aos romances realistas e não realistas da época, explorando a tensão entre esses gêneros presente na estrutura da obra. Por fim, discute o personagem Lockwood e como sua perspectiva revela aspectos do campo
O documento discute a obra literária O Morro dos Ventos Uivantes no contexto da literatura inglesa do século XIX. Primeiro, contextualiza a obra como pouco conhecida no Brasil, apesar de sua importância no mundo anglófono. Em seguida, argumenta que a obra ganha sentido quando analisada comparativamente em relação aos romances realistas e não realistas da época, explorando a tensão entre esses gêneros presente na estrutura da obra. Por fim, discute o personagem Lockwood e como sua perspectiva revela aspectos do campo
Explicar ttulo: 2 partes, a primeira mais abrangente, a
segunda mais analtica, talvez no d tempo de falar bem da
segunda O situando poderia ser confrontando, colocamos ele na parede e chamamos ele de lagartixa, pois ele asqueroso, viscoso, nojento, mas sutil, sly, dissimulado, de presena difcil de notar
Situando O morro dos ventos uivantes, situando Lockwood
Introduo Falar sobre O morro dos ventos uivantes difcil, mas por um motivo muito simples: h no Brasil quem simplesmente no conhea ou conhea pouco essa obra que, no mundo anglfono, to cannica, to debatida, to estudada, to popular e, at mesmo, to notria. Aqui, baseado em experincias pessoais, pude perceber que se trata de uma obra de que muitos j ouviram falar, que alguns at leram, mas que poucos, porm, estudaram mais de perto. Um primeiro objetivo desta fala e de minha pesquisa como um todo trazer essa obra ao debate literrio no Brasil, no s por se tratar de uma grande obra, um romance interessantssimo, mas por motivos que explorarei mais adiante e que, espero, sejam suficientes para provar o quanto h em O morro dos ventos uivantes um contedo de extremo interesse para quem pensa a arte e a sociedade europeias do sculo XIX. I Venho notando que a maior parcela da crtica internacional a respeito do romance 1 se acostumou a penslo como um elemento literrio de certa exclusividade, estudado por si s, sem compreend-lo dentro de um quadro literrio maior ou de uma topologia histrica, para falarmos como Auerbach. A meu ver, O morro dos ventos uivantes ganha em sentido ao ser estudado comparativamente, no em relao a qualquer obra de qualquer tempo, mas principalmente quando pensado em relao a duas das formas que mais marcaram o quadro literrio ingls durante a primeira metade do XIX, a saber, o romance (novel) realista/burgus (se pensarmos em certo Balzac e, principalmente, Jane Austen, cuja obra seja talvez o paradigma do romance realista ingls desse momento) e 1 qual tenho acesso, quase toda em lngua inglesa; uma
regra com excees
as narrativas, nem sempre romances, que somente para
efeito de simplificao e generalizao chamarei de no realistas (por exemplo, o romance gtico, as histrias de aventura, as histrias de horror, todos eles quase sempre literatura de massa, alm de outras) originalmente anteriores, mas ainda vigentes durante no s a dcada de 40 do XIX2, quando ocorreu a publicao de O morro dos ventos uivantes, como tambm posteriormente, e adquirindo novas facetas at hoje. Digo que ganha em sentido porque uma das tenses mais presentes na prpria estrutura da obra diz respeito justamente ao embate realista x romanesco (Romance) (explicar brevemente)/gtico (explicar brevemente a diferena), aspecto j notado por Terry Eagleton e que em minha pesquisa pretendo explorar ainda mais a fundo. S se compreende essa tenso quando se tem em mente a estrutura e os aspectos do romance realista e, em contraposio, a estrutura e os aspectos da fico no realista/romanesca. Elementos realistas Realismo formal (Ian Watt) marcao de tempo e descrio do espao preciso histrica, topogrfica, geogrfica, social (citar C. P. Sanger) Tentativa de unity of tone (R. Williams) em Lockwood (principalmente) e Nelly Dean Trama e assuntos convencionais (casamentos, cuidados da casa e da propriedade, vida privada no campo) Ambientao em nada grandiosa ou opulenta (castelos, florestas etc.) Elementos no realistas Sobrenatural/onrico (lembra um pouco Poe) Paixes/afetos exacerbados/excesso (contrastando com o srio de Moretti) Tragicidade/drama/violncia 2 como bem comprova Raymond Williams em seu ensaio
Formas de fico inglesa em 1848
Certa distncia da histria e da sociedade civilizada,
fora do tempo e do espao social Exemplo: retorno de Heathcliff Venho utilizando bastante o termo tenso justamente porque o romance se constri numa estrutura que eu chamo justamente de estrutura de tenses, percebida desde o plano narrativo (que eu explorarei melhor daqui a pouco) at o plano do enredo, das personagens, dos temas e das imagens (que no sero explorados aqui por questes de tempo e tambm porque precisam ser mais bem desenvolvidos). A ideia principal, porm, entender justamente como as tenses estruturais da obra se articulam dialeticamente s tenses histricas vividas na Europa e em especial na Inglaterra, num momento de consolidao e hegemonizao do modo de produo capitalista industrial e da ideologia burguesa e suas consequncias no modo de vida rural, pensando tambm a proletarizao da vida, a gentrificao do campo e outros aspectos que preciso estudar melhor. A meu ver o grande achado do romance colocar em cheque pressupostos tanto estticos, ou literrios, como tambm histricos e sociais justamente porque a prpria posio peculiar de Emily Bront na estrutura de classes da poca talvez tenha permitido um olhar mais dialtico, interessado nas contradies e nos conflitos presentes na realidade histrica. Terry Eagleton enfatiza o fato de ela ter vivido s portas do bero da Revoluo Industrial, no norte ingls, ou seja, ainda que no tivesse tido participao direta na pauperizao brutal que caracteriza o modo de vida operrio, seu lugar privilegiado entre campo e cidade, pr-moderno e moderno, cultura e barbrie etc., talvez tenha lhe permitido ao menos, no mbito da forma de seu nico romance, trabalhar em cima do avesso dessa grande e opressora moeda que a ideologia burguesa. II
Lockwood (sujeito sem histria muito desenvolvida, ligado s
classes dominantes, vem da cidade, romntico wordsworthiano) Campo como imagem do campo Hostilidade, violncia, maus modos (campo real) relaes de trabalho Expectativas frustradas, faux pas Descrio enviesada que revela seu olhar esnobe e aristocrtico Volubilidade, mudanas de opinio, composio de um fachada tanto para as personagens como, principalmente, para o leitor Problematizao da ideologia romntica, do seu vis de classe e de sua capacidade de enganao