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SÁBADO
– Afastar as desculpas que nos possam impedir de “entrar” na vida dos outros.
Mas nós sabemos que Jesus Cristo é o soberano Senhor do universo, pois
por Ele foram criadas todas as coisas, no céu e na terra, as visíveis e as
invisíveis... Tudo foi criado por Ele e para Ele, e Ele próprio reconciliou todos
os seres consigo, restabelecendo a paz por meio do seu sangue derramado
na Cruz2. Nada do universo ficou fora da soberania e do influxo pacificador de
Cristo. Foi-me dado todo o poder... Ele tem a plenitude do poder nos céus e
na terra, incluído o de evangelizar e levar a salvação a cada povo e a cada
homem.
E foi o próprio Senhor quem nos chamou a participar dessa sua missão,
confiando-nos a tarefa de estender o seu reino, reino de verdade e de vida,
reino de santidade, reino de justiça e de paz3: “Somos Cristo que passa pelo
caminho dos homens do mundo”4.
Para porem a vida a serviço dos outros, os fiéis leigos não necessitam,
pois, de nenhum outro título fora o da sua vocação de cristãos, recebida no
sacramento do Baptismo. Isso já é motivo suficiente. “O dever e o direito do
leigo ao apostolado provêm da sua união com Cristo Cabeça. Inseridos pelo
Baptismo no Corpo Místico de Cristo, robustecidos pela Confirmação na
fortaleza do Espírito Santo, é o próprio Senhor quem os destina ao
apostolado”5, diz o Concílio Vaticano II.
Temos o direito de intervir na vida dos outros, porque em todos nós circula
a mesma vida de Cristo. E se um membro adoece, ou fica anémico, ou está a
ponto de morrer, todo o corpo se ressente: Cristo sofre, e sofrem também os
membros sadios do corpo, já que “todos os homens são um em Cristo”6.
II. NÃO TEM, POIS, nenhum cabimento que alguém nos pergunte: “– Com
que direito você se mete na vida dos outros? – Quem lhe deu licença para
falar de Cristo, da sua doutrina, das suas exigências?” Nem se explica que
nós mesmos tenhamos a tentação de nos perguntarmos: – “Quem me
mandou meter-me nisto?” Então “teria de responder-te: quem te manda –
quem te pede – é o próprio Cristo. A messe é grande, e os operários, poucos.
Rogai, pois, ao dono da messe que mande operários para a sua messe (Mt 9,
37-38). Não concluas comodamente: eu não sirvo para isso, para isso já há
outros; essas tarefas me são estranhas. Não, para isso não há outros; se tu
pudesses falar assim, todos poderiam dizer o mesmo. O pedido de Cristo
dirige-se a todos e a cada um dos cristãos. Ninguém está dispensado, nem
por razões de idade, nem de saúde, nem de ocupação. Não há desculpas de
nenhum género. Ou produzimos frutos de apostolado ou a nossa fé será
estéril”8.
A Igreja inteira participa desse poder, e, com ela, cada um dos seus
membros. Compete a todos os cristãos a tarefa de prosseguir no mundo a
obra de Cristo. E Jesus apressa-nos, pois “os homens são chamados à vida
eterna. São chamados à salvação. Tendes consciência disso? Tendes
consciência [...] de que todos os homens são chamados a viver com Deus e
de que sem Ele perdem a chave do «mistério» de si próprios?”, dizia João
Paulo II em Lisboa14.
Jesus envia-nos tal como enviou dois dos seus discípulos à aldeia vizinha
em busca de um burrinho que estava atado e que ninguém ainda havia
montado. Mandou-lhes que o desatassem e lho trouxessem, pois deveria ser
a cavalgadura em que entraria triunfante em Jerusalém. E indicou-lhes que,
se alguém lhes perguntasse o que faziam com ele, lhe dissessem que o
Senhor precisava do animal15. Aqueles dois foram, pois, e efectivamente
encontraram o burrinho tal como o Senhor lhes havia dito. Ao desatá-lo, os
seus donos disseram-lhes: Por que desatais o burrinho? Eles responderam:
Porque o Senhor precisa dele16. Agiram em nome do Senhor e para o Senhor,
não por conta própria nem para obter um benefício pessoal. Cumpriram uma
indicação e fizeram o que se deve fazer em todo o apostolado: Levaram o
burrinho a Jesus17.
(1) Mc 11, 27-33; (2) cfr. Col 1, 17-20; (3) Missal Romano, Prefácio de Cristo Rei; (4) São
Josemaría Escrivá, Carta, 8-XII-1941; (5) Conc. Vat. II, Decr. Apostolicam actuositatem, 3; (6)
Santo Agostinho, Comentário ao salmo 39; (7) cfr. São Josemaría Escrivá, Forja, n. 902; (8)
São Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 272; (9) Conc. Vat. II, op. cit., 12; (10) cfr. Mc 16,
15; (11) São João Crisóstomo, Homilias sobre o incompreensível, 6, 3; (12) Mt 28, 19; (13)
Conc. Vat. II, Const. Lumen gentium, 13; (14) João Paulo II, Homilia, Lisboa, 14-V-1982; (15)
cfr. Lc 19, 29-31; (16) Lc 19, 33-34; (17) Lc 19, 35; (18) cfr. Santo Ambrósio, Comentário ao
Evangelho de São Lucas; (19) São Josemaría Escrivá, Forja, n. 672.