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CENSO 2000

A pesquisa de campo

Até outubro de 2001, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística só havia disponibilizado


alguns dados do Censo Populacional de 2000, entre eles o total da população e sua distribuição,
assim como o total de domicílios, de municípios e de homens e mulheres. Os dados do
questionário que é aplicado em um a cada quatro domicílios ficam para 2002 e 2003. Ele traz
questões sobre emprego, rendimento, fecundidade, migrações, educação, condições de
habitação, saúde, consumo, entre outras.
O censo, feito a cada dez anos pelo IBGE, é a principal fonte de informações sobre o tamanho, a
distribuição da população e suas principais características. Esses dados são utilizados para o
planejamento de políticas públicas e ajudam a definir quais as áreas prioritárias para
investimentos sociais e de infra-estrutura, como deve ser a distribuição de recursos federais entre
estados e municípios e quantos serão os deputados federais, estaduais e vereadores. No setor
privado, as informações do censo contribuem para orientar decisões de investimento e subsidiam
pesquisas e estudos científicos e acadêmicos.

A pesquisa de campo – Em 2000, o censo apresenta mudanças significativas com relação às


contagens populacionais passadas. Os 230 mil pesquisadores saíram pelo território nacional
com instrumentos mais modernos de localização de domicílios. A ligação em tempo real dos
recenseadores com os 215 setores brasileiros de coleta de informação possibilitou um controle
inédito da contagem. Durante todo o momento do recenseamento, foi possível avaliar a proporção
de domicílios vagos, fechados e o número de moradores. "O fator diferenciador do Censo 2000 foi
mesmo a enumeração mais completa de domicílios, que possibilitou aumento no registro de
pessoas estimado entre 1,5 milhão e 2 milhões", afirma Luiz Antonio Pinto de Oliveira, chefe do
departamento de população e de indicadores sociais do IBGE. O Censo 2000 levanta 54 milhões
de unidades domiciliares, dos quais 45 milhões estavam ocupados. Entretanto, houve um
pequeno grau de subenumeração (domicílios e/ou pessoas que deixam de ser contadas) por
causa, principalmente, dos casos em que a malha de domicílios não está devidamente
atualizada e os moradores não foram encontrados em casa por mais de duas vezes. No último
caso, o domicílio é considerado fechado.

Desafios da urbanização, Regiões metropolitanas, Capitais, Urbanização do campo

A grande maioria da população brasileira – 81,23% dos habitantes – reside nas áreas urbanas.
De acordo com dados preliminares do Censo 2000, do IBGE, a população urbana é 4,3 vezes
maior que a população rural. O acréscimo de 26,8 milhões de habitantes urbanos desde a data
do último censo, em 1991, é conseqüência do crescimento vegetativo nas áreas urbanas, da
migração com destino às cidades e da incorporação de áreas que em censos anteriores eram
classificadas como rurais. A Região Nordeste, que em 1999 pela contagem da Pnad tinha uma
das maiores taxas de urbanização, em 2000 foi desbancada pelo Centro-Oeste, que, junto com o
Sul e Sudeste, apresentam os maiores índices de urbanização – 86,73%, 80,94% e 90,52%,
respectivamente. Com esse acréscimo de habitantes urbanos, o Brasil passa a apresentar grau
de urbanização semelhante ao dos países europeus, da América do Norte e do Japão, superior a
75%.

No Censo 2000 foram pesquisados 5.507 municípios, 1.016 a mais que em 1991. Desses,
88,58% estão compreendidos na faixa de 2 mil a 50 mil habitantes. Apenas 13 municípios
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apresentam população superior a 1 milhão de habitantes. As cidades de São Paulo (10,4
milhões de habitantes), Rio de Janeiro (5,8 milhões), Salvador (2,4 milhões) e Belo Horizonte (2,2
milhões) e Fortaleza com (2,1 milhões) continuam sendo os municípios brasileiros mais
populosos.

O processo de urbanização no Brasil começa na década de 50, na Região Sudeste, e atinge as


demais regiões na década de 70. A expansão das atividades industriais em grandes centros atrai
trabalhadores das áreas rurais, que vêem na cidade a possibilidade de rendimentos maiores e
melhores recursos nas áreas de educação e saúde. O Censo de 1940, o primeiro a dividir a
população brasileira em rural e urbana, registra que 31,1% dos habitantes estavam nas cidades.

O conceito de urbanização é polêmico – O conceito de urbano não é visto da mesma


maneira por todos os pesquisadores. O professor José Eli da Veiga, da Faculdade de Economia,
Administração e Contabilidade da USP, por exemplo, considera o Brasil menos urbano do que se
imagina. Para ele, só poderiam ser considerados urbanos os municípios com mais de 20 mil
habitantes, que por lei são obrigados a ter instrumentos de gestão urbana, o plano diretor. Ao
atualizar o estudo "Caracterização e tendências da rede urbana do Brasil, uma parceria do Ipea,
IBGE, Nesur-IE e Unicamp, de 1999, o professor chega a uma taxa de urbanização de 60%.

O Censo 2000 segue as definições da prefeitura sobre o que é urbano e o que é rural e chega a
um grau de urbanização de 81,23%.
Segundo Luiz Antonio Pinto de Oliveira, chefe do Departamento de População e Indicadores
Sociais do IBGE, o Censo 2000 também traz informações detalhadas sobre quantos municípios
com determinado número de habitantes existem. "Os dados estão disponíveis de tal forma que
cada pesquisador escolha a faixa que melhor lhe convier para chegar à taxa de urbanização
brasileira", diz Luiz Antonio. O IBGE, no entanto, sugere que sejam considerados rurais os
municípios de até 5 mil habitantes, que ao todo abrigam 6,8 milhões de habitantes.

Êxodo rural – O Brasil deixa de ser um país essencialmente agrícola no fim da década de 60,
quando a população urbana chega a 55,92%. Para essa mudança contribuem a mecanização
das atividades de plantio e colheita no campo - que expulsa enormes contingentes de
trabalhadores rurais - e a atração exercida pelas cidades como lugares que oferecem melhores
condições de vida, com mais acesso à saúde, à educação e a empregos.

Nos anos 70, a população urbana soma 52 milhões, contra 41 milhões de moradores nas áreas
rurais. As grandes cidades, por concentrar o maior número de fábricas, são as que mais atraem
os trabalhadores vindos do campo. Nesse período, a capital de São Paulo recebe
aproximadamente 3 milhões de migrantes de diversos estados. A Região Sudeste destaca-se
como a mais urbanizada. Entre 1970 e 1980, a expansão urbana mantém-se em níveis elevados
(4,44% ao ano), e no fim da década 67,6% dos brasileiros já residem em centros urbanos. Em
1980, todas as regiões brasileiras têm nas cidades a maioria de seus habitantes.

Desaceleração – O processo de urbanização diminui nos anos posteriores, mas as áreas rurais
passam a registrar crescimento negativo pela primeira vez, por causa da redução de sua
população em números absolutos. Entre 1991 e 1996, as cidades ganham cerca de 12,1 milhões
de habitantes, o que resulta na elevada taxa de urbanização, 78,36%. O ano de 1996 é um
marco da superioridade numérica da população urbana em todos os estados brasileiros. O último
a fazer a transição é o Maranhão, que até 1991 apresentava a maior parte da população em
áreas rurais.
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Na mesma década de 90, porém, o surgimento de novos postos de serviço desvinculados da
agricultura nas áreas rurais tende a diminuir o êxodo do campo. Hoje, prestação de serviços,
construção civil, comércio e área social são setores em crescimento nas áreas rurais e já
chegam a garantir rendimentos mensais maiores que os da cidade.

Desafios da urbanização – A maioria dos migrantes não tem escolaridade nem experiência
profissional, o que faz com que aceitem empregos mal remunerados e se sujeitem a trabalhos
temporários ou a atividades informais para sobreviver, como as de camelô ou vendedor
ambulante. Os baixos rendimentos levam esse trabalhador para a periferia das grandes cidades -
com freqüência, loteada por favelas e moradias irregulares e, por isso, mais baratas. Muitas
dessas residências, feitas de modo precário e com materiais frágeis, são erguidas próximas a
margens de córregos, charcos ou terrenos íngremes e enfrentam o risco de enchentes e
desmoronamento em estações chuvosas.

A distância das áreas centrais dificulta o acesso dessa população aos serviços de saúde e à
educação, e as periferias têm suas necessidades básicas de abastecimento de água, luz,
esgoto e transportes públicos atendidas precariamente. Segundo Pesquisa de Informações
Básicas Municipais do IBGE, de 1999, 28% dos 5.427 municípios pesquisados têm favelas.
Faltam creches para os filhos das mulheres que trabalham, a alimentação insuficiente ou de má
qualidade contribui para o surgimento de doenças e desnutrição infantil e as poucas opções de
lazer para os adolescentes favorecem a eclosão da violência.

Nas últimas décadas, o movimento em direção às áreas periféricas é significativo em todas as


regiões metropolitanas. Mas no período 1991/2000 ele foi bastante significativo nas regiões
metropolitanas de São Luís, Curitiba, Florianópolis, Goiânia e do Distrito Federal, com taxas de
crescimento médias de 3,2% ao ano. No entanto, as regiões metropolitanas de São Paulo, Rio
de Janeiro, Belo Horizonte e Salvador, que chegaram a prosperar a taxas médias de 2,4% ao
ano, têm crescimento médio anual, no mesmo período, de 1,8%.

Regiões metropolitanas – As regiões metropolitanas reúnem em 2000 quase a metade de toda


a população urbana do país. São 67.896.496 habitantes, que correspondem a 40,04% da
população total. As metrópoles de São Paulo (17,8 milhões de habitantes) e do Rio de Janeiro
(10,8 milhões) concentram a maior parcela da população, seguidas de Belo Horizonte (4,3
milhões). Juntas, elas representam quase 20% da população do país.

A rápida urbanização faz com que cidades vizinhas, ou um município e seus subúrbios,
aumentem de tamanho e, em conseqüência, formem um só conjunto. Esse processo, chamado
conurbação, eclode no Brasil em 1980 e prolonga-se na década de 90. A instituição de região
metropolitana, porém, apresenta sérios problemas quando não se criam os serviços necessários,
como transporte público e habitação, para atender ao crescimento da população desse conjunto
de cidades.

Em 2000, o Brasil possui 28 regiões metropolitanas. Em 1999, eram 17. Além das capitais
Belém, São Luís, Fortaleza, Natal, Recife, Maceió, Salvador, Belo Horizonte, Vitória, Rio de
Janeiro, São Paulo, Curitiba, Florianópolis, Porto Alegre e Goiânia, consideram-se nessa
categoria as regiões abrangidas pelo norte/nordeste catarinense, Vale do Itajaí (SC), Baixada
Santista (SP), Vale do Aço (MG), Londrina (PR) e Maringá (PR) e, mais recentemente, as
cidades de Campinas (SP) e a Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e
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entorno.

A taxa média de crescimento das regiões metropolitanas entre 1991 e 2000 é de 2,01%,
enquanto a das não-metropolitanas é de 1,38%. Apesar do rápido desenvolvimento ocorrido na
primeira metade da década, Rio de Janeiro e Recife foram as regiões que menos cresceram,
atingindo taxas anuais de 1,15% e 1,50%, respectivamente. No mesmo período, as metrópoles
que mais crescem são Distrito Federal, com taxa de 3,59%, e Florianópolis, com 3,29%.

São Paulo, que entre 1970 e 1980 atinge um índice de crescimento de quase 50%, registra,
entre 1991 e 2000, um aumento de apenas 1,63%. De 17.380.475 milhões de habitantes em
1999, a população cresce para 17.834.664 em 2000. Ou seja, no período de um ano, a metrópole
ganha 454.189 mil habitantes.

Capitais – A população das capitais tem crescido mais lentamente que a população do interior.
A participação das capitais passa de 23,92%, em 1991 para 23,82%, em 2000. Há, no entanto,
sensíveis diferenças entre elas. O índice de crescimento populacional na Região Norte, em
cidades como Rio Branco, Manaus, Boa Vista e Macapá, é superior a 3,47% ao ano. No
Sudeste, onde se concentram mais de 46,5% da população das capitais, o crescimento é de
0,86%. Rio de Janeiro e São Paulo apresentam até 2000 as taxas mais baixas entre todas.

A desaceleração do crescimento dos municípios das capitais ocorre porque eles já estão
densamente povoados. No entanto, nos municípios periféricos às capitais e que, na maioria dos
casos pertencem à região metropolitana, as taxas de crescimento médio giram em torno de 5%
ao ano. No Rio de Janeiro, esse processo está ocorrendo principalmente nos municípios da
Baixada Fluminense. Para o arquiteto Kazuo Nakano, do Instituto Pólis, organização
não-governamental que desenvolve políticas socias e urbanas, enquanto não houver políticas
públicas integradas entre os municípios das regiões metropolitanas, muitos continuarão com
altos índices de violência e pouco acesso aos serviços de transporte, educação e saúde.

Urbanização do campo – O surgimento de novas alternativas de trabalho nos setores de


prestação de serviços, construção civil, comércio e área social têm contribuído para reter o
morador no campo. A quantidade de empregos não-agrícolas criados na zona rural aumenta 35%
entre 1990 e 2000, o que equivale a 1,2 milhão de novas vagas, segundo dados da Pesquisa por
Amostra Domiciliar (Pnad) do IBGE, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Isso acontece porque surgem novos
negócios nas áreas rurais ligados ao turismo e ao lazer. Além disso, o campo representa uma
opção para que algumas indústrias fujam dos altos custos de instalação e manutenção
existentes nas cidades.

Essa nova realidade brasileira é pesquisada pelo Projeto Rurbano - estudo do Instituto de
Economia Agrícola da Unicamp, com a colaboração de pesquisadores de outras 16
universidades em 11 estados brasileiros, e da Embrapa. De acordo com o coordenador do
projeto, economista e professor do instituto, José Graziano, a maioria dos moradores de áreas
rurais brasileiras estará ocupada em atividades não-agrícolas em menos de 15 anos.

Mudança de perfil – Desde o início da década de 90, uma parcela considerável da população
rural não trabalha em atividades agrícolas. Em 1990, no Sudeste, de cada cinco pessoas
residentes no meio rural apenas duas estão envolvidas em ocupações agropecuárias. As
Pesquisas por Amostra Domiciliar do IBGE indicam que no período de 1992 a 1995, enquanto a
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população economicamente ativa que vive no campo aumenta em 200 mil pessoas, o número de
trabalhadores rurais diminui em 350 mil pessoas. No mesmo período, aumenta o número de
pessoas ocupadas em atividades não-agrícolas. A proporção de trabalhadores rurais ocupados
em atividades não-agrícolas no país passa de 20,8% em 1992 para 22,8% em 1995. No estado
de São Paulo, vai de 35,5% para 44,2% no mesmo período, de acordo com os dados das Pnads.

Nos países desenvolvidos, mudanças desse tipo transformaram o campo em uma extensão do
urbano. A diferença, no caso brasileiro, é que metade dos habitantes da área rural, cerca de 25%
da população, não tem acesso a bens e serviços básicos, como energia elétrica, saúde,
educação e até mesmo água potável. Mais da metade dos domicílios rurais do país, a maioria no
Nordeste, ainda não dispõe de filtro de água.

Você sabia que a população de Palmas - planejada para ser capital do estado do Tocantins e
inaugurada em 1990 - chega a aumentar 21,39% ao ano entre 1991 e 2000 e 41% nos últimos
quatro anos.
Distribuição na população, As controvérsias da classificação de cor, Situação atual, Educação e
saúde, Condições de vida, História, Remanescentes de quilombos

A população negra brasileira chega ao século XXI sem ter as mesmas oportunidades que o
restante dos brasileiros. Sua ascensão econômica e o exercício de seus direitos de cidadão
ainda são restritos pela dificuldade de acesso à educação, à saúde, a melhores salários e a
empregos no mercado de trabalho. No entanto, é cada vez maior o número de organizações da
sociedade civil que trabalham para acabar com a desigualdade. Em 2001, ano internacional
contra o racismo, o Brasil figura entre os países com o maior número de representantes na 3ª
Conferência da Nações Unidas contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e a
Intolerância Correlata, que acontece em Durban, na África do Sul. Apesar de não ver aprovada
medida que torna obrigatório cotas para negros em universidade e empresas, a delegação
brasileira presencia alguns avanços na luta contra o racismo. A conferência aprova, por exemplo,
medidas para beneficiar vítimas de discriminação, considera a escravidão e o tráfico de escravos
como crimes contra a humanidade e institui de vez a expressão "descendência africana".

Distribuição na população – Negros e pardos correspondem a 45,3% da população brasileira,


aproximadamente 73 milhões de pessoas. Desse total, os negros somam 5,4% e os pardos,
39,9%, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) de 1999. Organizações
do movimento negro consideram que esses números são inferiores aos da realidade, e a razão
disso poderia ser o fato de que parte dessa população não se classifica como negra como
resultado de séculos de discriminação. Em pesquisas realizadas pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), como o censo, anota-se a declaração de cor escolhida pelo
entrevistado entre cinco denominações: preta, parda, branca, indígena e amarela.

As controvérsias da classificação de cor – Na tentativa de corrigir no Censo 2000 eventuais


erros da classificação de cor que persistem desde 1872, data do primeiro censo, o IBGE inicia
em 1998 uma série de discussões internas sobre o tema. Mas, sem conseguir chegar a uma
nova definição, acaba por manter a classificação já existente. Entre os motivos que levaram o
IBGE a repensar sua classificação (preta, parda, branca, indígena e amarela) estão as críticas de
vários setores da sociedade, por exemplo, à denominação indígena – que seria uma etnia e não
uma cor – e a um branqueamento da população, ao não considerar negro o conjunto de
indivíduos pardos e pretos.
Para o pesquisador do IBGE José Petrucelli, autor do estudo "A cor denominada", o
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agrupamento das classificações parda e preta significaria, num primeiro momento, uma perda no
levantamento das condições sociais e econômicas dessas populações. Isso porque,
culturalmente, ser pardo é bem diferente de ser preto. O pesquisador acredita que a classificação
atual reflete nuances da discriminação racial no Brasil. Uma possível solução para essa questão,
segundo ele, seria a adoção da classificação do censo norte-americano, que permite que o
entrevistado escolha até quatro origens étnicas e não faz distinção de cor. "Em ‘A cor
denominada’ ", estudo complementar da Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE de 1998, "fica
claro que a cor é algo muito subjetivo", diz ele, que continua: "Na pergunta aberta da pesquisa
sobre cor, 54% respondeu ser branca; 20%, morena;10%, parda; 4% preta; 3%, negra; 2,92%
morena-clara; além daqueles que disseram ser jambo, cabo-verde, canela, entre muitas outras
denominações."

Situação atual – Estudo desenvolvido por pesquisador do Instituto de Pesquisas Aplicadas


(Ipea), em 2001, mostra que, historicamente, as diferenças entre negros e brancos vêm se
mantendo no país. No fim da década de 90, os negros representam 45% da população brasileira,
mas correspondem a 64% da população pobre e a 69% da população indigente. Dos pobres,
35% são pardos e residem na Região Nordeste. Em grande parte, a diferença na incidência da
pobreza entre brancos e negros está associada à renda média mensal das duas raças, que é,
respectivamente, de 400 e de 170 reais. Para o pesquisador Ricardo Henriques, autor da
pesquisa encomendada pelo governo federal, desigualdade social associada às formas sutis de
discriminação racial impede o desenvolvimento social da população negra no país. Um jovem
branco de 25 anos tem em média 2,3 anos a mais de estudo que um negro da mesma idade –
uma diferença grande num país em que a média geral é de 6 anos de estudo. Com relação à
apropriação de renda, a diferença também se mantém: o Brasil branco é 2,5 vezes mais rico que
o Brasil negro.

As regiões metropolitanas de São Paulo, Salvador, Porto Alegre, Recife, Belo Horizonte e Distrito
Federal, segundo pesquisa do Instituto Sindical Interamericano pela Igualdade Racial (Inspir)
junto com o Dieese e a Fundação Seade, revelam critérios discriminatórios entre negros e
não-negros no mercado de trabalho. Embora em todas as seis regiões pesquisadas a força de
trabalho negra ocupe grande parcela da população economicamente ativa, é a mais atingida
pelas altas taxas de desemprego. Em Salvador, o desemprego entre os negros é 45% maior que
entre os não-negros. Em São Paulo, essa diferença chega a 41%. Porto Alegre apresenta uma
diferença de 35%. Além disso, todas as regiões pesquisadas indicam um porcentual expressivo
de negros ocupando postos de trabalho sem carteira assinada nem vínculo empregatício ou ainda
como empregados domésticos.

Educação e saúde – Apesar dos avanços alcançados nos níveis de educação e rendimento da
população brasileira na década de 90, dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio
(Pnad) mostram que em 1999 as taxas de analfabetismo ainda são duas vezes mais elevadas
para pretos e pardos, da ordem de 20%, que para brancos, 8,3%. Tomados os analfabetos
funcionais – adultos com menos de quatro anos de estudo –, a taxa é de 46,9% entre os negros
e de 26,4% entre os brancos.
Na saúde também há grandes diferenças. Segundo especialistas, os maiores índices de
mortalidade materna são observados entre as mulheres negras, por causa de hipertensão arterial
não diagnosticada e não tratada na gravidez. Também há grande incidência entre os negros de
ambos os sexos de doenças como diabetes, hipertensão arterial e anemia falciforme. Esta
última é uma moléstia genética que atinge especialmente os descendentes de africanos e que
causa alterações nos glóbulos vermelhos do sangue; a média de vida das vítimas desse tipo de
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anemia é 18 anos e o índice de mortalidade chega a 30% em crianças menores de 5 anos.

Condições de vida – Quanto às condições de vida, a Pnad 1997 mostra que apenas 64,7% das
casas com chefe de família negro recebem água tratada e só 49,7% têm esgoto. Nos domicílios
com chefe de família branco, esses índices sobem para 81% e 73,6%, respectivamente. E, com
relação aos bens duráveis, a proporção de domicílios habitados por negros que não possuem
freezer, máquina de lavar nem telefone é, respectivamente, 90%, 83% e 70%, enquanto a
proporção de domicílios ocupados por brancos na mesma situação é de 73%, 56% e 54%,
respectivamente.

As desigualdades apresentam-se também no campo dos direitos do cidadão. Estudo realizado


pelo Núcleo de Violência da USP em 1997 indica que o índice de prisões em flagrante entre os
réus negros (58,1%) é maior que o de réus brancos (46%). O mesmo estudo revela que 27% dos
réus brancos respondem ao processo em liberdade, enquanto isso ocorre com apenas 15,5%
dos réus negros. Em casos em que réus brancos agridem pessoas também brancas, 54,8%
conseguem absolvição e 42,2% são condenados. Nos casos em que o agressor é negro e a
vítima é branca, 45,2% são absolvidos e 57,8% condenados. Quanto ao desfecho processual, o
índice de punição entre réus negros é 9,4% maior que entre réus brancos.

Nos últimos anos, cresce o número de negros que apresentam queixa contra racismo e
reivindicam tratamentos igualitários, conforme indicam os registros do Disque-Racismo, criado
pela Secretaria do Ministério Público do Rio de Janeiro em julho de 2000, e SOS Racismo,
mantido pelo Instituto da Mulher Negra. Em 1999 são registrados 53 queixas contra racismo em
São Paulo. Entre os meses de janeiro e setembro de 2000 são verificados 46 casos de
discriminação racial. Em todas as situações são instaurados inquéritos policiais. Entre as
chamadas atendidas pelo Disque-Racismo, serviço criado com ajuda financeira do Ministério da
Justiça para prestar apoio jurídico e psicológico às vítimas do preconceito racial, a maioria é de
mulheres negras pobres e, principalmente, da faixa etária de 46 a 60 anos.

História – Os negros começam a ser trazidos para o Brasil em meados do século XVI para
trabalhar como escravos. Conforme estimativas mais aceitas, o total de africanos
desembarcados oscila entre 3,5 milhões e 4 milhões. Durante mais de 300 anos, a mão-de-obra
escrava constitui a principal força de trabalho no país e a base de toda a atividade econômica. A
face mais visível da resistência à escravidão são os quilombos - comunidades de escravos
fugidos que tentavam sobreviver à margem da sociedade colonial. Além deles, outros conflitos
expressam a luta contra a escravidão e levam ao movimento abolicionista. Os negros encontram
dificuldade para integrar-se à sociedade brasileira após a abolição da escravatura. A reforma
agrária e a educacional que os abolicionistas pregavam não acontecem, e o acesso dos negros à
escola e à terra se torna difícil. No mercado de trabalho, há a concorrência com os imigrantes
europeus.

No decorrer do século XX, surgem inúmeros movimentos e entidades para defender os direitos da
população negra e lutar por cidadania plena. Um dos grandes símbolos dessas manifestações é
Zumbi, o maior líder do Quilombo dos Palmares. O dia de sua morte, 20 de novembro, é
transformado em Dia Nacional da Consciência Negra.

Remanescentes de quilombos – Ao contrário do que se supôs por muito tempo, sobrevivem no


Brasil várias comunidades negras que nasceram como quilombos. Em 2000, a Fundação Cultural
Palmares, ligada ao Ministério da Cultura, identifica 743 dessas comunidades em todo o país,
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72,3% na Região Nordeste, concentradas principalmente na Bahia e no Maranhão. No Sudeste
elas existem em maior número em São Paulo e Minas Gerais. Segundo a fundação, 42
comunidades já foram reconhecidas e 29 tituladas.

Estudo desenvolvido em 2000 pelo professor Rafael Sanzio Araújo dos Anjos, do departamento
de geografia da Universidade de Brasília (UnB), chega à existência de 843 comunidades
quilombolas em todo o país. Apesar de não ser um censo populacional, o estudo procura levantar
um panorama da distribuição das comunidades em cada estado e está fundamentado no Mapa
Preliminar dos Remanescentes de Quilombos do Brasil (1997).

A Constituição reconhece o direito dos remanescentes de quilombos à posse da terra, e o


processo de legalização teve início em 1995. A maioria das unidades tem população de algumas
dezenas de famílias. Outras, no entanto, reúnem milhares de habitantes, como a Comunidade
Chapada do Norte, no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, com quase 16 mil moradores.
Localizados em áreas de topografia acidentada (chapadas e serras) ou vales florestados e férteis
de difícil acesso, o modo de vida predominante nos remanescentes de quilombos baseia-se na
posse coletiva da terra, na agricultura de subsistência e na criação de animais. A sobrevivência
dessas comunidades se vê muitas vezes ameaçada por disputas pela posse da terra com
fazendeiros e grileiros.

Você sabia que do total de jovens negros entre 18 e 25 anos, apenas 2% ingressaram na
universidade em 1999.
Outras direções, Histórico das migrações, COR

O movimento dos migrantes entre os estados e municípios brasileiros cai durante a década de
90 e se diversifica, conforme mostram os dados do IBGE colhidos nas últimas Pnads. Entre
1986 e 1992, os fluxos migratórios movimentam 5 milhões de pessoas, enquanto no período
imediatamente posterior, de 1991 a 1996, são aproximadamente 4 milhões. Mesmo assim
alguns estados registram acentuado aumento na população, indicando a diversificação da
direção do movimento migratório. Amapá, Tocantins e Goiás, além do Distrito Federal, são os
novos centros de atração nessa primeira metade da década de 90. Os dois primeiros recebem
pessoas procedentes da própria região Norte, além do estado do Maranhão. Os demais acolhem
grupos de nordestinos em seu conjunto. A mudança de rota reflete, segundo os estudiosos, o
crescimento das oportunidades de trabalho e negócios nessas regiões. Este é o caso do
Centro-Oeste, com empreendimentos agropecuários bem sucedidos, de acordo com a demógrafa
do Núcleo de Estudos Populacionais da Unicamp, Rosana Baeninger. Os dados das Pnads mais
recentes confirmam o impacto demográfico das novas frentes de expansão econômica. Segundo
o levantamento de 1999, cerca de 54 % das pessoas que residiam na região Centro-Oeste não
eram nascidas nos municípios em que estavam vivendo na ocasião e mais de um terço não era
original de nenhum dos estados que a compõem. Nenhuma outra região do país conta com uma
participação tão grande de migrantes.

Outras direções - O surgimento e consolidação de novos pólos de atração tem possibilitado que
um número cada vez maior de migrantes se mova apenas entre estados da própria região de
origem, caracterizando assim os movimentos migratórios intra-regionais. Aumentando em todo o
país, a migração intra-regional tem maior destaque no Nordeste e no Sul, regiões marcadas por
um forte movimento de evasão nas últimas décadas e que hoje, com o crescimento econômico
de suas cidades, metropolitanas e do interior, passaram a reter suas populações, além de atrair
de volta os que haviam migrado para outras regiões, tornando-se pólos da migração de retorno.
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Além disso, a diminuição de oportunidades no Sul e Sudeste incentivou a volta migrantes às
suas regiões de origem.

Já os fluxos de longa distância, em particular aqueles com destino às fronteiras agrícolas, como
Rondônia, diminuíram na década passada. Entre os centros tradicionais de recepção de novas
populações se mantém apenas os estados do Espírito Santo, Santa Catarina e São Paulo. Este
último, mesmo com a diminuição no fluxo de migrantes, continua sendo o estado que atrai o
maior número de pessoas. Segundo o IBGE, entre 1991 e 1996, São Paulo recebeu 1,1 milhão
de migrantes, mais de um quarto do total do país no período.

Histórico das migrações - Os movimentos migratórios foram responsáveis pela ocupação de


grandes extensões do território brasileiro. O primeiro fluxo significativo ocorre no século XVI,
quando criadores de gado do litoral nordestino se dirigem ao sertão. No século XVII e XVIII,
nordestinos e paulistas são atraídos para as regiões mineradoras de Minas Gerais, Goiás e Mato
Grosso. Com a queda da produção de ouro no século XIX há um movimento de retorno aos
estados de São Paulo e do Rio de Janeiro, regiões onde cresce a cultura cafeeira. No final desse
século começa também a migração do Nordeste - especialmente do Ceará - para a Amazônia,
onde ganha impulso a extração da borracha. Esse fluxo continua na primeira metade do século
XX, quando se fortalece a migração de nordestinos em direção ao oeste paulista para o trabalho
nas culturas de café e algodão.

Após a II Guerra Mundial, a industrialização nascente favorece a migração para as grandes


cidades. Isso aumenta o movimento de migrantes do Nordeste para o Sudeste, especialmente
para São Paulo. A construção de Brasília é o pólo de atração seguinte, favorecendo a ocupação
do Centro-Oeste. Com a modernização da agricultura na Região Sul, a partir dos anos 70, parte
da população expulsa do campo vai para o Centro-Oeste e Norte, fazendo avançar a fronteira
agrícola. Nos anos 80, zonas de mineração atraem garimpeiros para a Amazônia, principalmente
no Maranhão e no Pará.

COR - A distribuição da população brasileira por cor ou raça não apresenta variações expressivas
nos últimos anos, conforme levantamento de 1999 do IBGE, pela Pesquisa Nacional por
Amostragem Domiciliar (Pnad). Do total de entrevistados, 54% declararam que sua cor era
branca, e 39,9%, parda e 5,39%, negra. A composição por cor ou raça varia bastante de região
para região e reflete a miscigenação ocorrida no decorrer do povoamento do país. Tomadas as
regiões brasileiras separadamente, conclui-se que o Sudeste é, na sua maior parte, povoado por
pessoas brancas, em uma proporção inferior apenas à região Sul. As pessoas de cor parda
predominam na região Norte urbana, com a participação de 68,2% no total da população local, e
no Nordeste, com 64,5%. Na região Centro-Oeste, a distribuição entre brancos e pardos é mais
próxima: os pardos são 49,4% dos habitantes e os brancos, 46,2%.

Origens, Direitos indígenas, Terras indígenas, Línguas indígenas, Sociedade e cultura,


Educação, Saúde, Saneamento

Com um crescimento demográfico de 2,85% ao ano, superior à média brasileira, a população


indígena reverte uma tendência comum até o começo dos anos 90, quando a Fundação Nacional
do Índio (Funai) registrava um decréscimo anual do número de índios. A aceleração dos
processos de demarcação de terras, com base na Constituição de 1988, contribuiu para esse
aumento.
9
O Brasil conta com 358 mil índios, conforme estimativas da Funai de 2001, número que se
aproxima de 0,21% da população brasileira. Eles ocupam 586 áreas indígenas, que totalizam
aproximadamente 101,2 milhões de hectares, o equivalente a 11,85% do território brasileiro.
Distribuem-se em 227 etnias, comunicam-se em 180 línguas e dialetos e estão presentes em
quase todo o país, exceto no Distrito Federal, Piauí e Rio Grande do Norte. O Amazonas é o
estado onde se concentra a maior população, com 84,4 mil índios – 23,5% do total -, seguido de
Mato Grosso do Sul e Roraima. Em relação às áreas indígenas, o Amazonas possui também a
maior extensão territorial (35,7%), seguido de Pará e Roraima. As etnias mais populosas são
guarani, caingangue e ticuna.

Os maiores problemas que os povos indígenas enfrentam são as invasões e as tentativas de


exploração econômica de suas terras por fazendeiros, posseiros, madeireiros e garimpeiros. O
contato com o homem branco tem gerado a disseminação de doenças até então desconhecidas
dos índios, a destruição do meio ambiente e de suas tradições culturais.

Em 2000, além da população indígena identificada oficialmente, há 46 notificações da presença


de grupos isolados ainda não contatados pelo homem branco, com 16 informações confirmadas
pela Funai. Para conhecê-los, a fundação cria a partir de 1987 frentes de contato nos estados do
Acre, do Amazonas, de Rondônia, do Pará, de Mato Grosso e de Goiás. Identificam-se dois
novos grupos (canoé e akuntsu) em Rondônia e um (corubo) na Amazônia, mas não se sabe
ainda o total de índios nem sua língua. Segundo a Funai, o conhecimento das regiões habitadas
por índios isolados é fundamental para que se possam evitar o confronto e a destruição desses
grupos.

Origens – A hipótese mais aceita é a de que os primeiros habitantes da América tenham vindo
da Ásia e atravessado o estreito de Bering durante as glaciações, cerca de 40 mil anos atrás.
Estima-se que na época do descobrimento do Brasil, em 1500, havia de 1 milhão a 5 milhões de
nativos, reunidos em 1,4 mil tribos, que falavam 1,3 mil línguas. Com a colonização, há a
tentativa de escravização dos índios pelos portugueses, porém a resistência dos povos indígenas
e o conhecimento que tinham do território evitam que se firme esse tipo de exploração. A partir
de 1595, o aprisionamento é proibido, mas o desrespeito a sua cultura e o extermínio deliberado
causam o desaparecimento de vários grupos. Em 2001, estudo do Departamento de Bioquímica
da Universidade Federal de Minas Gerais traz um novo modelo para explicar a povoação
pré-colombiana da América do Sul. Com base no DNA de 192 indivíduos de 19 populações
indígenas, a pesquisa mostra que a distância genética entre as populações da Amazônia e do
leste da América do Sul é muito maior que a que existe entre as tribos andinas. Ou seja, índios
da Argentina e do Peru são mais parecidos que os suruís de Rondônia e os ticunas do
Amazonas. A explicação para isso é que teria ocorrido maior troca de indivíduos entre as
populações andinas, principalmente quando as rotas na cordilheira dos Andes se estabelecer no
século XV, que entre as da Amazônia e as do leste da América do Sul.

Direitos indígenas – A primeira alusão ao direito do índio à posse da terra e ao respeito de seus
costumes é feita em 1910, com a instituição do Serviço de Proteção ao Índio (SPI) pelo marechal
Cândido Rondon. O SPI é substituído pela Funai em 1967. Em 1973, durante o regime militar,
cria-se o Estatuto do Índio, que busca trazer os índios para a "comunhão nacional" e
submetê-los às mesmas leis do país. O estatuto considera o índio um indivíduo incapaz, que
precisa ser tutelado pelo Estado até se incorporar ao modo de vida do restante da sociedade.

10
A Constituição de 1988 traz um capítulo sobre os indígenas. Reconhece os "direitos originários
sobre as terras que (os índios) tradicionalmente ocupam". Eles não são proprietários dessas
terras, que pertencem à União, mas têm garantido seu usufruto. A Constituição também
reconhece a diversidade étnica e o respeito à cultura indígena. A Lei 2.057/91, que visa a criar
um novo Estatuto das Sociedades Indígenas, encontra-se parada no Congresso Nacional.

Terras indígenas – Até 2001, a Funai reconhece 586 áreas indígenas. As etapas do processo
de regularização dessas terras seguem esta ordem: identificação (aprovação dos limites pela
Funai), delimitação (reconhecimento dos limites pela União), demarcação dos limites em campo,
homologação (aprovação da demarcação pela União) e, por último, o registro da área em cartório
pela União. Do total de áreas indígenas, 326 acham-se registradas, o que soma cerca de
76.611.947 de hectares. Existem ainda 29 homologadas, 25 demarcadas, 49 delimitadas, 19
identificadas e 138 áreas reconhecidas pela Funai aguardando estudos para sua identificação.

O processo de regularização das terras indígenas se inicia com a criação do Serviço de Proteção
ao Índio (SPI) em 1967 e intensifica-se nos anos 90 com a Constituição de 1988 (artigo 67), que
estabelece um prazo de cinco anos para sua demarcação.

Em 1996 é criado o Decreto 1.775, que modifica os procedimentos administrativos e jurídicos


para a regularização das áreas indígenas. Ao mesmo tempo que oferece credibilidade a esses
processos, abre a possibilidade de contestação à demarcação das terras. De acordo com o
decreto, depois de aprovado o relatório de identificação e delimitação de uma área, fixa-se um
prazo de 90 dias para que municípios, estados e terceiros contestem essa delimitação. A
decisão do Ministério da Justiça sobre o assunto deve ser anunciada em no máximo 90 dias.
São feitas 1.749 contestações relacionadas com 91 terras indígenas, conforme o Conselho
Indigenista Missionário (Cimi). Desse total, o Ministério da Justiça acata para análise as
contestações referentes a 42 áreas e delibera sobre a redução da reserva Raposa/Serra do Sol,
em Roraima. A possibilidade de contestação traz como conseqüência o aumento do número de
invasões, como forma de garantir a posse da terra por não-índios. Em 1996 registram-se 109
invasões, 95% a mais que em 1995, que resultam, segundo o Cimi, em 2,9 mil ameaças de
morte, 156 cárceres privados, 118 lesões corporais, 80 seqüestros, 73 vítimas de trabalho
escravo e 26 assassinatos de índios.

A partir dos anos 90, a Funai, a Polícia Federal e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis (Ibama) passam a fiscalizar as terras indígenas para combater a
exploração ilegal da madeira.

Línguas indígenas – Do total de 1,3 mil línguas indígenas existentes no Brasil antes do
descobrimento, 87% estão extintas em razão do extermínio de muitos povos e da perda de
territórios. Mas ainda são faladas no país cerca de 180 línguas, número que exclui aquelas
faladas pelos índios isolados, que ainda não tiveram contato com a sociedade brasileiras.
Algumas línguas conhecidas, porém, estão ameaçadas de extinção por ter poucos falantes.

As línguas faladas pelos índios brasileiros agrupam-se em três troncos lingüísticos. O tronco tupi
é formado pelas famílias lingüísticas tupi-guarani, munduruku, juruna, arikém, tupari, ramarâma,
mondé. O macro-jê é composto de jê, maxakali, kariri, borôro, entre outras. O aruák, pelas
famílias aruák e arawá. Existem ainda línguas que não pertencem a nenhum desses três troncos
por não apresentar características comuns com eles, mas que já são classificadas como
famílias lingüísticas (karib, guaikuru, nhambiquara, pâno, múra, tukâno, katukina, maku,
11
txapakúra e yanoâma, entre outras). Atualmente, há cerca de dez línguas isoladas, que foram
identificadas e necessitam ainda de maiores estudos. Com cerca de 40 mil falantes, localizados
no Sul e Sudeste, o guarani (da família lingüística tupi-guarani) é o idioma indígena mais
empregado no país. Em seguida, com cerca de 26 mil falantes, localizados principalmente no
Amazonas, o ticuna é a segunda língua mais empregada (língua isolada), seguido do macuxi (da
família caribe) e do terena (da família aruaque).

Sociedade e cultura – As nações indígenas revelam diferentes costumes, crenças e


organização social, mas a maioria dos grupos compartilha algumas características, como o
pequeno aldeamento de 30 a 100 pessoas. A vida nas aldeias é regida por um complexo sistema
de parentesco que comanda desde as relações homem/mulher até a divisão do trabalho. Cada
aldeia geralmente tem seu conjunto de crenças a respeito da estrutura do Universo, pelo qual
classifica os seres humanos, os animais e o sobrenatural. Esses elementos estão relacionados
com sua estrutura social e são fundamentais para o estabelecimento das diferenças e das
semelhanças entre os diversos grupos indígenas.

Educação – Em 2001 há 91,4 mil estudantes indígenas no país, dos quais 87,2 mil freqüentam o
ensino fundamental; 3,5 mil cursam o ensino médio e, 600, o superior. Em 1,1 mil escolas
localizadas nas aldeias estudam 87 mil índios, enquanto nas escolas dos centros urbanos
estudam 4,1 mil. As escolas indígenas contam com 2,5 mil professores, dos quais 413 são
indígenas.

Com a Constituição de 1988, uma série de leis passa a garantir a especificidade da educação
escolar indígena. Até então não existiam instrumentos que dessem aos índios o direito de
aprender sua língua ou conhecer sua história e ciência. As leis determinam, por exemplo, que os
responsáveis pela educação escolar indígena sejam preparados para atuar com essas
populações, que professores índios recebam a mesma remuneração que outros professores e
que se respeite a sua cultura. A diversidade lingüística e o acesso restrito a algumas tribos são
fatores que dificultam a atuação dos professores. A partir de 1991, a execução das ações
referentes à educação escolar indígena torna-se responsabilidade das secretarias estaduais e
municipais de Educação, em conjunto com a Funai e com todas as instituições interessadas na
educação desses povos.

O documento Diretrizes para a Política Nacional de Educação Escolar Indígena, elaborado pelo
Ministério da Educação (MEC) em 1993, garante os princípios de bilingüismo e especificidade
cultural à educação dos índios. A Funai desenvolve a assistência educacional aos índios por
meio de projetos, como o Programa de Formação e Capacitação de Professores e o Programa
de Apoio aos Estudantes Indígenas de 1º, 2º e 3º graus, que garante o atendimento aos índios
fora das aldeias e estabelece parcerias para o ensino profissionalizante.

Em 1999, o Ministério da Educação elabora a Resolução n° 3 que fixa normas nacionais para o
funcionamento das escolas indígenas, estabelecendo as diretrizes curriculares do ensino
intercultural e bilíngüe, os princípios que orientam a formação de professores indígenas e seus
projetos pedagógicos. Em 2001, a Universidade Estadual de Mato Grosso (Unemat) oferece os
primeiros cursos de licenciatura em matemática, ciências sociais e português, exclusivos para
formar professores índios em nível superior. Foram aprovados no vestibular da Unemat cerca de
200 índios de mais de 30 etnias.

Saúde – A precariedade das condições de vida de muitas tribos, o contato com o homem
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branco e a falta de ações de saúde dirigidas aos povos indígenas têm provocado graves
problemas nessas comunidades, como a disseminação de doenças, o consumo de álcool e até
suicídio. Dados de 1995 do Instituto de Medicina Tropical de Manaus mostram que a expectativa
de vida média dos índios brasileiros é de apenas 42,6 anos, enquanto os demais brasileiros
vivem em média 68 anos. Em 1996, as doenças atingem 138,2 mil índios e ocasionam 500
mortes, segundo dados do Cimi. As mais comuns são as respiratórias, com 43,3 mil casos,
seguidas de diarréia (35,5 mil), verminose (11,1 mil), malária (5,5 mil), doenças cutâneas (3,2
mil), desidratação (3 mil), leishmaniose (2,2 mil), desnutrição (1,2 mil) e tuberculose (496). As
sexualmente transmissíveis (DST) estão entre as que mais crescem: 88% de 1995 para 1996.

O fornecimento de bebidas alcoólicas em troca da exploração ilegal de produtos como madeira,


ouro, castanha e pescado é corriqueiro. O índice de suicídios, que aumentara em 1995, cai 50%
em 1996, quando são registrados 30 casos. A etnia mais afetada é a guarani, e o grupo de idade
que registra maior índice é o de adolescentes e entre os jovens entre 10 e 25 anos. Das causas
de suicídio destacam-se a crise de liderança e de identidade nas aldeias, a disputa pela posse
da terra e o consumo de bebidas alcoólicas.

A Constituição de 1988 institui o direito ao atendimento integral e diferenciado dos índios, com a
criação do Sistema Único de Saúde. Depois disso, é discutido o funcionamento dos Distritos
Sanitários Especiais Indígenas, capazes de lidar com as especificidades de cada região e criar
autonomia de gestão administrativa, orçamentária e financeira. O processo de descentralização
do atendimento à saúde indígena, porém, não está plenamente implementado e a
regulamentação se encontra em tramitação no Senado Federal.

Saneamento – Em 2000, segundo dados da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), do


Ministério da Saúde, todas as aldeias dos estados de Goiás, do Rio de Janeiro e de Sergipe já
contam com ações de saneamento, que incluem sistemas de abastecimento de água, esgoto
sanitário, melhorias sanitárias domiciliares, além de coleta e remoção de lixo. O Ceará atinge
95% de cobertura sanitária nas aldeias do estado, enquanto a Bahia alcança 72,09% dessa
meta. Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná e Pernambuco contam com ações de
saneamento em 68% de suas aldeias, enquanto os estados de São Paulo, Rio Grande do Sul,
Minas Gerais, Espírito Santo, Alagoas e Paraíba atendem a pouco mais de 50% da demanda.
De acordo com a Funasa, os estados da Região Norte apresentam as menores coberturas
sanitárias do país em virtude de muitas aldeias se situarem em lugares isolados e de difícil
acesso. Em outubro de 2000, o órgão do Ministério da Saúde finaliza um cronograma de
atendimento a aldeias em estado crítico de saneamento e inicia a implementação, com o suporte
de agentes selecionados pelas comunidades, do Sistema de Informação da Atenção à Saúde
Indígena, que contará num futuro próximo com dados atualizados sobre aspectos da saúde dos
índios no Brasil.

Você sabia que 19 de abril foi escolhido para ser o Dia do Índio porque em 1940 delegados
indígenas se reuniram pela primeira vez no 1º Congresso Indigenista Interamericano, em
Patzcuaro, no México.

Concentração em grandes centros, Legalização, Tabalhadores especializados, Refugiados,


BRASILEIROS NO EXTERIOR, Dekasseguis, Brasiguaios

De acordo com a Contagem da População realizada pelo IBGE, em 1996 residiam no Brasil
103.078 estrangeiros. Desse total, 53,5% são homens. Essas informações, entretanto, não são
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precisas, pois uma grande parcela dso estrangeiros encontra-se em situação ilegal. Duas
características marcam atualmente o fenômeno da imigração em todo mundo, com reflexos no
Brasil. De um lado há um fluxo de migrantes vindos de países subdesenvolvidos ou em
desenvolvimento, que fogem da crescente desigualdade social e econômica, do desemprego ou
de guerras em seus países de origem. De outro, o deslocamento de executivos, que ocupam
cargos de direção em grandes multinacionais com altos salários.

Concentração em grandes centros - A imigração estrangeira para o Brasil, nas últimas duas
décadas, demonstra contornos bem diferentes da imigração do final do século XIX e início do
século XX. Nessa época cerca de 4 milhões de imigrantes, subsidiados pelo governo brasileiro,
vieram trabalhar em culturas agrícolas no estado de São Paulo e no sul do país. Atualmente, os
imigrantes dirigem-se para os centros urbanos mais desenvolvidos, principalmente São Paulo e
Rio de Janeiro. Entres os imigrantes, destacam-se os coreanos e bolivianos, cuja maioria
trabalha clandestinamente. Em São Paulo, concentram-se em pequenas e médias oficinas e
lojas de confecção nos bairros do Brás e Bom Retiro. Segundo estudo do Núcleo de População
da Universidade de Campinas (Nepo/Unicamp), sem a documentação necessária para sua
legalização, esses imigrantes sujeitam-se a péssimas condições de vida: habitam pequenos
cômodos coletivos e são obrigados a trabalhar até 16 horas por dia em troca de dois a três
salários mínimos por mês.

Legalização - De acordo com a Lei 6.815 de 1980, os clandestinos podem legalizar sua
permanência no Brasil por meio da naturalização. Para isso, os critérios estabelecidos pelo
Ministério da Justiça são: possuir o visto de estrangeiro permanente , ler e escrever a língua
portuguesa e ter residência contínua no país pelo prazo mínimo de quatro anos. Esse prazo pode
ser reduzido para um ano se o estrangeiro é filho de brasileiro ou tem cônjuge ou filho brasileiro.
Em 1998 o governo federal decreta uma anistia, que permite a regularização da situação dos
estrangeiros clandestinos. Entre 1998 e 1999, cerca de 50 mil imigrantes são cadastrados. Em
2000 os imigrantes que obtiveram o registro provisório com validade de 2 anos são obrigados a
solicitar sua renovação junto à Polícia Federal. Passado o prazo da renovação o imigrante poderá
receber o registro permanente caso continue no país e esteja ocupado de forma lícita. A PF, no
entanto, acredita que a maioria dos estrangeiros ainda permaneça em situação ilegal. De acordo
com o artigo 12 da Constituição Federal (1988), a naturalização é concedida apenas aos
estrangeiros com residência no Brasil por pelo menos 15 anos ininterruptos. Aos estrangeiros
originários de países de língua portuguesa exige-se apenas residência por um ano ininterrupto e
idoneidade moral.

Tabalhadores especializados - Um outro fenômeno de imigração presente no Brasil é


representado pelos estrangeiros de classe média, altamente especializados. Originários de
diversos países desenvolvidos - como Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha, Espanha e França -
são empresários, executivos, técnicos e funcionários de empresas multinacionais. Em geral, vêm
como trabalhadores temporários para modernizar e incorporar padrões de qualidade ao sistema
de produção das filiais, implantar novas empresas e introduzir novas formas de gerenciamento.
Segundo o Ministério do Trabalho, em 1999 foram concedidas 12.708 autorizações a
trabalhadores estrangeiros, dos quais 17,26% eram americanos; 9,54%, ingleses e 6,15%,
alemães. Em geral, esses trabalhadores permanecem no país por um período máximo de três
anos. São raros os casos em que fixam residência definitiva.

Refugiados - Mesmo sem ser tradicionalmente um país de asilo, esse tipo de movimento
migratório também cresce no Brasil. Segundo o Comitê Nacional para os Refugiados (Conare)
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ligado ao Ministério da Justiça, do total de 2.303 refugiados residentes no Brasil, 56% são
angolanos. Em geral, são jovens de classe média, que chegam como turistas, mas com o tempo
permanecem ilegalmente no país. O Ministério da Justiça, de acordo com a Resolução Normativa
n° 06 de 1997, concede a permanência definitiva ao estrangeiro asilado ou refugiado que
comprove no mínimo 6 meses de residência, além de qualificação profissional. A facilidade de
comunicação - a língua portuguesa também é falada em Angola - tornou-se um dos principais
fatores que favorece a estadia desses refugiados no Brasil.

BRASILEIROS NO EXTERIOR - A partir de 1980, as sucessivas crises econômicas e o


decréscimo de ofertas de trabalho são fatores que levam brasileiros a migrar para outros países.
Segundo estimativas de 1997 do Ministério das Relações Exteriores (MRE), cerca de 1,5 milhão
de brasileiros residem fora do país, concentrados em maior número nos Estados Unidos,
Paraguai e Japão. Os imigrantes brasileiros, em geral, têm como metas trabalhar de um a três
anos em um país desenvolvido, mesmo que em funções pouco qualificadas, para garantir a
economia necessária que lhes proporcione melhores condições de vida ao retornar para o Brasil.
Nos países que os acolhem, grande parte ocupa postos de trabalho recusados pela mão-de-obra
local. Desta forma, jovens profissionalmente bem qualificados acabam executando tarefas de
faxineiros, garçons, baby-sitters etc. Sua condição ilegal favorece a exploração e a discriminação
social.Os Estados Unidos é hoje um dos principais destinos de brasileiros no exterior. Segundo
estimativa do Ministério das Relações Exteriores, do total de brasileiros residentes no exterior,
41,6% viviam nos Estados Unidos. No Brasil, a cidade mineira de Governador Valadares ficou
conhecida pelo significativo fluxo migratório rumo às cidades norte-americanas, principalmente
Boston. Na Europa, Portugal e Itália destacam-se na preferência dos migrantes brasileiros. As
afinidades culturais, a facilidade de comunicação - no caso de Portugal - além da ascendência
familiar, motivam a escolha desses países.

Dekasseguis - Outro fenômeno importante é o da entrada maciça de trabalhadores brasileiros no


Japão, os chamados dekasseguis. De acordo com a legislação japonesa, só é permitido o visto
de trabalho aos nisseis, sanseis e aos casados com descendentes de japoneses. Geralmente,
esses imigrantes permanecem no país por um período médio de três anos. Segundo a estimativa
do MRE, em 1997 cerca de 202 mil brasileiros viviam no Japão. Os dekasseguis desempenham
atividades consideradas inferiores e conhecidas como "3k", de acordo com as condições de
trabalho: kitanai (sujo), kitsui (penoso) e kiken (perigoso). A maior parte trabalha em indústrias
de peças automobilísticas, eletrônicas e elétricas e vive em pequenos apartamentos ou
alojamentos próximos aos locais de trabalho. Os dekasseguis enfrentam um intenso ritmo de
trabalho diário e dificuldades de adaptação oriundas das diferenças de língua e de costumes.

Brasiguaios - Provenientes de estados como o Mato Grosso e Paraná, são camponeses,


sem-terras, arrendatários, posseiros e proprietários de terras que ultrapassam a fronteira com o
Paraguai e se estabelecem em áreas agrícolas na região do rio Alto Paraná. Segundo estimativa
do Ministério das Relações Exteriores, 351 mil brasileiros residiam no Paraguai em 1997. Nas
últimas décadas, a ocupação ilegal do solo vem causando conflitos entre paraguaios e brasileiros.
Ocupação do solo, Estatuto da Cidade é aprovado, Áreas de mananciais, Favelas, Cortiço,
Déficit de moradias, Financiamento, Bens, Serviços

O número de domicílios permanentes no país cresceu de 34,9 milhões em 1991 para 45 milhões,
segundo a Sinopse Preliminar do Censo 2000. As regiões Norte e Centro-Oeste, de menor
crescimento absoluto, foram as que tiveram maior acréscimo relativo – 41,18% e 40,35%,
respectivamente –, refletindo o crescimento característico dessas regiões de fronteira. A média
15
de moradores por domicílio, que era de 4,6 em 1980 e 4,1 em 1991 chega a 3,7 em 2000. Essa
tendência é observada em todas as regiões e resulta da redução dos índices de fecundidade
feminina, que diminui de 2,7 filhos para 2,3 no fim da década de 90, da menor duração das
uniões e do maior número de pessoas que vivem só. Com isso, entre 1980 e 2000 a quantidade
de domicílios cresceu o dobro da população: 83% contra 43%, respectivamente.

A habitação constitui o principal gasto familiar no Brasil e chega a 29,19% do total, de acordo
com a Pesquisa sobre Orçamento Familiar (POF), realizada pelo IBGE. A maioria dos domicílios
é própria – 74,4% conforme a Pnad de 1999. Essa proporção tem crescido nos últimos anos. Em
1991, do total de moradias existentes no país, 69,8% são próprias. Programas de financiamento
habitacional do governo federal propiciam facilidade de acesso à casa própria. Há ainda 8,7% de
moradias cedidas e 16,3% alugadas. Existe também uma parte da população que vive em
domicílios invadidos, reflexo de um problema nacional conhecido como déficit habitacional.
Essas formas de habitação são precárias, sem infra-estrutura e situadas em locais distantes de
áreas onde são prestados serviços básicos, como os de saúde, educação e transporte, o que
contribui para baixar os índices de qualidade de vida.

Ocupação do solo – Sem possibilidade de arcar com o alto custo das habitações regulares,
grande parte da população de baixo poder aquisitivo se vê excluída do mercado imobiliário legal e
busca meios alternativos de moradia. No mundo, segundo resultados da Conferência das Nações
Unidas sobre Assentamentos Humanos, a Habitat+5, que ocorre em junho de 2001, em Nova
York, 1 bilhão de pessoas vivem em habitações inadequadas. No Brasil, das 4,4 milhões de
unidades construídas entre 1995 e 1999, 3, 7 milhões foram erguidas por famílias pobres e , na
maioria das vezes, em loteamentos irregulares nas periferias das grandes cidades e regiões
metropolitanas.

As Nações Unidas consideram que esse processo não só acelera o surgimento de favelas e
cortiços como provoca o adensamento habitacional – definido como o aumento populacional de
áreas centrais da cidade anteriormente habitadas. Especialistas afirmam que o interesse das
grandes construtoras é investir em áreas nobres, e por isso exigem do governo a criação de
estrutura, como asfaltamento de ruas, viadutos ou instalação da rede de iluminação, água e
esgoto. De 1995 a 2000 são lançados em São Paulo cerca de 61 mil apartamentos de médio e
alto padrão (acima de 75 mil reais cada um) e 47,5 mil unidades para a população de baixa renda
(de até 75 mil reais), de acordo com a Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio. O número
de favelados na cidade dobra.

Segundo estudos da professora Ermínia Maricato, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo


(FAU) da Universidade de São Paulo (USP), a ocupação ilegal do solo atinge perto de 10% dos
domicílios urbanos do país. A tese ganha reforço em 1999, quando o IBGE divulga que 46% de
quase todas as prefeituras do país têm loteamentos irregulares. A situação agrava-se nas
regiões metropolitanas. Em São Paulo, cerca de 30% dos domicílios – onde vivem 2,6 milhões
de pessoas – estariam construídos em terras invadidas. Na cidade de Salvador, a porcentagem
de domicílios em loteamentos irregulares e clandestinos é estimada em 33%; no Recife, 40%
das moradias estariam em local irregular. No Rio de Janeiro, a Secretaria Municipal da Habitação
calcula que 2,2 milhões de pessoas (40% da população local) vivam em moradias informais.

Essas moradias, em geral, são construídas de forma precária em regiões que não interessam ao
mercado imobiliário, como áreas públicas da periferia, margem de córregos, terrenos íngremes,
charcos ou áreas de mangue.
16
Para adaptar-se ao crescimento das famílias, as habitações se expandem de forma
desordenada, comprometendo ainda mais as condições de salubridade. Em muitas dessas
regiões, a densidade de ocupação se equipara à de bairros verticalizados. Precariamente
construídas, as moradias estão sujeitas a enchentes e desmoronamentos em épocas de chuva,
efeitos diretamente relacionados com o mau uso do solo.

Estatuto da Cidade é aprovado – Em 2001 é sancionada a lei que estabelece novas regras
para o uso do solo urbano. O Estatuto da Cidade vem regulamentar o capítulo da Constituição
sobre política urbana, que diz que a propriedade urbana deve cumprir função social. O estatuto,
que tramitou durante 11 anos no Congresso, está no projeto de 1989 do senador Pompeo de
Souza (PSDB-DF). A aplicação do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) progressivo no
tempo para terrenos urbanos não utilizados é uma das principais inovações da lei. A idéia é
tornar economicamente inviável a manutenção por muito tempo de um terreno sem o
aproveitamento adequado, evitando assim a especulação imobiliária. Outros pontos principais do
Estatuto da Cidade são: a regularização das favelas, a obrigatoriedade de um plano diretor para
municípios com mais de 20 mil habitantes e para os de interesse turístico ou influenciados por
atividade de impacto ambiental e o usucapião especial, que possibilita que ocupantes de
propriedades particular possam requerer a posse individual ou coletiva da propriedade. Além
disso, o estatuto regulamenta a concessão de uso especial de área pública para fins de moradia.

Áreas de mananciais – Desde 1976 vigora uma lei metropolitana de proteção dos mananciais
que estabelece regras para a ocupação equilibrada do solo, mas deficiências na fiscalização
estadual e municipal estimulam a invasão de áreas de preservação. Em São Paulo, calcula-se
que mais de 500 mil habitantes vivam em terrenos compreendidos entre as bacias de dois
grandes reservatórios de água: as represas Billings e Guarapiranga. Os loteamentos – sem
infra-estrutura de drenagem, água e esgoto – comprometem tanto a água potável distribuída em
São Paulo como a mata Atlântica.

Favelas – O Censo de 1991 registra cerca de 1 milhão dessas moradias, com uma população
de 4,4 milhões de pessoas. Em sua maioria, elas se concentram em São Paulo (29,8%) e no
Rio de Janeiro (24,8%). Há estimativas mais recentes para algumas cidades brasileiras. Em São
Paulo, segundo levantamento da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) de 1993, o
número de habitações e moradores nas favelas em 1993 chega a 379 mil domicílios, com 1,9
milhão de pessoas, ou seja, quase 20% da população. Em 1987 existiam 150 mil habitações e
812 mil favelados em São Paulo.

Na cidade do Rio de Janeiro, a população residente em favelas aumenta 32% de 1981 a 1991 e
atinge, aproximadamente, 1 milhão de pessoas, ou 18% da população total do município. Desse
total, cerca de 30 mil vivem em locais de risco, à beira de rios ou em áreas de desabamento nas
encostas de morros. Um estudo recente feito pela ONU em algumas cidades do mundo calcula
que, em 1998, cerca de 34% da população da cidade seja favelada. Cidades de porte médio,
como São José do Rio Preto, Ribeirão Preto, Campo Grande, Goiânia e Piracicaba, onde a
presença de favelas não era significativa, passam a conviver com elas. O aumento da população
favelada ocorre, de acordo com a pesquisa da Fipe, pela redução de renda dos assalariados
urbanos e pelo desemprego, que afeta especialmente o trabalhador não especializado de baixa
renda. Muitas dessas favelas não dispõem de abastecimento de água, luz e esgoto. Não há
pavimentação e o acesso ao transporte coletivo é difícil.

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O levantamento da Fipe mostra que nas favelas da cidade de São Paulo – algumas com mais de
mil barracos – 79% das moradias têm luz elétrica, 64,2% são alcançadas pela rede pública de
água e em 71,1% dos domicílios os dejetos são depositados ao ar livre, canalizados diretamente
para o córrego mais próximo ou para alguma represa. Com relação às instalações internas,
92,5% dos domicílios têm sanitário familiar, 91,4% possuem tanque ou pia e 87,1%, chuveiro.
Em algumas favelas de grande porte, como a da Rocinha, no Rio de Janeiro, que abriga cerca de
200 mil moradores, as construções são de alvenaria, a maior parte conta com luz elétrica e água
encanada e cerca de 60% têm esgoto. O desenvolvimento urbanístico das favelas deve-se em
grande parte aos favelados que se organizam em associações de moradores.

Cortiço – Moradia coletiva habitada por múltiplas famílias, o cortiço revela, em vários aspectos,
condições de vida piores que as das favelas. A Pesquisa de Informações Básicas Municipais do
IBGE, de 1999, confirma a existência de cortiços em 10% dos municípios do país. Segundo
5.373 prefeituras, há cerca de 30 mil domicílios cadastrados como cortiços. Outra pesquisa, da
Fipe, realizada em 1993, estima em 23.688 o número de imóveis usados como cortiços em São
Paulo, com um total de 160.841 famílias, ou 595.110 pessoas. Esse contingente de moradores
representa cerca de 6% da população paulistana. Dividido em vários cômodos (em média 8,5),
usados para múltiplas finalidades, o cortiço tem um número médio de moradores por cômodo
superior ao das favelas: 2,5 pessoas no cortiço e 1,7 na favela. Segundo o Sindicato da Indústria
da construção Civil (Sinduscon), três é o número de pessoas aceitável por dormitório para as
faixas de renda de até 5 salários mínimos. Além do adensamento interno, os espaços do edifício
e as instalações sanitárias são de uso comum: a média de pessoas por chuveiro, por exemplo, é
de 6,3.

Em relação aos serviços urbanos, 97,3% dos cortiços localizam-se em ruas com iluminação
pública. A energia elétrica está presente em 99,1% dos imóveis e a água, em 99,7%. A coleta do
esgoto é mais restrita: serve 65% dessa população.

Déficit de moradias – Há dois tipos de déficit habitacional. O primeiro indica quantas novas
moradias são necessárias para absorver aqueles que vivem nas ruas, em habitações
improvisadas ou superlotadas; o outro é o déficit de infra-estrutura e serviços urbanos. A
Fundação João Pinheiro, em Belo Horizonte (MG), estima no ano de 1995 o déficit de habitação
no Brasil em torno de 5,6 milhões de unidades: 4 milhões nas cidades e 1,6 milhão no meio
rural. Já o déficit de infra-estrutura atinge 4,6 milhões de moradias. De acordo com a fundação,
85% do déficit habitacional concentra-se nos estados do Sudeste, entre as famílias com
rendimento mensal de até cinco salários mínimos, sem condições de ser atendidas pelos
programas habitacionais oferecidos por construtoras. No entanto, no Norte e Nordeste estão as
maiores parcelas de domicílios rústicos. Como o governo não tem estrutura orçamentária para
oferecer financiamento habitacional a todas essas pessoas, a solução para muitas é alugar uma
casa em bairro da periferia, onde o aluguel é mais baixo, ou construir um barraco em uma favela
da cidade.

Para tentar resolver o problema, surgem movimentos ligados a associações de bairro, que, em
parceria com os governos estadual e municipal, trabalham em mutirões na construção de casas
populares em terrenos cedidos para conjuntos habitacionais. Ao término das obras, as pessoas
que participam da construção têm direito a uma casa. No Rio de Janeiro, algumas associações
de moradores de favela se unem para garantir segurança às famílias que arriscam a vida morando
em áreas como beira de rio ou nas encostas de morro sujeito a deslizamento em época de
chuva. Mas a iniciativa emperra na falta de recursos financeiros. O custo médio para assentar
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uma família em local seguro é de 15 mil reais.

Financiamento – No começo do século, o aluguel é a forma predominante de habitação dos


trabalhadores. A lei do inquilinato de 1942, no entanto, congela os aluguéis em valores altos, e a
casa própria passa a ser a melhor forma de habitação. Também contribuem para isso a alta no
custo de vida dos trabalhadores, a inflação crescente, as conseqüências da II Guerra Mundial
para a economia, a emergência do capital imobiliário, o parcelamento das terras da periferia das
cidades e as campanhas do governo que exaltam a casa própria. Entre as décadas de 40 e 60, o
crédito imobiliário é oferecido pela Caixa Econômica, pelo Instituto de Previdência Social ou por
bancos privados. Com a criação da Fundação da Casa Popular, em 1946, primeiro órgão federal
destinado a promover a habitação social, o Estado começa a participar do financiamento da
habitação. Em 1964, o regime militar cria o Sistema Financeiro da Habitação (SFH), com gestão
central a cargo do Banco Nacional de Habitação (BNH). Nos 22 anos de existência, o BNH é
responsável pelo financiamento de 4,4 milhões de moradias. Após sua extinção, em 1996,
nenhuma política habitacional durável é definida.

Apesar de existirem programas do governo federal para a área de habitação, os investimentos


têm sido insuficientes. Os recursos do governo destinados à habitação são provenientes do
Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e do Orçamento Geral da União. O FGTS
disponibiliza três formas de financiamento: aquele voltado para os estados e municípios, o
destinado à pessoa física por meio da Caixa e o financiamento voltado para as empresas de
construção civil. Em 2001, o governo criou, por meio de medida provisória, o Programa de
Subsídio à Habitação de Interesse Social (PSH). A proposta enviada ao Congresso Nacional
prevê para 2002 a utilização de 350 milhões de reais para complementar a capacidade financeira
de famílias carentes na aquisição de moradias.

A Caixa, principal agente financeiro do governo federal na área de desenvolvimento urbano, tem
até 2001 duas linhas de financiamento imobiliário. A que utiliza os recursos do FGTS para
beneficiar famílias com renda de até 2 mil reais, no caso de imóveis novos ou usados, ou até
3.250 mil reais, no caso de imóvel na planta, que, desde 1995, beneficiou 971 mil famílias com
13,1 bilhões de reais aplicados. E a Carta de Crédito Caixa, suspensa temporariamente em
agosto de 2001 por causa da situação econômica do país. Ela utilizava os recursos da poupança
e outras aplicações e atendia as famílias com renda superior a 2 mil reais ou a 3.250 reais. Em
agosto, a instituição conta com 33 bilhões em poupança e um gasto com financiamentos
habitacionais de 46 bilhões de reais.

Bens – O número de bens disponíveis nas moradias brasileiras tem crescido, mesmo nas
populares. A disseminação dos eletrodomésticos inicia-se após a I Guerra Mundial com o rádio.
No fim dos anos 40, vêm o refrigerador, o liquidificador e o aspirador. A máquina de lavar roupa
chega nos anos 50, pouco antes da televisão. Em 1992, 83,1% dos domicílios urbanos e 37,4%
dos domicílios rurais possuem televisão. Esses números, em 1999, correspondem a 87,7% e
63,8%, respectivamente .
Pesquisa sobre Padrão de Vida (PPV) realizada pelo IBGE entre março de 1996 e março de
1997, em amostra de 500 domicílios do Sudeste e do Nordeste, revela também o acesso a
outros bens, como aparelho de som (54,9% das moradias), bicicleta (47,7%), videocassete
(26,9%) e telefone (25,2%). Entre os bens de tecnologia mais recente estão o forno de
microondas (12,2%), o aparelho de ar condicionado (7,1%), o computador (5%) e a máquina de
lavar louças (3,9%).

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Serviços – As condições de saneamento melhoram entre 1993 e 1999, segundo o Pnad. O
número de domicílios abastecidos pela rede geral de distribuição de água passa de 75% para
79,8%. O abastecimento de água do restante da população ainda é feito por poços, nascentes,
carros-pipa ou até pela chuva. Essa situação é mais freqüente nas zonas rurais, onde apenas
25,10% das moradias dispõem de água tratada, em comparação com 91,3% das moradias das
áreas urbanas. Há diferenças também entre as regiões. No Norte e no Nordeste, o porcentual de
domicílios abastecidos com água tratada é inferior a 70%; no Sudeste ultrapassa os 85%.

O escoamento sanitário beneficia 62% da população brasileira: por rede coletora em 42,4% dos
domicílios e por fossa séptica em 21,5%. Essas são as duas formas mais adequadas. Em
27,5% das moradias há apenas fossas secas ou os dejetos são lançados diretamente em valas,
rios, lagos ou no mar. Em 9% dos domicílios não existe nenhuma forma de escoamento. No
Norte e no Nordeste, o serviço beneficia 50,6% e 35% da população, respectivamente. Já no
Sudeste ele atende a 82,8% dos domicílios.

A coleta de lixo é feita em 77,9% dos domicílios. Essa porcentagem é de 69,9% em 1993. Na
maioria das vezes, ele é recolhido diretamente das casas por empresas de limpeza pública ou
privada. Pode também ser depositado em caçambas, tanques ou depósitos para coleta posterior.
Parte do lixo doméstico, no entanto, é ainda despejada em terrenos baldios. Na área rural,
apenas em 19% dos domicílios o lixo é coletado. Nas áreas urbanas, a coleta supera 80% e
chega a quase 100% nas regiões Sul e Sudeste.

Você sabia que o Censo 2000 levantou 54 milhões de domicílios, dos quais 45 milhões estavam
ocupados, o que representa 82,99% do total, porcentual abaixo do revelado no Censo 1991,
84,7%. O total de domicílios fechados mantém-se inferior a 1%; de domicílios vagos, 11,11%; e
de domicílios de uso ocasional, 4,95%.

Você sabia que o Brasil tem 170 milhões de habitantes. Desses, cerca de 120 milhões têm
acesso a serviços de água e 100 milhões não têm esgoto tratado.
Fecundidade, Tipos de família, Faixas etárias, Sobrevida feminina –

O Brasil chega em agosto de 2000 com 169.590.693 milhões de habitantes, conforme a Sinopse
Preliminar do Censo Demográfico 2000 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A população continua a crescer em uma velocidade menor e é maior o número de idosos. A
queda da taxa de fecundidade - o número médio de filhos que cada mulher tem - é uma das
principais causas desse quadro. Iniciada com o surgimento dos modernos métodos
anticoncepcionais em meados dos anos 60, quando a taxa de fecundidade era de 6,28, e se
acentuando nas duas décadas seguintes, a diminuição da fecundidade prossegue durante os
anos 90, atingindo 2,3 em 1999. O crescimento da participação de idosos na população resulta
do aumento da expectativa de vida.
O perfil migratório da população brasileira também está mudado. Ela se movimenta mais dentro
do estado ou da região geográfica de origem, atrás de novas oportunidades de trabalho e
melhores condições de vida. Além do desemprego no Sudeste, que há alguns anos incentiva o
retorno de parte dos migrantes a suas regiões, a consolidação de novos centros regionais, em
estados como Goiás e Tocantins, no Centro-Oeste, ou Paraná e Santa Catarina, no Sul, cria
novas correntes migratórias, uma tendência observada desde o fim dos anos 80.

Fecundidade – A diminuição do crescimento da população a partir dos anos 60 deve-se


basicamente a uma queda acelerada na taxa de fecundidade, ou seja, as mulheres passam a ter
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cada vez menos filhos. Com o avanço da urbanização e o esgotamento da economia rural familiar
de subsistência, os filhos deixam de ser mão-de-obra para o trabalho no campo e passam a ser
a razão de gastos cada vez maiores. Nas cidades, o papel social da mulher também muda. Ela
deixa de viver exclusivamente no núcleo familiar para se inserir no mercado de trabalho. Além
disso, tem acesso cada vez maior aos métodos anticoncepcionais. Isso se reflete na taxa de
fecundidade, e a partir dos anos 70 as mulheres das classes média e alta urbanas passam a ter
menos filhos.
Na década de 80, a família brasileira é formada por 4,5 pessoas em média e, no fim dos anos 90,
por apenas 3,4 pessoas. Durante os anos 80, essa diminuição se generaliza entre as famílias de
menor renda no meio urbano e entre as de renda mais alta no meio rural. O grau de
escolarização da mulher também contribui para a opção de reduzir o número de filhos. Segundo
a Pesquisa Padrão de Vida (PPV), realizada pelo IBGE, as que haviam estudado quatro anos
tinham em média quatro filhos. Entre as que haviam estudado 12 anos ou mais esse número
caía para dois filhos.

Tipos de família – No fim da década de 90, existem 46,3 milhões de famílias, sendo 59,4%
com filhos; 17,1% nas quais a mulher não tem marido nem companheiro; 13,6% sem filhos;
8,6% de uma pessoa; e 5,8% com duas ou mais pessoas e de outros tipos. No entanto, com
relação à dinâmica das famílias, nota-se uma diminuição do número de casais com filhos e um
aumento no número de casais sem filho e de pessoas vivendo sozinhas, principalmente, idosos.
A proporção de mulheres chefes de família tem aumentado. De acordo com o IBGE, atualmente,
elas chefiam 26% das famílias. Na Grande Belém, onde o índice é maior, 40,5% das famílias são
chefiadas por mulheres. Esse aumento do número de famílias lideradas por mulheres é um
fenômeno mais urbano, decorrente da separação dos casais. Com a ruptura do casamento,
quase sempre a mulher se encarrega da guarda dos filhos e passa a dirigir a família. Também o
fato de as mulheres viverem mais tempo contribui para que um maior número delas assuma a
família quando se tornam viúvas. Há também casos em que a mulher é considerada chefe da
família mesmo tendo marido ou companheiro.

Faixas etárias – Essa maior longevidade, associada à queda da taxa de fecundidade, faz com
que cresça a participação de idosos na população e diminua a de crianças e adolescentes, em
proporções que variam conforme a região do país. Em 1940, a participação de menores de 17
anos no total da população era 55,42%. Atualmente, eles são pouco mais de um terço da
população, e, pela previsão do IBGE, se essa tendência se mantiver, até 2020 a proporção de
brasileiros dessa faixa etária deve limitar-se a um quarto. A esse processo de inversão da
pirâmide populacional dá-se o nome de transição demográfica. Segundo o sociólogo e chefe do
departamento de população e indicadores sociais do IBGE, Luiz Antonio Pinto de Oliveira, o
Brasil vive situação etária ideal para o desenvolvimento econômico até 2020. Isso porque, durante
o processo de transição, a participação das pessoas em idade economicamente ativa será maior
que a participação das pessoas inativas (crianças e idosos). No entanto, segundo ele, o "bônus
demográfico" de nada servirá se o país não for capaz de absorver a mão-de-obra existente.

Sobrevida feminina – A expectativa de vida dos brasileiros aumenta de 41,5 anos para 68,4
entre 1940 e 1999. À medida que cresce a expectativa de vida da população, aumenta a
participação das mulheres no contingente de idosos, em razão das taxas de mortalidade
diferenciadas entre os sexos. A sobrevida feminina, que tem origem em fatores biológicos, é
acentuada pela incidência de mortes por causas violentas, como homicídios e acidentes de
trânsito, que atingem os homens em proporção muito mais elevada que as mulheres e cuja
ocorrência aumenta nas últimas duas décadas. Com efeito, a diferença entre a expectativa de
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vida feminina e a masculina passa de 6,3 anos em 1980 para 7,8 anos em 1998, diferença que
chega a dez anos em algumas localidades, como o estado do Rio de Janeiro, conforme aponta o
economista André Geraldo de Moraes Simões, em um estudo sobre o efeito das causas
externas na sobrevivência masculina.
Tipos de deficiência, Direitos, Trabalho

De acordo com os dados oficiais do Censo de 1991, apenas 1,14% da população brasileira - o
que equivale a cerca de 1,7 milhão de pessoas - apresenta algum tipo de deficiência física.
Entretanto esse Censo tinha apenas uma pergunta sobre o assunto, que só levava em conta os
casos de defiência total, e que foi incluída para cumprir determinação da lei 7.853, de outubro de
1989. O censo realizado no ano 2000 é o primeiro que busca levantar informações mais apuradas
sobre os deficientes no Brasil. O questionário de amostra (aplicado a cada 10 casas) apresenta,
no total, cinco questões relativas ao tema, que vão levantar não apenas o número de casos de
deficiência total, como também os de deficiência parcial.

A Coordenadoria Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência (Corde) do


Ministério da Justiça, estima que o número de deficientes no Brasil esteja entre 16 milhões e 40
milhões. Esse dado é calculado com base no índice da Organização Mundial de Saúde (OMS),
que estima que o número de portadores de algum tipo de deficiência física oscila entre 10% e
15% da população total dos países em desenvolvimento.

Tipos de deficiência – A Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de


Deficiência elaborada pelo governo federal e descrita no Estatuto das Pessoas com Deficiência
(Decreto nº 3298), considera deficiente quem apresenta alteração completa ou parcial de uma ou
mais partes do corpo (deficiência física), perda parcial ou total da audição e da visão (deficiência
auditiva e visual), desempenho intelectual significativamente inferior à média, com manifestação
antes dos dezoito anos (deficiência mental) ou associação de duas ou mais deficiências
(deficiência múltipla).

De acordo com o censo 1991, a deficiência mental é a que mais atinge os brasileiros, com um
total de 39,51% dos casos. Já as deficiências físicas, incluindo a falta de membros, somam
36,12%. A surdez atinge 10,41% dos deficientes e a cegueira, 8,74%. O número de pessoas que
apresentam mais de um tipo de deficiência corresponde a 5,22% do total de deficientes.

A cegueira predomina no Nordeste, com 0,12% dos casos e no estado do Rio de Janeiro
(0,13%); a surdez, no Nordeste e no Centro-Oeste (0,13% em ambos); a falta de membros, no
Sul (0,12%) e Norte (0,11%). A hemiplegia (paralisação de um dos lados do corpo) predomina no
Sudeste (0,16%) e no Sul (0,15%) enquanto a paraplegia, no Nordeste e no Centro-Oeste (0,15%
em ambos). Considerando o sexo, as deficiências atingem mais homens (59% dos casos) que
mulheres.

Direitos – A plena realização dos direitos das pessoas portadoras de deficiências muitas vezes
fica prejudicada pela falta de adaptações em prédios e meios de transporte que permitam realizar
atividades simples como subir um andar ou tomar um ônibus. Rampas, banheiros adaptados e
ônibus de portas largas são algumas facilidades que começam a ser incorporadas por órgãos
públicos e empresas, mas que ainda não são exigidas por uma lei federal.

O projeto de lei 34/99, que tramita no Congresso Nacional, estabelece normas de acessibilidade
a prédios e locais públicos, como escolas, hospitais e praças, parâmetros definidos pela
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Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). O projeto já foi aprovado pela Câmara dos
Deputados e, até outubro de 2000, aguardava avaliação na Comissão de Constituição, Justiça e
Cidadania.

Trabalho – A Constituição de 1988 garante espaço no mercado de trabalho aos portadores de


deficiência e determina que o governo reserve vagas a deficientes por meio dos concursos
públicos. Desde 1991, a lei 8.213 determina que as empresas que possuem de 201 a 500
funcionários devem reservar 3% do quadro de pessoal aos deficientes; já as de 501 a 1.000
funcionários, 4%, e aquelas com mais de 100, 5%.

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