Cidade
Armação. Moradores do Campeche também estão preocupados
Ressaca faz danos
em outras praias
Danilo Duarte
redacao@noticiasdodia.com.br
Nas praias próximas à Armação
do Pântano do Sul, no Sul da Ilha,
em Florianópolis, a tensão entre os
moradores é grande. A preocupa-
ção é que a força das ondas cause
um fenômeno semelhante ao que
ocorre na Armação, onde a ressa-
ca já destruiu mais de uma dezena
de casas e praticamente evacuou a
orla. Segundo os moradores, as on-
das avançaram cerca de cinco me-
tros sobre a areia nos últimos anos.
Entre as praias de Campeche e
Armação do Pântano do Sul, as on-
das fortes destroem casas e constru-
ções há mais de uma semana. Clari-
ce Gomes, 53, mora há 18 anos no
local e conta que os estragos estão
sendo maiores a cada ano. “O terre-
no já diminuiu cinco metros no ano
passado por causa do avanço do
mar e agora tenho medo que isso se
repita”, diz Clarice.
Para tentar conter os prejuízos,
o casal de empresários Danilo Ho-
landa, 47, e Joce Holanda, 45, está
recuando a casa. Pelas contas dele,
o mar já avançou cerca de dez me-
tros nos últimos 25 anos.
Causas.
De acordo com o oceanólogo
Argeu Vanz, da Epagri (Empresa
de Pesquisa Agropecuária e Ex-
tensão Rural de Santa Catarina),
órgão oficial responsável pelo mo-
nitoramento do tempo no Estado,
a interferência humana – como a
construção dos molhes na Barra da
Lagoa e na Armação do Pântano do
Sul – é um dos itens a ser considera-
do como causa da intensificação da
ressaca no Sul da Ilha.“O fenôme-
no de transporte da areia de praia
acontece normalmente e já ocorria,
embora de forma mais lenta do que
agora”, explica.
Outro fator é a repetição com
que os ciclones que atingem o litoral
de Santa Catarina. Neste ano foram
registrados quatro ciclones, metade
deles só neste mês. Um novo ciclo-
ne extratropical age este fim de se-
mana na costa gaúcha, provocando
chuva em Santa Catarina.
O transporte de areia
já ocorria, mais de forma
mais lenta que agora.”
Argeu Franz, oceanólogo
notícias do dia Grande Florianópolis sábado e domingo, 29 e 30 de maio de 2010 3
Editorial.
Drogas: o
consumidor
financia o crime
O
tráfico e o consumo de drogas em Santa Cata-
rina crescem em proporções alarmantes. To-
arquivo pessoal/nd
dos os dias nossos veículos de comunicação
divulgam notícias sobre mortes, roubos, sequestros e as-
sassinatos, e na maioria dos casos a explosão da violência
e da criminalidade têm relação direta com o narcotráfico.
A tragédia das drogas está infiltrada na sociedade, atin-
gindo todas as classes. Já não é um problema das populações
mais pobres, moradores da periferia, dos morros e das favelas.
A droga, indistintamente, contamina também famílias bem-
sucedidas, que habitam bairros nobres e prédios de alto luxo.
Está dentro das casas, nos colégios, nas repartições públicas,
nos clubes e ruas da cidade. Não podemos mais permanecer
calados, como meros espectadores desta dramática situação.
O Grupo RIC quer propor uma reflexão à socieda-
de catarinense. A questão das drogas, apesar de com-
plexa, não é um problema “dos outros”, mas de todos
nós, e cabe à própria sociedade encarar essa verdade de
Antes. Trecho da praia do Campeche há alguns anos, com muro intacto frente. Afinal, se há traficantes e drogas é porque exis-
tem consumidores, e estes são também responsáveis
edu cavalcanti/nd
pela onda de criminalidade, porque financiam o tráfico.
Os poderes públicos, a mídia e as instituições não go-
vernamentais têm se empenhado nos últimos anos em
promover campanhas educativas. O Estado, de sua par-
te, tem travado uma luta sem tréguas contra o crime
organizado. Mas isso não é o bastante. O consumidor
– usuário eventual ou viciado – tem de tomar consciên-
cia de que está ajudando o assassino a puxar o gatilho.
Temos de deixar a hipocrisia de lado: o consumi-
dor de drogas não é apenas vítima, mas também res-
ponsável pelas mortes, corrupção e violência, alimen-
tando uma cadeia sem fim de crimes. A vasta rede de
consumidores financia o poder dos traficantes, fazendo
aumentar as estatísticas policiais. Hoje, 90% dos homi-
cídios cometidos no Brasil estão relacionados ao tráfico.
Depois. No mesmo local, força das ondas já danifica construções na orla As famílias precisam fazer a sua parte, tratando e resgatan-
do a autoestima dos que, infelizmente, se deixam corromper
Barra da Lagoa já foi atingida pelas drogas. Mas cabe papel relevante aos nossos legislado-
res, que devem propor, sim, leis diferenciadas para usuários e
traficantes. Para os traficantes, todos os rigores da lei, aplica-
Técnicos da Defesa Civil ob- mais alto da escala utilizada pelo da exemplarmente. Para os consumidores, igualmente, penas
servam o comportamento do mar sistema de Defesa Civil no muni-
socioeducativas mais rígidas. Hoje, infelizmente, estes são
na Barra da Lagoa, onde a ressaca cípio. No último fim de semana,
já destruiu algumas construções um posto de salva-vidas e parte considerados dependentes e gozam de absoluta tolerância.
à beira do mar. Já na Armação, a de um restaurante também foram É preciso que a sociedade constranja o consumidor,
prefeitura iniciou na sexta-feira a destruídos. a exemplo do que fazem alguns países desenvolvidos,
construção de uma grande barrei- O diretor da Defesa Civil, Máxi- onde os condenados cumprem pena vestindo unifor-
ra de pedras para tentar conter o mo Seleme, embarcou para Brasília me laranja, sejam eles cidadãos comuns ou celebridades.
avanço do mar. em busca de recursos financeiros São penalizados publicamente para servir de exemplo,
Na quinta-feira, a Defesa Civil para tentar conter os estragos na
obrigados a dar a sua parte à sociedade, trabalhando em
da Capital entregou um laudo téc- Ilha. “Estamos fazendo o trabalho
nico sobre a situação que é possível, dentro escolas, creches e entidades sociais. No Brasil, são tra-
na Barra da Lagoa para das limitações que te- tados apenas como doentes, não lhes imputando cul-
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o prefeito Dário Ber- mos”, afirma Leal. pa alguma como corresponsáveis pela criminalidade.
ger. “É preciso agora Na Armação, come- Éprecisoqueoscatarinensesreflitamsobreisso,estimulan-
aguardar a elaboração casas foram çou na sexta-feira a ser do o debate, a reflexão e o aperfeiçoamento da nossa legislação.
de um plano de ação interditadas na erguido um muro de Quem sabe, com estas medidas, em breve tempo a sociedade
emergencial”, explica o Barra da Lagoa; contenção. A obra deve
possa, enfim, sentir que a guerra do tráfico não está perdida.
técnico do órgão, Mar-
cos Leal. 5
delas foram
durar três meses e con-
sumir R$ 12 milhões.
Segundo Leal, há Os caminhões com to-
12 casas interditadas enquadradas pela neladas de pedras for-
na Barra da Lagoa, cin- Defesa Civil com mam filas no acesso ao
co delas em risco 4, o risco máximo. balneário.