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A interiorizacao da metrépole e outros estudos Maria Odila Leite da Silva Dias 2 Pameda copight © 2008 Sénin Oss Lee da ie ico: Joss Mestsson (cap: Claas Boras Me apie: Clos Vilacuel Revs: Nel Lis Boo Proje gates €dingiaiop Tatas Mletehol ‘Danseaundansi cacao ne PblotET) (Cinmatetinda nat) eM esrane map conrosetades/Mai2O8ls Laid Shasbas Sto ado: Abt, 25 Boston Tsay Hb e28.0802 | bil rin —ainaigea 2, inns Peg. er baad: Misriogra - 9840072 | lanes “Todos os dcctos deca eg reteiados 8 | [ALAMEDA CASA EDITORIAL Ru Tena, 194,631 ~Perdines | (CEP osn21-010 ~ Sto Paulo ~ SP ‘Ta (11) 3862-0850 | somvalamedseditorialcom br Indice A interiori cdo da metrépole Aspectos da ilustracdo no Brasil Ideologia liberal e construgto do Estado Bibliografia. 39 127 151 A interiorizagao da metrépole* Ao tentar uma apreciagfo suméia do estigio atual da his- toriogeatia brasileita sobre a “independéncia’, desejamos relem- brar e enfatizar certas balizas jd bem fandamentadas por nossos bistoriadotes ¢ que dizem respeito a certos tragos especiticos e peculiares do processo hist6rico brasileiro da primeira metade do século XIX, 0 principal dos quais € a continuidade do proces- s0 de transiga0 da colénia para o Impéric, Ressalte-se em segui- cao fato de a “independencis’ isto , © processo da separagio politica da metr6pole (1822), ndo ter coincidide com 0 da con- solidagdo da unidade nacional (1840-1850),' nem ter sido mar ‘cada por un movimento propriamente nacionslista ou revolu- clondrio, e nos confrontamos coma conveniéncia de desvincular o estudo do precesso de formecio da nacionalidade brasileira no correr das primeiras décadas do séeulo XIX da imagem tradicional 4a colonia ort kuta contra a metripole. No estégio dos estudos em ve nos encontcames, seria esta, sem dhivida, uma atitude sabia € proficua a desvendar novos hozizentes de pesquisa’ ~ 0 que * Etc tec fo publicade ple priser ver cone en capt do lero 1822 — Dimnsteroigan.ado por Cielox Gusher Mota (Sto Poul, Perspect, (973 ¥ Montero, bis. Hunorin do Inpaio(A sleboreg ds Independencia, Bio de Innase:F Bg 8 Ci 1927, pe-5 «46 2 Colo Pengo finior procarow demons ofa de» Tndependnla em i nso consult objetivo deesugo pots bisteradar, sends antes ead de “um onsisn ecsional de forgs qe esto lage, ods ns de tender ed il 10 remente no implicaria excluir 0 processo brasileico do comtexto mai Lismas hist6ricos de socied Jos muitos par 4s coloniais em busca de uma identidade propria. As dicetrizes fandamentais de atual historiogralia da emanci- palo politica do Brasil fos Jaanios, Farmagao do Brasil cestuda a finalidade mezeantil da colonizaglo portuguesa, 4 sua te produtors e fiscal, 08 fatores geogrsticos de dispersio e fragmentagio do poder ¢ a consequente fats de tvexo moral que caracteria o tipo de sociedade existente no final do século XVII e infcio do XIX; contradigSes e conflitossociis intemnos sem condigbes de gear forgas autonomas capazes de crist tangadas aa obra de Caio Prado contemporinea (1948), em que o autor organizagao meram ‘uma conscigncia nacional e um desenvolvimento revolucionsrio apto a reorganizar ¢ sociedade e a constitui-la em naglo? O mes~ ‘mo autor, ntim pequeno ensaio, “Tamoio ¢ a politica dos Andra~ das" analisa as graves e profundas tensdes sociais que vieram & tona quando a revolusao liberal do Porto fer difundir na coldnia as aspiragdes de liberalismo constitucional, suscitando desordens eum sentimento generalizado de inseguranga social ¢ acarretendo de imediato a reagdo conservadora, caractetistica principal dos Dor par see fin. (Pree Jia, Cae, Formate do Basi canieporineo ko Palo Brains, 1987: 9.56) “pel prdpianitucea de wet] erase, fo padetiamos ter outa cos ras Jord formas nego ns fsa da Barop, um simples forsee se oduos napus prs sea comer. A socdade colonial cs inxpa de fere fe 1 bas 05fundamenios para constur-se em naionabsde oreinia. No (Soka com que satafazr at accenicadsSnteras ¢ cotrentes dea poptlao (Que ede cutis come fin em tren, sed apenas um mecaixo, ns 7orie Sea cana copminado produroracatinac = aenéer as demandas do come tip ewopew (rade Hi, Cio, op. ct 1957, p20 4 Pra ning, Calo Blue ple do Broa cours este, Sto Palo Brien, 1963 pas A tneioritagte da seat autor etude mens de ideais cor puiar unidos a Por os pre poli rucionalistas, parecia tugal, pois viana na menarquia dual os logos que iam & civiizagio européia, fonte de seus valores cosmo- 0% as der io e progresso. A separagio, provocada pelas cortes revolucionérias de Lisboa, principiou a conotag30 rencio~ naria de contra-revol oe a marca do partido absolutisa” ‘A continuidade da transis3o no plano das instituigdes ¢ da estrutura sociale ezondmica também foi considerada por Sérgio Buatque de Holanda em seu estude sobre “A heranga colonial — sua desagregagio", em que analisa as transagdes os compromis- $08 com a estrutura colonial na forniago do Imnpésio americe- nos Algumas dretties indicadas por Caio Prado Finior foram claboradas por Emilia Viotti da Costa em seu trabalho “Intra- dugdo a0 estudo da emancipagao politics’, no qual a autora tam- bém analisa as contradigbes da politica liberal de D. Joto ea pressio dos comerciantes portugueses prejudicados comn a aber~ tara dos portos e a concorténcia inglesa forgando © monarca a adotar medidas protecionistas e mercantilistas destinadas a pro- teger seus interesses” Atribuem-se os germes da separacto 20 conflto de interesses entre as classes agrétias, nativistas de ten- 5 Monte, Tbis op. cit, 1927, p48 eA 6 Holanda tego Buacque de A beans colonial ~ rua detageeacto In: Kola, Stgio Buarque de (Gig) tina de cnzaas bra, S80 Pas: Dif, 1902 cubs pS 17 Costa, Ef Vit de. Inzodusdo so etd ds emaneipato plies. In: Mot, {Carlos Gsherme (Org) 0 Basler perp Sto Pal: Dif IK. p. 73 A ‘mesma autora em otc tobahor,sprofundow o estado do papel deepens por fost nico, analuando a contradiaes de sua mentaiade de sale tropeu e american # 0 chogue dx visto de etdias com 3 cidade conceta tc objetva deus tra (cf. Cost, Elia Vat da. Mtoe hii tx: Anais do Maen Pauli, Sto Pasi, XX, 1967, 286), 10 Maca Oda Use dose Dias dencia protecionista e aos privilégios de monopéli. © problema inerente 20 amadurecimento do capitalisme industrial na Inglaterra € de ambito amplo e define 0 quatro geral das transformagées do mundo ocidental nesse periodo. A lta entre os interesses mercantilistas ¢ 0 iberalismo econémica se processatia de forma intensiva na Inglaterra de 1815 a 1846, afetando drasticamente a politica de todos os paises coloniais iretamente relacionados com a expansto do Império britinico do coméreio livre. Nao atingiu nenhuma area tio diretamente como as Antilhas, eo tema foi magistralmente estudado por Erie ‘Williams em seu livro Capitalism and Slavery (Londres, 1946). Foi o pretexto para a funda¢ao de um novo Império portugués no Braslsteve evidentes reflexos na politica econémica eno pro- cesso de separagio de Portugal. A historiografis da época ja defi- niu bem as pressBes externas ¢ 0 quuadro internacional de que provém as grandes forsas de transformagbes. Resta estudar o ‘modo como afeta as lasses dominantes da colbnia € os mecanis- ‘mos internos inerentes ao processo de formagio da nacionalida- de brasileira. Ao perder © papel de intermediérios do comércio do Brasil, restava 20s comerciances portugueses unir-se&s gian- des familias rurais ¢ aos interesses da produgdo. Estes nem sem- pre estavam separados das atividades de comércio e transporte, como se corstata no caso do Barto de Iguape em So Paulo’ A eral ¢ 0s comerciantes portugueses apegados a politica 10 do trafico tenderia, a seu turno, a pressio inglesa pela abol levantar a hostilidade dos interesses agrérios contra o poder cen: 1 Peron, Maria Thereta Shores, Um comerioate éo clo do agi pai [Antonio , rad (181-1829), Revit de Hire, vAKVI, 273,198, pt SRV 76, 19S, pS; « VIRRINL 7B, 1869, p22. ‘tering da menopoe €auioe exudes 11 tral, Assoclar esqueraticamente os interesses das classes agrérias brasileiras com as do imperilismo ingles seria, pois, simplificar tum quadro por demais complexo. ‘Apesar de estarem bem definidas suas dizetrizes fandamen- tais, nossa historiografia, a0 descortinar © processo siti generis de transigao do Brasil colonial para o Impétio, ainda nao se des cartou completamente de certos vicios de interpretagio provo: «cados por enfoques europeizanies, que distorcem 0 processo bra- sileizo entre os quais avulta 0 da imagem de Roustesu do colono quebrando os grilhaes do jugo da mettépole; ow da identifica 520 com o liberalismo e 0 nacionalismo préprios da grande ve- ‘volugao burguesa na Europa. Emilia Viotti opée restalvas a esses conceitos, mas as contradigées ainds estio para ser explicitadas.? Durante muito tempo, ressentiu-se o estudo da nossa eman- cipagdo politica do erro advindo da suposta consciéncia nacio: nal a que muitos procuravam atribuir. O modelo da indepen- déncia dos Estados Unidos fascinava os contemporineos ¢ continua de certa forma a iludir a perspective dos historiadores atuais, Sérgio Buarque de Holanda refere-se mais objetivamente as Iutas da “independéncia” como uma guerra civil entze porta- gueses desencadenda aqui pela Revalusio do Porto, e nfo por lum processo autonome de arregimentagio dos natives visando a teivindicagoes comuns contra a metrépole. O fato da separa- «do do reino em 1822 nio teria tanta importincia na evolugio da colénie para Império, Jé eta fato consumaclo desde 1808 com a vinda de Corte e a abertura dos portas e por motivo vontade da colénia ou da metrépole 9 Cont, Ens Vie 4, op it, 968 10 Holanda, Sérgio Baacgue de op ct 3862, ps nilent ccaaumplano muito geral; contribuie deci imagem da squecimento processo interno de ajustamento as mesmas pressbes, que € 0 de enraiznmento de interesses portugueses ¢ sobretudo 0 processo de interiorizagao da metrépole no centro-sul da colonia. Q fato & que ® col ia em luta contea a metrdpole, de! consumagio formal da separagio politica foi provocada pelas dissidenctas internas de Portugal, expressas no programa dos re- ‘yluciondtios liberais do Porto € ndo aftaris © processo brasiei- 10 ji desencedeado coma a vinda da Corte em 1808. ‘Avinda dh Corte para o Brasil ea opsio de fundar um novo Império nos tr6picos jésignificaram por si uma ruptura interna nos setores politicos do velho reino, Os conflites advindos das cisbese do parti cess iriam se acentuando com 0 Ps jsmo interno do reino desde a Revoluga0 Fran- tear das divergéncias entre pportugueses do reino e portugueses da nova Corte. Com o tem ‘po a dissidéncia doméstica tenderia« intensificar-se:" O impor- tante é integré-la como tal no jogo de fatores e pressbes da época sem confundi-la com uma luta brasileira nativista da colonia int Tr =O conn busts oa Corte do Ro de Tansto df tesemunho sgestivo = reipete da deposi do Cande da Bec, insta de D, oto VI a ee csp (in 181, Mostrandesthe cela ve seonvenincla de menosprezar Portagl, {Tonce podria real a sn sepia oie o eral am cespstaacharse@ ovens prepnado para esa cventusidade, que slit noo ssustave, pos de to pedo rounciari e Eavopaetrnarseiscnercane." (Monti, Tobias ok 17, p22) Yee também Ole Lis, Manuel 6-0, ate Wo Ds Ro ee lane: fee Cympi 9¢5. wll p 3020 sbstrato contra a metropole, © que nos levaria de volta dist dos mitos, A historia da em 140 politica do Brasil te ver, no que se refere estritamente & separagio politica da Mie Paria, 1m os conflites internas ¥ domésticos do reino, provo- cados pelo impacto da Revolus30 1cesa, tendo mesmo ficads associado a Juta civil que se trava ento en Iiberais ea resisténcia de uma estrutura arcaica e feudal contra as inovagées que a nova Corte do Rio tentaria impor a0 reino, Os sactificios ¢ as alligdes da invasio francesa, a repressio violenta de qualquer mudanga alimentada pelo clima da pré- pria guerra contra Napoleio, o temor das agitagbes jacobinas contribuiram, pois, para despertar citimes e tensbes entre portu- gueses do reino e portugueses da nova Corte, Em Portugal, a devastacio ea miséria da guerra, agravada pela presséo da anti- ‘ga nobreza, foram ainda mais acentuadas pelo tratado de 1810 aque nfo 6 reirava qualquer esperariga de reviver 0 antigo co mércia intermediério de produtos coloniais exercido pelos comerciantes dos portes portugueses, como também prejudica- va 0 processo incipiente de industializagto defendido por ho- ‘mens como Acircio das Neves e por “brasieiros” como Hipélito da Costa." A fome generalizada, & caréncia de géneros alimenti- cios, A desorganizagio da producto de vinho e azeite, somava-se a paralisagio dos portos, de inicio fechades por Junot e depois desvitalizados e sem movimento por causa dessetratado de 1810 as novas tendéncias Para Pereira da Silva, que escreven sabre esse periodo, ndo erari 1B Verartige de Hiptte da Costs sobre a indusniangio de Poregal ne Ceteio Draiene de junho e agosto de 1816, Macedo, Jorge Borges de, Probers de Inia te Indastria portuguese no sevlo XVIE. Lisboa: Queco, 1963; Sere Tous A indstr portuerse eon 1820. Duin dErdeshicrigus, Lsbos 1953. M4 Maris Oda Leeda Sts Dias menores os males de Portugal que os da Espanha, a que se refere sugestivamente como “mais um cadaver que ums nagio vive” ‘Ante a miséria desse perfodo de crise e de extrema decadéncia, confrontava-se 0 reino com a relativa prosperidade € otimismo de perspectivas que se abriam entdo para 0 Brasil Dom Rodrigo de Souza Coutinho tinha © novo Império do Brasil como a tébua de salvagao do reino; acreditava poder reequilibrat a vida econdmica de Portugal por meio de uma politica ‘econdmica paramente comercial efinanceira, Revitalizada a circu lacio da moeda e com bons rendimentos alfandegétios, o reino teria condigdes de se refazer, pois contatia com os auxslos prove nientes da prosperiade do Brasil." Seria vital porém, reanimar a agricultura de Portugal, ¢, para isso, percebia a necessidade de modemnizar a estratura socal e econémica do reino, no que talvez cedesse em parte & pressio dos ingleses, convencidot da invia- bilidade de Portugal, easo no se procedesse a algumas reformas da estratura arcaica do sistema de propriedades fundidrias, para o aque sugeriam que se convocassem novamente as antigas cortes. © Principe Regente opds-se decididamente & presdo inglesa pela reconvocasio das cartes, mas endossou # necessidade de mo- Parca da iv, JoB0 Masel, Hiri de fundojto de Iptrio basil. Pai (Garnier, 18641868. wll, p26, “Atelda pela Invaio anterior dos tes anon Climumuido de recursos com a perds G0 comércioe monopdlios do Braids Jo de popula gue le saneatam ae guess 6 erage para « Aric, em rot inst, bias tanagiesmeeanis, altetado ainda por impocos anticins que ie egotaram i ecuson do Pesete€ CHQPEeTRe © PEM, fummedo sob'a avtorinde de repos, que a80 respetavam Ih nem pesons © roprieddes de audios: eds n cali «9 conguit; que nage iguslava fm someon 1A Bepresemagte evervainina de D. Rodrigo de Sous Coutinho a6 Principe Regene det dedevenbeo de 2810 (Peete ds SL, Jao Mansel op et, 1854 1065, wl, 326 wilh p85 p36) ‘Aintorrinage ds metrpele eoetoe eigen 35 demizagio da estraturaecondmicae social do reino, pis a pros- peridade do novo Império naseente no poderia arear sozinha com as enormes despesas que requeria a reconstrugio da antiga metrdpole. A Corte ndo hesitaria em sobrecarregar as provincias do norte do Brasil de despesas que viriam acentuar as caracterist cas regionais de disperséo; mas, como esses recursos no basta vam, prefer introdusie eformas econémicas¢ socais no veina a fim de evita sobrecarzegar @ Corte que comesava a enraizar-se no estretamento de seus lags de integragdo no Centro-Sul Durante a ocupardo francesa, recorreram a impostos extea- ordinarios e a subscrigdes voluntérias para financiae a Iuta. ‘Também ordenaram a emissio indiscriminada, © que acarreton a desvalorizagio da moeds do reino em relagao a da nova Corte, tendo como conseqincia o movimento crescente de evasto da smoeda para 0 novo Império™ Terminada a guerra, ela no que- xia continuar a cobrar impostos demasiados sobre as capitanias do norte do Brasil, pois js eram grandes as despesesexigidns pelo fancionalismo e pelos membros da nova Corte, sem contar as espesas com as guerras éa Guiana e do Prata. De onde o Princi pe Regente defini para 6 reino uma politica regalista de refor saat modesnizadosse!”? Ele pretendia lancar mio da venda de bens da Igreja ¢ da Corea no prépriereino, Reformar resquicios antiquados de con 15 Them, wll, ps 16 idem», pe 1 Sebee spots tei dD joto V1 0 inientes como Vien, vr Pers dh Si, Joe Manuel, ope, 19641968 Ill, p259, 2568, Ver tambn Psa, Dams. Mies de Praga Boz: Prenat, St 128 Ai, Fortin de Hinsia de Pongal. Coir: edge o auton, 22-1929, 81, WV eV Iinbuigie feudal, nagar novas impostos or tos e maisaptos a dinaniizar aeconomia age bens da Co: a de Coimbra, as capelas ¢ sobretudo injstativo das lez(ias, terras incul- 10s, vendendo e cobrando as décimas e as sisas acabar com o tas a0 longo dos das vendas, 0 -concorreria para multiplicar o nimero de pro- priedades e pera aumentar a produtividade, impedindo exten- soes de tertas nlo-cultivadas.’ Contra a politica do Principe Regente,ressurgiam os stores mais conservadores do reino que, afetrados 20s seus ditltos anti para dificultar ainda mais a devastaeio causada pela guerra na vida econdmica do pafs. Ap6s 0 fim da uta, € con trariamente as ordens recebidas da nova Corte, 2 regtncia do rei- zo, ligada por Lagos de parentescos e interesses a setores da nobre: za agritia 20 clero, quis fazer continuar o sistema de impostos extraordinarios, que recaia sobre comerciantes efuncionarios da «cidade, principalmente de Lisboa e do Porto2® A pressio inglesa e 4 politica comercial da nova Corte fariam, entretanto, que esta também nto pudesse contar com os stores mais progreststas do reino, interessados come estavam em medidas protecionistas, nos esforgos de industralizagdo ou em reconquistar antigos privilgi- cs mereantlistas do comércio com a mettépole:* gos, contribut TB Sibert, Abert Us Purgel meitrranden le fin de Pace Regine = XVI = it di IE sacle. Psi Seven, 166 19 Paeice de Si, foo Manuel op it HSU, vl p61, 15-7, 26828003 2 idem, p70 21. Pieira Santen, Fernando, Geografe economia de Revupde de 142. Lisbos TBuoprmésc, 1962 Sider, Sandro. Trade and Power (formal Gna in “Anal Pertsuce Relations). Rotesamy: Ratedam Uaivesty Press, 1870 As tensoes internas ¢ inerentes ae processo de reconstrugao ¢ agno de Port Vitiam, pois, ex definie cada JivergEncias de interesses com os portugueses no Bra- Corte, dedicada & consolidagao de um Imy deveria servir de baluarte do a levara bom termo'asreformas moderadas de liberaizagio sil, A nov tio no Brasil, qu gui € reconstrugio que se propds executar no Reino, aumentando as solutismo, ndo conse- tensies que vio culminar na Revolugio do Porto, Consumada a separacio politica, que aceitaram mas que de inicio nao quiseram, ndo pareciam brilhantes para os homens da geragdo da independéncis as perspectivas da colonia para transformar-se em nagio e sobretudo em uma nagao moderna com base no principio liberal do regime constitucionalista. O: politicos da epoca eram bem conscientes da inseguranca das ten- s0es internas, sociais, raciais, da fragmentagio, dos regionalis- sos, da fila de unidade que nao dera mazgem 20 aparecimento deuma conscitncia nacional capaz de dar forga a um movimento revolucionério disposto a reconstruir a sociedade. Nao falta- vam manifestagbes exeltadas de nativismo e pressbes bem defini- das de interesses localistas. No entanto, a consciéncia propri mente “nacional” viria pela integracao das diversas provincias seria ums imposieio da nova Corte no Rio de Janeiro (1840- 1850) conseguida a duras penas por meio da luta pela centraliza- so do poder e da “vontade de ser brasileiros"#* que foi talver, uma das prineipais forgas politicas modeladoras do Tinpério; Yontade de se constituir e de sobreviver como nagdo civilizada 2 Sout, Anion Candida de Malo e, Formate da iteature bates (momentos, lex) 2d So Palo: Livia Martin, 296, ‘européia nos trépicos, apesar da sociedade escravocrata e mesti- «2 da colénia, manifestada pelos portugueses enraizados no Cen tro-Sul ¢ que tomaram a si 2 missio de reorganizar um novo Império portugues.” A dispersio e fragmentacio do poter, so- mada a fraqueza ¢ instabilidade das classes dominantes, requeria «imagem de um Estado forte que a nova Corte parecia oferecer* As condigdes, enfin, que oferecia a sociedade colonial nto eram aptas a fomentar movimentos de liberagio de cunho pro- priamente nacionalista no sentido burgués do século XIX. Desde 4 vinda de D. JoXo VI, portugueses, europeus ¢ nativos europe- zados combinavam forgas de miituo apoio, armavam-se, éespen- diam grandes somas com sparelhamento policial e militar sob 6 pretexto do perigo da infltragdo de ideiasjacobinas pela Amé- BF 0 Conde de Palmela, pein deter estado operas tranitoriemente a Rio de Inna, define exraosianamete bom 9 porto de ia dot porpsees qe te ‘enmaininm no Bea, que esis, © mesmo dos dustrados bres, ul mente europecs Em crt pare s sue mulher eomentavs Palel: Tale gente ‘rane, leo, boas excada, enfin, filam mus eoias que tempe der, mas oft, como em Lshose seus sedans, gus e verdurs, pot memo nets fag» pie tamer fuse aga th vece ema na Inpstere” (Carano, Mari “Anis Vat. Vide do Dique de Palmela D. Prve de Souse¢ Hels, Lishos: Insprenss Nacicnal, 18981008 1, 7371-2). Mads man sugested isso Sos omen qoeformaram a naclonalidise base €o que ete cach ssa Paul Feraes de Casto, em "A experience zepubieans (1831-184 poles da rgtnciae em partclar 9 tipo de gorecno forte ecettlzado de Jose Bonito, Beart ds Veiga, aaclisna Coutinho, bgads aoe inerevies do ago. Rese aru inadres seb beri meio pralistae, xpi, or expla no item sbre a “provincia metrpoltns” na constiticoelber fa paos consptadorts de Pouse Alegre O aor fr cnteono dese tent ‘om pusameniarimo dos betes de ete no enor de Ri d Jane O 5 com o tradcioslime loci (cl, Caste, Paulo Bercce de A experiencia repuiicns (1651-1640). oe Holand, Sérgio Banrque de (Ore) Hesse da ‘rice tase, So Pre: Dil, 1964, ev, pl) 25 Paes de Suva, Joke Meus, op. ee, LEE 1865, vl, p40; Vil 36,52, 17 A totedouzgio da metcopoee ouios estos 18 rica espanhola ou pelos refugiados europeus. Inseguros de seu status dehiomens cvilizados em meio selvegeria eo primitivisio da sociedade colonial, procuravam de todo modo resguardar-se das foreas de desequilforio interno, A sociedade que se formara no corre de ts séculos de colonizagio na tinha alternativa 30 findar do século XVIM sento transformar-se em metrdpole, a fim demanter a continuidede de sua estrutura poltic, administati- va, econémica ¢ socal. Foi o que os acontecimentos europeus, a pressio inglesa ea vinda da Corte tornaram possfvel A vinda da Corte com 0 enraizamento do Estado perta- guts no Centro-Sul daria inicio & transformagio da colonia em metrépole interiorizada, Seria esta a dnica solugao accitével para as classes dominantes em meio A inseguranga que Ihes ins- piravam as contradicces da sociedade colonial, agravadas pela agitagdes do constitucionalismo portugues e pela fermentagao mais generalizads no mundo inteiro na época, que a Santa Allanga ¢ a ideologia da contra-revolugio na Europa nto che- gavam a dominar, Pode-se dizer que esse processo, que parte do Rio de Janeiro e do Centzo-Sul, somente se consolidaria com a centralizagio politica realizada por homens como Caxias, Bernardo de Vasconcelos, Viseonde do Urugusi, consumando. se politicamente com 0 Marqués de Parané e 0 Ministério da Conciliagao (1853-1856) Ainda esto por ser estudados mais a fundo 0 proceso de cenraizamento da metz6pole na colonia, pri or genizagdo do comérclo de abastecimento do Rio de enciro ¢ consequente integrasao do Centro-Sal; as inter-elagSies de inte- cipalmente esses comerciais e agritios, os casamentos em familias lacais, os investimentos em obra tropas e muares do piiblicas e em terras ou no comércio de negécio de charque 10 Maa Osa Lite a Sha Das do ¢ marcado pela buroctacia da Corte, os privilégios adninistratiy 16 é 9 tema recorrente nes caztas de Luiz dos Santos Mar- volta da Corte & 3s ¢ @ nepotisme do roves, que atribuia a continua postergzet0 4 1s de privilégios de cones. piessdo de interesses pé ses em obras publicas. Em suas catlas, constatava com desini- ticulares 4 imo os enarmes investimentos locals que faziam os principais homens de negécios da Corte demoustcando sua intencio de permanecer no pais. Em arta de marco e maio de 1814, atribuia fo atraso da volta da Corte para Portugal & construcao do Palécio Ga Ajuda, Referia-se a“letargo e siléncio’, ses particulares.®” A volta nao se daria the cedo: sae encobriam interes= io & porque creseem aguas obras de melhor acomodaqto to sei se expressbes de auto adies, que favem recear uma mui prolongada permanéacia nesse furura, mash cousas particule lima. Por todas es repattigbes elesésticas,civise militares hd estas apartncias(P-188) As construgées no paravam: refere-se, em sua correspon= as reformas do arsenal da mrinha (p.215), a um palicio no sitio de Andarai para D. Carlota residir (p.216), a um au mento no paléeio de So Crist6vao para 0 verdio da familia real GF Waconde do Rio Seco Expongto ancl ¢jstiiativa da condita e vide publics do Visconde do Ris Seo. Rio de nec, 1821 Vee Arguiv do Mise lmperia 8 esa tadiso de Gependtncia do poder rea) em Ports ver ‘srt em Ratton, came Recordays. Loder: H. Bye, 1B. 27 Maroces, Lie Jsguim dos Santos. Cactus de Lat Joaquin dos Santos Marro= oo cuit a fai em Lb, de 1811 2 1821, Ari ioe Nasional, 1934, 656, pIBbs9. A tntvoriucto a mstropale € oaton uses 21 de 1815) £0, jutho e novembro (p.222, dda Ponte do Caju que consvimitia 7; |, a0 paldcio de Santa Cruz para as jornadas de 2.um palicio novo no sitio rnillsbes (p.232); em feverei- ro de 1816, a um picadeito novo que consumitia cinquenta mi- hoes ca uma cadeia nova “c 1) dinheiro arreeadado num dia de Beneticio do teatro da Corte"(p 260) Loterias e subscrigbes voluntarias atestavam os interesses de cenraizar a Corte, “Ha muitas € muitas obras, mas so daquelss, dea promover 0 boato de persistitmos aqui eternamente’,escrevia cm earta de dezembro de 1814 (p.220). Também interessantes so as suas referéncias aos investimentos particulares das princi- pais fortunas da Corte. Em novembro de 1812, conta do soberbo palécio no Lago dos “Siganos" que construia José Joaquim de Azevedo, logo Ba- ‘Ho do Rio Seco; em agosto de 1813 0 mesmo “capitalista” cons- truia um segundo palicio no sitio de Mataporcos, iguelmente faustoso (p.154). Refere-se aos interesses de Fernando Carnei- 10 Leto na real loteria do teatro Sao Jogo (p.50 n.) eas proprie~ dades luxuosas de alguns ministros; por exemplo, a aquisicio pelo Conde da Barca de duas casas por 45 mil cruzados, onde “vai fazer a sua habitacio’, acrescentava com evidente desagra do 0 bibliotecério de D. Joao VE, que nao via @ hora de retornar a Portugal 1s pseudo-brasileiros, vulgo janeirista, se servem pare “Marrocos fornece algumas pistas curiosas sobre o enrai- zamento dos interesses portugueses no Brasil ndo s6 em constru- bes de luxo, mas também e, sobretudo, na compra de terras eno estabelecimento de firmas de negécios: “Jost Egidio Alvarez de Almeida 1é vai para o Rio Grande ver e arranjar uma grande farenda que comprou por 63 mil cruzados e ali estabelecer uma 22 Masi Oda Late da Sita Di {rica de couros de sociedade com Antonio de Aratjo ~ minis- {10 de D, Jofo VI, Conde da Barca’ “Também continua pendenteo estudo mais especifico do regi- onalismo e das relagBes da Corte com as provincias do Noxte © Nordeste, em que se defina claramente a continuidade com a es- trutura politica e administrative da colbnia. Come metr6pole interiorizada, a corte do Rio de Janeiro langou 0s fundamentos do novo Império portugues chamando asi o controle ea exploragio das outras “colbnas” do continente, como o Nordest.” ‘Nao obstante a elevagdo a Reino Unido, 0 surto de reformas {que marca o periodo joanino vise & reorganizasso da metrépole na colénia e equivale, de resto, no que diz respeito as demais capitanias, apenas a um recrudescimento dos processos de colo- nizagio portuguesa do século enterior:® 1H Cana de fever de 18, op p85. Ver tomb oTevarsrent dos bens Saausios plo Conde dor Arco em Montel, Tobin, op. ct, 2927, 2244 26 Sueno ds selaghes ene antige metSpsle, 9 ova Corte do Ria de Tako € fr demiseapanas do Br sia divin de meceado ence» fic x) de tomers do reine e a nov abi de pSvortinsalads no Ro Perea de Sia, Tose Manud op. lt 184-186, vl), p51). Feavam rsrvados exelasnome te pats fibrin de to o mercado eonsumdores de Pernambuce Bis $0 Tonio, Kio Geende do Su as Poros conta de Aen © propes Corte A lores do reino 96 podens vender para Acore, Maéei, Porto Sono, Verde eno eotinene amecene gas 0 Marah, Par e Cents (esta de 22 de Jutbo do It, vil, p34) ambi rve da eoriniade de police fel € Oo fta de a coe lant navor isposs sobre ax provincia de Norte desados So cuncio de seu foncionslis0 ¢ de obvas pales, como sris © e0 €0 “Smnento de impesto de experiago de agen, tbaco,lgadto, costes es, {eit p38). Em uo de JEL, quendo etorou neces leontar wma eont ‘igo de 120 il reads psn naar 3 reconsracio do reno, anev4 Cone Ttevou or nec lmpotos bre as province do Norte a Baba contre fis com sessenta rll erussder por an6. Pernambuco com quarente mil € Marek com vn ni ects oes de 26 de abode 1811, T9285). sirens para Lisboa ou pa © Rio de se de Brio Ago, Membua sabre 0 esa eee Nach 43 -,p, 10 Semelnantes 2 foto de a5 Taner. Ver Vetconedos, atic Teleciment do Impéio de Bes nas Bi A smteiorzagia ds metépole eoutoretidon 28 ‘Umestudo maisaprofundado do mecanisme inerente a8 clas- ses dominantes no Brasil colonial seria um grande passo no este= Go atwal da historiografia da “independéncia’. Visia certemente esclarecer de forma mais especticae sistemética a reativa conti- ruidade das instituigBes que caractriza a transigfo para o Im pétio. Quando se aprofundar o estudo do predominio social do comerciantee das intimas interdependéncias entre interesses t= rais, comerciais e administrativos,estaré aberto 0 caminho para 8 compreensio do processo moderedo de nossa emancipacie politica. A instabilidade crénica da economia colonial gerava mecanismos sociis de acomoda¢io, tas como a conseqiente ¢ relativa “Auider” e “mobilidade” das classes dominantes, servin- do como forga neutralizadora pare abafae divergéncive e impe- dir manifestagdes de descontentamento que multiplicassem i confidéncias ¢ revoltas. {A propria estrutura social, com 0 abismo existente entre ‘uma minora privlegiada eo resto da populacio, polarzatia as forcas politics, mantenco unidos os interesss das classes domi- nantes O sentimento de inseguranca social eo “haitianisme”, ox seja, 0 pavor de uma insurreigho de eseravos ow mestigas como a {que se deta no Haiti en 1794, auto deven ser subestimadas como tragos tipicos da mentalidade da época, reflexos esteeotipados da jdeologia conservadora e da conte2-revolucio europtia." Eles agiram como forga politica catalisadora¢ tiveram wm papel d éisivo no momento em que regionalismos e diversidades de inte- resses poderiam ter dividido as 1 Matoeor, Es Tonquin dos S08 0p. bre revs negeas ma Babi, CE Marin te Brat. shen Ofcinas Gries da "AR. 1056 Ver Cats do Corde fos acieco de Roc, O ina vee 1932 pAb 24 Mann Oa Late oo Sova Dias ido, sio sugestivas as considera Ses eas inquieta- ss décadas do seculo XIX sobre se transfor- bes dos homens das duas as perspectives que poderia oferecer a coléni pa ‘mar em nagdo, Para alguns wtdpicos e soxadores, tudo eviden temente parecia poss J, Mas, no geral, homens de animo mais ponderado, dotados de um senso arguto da realidade do meio para o qual se voltavam com opinives politicas conservadoras, confoime requeriam a épaca € 0 meio, expressavam mil insegu- rangas ¢ um profundo pessimismo, arraigado no sentimento ge- neralizado de inseguranca social e de pavor da populaglo escra~ va ou mestica:” metal heterogines. Como brancos, mulatos, pretos livres € &8- cravos, Indios, etc. ee, em um corpo sdlido e politica” (escrevia José Boniicio ems 1813 para D. Domingos de Souza Coutinho)? Sob o impacto das agitagbes constitucionalistas da revoli- do liberal que viera ferventar as contradigoes intesnas da socie- dade colonial, Siecra y Mariscal, em 1823, calculava que dentro de trés anos a “Taga branca acabard 3s miios de outras castas € a provincia da Bahia desaparecera para o mundo civilizado™” Grande foi a apreensio quando a Revolugio do Porto ¢ ¢ volta de D. Jodo VE para o velho reino puseraun em perigo a conti- nuagio do poder real e do novo Estado portugués no Centro-Sul, ‘que 0s interesses enraizados em torno da Corte queriam preser~ var Além disso, grande era a falta de seguranca social que sentiam, as classes dominantes em qualquer ponto da ccldnia;ineegurangs amalgamagio muito dificil serd a liga de tanto BE Dowumnenao sie a cortepondnes de José Bonito (110-1820, Revie de Hide, wXXVI, 35, 196, p26. Tatas do irate de D, Rodrig de Soura Costnk. 2 Siew y Maciel, eanceo de, ia tobe 3 Reroute Beale is ense- quencias Ani ds Bloers Nason AS, pS. m relagio & proporo exagerada proprietdtia e uma maioria de deser ‘uma minoria branca e egados, pobres e mestizos, is do que a populacao escrava, A raranga do desnivel social somava gue p jam anquieté-los m: ses problemas advindos ca diversidade étnica de que portagueses ou nativos entaizados, cram muito conscientes: “em Portugal ¢ no Brasil os homens de sense conhecem qua, deslocando-se o poder real, 0 Brasil se perde pata o mundo civilizado e Portugal perde a sua independéncia'™ Verdade é que Sierra y Mariscal apegava-se a uma ordem de coisas que a infitragio do contrabando inglés na colonia ea marginalizagio econdmica e politica de Portugal no correr do século XVIII jf vieram desmentir* Nao obstante a Corte e a administrago portuguesa, a monarquia e o poder real, 0 mito da autoridade central pareceria sempre uma Ancora de salvagio e seguranca, “por isso & que o governo deve ter molas muito mais fortes que em qualquer outra parte, A educagio, 0 cima, a es- ceaviddo sio justamente a causa desta fatalidade’ Horace Sée, que veio ao Brasil em 1816, testemunha a falta de unidade comunicagdo entre as diferentes possessdes ports guesas no continente americano.” Dez anos mais tarde, em ple- Be Them, 753, 25. Seize + margnsiaga de Portal nos scuoe XVI eX er Manchest, Alan X Brit Precminece Braz Mi Univesity of North Carolina Pes 193% Sin, Stale ¢ Stem, Rarara The Colnal Hentege of Lain Amen (bay on ‘Esonomic Dependence in Perpcive). New York: Oxferd University Pree, 1970 ‘Boer, Charlee The Portus Sesterne Bnpice Landon: Hutchison, 1970 vel, Kenneth Pombal andthe nstonalton of sobs commerce “pani Ane Hite! Rovew, namie 1955 Sides, andr, ope, 1970, tev. “8 Sera y Marsal, Francico de, opt vA 953. 37 Holand, Seg Basrgue de op. 1962, 16 26 Marin Oda Lette da Siko Dis no primeiro reinado, oministro inglés Chamberfan escrevia para Canning manifestando a sua grave apreensdo coma indiferenca 0 deseaso manifestados pelo governo do Rio para com os pro- blemas de miséria e seca que agitavam o Impézio, da Bahia para Norte, tornando cada vez mais iminente e perigosa a centelha de uma revolugio que poderia cindi-lo." Conscientes de sua fra ‘queza interna, 0s portugueses da nova Coste dediearam-se a for~ {alecer a centralizagao e o poder real, que 08 revolucionatios do reino queriam transferir de volta a antiga metrépole: ‘Brasil € um pais nascente, um povosdo de habitantes de diversis cores, que se aborrecem mutuamente:s forgs numéricadosbrancos muito pequena esé Portugal pode socorrr eficazments nocaso de qualquer dissensio interna ou ataque externo, Aseapitanias no se ‘podem audliar mutuarnents por starem separadasporsetoresimen- sos de modo gue agiiele pals nfo forma ainda wm reino inte € continuo,necessita em conseqiéncis de sua unifocom Portugal, por meio da carta constitucional que far felizes ambos os pais.” ‘A fraqueza e dispersto da autoridade, as lutas de faecdo tor~ navam mais aguda ainseguranca das contradig6es internas sociis ce racitis,¢ extas idemtificevam-se para os homens da épeet com 0 porigo da dispersto e a desunido politica entre vérias capitanias, ara Sierra y Mariscal, que ercrevia em 1823, as possessdes ame- nas dos portugueses apresentavam um quadro desolador malbaratado de desagregagio: Sy va Bate abd de 1806 (Webster, Chae K. Gr Btn athe aspen (fs Averce Oxord Oxford Univers Prom 1488, p08) 39 Sera y Mais, races deep iy A492. A intecorzngo da metdpote outros esades 27 Pernambuco dissidents ja do Rio de Janeiro. A Babla nuls era rendase rotos os elementos ce sua prosperidade. O Rio de anciroa, pontede uma bincarata pelos esforgasesacrifciosque tem fitoe pelas perdes soidas, As provincia do Sul inquietas. As provincias, do Maranihdo ePard nulas para o partido da revolucloe tudo junto oro. governo do Rio de Janeiro nas tristescitcunstinciss de ca rem em tera com a carga, sem esperangas de maisse levantar!® Podem-se vislurnbrar, dentro dos padries da época, 0 catis= ‘ma que teria 2 imagem de um Principe Regentee a forga com que atraia a massa de povos mestigas e desempregados, incapazes de se afirmarem, sem meios de expressio politica, tomados de des- contentamento, que, em sua insatisfacio, por demais preses a0 condicionamento paternalista do meio em que surgiram, revol- tavam-se contra monopolizadores do comércio e contra atraves- sadores de géneros alimenticios. Porém, a Corte € o poder real fascinavam-nos como uma verdadeira atragio messianica; era a esperanga de socorro de um bom pai que vem curar as ferides dos fhos. Nem a febre do constitucionalismo chegario a afetar drasticamente seu condicionamento politico. ‘Também as classes dominantes tenderam a apegar-se 3. Cor ‘8, Atormentados pela falts de perepectiva politics e pelo desejo de afirmasao diante de faccbes rivais, chamades em sua vaidade pelo nepotismo do principe, atraidos por titulos't¢, sobretudo, ‘oie 974 Ist th. ops eso ar wv um eyed ere or lag ts aeshver ee etree pared " Etiam panne otor pe epic plese Uren pose ge oc crt ans poke pete sae nor ansiosos de as 80 do poder central que vit populagao escrava, ou pio, a t protegio e san- oem afirmar sua pos: uléncia de mes eram proprie itais dos rigs. Além disso, precisavant dos c mpromissos de portugueses adventicios; firmavam com proprietitios ¢ lagos de casamento, © Banco do Brasil oferecia vvantagens para os que sabiam buscar a protecio politica, relos qu tem ests espéciede aristocracs Ihe privade se hum patide entre 0 povo, porque eles {ssimos e precisem da protegse dos Negociantes wesede ‘com que se hoarein muito, O Comércio,sesequer, quem €0 tnico corpo aistocrata* Ao se aprofuundar 0 estudo do predominio social do co- imerciante ¢ dz intima interdependéncia entre interesses uals, administrativos, comerciais, temos um quadro mals claro dos rmecanismos de defesa ¢coei2o do elitsmo que era caracteristica fandamental da sociedade do Brasil colonial é foram langadas 1s diterizes de revisdo do mito europeu da sociedade dual e varias obras existentes analisam sob noves prismas a suposta dicotomia ou oposigdo entre interesses usbanos e rurais, iden- tifcados, confundidos uns com os outros e harmonizados pela ‘lo bra cinportaca sci do fncoralsno, Apodens-se ox eos todas Cleans tendon puta os empregos adminis gat cosou ecaus attlinete (i867 eves prejlios a independenen sna] e0 deemelvinesto mora feat dy pesado. A ambio deve den © dcbaixo cs aioe wtela do ovens rut sos vias aa gpa bvdde, 20 paso que Ie no cas fas fornia ena o fate seu ¢ dea fio ean 28 ft 8 aE 30 Canin inks sets eines. indo presimncs € ligates al Fanci de, op W434, p72 aio piiblica, dado o grande papel social que exercia nda da Corte haveria de ressaltar rags jf bem aparen tes na segunda metade do século XVIII ¢ que tendiam a acentuar © predominio do comerciante. Por isso, alarmava-se Sierra y ‘Mariscal com a Revolugio do Porto e com as manifestagdes hos- tis aos comerciantes portugueses: rotoo diqueque continhaas revolugdes (0 comércio), nfo havendo ‘quera supra a lavoura, esta no pode dar um passo, Um ano de _gucsra civil ausiliado do ets, natureaa da agricaltura etopogratiada provincia ter relaxado a discipina da escravatura. Os Senhores de [Engenho notendo quem thesadiante fundosnéo podem alimentar ‘0 escravos e neste estado os escravos se sublevam ea Raga Branca perecesem remedio.* Sierca y Mariscal refletia 0 pensamento dos brancos e pro- prietdrios da Bahia e de Pernambuco, mas generalizava a sua apreensio para todo © Império portugués. Bra a missio da ‘monarquia portuguesa salvar a raga branca ¢ salvar-se a si mes- ma, porque, se um incéndio eclodisse nas provincias do Norte do “levariam a dissolucio ¢ a anarquia a todas as possesses pacifices de parte d'aquém do Cabo; sem que se excetuassem as ilhas de Cabo Verde e Agores e neste tertivel conflito a base mes- ma da monarquia se abalaria™™ {Bower Chases R The Golden Age of Bras. Bekele: University of California Press, 1962, 9.6070; Boner, Charles R, op. it, 1969, Rusel-Wood, A.J. Hasites sn Phlensbopisa: Santa Casa de Misrctaic of Bahia, Berkley. Univesity of Cakfornia Press 196; Schwartz, Suse B The Desembarga do igo Hpac Auerian Hacriat Review, 1971, 44 Siren y Marisa eancio de, 0. cit, WAS, p72. 4 laiben, po. 30 Mala Oia Lee da Sia Dist ‘Os contftos gerados pela incompatibiidade entre o absolu- tismo e de um lado, a politica mercantiista da Coroa ¢ do outro, as pressdes do novo liberalismo econémico, oriundo do amadu- recimento do capitalismo industrial na Ingleterra, forem sem dlivida a chave-mestra a desencadeat as forcas de transformagio xno periodo. Dadas, porém, as peculisridades sociais da socieda- de colonial brasileira, essas nao se identificaram por imediato com “um movimento de libertagio nacional”. Temanha era a ‘complexidade dos contfltos internos ea heterogencidade dos re- gionalismos que aquilo 2 que finalmente assistimos no decorrer dios episédios das primeiras décadas do século XIX, que s¢ convencionow chamar de “época da independéncin’, € ume frag- mentagio Jocalista ainda maior e simultaneamente um recrudes- cimento da presenga de portugueses. ‘Ao contriric do que se da na maior parte dos paises da América espanbola, em que os “ereolos” expulsam e expropriam ‘0s espanh6is metropolitanos, assstimos, em torno da nova Cor- tee da transmigracdo da dinastia de Braganga, 20 enraizamento de novos capitais ¢ interesses portugueses, associados as classes dominantes nativas e também polatizadas em torno da luta pela afirmacio de um poder executivo central, pois esas classes que- slam se fortalecer contra as manifestagBes de insubordinagao das Yavenhal © initia aastrines ne cote do Ric 6 Jani, regio fate de itn da Roche um dos plnclpaie promoters go “ico” eam aaj cs so 0 maifeata dos Msminertes, tee ecunde 2 secs 0 cago de minsi por achat neces sina msiria de pertogzses nos conselhes 40 Pence (Montene Tobin pity 37, pats). No mailto ce amino, ss revoluciontrioe de Berto slegevam, iniemente,» esto de genie « de fail para © Baad em egal lamentaasn ox efetos do ance de (810 3 even do monopsie do somtscia do Brn (Pears dy Sa, Jos Manuel, ep. te 86 I868 I a ew p26), A intriorgts da metrpole« mses estuses 3) classes menos favorecidas, muitas veres identificadas com nati- vismos ficciosos ou com forcas regionalistas hostis umas as ox- trase por vezes a nova Corte, como seria 0 caso do Nordeste na revolugio de 1817 ¢ na Confederagio do Equador. ‘Tanto assim € que os conflitos ¢ as pressbes sociais e racais contra 0 portugués, rico, monopolizador do comércio e dos cargos pilblicos, no seriam resolvidos pela “independéncia"em 1822,nem. pela abdicagio de D, Pedro em 1831. Néo se tratava de um mero preconceito chauvinista relacionado com a separacio da metré- pole: era um confit interno inerente & sociedade colonial e que mesmo o Império nao superaria. A lusofobia transparece cont rnuamente nos desabafos da imprensa através de todo 0 steulo XIX, nas reivindicagdes dos" praiciros” da corte e de Pernambuco (1848) pela nacionalizagzo do comércio a varejo, repetindo-se em miitos outros episédios esparsos de violencia, como © que se diem Macaps,em Goiana, em 1873," pela Primeiza Reptblica adentro, Se as diretrizes fandamentais da historiografia brasileira esto bem definidas, precisam ainda ser mais bem elaboradas por estucos mais sistematicos das peculiaridades da sociedade colonial, permitindo-nos uma compreensto mais completa desse processo de interiorieagio da mets6pole, que parece sera chave para o estudo de formacio da nacionalidade brasileira. O fato é que a semente da “nacionalidade” nade teria de revolucionsr a monarquia, a continuidade da ordem exstente eram as grai- des preocupagdes dos homens que forjazam a transigio para 0 Mota, Caio Gui Arai to Poulos Companhia Lnapério: “também mos uma revalugao ¢ uma revaht= Gao seri se mudaram as bases de todo 0 edificia administ 9 pode fazer sem conv 2 social da monarquia; ¢ uma revolug ina nto se tal e vepe des desastrosas, @ & por iss0 que nie a desejamos'* A semente da nova Corte como wi tegragao nacional serial, poi ng) trutura colonial, um ato de vontade de portagueses adventicios, 5 langads pela protongamento da administra ¢ da es cimentada pela dependéncia e eolaboragio dos natives eforjada pela pressdo dos ingeses que quetiam desfrutar do coméc ter de administra... A inseguranga social cimentaria 8 classes dominantes nativas com a “vontade de set brasilesos" dos pormagueses imigrados que vi twépicos. A luta entic as facgBes locas Tevara ftalmente & procu~ 1a de utn apoio mais sido no poder central. Os coats ineren- tes sociedade nfo se identifica com a muprora politicn com a Mie Patra, econtinuam como antes, relegados para a posteriade [A patticipagao dos ilustrades brasileitos na administragao pbliea portuguesa é fendmeno earacteristico e muito peculiar 4s lasses dominantes da sociedade colonial” O “eitismo buro- critico” era uma das vilvulas de escape da instabilidade econd- mica sabiamente expressa no ditado do século XVIII: “Pai tavernero, ho nobre ¢ neto mendicante’™ Essa insabilidade econdmica gerava mecanismos de acomodagto social destina- 0 das fandar um novo Impétio nos 1 Cora Brae, w XXIV, pa 50 Dias, Maria Ode Leite do Siva (Axpectos da ilstrago ne Ben, Renta de Thane Riese Copies Bate, x27, p10070, jas. 1968 Ee toto St Bose, Chace Ru apes 186, pd dos a amparar 0 us dos “empobrecides"® ¢ a manter a hat- moni do corpo socials era 0 caso das santas casts, das conven tos, das ordens vigioses, do funcionalismo publico em geral. Nao se pode subestimar 0 papel do “elit sociedade colonial, pois explica em grande parte 2 asses dominantes nativas e a administracio mo buracritico” na boragdo entre as publica portuguesa, que vive a sua fase méxima com a vinda da Corte ¢ a fundacio do nove Império, Nessa épocs, absorvides na engrenagem maior de uma poli tica de Estado, empenharam-se ativamente os ilustrados brasi Ieizos na construgao do nove Império dos trépicos. A ilustragio brasileira ndo pode ser, pois, identificada com “ant ou com a luta da colonia contra a metrépole. Estadistas como D. Rodrigo de Souza Coutinho ott 0 Conde da Barca tinham como missio precipua ¢ taref# da fandagto de ‘um nove Império que teria como sede o Rio de Janeiro ¢ que deve- ria impor-se sobre as demais capitanias. E para esse trabalho con- taram com a colaboraeio e o empenho dos lustrados brasleiros. Com a vinda da Corte, pela primeira vez, desde o inicio da colonizagio, configuravam-se nos tr6picos portugueses preocu- pasées préprias de uma colénia de poveamento™ e nao apenas lonialismo” {Vier Lie doe onine Novia Stropaiona da Bahia. Baia: Inpenss OF Gal 2, arab 9.3, 5 Boney, Chats R, op ity, 1962; Boner, Chas Ra opt 1970; Ruse Wo, A TR op. cit, 1808, 4 “Uma das casas gu concerto miko pate 0 aumento popu to & = prov inca da economs « polite de tedos 0 povos que Babtam ss edades, is Seite ands mar os mat nsignifeants lores para 0 que cower pron Tee de tado aque que dss acest, cata Se mute vnes Bert deserts 2 ter, po sites age de tevdi eum st, nde lie os com 34 Maria Odia Lette d Sa Diss de exploragio ou feitoria comercial pois que no Rio triam que viver e, para sobreviver, explorat “os enormes recursos natursis ‘eas potencialidades do Impétio nascente, tendo em vista 0 fo- ‘mento do bem-estar da propria populace local. Para isso, que- siam firmer o tratado de 1810 e a abertura dos portos “de mane} za que, promovendo 0 comércio, pudessem os cultivadores do Brasil echar o melhor consumo para os seus produtos, que dat resultasse © maior adiantamento na geral cultura ¢ povoario deste vasto territério™ Promover © povoamento, aumento da agrcultora, asplantagdes de einhamo, especarias ede oniros géneros de grandeimportincia, de conhecida utliéads assim: ‘para o consume interno como para exporagso, 3 extragto dos pe> {osos prodatos,dosreinos mineral evegstal eque tenho animado.e protegido.* 1Déspotas esclarecidos e fsiocratas iludiam-se exagerando os recursos das novas terras e estavam tomados pela febre das me- Ihoramentos materiais. Reservavam privilégios para 0 Centro- Sul, onde se instalara a Corte, A fim de custear 2s despesas de rovidenne tendete este i, Sensis yaa a subsites importa mite indgar guas 0 oe gor vide fines com que des nfo flier em eX gongs prentas, pomaes fats, sos part sve merendvss as eoncerdes is de tdor os ofos mesic, ico de cada povenci 4 igor que et odo plant = es 2 liad de gados, taverns 8 (0200 om oun cons ds tere, que beam of Medics ou Cinutgio #0 als condasente so Sew sea ponders edo seo lxo pin sem io no poder 135 oF ogi. op ty #434 PSTD 7, will p27. propor de povee (Vasconeo, oni La de Site Al 5 Paria do Sv, Jobo Manel, 9p. cit 18 Aintsoracio dé metropele outros estes 35 instalaglo de obras piblicas e do funcionalismo, aumentaram fs impostos sobre a exportagio de agticar, tabaco, algodto ¢ couros,criando ainda uma série de outras tributagdes que afeta- vam diretamente es capitanias do Norte, que a Corte nao hesita va ainda em sobrecarregar com a violéncia dos recrutamentos com as contribuigbes para cobrir as despesas da guerra no reino, na Guiana e no Prata, Para governadores # funciondrios das v rigs capitanias, parecia a mesma coisa ditigirem-se para Lisboa ‘ou para o Rio de Janeiro.” Pelo menos dois dos ministros de D. Joao VI tinham expe- riéncia na administeagio colonia. Os governadores das vérias

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