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PARADIGMAS POLITICOS E TRADICOES LITERARIAS ios concretos, na sociedade portuguesa dos séculos XVM € XV ‘poderes cm presenca, € ttl FEE 'Siguma atencio aos modelos mentais com que essa sociedads se SEtpreendeu a si mesma e a parti dos quais grupos distintos tacaram as suas estratégias politicas Ensiquecendo 2 tradicional perspectiva de ebiografia intelectual da bist” a dua eins politieas pretende-se, hoje, averiguar sobre as categorias re se Mofindas — formas de ver, de nomear, de classficar e hieargua Se Mieccem condicionam a «produciow intelectual dos aucores nd Sse Por outro lado, sobre os condicionamentos mentas ¢ conjunewrais, Seafarmam © modo de arecepeao» social desses autores ¢ das sts obras airman das propostas politics que podemos encontrar nestes dois s¢- culos vive de tudo isto oe nes cntre dois modelos muito profundos de apreensio dos fenéme- noe saekis tum tradicional, que concebe a sociedade como «corpo» inter nos soca “gunizado e dotado de um destino metafisico @ semelhanca Jo Ramen), ¢ 8 modemno, pés-cartesiano, que explica os movimentos (16 ©13° Plates) socias na sua materialidade puramente externa — parece stra Pin peraurso das icias politicas nos dois séculos em questio, precisamenss rane extes dois modelos incidem sobre os amplos dominios da teoris °° Port politica, eomo a origem da sociedade politica, a sua sconstisnicion: o° Titer ao poder da coroa (e, dentro deste tema, as relagbes entre sBrch2 € coroa), sobre as formas de governo. seats projectos alternativos de sociedade ¢ de poder, decorrem. no. cn Cae eink eradigio largamente comum. O universo literdrio dos jurists xa. Goins ¢ setecentstas era composto por obras (de teologia moral dircve Sener tard, politica) de jurstas ¢ tedlogos. Daf que nos tOpicos ocorrentes Eqn ambos se encontrem miituas contaminacoes Tape caso, quando nos aproximamos dos finais do sécule xvi (om Portugal sobretado a pattir da reforma pombalina da universidade), 9 corte no plano dos paradigmas das doutrinas i aero aren plano da prépria tradigio literétia, Por outras palavras, © Gmodernos» tendem a ler coisas di jhuam a cultivar a doutrina politica tardome aaa erditos os «politicos fmpios ¢ imoraisy (como Maquiavel, cea hes) c postos sob suspeicio alguns politicos «idolatradores d= rs sae Toto), ena segunda metade do século xvi, acrescentam SS exclusées 0 veins liberais (acobinos), ematerialistase © scpicuris fase, que reduzi fea fanddamentagio dos vinculos sociais, tod Be eT hclutdos nos Indices libronum prohibitoram, Os modernos ¥ doa i gos, os tratadiatas da ldgicae da daléctica escolisica @ 0 ee prtian, diakctca do Curso coninbriense), os jurists do periodo fo ius commune clissico (os «bartolistas se, ou epraxistas rangososs), € V0 So eee imatematicos ¢ 0s cultores da sboa Iogicar, careestanes Oe Jed as mnas sinda os riovos jurista jusracionalistas do Ceneto europe (GBbrerndo holandescs,alemaes © aystriacos)¢ os cultores d2 «politica © da (eobrerad os camo os poligrfos e publicistas dos iuminsmas tances, secon anico, A winlitancia» das indicacoes bibliogréficss (ot hs haridadess) de Luis Antonio Verney (Verdadeir res ro método de estudar... 1946) A eta dsl Pate Aa Barreto Xaver t Antinio Manuel Hespanha | a 770: BN, Lisboa A Anqurrectura pos Poperes De reg. princ., vol. , p. 23). A esta ideia de autonomia funcional dos cor- pos anda ligada, como se vé, a ideia de autogoverno, que 0 pensamento jus ridico medieval designou por iuristicrio ¢ na qual englobou o poder de fazer leis estatutos (porestas lex ac staruracondendi). de constiteir magisteados (po- testas magistranns constitendi) c, de um modo mais geral, de julgar os contli- tos (potesas ins dicendi) e de emitie comandos (porestas pracceptiva) Por fim, saliente-se a ideia do earicter natural da constituigto social. Da- qui decorre a natureza indisponivel das leis fandamentais (a «constituigio») de uma sociedade (de um reino), pois estas dependem tio pouco da vontade como a fisiologia do corpo humano ou a ordem da Natureza. Como escre- ve Manuel Rodrigues Leitio, pelos meados do séewlo xvi (Tiarado analytico € apolagetico, publicado em 1715), ehi-de haver leis, que presidem 205 ho- . que isto € dar a presidéncia a Deus; nio hio-de presidir os homens Seu arbitrio 3 le dar a presidéncia as feras, 4 cobi 2 ita e as paixées, co E certo que soberano ¢ vas~ Sslos poem temporariamente afostar-se das Tes naturas de ondenagao sos ial, pela tirania ou pela revolugio; mas o mau governo, contra o qual as proprias pedras clamarao, € sempre um episddio politico passageiro. O que (08 povos j pod bora de acordo, também, com caracte- ristieas objectivas das varias nagdes — as formas de governo. A monarquia, a aristocracia, a democracia on qualquer forma de governo misto, pi nignte do cruzamento destes regimes-tipo referidos por Aristételes, Como poidem explicitar e adaptar as condigées de cada comunidade, através do di- reito civil (jus civile, isto é, do dircito da cidade), os princfpios jurfdicos de- correntes da natureza das sociedades humanas (ius nanuale). Mas a consti- tuigio natural conserva-se sempre como um eritério superior para aferir a legitimidade do direito estabelecido pelo Poder, sendo tio vigente e positive como este. Nestes termos, o direito — todo ele, mas sobretudo o natural — desempenha uma fungio constitucional. Impde-se a todo 0 poder. Nao po- de o os, nao deve ser alterado. F isto porque se funda nos pri cipios ios de toda a convivéncia humana (affeio socctatis). E ni0 porque se fundamente num pacto primitivo, ou um pacto histsrico estabe- lecido; por exemplo, em cortes, como supsem os historiadores que sobre~ valorizam 0 «pactismo» medieval ou moderno. Pois, para a doutrina politi- © corporativa, nio é 0 pacto que fundamenta o direito, mas é antes este que funda a obrigatoricdade dos pactos. Como nio é 0 pacto que limita Poder, mas a limitacio originiria dos poderes que obriga a pactuar. Nos 3 ‘culos xvit ¢ xvm, conceitos politicos como este tinham um enorme impacto polémico. Nao apenas contra as doutrinas voluntatistas e contratualistas da corigem do Poder, a que nos referimos, mas também em relagio a uma pri tica politica guiada pela busca, por quaisquer meios, da utilidade ¢ da vantas gem politica. Tais eram nio's6 as propostas tedricas dos epoliticoss ma. quiavélicos, como a pritica dos alvitristas (de alvitre, arhitrium), inventores de expediemtes para realizar a utilidade (normalmente financeira) da coroa, Em virtude desta funcio constitucional do direito, toda a actividade polt tica aparece subsumida a0 modelo «jurisdicionalistan. Ou seja, toda a activi. dade dos poderes superiores — ou mesmo do poder supremo —¢ tida como orientada para a resoluio de um conflito entre esferas de interesses, confli, to que 0 Poder resolve «fizendo justicas, ou scja, atribuindo a eada um o que, em face da ordem juridica, the compete (suum cuigque triuere). Dal que, nna linguagem juridico-politica medieval, a palavra que designa 0 Podlet s)3 inrsdistio. Iurisdictio € © acto de dizer o dircto A erupcio, no plano da teoria filosdfico-social, destas concepgdes teve correspondéncia no dominio da dogmitica juridica, Af surgicam novos ins trumentos conceittais, que permitiram justificar, do ponto de vista doutri. nal, ¢ regular, do ponto de vista institucional, novas realidades sociais ¢ no- vos arranjos de Poder! O caricter aparentemente atécnico» de algumas destas novidades jurfdicas ‘nfo nos deve enganar quanto ao seu alcance politico, pelo papel central que clas tém como investimento simbélico. Na verdade, esta dogmitica ¢ 0 cio através do qual a auto-representacio da sociedade do Antigo Regime assegura a sua reproducio politica alargada. De facto, nio se trata de propo 124 sigoe de pr mock desse esqu Ew 1300 | dos sio di vido pudes: | xados | dies | politi | Est f das es: | parecis Par faltava nd Terr) Waal oer Pre rorre err reese Pm |A REPRESENTAGAO DA SOCIEDADE E DO PODER { CH roannts “fe : | ATVRRECREMATA 4% ORDINIS PRAEDICATORVM SABINENSIS EPISCOPL | ae tn & TRASRITER! cARDINALIS i bie ein pe afore \ ‘mere acorn. 4. IN PHEMVM VOLY MEN CAVSARYM aor Meiay Comte ante Tomus Secundus. < Salepihe rae sega “so tea exemplar cnet Accel praterea Index locupleiimus: tial sigées meramente especulativas quanto ao ser da sociedade; trata se, antes, Se roponigses dogmatias, que pressupsem uma verdade e se destinam oe ripper mativamente 2 sociedade. Através dela, ¢ das regras concretas sro deiag governo da cidade que delas continuamente se desentranha, 2 tered corporativa institucionaiza-s, transformando-se numa maquina de sereeugio He simbolos, mas, mais do que isso, de permanente actalicagho Produ polos em normas juridicas efectivas ¢, logo, em resultados priti- dese: errnpanais, Resuleados estes que, por sua ver, de novo recorrem 20 ‘Shuma tesrico-dogmitico para se Tegitimarem, nim permanente inter mindvel jogo de reflexos. O PARADIGMA INDIVIDUALISTA TEMBORA SE LHE POSSAM ENCONTRAR antecedentes mais recuados (oposicio eae os e aristotclicos, entre agustinianismo ¢ fomismo), a genealogin sty directa do paradigma individualista deve buscar-se na escolasties Fran Bgcana quatrocentista (Duns Scotto, 1266-1308, ¢ Guilhes Peesne fago), f com ela — e com uma célebre quercl filos6fics, 3 queltio 1300S fustsaise —- que se poe em davida se nao ¢ legitimo, na comprésn- sess ociedade, partir do individuo e nao dos grupos. Na verdade; pass we ee mae que aqueles atributos ou qualidades que se predicam dos in eset pater familias, se escolar, ser plebeu) ¢ que descrevem 35 relacoes sree Car dre estes estio integrados no sio qualidades incorporadas na so seeaciae no sio ecoisase sem a consideracio das quais sua narurezs 10 frudesse see integralmente apreendila — como queriam os «realite ‘Antes Pade see ae cnomess, externos 3 esséncia, © que, portanto, podem ser de> de ees na consideragao desta. Se 0 fizermos, obtemos uma série de xades duos muse, incaracteristicos, intermutaveis, abstractos, ¢geraisr Juss, Verdadeiros itomos de wma sociedade que, esquccidas * quali iB eras descartivels, podia também ser esquecidla ma teoria socal © fa discussio aparentemente Go abstracta, wm fir a coda 2 reflexdo social durante, pelo abstracto ¢ igual —, a0 Estava quase criado, por est modelo intelectual que iria presid Mrenos, 0s dois uiltimos séculos — 0 individuo, j mrenee, tempo que desaparcciam do proscénio as «pessoas concretiss, i rae reyalmehte umas as outras por vinculos maturais ¢, com clas, des pareciam os grupos ¢ a sociedade. reciam Os Brnlerar a revolugio intelectual da teoria politica moderna s6 Fs Eten a sociedade de qualquer realidade metaisca, laicizando a Embora castelhano, Suarez vive fem Coimbra desde 1596, onde, fncorporando influénetas’ diversas sMMlgumas de lentes portagueses Gome Francisco Rodrigues ¢ Francisco Dias —, ensina (desde 1601) e publica (em 1612) 0 3e0 famoso tratado De legibus ac Deo Tegislatore. Com dinheiro da fniversidade, adquire um apreciivel conjunto de livros jlridicos, que detém em tusufruto, enquanto vive em Coimbra, Um dees ¢ 0 Feprodurido na gravura que ‘Satenta no rosto.um ex libris tmanusctito do. famoso teélogo (ida Tivratia do. P.* Soares Colégio de Jesus, Coimbra) (Biblioteca do autor) A Angurrecrura Dos PopEnEs teoria social e libertando o individuo de quaisquer limitagSes transcenden- tes, Essa revolugio levou-a a cabo tum novo entendimento das relagies en= tre o Criador e as criaturas. A teologia tomista, sobretudo através da etcoria ddas causas segundass — ao insistr na relativa autonomia e establidade da fordem da criacio (das «causas segundasy em relagio a0 Criador, a «causa primeira») — garantira uma certa autonomia da Natureza em face da grace © consequentemente, do saber temporal em face da fé. Mas foi, paradoxal- ‘mente, uma recaida no fideismo, na concepcio de uma completa dependén- Gia do homem e do Mundo cm relagio 4 vontade absoluta ¢ livre de Deus, {que levou a uma plena laicizagio da teoria social, Se Deus se move por sim ulsos» (teoria do impenus, de raiz est6ica) se 08 seus designios sio insondé- eis, nio resta outro remédio senao tentar compreender (racionalmente ou por observagio empirica) a ordem do Mundo nas suas manifestagbes pura Inente externas, como se Deus nao existisse, separando rigorosamente 2s iedades ds fé das aquisigées intelecmais. £ justamente esta licizagio da teoria social — levada a cabo pelo pensamento jutidico ¢ politico desde H. Grécio 2 Hobbes — que a liberta de todas as anteriores hipotecas 3 teologia moral, do mesmo passo que liberta os individuos de todos os vinculos em relacio 2 outra coisa que no sejam as suas evidéncias racionais e os seus impulsos haturais, reconhecidos por tima longa tradicio antropolégica de raiz est6ica [els v.g-. quod quisque ob tutelam corporis sui Jcerit, jure fecisse existimetir (consideri-se feito de acordo com o direito tudo aquilo que alguém faz em defesa do seu corpo), Digeso, I, 1, 3) Esta laicizacio da teoria social ¢ colocagio no seu centro do individuo, gral ¢ igual, livre e sujeito a impulsos naturais, tem consequéncias centrats para a compreensio do Poder. A partir daqui, este nio pode mais ser tido Como fundado numa ordem objectiva das coisas; vai ser coneebido como fandado na «vontade>. Nama o noutra de duas perspectivas. Ou na von~ tade soberana de Deus, manifestada na Terra, também soberanamente, pelo seu lugar-tenente — 0 principe (providencialismo, direito divino dos eis) ‘Ou pela vontade dos homens que, levados ou pelos perigos ¢ insegurance da sociedade natural ou pelo desejo de maximizar a felicidade © o bem-estar, {nstituem, por um acordo de vontades, por um spacto», a sociedade civil (Gontatalsm). A vontade (¢ no wm equilri = vaio preestables: do) & também, 2 origem do dircito. Guilherme d'Occam descrevera-o ou como 0 que Deus estabeleceu nas Escrituras, ou como 0 que decorre racio~ rnalmence de algum pacto. E, laicizada a teoria juridica, Rousseau definirs = Ici como «une déclaration publique et solemnelle de la'volonté générale sur tun object interét commun» (Letires écrites de la montagne, vol. 1, p- ‘Perante este voluntarismo cedem todas as limitagSes decorrentes de uma ordem superior 2 vontade (ordem natural ou sobrenatural). A constituicio © €@ direito tornam-se disponiveis e a sua legitimidade no pode ser questions da em nome de algum critério normativo de mais alta hierarquia. Dagui se fextral (na perspectiva providencialista) que Deus pode enviar tiranos pars governar os homens (pecadores, empedernidos), aos quais estes devem. pesar de tudo, obedecer. Extrai-se também que as leis fundamentais, come todos os pactos, sio disponiveis, isto é factiveis e alteriveis pelos homens num dado momento histérico. E, finalmente, que todo o dircito positive, bem como todas as convengdes, enquanto produto directo ou indirecto de pactos, sio justos. © que, como logo se vé, € o fundamento do moderna individualismo. ‘Note-se, no entanto, que a idcia de um pacto na origem das sociedades civis nio era estranha 4 teoria politica tradicional. Sé que este pacto apenas definia a forma de governo (que Arist6teles considerara mutivel), nao jé = forma de poder. E mesmo aqula, uma vez estabelecida, consolidava-se em direitos adquiridos (iura radiata) impossiveis de alterar. E note-se, por om tro lado, que alguma corrente menos radical do pensamento politico indivi= dualista (nomeadamente Samuel Pufendorf, 1632-1649) procurou tempera © voluntarismo com alguns ingredientes objectivistas, considerando que. lima ver institufda a sociedade civil, a propria natureza desta impSe 20s im dividuos direitos que, por isso que si0 — direitos-deveres (afficia) —, esean pam a0 arbjtrio da vontade; como Ihe escapam aquelas normas que fazem 126 SRRGEES 3 Ve PATR PLES HE. | ry F ‘A REPRESENTACAO DA SOCIEDADE F DO PopER ‘arte da natureza mesma de uma sociedade (como as que definem o que € 0 Poder ¢ quais sio as relagées entre principe ¢ sibditos) Para além destes pontos comuns, o paradigm individualist ¢ voluntaris- ‘ana concepcio da Sociedade ¢ do Poder desdobra-se em certas correntes ti Por um lado, no «providencialismo», que concebe o Poder como produ- to da livre vontade de Deus, exercitada na Terra pelas dinastias reinantes, ‘gue assim cram revestidas de uma dignidade quase sagrada, que as autoriza fa nio s6 4 exercer um poder temporal ilimitado, mas ainda a rutelar as ‘proprias igrejas nacionais (galicanismo). A sua expressio mais caractristca £a'do pensamento absolutista francés (Jacques-Benigne Bossuct [1627- 1704], Politique tire de l'Ecrinwe Sainte, 1709; Cardin Le Bret [1558-1655], De la souveraineé du roi, de son domaine et de sa couronne, 1633; Armand-fean Ge Plessis, cardeal de Richelicw [1585-1642], Mémoires, maximes et papiers PEiat, Testament poltign), mas aparece também numa célebre obra de Jai- ‘mc I de Inglaterra (1566-1625), The true law of fee monarchies, 1598; Busil- ‘bon doyon (1599), a que Francisco Suarez (1548-1617) respondeu, do lado do ‘pensamento Politico tradicional (Defenso fdeicatholicae..., Coimbra, 1613)". Por outro lado, no acontratualismo absolutistan, que concebe © pacto so <éal como transferindo para os governantes todos os poderes dos cidadios, ¢ fgomo definitive. Esgotando-se os dircitos naturais naqucles transferidos ¢ feio sc reconhecendo outra fonte vslida de obrigacbes (niomeadamente, a re- Esiio), 0 soberano ficava, entio, livre de qualquer sujeicio (a nio ser a de ‘euanter a forma geral c abstracta dos comandos, o que distinguiria o seu go~ ‘semo da arbitrariedade do governo despético). O nome exemplar é, aqui, Thomas Hobbes (1588-1679, Leviathan... 1681), numa versio em que © :mo pritico foi limado e em que, apesar de tudo, subsistem afficia in- errowiveis, mas em que o absolutismo é mantido; daqui se aproxima bem Samuel Pufendort (De officio hominis et cvis prou ips preescrbuntur ‘ge natural, 1673) que, por isso, se torna a cartilha dos regimes absolutos Por fim, neste quadro apenas sinéptico, 0 scontratualismo liberal», para ‘© gual o contetido do contrato social estaria limitado pela natureza mesma Gos seus objectives — instaurar uma ordem social e politica maximizadora <$>s instintos hedonistas dos homens, pelo que os direitos naturais permane- ‘eeriam eficazes mesmo depois de instaurada a sociedade civil, mantendo os Eedividuos «the supreme power to reverse or alter the legislative, when ‘Bey find the legislative act contrary to the thrust reposed in them» (John Locke, On civil government, 1690, xin). Por aqui alinham, além de J. Locke 9632-1704), J.J., Rousseau (1712-1778). O CORPORATIVISMO DA SEGUNDA ESCOLASTICA Ew Espanta, em Porrucat © xa IrAutA, circunstincias vérias de natureza ‘Ssrumural e conjuntural promoveram uma mais longa sobrevivencia do pensa- ‘excxto politico corporativo. Factores esses que — mais do que o predomi ‘sio de um «estilor, como querem alguns (que, de resto, parecem equi- ‘eecar-se profundamente quanto a0 que seria o barroco» no pensamento ssico”) — explicam o franco predominio do corporativismo até aos mea- do século xvt. ‘A estreita vinculacio do pensamento politico seiscentista portugués 3s so j= corporativas da sociedade foi jf realgada por Martim de Albu- — jue e Lufs Reis Torgal’. Neste texto, retomam-se as suas conclusdes no or oa ‘See respeita ao século xvit, procurando-se detalhar um pouco mais a evolu- — ‘> dos periodos joanino e josefino, ape A ideia da mediacio popular é, de longe, a mais comum na literatura po- > ge Seez portuguesa seiscentista. Logo em 1627, obtém uma impressiva tradu- os in Sem Lay regia de Portal (Madris, 1627, em gue odo Salgado de Arai, se Ssrocando 2 autoridade do cardeal Bellarmino, de Francisco de Vitoria e de facem Azpilcueta Navarro, explica a origem do poder civil e dos direitos dos reis a 27 Trade sobre 0 govero de Reps enst, de Bapesta Fragoso (1550-1639), Uma das obras fundamentats do pensamento juridico-poltco da nds Escolistics thorense, ma lina dos ensinamentos de Frandsco de Vitoria, Francisco Suarez e Luis de Molina, ambém ele professor de Evora. Teatanda do tgoverno da replica», Fragoro mio. deixa de incr af 0 gone da Tage ¢ 0 governo da mils, Ou seja, ordem sobreniural dem da cidade ¢ fordem da familia sparecem aq Jada lado, como se tvessemt 2 RPBAPTISTL FRAGOSI SocinTATIS JESU, SYLVENSIS AREGIMINIS anUutice CHRISTIAN, Gye on nn vous PaINUs. A Anqurrecrura pos Popenes .e referiam conhecidas fontes romanas, Di- > O earicter regulado do Poder partir de uma lei régia (a que j4 tu soaedade do Antigo Regime 7 ociedade do, {esto, |, 4, 1) estabelecida por um pacto Tapas por ups rede Na douiina polis porugues, © principio da riers pact do Poder = afm gos stiiom 2G scva, todavia, subordinado 20 principio herediro («Os povos dos Re - Tee A formula princeps a legibus thos de Portugal e dos Algarves nio podem cleger Rei enquanto houver pa 16 A forma pr exetyo da rentealgum que descenda do sangue Real [> Allee: de dito [--] por selaus (© prince St cava ©. parte da Senhora Dona Catarina... 1381, apud Torgal, 1981, vol. , p. 262). redo igs 16 div © May por sa wer — ¢agu esd 3 vinelaio tradicional deste pone de natural; ¢, como esta dltima vista 0 principio da sticessio esta subordinado ao bem comum, permi- conninks pre de Fate indo quer 0 afistamento de Herdeiros que eno cana 29 partes ‘necessi- ‘Cumpridos), acabava por se Fase (como aconteceri com D. Afonso VI), quer do rei que governe mal, caeere die nto eravnem justo pois, como escreve Joio Salgado de Aragjo, en la sucesi6n de ur Reyno, sieniecies que © tel filasse 4 Se considera la utilidad de lo vasallos, y no el provecho particular de la per- Parad, gum pace ou Sona del Rey que sucede, porgue cl Rey nos lige pars so pat fia aed alle 4, Grovecho, sno pra el procomumal dl Reyno [> (Ley rit» 6 CMfon Drape perio, BB. Hl 207.) Nave de Janif, 1790) Por isso — ainda que este pacto nio fosse invocivel pelos sibditos, no a plino do direito civil, para obter satisfagio judicial dos deveres do rei, como s Fefendiam os monarcémacos ¢ como foi praticado, em Inglaterra, a0 trazer # ie O rei a julgamento do Parlamento, sempre ficava aos povos — para além do for Guts de cpirem do rei, inclusivamente em juizo, 0 respeito dos iu aqui- ao i por pactos subsequentes (Pg, eis pactadas ou privlégios) — o direto q de denunciarem 0 pacto de sujeigio, no caso de incumprimento grave dos dleveres reais ({yrania in exeritio),resistindo ¢ privando o rei do seu poder (indlusivamente, matando-o, como é accite por Francisco Velasco de Gou- oat [Torgal, 1981, vol. 1, p. 39], Estas cltimas consequéncias — que sio as raze Centtais ds corrente politica em causa — foram, porém, mais claramente ice = - . formuladas quando as circunstincias politicas o exigiram. Rtcivera ree ie ee he "Assim, no Assento feito em cortes [...] da aclamagio [de D. Jodo IV] (Lisboa, See Tame deWauco, 163, Tamm 644, ed, moderna em J.J de Andrade Silva, 1640-1647 Dp. 43 ¢ 80) erin 2 imagem da Jain ¢ dot tes “depois divulgado juntamente com 2 obra tedrca central da, movimeno janes rode Coda ee SSNs restaurador, a Justa acclamagdo do Serenssimo Rey de Portugal D. Jodo o IV a ‘sua missio de manter a ordem (Lisboa, 1644) de Francisco Velasco de Gouveia* — declara-se que, «confor- VAT Stiles, de dar 3 ads um 0. meas negra do dieto natural, © hutano, sinds que os Reins sneer a ee ast cn buee}© i sem nos Reis todo o seo poder ¢ imperio, para os governar, foi debaixo de Ss Con gates dee Nerd. Pao wma tacta condicio, de os reperem, ‘© mandarem, com justica e sem tyra~ esbecs Que literatura como a que se E tanto que no modo de governar, usarem della, podem os Povos priv princi auc ert coremceneedcixa_valos dos Reinos, em sua legitima e natural defensio — e nunca estes ca- Sci de se relacionar estreitamente sos foram vistos obrigar-se, nem o vinculo do juramento estender-se a a pode com 2 literatura spolitica. Eien Beck Este eparlamentarismor voltow a ter condigdes para florescer aquando da re crise de 1667, No seu manifesto de Novembro, o infante D. Pedro, depois a ee arg de relatar 0 «mau governor do rei seu irmio, declara aceitar tomar o gover~ ‘sario pEwEEAco © Eeecimamicemec(Tkcateintee: Bae! seascaecea Jurisdigso que tem, o remedio que julgarem conveniente» (J. de Andrade eee IVDEX PERFECTVS f Silva, 1637-1674, p. 133). Como Jé sucedera em 1640, era hecessério fun = ane Gamentar o afastamento do rei c, simultaneamente, legitimar a assuncio do = CHRISTO LESY, govemo e cores, agora por parte do infante D, Pedro, Para o primeiro ca- ep: DOMINO, NOsTRO sve pressupondo © principio pacticio (e nio € um acaso o recurso a.cita- ieee mt ‘ges da obra de Velasco de Gouveia), sio afirmadas a tirania e incapacidade cOmac fara o governo do rei, vistas como causas legtimas para eprivar dos rei = pin, ouvpello menos da administracio delles os reys incapazes de governar, an {isto geralmente se uza em todas as Nacoens, e he o-que geralmente se cha == mia Direito das Gentes (Cortes do reyno de Portugal, vol. vit, 1668, pp. 173-173 v.°). Na mesma altura, foi posto a circular um «papel» em que EP: firmava que eo reino pode justamente privar o seu Principe, ainda que tle seja legitimo, quando no exercicio he tyrano; e no Reyno de Portugal trio padece divida esta Proposicion (Deduccao cronolégica... § $72). Partindo estes principios, a assungio do governo por D. Pedro io é posta em cau sa, Mais problemtica parece scr, no entanto, a legitimidade da aceitagio da coroa pelo infante. Tendo sido convocadas duas juntas teol6gico-juridicas para se pronunciarem sobre #) se um teino pode tirar a0 rei, nio 36 0 gover- 138 [A REPRESENTACAO DA SOCIEDADE & DO PopER Pareto legi, quits legem tuleris. EMBLEMA LXIX. sditos, no rei, como, 20 trazer 2 além do ura agi © direito Principis Auyonij, Princeps Pretorius arma Digna Trajano voce notata capit, ‘Hho. ffs (trom, pro Nobis uterc ferro, nt minis in Nofrum prelia fringe caput. Formtus baud aliterPrinceps,facra tira parabis, Qasim dum tefubdis egibus ipferuis. ‘e5, mas também o titulo e ii) se o principe tem na Terra superior que co- ssbec 2s suas accdes ¢ sc, cm Portugal, 'as cortes constitufam tal tribunal, Sbcveram-se respostas discordes. Mas, ainda assim, cerca de metade dos ‘Geembros destas juntas defendeu uma resposta positiva as duas questi. ‘Mim Affonso de Mello, deputado do Santo Oficio ¢ membro da primei- fants, afirma que «a privacio de Sua Magestade do titulo, ¢ da dignidade Seal tinha o Reyno junto em Cortes legitima jurisdicio para 0 fazer. © [que] WA. nao peccaria nem venialmente se asseitasse o titulo de Rey offerecen- Bete os povos» (Cortes... pp. 183-197). Por sua vez, o padte jesuita Nuno Zs Conha (da segunda junta) di uma esclarecedora resposta. Partindo do Seas principio pact, fms que oa doaco, e bngaci, com que 2 PeSapio os Reynos se entregario a seus Principes, ainda que foi livre, foi Base conforme as Len da Josticn, de naturerairevogavel e contra el- Ee podem 56 aquilo, que a principio reservario expressamente, como em al- ‘gee Reynos fizerao, ou o que for necessario para a sua conservacio, e de- eso naturale (Deducgio chronologics.... «Provasy, Parte 1, p. 232). E que, ‘Permmto, «pode o Reyno [...] tirar-lhe © governo, quando assim for neces See para 2 sua conscrvacio, ¢ defensio natural, mas nio pode eximir-se, ‘Sem Emitar 2 obediencia que deve aos Reys, seria s6 para o mesmo fim da Beso natural> (ibi., p. 234). O wvoton de Nuno da Cunha é muito es- ‘Gesxcedor do estado di doutrina politica da época. Por um lado, insiste-se Sess — contra o providencialismo jé largamente dominante no centro da Esrops — ma origem pacticia do Poder c nos direitos «parlamentares» que dai Bebetem. Mis, por outro lado, tomanrse dstncas em relag a0s thonar- Eee: &, no caso de Portugal, aos partidirios do «governo misto». Quanto {Ses primciros, refuta-se que, salvo nos casos de o pacto original ter institul- > Sm governo misto, os parlamentos possam normalmente limitar os po- $e Go rei. Muito menos, depé-lo e julgé-lo, como o tinham feito os In- BES. cujo exemplo € expressamente citado. Quanto 20s segundos, Fereeiece-sc que a monarquia portuguesa é epurar © que, portanto, os po- “B= das cortes nio sio permanentes (in acti), mas apenas potencias (in ha- ise), para os casos de tirania SS como for, 2 concepcio corporativa, com a sua referéncia a uma or- ‘= natural de governo € aos deveres régios dai decorrentes, introduzia SSeectantes limitacdes ao poder real, advindo dai importantes consequén- Se feridicas ¢ institucionais. De facto, uma vez que a doutrina corporativa > poder cstabclecia como niicleo dos deveres do rei o respeito da justica, 129 ‘Nempe ubi pli ‘ ge plaelto geruntur Spin Reg ei rerum. ura marttant. ‘A 2O Tribunal dos Reys, sabio ¢ brithantes (Francisco Antonio Moraes de Campos, Principe perfelto, 1790). «Porque as Seiencias todas de igual sorte, / Dio as mios entre si, ¢ todas tecem, / Hum discreto direito inda mats forte» Este semblmas =e, sobretudo, a legenda que 0 acompanhs — destacs 2 relacio festreit que deve existir entre 0 direito c'2 sapieneia, Na verdade, Secorrendo 0 direito da naturcea das coisas, cle nutre-se ermanentemente do saber, Objectivo, baseado na observacio 'na pritica, sobre as mesmas Numa sociedade dominada pela ideia da Justiga, os juristas a descmpenams tum papel central, quer como produtores de saber sociale polio, quer come ‘ediadotes de confitos. Aula upiversitiria de Dirito, no rosto de uma edo quinhemits de i do juristaiellano farmed, Alcande de Imola («Prima t tecunds pats commentaiorum super Cedices, 1525, biblioteca do tutor) PT PREPLLCUPTEO PROTO Oe ponazhouyphog ceaapeo cones ... S8t ficava obrigado 2 observar o direito, quer enquanto conjunto de co- mandos (dever de obediéncia 3 le), quer enquanto instancia geradora de de lates (dever de respeito dos direitos adquiridos), Quante ao primeira aspecto, a doutrina seiseentista & dominante no sentido de sujeicae Ore Bs leis. Nao apenas 2s les fundamentais, is quais 0 rei, desde que prox incipe de semejantes leyes fun derechos del Rey, traneae mbros, arruinar todo su Imperiov (Luis Marinho. de Azevedo, Exclamacines politica... Lisboa, 1645, exclamagio Mp. 33) Mes ‘Bag et 3s leis ordinérias (Hespanhs, 1985, pp. 392 e segs. e Albuquerque, 1968, pp. 235-276), Quando a0 segundo a iusto inicio) (Hlespanha, 1980, ih) Dito isto, id se v8 como os tibunais, como instncis de salvaguarda da ‘tia de defsa dos direitos de cada um, ocupam, ma comstionee es do Antigo Regime. uma funcio consttucional determinante, Por ssp ¢ sue se expica que, na literatura siscemstae stecentsta sparen sees dees gue, fancionando os tribunsis paatinos de justica, nio Ralerpek gee ee YoCar cortes, pois as suas fungdes de garantia(c também de communicate com 0 reino) eram desempentadas pelos consent, Do ponto de vista mora, o corporativismo proclamava o primado da éti- 0b # convenincia ea utlidade, Daguh,» eres opongde s Megirnn Bodin c, nalguns casos, mesmo 2 Ticito: bem come inna a a0 estilo governativo olivarista’ Do ponto de vista socal, 0 corporativismo promovia a imagem de uma sociedade rigorosamente hierarguizada, pois mua sovelade ene ia ordenada, a irredutibilidade das fungdes sociais conduz 3 irredutibilidade dos estatutos juridico-institucionais (dos sestadoso, das ordens)". O direito € 0 governo temporais nio podem fazer outta cols que as cos eaten deck iercteeer neeee te ordenacfo superior Ae ee expres nas Ondo onsite un ghipo que sia (48, pr) «Quando Nossa Scher Dane Sore a Orde itu ort SPD Zoaveis, como aquellas, que carecem de tazom, non quis wae hea Pee Gta pease, nics mar ube, steno i ic ode dep Inipendende de-pegeds'® 1 405 segundo.o grao om que as po bem ay Senha Foe de Par inlependénda de poderes Deos'na terra som postos para regen goverear ovoo nas ob ai sel ponte de ci ty ba de fazer, any de Juste cone een Pe HS 8 seguir @ Feelin ie de Coimira —_exemplo degli que ell kay Hordern donde ede Ea 8 (séeulo xvi) (Reitora da ples Por hua guisa, mais a cada huu apartadamente, segundo 0 grao cen, Universidade de: Coimbra). digom, e estado de que fore : Puay 130 nto de co- dora de di- Quanto 20 de sujeitar je que pro yo si see eyes fun 0, arrancar farinho de - 32). Mas. yuquerque, tancia—, 2 propric- tes, a de- scos ilegal- cio de um sguarda da fo jusidica isso € que m detends ue se con municacso ado da éri- Maquiavel, alvitrista ¢ m de uma saralmente utibilidade O direito stficar es- Ordenagées as fossem io de par- m logo de obras que a seguir 0 do ‘nom a [A REPRESENTACAO DA SOCIEDADE F DO PODER Como a sconstituicio» radica na natureza da sociedade © esta se observa ss tridigio, © sestador € algo de snatural» ¢ stradicionale, objectivado nu- = «posses, oi seja, num direito, adquirido pelo tempo, a um reconheci- fmento pablico de um certo estatuto. Este éstaruto comportava certos direitos, mas também certos deveres. E, scbrerudo, uma obrigacio de assumir em tudo uma atitude social corres ondente 20 estado, atitude que a teoria moral da época definia como shon- a> (honor). Bor oposici & vireude (vin) — dispoigdo paramente ste, Sox — tratava-se de uma disposicio externa, de se comportar de forma Grcvcniente Bs ropias socsis do seu estado. No sua forma mais difundida, a auto-representagio da sociedade medieval ‘= moderna via-a, como se sabe, como dividida em trés estados: clero, no~ Bee ¢ povo (Ondenagies afonsinas, 1, 63, pr-: [.-] edefensores sio um dos Se cstatos que Deus quiz per que se mantivesse 0 mundo, ca assi como os = rozam pelo povo chamam oradores, ¢ 205 que lavram a terra, per que Srnsmens hao de viver e se mantém sio ditos mantenedores, ¢ os que hio & Eefznder sio chamados defensoresr). Mas a estructura estatutéria era mui fe mais complicada na sociedade moderna. Desde logo, tende-se a distinguir, dentro do povo, os estados «limpos» seems 0 dos letrados, lavradores, militares) dos estados «vis» (como 05 off Bex mecinicos on artesios). E este o sentido da classificacio de um jurista SSsoctssta portugués, Melchior Febo (século xv) — «trplicem in nobiltate Ge altesum nobilem, mechanicum, artiumgue sedemtariwm alterum, ultimun Sesiziorum, qui miltiae, vel ate a sordda muneribus eximanturs [no que res Geez = nobreza (secular), existem trés estados: um, 0 nobre, outro, © meci~ Soe = aresio, 0 tiltimo, o dos privilegiados, que, pela milicia ou pela arte, Sieertam das profissdes s6rdidas]. Também progressivamente, este estado Gntermédio entre a nobreza c as profissées vis — eestado do meio», Spemieziados», «nobreza simples» — vai sendo assimilado 3 nobreza ¢, no Sa Sse. vate constraindo um novo conceito diferenciador, o de sfidal- Gee. on mesmo, mais tarde e por influéncia espanhola, o de «grandezay Bieetciro, 1987)" [Ess extensio do estado da nobreza (Hespanha, 19893, pp. 274 € segs.) —¢ “ee coesequente pulverizacio por classificagbes suplementares — fica mani- em ler tratados da época sobre a natureza do estado nobre™. Ai, reco Teste cassificagies anteriores (Aristoteles, Birtolo) ¢ adaptando-as a anti- ‘E= Gassifcacdes das fontes portuguesas, distingue-se nobreza «natural» € Gebece «politica» (ibid,, n, 200 e segs). Na primeira, incluem-se o principe, S Soeces silustres» (correspondentes aos titulares e fidalgos de solare; & Ondine flipinas, v, 92-120), 05 nobres matriculados nos livros da no- Bese (eFidaleos tasos»; cf. Ordenagies filipina, M, 1, 95 l $8.15; Ml, 295 1 & <5 © V. 120); 08 nobres por fama imemorial’ (OndenagSesfilipinas, uy 1, Fo geass cajo pai eta nobre (Ordenacies filipinas, v, 92). Neste caso, a fo estatuto decorre da natureza das coisas e prova-se pelos diversos Giese ce manifestacio da teadicio (desde a pritica de actos que competem Gee mctees até i cfama comum e firme», ibid., n. 209 e segs.), eventualmen Ge sSed2 por acto juridico formal (como a sentenca). Como natural, esta Geto < também, «gencrativar, ou seja, transmissivel por geracio. Ji a Getecz: «politicar decorre, nio da natureza, mas de normas de direito posi- Gee. dos costumes da cidade (n. 264 e segs.). Deste tipo é a nobreza que se Be pets czncia, pela milicia, pelo exercicio de certos oficios”, pelo Bestce « pelo decurso do tempo! Fasten: 6 estado do clero (Hespanha, 19892, pp. 257 ¢ segs.) se estende reeset, mbar cm muito menor guy do que o da nobreza. Para Gos clerigos de ordens maiores, gozavam do estatuto eclesiistico cer $= E ordens menores (tonsurados ¢ de hibito, servindo oficios eclesi a Odense flipinas, u, 1, 4; 1, 27) (Manuel Alvares Pegas, Commen- Bee & Ontinstiones Regni Portugaliiae, Lisboa, 1669-1759, tom. 8, p. 281, Be 5 = e+), 05 cavaleiros das ordens militares de Cristo, Sane'lago © Avis Petes: filipinas, 1, 12), desde que tivessem comenda ou tenca de que se Grmnsrsssems; 01 05 Cavaleiros da Ordem de Malta (lei de 18 de Setembro © ses © 6 de Dezembro de 1612). Mas, para além disto, no poucos lei- ar © doutor Anténio de Sousa de Macedo (om, 1683), jurist © Giplomacy o autor de uma interesante obra sobre as stds do jn (eres Ito in guacungue scent, imaxine i ture Conon, e cle, Condi, 649), tm verdadero compendio da auto-represenagio dow ania, contende normas fue vio da’ alimentagio ¢ Sfestuio até 38 Teturas (Banco Ae Portgal, cota 33.7) © Baneg de Portugl, Lisboa Foro 8. Sequn ~ CORPORIS IVRIS CANONICI GRATIANT DISCORDANTIVM CANONVM DECRETYM A.A coros nfo domingva uma Yigemte; um exemplo pico dito E constituido pelo dircito fanénico. Na imagem, © Corpus Juris canonii (ed. de Halle, 1747) ‘oleccio eandnica do direto da Igreja, compilada entre os silos Sir € Xv. Vigorou em Portugal, mesmo nos tibunais civis, basicamente até 3 Let da TBoa'Razio, de 18 de Agosto de 1760. Em slgumas matéris, como 0 regime do casamenio andnico, 4 sua viggneia prolon= fgourse até aos nossos dias (1975). {Tabi no domino do Sees icine OG f2s0 do, ditivo romano, spina dorsal do ordenamenta jurkica, snedieval ¢ modermo. Asa i el ote 0 pus is els (528-565), sel steamed los comentiriog (gloss) ds ey aed aicera imoderas: Na grvura, edigio Suinhentists do Digest, com locas rodeando o texto orginal ‘A Anguirecrura pos PopEres gos, desde que tivessem alguma relagio com os anteriores. Assim, gozavam de alguma parte do estatuto clerical (nomeadamente em matéria de foro) os eseravos e ctiados dos Cavaleiros de Malta", os oblatos da mesma Ordem, vivendo sob obediéncia (Lei da Reformacio da justica, n. 12), os familiares e criados dos coleitores apostélicos, desde que nio exercam oficios mecini- cos (ibid., n. 8), 08 affades leigose € os novicos (ibid., n. 14 € 15). E, mesmo no sestado do povor, muitos sio os privilégios — de certas categorias profissionais, dos cidadios de certa terra, das mulheres, dos an- cifos, dos lavradores, das amas, dos rendeiros de rendas reais, dos criadores de cavalos — que eximem ao estado comum (Hespanha, 1989a, pp. 279 € segs.). Esta multiplicacio dos estados privilegiados (isto é, com um estatuto ju= ridico-politico particular) prossegue incessantemente, cada grupo tentando obter 0 reconhecimento de um estatuto diferenciador, cujo contetido tanto podia ter reflexos de natureza politico-institucional" ou, mesmo, econémi- €2 (v. g., isengbes fiscais), como aspectos juridicos (v. ¢., regime especial de prova, prisio domiciligria) ow meramente simbdlicos (v. ¢., precedéncias, férmulas de tratamento). Com tudo isto, 0 que se verifica ¢ a progressiva separacio entre sestador © as fingées sociais tradicionais. Nobres sio cada ver menos os apenas «de- fensores» (militares), a0 mesmo tempo que, com 0 aparecimento de exércitos profissionais e massificados, muitos militares nio sio nobres. Uma exten= so do conceito de consitium (que, inicizlmente era apenas o consilium feudal, apandgio dos nobres do séquito real) permite nobilitar os conselheiros ple~ beus, nomeadamente os letrados. E mesmo a riqueza — originariamente era fandamentalmente indiferente do ponto de vista da nobreza — ja € conside- rada nobilitante a partir do século xvr; mas, em Portugal, sobretudo apés 4 legislagio pombalina que promovia a nobilitacio dos comerciantes ¢ in dustriais. Ou seja, a progressiva diferenciacZo social obriga a um redesenho das taxinomias sociais, embora se conserve fundamentalmente, como ma- triz geral de classificacio, © antigo esquema trinitfrio, a que, de resto, cor- respondia a representagio do reino nas cortes. Resta salientar como a classficacio social continua a ser entendida como decorrente da natureza das coisas — da transmissio familiar, de uma consti~ tuicio que se plasma na tradicio. E como, embora o direito feudal medieval incuisse nos direitos do rei (regalia) 0 poder de conceder armas ¢ brasies (para além dos senhorios das terras e dos titulos correspondentes), a nobreza Eentendida como uma virtude essencialmente natural, quer essa natureza seja uma disposicio familiar, transmissivel pelo sangue, para servi nobremen te, quer seja a reputacio ou fama que objectivamente decorre do exercicio de certas fungdes sociais. Inovagies dristicas nesta ordem natural introduzidas pelo arbitrio régio (privlégio real) sio sempre mal recebidas (Hespanha, 1991), pelo menos até 20 momento em que, subvertida a concepcio corporativa & substituida por uma matriz voluntarista, se comece a ligar o estatuto das pessoas — como, em geral, a constituicio politica — a um acto de vontade soberana. ‘A durabilidade, em Portugal, deste paradigma notivel. Nos finais do século xvi frei Joao dos Prazeres (no seu Abecedario real, ¢ regia instrugio de principes lusitanos, Lisboa, 1692) continua a recomendar moderacio «na pr6- pria Magestade» (p. 65) e cuidado na introducio de novos costumes: «os costumes (...) noveleiros, ameacio a Republica» (p. 72). © bem comum, por sua vez, continua a ser tido como compativel com 2 shonesta conve- niencia particular» ¢ esta com aqucle (p. 127). Mas ainda nos meados do sé- culo xvi, numa obra enciclopédica de Damio de Faria e Castro dedicada & instracio das elites politicas (Castro, 1749), os alicerces tebricos da teoria social e politica continuam a ser os tradicionais: «As Ethicas de Aristoteles serio 0 Norte» (Castro, 1749, vol. 1, «Proemios, inumerado 3). Na indica «ao dos seus modelos nio vai mais além do tacitismo cristianizado, da poli- tica eristi. A proposta de uma politica dirigida pela moral («se a Politica Ci- vil 9 nio for Moral, pouco merece este nome, ibid., inumerado 5), pela Justiga [ea justica(...) cinje o Real diadema da magestade, e empunha 0 cep- ‘tro do Imperio», ibid., 48)}, pela obedigncia as leis naturais («Fazer que 0s Qeeeemweeog im, gozavam 2 de foro) os sma Orden, os familiares 15). de certas res, dos am jos criadores 2, PP. 279 € estatuto jun po tentarido) tetido tanto) » especial de recedéncias, re sestadow apenas «de de exércitos ma exten= lium feudal, theiros ple é conside- tudo apés jantes @ in 1 redesenho ida como al medieval se brasdes "a nobreza nobremen xercicio de sroduzidas nha, 1991), porativa ¢ auto das fe vontade s finais do nstrugdo de > «na pro- 1 comum, sta conve- dos do sé dedicada a da teoria Aristoteles oitica Ci- © 3), pela ha 0 cep er que os |A REPRESENTAGAO DA SOCIEDADE & DO PopER observem as Leys, ¢ desajustarse elee das da razio, he querer hum fo formar homens», ibid.| e pela medida da prudéncia [+a Prudencia (...) das virtudese, ibid., 42]. O principe & tido como obrigado ao «bem ico» e A «utilidade dos seus vassallose (ibid., 114; note-se, em todo 0 ca~ fo sentido indeciso da formulagio). A aproximacio entre 0 governo da dblica e © governo da casa, entre politica ¢ economia, ¢ a consequente .cio da especificidade do «piblico» em relacio 20 «privado», si0 con- (ibid., pp. 182 € segs.) A POLITICA CATOLICA Bimeincira, connavra da epoltica catslicas — relembramos uma pro us, condenando 0 pragmatismo amoral de Maquiavel ou de Bodin, lc todo o civ, stentz i exigtncias da construcio ¢ engrandeciment® Poder nos matics condiionalsmos hstricos ~ ¢ 0 tacismo, divul- Mobretado 1 prrtit da obra de Joost Lips [ustus Lipsus, Polini SGwilis doctrina (...) qui ad principatum maxime spectant, 1589], que propoe ollca pragmitiea,atent aos condicionilismos de momento, tal fsrava decimnentads nts obras do historador romano, Mas que, alm ets ncseas font agiesbebs também nas fomtcs crstas, afoptando Kaleilsmo poltice cierado, que combine a atengio pela realidade po- Es concretac plas suas exigencsspritcas com o Tespento pela natureza tara ds Sociedade do'Poder®” Com o mesmo sentido c neste mes Be sro, cdtnse com Ila uma outra obra que, inspieda também em Tic Gert por muito impo o catcamo da epoitica caslicae, Refrimo-nos oro de Giovanni Boter, Della ragione di Sia, 1389, divulgadissimo espana e Portugal, ecm geral, em todos os ambiente da Europa ca da Contra-Reforma”™. Sfsmhém cm Portugal esta cortente intermédia encontrou expositores. IRs werdade, nessas décadas conturbadas do infcio do século xvu, em que a $5 Gnanccire, militar e administrative atingianfvis dramStcos, era de r= eceseldede uma releo sobre as materia de governo que nio se Keeasce em t6picos moralistas. Do lado dos circulos do Poder e dos préprios Heicos da poltice, multplicavam-se os alvites, mais ou menos sectoral, Bro ce extrntar que, no plano da reflexdo menos conjuncural, e tenia Bsstestsdo uma suscsio por uma nova problemética politica que destaca- Beco cncoicasy Oa stiericors eb exercicio de Poder, om tela, at Bes que tornam um Principe experimenado ou para mance na sua pes Bisos Estados que possui, ou para os conservar os mesmos Estados na for- Bite grander crigleal que tem, ou para com novos aumento usar, ou Bessctocar «antiga masea de que els se forman (Pedro Barbosa Homem, Bess dele juricey verdad razin de Estado, Coimbra, 1620). Logo emt ees, € cdtadn cm Porcugal 1 Vedadcia razin de Eade, de Fernando. Alvia “Castro. E, em 1626, sai a antes referida obra de Barbosa Homem. O ad- Texto da Restauracio —— ideologicamente apoiada na critica cerrada a0 amo- Besse c pragmatismo da poltca dos Austias — pos sob suspeigio tudo 0 Some misbcto de magtiavelsmo ou, mesmo de taciismo. Mesmo ho- leens conhecedores e participantes dos jogos da politica, como D. Francisco Perocl de Melo (1655; v Hospital das kas, 1652), crhicam Taco e, com Heke 2 concepcics da politica menos «puritanass® vinculadas 4 ordem moral Gleezal, 1081, vol. 1, pp. 170 © segs.) A «politica» é, entio, uma palavra Ieeakdica (Are de rar, cap. 1x, ct. por Torgal, 1981, vol. u, p. 175). Em todo Sn: poder coguad'ucse muna conente, mitigada, ae spolticos cis ‘See Anténio Carvalho da Parada (Ante de reinar, 1643), Antonio de Sousa “& Macedo (Armonia politica, 1651) ¢, sobretudo, Sebastiao César de Mene- Ke (Summa politica, 1649), em que, decerto sobre um fundo tradicional (ou SS se tratasse de uma politica «cristi»), estio presentes alguns dos princi- Ba spcliscas (poder, repuragio,disdnulocto, erperimentlisms Ipekitico)”. Note-se que estes dois cltimos estio associados 20 perfodo de So do cone de Catto Melhor, spose por um pe de = aie 133 A imagem da fama (da ease) deominva amb gn Stowrepresentagio da sociedade © do Poder. © ret era visto como 0 pai dos sibditos, 2 Repiblia, Eomo sua esport, © reno como Sau casa, Os lagos politicos ram vistos como lagos de amor e 0 remo como uma técnica de scplna semethane 3 da ‘economiay (ou dseiphina omestcay) Familia dos Gnas do See xu Muse: Nacional do ‘zilejo, Lisboa, c. 100.

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