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As eleições presidenciais sempre sinalizam possibilidade de mudanças. Necessariamente elas não ocorrem uma vez eleito o presidente, mas é com essa expectativa de mudanças que lidamos.
A crise que todos vivemos trouxe à tona muitas contradições que não estavam visíveis nos bons momentos vividos, mostrou certas tendências que, levadas ao limite, podem implicar em problemas graves para a nação. Também ficou mais clara a necessidade de se questionar as estratégias até aqui adotadas e as políticas públicas delas derivadas.
Titlu original
CONSIDERAÇÕES E PROPOSTAS POR UMA NOVA POLÍTICA ECONÔMICA
As eleições presidenciais sempre sinalizam possibilidade de mudanças. Necessariamente elas não ocorrem uma vez eleito o presidente, mas é com essa expectativa de mudanças que lidamos.
A crise que todos vivemos trouxe à tona muitas contradições que não estavam visíveis nos bons momentos vividos, mostrou certas tendências que, levadas ao limite, podem implicar em problemas graves para a nação. Também ficou mais clara a necessidade de se questionar as estratégias até aqui adotadas e as políticas públicas delas derivadas.
Drepturi de autor:
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As eleições presidenciais sempre sinalizam possibilidade de mudanças. Necessariamente elas não ocorrem uma vez eleito o presidente, mas é com essa expectativa de mudanças que lidamos.
A crise que todos vivemos trouxe à tona muitas contradições que não estavam visíveis nos bons momentos vividos, mostrou certas tendências que, levadas ao limite, podem implicar em problemas graves para a nação. Também ficou mais clara a necessidade de se questionar as estratégias até aqui adotadas e as políticas públicas delas derivadas.
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Publicado na revista Poltica Democrtica N 25, dezembro de 2009.
Introduo
As eleies presidenciais sempre sinalizam possibilidade de
mudanas. Necessariamente elas no ocorrem uma vez eleito o presidente, mas com essa expectativa de mudanas que lidamos. A crise que todos vivemos trouxe tona muitas contradies que no estavam visveis nos bons momentos vividos, mostrou certas tendncias que, levadas ao limite, podem implicar em problemas graves para a nao. Tambm ficou mais clara a necessidade de se questionar as estratgias at aqui adotadas e as polticas pblicas delas derivadas.
Ficou bastante evidente que teremos que aprofundar
questionamentos quanto ao modelo de desenvolvimento que pretendemos e como encaramos nossas possibilidades reais de crescimento. Para ns, que somos economistas, o desafio est em propor polticas econmicas que sejam capazes de atender as demandas impostas pela nova realidade. Temos que ser capazes de propor um novo estilo de gesto econmica que responda com mais eficincia s necessidades e momentos que esto por vir. Temos que poder olhar para a gesto pblica e, no nosso campo de interesse especfico, as polticas econmicas, entendendo que qualquer programa de governo deve ser sustentado num mundo real por um aparelho que complexo e tem mltiplas interaes, mas que tambm , em ltima anlise, o canal pelo qual as mudanas que propomos tero que ser implementadas.
Impossvel negar que, nos ltimos anos, o Brasil tenha
passado por um perodo de inditas mudanas econmicas e que esto permitindo ao pas uma oportunidade de, finalmente, vislumbrar um horizonte de desenvolvimento econmico com justia social. Mas, por ora, e apesar de alguns avanos, estamos muito longe de onde podemos e devemos chegar.
Apesar do discurso ufanista, avaliando o progresso de outros
pases emergentes nesse perodo, fato que o Brasil no se destaca. A percepo de sucesso e de avano relativa e tem muito a ver com nossas baixas expectativas e no uma avaliao objetiva do que realmente foi feito dentro do campo de alternativas que hoje temos.
A questo que se coloca agora, depois que passamos por
uma crise que por muito pouco no destri qualquer possibilidade de avano econmico, pensar quais as mudanas necessrias na poltica econmica para o Brasil traduzir essas oportunidades e potencialidade sem progresso concreto.
Nesse intuito vamos abordar quatro reas de poltica
econmica que se articulam e relacionam: poltica monetria, poltica fiscal, poltica cambial e poltica industrial.
Esperamos mostrar que um conjunto de mudanas, muitas
delas tcnicas, pode melhorar a eficincia da aplicao dessas polticas. Esperamos mostrar tambm que o que deve nos preocupar no so somente questes de polticas no senso mais restrito (policy), mas sim a construo e a articulao institucional entre as instncias que executam essas polticas. Esperamos mostrar que um dos grandes problemas dos ltimos anos foi o quase total desencontro na formulao, coordenao e execuo entre essas reas. Vamos, tambm, ter como tema a necessidade de mudar polticas e instituies para um perodo de sucesso e abandonar atitudes que serviam para um perodo de crise.
1. Poltica monetria e fiscal
Iniciaremos discutindo uma questo muito debatida nos meios
acadmicos e polticos: Porque as taxas de juros reais no Brasil so to altas? Embora possa ser certamente uma simplificao, h nesse debate duas posies bsicas. A primeira, defendida por um pensamento que se diz keynesiano, afirmando que as altas taxas de juros so fruto de um pacto entre uma classe rentista e seus agentes no mercado financeiro, os quais controlariam o Banco Central. Por essa lgica, parece que a soluo seria a simples tomada revolucionria? do BC por pessoas alinhadas com os interesses contrrios aos da classe rentista. Assim tudo se resolveria muito rapidamente e sem grandes complicaes. inegvel que a captura de instncias burocrticas por aqueles que eles as deveriam, pelo menos tentar, regulamentar um problema srio que aflige todo o aparelho do Estado ao longo de nossa histria. tambm verdade que a atual composio do Comit de Poltica Monetria (Copom) precisa ser reformulada. Vamos discutir isso mais frente. Mas pensar que o problema dos juros altos se resume a uma conspirao de elites demonstra, alm do desconhecimento da boa economia, enorme ingenuidade. Existe na verdade uma prova emprica elementar, capaz de demonstrar que a taxa de juros no Brasil alta, mas que ser alta no resultado do equilbrio geral da economia, por mais perverso que esse equilbrio seja. Apesar de alta, se os juros nominais determinados pelo Banco Central fossem to altos, por conta de uma tentativa de premiar os rentistas, deveramos observar uma queda continua da taxa de inflao.
Se a taxa nominal estiver acima da de equilbrio haveria efeito
contracionista reduzindo a inflao. No o que observamos concretamente. De fato normalmente a inflao brasileira tem ficado acima da meta fixada pelo governo, j bastante alta pelos padres das economias em desenvolvimento. Isto comprova que a taxa de juros nominal est meramente seguindo uma taxa de juros real determinada pelas condies estruturais da economia brasileira. O BC decide a taxa nominal, mas quem determina a taxa real o resto da economia, dentro de condies objetivas que independem da vontade dos economistas ou dos gestores pblicos.
Uma viso, alternativa, a correta a nosso ver, constatar o
bvio: A questo dos juros altos no Brasil tem fortes e complexas causas estruturais que, essas sim, devem ser atacadas. Dois pontos cruciais para a eficincia de uma soluo que vise manter juros baixos de forma sustentvel e de longo prazo: 1) Aumentar a eficcia da poltica monetria e 2) Diminuir a sobrecarga imposta poltica monetria. Vamos discutir isto.
2. Aumentando a eficcia da poltica monetria
Aumentar a eficcia da poltica monetria implica em atacar uma
variedade de arranjos institucionais que diminuem o impacto da poltica monetria sobre a economia, e, portanto sobre a inflao. Um foco importante seria implementar uma ampla desindexao da economia. Contratos que regem tarifas pblicas, regras que estabeleam nveis mnimos de reajuste de salrios, penses e benefcios, ou quaisquer outros mecanismos que criem inrcia inflacionria devem ser desmontados.
Devemos notar que, apesar disso ser mais fcil em um
perodo de inflao baixa e estvel, muitos desses mecanismos refletem a habilidade de certos grupos impor sobre outros grupos, ou a sociedade como um todo, mecanismos para transferir renda em sua direo, em seu favor. Cabe sim ao Estado o papel de arbitrar e combater o resultado negativo desses conflitos e no criar mecanismos de soluo automtica e fcil, mas que acabam gerando inflao inercial.
Alm dos resqucios de nosso passado de indexao, que,
insistimos, devem ser desmontados, h outra duas questes que precisam ser enfrentadas. A primeira algo j bastante debatido: a ainda grande apesar de cada vez menor fatia da dvida pblica atrelada taxa Selic, os chamados papis ps-fixados.
Alguns economistas, que na realidade conhecem muito pouco
os mecanismos de mercado e da relao Estado/mercado, tratam do assunto com certa mistificao. Segundo eles a existncia dos papis pr-fixados atrapalha o bom funcionamento da poltica monetria. Apenas no verdade. O que a existncia desses ttulos faz diminuir o efeito riqueza, tanto positivo quanto negativo, que as mudanas na taxa nominal causam em qualquer ativo que gere fluxos de caixa futuros. Dessa forma diminuem o poder desse canal de transmisso da poltica monetria e, portanto, geram a necessidade de uma taxa maior para levar ao mesmo efeito contracionista.
A soluo aqui deveria ser, apenas, uma determinao para
que o Tesouro Nacional fosse mais agressivo nas operaes de troca desses ttulos por outros. Mas, como vamos discutir a seguir, existem mais coisas que o Tesouro deveria fazer para mudar o perfil da dvida pblica e adequ-lo nova situao vivida pela economia brasileira.
Na mesma linha e tendo o mesmo efeito a utilizao da taxa
TJLP pelo BNDES para financiar investimentos de longo prazo. A TJLP, como hoje determinada, no sofre necessariamente nenhum ajuste quando a Selic muda. Isso isola aqueles felizardos que tm acesso carteira de crdito do BNDES do efeito contracionista do aumento da Selic e assim, como no caso dos papis ps-fixados, acaba forando o BC a ter que aumentar ainda mais o nvel dos juros sobre o resto da economia para obter o mesmo efeito, caso no existissem esses pontos de escape.
O caminho deveria ser uma gradual, mas necessria, reforma
da TJLP e dos moldes de operao do BNDES, para que essa taxa seja mais sensvel poltica monetria e possa ter um papel mais anticclico na economia, sem que se abandone o importante, e necessrio, papel de fomento que o banco tem hoje e ter no futuro.
3. Diminuir a sobrecarga colocada na poltica monetria
H outra razo para o Brasil ter uma taxa de juros real
demasiadamente alta, sobrecarregando a capacidade da Poltica Monetria como instrumento de controle de ciclo econmico e inflao. Tanto a poltica fiscal como a de crdito contm elementos fortemente prcclicos, apesar da recente utilizao do governo de toda uma falsa ideologia keynesiana para justificar forte incremento de gastos durante a crise.
Aumentar gastos durante uma crise, especialmente os de
investimentos, um direito de pases que demonstram responsabilidade na conduo da poltica econmica e o Brasil, felizmente, ainda, hoje um desses pases. Mas no desempenho recente dessa gesto o que vimos foi aumento de despesas correntes do governo que, por lei e por presso poltica, no iro ser reduzidas no momento que a economia se recuperar. O que vai causar, novamente, a necessidade do BC aumentar a taxa de juros, de forma forte, para impedir o aumento da inflao acima da meta estabelecida.
O que temos tido no governo atual, a partir da sada do
ministro Palocci, foi uma lgica que imagina que gastar mais bom durante pocas de forte crescimento porque, primeiro, h receita para isso e, segundo, porque o gasto pblico complementar ao investimento privado. Mas tambm bom gastar mais em momentos de crise para implementar polticas anticclicas. Enfim, sempre bom gastar mais!
Aqui o gasto no instrumento de poltica pblica, mas forma de
manuteno de poder de grupos no aparelho do Estado. Tal lgica sempre gera presso sobre a demanda agregada, estimulada pelo setor pblico. Isso pode ser especialmente nocivo, como foi durante o perodo 2006-2008, quando o investimento e consumo privado se encontraram em forte expanso, momento que seria ideal para o governo recuar na expanso de gastos do setor pblico. Mas, infelizmente, a lgica do h receita, ento temos que gastar torna o gasto pblico outro fator de expanso de demanda, deixando poltica monetria a ingrata tarefa de ser a ovelha negra da famlia e racionar a expanso da demanda via uma taxa de juros real mais alta.
Um resultado dessa falta de sincronia entre as polticas
monetria e fiscal so os permanentes e pblicos, fartamente publicizados, com intenes claramente polticas, embates entre o Ministrio da Fazenda e o Banco Central, que contam, eventualmente, com a equivocada participao do prprio presidente da Repblica. A falta de coordenao entre ambas instituies um pesado fator de incerteza para os agentes econmicos e que acaba apontando na direo do aumento do prmio de risco sobre os ativos financeiros, elevando o custo do endividamento da economia, um fator hoje relevante, dadas grandes incertezas sobre a conduo da poltica econmica no prximo ano. A soluo, para ser permanente, deveria passar por um conjunto de reformas institucionais que garantissem a coordenao efetiva entre ticas e interesses de gesto pblica que podem, at legitimamente a no apenas de forma oportunista, ser conflitantes.
Uma segunda rea de reforma deve ser aumentar a
flexibilidade na rea fiscal, tanto do lado das despesas como da arrecadao, para tornar a poltica fiscal mais sensvel questo cclica.
No aspecto relevante de uma maior coordenao, a proposta
seria uma reformulao do, agora, relativamente abandonado Conselho Monetrio Nacional (CMN), cujo nome talvez pudesse ser mudado para Conselho Econmico Nacional (CEN).
Formatar seu papel como instituio encarregada de,
periodicamente, alinhar as polticas monetria, fiscal e cambial, afinal tudo que est no mbito dos ministrios da Fazenda e do Planejamento e do Banco Central. O CEN poderia estar ligado diretamente Presidncia da Repblica,o que lhe daria status, e deveria ter corpo tcnico prprio.
Estaria encarregado de, em conjunto com os ministrios e o
BC, apresentar uma anlise peridica das condies cclicas da economia e propor um conjunto de aes para garantir, ao longo do tempo, que o crescimento econmico esteja o mais perto possvel do seu potencial.
Sua meta seria esta: Buscar o nvel mximo de emprego da
economia, mas sem prejuzo de que as polticas monetria e fiscal sejam coerentes e equilibradas.
importante insistir que a funo de uma estrutura como o
CEN no seria impedir que o BC atuasse com independncia operacional na sua poltica de juros. A funo do CEN seria alinhar as polticas fiscal e monetria, dado um cenrio econmico especfico. Disso sairia uma ao coordenada e planejada para ambas as polticas, reativa ao cenrio previsto. Na medida em que o cenrio realizado diferisse do previsto, todos os agentes envolvidos, mas especialmente o BC, dado a maior facilidade relativa em mudar a poltica monetria, deveriam ter a liberdade de implementar mudanas na execuo de suas polticas para atender s necessidades concretas do momento. Tal planejamento e coordenao, que deveria passar, por exemplo, por um processo de transparncia e informao pblica para melhor alinhar as expectativas dos agentes econmicos e aes do setor privado.
Assim o planejamento coordenado geraria um ambiente onde
a poltica monetria ficaria menos sobrecarregada na sua funo de controlar a expanso da demanda agregada, garantindo uma queda certa e sustentada da taxa de juros real.
Agora, isso s ser possvel e ser mais eficaz na medida em
que haja uma maior flexibilidade, nas duas direes: na execuo da poltica fiscal e dos gastos pblicos.
Hoje naturalmente existe alguma flexibilidade via o controle
que o Poder Executivo tem sobre a execuo oramentria, mas tambm, e bom frisar, pelo papel naturalmente anticclico da alta sensibilidade da arrecadao ao crescimento econmico, negativo ou positivo.
O desafio aqui conjugar o processo de planejamento
oramentrio, que deve atender a um conjunto de fatores de mais longo prazo, com um processo de execuo que deve estar em sincronia com questes do carter cclico, imediato, da economia.
Neste caso a sugesto que a deciso das estratgias de
execuo oramentria sejam colocadas no mbito do CEN, num sistema onde momentos de menor crescimento econmico possam levar a uma acelerao da execuo, gerando assim apoio demanda agregada pelo gasto pblico quando for necessrio. Ou a reduo da execuo em momentos de intensa atividade.
Da mesma maneira a execuo da poltica tributria deveria
tambm entrar no mbito de planejamento do CEN, assegurando uma poltica de aumento autnomo da arrecadao em momentos de forte expanso econmica, especialmente onde h fortes chances dessa expanso estar acima do potencial atual da economia, e, ao contrrio, corte autnomo de arrecadao frente ao menor crescimento. um formato que dar papel mais efetivo de instrumento de poltica econmica tributao, ao contrrio do que acontece hoje. Atravs do BC o CEN tambm deveria monitorar o setor financeiro e bancrio. A conseo de crdito e operaes nos mercado de capitais tm forte carter pr-cclico. So importantes tanto na gerao do ciclo econmico, como nas eventuais crises financeiras. Taxao de operaes, limites prudenciais de reservas contra perdas e outras medidas podem tambm adquirir carter anticclico e podem exercer importante papel na produo da poltica econmica.
Em resumo, podemos e devemos aplicar uma poltica de
maior coordenao entre as diversas polticas macroeconmicas para garantir sua maior eficcia. Note-se que a maioria das propostas envolve mudanas da forma de gerenciamento e no complicadas mudanas na estrutura atual. Tambm no necessitam de mudanas complexas na legislao vigente.
Uma ltima palavra sobre o Banco Central e o atual sistema
de metas de inflao. H, tanto no mbito acadmico, como no poltico, vrias propostas de reformular o atual sistema de metas. Ao sistema de metas se imputam quase todos os males da economia.
Algumas propostas concretas desse campo de pensamento,
analisadas com cuidado mostram que acabaro gerando, conforme o contexto, resultados com inflao igual ou maior que o sistema atual, que o criticado. Estas propostas incluem, por exemplo, ampliar o tempo usado para atingir a meta; mudar o objeto da meta do IPCA para um ndice menos abrangente; e dar o direito ao BC de cancelar a meta, em certas circunstncias. Nesses casos, dado que o mercado racionalmente precifica um prmio pela inflao esperada, a adoo dessas mudanas levar o mercado a formar uma expectativa de maior taxa de inflao, exatamente quando o propsito seria fazer o contrrio acontecer.
Devemos, ou deveramos, estar cientes que algumas
mudanas no sistema de metas, quando so unidirecionais acabam gerando expectativa de mais inflao no futuro, o que acaba elevando o nvel do prmio pedido pelos investidores e aumenta o custo de captao da dvida pblica.
Tambm devemos ter cuidado para no criar um rudo
exagerado no sistema atual com mudanas radicais e bruscas, que tambm acabam levando a uma alta do prmio inflacionrio nas taxas de juros. Um BC com modo operacional previsvel, isso deveria ser objetivo de poltica econmica, diminui o prmio de risco do mercado. No conceito da boa economia as sinalizaes do BC funcionam como indicadores, recados ao mercado e so acatados.
Mudanas bruscas, impostas de forma autoritria, que tratam
investidores, de forma ideolgica, como rentistas e, portanto, inimigos que devem ser combatidos, so parte incorporada do discurso vigente de muitos economistas que se autodenominam keynesianos e que, nessa lgica estreita, pregam tais reformas. Propostas deste gnero tero como resultado ltimo a desestruturao do mercado da dvida pblica federal. Talvez seja um projeto revolucionrio para o controle do aparelho do Estado pelas massas, mas no ser uma forma sustentvel de gesto pblica.
A verdade mais bsica que o Estado no s no controla o
mercado, um de seus financiadores junto com os rgos multilaterais e outros governos, como dele depende, no caso. Lidar com poltica monetria envolve um grau mnimo de compreenso dessa premissa. Muitos economistas embudos em suas hipteses pr-estatizao parecem no se dar conta dessa verdade mais elementar. Por isso lanar mo de estruturas tipo FGTS, onde o governo controla o Conselho, para financiar o BNDES ou substituir um diretor do BB, para baixar por decreto o spread bancrio, so atitudes atrativas para os atuais gestores pblicos e seus formuladores. Isso no quer dizer que o sistema atual perfeito e no merea mudanas.
Uma mudana que parece necessria e que no seria do tipo
que iria garantir apenas um resultado inflacionrio maior, seria reformular a composio do Copom, hoje bastante restrito, fechado, criando-se um sistema que inclua outros conselheiros que no sejam apenas do BC. Poderiam ser escalados em rodzio e essa proposta abriria as decises do BC a ideias e influncias diferentes, enriquecendo o debate da fixao da poltica de juros. Deveriam ser escolhidos dentro de critrios rigorosos de conhecimento e experincia na rea econmica e financeira, efetivo saber. Deveriam ser remunerados pela tarefa e passar pelo mesmo processo institucional de aprovao dos atuais diretores do BC. Incorporariam tambm as regras de obrigao de sigilo e intervalo mnimo de tempo para assumir funes no mercado. 4. Poltica cambial e industrial
Devemos tratar da poltica cambial e industrial como um
conjunto, pois hoje muito do debate sobre a poltica cambial passa pela afirmao que a tendncia de apreciao cambial est levando desindustrializao, no conceito acadmico do termo, com a economia brasileira se especializando cada vez mais no setor primrio de commodities e perdendo espao para o setor industrial devido reorientao dos investimentos de um segmento para o outro. Um forte exemplo seria o pr-sal. Isso seria nocivo para a economia como um todo, j que na indstria que se encontra o setor mais moderno e produtivo, indutor de avano tecnolgico.
Devido a isso seria vital que o governo adotasse medidas
para desvalorizar o cmbio, como controle/taxao de entrada de recursos, uma poltica mais agressiva de interveno do BC e at a constituio de mais um Fundo Soberano, para aquisio de dlares pelo Tesouro Nacional, mediante emisso de ttulos de longo prazo.
Provavelmente aqui onde fica mais claro que existe quase
que uma determinao de no entender como a situao do Brasil e sua insero na economia internacional podem ter mudado.
A afirmao que s a indstria agrega tecnologia no
procede. Pode ter sido verdade no passado, mas hoje, com o avano da economia de servios, um saudosismo um tanto inexplicvel afirmar que a indstria tem um lugar especial e privilegiado para a acumulao de conhecimento tcnico de ponta.
A formao e produo de conhecimento so hoje o grande
ncleo dinmico da economia. So nos ativos intangveis que dever estar o foco de investimento e interesse. Claro, isso no elimina a importncia do processo industrial, mas ele no mais o referencial principal. igualmente importante entender que h um novo lugar da economia brasileira nessa geopoltica mundial do ps-crise, cujo ncleo a ascenso das economias asiticas e o relativo declnio das economias do Atlntico Norte.
fato que o relativamente bom comportamento da economia
brasileira durante a crise deu-se, em grande parte, devido a nossa relao cada vez mais importante com a sia. Basta comparar o Brasil com o Mxico, economia que tem muitas semelhanas com a nossa e uma grande diferena: a quase total dependncia dos EUA para suas exportaes. A formulao da nossa poltica cambial e industrial tem que ser feita em relao a essa nova realidade e no um pensamento cujo tempo j passou.
Na esfera cambial temos que entender que, na situao atual, onde
ainda convivemos com taxa de juros reais altas e onde o Estado ainda tem grande dficit nominal, deve ser visto como estranho argumentar que devemos onerar o contribuinte com o custo de acumular um ativo de pouco rendimento, com uma tendncia de queda de valor: o dlar americano. Isso est sendo feito pelo BC, com um certo ganho, j que as reservas funcionam como importante seguro contra crises internacionais. Seguro para o pas poder implementar polticas anticclicas em momentos de crise, como foi feito na ltima. Mas uma poltica de aquisio agressiva o suficiente para realmente impedir a apreciao do Real frente ao dlar teria que ser de tal tamanho que ficaria muito difcil justificar para o contribuinte o seu custo.
Devemos entender, tambm, que controlar a entrada de
capitais algo igualmente ineficaz, pelo simples fato que, para ter a abrangncia necessria, tais controles teriam que afetar e taxar a entrada de investimentos diretos e de portflio. E isso num momento onde o pas precisa pensar em como financiar projetos tipo pr-sal ou cumprir compromissos assumidos com Copa do Mundo e Olimpadas. Tais controles tambm afetam, de forma desproporcional, o Tesouro Nacional, j que os investidores estrangeiros hoje esto entre os maiores compradores de dvida de longo prazo, ponto que os defensores da ideia de controle de capitais e que tambm pregam a necessidade de acabar com as LFTs, parece no compreender no reconhecendo que h uma contradio no conjunto de suas propostas.
Devemos olhar no para a restrio da demanda por reais, algo que
tende a crescer, na medida que a economia brasileira cresce em importncia, mas o outro lado da equao cambial, o aumento da demanda por dlares e moedas estrangeiras como um todo. Isso sim tenderia a depreciar a taxa de cmbio, mas de forma positiva para a economia. Pode ser feito por vrias maneiras, como, por exemplo, corte de tarifas de importao, mas vamos mencionar duas que se conjugam com a questo de uma poltica industrial. A primeira seria liberar nossos fundos de investimento e penso para investir fora do pas, diversificando suas carteiras. Tal movimento, hoje muito restrito, ajudaria na internacionalizao desse setor, algo que devemos procurar como meta de poltica econmica.
Na mesma direo devemos procurar incentivar a
internacionalizao das empresas brasileiras nos setores que hoje so mais complementares demanda asitica por nossos produtos. Devemos procurar agregar valor verticalmente nos setores de exportao onde o Brasil detm vantagem comparativa. Isto envolveria agregar valor no somente na formulao do produto, mas na sua comercializao, inclusive.
Nesse processo teramos o envolvimento de setores
industriais e de servios em uma cadeia contnua de agregao de valor. necessrio entender a histrica mudana que est levando o deslocamento do eixo econmico mundial para a sia. Um tratado de livre comrcio com os EUA seria no nocivo, mas irrelevante. Deveramos sim ter como meta principal de poltica externa no bolivarianos ou rabes, mas um tratado de livre comrcio com as potncias emergentes asiticas, buscando um processo de integrao de nossas matrizes produtivas, via comrcio e investimento direto mtuo de grandes grupos corporativos nas suas reas de atuao especfica.
H, nesse momento de declnio de consumo dos pases do
Atlntico Norte, a oportunidade de apresentar o Brasil, e o restante da Amrica Latina, como, no plano global, um lugar de consumo da produo asitica. Mas, para que isto seja possvel necessria uma integrao das cadeias produtivas das duas zonas, aumentando a renda e o potencial de consumo da regio. Respeitando todo um debate terico que estabelece a importncia de mudanas de comportamento para os pases emergentes: de poupadores para consumidores e integrao de seus ciclos poupana-investimentoconsumo. Esta uma deciso geoestratgica que afetar de forma positiva nosso futuro.
Importante ressaltar que essa proposta no
necessariamente conflitiva com a busca de novos padres de consumo/produo, mas deve ser compatibilizada a eles. Para finalizar, o que devemos formular no so polticas que tiveram o seu lugar num passado de falta de recursos, mas sim polticas para um presente e um futuro onde a abundncia de dlares, e no sua escassez, ser uma situao normal. Em vez de taxar a entrada de capitais estrangeiros, devemos incentivar a sada dos nossos capitais para buscar uma dimenso internacional para os negcios brasileiros. Esta a hora e a vez de buscarmos um novo patamar. As janelas de oportunidade esto abertas.
Compete aos brasileiros e brasileiras uma escolha e ser esta
escolha que orientar, para o bem ou para o mal, os prximos ano, afetando as futuras geraes. Temos sim alternativas de poltica econmica e podemos sim transform-las em propostas concretas e coerentes com todo um conjunto de novos paradigmas que o processo civilizatrio ter que assumir para se manter contnuo.
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