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A CONTRIBUICAO DA PSICANALISE AOS ESTUDOS SOBRE FAMILIA E EDUCAGAO Maria Cristina Machado Kupfer Instituto de Psicologia — USP O presente trabalho discute as concepgées psicanaliticas a respeito da familia e da educagao, procurando demonstrar que, para a Pricandlise, a familia no € entendida como um médulo da vida social, mas como uma estrutura no seio da qual se constitui a posicao de um sujeito frente & sexuagio. Por isso, o estudo das relagées entre familia e edueagao parece nao caber no dmbito da Psicandlise Porém, os escritos de Jurandir Freire Costa, um psicanalista preocu- pado em discutir as relagdes entre os determinantes séclo-culturais € 0s psicanaliticos, ajudam a apontar na direcio de uma integracao entre as leituras sociolégica e psicanalitica da familia e da educacao. Descritores: Familia. Educagao. Psicandlise o ser colocado diante do bindmio Familia-Educa¢io, um psica- A nulista teria provavelmente muito a dizer a respetto da Familie, pouco a dizer a respeito de Educagio, e praticamente nada a dizer a respeito da relagdo entre essas duas dimensdes da vida social. Falando a respeito de Familia, um psicanalista seria provavel- mente bastante prolixo. Afinal de contas, j4 & de dominio piblico 0 fato de que o fundamento teérico freudiano a sustentar a constituigo do inconsciente ¢ 0 complexo de Edipo, drama que se desenrola necessariamente no seio de um tridngulo que é familiar: no interjogo dos papéis encenados por individuos que ocupam as fungSes de pai, mie ¢ filho, um individuo aprende a articular seu desejo com uma lei que opie a esse desejo, um freio, ‘No interior da clinica psicanalitica, também so abundantes os discursos a respeito da importincia da introdugio da familia como um todo na condugfio da cura de muitos pacientes. Se o paciente a ser analisado é, por exemplo, uma crianga, é quase consenso entre os psicanalistas de criangas a crenca de que seus pais devam ser acompanhados, escutados, pois as dificuldades apresentadas pelas criangas sempre revelam algo a respeito da verdade inconsciente do casal de pais, sendo por isso encaradas tais dificuldades como sendo Psicologia USP, S. Paulo, 3(1/2), p.77 - 82, 1992 n Maria Cristina Machado Kupfer os préprios sintomas dos pais, dos quais a crianga nio passa de um porta-voz. Se de outro lado, o paciente em questio é um psicético, novamente a clinica psicanalitica nao hesita em recomendar um atendimento paralelo dos pais. Finalmente, também sfio muito co- nhecidas as experiéncias de terapia familiar, embora essa modalidade terapéutica j4 no seja, strictu sensu, psicanalitica. De qualquer maneira, todo esse discurso psicanalitico sobre a familia, se reunido em uma s6 obra, constituiria um volume avantajado. Jha respeito do tema Educacio, 0 discurso psicanalitico seria provavelmente mais acanhado, Embora Freud tenha se preocupado com ele a0 longo de toda a sua obra, o mimero de paginas por ele escritas em torno desse assunto nao ultrapassa a marca dos 200. No inicio dessa obra, tais péginas apregoavam a importincia da Psi- canlise para a Educagao, e transmitiam a crenga de que os ensina- mentos psicanaliticos, transmitidos aos educadores, poderiam se constituir em valioso instrumento de profilaxia das neuroses. Mas, nos escritos finais, Freud deixou de apostar nesse poder: nao havia ‘como prevenir 0 aparecimento da neurose através de boas orientagoes educacionais, Jéo discurso a respeito das relagdes entre a Familia e Educagao parece escapar do ambito da teoria psicanalitica. Do ponto de vista da Psicanélise, a familia nao é entendida como um médulo da vida social, ou pelo menos nao é com esse estatuto que 0 conceito de familia comparece quando se fala, por exemplo, do triangulo edipico. Pai e mie sto entendidos como fungdes e papéis que no guardam relagdes com as fungdes e papéis sociais desem- penhados pelas personagens que encarnam as fungdes maternas € paternas. Tais funges se referem ao papel que pai e mie desempe- nham no processo dentro do qual se constitui o que Lacan chama de sexuagio. A sexuagio nfo descreve um processo no qual um in- dividuo adquire um papel social de homem ou de mulher, mas descreve a constitui¢do de uma posigao subjetiva inconsciente frente 4 diferenca sexual. Atravessar 0 complexo de Edipo significa, em ultima anilise, ter de se haver com o fato de castragao, introduzida a partir do momento em que a diferenga sexual anatdmica é percebida por uma crianga. A constatagio dessa diferenca desaloja 0 sujeito da posigio subjetiva em que se encontrava até entio — posico de felicidade narcisica em que nada faltava, pois a completude vivida com a mie era sem falhas. Com a entrada no complexo de castragdo, ser necessirio que essa crianga faga uma escolha. Tera de decidir o que fazer com essa realidade. Ento, procederd ao recalque da castra¢do, tornando-se um neurético; recusi-la-4, sem contudo desalojd-la de seu inconsciente, tornando-se um perverso, ou expulsard essa lei para 78 (0 da Psicanilise aos Estudos Sobre Familia e Educasio fora de seu inconsciente, tornando-se um psicdtico. As figuras de pai € mie pilotam esse processo porque encarnam as fungdes de pai e mie. Porém, nada impede que um homem exerga fungao materna, ou que uma mie exerga fungao paterna, ou um irméo da mae exerga © papel do pai, ¢ assim por diante. Portanto, as fungdes no coin- cidem necessariamente com os pais sociais exercidos por essas personagens no interior do médulo social familiar. Assim, no é com a familia social que a Psicandlise se vé as voltas, mas com uma montagem légica, formal, estrutural, a ser encarnada por personagens. Uma demonstragao elogiiente de que tais estudos no cabem no Ambito da Psicandlise é feita por Jurandir Freire Costa, em seu livro Violéncia e psicandlise (1984). No capitulo "Saiide mental, produto da educago2", Jurandir sustenta a seguinte tese: a Educagdo no produz saiide mental, mas reproduz a ordem social. A Educacio incide sobre um Ambito preciso: atua na esfera do que Jurandir chama de identidade psi- colégica, buscando conformar tipos psicolégicos-padrio. Esse tipo psicolégico ¢ moldado pela classe social, busca universal particular, varia com a Histéria. O desvio do tipo psicolégico ordinario (TPO) pode ser causa de sofrimento mas nao ¢ sinénimo de doenga mental. A familia busca conformar o TPO, em si consciéncia. Nao por opgio, mas porque sua propria substincia € composta de repre- sentagdes socializadas que sio transmitidas & crianga que ai encontra uma referencia. No caso patogénico, a informagio ndo coincide com a intengdo do educador. Um pai pode querer ser um pai conforme um TPO, mas acaba dirigindo ao filho uma mensagem que ndo ¢ reconhecida porque nio tem tradugo na lingua dos TPO —uma mensagem cuja logica ele préprio desconhece e sobre a qual no tem controle. Jurandir faz uma espécie de corte, De um lado, ficam as insténcias psicolégica e sociolégica, que podem manter entre si uma relacio de influéncia, pois sio ambitos da mesma ordem — af, Familia e Educagdo mantém relagdes possiveis: mas do outro lado do corte, fica um outro registro que escapa As trocas entre o psicolégico € 0 sociolégico, um ambito inconsciente, mais propria- mente psicanalitico, que nao é gerado pelos valores e praticas sociais, mas depende de encontros entre estruturas inconscientes. Esse outro registro ainda nfo tem nome nesse texto de Jurandir. Ele apenas 0 constata, Se ficdssemos apenas com esse texto de Jurandir, a Psicandlise teria de ficar de fora nas discussdes em torno das relagdes entre Familia e Educagio. 9 Maria Cristina Machado Kupfer No entanto, Jurandir avanga em suas reflexdes em um outro livro, recentemente publicado, Psicaniilise e Contexto Cultural (1989). Jurandir é um psicanalista preocupado em integrar a leitura social com a leitura psicanalitica, sem apelar, contudo, para um freudo-marxismo ou algo do género. O que ele espera encontrar sio subsidios para promover esta articulagio do interior da Psicanilise. A idéia é procurar no interior do edificio psicanalitico os conceitos que permitam descrever um individuo que esti ao mesmo tempo submetido a variabilidade cultural e a invaridncia das leis que regem a formac&o de seu inconsciente. Se nfo se sai de dentro da Psi- canilise, evitam-se com isso os encaixes forgados entre teorias que partem de pressupostos diferentes, e que portanto dificilmente poderdo ser complementares. Ao buscar uma conciliagao entre a variabilidade da cultura com os invariantes postulados pela Psicandlise, Jurandir encontrou uma distingdo que foi por Lacan e que Ihe pareceu bastante util para esse propésito de conciliagdo: trata-se da distingdo entre eu incons- ciente e sujeito do inconsciente. J4 veremos em que consiste essa distingdo. Mas & importante, para ndo se perder o fio, dizer que, de posse dessa distin¢do, poderiamos fazer o seguinte, No corte que Jurandir fez, situando o psicolégico de um lado ¢ 0 psicanalitico de outro, poderiamos sitar, do lado do psicolégico, ou do tipo psi colégico, a esfera do eu, ¢ do outro lado do corte, poderiamos situar © sujeito do inconsciente. Entdo, ficaria assim: existe uma esfera, uma dimensio, uma instancia psiquica no individu, chamada eu inconsciente — conceito este que se encontra dentro do campo tebrico da Psicandlise —que recebe as influéncias da educagao e das priticas sociais instituidas, e que pode ser, portanto, modelado pelas préticas familiares. E existe, de outro lado, uma outra dimensio, que € postulada como invariante e universal. Em Psicanilise, & necessério trabalhar com alguns postulados invariantes: afirma-se a constincia das pulsdes, do inconsciente — © inconsciente propriamente dito no varia conforme a posigio social do individuo, e até mesmo uma crianga deficiente mental tem inconsciente, podendo portanto ser analisada —e a universalidade dos distirbios psiquicos. Mas —e ai esta a reflexdo de Jurandir que nos ajuda —a expressiio dessas mesmas pulsdes, desse inconsciente, desses distirbios psiquicos, pode variar. "A universalidade do di bio psiquico nao significa invarincia das expressdes psicopatoldgi- cas (...). Ndo temos dividas de que os distirbios mentais 56 existem através de certos conflitos subjetivos, os quais, por seu turno, esto scio-culturalmente determinados" (1989, p. 18). Desse ponto de vista, a Psicandlise tem agora algo a dizer a respeito das relagdes entre Familia e Educagio. 80 A Contribuigao da Psicandlise aos Estudos Sobre Familia e Educagio No interior de uma familia, entendida agora como um médulo nuclear da sociedade, montam-se pequenos eus, cujo estofo so as identificagSes com pais, com seus tracos e valores superegdicos, com ideais que eles thes vendem a varejo, Embora a historia de sujeito do inconsciente jé esteja selada, pois seu destino como neurdtico, psicético ou perverso nao se opera ao nivel do eu, ainda assim, sobre essa infra-estrutura serdo construfdos os elementos superestruturais egdicos e socialmente determinados. ‘A Educagio viré normalizar essas relagdes, vir imprimir-Ihes dirego e significagdo. Ao trabalhar na consirugio do tipo psi- colégico padrio, a Educagio nao estard fazendo outra coisa além de reproduzir as normas sociais vigentes, pois ser o arauto privilegiado dos ideais a serem perseguidos por esse eu em construgio, que precisa alimentar seu prdprio narcisismo através da persegui¢io a esses ideais. Mas, por detrds dessa montagem, jaz, surdamente, 0 sujeito do inconsciente, que se faz representar vez por outra em um lapso, em uma formagio do inconsciente. Sobre ele a familia e a educagio nio incidem, e nem devem incidir, sob pena de descaracterizar sua tarefa, eminentemente repressora e normalizante. Nenhuma pritica pedagégica instituida pode incluir em seus métodos regulares a consideragio ou mesmo a manipulagio dessa dimensio do individuo em formagio, Pergunto-me agora se nao é uma grande sorte que essa dimensio nfo seja passivel de enquadramento, pois se o fosse, estariam ameagadas pelo furor metodologizante da Pedagogia as suas forgas extremamente criativas. Ou entio, estaria ameagado o enorme poten- cial impulsionador de que ¢ dotado esse sujeito, pois sua mola propulsora é o desejo inconsciente. Imagine-se o desastre que acon- teceria caso esse desejo caisse nas mos normatizantes da Pedagogia, Existe, de um lado, 0 eu, a ser moldado, normatizado, padroni- zado pela Educagio e seus mandados (familia, escola, clubes, ¢ outras instituigdes do tipo). Mas existe, de outro, 0 sujeito, abstragio légica que est por detrés dos sonhos, dos atos falhos, dos homens que se deixam impulsionar pela verdade de seu desejo, dos homens que produzem Poesia e Literatura. Nesse constante jogo entre reter, reprimir, moldar, de um lado, e explodir, romper, transgredir seus préprios limites, de outro, os individuos caminham, transformam, fazem sua prépria histéria e a histéria dos homens. 81 COSTA, 1. psicoterapias, Rio de Janeiro, Campus, 1989 Maria Cristina Machado Kupfer KUPFER, M.C.M. The contribution of psychoanalysis to the studies of the family and education, Psicologia-USP, Sao Paulo, v. 3, 1.1/2, p.77 - 82, 1992. Abstract! In this paper the psychoanalytical conceptions of Family and Education are examined, in an attempt to demonstrate that for Psychoanalysis the-family is not conceived of as a module of social life but as a structure in whose core the subjects constitute their sexuality, That is why the relations between Family and Education have no place in Psychoanalysis, However the writings of Juran Freire Costa, a psychoanalyst who studies the relationships between ‘the socio-cultural and the psychoanalytical determinants, contribute to the integration of the sociological and psychoanalytical concep- tions of Family and Education, Index Terms: Family. Education, Psychoanalysis. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS Psicandlise e contexto cultural: imaginério psicanilitice, grupos € COSTA, LF, Violéncia e psicandlise, Rio de Janeiro, Graal, 1984, p. 63-78: Saide 82 ‘mental, produto da educagio?

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