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Esta colegdo ‘destaca alguns elementos que constituem uma pedagogia culturalmente relevante. A autora apresenta conhecimentos acumulados em 20 anos de trabalho de pesquisa - e trabalho colaborativo com educadores na Franga, Brasil e Estados Unidos. Os textos discorem sobre a interdisciplinaridade do ponto de vista do desenvolvimento biolégico e cultural da espécie humana, integrando conhecimentos das neurociéncias, antropologia e historia. Elvira Souza Lima Elvira Souza Lima PIPA cultura ciéncia cidadania copyright (C) 2005 Elvira Souza Lima capa 0 ilustragées: Gabriel Lima revisdo: Maria da Graga Abreu Editora Sobradinho 107 Caixa Postal 12833 Sao Paulo, SP 04009-970 (11) 50836043 1-Apresentacao Este toxto apresenta a estrutura de uma abordagem multidisciplinar de ensino com a perspectiva do desenvolvimento humano. Por um lado, a partir do tema proposto, a pipa, procura-se exemplificar como as diversas reas do conhecimento se relacionam entre sino sentido do desenvolvimento da funcao simbdlica, da linguagem, da percepedo e da meméria do aluno. Por outro lado, mostra-se como a formagaio de um conceito pode ser encadeado em duas ou mais disciplinas ou em duas ou mais atividades de estudo. As praticas ¢ atividades, neste texto, requerem a utlizagao das funcdes de percepeao, meméria, imaginacao, mobilizam a atengao e possibilitam 0 exercicio dos processos de pensamento. Sao apresentados alguns indicadores sobre os periodos de formacao humana nas idades abordadas (do 5° ao 15° ano de vida) ', no sentido de colaborar com o educador nas decisées que ele toma em sala de aula. Sao sugeridas, também, algumas formas de atividades necessdirias, para que a crianga aprenda. Pipa é uma pratica cultural de infancia que pode ser utilizada, também, para o desenvolvimento da cidadani A intengao é articular os conhecimentos escolares com a pratica cultural sem, no entanto, permitir que esta substitua 0 ensino e o trabalho sistematico necessdrios para a aprendizagem dos conhecimentos. Il - Introdugdo. Neste texto, utilizamos a pipa como uma possibilidade de ensino de contetidos escolares com eixo em uma pratica de cultura. Trebelhar com a pipe, na escola, @ um exempio. como uma pratic tural utilizada como eixo de ensino dos contetdos a uma. possibilidade de envolver a comunidade e uma oportunidade nvolvimento da cidadania e forma nossos alunos. - Construir e soltar pipas faz parte da histéria do ser humano, 6 uma prética da infancia encontrada em varios paises, inclusive no Brasil. Em nosso pals, com a urbanizagao ¢ 0 desenvolvimento da malha de transmissdio de eletricidade, a pipa passou a oferecer riscos a integridade fisica das criangas. E comum as pipas se enroscarem nos fios elétricos, os quais podem, inclusive, romper, interrompendo a transmissao da eletricidade e/ou machucando as criangas. A interrupgéo da transmissdo elétrica tem conseqiiéncias sérias, pois atinge varios setores da sociedade: transito, comércio e industria, atendimento médico © hospitalar, creches e escolas, empresas, servigos pilblicos. Nas casas, supermercados @ restaurantes pode acarretar perda de alimentos que esto na geladeira ou no freezer. ‘Com 0 habito de usar cerol (mistura de cola @ vidro mofdo) nas linhas, os riscos aumentam. Conscientizar a crianga da importancia de se empinar pipa longe dos fios elétricos e sem cerol na linha é, hoje, uma questéo de ‘educagao publica. Realizar um trabalho com pipas, nas escolas, assume, assim, um carater de prévengao de acidentes e de desenvolvimento da cidadania Pipa e Desenvolvimento Humano Quais conhecimentos estao envolvidos na construcao de uma pipa? - Conhecimentos matematicos: contagem, medidas, geometria, retas ¢ Angulos, area (superficie) ~ Estética: cores, combinagao de cores - Estimativa de peso, area x suporte + Calculo visual - Exercicio do pensamento espacial 4 Quais conhecimentos esto envolvidos em soltar pipa? - Conhecimentos de fisica: Velocidade em relaco a area da pipa; resisténcia da area da pipa ao ar; subida e descida (empucho); relagao forga x resist&ncia, célculo de espago velocidade Oque é bom para o desenvolvimento infantil? 1-0 desenvolvimento da fun¢éo simbélica ‘Toda aprendizagem escolar depende do exercicio da fungéo simbélica. Os conhecimentos das varias dreas séo organizados em sistemas conceituais que témna capacidade desimbolizar do ser humano seu eixo principal. Sendo assim, co exercicio da fungao simbdlica é essencial desde a educagéo infantil. Seu desenvalvimento é fundamental, pois estabelece bases para as aprendizagens futuras, incluindo as aprendizagens escolares. Na infancia, dar significado a forma é uma das capacidades mais importantes a serem desenvolvidas. © que é dar significado & forma? E poder transformar uma forma qualquer em um significado que corresponderé a uma representagao mental. Por exemplo, olhar uma nuvem e ver nela um cachorrinho, fazer uma colagem em que pedagos de papel ou pano viram uma casa, pegar um pedaco de papel qualquer e recortar uma flor. Todas estas sao alividades “simbélicas". Fazer uma pipa, também, pois pedagos de papel serao recortados & montados em um dos formatos possiveis de pipa: peixinho, arraia, estrola, lata de dleo... Soltar pipa, em si, 6 uma atividade simbdlica, no sentido de que ela é pratica cultural da infancia: a crianga se desenvolve pela apropriacao de praticas culturais, através, dala constitui uma identidade e pertencimento, integrando- se ao coletivo. E interessante observar aqui que, quando soltar pipa se transforma em um jogo de cortar e/ou derrubar as pipas 5 dos outros com a linha revestida de cerol, com a pratica continuada, este jogo acaba adquirindo, também, um valor simbélico. Dai a importancia de se resgatar a brincadeira de pipa na sua dimens&o de brincadeira popular, com as criangas. da educago infantil, uma vez que comportamentos culturais se estabelecem neste periodo. Sugerimos, entio, trabalhar ‘com 0 fator seguranca na brincadeira de pipa, a partir do 5° ano de vida. A pratica chinesa de escrever os desejos nas pipas envolve outra manifestagao da fungao simbdlica, que é a escrita. Além disto, soltar pipa com os desejos pessoais, nela inscritos, torna-se uma pratica cultural que se evidencia como um ritual, uma celebragao. Rituais sdo formas coletivas de ago que congregam as pessoas, aproximam umas das outtas e dao significado a vida em grupo, & comunidad. 2-0 exerc{cio do movimento A realizado de uma pipa envolve movimentos das mos e clculos. Cortar varetas, lixd-las, quando necessario, uni-las com a linha, enrolar a linha na vareta envolvem movimentos verticais ou horizontals e circulares. Soltar a pipa envolve movimentos amplos do corpo no espaco @ movimentos calculados dos bragos @ maos. Todos eles séo movimentos que precisam ser realizados, continuamente, para o desenvolvimento da pericia. A destreza nos movimentos é uma necessidade da espécie humana, que sobreviveu gragas a sua capacidade de construir instrumentos (construgdo esta que sempre dependeu da pericia) e de adaptar os movimentos para utilizar estes instrumentos. Esta dialética de interago corpo e objeto através do movimento é uma necessidade de desenvolvimento de todo individuo. ‘As neurociéncias mostram que 0 movimento é parte integrante do desenvolvimento do cérebro: 0 movimento forma imagens mentais, constitui redes neuronais que dao suporte ao exercicio do pensamento e & formagao de memérias. © movimento tern fungdes diferenciadas segundo 0 perfodo de desenvolvimento da crianga. Do nascimento a0 6° / 7° ano de vida, o movimento é estratégia de desenvolvimento: quanto mais novo o ser humano, mais ele precisa do movimento. O movimento, também, serve como ‘apoio para a formagao de memérias e para a evocagao ~ podemos vorificar isto com muita clareza nas criangas do 7° ao 11° ano de vida As praticas culturais da infancia sao muito importantes, pois todas elas envolvem exercicio de movimentos varios, movimentos cadenciados, seqiéncia organizada de movimenios em uma atividade. Desta forma, fazer e soltar pipa garante tanto a formagao como 0 exercicio de movimentos que, com certeza, contribuem para o desenvolvimento global da crianga. 3-0 exercicio da atengao e concentracao Apropriar-se da seqiiéncia de movimentos envolvidos ‘em construir uma pipa exige atengdo. Medir, comparar, cortar, colar, estimar sao todas agdes que exigem, de quem as faz, foco na percepeado (visual e/ou ‘all), na evocacao da meméria, para que as decisbes tormadas sejam as adequadas para a realizagao do produto final. ‘Como suporte ao exercicio da atengio, 0 professor pode pedir que seja feito o planejamento, por escrito, para se construir uma pipa, incluindo lista de materials, descri¢ao passo a passo, cuidadas a serem tomados para que ela voe, e assim por diante. Ou, também, registro deseritivo do proceso, apés a construgao da pipa. Ou, ainda, pedir que sea feito registro através de desenhos. Cada uma destas atividades mobiliza 4reas especificas do cérebro. Todas elas sap atividades adequadas para a meméria de longa duragao, uma vez que organizam os elementos da percepgao visual € tat, trabalnam com a distribuigao de atos no tempo e reforgam a formago de redes entre os neurénios. 4- 0 exercicio da imaginacao A pipa mobiliza 0 imagindrio humano, pelo vo em si. Na histéria da humanidade, desde a mitologia grega, constatamos 0 desejo do homem voar, suas continuas tentativas, ao longo dos séculos, até a sua concretizagao coma invengao do aviéo e, mais recentemente, da asa delta. Estas possibilidades coneretas de "vGo" so, no entanto, de avesso restrito para a maior parte da populacao. Soltar pipa 6 um jogo simbdlico com o ato de voar, enfatizado pelo fato de que a pessoa que solta a pipa precisa ficar de olho fixo nela e tomar decisdes, rapidamente, para que a pipa nao cabeceie, nao cala. Isto é verdade tanto para as criangas, como para jovens ¢ adultos. Na verdade, fazer esoltar pipas tem adesao muito grande de adultos. Em pafses como os Estados Unidos e a Inglaterra, existem associagdes de pipa formadas por muitos membros adultos e festivais nacionais @ intemacionais com a participagio deles. Fazer pipa é, também, uma profissdo. Outra dimensao de imaginagéo que a pipa mobiliza 6 no Momento de sua fabricagao: Qual formato? Quais cores? Que decoracao? Papel de seda, pldstico ou papel manteiga? Quais mensagens? Rabiola, rabo ou corrente? O que fara dela uma pipa “tinica”? Estas s&o questées que se colocam e que sao resolvidas a partir da imaginacao de cada um. A professora pode problematizar, colocando os elementos para se fazer a pipa. Por exemplo, s6 usar formas geométricas. Ou, entéo, usar recortes para a decoracao. Entretanto, cabe aqui enfatizar que criagéio depende, também, da nao apresentagao de modelos, pois a crianga, acostumada a propria cultura da escola, que enfatiza muito a cépia, tende a imitar 0 modelo e, com isto, nao exercita a propria imaginacao. Apipa é uma brincadeira infantil em que a construgao do brinquedo, ainda, se mantém. Com a industrializagao, a crianga, praticamente, deixou de “fabricar” brinquedos, fato comum hd quatro, cinco décadas atras. Fazer pipa, ainda, ¢ parte integrante de “soltar pipa”. Este construir 6 importante na educacao infantil e nos primeiros anos da educagao fundamental. Nas criangas de educagao infantil porque pessibilita 0 trabalho com geometria no periodo de desenvolvimento em que as oiangas estéo aprendendo a representar as formas geométricas. JA com aquelas a partir do 6°/7° ano de vida, 0 processo de fazer pipa vai problematizar conhecimentos da area de matematica e fisica. Conceitos mais complexos de fisica poderdo ser trabalhados com alunos das tiltimas séries do ensino fundamental. 5- Desenvolvimento e formagao dos processos de memoria Fazer pipa trabalha tanto com 0 guardar na meméria (aprendizagem de como se faz a pipa), como evocar (como se fez uma pipa antes). Fazer pipa exercita, também, a memoria de procedimentos, pois implica em realizar a aprendizagem de um ‘script’. “Script” é uma sequéncia de agées organizadas no tempo: vareta - medir, calcular, cortar, montar fic — prender varetas em angulo reto pepel—medir, cortar vereta + papel — colar rabiola / rabo ~fazer e prender na pipa 6- Exercicio de avaliagéo e de tomada de decisao. processo de construir a pipa @ o produto da ago — a pipa construida — apresentam resultados conoretos que permitem avaliacdo e reajustes. Por exemplo: se a crianga corta um retangulo de papel de seda menor que a esirutura des varetas, verd que 0 calcul feito esté errado. Tera, entao, um problema a resolver. Para a solugao, pode considerar 9 altemativas, como cortar um pouco da vareta, criar emendas no papel, cortar outro retangulo maior, criar uma solugao esiética, acrescentando beiradas de outra cor, etc. 7- Desenvolvimento da percepgdo visual No processo perceptivo visual, nas criangas menores (4° ao 7° / 8° ano de vida), fazer pipa relaciona-se 20 desenvolvimento de éreas do cérebro envolvidas com 0 processamento de cores, com a nomeagao das cores e com a“escolha" de cores do papel (tomada de decisao). Relaciona- se, também, pela formagao de imagens das formas geomeétricas e pela transformacao de formas em outras, Por exemplo, recortartriangulos, a partir de um retangulo de papel de seda, recortar quadrados de um retangulo de papel de seda ou plastico. O que serd bom para as aprendizagens escolares? O trabalho com pipa pode ser desenvolvido em varios periodos de desenvolvimento do aluno, da pré-escola ao ensino médio. Ele permite a interdisciplinaridade, envolvendo matematica, geometria, fisica, historia, arte, estética, geografia. O professor tera, portanto, varias possibilidades de explorar 0 tema na Educagao Infantil e em séries iniciais do Ensino Fundamental. Nas séries finais do Ensino Fundamental e no Ensino Médio, professores de varias matérias poderéo utilizar 0 fazer soltar pipa como apoio para o desenvolvimento do pensamento matematico e da compreensao da fisica. Com a construgdo da pipa e a brincadeira de solté-las, podem ser criadas varias situaces de escrita e de leitura.Por exemplo, como prevencao de acidentes com pipas, podem ser trabalhados varios tipos de texto: folhetos, propagandas, adivinhas, poesias, histérias em quadrinhos. Tem-se, também, a possibilidade de formar comportamento ético e responsavel na producao de folhetos, 10 propagandas e histérias em quadrinho para conscientizagao da comunidade. Como soltar pipa é uma pratica cultural e parte da infancia brasileira, muitas criangas tém desenvolvimento do Iéxico (Vocabulario e acervo de imagens) em relagao a pipa. E mais facil escrever sobre algo que temos coisas a dizer, assim, a estrutura da lingua pode ser constituida ou desenvolvida com maior facilidade. IV- Pipae inclusdo de criangas com diversidade biolégica No desenvolvimento humano, podem existir impedimentos diversos: alguns comprometem a execugao de movimentos, mas ndo afetam as operages mentais. Em outros, acontece o contratio: a movimentagao 6 preservada, ‘erquanto o desenvolvimento das fungdes mentais pode ficar ‘ccmprometido em um ou varios aspectos. Em outros casos, ainda, hd impedimentos de ambas as ordens. Em todos os casos, no entanto, a crianga tem um desenvolvimento cultural. As praticas de infancia, os jogos ¢ as brincadeiras sdo estratégias importantes para a aprendizagem e 0 desenvolvimento de qualquer crianga, especialmente, de criangas com diversidade biolégica. Assim, a pipa que se insere neste conjunto de praticas de infancia, também, se coloca como uma situago de desenvolvimento para essas criangas. Por ser, também, uma situago de autoria, ou seja, a crianga cria, vé 0 resultado, avalia o que faz, sente-se “reafirmada” em sua condigéo de ser humano capaz de realizar um produto, o que contribui para elevar a sua auto- estima. ‘A produgao de pipas envolve roteiro ou seqliéncia de agdes, como vimos. Este roteiro pode ser executado por pessoas cuja diversidade nao impede movimentos com os membros superiores e/ou maos. E, como fazer pipa envolve o tato, pode ser, igualmente, executada por pessoas com comprometimento 1" visual. Nestes casos, é interessante que se inicie o trabalho com formas geométricas, pelo tato desde a pré-escola, para a formagdo de imagens mentais. E interessante, também, prosseguir com atividades envolvendo figuras geométricas bidimensionais e tridimensionais, nos anos subseqientes. Para 0 caso de diversidades biolégicas, que afetam as fungdes mentais, fazer pipa 6 excelente para a construgao de “scripts” (ordenar agdes no tempo) e para exercicio da vontade e concentracdo da atencao. V - Préticas Culturais Podemos entender o brincar como uma pratica cultural, através da qual se exercitam as atividades necessarias para 0 desenvolvimento. Em muitas brincadeiras, Por exemplo, a crianga pode experimentar as diversas modalidades do andar e do correr. Correr é uma necessidade fisica do desenvolvimento e se incorpora em atividades infantis que sao constituidas na vivéncia do corpo com 0 ‘espago. Assim, para a crianga do 3° ao 4° ano de vida, sO corer j4 6 uma brincadeira. Da mesma forma, o prazer de correr, de um lado para o outro, de dangar, de se mover continua sendo muito importante para a crianca maior. O prazer destas brincadeiras de movimento est na propria atividade em que repeticao e continuidade sao constantes. E 0 que acontece nas brincadeiras de roda — rodar é correr “de lado” — nas quais as criangas desenvolvem a circularidade do movimento do corpo. A brincadeira de empinar pipa, também, 6 um ‘exercicio de movimento, embora mais complexo do que o Pega-pega, mae da rua, mae da lata, brincar de roda. Ela envolve calculos de deslocamento no espaco, velocidade e previso. Para a crianga do 5° ao 8° ano de vida, aproximadamente, este exercicio possibilita a formacao da nogao de “corpo proprio” ®, desenvolvimento do esquema corporal, lateralidade e posicionamento no espago. Para as criangas maiores, possibilita ampliar a representagao interna 12 dos movimentos e a integragéo de movimentos sucessivos, ccnstituindo a pericia do movimento, que pode servir tanto a realizag6es cotidianas como a pratica de esportes, A medida que a crianga vai se aperfeigoando na atividade de soltar pipa, ela vai reforgando as redes neuronais, que permite planejar uma ago, realizé-la © ajusté-la. O ajiste, que nada mais 6 do que avaliar e reformular 0 movimento, segundo 0 que se avaliou, importante, porque implica em tomada de decisdo rapida: se a pipa comega a cair ou a dar cabegada, tem se que, rapidamente, decidir 0 que fazer para que ela retome o “vo”. Neste processo, a cranga se apropria da seqiiéncia ver / observar, avaliar, decidir, agir, seqUéncia fundamental para as aprendizagens dos conhecimentos escolares. Pipa, papagaio, quadrado, curica... Sao varios os nomes usados no Brasil para significar © que chamamos em Sao Paulo @ no Rio de Janeiro de pipa. Em S4o Paulo, usamos, também, papagaio e quadrado. Papagaio é nome herdado de Portugal e comum em todo Bras No Norte e no Nordeste, recebe os nomes de curica, cengula, arraia, morcego, lebreque e bebeu. No sul do Brasil pandanga e raia so os termos mais comuns. No Japo, 0 nome é toké, na China, aonde foi inventada, shiroshi e shiem. Em inglés, é kite, em francés cert volant. Em espanhal, papalote (México), barrilete (Argentina), cometa (Urugual, Espanha) Para.as criangas de qualquer pais, solfar pipa, empinar papagaio, fly a kite, voler un cerf volant,é muito divertide. Pode ser feito sozinho, com um ajudante, em grupos, com 0 pai, a mae, um tio, um av6... Porisso, é uma oportunidade de interacao tanto entre familiares, quanto entre amigos. Quando 0 adulto brinca com 13 a crianga, ele revisita sua infancia. Ao brincarcom ela, o adulto se permite fazer movimentos, experimentar e expressar ‘emogées que ele, geralmente, ndo faz mais na vida adulta e isto 6 bom para o seu desenvolvimento humano. Portanto, soltar pipa pode ser um momento de comunicagao entre adultos e criangas.Momentos de prazer, descontragao & alegria. Para tanto, é importante observar as regras de seguranga e usar 0 bom senso (discutidas mais adiante). Soltar pipa 6 brincadeira de menino? Isto depende da cultura de cada pais. No Brasil, sempre houve predominancia do concelto cultural que fazer pipa e soltar é “coisa” para meninos. JA 0 mesmo nao acontece em paises como os Estados Unidos @ a China, onde soltar pipa é “coisa” da infancia, de modo geral. Privar as meninas de certas brincadeiras 6 um limite imposto ao desenvolvimento. Por exemplo, fazer e soltar pipas, jogar bolinhas de gude, rodar pido sao atividades culturais que formam comportamentos de célculo, previsao, exigem tomadas de deciséo bem rapidas e formam o Pensamento espacial da crianga. Ao nao participarem em brincadeiras como estas, as meninas no usufruem destas praticas culturais constitutivas do desenvolvimento na infancia. Prdtica Cultural Chinesa Os chineses usavam a pipa para langar seus desejos no espago, durante a celebragao da passagem do ano chinés. Esta é uma idéia para uma atividade escolar: fazer a pipa, escrever nela os pedidos e desejos e solté-la para que eles possam subir aos céus. Para o desenvolvimento da cidadania, podem ser sugeridos aos alunos temas especificos para escrever nas pipas, como, por exemplo, pedido: para uma infancia melhor 14 para a melhoria da comunidade para a paz pola natureza — agua, terra pelos animais em extingao Esta 6 uma atividade que desenvolve a cidadania e 0 ‘comportamento ético, ao mesmo tempo que 6 uma situagao de escrita que, portanto, pode ser realizada por criangas do ensino fundamental e mesmo de educacdo infantil, que podem registrar seus desejos em desenhos. Do ponto de vista do desenvolvimento, promove orfentacdo do corpo no espaco e organizagao do movimento, No caso de soltarem as pipas, pode-se propor um jogo: por exemplo, quals os pedidos que vao chegar mais alto? Quais chegardo no alto primeiro? E assim por diante. Perguntas que mobilizam a imaginagao: Seré que: - as criangas indigenas soltam pipa? - da para soltar pipa na floresta? - tem perigo sottar pipa na floresta - toda pipa precisa ter rabiola? - dé para fazer pipa de papel de embrulho? - 6 brincadeira sé de crianca? - ébrincadeira s6 de menino? VI- Cidadania Soltar pipa acontece, quase sempre, em lugares publicos, Com o desenvolvimento das redes elétricas urbanas, soltar pipa passou a apresentar riscos por causa dos problemas que podem acontecer, se ela enroscar nos fios de eletricidade. Acidentes deste tipo podem levar & interrupgdo da transmissao elétrica. Soltar pipa com seguranga envolve responsabilidade consigo mesmo e com os outros. 15 Através do trabalho em torno do soltar pipa com seguranga, pode-se desenvolver, no aluno, 0 sentido do coletivo, a consciéncia de que a acao individual afeta a vida em grupo e a capacidade de adaptar uma atividade (no caso soltar pipa), para que ela nao prejudique o cotidiano das pessoas da comunidade. No caso especifico do cerol, este cuidado com 0 outro € absolutamente necessario, pois a linha revestida com vidro moido 6 perigosa: corta e pode até matar. Quais sdo as regras de seguranca? Os cuidados para fazer pipa: nao usar rabiola de material metalico abandonar a idéia do uso do cerol Os cuidados para soltar pipa: soltar pipa em Areas abartas, longe dos fios elétricos soltar pipa em dias de céu limpo, sem nuvens de chuva soltar pipa, prestando atencdo no que esta por perto: atravessar ruas nao 6 uma boa idéia soltar pipa, no cho, nunca em cima de lajes Qs cuidados se a pipa cair: E importante nao sair correndo atras dela, principalmente, se houver ruas com tréfego por perto. Se cair na casa dos ‘outros, 0 correto é chamar o morador e pedir a pipa. Se cair em uma subestagdo de energia elétrica, pedir para algum funcionério pegar a pipa. Os cuidados se a pina enroscar em fios elétricos: A coisa mais importante € nao tentar recuperar a pipa, puxando pela linha ou usando varetas, pedagos de pau ou outro objeto. Também, é importante nao subir em algo para tentar desembaragar a pipa, ou subir na propria torre de energia 16 Ocerol Ha décadas atrés, as criangas enceravam a linha para que ela ficasse mais firme. Nesta época, havia uma variante da brincadeira de soltar pipa que era “lacar” a pipa do outro. Mais tarde, criou-se outra variante que visava a “derrubar” a pipa do outro. Com isto se desenvolveu a “técnica” de colar vidro moido na linha, tomando-a um objeto cortante. E o cerol, hoje muito comum, responsével pelo aumento significative de acidentes com pipa: fere as pessoas, corta e chega a matar. As vitimas mais comuns, ciclistas e motociclistas, so egos no pescogo pelo cerol. As criangas, também, sofrem muitos cortes. Contudo, muitas pessoas usam 0 cerol sem ter a menor nogao de que seja téo perigoso. Para que a crianca compreenda as conseqiéncias ruins do uso do cerol, é importante incluir agdes em sala de aula que revelem, concretamente, como 0 corte de vidro fere, mutila e pode matar seres humanos. © objetivo principal 6 estabelecer, na meméria da crianga, informag3es organizadas por conexées neuronais esidveis, que permitam a evocagao prontamente. Assim, quando um amigo convidar a passar cerol na linha, as conseqtiéncias estarao, firmemente, organizadas, @ poderao se” evocadas e vir & consciéncia, prontamente. ‘Como as memérias séo moduladas pelas emogdes, a informacdo sobre os perigos do cerol precisa ser “conectada” as emogdes. Quanto mais marcada for pela emogao, maior a possibilidade de ser, imediatamente, evocada como meméria. Vil - Atividades de Estudo Para que o ser humano se aproprie dos conhecimentos escolares, é necessario, em qualquer idade, que ele realize atividades especiticas, proprias do funcionamento cerebral 7 Estas so atividades distintas das realizadas na vida cotidiana e que precisam ser ensinadas pelos educadores. Isto 6, enquanto que o ser humano dispde de estratégias de desenvolvimento que sao da espécie (como a imitagao, por exemplo, da qual o bebé jd disp5e ao nascer), outtas so produtos do desenvolvimento cultural da espécie e precisam ser passadas de geragao a geragao. Quais atividades s4o fundamentais para a aprendizagem? 1- Observacao 2- Registro 3- Organizagao 4- Relato 5- Comunicagao __ Estas atividades desenvolvem comportamentos felacionados a perceber, refletir, compreender @ expor. 1- Observacdo A observago pode ser realizada com um ou mais dos cinco sentidos e ampliada pelo movimento. Basicamente, a observagao 6 um exercicio de um dos sentidos ou da integracéo de dois ou mais sentidos, com 0 objetivo de “perceber” o que se passa, 0 contexto, a comunicagao entre as pessoas. Ela pode ser mais detalhada, se o aluno souber que serd convidado a expor suas idéias ou os fatos observados, posteriormente, 2: Registro O registro é um suporte externo para a memoria. Ele tem duas fung6es em relagao a atividade cerebral: quando escrevemos algo, mobilizamos varias Areas do cérebro e tomamos consciéncia de coisas das quais somente o pensamento (linguagem interna) nao dé conta. Ou seja, varias coisas se organizam entre si no ato de escrever: a propria agao (movimento) leva a estimulagao de redes neuronais jA 18 exstentes e a formagao de novas conexées entre os neuronios. Pode haver um reforgo ou aumento da rede, com foralecimento da meméria. O registro pode ser feito em varios suportes (caderno, computador, fotografia, video), “in-loco” ou de meméria. Registro “in-loco” é quando ele ¢ feito, concomitantemente, con a observagao, que leva ao desenvolvimento da percepgaio e facilita os processos de atengao. "De meméria” quando ¢ feito apés a observacao. registro pode ser feito com imagens, desenhos, escrita, colagens, sistemas mneménicos (suporte para a meméria), com a utilizago de produtos culturais, como cémera fotogréfica, video, gravador, etc. E interessante selecionar algumas formas de registro @ ensind-las aos alunos, pois registrar é um comportamento escolar que se aprende e depende de ensino. Por isso, 6 importante que o professor, em seu planejamento, estabeleca tempos determinados para ensinar os alunos a registrar e a fazer do registro habito de estudo. Por exemplo, o professor pode eleger, inicialmente, trés formas de registro, digamos, desenho, escrita ¢ diagrama. Observagao e registro podem vir juntos e serem utiizados em situagdes diferentes para cada drea de conhecimento, pois contribuem para a formacao de conceitos. Abaixo temos tr8s exemplos de registro que podem ser propostos aos alunos: Caderno de Idéias do Projeto Pipa Neste caderno, 0 aluno realiza anotagdes de todo tipo, sempre datadas. Pode-se orienté-lo a observar e a registrar © contexto (onde), a ago / atividade realizada (como), 0 tempo (quando). Pode-se incluir planejamento de acdes e idéias “soltas” que ocorram. Pode-se, também, incluir perguntas e ser um local de registro de possiveis solugdes para os problemas ou desafios colocados para toda a classe. E, at6 de relatos, como veremos adiante. 19 Recordando Cademo em que a crianga relata, diariamente, 0 que foi feito no dia anterior. E um excelente exercicio de evocagac Reforga as conexdes neuronais realizadas e pode servir como base para planejamentos futuros. Serve de apoio extemopara ameméria. Diciondrio da Pipa Ciéncia e Cultura Dicionario feito pelo aluno, geralmente, com folhas soltas. Nele, o aluno da entrada as palavras (verbetes) que vao surgindo. O aluno pesquisa a informagao © escreve no dicionério, podendo ilustré-lo. O professor pode determinar cinco verbetes iniciais. Por exemplo: pipa, empinar, papagaio, rede elétrica, tetraedro. 3- Organizacao Para a organizagao, a pessoa dispée de inimeras. Possibilidades desenvolvidas ao longo da evolugao cultural da espécie, A invengao do computador, por exemplo, provocou uma revolugao nas possibilidades de organizagao. Mapas, diagramas, esquemas, sinopses, redes conceituais, listas, desenhos, representagées tridimensionais (maquete, modelagem, escultura, montagem, etc.) sao algumas das possibilidades de organizagao do que foi observado e registrado. Esta organizacdo pode servir somente a quem o faz, como uma “atividade de pensamento extemalizada”. Ou pode, também, visar a uma comunicagéo ao outro, E interessante desenvolver ambas as formas, pois elas desenvolvem aspectos distintos do pensamento mobilizam fung6es diferenciadas no cérebro. 4- Relato O relato pode ser oral ou registrado em algum suporte (papel, lousa, computador). Ele ¢ uma atividade que se apdia na organizagao das informagSes ou dados, porém, vai além, ao exigir uma narrativa com consisténcia interna, coeréncia e seqliéncia légica. 20 Habituar 0 aluno a fazer relatos esoritos 6 de grande funcionalidade para o desenvolvimento humano, pois a escrita provoca a formagao de redes neuronais estaveis, 0 que contribul muito para a formagao de conceitos. 5- Comunicagao ‘A comunicagdo pode ser oral, esorita, imagética (com imagens paradas ou imagens em movimento), construgdes tridimensionais. Pode ter como suporte cartaz, livro, folheto, propaganda, etc. Ou pode ser feita através de animagao, filma, video, seqiéncia de fotos, data show. ‘Temos inimeras formas de comunicar ao outto idéias ou informages. Por exemplo: Linguagem oral Linguagem escrita Desenho — varias técnicas Colagem Escultura — papel maché, sucata Historia em quacrinhos Charge Foto (maquina comum ou maquina de lata) Video Cd tom Masica ‘Teatro: mudo, de bonecos (palito sorvete, marionetes, de dedp etc.), de sombras, dramatizacdo, comédia. ‘Animagao (por exemplo, cinema com caixa de sapato, com imagens passadas em rolo). Todas estas formas de comunicacao sao exercicios da fungao simbélica, portanto, sempre importantes para os alunos nas varias idades. Segundo o perlodo de desenvolvimento, algumas formas coincidem com estratégias proprias da idade: do 4° ao 7° ano de vida, o desenho e a dramatizagao (faz-de-conta). Na adolescéncia, o teatro e a musica s&o atividades, fortemente, motivadoras. 21 A construgao de pipas permite agrupar alunos do mesmo ciclo numa mesma atividade (no caso de redes de ensino, onde exista o sistema de reorganizacao de turmas), ou em atividades coletivas programadas pelo coletivo da escola, envolvendo séries distintas, no caso de seriagao. Pode ser utilizado o procedimento de monitor: alunos mais velhos @ que saibam fazer pipas podem ensinar pequenos grupos ou duplas de outros alunos. Na ago de explicar como se faz @ na de monitorar passo a passo a realizagao, o "monitor" é obrigado a trabalhar com os conceitos matematicos envolvidos, o que ajuda o desenvolvimento do seu proprio pensamento matemdtico. Como realizar atividades de estudo com a pipa? Um bom exemplo poderia ser a pesquisa, na comunidade, feita como tarefa a distancia (incluida no tempo de aula), ou pesquisa como li¢&o de casa (fora do horario escolar). Observagéo e registro da rede elétrica: como é a rede de fios elétricos? tem pipa enroscada? Observacdo dos espacos: onde as criangas estado soltando pipas? em quais lugares da para soltar pipa no bairro? Entrevista com outras criangas: quais brincadeiras fazem com pipa? onde soltam pipas? que tipo de pipa gostam de construir? é legal fazer pipa? usam cerol na linha? Entrevista com adultos da comunidade, pais, avés, familiares: brincavam com pipa? que formatos faziam? onde soltavam pipas? E assim por diante, Vill - Areas de conhecimento e interdisciplinaridade Apipa pode ser trabalhada, em sala de aul, articulada com as areas de conhecimento, conforme o que a atividade mobiliza em termos de fungdes mentais (como percepgao, meméria, atengao e imaginago) ou os conceitos que a atividade promove, como conceito de espago, tempo, de numero, entre outros. 22 A interdisciplinatidade acontece pela intersecgdo de elementos que levam a formagao de conceitos. Por exemplo: conhecimentos da geometria, geografia, fisica @ artes, levam a formagao ou ampliagao da nogao de espago. 1. Pipa e Movimento Movimento do ar Pipa, cata-vento, biruta — todos oferecem oportunidades para o aluno experimentar, diretamente, o movimento do ar que destoca objetos. Empinar pipa permite a crianga trabalhar a nogao de resisténcia do ar e procedimentos para fazer a pipa subir e se manter no alto. Sabemnos que isto requer célculos de forca ¢ estimativa de ‘tempos (durago) para, através do controle da linha, manter a pipa no ar. A complexidade com que se trata 0 conceito depende do periodo de formagao. Como o ar é invisivel, fica dificil para a crianga pequena construir conceitos em relagéo ade, porém, através do vento e deslocamento de objetos ‘com 0 vento, a existéncia de ar se torna mais evidente. Para as criangas pré-escolares, experimentar com 0 deslocamento do préprio corpo no espago é atividade imprescindivel para a construg&o do esquema corporal, nogdes como frente, atrés, em cima e embaixo, e desenvolvimento do pensamento espacial. Soltar pipa é uma atividade excelente para a pratica destes deslocamentos, pois, além do exercicio envolvido, ha a alegria, a busca de fazer com que ela suba. A crianga experimenta, também, 0 controle do objeto (pipa) ¢ 0 exercicio de sua vontade. Para as criangas mais velhas, sera possivel explorar a relagao dos tirantes da pipa, altura da amarra da linha com otirante, os Angulos, pois todos estes fatores tém a ver com © “vBo" da pipa. E uma oportunidade excelente para se trabalhar fisica ¢ matemittca. Os angulos s4o importantes ao se fazer a pipa, pols, incorretos, farao a pipa dar cabegadas, merguihar de 23 ponta cabeca ou ficar voando da direita para a esquerda / da esquerda para a direita © nao a deixardo subir. Como Angulos sao uma aplicagdo direta do conhecimento da geometria, contribuiréo para formar, no aluno, a relagao entre o conhecimento formal e as praticas da vida cotidiana. Com este suporte, ha maiores possibilidades de ocorrer a aprendizagem, pois a memoria de longa duragéio depende muito de relagdes de significado que serdo facilitadas pela integraeo teoria/pratica. O ar, também, pode produzir energia. A partir do ar em movimento, pode-se produzir energia, Um exemplo disto 6 a produgao de energia nos desertos e campos, dos EUA, com seqiiéncias de cata-ventos enormes colocados uns proximos aos outros: com o movimento das pds, movidas pelo vento, a energia 6 produzida, captada e enviada para os locals de distribuigao. Atividades de movimento do ar e das éguas Na Educagao Infantil (4° ao 7° ano de vida) e nos anos iniciais do Ensino Fundamental (7° ao 10° ano de vida), pode-se observar a diregao do vento com atividades com a biruta ou soltar bolhas de sabao. Pode-se exemplificar o deslocamento do ar, assoprando pedacos de papel de seda no ar com eanudo, ou fazendo avidozinho de papel. Paraas criangas menores, o movimento causado pelo deslocamento de ar pode ser demonstrado com forma de bolo retangular com Agua: 0 movimento de agua, provocado pela mudanca na velocidade do ar pode ser visto assoprando, abanando com um leque ou usando um secador de cabelo. As méquinas voadoras de Da Vinci Da Vinci se ocupou bastante em construir modelos de “maquinas voadoras” que incluiram a pipa. Todas elas dependeriam, para subir, do ar, da velocidade, do deslocamento, da relagéio de peso do objeto x peso do ar. 24 Estas realizagées de Da Vinci so principios das modemas “méquinas voadoras", desde 0 baldo e o 14 Bis, de Santos Dumont, até os avides, nos quais voamos hoje em dia. Na época, os materiais e a “tecnologia” disponiveis no permitiam a construcao dos projetos de Da Vinci. Mas, recentemente, um pesquisador inglés construiu um para- quedas, conforme especificagdes de Da Vinci e saltou nele. Funcionou muito bem, apesar do peso do para-quedas, construfdo em madeira e couro. Este tema pode ser trabalhado desde a educacdo infantil até o ensino médio, com abordagens tanto de Da Vinci ciertista, como do arquiteto e pintor. No caso de nosso tema, pipas, os trabalhos de Da Vinci como inventor, fisico, engenheiro e cartégrafo interessam, particularmente. Além disso, também, realizou estudos e muitos desenhos sobre a estrutura das asas dos passaros, 0s muisculos que os movem @ a funcao das penas. Da Vinci estudioso da natureza, também, 6 interessante, principaimente, nas pesquisas que fez sobre 0 movimento das dguas e do ar. ‘Aqui educador pode explorar 0 movimento que o ar imptime aos objetos e & 4gua. E, também, o movimento das Aguas em queda, que, em determinada velocidade e altura, produz energia elétrica. 2. Apipa e o estudo do espaco A pipa “fotégrata” Em 1888, Arthur Batut, francés, fez as primeiras fotos aéreas, de uma altura de aproximadamente 100m, prendendo uma maquina fotogréfica em uma pipa. A pipa tinha a forma de losango, com uma rabiola bem longa. Em 1890, Emile Wenz desenvolveu um processo de fotografar, utilizando placas de vidro e, a partir dal, se 25 formou um grupo de pessoas que se dedicou a aerofotogratia Por pipa Em 1895, este tipo de fotos foi feito, também, nos Estados Unidos. Na Rissia (em 1902) Thiole fz fotogratias. panoramicas com um equipamento de seis pipas amarradas que carregavam, ao mesmo tempo, sete cémeras fotogréficas. Em 1905, Armand Godens publicou um artigo sobre fotos tiradas por pipas, intitulado "A pipa fot6grat Como é que a pipa enxerga a cidade Id embaixo? Se vooé estivesse voando como a pipa, como vocé veria a cidade? Estas sdo perguntas que ativam a imaginagao do aluno @ que podem ser utilizadas para a realizagao de trabalhos ou projetos. Um exemplo de atividade para criancas do 7° ao 15° ano de vida: observagao direta, realizada em passelo pelo bairro, com papel e lépis na mao para anotagdes em desenho, esquemas e escrita. Transformacao do que viu em mapa, desenho, maquete ou colagem. Pode ser proposto, também, realizar um mapa em planta baixa (ou seja, vista aérea do que observou). Esta atividade 6 uma oportunidade do realizar o mapeamento das areas no bairro que so seguras para soltar pipa. Trabalha-se, assim, simultaneamente, a seguranga ea cidadania. O que a realizagéo de um mapa mobiliza? A imaginagao — pela evocagao das imagens da memériae a reorganizagéo necessdria para “montar” as relacées espaciais, Oexercicio da meméria— pela evocagao de coisas percebidas no bairro e guardadas pela meméria de longa duracao. Através da atividade de desenho ou maquete, hd reforgo das 26 conexdes neuronais © desenvolvimento do pensamento espacial Desenvolvimento da percepeao visual - através da observagao ¢ registro simultaneo, modelos perceptivos so formados e ampliades. Isto vai ajudar muito a aprendizagem de conceitos cientificos em outras areas do conhecimento. Proporgéo — trabalho com mapas permite desenvolver, no aluno, 0 concelto de proporcao, o que se faz com escala. *Pensar” em escala 6 bastante importante nos cAlculos mentais, em vatios tipos de profissao e, também, para resolver problemas da vida cotidiana: quanto comprar de pano para fazer uma cortina? quanto precisa de tinta para pintar um quarto? 0 que da para colocar em um quarto de 3 x 4m (ou 12m2)? E assim por diante. Aqui, pode-se associar outra atividade que lida com escala proporeao: fazer pipas da mesma forma em quatro tamanhos diferentes. Neste caso, sao varias as possibilidades de comparagao como: perimetro (soma dos lados), area (cdloulo da supercie), peso e varlago de rabiola, segundo © tamanho de cada pipa, entre outras. 3. A pipa na histéria das ciéncias ‘A pipa teve uma importancia grande no desenvolvimento da ciéncia, como podemos ver pelos exemplos abaixo: 0 para-raio de Benjamin Franklin Benjamin Franklin utiizou uma pipa para estudar a cordutividade da energia. Em um dia chuvoso, soltou uma pipa com uma chave pendurada no fio, o que atraiu a eletricidade de que é constituido o raio. Como este é uma descarga elétrica de energia acumulada nas nuvens, a chave funcionou como “receptor” da eletricidade do raio. O 2 experimento mostrou que o artefato atrafa a eletricidade. Deste experimento surgiu a idéia basica do para-raio. Temperatura Com a experiéncia de Thomas Melville ¢ Alexander Wilson (1749), foi possivel medir, pela primeira vez, as diferentes temperaturas, segundo a altitude. Thomas e Alexander fizeram uma seqiiéncia de seis pipas amarradas umas as outras, verticalmente, cada uma com um termémetro.. Puderam verificar que quanto mais alto voava a pipa, menor temperatura. Sabemos hoje que quanto mais nos afastamos do chao, menores vdo ficando as temperaturas. Por exemplo, a temperatura externa de um avido, voando a 10 mil metros de altitude 6 de, aproximadamente, - 40°C. Tetraedro de Graham Bell Graham Bell, inventor do telefone, também, se interessou pela aerondutica e fez muitos experimentos com pipas. Ele buscou construf-las cada vez mais resistentes: em 1901, fez uma triangular, depois construiu um novo modelo, em forma de piramide com quatro lados (0 tetraedro). Em 1904, ele conseguiu empinar uma pipa de 30kg com componente, capaz de elevar um total de 110kg. Depois desta, fez uma pipa gigante de 3.393 componentes que carregava uma pessoa. Graham Bell, conciuiu que era possivel fazer voar uma ‘ou mais pessoas com modelos construfdos, apropriadamente. Esia é a idéia basica para o desenvolvimento de maquinas voadoras atuais, como avido, foguetes, naves espaciais. Alberto Santos Dumont Ainda menino, Santos Dumont tinha como brincadeira soltar papagaios e baldes nas festas juninas e se interessava pela possibilidade de objetos fabricados pelo homem algarem Véo. Ele dedicou sua vida a projetar méquinas voadoras 28 inspiradas pelas caracteristicas da pipa: dirigir um objeto suspenso no ar, movide por expedientes distintos e que pudesse transportar pessoas. 4. A pipa nas artes Soltar pipa fez parte da infancia de muitos artistas brasileiros. Por isso, 0 tema aparece tanto em pinturas, xilogravuras, desenhos, como em muisicas, poesias e historias infantis. Explorar a pipa nas artes pode ser feito através de protos, em diferentes periodos de formacdo, e pode se torrar um projeto coletivo da escola, envolvendo desde a ‘educacdo infantil até o final do 3° ciclo (sistema ciclado) ou 8. série (sistema seriagao). A pipa na pintura de Portinari Podemos encontrar, na obra de Portinari, uma das maiores expressdes da pintura brasileira, pinturas que retratam as brincadeiras infantis. Portinari retirou de sua infancia, em Brodésqui, a prética cultural de “empinar papagaio” e a representou varias vezes. Partindo das pinturas de temas infantis, pode-se ampliar o estudo sobre Portinari, ‘com temas como: a pessoa (0 artista), a obra (os murals), a realidade brasileira, retratada nas obras. Por exemplo, com “Os Retirantes’, pode ser discutida a questdo da vida, sobrevivéncia e trabalho no Nordeste. Outras produgées artisticas relacionadas ao tema podem ser exploradas, como “Vidas Secas" de Graciliano Ramos, “Central do Brasil” de Walter Salles, “O Auto da Compadecida" de Ariano Suassuna, entre outtas. Pintura Primitivista Os pintores chamados primitivistas brasileiros apresentam um olhar muito interessante sobre a vida cotidiana e as celebragées da cultura brasileira. 29 Trabalhar com estas pinturas ¢ interessante para a formagao humana de nossos alunos. Nelas esido presentes as praticas culturais da infancia, incluindo soltar pipas. E uma oportunidade de ampliar o acervo de imagens na meméria da crianga, desenvolvendo, também, a cidadania através do conhecimento da propria cultura. 5. A pipa e os conceitos de numero e de medida A pipa oferece uma gama bastante diversa de situages adequadas para 0 ensino de matemética. Para a formagao @ 0 desenvolvimento do pensamento matematico, 6 importante trabalhar com elementos concretos e problematizagdes constantes, principalmente, nos anos iniciais da escolarizagao. Contagem e base dez para educacao infantil ‘O ser humano nasce com algumas nogdes de ntimero © quantidade. © bebé, ja nos primeiros meses de vida, reconhece quantidades, pouco e muito, desenvolve a permanéncia do objeto (procura um objeto que saiu do seu ‘campo visual). Neurocientistas, como Pierre Changeux (Franga) ¢ outros, revelam que haveria uma predisposigao genética para a aprendizagem de quantidade, de estimativa de distancia, da mesma forma que ha uma predisposieao genética para a fala. Todavia, o ser humano depende do ensino para representar as quantidades com simbolos, para fazer frases matematicas e para ser capaz de organizar as informacdes em sistemas. O sistema que usamos, base dez, precisa ser ensinado, 0 que pode e deve ser feito nos primeiros anos de escolarizacao. A pipa 6 uma possibilidade para trabalhar os conhecimentos matematicos. Por exemplo: a contagem utiiizando as varetas. Pipas com duas varetas, tr6s ou quatro vao oferecer altemativas distintas de trabalhar a base dez, 30 i ora adicionando 2 a 2, ora distribuindo 10 em varetas para 5 pipas, © assim por diante. Estes exercicios de contagem, separacdo e agrupamento envolvem percepeao tatil © visual, além de movimento. Eles podem ser ampliados contando em voz alta — com a fala so ativados outros centros no cérebro, que se integram ao movimento, tato e percepedo visual, tornando mais “reforgadas” as conexées neuronais presentes nesta atividade. Falando em voz alta, hé estimulagao, também, da percepeao auditiva. Intemamente, pode ativar a meméria audtiva. Aumentam, assim, as possibilidades de formagao do conceito, uma vez que a realizacéo de um conceito depende de trabalhar a mesma coisa ao longo de um tempo @, também, de abordé-la por diferentes aspectos. Em qualquer atividade proposta para criancas pequenas, pode ainda ser trabalhada a contagem: quantas pipas a turma fez? quantas pipas existem na pintura? quantas pipes tém rabiola? quantas pipas so vermelhas? E assim por diante. Com criangas no 7° ou 8° ano de vida, pode-se pegar 10 pipas e trabalhar com agrupamentos distintos, propondo aos alunos que facam divis6es possiveis como: 4 Lie 2) 1 3 Sots A 4 5 ei 3 gs E assim por diante. Qu problematizando para o aluno: Quantas pipas vocé vai precisar para uma festinha com 8 convidados? (9 ppas ~ incluindo uma para si proprio) @ se chegarem mais dois? (11 pipas) e se um ficar doente e ndo vier? (8 pipas) ‘Como a memoria infantil depende de apoios externos (ou seja, de elementos que possam ser percebidos por um at ou mais sentidos) e como todas estas agdes sugeridas sao apoiadas pelos sentidos, a propria crianga estar4, portanto, dando suportes externos 4 sua meméria. Medida, Perimetro e Area Com os alunos das séries iniciais, a pipa 6 um excelente objeto para usar medidas e construir perimetros. A soma dos lados pode ser realizada por alunos, diretamente, @ pode ser problematizada pelo professor, dependendo do estagio de apropriacao dos conhecimentos maternaticos. Por exemplo: como fazer uma pipa 50% maior ou 50% menor? Pipas com formas distintas podem ser medidas e ter 0 perimetros comparados entre si. Qu ordenadas por ordem crescente, ou decrescente do perimetro. Com os alunos das séries mais adiantadas do ensino fundamental, pode-se trabalhar a drea, a nogo de quadrado ligada A geometria, a nogdo de superficie, e assim por diante. Nota: (1) Adotamos, neste texto, a referéncia ao tempo de vida em cada ‘ano cronolégico, nao a idade cronolégica. A crianga de cinco anos esta em seu 6° ano de vida. Esta abordagem 6 mais adequada, considerando que cartos aspectos do desenvolvimento acontecem ‘em espagos de tempos entre idades definidas pelo aniversério. (2) Esta nogao postulada por Wallon é fundamental na consciéncia do eu e na formagao da identidade da crianga. Corpo proprio significa a formagao, no cérebro, da imagem de si mesmo.

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