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EÇÃ
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Cadernos de

Meio Ambiente
e Trabalho
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Apresentação

A o longo de sua história, o Brasil tem enfrentado o problema da exclusão social que
gerou grande impacto nos sistemas educacionais. Hoje, milhões de brasileiros ainda
não se beneficiam do ingresso e da permanência na escola, ou seja, não têm acesso a um
sistema de educação que os acolha.
Educação de qualidade é um direito de todos os cidadãos e dever do Estado; garantir o
exercício desse direito é um desafio que impõe decisões inovadoras.
Para enfrentar esse desafio, o Ministério da Educação criou a Secretaria de Educação
Continuada, Alfabetização e Diversidade – Secad, cuja tarefa é criar as estruturas necessárias
para formular, implementar, fomentar e avaliar as políticas públicas voltadas para os grupos
tradicionalmente excluídos de seus direitos, como as pessoas com 15 anos ou mais que não
completaram o Ensino Fundamental.
Efetivar o direito à educação dos jovens e dos adultos ultrapassa a ampliação da oferta
de vagas nos sistemas públicos de ensino. É necessário que o ensino seja adequado aos que
ingressam na escola ou retornam a ela fora do tempo regular: que ele prime pela qualidade,
valorizando e respeitando as experiências e os conhecimentos dos alunos.
Com esse intuito, a Secad apresenta os Cadernos de EJA: materiais pedagógicos para o
1.º e o 2.º segmentos do ensino fundamental de jovens e adultos. “Trabalho” será o tema da
abordagem dos cadernos, pela importância que tem no cotidiano dos alunos.
A coleção é composta de 27 cadernos: 13 para o aluno, 13 para o professor e um com
a concepção metodológica e pedagógica do material. O caderno do aluno é uma coletânea
de textos de diferentes gêneros e diversas fontes; o do professor é um catálogo de ativi-
dades, com sugestões para o trabalho com esses textos.
A Secad não espera que este material seja o único utilizado nas salas de aula. Ao con-
trário, com ele busca ampliar o rol do que pode ser selecionado pelo educador, incentivan-
do a articulação e a integração das diversas áreas do conhecimento.

Bom trabalho!

Secretaria de Educação Continuada,


Alfabetização e Diversidade – Secad/MEC
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Sumário

TEXTO Subtema

1. RRR: As três letras que podem salvar a natureza 6


2. Pequenos produtores contestam ciclo da monocultura da soja 10
3. Futuro submerso Diversidades regionais 12
4. Medicinas silvestres Maturidade social 14
5. É preciso saber usar Miscigenação 16
6. Agressão e consciência Crítica social 18
7. Uma lição da nação Ianomâmi Trabalhadores 20
8. Protocolo de Kyoto Cultura suburbana 22
9. Economia do Pantanal a luta dos negros 24
10. Em busca do selo verde Ambiente de trabalho 26
11. O planeta água pode secar Identidade nacional 28
12. Niquel Nausea / Gente que fazAmbiente de trabalho 37
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13. Forças da natureza Índios do Brasil 38


14. Por que o planeta está esquentandoImigração e culinária 42
15. Uma atividade ameaçada Direitos civis 45
16. Mas eles resistem Origens dos trabalhadores 46
17. Restos alimentam plantasÍndios do Brasil 47
18. Uma atividade típica do século XV 49
19. O maracatu atômico que protege o mangue Olhos da alma 50
20. A palavra da Constituição Arte culinária 52
21. Efeito estufaArte culinária 54
22. Reserva Chico MendesArte culinária 57
23. Um amor, uma cabana Arte culinária 58
24. The end of the night sky Arte culinária 62
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Tratamento de lixo
TEXTO 1

RRR
AS TRÊS LETRAS
QUE PODEM
SALVAR A
NATUREZA
Renato Pompeu

Brasil e o mundo produzem diaria-

O mente verdadeiras cordilheiras de


lixo. Segundo as estatísticas ambien-
tais, cada habitante do país joga no lixo em
média um quilo de resíduos a cada dia, o
que representa perto de 180 mil toneladas.
E só 10 por cento dos mais de 5 mil muni-
cípios brasileiros dispõem de aterros sani-
tários e uma proporção ainda menor conta
com usinas de tratamento e purificação; na
esmagadora maioria dos casos toda essa
sujeira vai parar em lixões a céu aberto,
com substâncias tóxicas que, atingindo
diretamente as populações vizinhas, são
levadas pelos rios e córregos e pelos ven-
tos a regiões distantes, afetando pratica-
mente todos os habitantes do país.
Ilustração: Alcy

Para combater essa situação, os ecolo-


gistas propõem os 3Rs, ou RRR, mas não são
Ronaldo Fenômeno, Ronaldinho Gaúcho e
Rivaldo, como na Seleção pentacampeã
mundial de 2002, e sim representam as pala-
vras Reduzir, Reciclar e Reutilizar.

6 • Meio Ambiente e Trabalho


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O u t ro s R e f l e t i r (sobre o sistema R e d u z i r (o consumo)


produtivo como um todo) R e u t i l i z a r (antes de descartar)
e r re s
R e p e n s a r (sua necessidade R e c i c l a r (como última etapa)
adicionais real de consumo)

REDUZIR trade” (“comércio justo”) que são redes de


Os restos de comida, segundo a Associação consumidores que utilizam, por exemplo,
Brasileira de Empresas de Limpeza Pública só papéis reciclados, ainda que eles sejam
e Resíduos Especiais, constituem metade mais caros.
do lixo doméstico. Assim, basta reduzir o
desperdício de alimentos nos lares brasilei- REUTILIZAR
ros para não só diminuir drasticamente o Além dos vasilhames retornáveis, a reutili-
volume de lixo, como também disponibili- zação envolve pilhas, baterias, lâmpadas
zar comida para os mais carentes, os des- fluorescentes, que, quando já usadas, não
nutridos e famintos. Também as embala- devem ser jogadas no lixo, inclusive por
gens constituem perto de 45% do lixo nas conterem substâncias altamente tóxicas, e
cidades maiores, e aqui igualmente caberia sim devolvidas aos pontos de venda, que se
uma redução significativa, se os estabeleci- encarregarão de encaminhá-las aos fabri-
mentos comerciais voltassem a utilizar cantes, que poderão utilizar pelo menos
vasilhames retornáveis e a vender a granel parte de seus componentes.
alimentos e outros artigos, conforme ainda
ocorre em muitas feiras-livres. Prefira, entre produtos semelhantes:

• Embalagens menores
RECICLAR
Como já acontece com os papéis e as gar- • Garrafas retornáveis
rafas de plástico PET, além de objetos de • Produtos marcados como recicláveis
madeira e metal, é possível, com procedi-
• Pilhas e baterias recarregáveis
mentos técnicos de transformação, reapro-
veitar grande parte dos materiais hoje • Eletrodomésticos e eletroeletrônicos com
descartados. Convém notar que existe, prazo maior de garantia
principalmente em países europeus, o “fair • Lâmpadas fluorescentes

Meio Ambiente e Trabalho • 7


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Te x t o 1 / Tratamento de lixo

Foto: Oslaim Brito / AE

Aproveite

• Os restos orgânicos de seu lixo para fazer


adubos para vasos, jardim, horta e pomar
(veja o quadro na página ao lado).

• Verifique pelo menos uma vez por sema-


na a calibragem dos pneus do seu carro.

• Reutilizando os restos de comida.

Coleta seletiva: 76% de todo


o lixo residencial do país
acaba nos lixões.

Veja como diminuir a produção de lixo


• Entre dois produtos similares, • Prefira pilhas e baterias recar- • Prefira as lâmpadas fluorescentes:
escolha o que tiver embalagem regáveis: elas são mais econô- elas duram mais e consomem me-
menor. Garrafas retornáveis são micas e poluem menos. nos energia.
preferíveis às descartáveis. Ve-
• Escolha eletrodomésticos com • Aproveite o lixo orgânico da sua
rifique se os produtos têm o casa para fazer um ótimo adubo
garantia mais longa, pois são
símbolo de reciclável na em- para horta, jardim e vasos (veja
mais duráveis.
balagem: como fazer isso no quadro).
• Para prolongar a vida útil de
• Explique aos seus familiares, vi-
pneus, calibre-os semanalmente.
zinhos e colegas de trabalho a
importância de diminuir a quan-
tidade de lixo e de separar os
resíduos recicláveis.

Texto divulgado pela EPA – Agência de Proteção


Ambiental dos Estados Unidos. Adaptado.

8 • Meio Ambiente e Trabalho


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O lixo orgânico pode virar adubo


Basta ter um pequeno pedaço de quintal ou jardim para rea-
5) A cada semana, remexa as ca-
proveitar como adubo os restos de comida, evitando assim
madas que já estão colocadas,
atrair os insetos e roedores tão indesejáveis.
antes de pôr sobre elas outras
camadas.
Veja como é simples: 3) O terceiro passo é colocar lixo
1) Um trecho de terra nua de um úmido, como restos de comida,
metro quadrado já é o suficien- papel molhado, esterco. Não
te. O primeiro passo é erguer ponha carne, que atrai insetos
uma cerca nos quatro lados, até e roedores.
um metro de altura, com ripas
de madeira, telas de plástico ou
arame.

4) A cada camada que se despe- 6) A cada mês e meio, retire a


jar de lixo úmido, deve-se pôr mistura das camadas inferiores,
em cima uma camada de lixo que já poderá ser usada como
2) O segundo passo é forrar uma seco, como a utilizada no início. adubo, no jardim, na horta ou
camada de dez centímetros de no pomar.
altura com lixo bem seco, como
pão duro, pó de café já passa-
do, folhas secas, galhos secos. Ilustração: Alcy

Renato Pompeu é escritor e jornalista.

Meio Ambiente e Trabalho • 9


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A monocultura degradando o meio ambiente


TEXTO 2

PEQUENOS PRODUTORES
CONTESTAM CICLO DA MONOCULTURA DA

SOJA Os fatores
são muitos,
mas os gases
estufa são o
principal

10 • Meio Ambiente e Trabalho


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m março de 2006, a cidade de Lucas

E do Rio Verde, em Mato Grosso, foi


pulverizada com uma nuvem de agro-
tóxicos, que dizimou plantas ornamentais,
medicinais e a produção de pequenos pro-

A
dutores.
Como o problema já vem acontecendo
há quatro anos, as entidades sindicais e
outros representantes da sociedade civil

Foto: © Greenpeace / Cesar, Alberto


reivindicam que seja convocada uma au-
diência pública com toda a população para
debater o problema. Querem que seja cria-
do um fórum permanente de discussão
sobre os rumos do desenvolvimento do
município. Também querem que as autori-
dades municipais se comprometam a tomar
Grandes áreas de floresta nativa são desmatadas
medidas efetivas para prevenção e fiscaliza- no norte de Mato Grosso para o plantio de soja.
ção dos acidentes com agrotóxicos.
Os representantes do Sindicato dos de acordo com eles, o agronegócio empre-
Trabalhadores Rurais de Lucas do Rio Ver- ga pouco, concentra a renda na mão dos
de reconhecem que, com a soja, o municí- grandes fazendeiros, degrada o meio am-
pio conseguiu conquistar uma qualidade de biente com o uso intensivo de fertilizantes
vida razoável, uma ótima infra-estrutura químicos, agrotóxicos e de maquinário
urbana e, agora, tem que discutir como pesado que compacta o solo, impedindo a
manter e melhorar a qualidade de vida e a infiltração da água e causando erosão.
distribuição da renda. Alegam que são Também constataram que o agronegócio
apenas os grandes produtores que se bene- devastou as matas do município, acabou
ficiam do modelo de desenvolvimento com a diversidade de espécies vegetais e
baseado no agronegócio – enquanto uns animais da região, contaminou os rios e
poucos ganham, a maioria perde. as lagoas e ameaça a saúde e a qualidade
Os sindicalistas acreditam que a solu- de vida dos habitantes.
ção está na diversificação da produção do
município, no fortalecimento da agricul-
tura familiar e da produção orgânica, pois, Adaptado de http://ambientebrasil.com.br/noticias/index

Meio Ambiente e Trabalho • 1 1


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Degradação ambiental
TEXTO 3

Elevação do nível
do mar ameaça
ilhas e cria
nômades marítimos

12 • Meio Ambiente e Trabalho


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Ilhas Tuvalu, uma Micronésia


PALAU Oceano Pacífico
minúscula nação (EUA) N

do oceano Pacífico, NAURU


N U
T
TUVALU
KIRIBATI
RIBA
I

próxima da Nova Zelândia. PAPU


APUA
APU
PU
PUA-
UA-
NOVA
OVA GUIN
G É T k l
Tokelau
ILHAS
IILHA
LHAS
AS SALOMÃO
AS Vaiaku (NZ.)
(N
N )

SAMOA
SA A OC.
VANUATU
NUAT
N UATU
ATTU
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Mar de
Coral G Niue
TONGA
ON
NG
N Ni
Niu
Ni
AUSTRÁLIA FIJI (NZ.)
NOVA CALE
ALED
ALE
LED
ED
DÔNIA

Infografe
0 700
km

ilhares de ilhas e ilhotas espalha- superar a marca dos 3 metros e provocar

M das pelo planeta já sofrem os efei-


tos da expansão térmica dos ocea-
nos e da conseqüente elevação do nível do
ondas gigantes que devem alagar a maior
parte da superfície da ilha, que está a pouco
menos de 4,5 metros acima do nível do
mar provocados pelo aquecimento global mar. Mais uma vez, os nômades do mar
do clima. A situação se torna ainda mais deixarão seu país para só retornar quando
dramática quando esses pequenos pedaços a água voltar a seu nível normal.
de terra são habitados e suas populações Segundo o pesquisador Carlos Augusto
obrigadas a viver na condição de nômades Sampaio França, do Instituto Oceanográfi-
do mar. co da Universidade de São Paulo (USP), os
É isso que acontece com os 11 mil gases de efeito estufa lançados diariamen-
habitantes das ilhas Tuvalu, uma te na atmosfera estão provocando o aque-
minúscula nação formada por trinta ilhas cimento de todo o planeta. Esse aqueci-
do oceano Pacífico próximas da Nova mento, explica, provoca a expansão tér-
Zelândia. Diariamente, eles são atingidos mica da massa líquida dos oceanos e o
pelo aumento de até 1 metro no volume aumento gradual do nível das águas.
da maré, o que faz com que a água salga- De acordo com França, estima-se que
da inunde as áreas mais baixas e conta- nos últimos cem anos o nível do mar
mine a água potável e as terras agrícolas tenha subido entre 10 e 20 centímetros, e
do país. a projeção para o próximo século é de
O quadro fica ainda pior quando a algo em torno de 50 centímetros, poden-
elevação do nível do mar vem acompanha- do chegar a até 1 metro. Com isso, várias
da da lua cheia – que amplia a magnitude ilhas com cotas máximas de até 4,5
das marés –, de tempestades e de ciclones metros acima do nível do mar, como é o
tropicais. Nessas condições, a ilha pode ser caso da capital, poderão ser literalmente
completamente coberta pela água, a exem- engolidas pelas águas.
plo do que ocorreu em 2001.
As autoridades de Tuvalu já avisaram
que até amanhã (20/2/2004) a maré vai Agência Brasil (19/2/2004)

Meio Ambiente e Trabalho • 13


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O trabalho em harmonia com a natureza


TEXTO 4

MEDICINAS SILVESTRES
Dicen que cuando la esposa de uno de los virreyes españoles del
Perú cayó enferma con malaria en el siglo XVII, un curandero
indígena la trató con la corteza de un árbol llamado quino.
Si la historia es cierta o no, la droga fue adoptada luego por los
europeos, que la llamaron “quinina”, y desde entonces ha venido
usándose para tratar la enfermedad hasta nuestros días.

Adaptação de Ana
Roman

Sugestões da arte:

Foto: Renato Luiz Ferreira / AE


desenho antigo de
catalogação de plantas

os grupos autóctonos que poseen cono- Los cazadores usan flechas sumergidas en

L cimiento íntimo de los ecosistemas a su


alrededor dependen de la naturaleza
para muchos aspectos de supervivencia
un líquido extraído de sus raíces. Cuando
es herida, la presa cae desplomada al suelo
y muere en cuestión de segundos. Los cien-
diaria, incluso sus medicinas. Los médicos tíficos occidentales han adaptado la droga,
occidentales deben mucho más a estos llamada curare, para fabricar anestésicos
pueblos de lo que generalmente reconocen. modernos, y para el tratamiento de escle-
Los pueblos amazónicos en el Brasil y rosis múltiple y la enfermedad de Parkinson.
el Perú, por ejemplo, llevan mucho tiempo
usando las raíces de la enredadera Chon- Remedios antiguos
drodendron para el tratamiento de fiebres De igual manera, los pueblos autóctonos
y mordeduras de serpiente, y como arma. del Brasil llevan mucho tiempo empleando

14 • Meio Ambiente e Trabalho


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el jaborandi para fines medicinales. Actual- muchas de las curas del futuro, a la vez
mente se la usa en la medicina occidental que siguen sirviendo a quienes viven en
para tratar pacientes de cáncer que sufren esta biodiversidad y la conocen mejor que
de sequedad en la boca y la garganta a nadie.
consecuencia de la radioterapia. La planta
también ayuda a relajar los músculos
oculares, y ha sido adaptada para uso en
cirugía oftálmica y en el tratamiento de
enfermedades de la vista.
Extraído de www.ourplanet.com/
Cultivando para la salud tunza/issue0202sp/pages/medicines.html

Las medicinas locales pueden culti-


varse, o pueden recolectarse como plantas
silvestres. Muchas tribus de los bosques
tropicales mantienen jardines para cose-
char plantas importantes, y en Sudáfrica la
gente cultiva árboles turbintos y jengibre
africano para uso medicinal.
GLOSARIO
Aproximadamente el 25 por ciento de
las drogas farmacéuticas usadas en Occi- A menudo. com freqüência, amiúde
dente hoy día provienen de plantas, y mu- A la vez. ao mesmo tempo
chas otras están desarrollándose como Autóctonos. autóctone, natural do
lugar em que habita
medicinas del futuro.
Corteza. casca
Alrededor del 80 por ciento de los habi- Cosechar. colher
tantes del mundo dependen de los cono- Desarrollar. desenvolver, desenvolver-se
cimientos de su propia cultura sobre medi- Desplomarse. cair sem vida, desmoronar-se
cinas obtenibles de la naturaleza. Muchos Enredadera. trepadeira
Lujo. luxo
no se pueden permitir el lujo de usar medi-
Nadie. ninguém
cinas químicas modernas, pero los trata- Sequedad. secura
mientos locales a menudo pueden ser Siglo. século
igualmente eficaces o mejores. Suelo. solo, chão
La riqueza de biodiversidad en los Supervivencia. sobrevivência
Virreyes. vice-reis
lugares más silvestres de nuestro planeta
bien podría ofrecer a la medicina moderna

Meio Ambiente e Trabalho • 15


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Desenvolvimento sustentável
TEXTO 5

É PRECISO SABER USAR


definição mais aceita para desenvol- Se fossem seguir o caminho

A vimento sustentável é o desenvolvi-


mento capaz de suprir as necessida-
des da geração atual, sem comprometer a
dos já desenvolvidos, os países
em crescimento esgotariam os
recursos do planeta
capacidade da natureza de atender as
necessidades das futuras gerações. É o
desenvolvimento que não esgota os recur-
sos para o futuro. Atividades econômicas podem ser en-
Essa definição surgiu na Comissão corajadas em detrimento dos recursos
Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvol- naturais dos países, do qual dependem não
vimento, criada pelas Nações Unidas para só a existência humana e a diversidade
discutir e propor meios de harmonizar dois biológica, como o próprio crescimento
objetivos: o desenvolvimento econômico e econômico. O desenvolvimento sustentá-
a conservação ambiental. vel sugere, de fato, qualidade em vez de
quantidade, com a redução do uso de
O que é preciso fazer para alcançar o desen- matérias-primas e produtos e o aumento
volvimento sustentável? da reutilização e da reciclagem.
Para ser alcançado, o desenvolvimen-
to sustentável depende de planejamento Os modelos de desenvolvimento dos países
e do reconhecimento de que os recursos industrializados devem ser seguidos?
naturais são finitos, o que representa uma O desenvolvimento econômico é vital
nova forma de desenvolvimento econômi- para os países mais pobres, mas o cami-
co, que leva em conta o meio ambiente. nho a seguir não pode ser o mesmo adota-
Muitas vezes, desenvolvimento é con- do pelos países industrializados. Mesmo
fundido com crescimento econômico, que porque isso não seria possível. Caso as
depende do consumo crescente de energia sociedades do hemisfério sul copiassem os
e recursos naturais. Esse tipo de desenvol- padrões das sociedades do norte, a quan-
vimento tende a ser insustentável, pois leva tidade de combustíveis fósseis consumida
ao esgotamento dos recursos naturais dos atualmente aumentaria dez vezes, e a de
quais a humanidade depende. recursos minerais, duzentas vezes. Em vez

16 • Meio Ambiente e Trabalho


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de aumentar os níveis de consumo dos


países em desenvolvimento, seria preciso
reduzir os níveis observados nos países A sabedoria de Gandhi indicava que os
modelos de desenvolvimento precisam mudar.
industrializados.
Os estilos de vida das nações ricas e a
Os crescimentos econômico e popula- economia mundial devem ser reestruturados
cional das últimas décadas têm sido marca- para levar em consideração o meio ambiente.
dos por disparidades. Embora os países do
hemisfério norte possuam apenas um quin-

Acervo AE
to da população do planeta, eles detêm
quatro quintos dos rendimentos mundiais
e consomem 70% da energia, 75% dos
metais e 85% da produção mundial de
madeira.
Conta-se que Mahatma Gandhi, ao ser
perguntado se, depois da independência, a
Índia perseguiria o estilo de vida britânico,
teria respondido: “... a Grã-Bretanha preci-
sou de metade dos recursos do planeta
para alcançar sua prosperidade; quantos
planetas não seriam necessários para que
um país como a Índia alcançasse o mesmo
patamar?”
Fonte P Extraído de: www.wwf.org.br

Meio Ambiente e Trabalho • 17


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Degradação ambiental
TEXTO 6

AGRESSÃO

E CONSCIÊNCIA
Foto: José Paulo Lacerda / AE

O garimpo de ouro de Serra Pelada,


no Pará (foto de novembro de 1996),
foi um exemplo clássico de destruição
ambiental.

18 • Meio Ambiente e Trabalho


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homem é o único animal que acidentes ambientais e em tecnologias para

O modifica a natureza, muitas vezes


de forma irreversível. Faz isso
desde que aprendeu a construir sua ca-
a utilização racional de energia e água e
para a redução do descarte de efluentes.

sa, cultivar alimentos, domesticar ani-


mais e explorar minerais. A sociedade
A Revolução Industrial acelerou a degradação
moderna intensifica de tal forma esse da natureza, com o uso de combustíveis fósseis
processo que compromete a vida no pla- (inicialmente carvão, hoje petróleo e gás). O cresci-
neta. O objetivo? Aumentar o lucro – o mento das áreas cultivadas e a extração mineral
que faz todo sentido no modelo social destruíram vegetações nativas e florestas. Em con-
capitalista. seqüência, os rios foram afetados, com redução
Ao mesmo tempo, cresce a tomada de do volume e da qualidade das águas. Inúmeras
espécies animais e vegetais foram extintas. Muitas
consciência ecológica e se desenvolve a
áreas foram destruídas em nome da urbanização
legislação ambiental. Em algumas regiões,
e do crescimento.
a destruição vem sendo interrompida ou
mesmo revertida. O conhecimento de que
as substâncias descartadas, que poluem o Industrialização em São Paulo no início
do século XX: vista do Brás, 1910,
meio ambiente, são matérias-primas e com o moinho Mariângela, das
indústrias Matarazzo, em primeiro plano.
energia desperdiçadas faz a reciclagem
ganhar espaço. Processos industriais
limpos – por exemplo, com o uso de filtros

Foto: Acervo Iconographia


para evitar a poluição atmosférica –
podem até significar economia para as
empresas.
Os interesses econômicos imediatos,
no entanto, continuam a estimular agres-
sões ao ambiente, muitas vezes com a
conivência dos órgãos públicos e dos meios
de comunicação. A saúde do planeta
depende de uma ampla mudança de
mentalidade. É preciso exigir investimen- Trecho extraído do texto O que Agride a Natureza, Agride o
Homem, de 2000, da Cartilha “Trabalho e Meio Ambiente” da
tos de grandes proporções na prevenção de CUT- RJ, encontrado no site: www.sindipetro.org.br

Meio Ambiente e Trabalho • 19


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O trabalho em harmonia com a natureza


TEXTO 7

UMA LIÇÃO DA NAÇÃO


IANOMÂMI Os espíritos diante da tragédia
humana e ambiental

uando, no fim dos anos 1980, houve fumaça e provocaram as muitas mortes

Q a grande invasão de 40 mil garim-


peiros no território ianomâmi, em
Roraima, morreram – por doenças e violên-
entre os ianomâmis – na verdade, a doen-
ça que os atacava era a malária, fatal para
os povos indígenas de pouco convívio com
cias na disputa de terras – cerca de 1.300 os brancos.
indígenas, em particular muitos líderes A fumaça capaz de produzir doença, de
espirituais, os xamãs. Em relação ao total acordo com a mitologia ianomâmi, tem o
da população ianomâmi, que era de 12 mil aspecto de gente comum, ou seja, indíge-
pessoas, o número de mortos foi trágico na, mas por trás dela está o mau espírito,
(mais de 10%). Além das mortes, deu-se que tem a aparência de homem branco.
outra catástrofe: a poluição da rede hidro- Conhecido como Xawarari, o mau espírito
gráfica e o desmatamento indiscriminado é muito assustador e anda em grupos.
resultaram no aniquilamento da atividade Chegam às aldeias matando todo mundo,
produtiva no Estado. Diante dos mortos e fritando os índios em panelas, arrancando-
desse estrago sanitário e ambiental, insta- lhes a pele para fazer rede e jogando as
lou-se entre os ianomâmis a idéia de que entranhas aos seus cães de guarda. Antro-
estava chegando o fim do mundo. pólogos dizem que essa representação
A representação do ouro e dos metais “canibalista” simboliza a fome dos brancos
como algo negativo sempre esteve presente pela riqueza material.
na mitologia ianomâmi. Segundo a crença, O xamã Davi Kopenawa, porta-voz dos
o Deus criador do Universo, Omama, ianomâmis, ensina que a conseqüência da
escondeu os metais embaixo da terra para propagação da fumaça maligna é o exter-
proteger os humanos de uma fumaça mínio de líderes espirituais, como ele
maligna que eles produzem. Quando os próprio. Com isso, os espíritos, tornados
brancos remexeram tudo, liberaram a órfãos, se enfurecem e reagem atacando o

20 • Meio Ambiente e Trabalho


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Foto: José Paulo Lacerda


céu com suas armas sobrenaturais, até que Helicópteros do Exército tiveram de combater
incêndio que ameaçou os ianomâmis,
o céu ceda ao próprio peso e desabe sobre
em Roraima, no ano de 1998.
a terra. Os xamãs são os únicos capazes de
conter as forças agressivas e manter o equi-
líbrio do mundo, controlar a queda do céu, N

VENEZUELA
a ação dos espíritos maléficos e as doenças.
Foi a partir desse mundo espiritual
que os ianomâmis interpretaram a catás-
trofe sanitária e ambiental produzida pelo
garimpo. Era natural que vissem nos mor- RESERVA IANOMAMI

tos pela fumaça maligna, que a ação dos


RORAIMA
brancos liberou, um indício forte de fim
do mundo. Para eles, o mundo só está
funcionando porque os xamãs trabalham
o tempo todo, como é seu papel. Diz o
xamã Davi Kopenawa: “Deve-se manter
relações de troca espiritual com todas as
forças e entidades do Universo para ele
funcionar de uma maneira ordenada e a
humanidade ficar com o seu espaço segu- AMAZONAS
Infografe

ro e tranqüilo”.
0 49
Um ambientalista assinaria embaixo. km

Adaptado do texto O Mundo, para os Ianomâmis, já está


acabando, de Julia Contier, publicado na revista Caros Amigos, especial Terra em Transe, abril de 2005

Meio Ambiente e Trabalho • 21


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A luta para salvar o planeta


TEXTO 8

PROTOCOLO DE KYOTO
Em 1990, a Organização das Nações Unidas – ONU – iniciou um
trabalho mundial visando à adoção de uma série de medidas
para resolver o grave problema dos efeitos das mudanças
climáticas no nosso planeta. Desde então, especialistas do mundo
inteiro têm se reunido para debater o assunto e estabelecer um
programa de redução de emissão de gases que aumentam o efeito
estufa, principal responsável pelo desastre ecológico.

22 • Meio Ambiente e Trabalho


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uma reunião realizada na cidade Mecanismo de Desenvolvimento Limpo e

N japonesa de Kyoto, em 1997, cerca


de 10 mil delegados, observadores
e jornalistas do mundo todo participaram
Implementação Conjunta). Esses mecanis-
mos servirão também para reduzir as me-
tas de carbono absorvido nos chamados
de um evento de alto nível onde foi apro- “sorvedouros”, tais como florestas e terras
vado um documento denominado Protoco- agrícolas. Os países que não conseguirem
lo de Kyoto. cumprir as suas metas estarão sujeitos a
Essa reunião foi mais uma dentre penalidades.
outras já ocorridas desde a Conferência Os países terão de mostrar “progresso
das Nações Unidas sobre Meio Ambiente evidente” no cumprimento de suas metas
e Desenvolvimento, realizada no Rio de até 2005. Considerando o tempo necessá-
Janeiro, em junho de 1992 (ECO 92). rio para que a legislação passe a vigorar
O Protocolo de Kyoto é um instrumen- efetivamente, é importante que os gover-
to para implementar a Convenção das nos atuem rapidamente para que o proto-
Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas. colo entre em vigor. O Protocolo de Kyoto
Seu objetivo é que os países industrializa- não possui novos compromissos para os
dos (com a exceção dos EUA, que se recu- países em desenvolvimento além daque-
sam a participar do acordo) reduzam (e les estabelecidos na Convenção sobre o
controlem), entre 2008 e 2012, as emissões Clima das Nações Unidas de 1992. Isso
de gases que causam o efeito estufa em está de acordo com a Convenção, para a
aproximadamente 5% abaixo dos níveis qual os países industrializados – os prin-
registrados em 1990. Importante ressaltar, cipais responsáveis pelas emissões que
no entanto, que os países assumiram dife- causam o aquecimento global – devem ser
rentes metas percentuais dentro da meta os primeiros a tomar medidas para con-
global combinada. As partes do Protocolo trolar suas emissões.
de Kyoto poderão reduzir as suas emissões
em nível doméstico e/ou terão a possibili-
dade de aproveitar os chamados “mecanis- Adaptado por Página Viva de textos de
www.wwf.org.br/participe/minikioto_protocolo.htm
mos flexíveis” (Comércio de Emissões, //www.eduquenet.net/protokioto.htm

Meio Ambiente e Trabalho • 23


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Ecossistemas brasileiros
TEXTO 9

ECONOMIA DO
PANTANAL

Foto: Cris Botta


Baías e vazantes do rio Negro, em Aquidauna, MS, atestam a fragilidade do ecossistema
ameaçado por práticas agroindustriais impróprias.

esde meados dos anos 70 intensificou- cas são espalhadas por semeadura aérea,

D se no Pantanal a economia agropecuá-


ria. Hoje, com cerca de 4 milhões de
cabeças de gado, a região tornou-se impor-
tais como a brachiaria africana, para
aumentar o rendimento do pasto.
O Pantanal é uma grande bacia de
tante produtora de carne. De maneira geral, captação e evaporação de águas, e vários
a cultura do gado não é considerada preju- cuidados devem ser tomados para preser-
dicial ao ambiente. A imprevisibilidade das vá-lo da poluição. Um exemplo é o que
grandes enchentes, no entanto, limita o ocorre com o mercúrio utilizado na lava-
tamanho dos rebanhos e os mantém dentro gem de ouro pelos garimpeiros do rio Poco-
dos limites de uma economia ecologicamen- né: seus sais tóxicos acumulam-se nas baías
te sustentável. Na ausência de outros mamí- em quantidades cada vez maiores; os pei-
feros pastadores, além dos poucos cerví- xes do Pantanal espalham o mercúrio, e a
deos, os bois nelore não são competidores taxa deste metal prejudicial à saúde nos
da fauna original: eles se tornaram parte tecidos dos peixes aumenta a cada ano. A
integral da paisagem pantaneira. vinhaça das usinas de álcool de Mato Gros-
As culturas de arroz, cana-de-açúcar e so e a poluição na metrópole de Cuiabá
soja prejudicaram o ambiente pantaneiro. também se acumulam nessa grande bacia
Barragens, canais e aterros que drenam de sedimentação.
terrenos para a agricultura, além do desma- Um dos grandes perigos ambientais
tamento do cerrado; levam ao assoreamen- para o Pantanal inteiro é o projeto da hidro-
to de rios, como o Taquari; e interferem na via, planejada conjuntamente por Brasil,
piracema. Ultimamente, várias ervas exóti- Bolívia, Paraguai e Argentina. Para facilitar

24 • Meio Ambiente e Trabalho


09•CA01T17P4.qxd 12/12/06 8:23 PM Page 25

MT Cuiabá
N

Um dos sistemas

Rio P
Rio

arag
São
mais ricos (e frágeis) do país Lou

uai
ren GO
á ço
BOLÍVIA u iab
io C
está ameaçado pela poluição R
qu
ari
Ta
e por práticas agrícolas Rio
Rio Verde do
Coxim
Mato Grosso
criminosas Corumbá

Ri
o
M
ira
Campo Grande

nd
Bonito

a
MS

Infografe
PARAGUAI Porto
Murtinho Reserva do
0 93 Pantanal
km

o acesso da navegação marinha e fluvial até cas e de pousadas constitui bom exemplo
Cáceres, no Alto Rio Paraguai, a calha do de integração entre o turismo e a preser-
rio deverá ser aprofundada, os meandros, vação ambiental do ecossistema.
cortados, e o contato entre o rio e os pânta- As terras alagadas, no mundo inteiro,
nos, restringido por diques. são sempre ricas em fauna. No caso espe-
Para garantir a saúde desse ecossiste- cial do Pantanal, a vizinhança com a Amazô-
ma é fundamental manter e ampliar suas nia e as características do meio físico o
áreas preservadas. Existem, atualmente, tornam uma das áreas de maior valor turís-
uma pequena estação ecológica, a da ilha tico e ecológico do Brasil. Atividades como
de Taiamã, e o Parque Nacional do Panta- criação de gado, capivaras ou jacarés são
nal. A fiscalização dessas imensas áreas é compatíveis com a preservação da área. Por
difícil, principalmente pela falta de recur- outro lado, a ação de garimpeiros e inicia-
sos financeiros e de pessoal adequado. tivas individuais que alteram a ecologia da
Uma atividade promissora e compatí- paisagem, por meio da drenagem de pânta-
vel com a sobrevivência desse ambiente nos e aterros extensos, entre outros, impos-
único é o chamado turismo ecológico. A sibilitam a manutenção da fauna e da flora
rodovia Transpantaneira, parcialmente abundantes e do potencial turístico. Consi-
completa, assim como a estrada Miran- derado um dos paraísos terrestres, é de
da–Corumbá facilitam o acesso de milha- fundamental importância a manutenção e
res de turistas e possibilitam o desfrute ampliação de suas áreas preservadas.
da fauna e das paisagens do Pantanal. A
indústria turística é um meio de desper-
tar o interesse dos pantaneiros pela sobre-
vivência da fauna e da flora de sua região. Adaptado por Página Viva do texto de Francis Dov Por, Vera Lúcia
Imperatriz Fonseca e Frederico Lencioni Neto, disponível em
O crescente número de fazendas turísti- http://www.mre.gov.br

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O trabalho em harmonia com a natureza


TEXTO 10

EM BUSCA DO
SELO VERDE
O Acre implanta sistema de extração de madeira sustentável

Acre, definitivamente, não é um Usar uma madeira FSC significa traba-

O Estado símbolo da produção de mó-


veis do país. Na capital, Rio Branco,
por exemplo, são apenas 55 as empresas
lhar com material saído de manejo flores-
tal, que, no caso, é o seguinte: uma área
plantada de 300 hectares é dividida em
do ramo. A produção é tímida, o mercado trinta partes. A cada ano, dez hectares são
consumidor é o local e a palavra exporta- explorados. E assim sucessivamente. No
ção mal é pronunciada. Mas é de lá que trigésimo ano, a parte explorada no
vem um dos melhores exemplos do país primeiro ano já estará recomposta e pron-
quando se trata de produzir sem devastar. ta para ser explorada de novo. Para super-
O governo estadual conseguiu cons- visionar esse trabalho e dar força à produ-
cientizar fabricantes de que devem usar ção industrial do Estado, o governo criou
apenas as madeiras certificadas pelo Forest a Secretaria da Floresta, a única do país,
Stewardship Council (em tradução literal, cujo objetivo é fomentar o desenvolvimen-
Conselho de Administração Florestal), to sustentável da região.
organização internacional que detém o A secretaria monitora o manejo em
selo FSC, também chamado de “selo três tipos de florestas: as públicas, as priva-
verde”, reconhecido mundialmente como das e as reservas extrativistas, onde ficam
garantia de preservação ambiental. os seringueiros e os pequenos agricultores.

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Foto: Sebastião Moreira / AE

Toda a madeira retirada das áreas controladas recebe o “selo verde” da FSC.

O projeto de retirada da madeira conta com a extração da borracha, da castanha e


com um mapeamento completo das re- de óleos. Alguns também trabalham com
giões que serão exploradas: quantas árvo- gado e cultivam pequenos roçados.
res de uma determinada espécie existem Existem no Acre onze comunidades,
naquele terreno e quais delas podem ser mais da metade já certificadas – ou seja, já
derrubadas. Se uma espécie está em extin- foram treinadas para fazer o manejo flores-
ção, como o mogno, é feita uma pesquisa tal – e outras que estão em processo de
para saber qual madeira pode substituí-lo. certificação.
Segundo a Cooperfloresta, a madeira
Herdeiros de Chico Mendes retirada pelos cooperados é de grande valia,
Para os seringueiros, o manejo florestal material nobre, típico da floresta amazônica
virou uma solução alternativa de renda. Os e com o “selo verde”. Os principais compra-
herdeiros da luta de Chico Mendes, líder dores são os moveleiros de São Paulo.
seringueiro assassinado em 1988, começa-
ram a abandonar a floresta ao longo dos
anos 1990, quando a extração da borracha
já não dava mais dinheiro. Hoje, muitos
Adaptado por Página Viva do texto de Débora Rubin, disponível em
deles intercalam a atividade madeireira www.anba.com.br/especial

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Degradação ambiental
TEXTO 11

O PLANETA ÁGUA
PODE SECAR
Na África e na Ásia ela já é recurso escasso

ada é mais abundante em nosso cálculos da ONU, um indivíduo adulto

N planeta do que a água. Por isso, é


difícil imaginar que sua escassez
possa causar mortes, conflitos internacio-
precisa de algo em torno de cinqüenta litros
diários para viver, ou seja, para ingestão,
preparo de alimentos, diluição de esgotos e
nais, ameaças à sobrevivência de animais higiene pessoal. O cálculo não inclui deze-
e plantas e comprometer alguns setores da nas de milhares de litros gastos na agricul-
economia. Entretanto, tal cenário é cada tura, na pecuária ou na indústria.
vez mais recorrente. Apenas um quarto da Como já declarou Koichiro Matsuura,
humanidade terá água para as suas neces- diretor geral da Unesco, órgão da ONU que
sidades mínimas em 2025. A estimativa é coordenou um dos maiores estudos já reali-
da ONU, que considera os recursos hídri- zados sobre a situação da água no mundo,
cos uma de suas preocupações prioritárias. nenhuma região será poupada do impacto
Em algumas partes do planeta, a crise dessa crise que afeta todos os aspectos da
já começou. Nos quarenta países mais vida, da saúde das crianças à capacidade
secos, a maioria deles na Ásia e na África, das nações de providenciar comida.
um cidadão tem direito a, no máximo, oito De fato, no mundo moderno, é mais
litros de água por dia. É muito pouco. Pelos fácil morrer por falta de água ou de sanea-

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mento do que de Aids, tuberculose ou o crescimento populacional, a poluição


doenças infantis, como o sarampo. Pelo por falta de saneamento, o desmatamen-
menos 6 mil pessoas, na sua maioria crian- to, a construção de hidrelétricas – capa-
ças expostas à água não-potável, morrem a zes de mudar o curso original dos rios –,
cada dia em decorrência de diarréias que o desperdício e as mudanças climáticas
culminam em desidratação fatal. Isso sem que fazem chover onde já é úmido,
contar outras doenças de origem hídrica, enquanto aumenta a seca dos desertos.
como a malária e a esquistossomose, trans-
mitidas respectivamente por mosquitos e 2,4 bebês por segundo
caramujos que proliferam na água. A humanidade levou milhões de anos
A degradação da água não comprome- para chegar ao contingente de 1 bilhão
te apenas a qualidade de vida humana. Ela de indivíduos, fato ocorrido em 1830.
também põe em risco a sobrevivência de Menos de um século depois, em 1927,
inúmeras espécies animais e vegetais. Pelo chegou ao seu segundo bilhão. O tercei-
menos 20% das cerca de 10 mil espécies ro bilhão veio em 33 anos e o quarto
de peixes de água doce estão ameaçadas chegou em 1974, apenas catorze anos
ou em vias de desaparecer. De acordo com depois. Desde então, o planeta ganhou
a FAO, 69% dos estoques pesqueiros mari- 2,1 bilhões, chegando aos atuais 6,1
nhos estão totalmente explorados, expos- bilhões. E a metade dessa multidão vive
tos à sobrepesca, degradados ou em lenta com menos de 2 dólares diários.
recuperação. O ritmo dessa expansão preocupa os
Animais terrestes enfrentam declínio estudiosos do assunto desde 1798, quando
similar. Aproximadamente 24% dos mamí- o economista britânico Thomas Malthus
feros e 12% das aves estão na lista de espé- (1766-1834) previu que o crescimento
cies que correm risco de extinção. Um dos populacional acabaria por suplantar o
principais motivos é que eles já não encon- ritmo de ampliação da oferta de alimentos
tram as condições mínimas para sobrevi- e água. Desde então, muitos têm tentado
ver e se reproduzir devido à destruição de calcular qual a população máxima que o
seus hábitats, aí incluídos lagos, rios e planeta pode suportar. Os mais pessimistas
mares. chegam a falar num limite máximo de 2
Inúmeros fatores contribuíram para bilhões de pessoas – quase um terço da
tornar rara uma substância tão essencial atual – caso o mundo inteiro adotasse os
e, até recentemente, presente em quase altos padrões de consumo dos norte-ameri-
todos os lugares: a água. Os principais são canos e dos países europeus mais ricos.

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Te x t o 1 1 / Degradação ambiental

Foto: Fábio Mottavae / AE


Peixes mortos em um dos trechos mais ricos do rio Paraíba do Sul, contaminado por indústria de
celulose em 2003.

A população mundial exerce uma Um rio chamado esgoto


pressão sobre os mananciais de água doce Nos países pobres, as principais cida-
e também sobre os oceanos. Isso porque des são banhadas por rios que mais pare-
pelo menos a metade dos habitantes do cem esgotos a céu aberto. A mistura de
planeta vive numa faixa costeira que se efluentes agrícolas, industriais e residen-
estende até 200 quilômetros rumo ao inte- ciais inclui matéria orgânica, metais pesa-
rior. A boa notícia é que o ritmo de cresci- dos e outros resíduos químicos que, na falta
mento populacional está caindo na maior de coleta e tratamento adequados, acabam
parte do planeta. Nos países em desenvol- sendo arrastados para os cursos de água.
vimento, onde o Brasil se inclui, a média Isso é especialmente grave em regiões que
de filhos por mulher atualmente é um fazem baixos investimentos em saneamen-
pouco inferior a três – aproximadamente to básico e, de modo geral, é o que ocorre
a metade da taxa de fertilidade registrada nos países em desenvolvimento.
no fim dos anos 1960. Hoje, o planeta A quantidade de resíduos sólidos que
ganha 78 milhões de habitantes por ano, bóia nos rios asiáticos quadruplicou desde
bem menos que os 90 milhões do começo o fim dos anos 1970 e chega a ser vinte ve-
da década de 1990. zes maior que a sujeira dos rios de países

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ricos. A América Latina não fica muito construções sobre as praias da baía de
atrás. Só 2% de todo o esgoto produzido Tóquio, que virtualmente desaparecem.
no subcontinente passa por algum tipo de
tratamento. Em suma: os mananciais do O desmatamento
mundo recebem nada menos que 2 milhões A vegetação que margeia rios e lagos,
de toneladas de esgotos todos os dias. conhecida como mata ciliar ou mata de
Os lençóis freáticos, que pareceriam galeria, ajuda a segurar suas margens para
mais protegidos por fluir no subsolo, tam- que estas não desbarranquem. Quando tal
bém estão com freqüência contaminados. vegetação é removida, o solo fica exposto
As águas subterrâneas de Mérida, no à chuva e ao vento e, com freqüência, é
México, estão tão degradadas por esgotos arrastado para o corpo de água. Esse
e pela sujeira do solo arrastada pelas acúmulo de sedimentos no fundo de um
chuvas, que já ameaçam contaminar os rio é conhecido como assoreamento, um
poços que abastecem a cidade. O mesmo fenômeno que faz com que o rio fique
ocorre no Sri Lanka e em várias cidades mais raso e com menor capacidade de
indianas. Jacarta, a capital da Indonésia, escoamento.
que tem quase 1 milhão de fossas sépticas, Em áreas urbanas, a derrubada da
segue pelo mesmo caminho. mata ciliar costuma ser acompanhada de
Os oceanos, apesar da abundância de uma ocupação indevida das margens, o
suas águas, também enfrentam problemas que agrava o problema. Imóveis são cons-
similares, associados a derramamentos de truídos em áreas que são inundadas peri-
petróleo, ao despejo de esgotos por emissá- odicamente, na época das chuvas. Além
rios submarinos e ao escoamento de conta- disso, o solo é em geral pavimentado,
minantes presentes na costa. Pelo menos não conseguindo, assim, absorver as
metade das áreas costeiras do planeta águas pluviais, que escorrem rapidamen-
enfrenta pressões ambientais entre mode- te para as áreas mais baixas, arrastando
radas e extremas, devido ao crescimento as impurezas acumuladas nas ruas. As
populacional e aos projetos de desenvolvi- bocas-de-lobo, que deveriam recolher a
mento. Um exemplo é o ocorrido na Grande enxurrada, muitas vezes estão entupidas
Tóquio, que, com seus quase 26,4 milhões e não dão conta do volume que recebem.
de habitantes, é a maior aglomeração Nas baixadas, a água da chuva encontra
humana do mundo. A necessidade de abri- o rio, que não tem capacidade de recebê-
gar tal multidão – quase um quarto da la e transborda, invadindo ruas e casas e
população japonesa – impôs o avanço das parando o trânsito.

Meio Ambiente e Trabalho • 31


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Te x t o 1 1 / Degradação ambiental

Mudanças de curso Embora essas águas acabem por se


Cerca de 60% dos 227 maiores rios do precipitar em forma de chuva, tal desvio
mundo estão completamente fragmentados implica um impacto considerável no balan-
por barragens, canais e desvios. É o caso do ço hídrico do planeta. Barragens e represas
Nilo, Ganges, Mississippi, Danúbio, cujos também podem modificar a composição, a
cursos sofreram inúmeras modificações ao temperatura e o ritmo do escoamento da
longo dos séculos. Existem pelo menos 800 água.
mil barragens no planeta, na sua maioria
de pequeno ou médio portes. Juntas, elas O consumo abusivo
inundam uma superfície semelhante à da Hoje consumimos seis vezes mais água
Espanha. Suas finalidades: gerar energia, doce do que em 1900 – embora a popula-
promover a irrigação, distribuir água e ção mundial não tenha crescido na mesma
controlar enchentes. Como qualquer super- proporção ao longo do século. Os altos
fície hídrica, as barragens ficam expostas à padrões de consumo hídrico estão associa-
irradiação solar e à evaporação, que é dos sobretudo à irrigação dos campos –
gigantesca: são 200 quilômetros cúbicos de geralmente perdulária e responsável por
água por ano, o que equivale a 7% de toda mais de 70% da água doce empregada – e
a água doce consumida pelas atividades às indústrias, que utilizam outros 22%. Há
humanas no mesmo período. estimativas de que o consumo industrial vai

Ilustração: Alcy

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pelo menos dobrar até 2025, com um temperatura ainda vai subir cerca de 3 °C
aumento de até quatro vezes nas suas emis- ao longo do próximo século.
sões poluentes nos corpos de água. Tal fenômeno muda toda a dinâmica
O dispêndio doméstico também tem do planeta. Por causa do derretimento das
sua parte na responsabilidade. Eletrodo- geleiras, os oceanos já se elevaram entre 10
mésticos de alto consumo, como máquinas e 20 centímetros desde 1990. Doenças
de lavar louça e roupas, e práticas pouco tropicais associadas à temperatura, como
recomendáveis, como a lavagem de auto- malária e febre amarela, têm ocorrido em
móveis e quintais com mangueira, multi- re- giões onde até então não eram regis-
plicam o volume de água de que as popu- tradas. Isso porque os mosquitos que as
lações necessitam no cotidiano. transmitem já conseguem sobreviver em
Em conseqüência, os lençóis freáticos altitudes mais elevadas, que ficaram mais
estão baixando dezenas de metros em vá- quentes.
rias partes do mundo, exigindo a escava- Os desastres naturais também se
ção de poços cada vez mais profundos. Em multiplicaram. Todos os anos, a ressegu-
Gujarat, na Índia, os excessos no bombea- radora alemã Munich Re levanta o volu-
mento do lençol freático fizeram com que me de indenizações pagas por catástrofes
seus níveis descessem até 40 metros. Isso ligadas ao clima, como tornados e mare-
acabou agravando as disparidades sociais, motos. Ela constatou que, ao longo da
por privar os produtores rurais mais pobres década de 1990, as indenizações ficaram
do acesso à água, que só é possível para na casa dos 608 bilhões de dólares – três
quem pode pagar pelos equipamentos de vezes mais do que o valor pago nos anos
perfuração. Em algumas partes do Estado 1980.
norte-americano do Texas o rebaixamento Os recursos hídricos são particular-
chegou a 50 metros em meio século. mente afetados pelo aquecimento global.
Desde 1996, o número de desastres de
Mudanças climáticas origem geofísica, como terremotos e desli-
A Terra está se aquecendo lentamen- zamentos de terra, permaneceu estável,
te. Os anos 1990 foram os mais quentes mas as ocorrências associadas à água,
desde que as temperaturas do planeta como secas e enchentes, mais que dobra-
começaram a ser monitoradas, no século ram. Ao longo da última década, 665 mil
XIX. Os 2.500 cientistas que compõem o pessoas morreram devido a desastres natu-
IPCC (Painel Intergovernamental de rais, mais de 90% delas em inundações e
Mudanças Climáticas) calculam que a secas prolongadas.

Meio Ambiente e Trabalho • 33


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Te x t o 1 1 / Degradação ambiental

ram de ser investidos nos anos de 1930


Avanço do deserto para controlar a devastação causada pelo
A Terra é coberta por uma camada de chamado Dust Bowl – literamente, tigela
solo, essencial à prática da agricultura, que de pó. O fenômeno – gigantescas tempes-
pode ser facilmente destruída se não for tades de poeira, associadas a longa estia-
manejada adequadamente. Esse risco é gem e a práticas agrícolas inadequadas –
maior em locais onde a água não é abun- acabou dando o nome a um largo trecho
dante, como as regiões áridas e semi- do Meio-Oeste norte-americano, incluindo
áridas. Elas representam mais de um terço parte do Estado do Texas.
da superfície terrestre e abrigam pelo
menos 1 bilhão de pessoas. Muita para uns, pouca para outros
O processo de desertificação costuma A água não está distribuída igualmen-
envolver a perda de vegetação e a erosão te entre todos os países. As regões mais
do solo. Dentre suas principais causas estão ricas costumam dispor de maiores índices
as variações climáticas naturais e as ativi- de pluviosidades e de tecnologias mais
dades humanas. Os excessos cometidos na avançadas que permitem utilizar os recur-
mineração, na agropecuária intensiva e na sos hídricos de forma eficiente. Em con-
irrigação – que promove a salinização dos traste, muitos países mais pobres estão em
solos – estão entre os maiores responsáveis regiões áridas ou ilhas, onde os manan-
pela degradação das regiões mais áridas, ciais são raros. Outros têm uma distribui-
que perdem sua capacidade produtiva, ção desigual das chuvas ao longo do ano,
tanto no sentido ambiental quanto no o que impede uma utilização mais eficien-
econômico. te. É o que ocorre na Índia, que tem 90%
Entretanto, esse processo também de suas precipitações concentradas na
pode ocorrer naturalmente. Hoje há evi- estação das monções, que vai de junho a
dências de que o deserto do Saara, no norte setembro. Nos oito meses restantes, prati-
da África, tornou-se árido entre 7 mil e 3 camente não chove nem uma gota.
mil anos atrás, devido a uma pequena O Kuwait – país com os maiores esto-
mudança no eixo de órbita da Terra. Rever- ques de petróleo per capita do mundo –
ter esse quadro custa caro. É necessário é, ironicamente, o que dispõe da menor
promover o reflorestamento, estabilizar oferta de água. Ele oferece 10 mil litros
dunas e escarpas (declives íngremes que anuais a cada um de seus habitantes,
favorecem a erosão) e implantar novas muito menos do que o recomendado pela
técnicas agrícolas. Bilhões de dólares tive- ONU. A lista das nações com maior penúria

34 • Meio Ambiente e Trabalho


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hídrica inclui também Emirados Árabes, nho, Bangladesh. As tensões geradas por
Bahamas, Catar, Ilhas Maldivas, Líbia, Arábia sua construção, iniciada em 1962, repercu-
Saudita, Malta e Cingapura. tiram por mais de trinta anos, até que os
Alguns países até têm água em quan- dois países assinaram um tratado que
tidade razoável, mas a sua contaminação determinou a formação de um comitê con-
é tamanha, que acaba comprometendo o junto para a tomada de decisões e estabe-
abastecimento. Essa categoria é liderada leceu alguns parâmetros (a disponibilidade
pela Bélgica, devido aos altos índices de de água para Bangladesh não pode descer
poluição industrial e ao saneamento bási- além de determinado limite). Mas o Orien-
co insuficiente, seguida por Marrocos, te Médio é a região onde a briga pela água
Índia e Sudão, dentre outros. Em contras- é mais recorrente, agravando um ambiente
te, os recursos hídricos são particularmen- já bastante turbulento.
te abundantes na Guiana Francesa, com
No início dos anos 1970, o Iraque amea-
812 mil litros anuais por habitante, se-
çou bombardear a barragem síria de Al-
guida pela Islândia. A água também não
Thawra e deslocou tropas para a fronteira,
é problema para Guiana, Suriname,
alegando que a obra reduziu o volume de
Congo, Papua-Nova Guiné, Gabão, Ilhas
água que fluía pelo rio Eufrates. Em 1975,
Salomão, Canadá e Nova Zelândia – na
a disputa chegou ao auge, mas uma bem-
sua maioria, países pouco populosos.
sucedida mediação da Arábia Saudita
Briga de vizinhos impediu que houvesse uma guerra. Duas
décadas depois, o Iraque voltou a se envol-
A progressiva escassez faz com que a
água seja tão cobiçada quanto o petróleo. ver numa briga por recursos hídricos, dessa
Por isso, o direito de construir barragens e vez contra a Turquia, que terminava as
explorar rios ou lençóis freáticos tem causa- obras da barragem de Ataturk, e interrom-
do tensões internacionais ao longo da histó- peu o fluxo de água do Eufrates por um
ria. O quadro se complica pelo fato de que mês. Egito e Etiópia também enfrentaram
mais de duzentas grandes bacias atraves- longos períodos de tensão na disputa pelas
sam mais de um país. águas do Nilo. Um dos rios que lhe dão
Os conflitos derivados da construção origem, o Nilo Azul, nasce na Etiópia, e este
da barragem indiana de Farakla são bastan- país decidiu construir uma série de barra-
te ilustrativos. Ela desvia as águas do rio gens em suas cabeceiras. No auge da crise,
Ganges para Calcutá, impedindo que ele em 1979, o então presidente do Egito,
siga seu curso natural, rumo a um país vizi- Anuar Sadat (1918-1981), chegou a decla-

Meio Ambiente e Trabalho • 35


11•CA01T11P4.qxd 12/12/06 8:56 PM Page 36

Te x t o 1 1 / Degradação ambiental

rar: “O único motivo que poderia levar o são desse compromisso, reduzindo à meta-
Egito à guerra novamente é a água”. de o número de indivíduos sem acesso ao
Rixa semelhante envolve o rio Jordão. saneamento básico, no mesmo prazo. Entre-
Suas águas são disputadas há décadas por tanto, os países que assinaram os dois docu-
israelenses e palestinos e têm de ser nego- mentos não definiram como pretendem
ciadas com seus vizinhos, principalmente cumprir tais metas, nem os valores que vão
Jordânia, Síria e Líbano, com os quais desembolsar para alcançá-las.
compartilham alguns mananciais. Diante O fato é que a escassez de água de boa
da escassez hídrica na região, Israel impõe qualidade exige um ataque em vários
pesadas metas de economia à sua própria fronts. Primeiro é necessário reduzir os
população, bem como um controle severo fatores que comprometem os estoques
dos aqüíferos em território dos palestinos, disponíveis, co- mo o desmatamento, o
que têm contestado tal direito. consumo excessivo e a poluição. Depois
pode-se apelar para uma série de soluções
Soluções tecnológicas já disponíveis, como a dessali-
A ONU estima que seria preciso inves- nização da água do mar ou a reciclagem
tir pelo menos 180 milhões de dólares dos esgotos tratados, que podem ser usados
anuais nos países em desenvolvimento para em para jardins, para lavar ruas ou ainda
garantir um amplo acesso à água potável em processos industriais.
nos próximos 25 anos. Hoje, tais investi-
mentos não ultrapassam 80 bilhões de
dólares por ano.
Diante desse quadro, a comunidade
internacional tem assumido reiterados com-
promissos de investir na democratização do
acesso à água de qualidade. Em 2000, a
ONU organizou a chamada Cúpula do Milê-
nio, que, dentre outras resoluções, determi-
nou que até 2015 se reduza à metade o
número de pessoas sem acesso à água potá-
vel. Posteriormente, em setembro de 2002,
a Rio+10 – conferência das Nações Unidas
sobre o desenvolvimento sustentável pro- Trecho extraído do livro, Como cuidar da nossa água, da coleção
movida na África do Sul – propôs a exten- Entenda e Aprenda (BEI), São Paulo, 2003.

36 • Meio Ambiente e Trabalho


12•CA01T03P4.qxd 12/12/06 9:03 PM Page 37

Tratamento do lixo
TEXTO 12

GENTE QUE FAZ

NÍQUEL NÁUSEA FERNANDO GONSALES

Meio Ambiente e Trabalho • 37


13•CA01T08P4.qxd 12/12/06 9:20 PM Page 38

Energia limpa
TEXTO 13

FORÇAS Produção conjunta de


milho e energia
eólica por fazendeiros
americanos aumenta a
DA NATUREZA renda rural e mantém
qualidade do ar

gricultores e pecuaristas nos Estados

A Unidos estão descobrindo que pos-


suem não apenas a terra, mas tam-
bém os direitos eólicos que acompanham a
sua propriedade. Um fazendeiro em Iowa
que arrenda um quarto de acre (pouco
mais de 1.010 m2) de milho à concessioná-
ria local para instalação de uma turbina
eólica pode ganhar 2 mil dólares por ano
em royalties pela eletricidade gerada. Num
ano bom, essa mesma área pode produzir
100 dólares de milho.
O controle do vento tem se tornado
cada vez mais lucrativo. A American Wind
Energy Association (Associação America-
na de Energia Eólica) informa que o custo
por quilowatt/hora da eletricidade eólica
caiu de 38 centavos de dólar, no início da
Ilustração Alcy

década de 1980, para 3 a 6 centavos hoje,


a depender principalmente da velocidade
do vento no local. Já competitivo, o custo
da eletricidade eólica deverá continuar a
cair. Esses custos declinantes, facilitados
pelos avanços no desenho de turbinas eóli-
cas, ajudam a explicar a expansão rápida

38 • Meio Ambiente e Trabalho


13•CA01T08P4.qxd 12/12/06 9:20 PM Page 39

da energia eólica além dos seus domínios receita eólica pode facilmente ultrapassar
originais, na Califórnia. À medida que as aquela da pecuária.
fazendas eólicas vão entrando em ativida- Um dos atrativos da energia eólica é
de nos Estados agrícolas e pecuários de que as turbinas alinhadas através de uma
Minnesota, Iowa, Texas e Wyoming, a fazenda não interferem com o uso do solo
geração da energia eólica subiu vertigino- para a agricultura ou pecuária. Os fazen-
samente, elevando a capacidade de gera- deiros podem, literalmente, “levar vanta-
ção dos Estados Unidos de 1.928 megawatts gem em tudo”.
em 1998 para 2.490 megawatts em 1999 Outro atrativo é que a maior parte da
– um acréscimo de 29%. receita gerada permanece na comunidade
Contrariamente ao que se pensa, o local, enquanto na energia oriunda de
potencial da energia eólica é gigantesco. uma termelétrica a petróleo o dinheiro
gasto com eletricidade pode acabar no
Um inventário realizado pelo Departa-
Oriente Médio. Uma única turbina eólica
mento de Energia dos Estados Unidos
de porte pode gerar 100 mil dólares de
constatou que três Estados – Dakota do
eletricidade ao ano. E não são apenas as
Norte, Kansas e Texas – possuem energia
fazendas eólicas que geram renda, empre-
eólica controlável suficiente para atender
gos e receita fiscal. A primeira fábrica de
às necessidades energéticas de toda a nação.
turbinas eólicas em nível de serviços públi-
Numa época em que os agricultores
cos a ser implantada fora da Califórnia
lutam pela sobrevivência, com os preços
iniciou suas operações recentemente em
dos grãos nos níveis mais baixos em duas
Champaign, Illinois, no coração do Cintu-
décadas, alguns encontram salvação nes- rão do Milho.
sa nova “lavoura”. É como encontrar pe- O valor das terras agrícolas poderá
tróleo, com a diferença de que o vento refletir em breve essa nova fonte de renda.
nunca se exaure. O meteorologista eólico que identificar os
Para um pecuarista em Great Plains, melhores locais para as turbinas estará
1 acre (4.046 m2) de pasto pode gerar 25 desempenhando um papel na emergente
dólares de carne por ano, um valor que é economia eólica comparável ao do geólogo
minimizado pelo potencial de renda eóli- de petróleo na velha economia energética.
ca da mesma área de terra. O mesmo A simples presença de um meteorologista
ocorre com os produtores de trigo que eólico instalando instrumentos de medição
colhem 120 dólares de grão por acre. Para de vento numa comunidade poderá elevar
pecuaristas com áreas nobres de vento, a os preços das terras.

Meio Ambiente e Trabalho • 39


13•CA01T08P4.qxd 12/12/06 9:20 PM Page 40

Te x t o 1 3 / Energia limpa

Turbina eólica instalada


na Ilha de Fernando de
Noronha/PE,
pertencente ao CBEE/UFPE,
com capacidade para gerar
275 kW.
Foto: Arquivo CBEE

O atendimento da demanda energéti- declaração de independência ao petróleo


ca local pelo vento não é o fim da história. do Oriente Médio.
A eletricidade barata gerada pelo vento Preocupados com a queima de com-
pode ser utilizada para eletrolisar a água, bustíveis que desestabilizam o clima, os
produzindo hidrogênio, hoje largamente governos em todos os níveis estão incen-
considerado o combustível do futuro. Com tivando o desenvolvimento de fontes
os automóveis movidos a motores de célu- benéficas de energia renovável. Em
las de combustível sendo esperados no alguns Estados, as comissões dos servi-
mercado nos próximos anos, e com o ços públicos exigem das concessionárias
hidrogênio como o combustível seleciona- que ofereçam a seus clientes opções de
do para esses novos motores, um imenso “energia verde”. Embora isso possa signi-
mercado está se abrindo. A Royal Dutch ficar um aumento na conta mensal de
Shell, líder nessa área, já abriu postos de energia, muitos consumidores preocupa-
hidrogênio na Europa. William Ford, dire- dos com a mudança climática estão
tor-presidente da Ford Motor Company, adotando a energia verde. No Colorado,
declarou que espera presidir o funeral do a oferta de escolha de energia eólica
motor de combustão interna. tanto para as residências quanto para o
As fazendas poderão, um dia, produzir comércio já motivou a implantação de 20
o hidrogênio que moverá a frota de veícu- megawatts de capacidade de geração
los do país, fornecendo aos Estados Unidos eólica – uma quantidade que deverá
a fonte energética necessária para sua duplicar em breve.

40 • Meio Ambiente e Trabalho


13•CA01T08P4.qxd 12/12/06 9:20 PM Page 41

Muitos governos estaduais estão to- O rápido crescimento da energia eólica


mando a iniciativa. No Texas, leis obrigam não está limitado aos Estados Unidos. Em
que 2 mil megawatts de capacidade gera- todo o mundo, a geração da eletricidade
dora provenham de fontes renováveis até eólica em 1999 aumentou num nível sur-
2009, devendo a maior parte ser gerada preendente de 39%. O vento já fornece 10%
pelos ventos abundantes desse Estado. da eletricidade da Dinamarca. No estado
O secretário de Energia dos Estados mais ao norte da Alemanha, Schleswig-
Unidos, Bill Richardson, está exigindo que Holstein, gera 14% de toda a eletricidade.
7,5% das compras de eletricidade do seu A província de Navarra, no norte da Espa-
departamento sejam de fontes renováveis nha, obtém 23% de sua eletricidade do
(excluindo a hidro) até 2010. E a cidade de vento, contra zero há apenas quatro anos.
Santa Mônica, na Califórnia, vai mudar Na China, que recentemente deu início às
atividades da sua primeira fazenda eólica,
todas as suas instalações municipais para a
no interior da Mongólia, os analistas calcu-
energia verde, que será provavelmente eóli-
lam que o potencial eólico do país é sufi-
ca. Está surgindo uma grande aliança em
ciente para duplicar a geração nacional de
apoio à energia eólica. Além dos ambienta-
eletricidade.
listas, os agricultores, pecuaristas e consu-
O mundo está começando a reconhe-
midores a favor da energia verde estão hoje
cer o vento pelo que é – uma fonte inesgo-
apoiando o desenvolvimento da riqueza
tável de energia que pode suprir o planeta
eólica do país, como também os líderes
tanto de eletricidade como de combustível.
políticos nos Estados agrícolas e pecuários
Nos Estados Unidos, os agricultores estão
do Meio-Oeste e Great Plains, muitos dos aprendendo que duas lavouras são
quais ajudaram a promover leis em melhores do que uma, e o governo está
Washington para prorrogar o Crédito do percebendo que o controle do vento pode
Imposto de Produção (PTC – Production contribuir tanto para a segurança energéti-
Tax Credit) sobre a energia eólica. O inte- ca quanto para a estabilidade climática.
resse político no vento está sendo incenti- Essa é uma combinação vencedora, que
vado por um fluxo constante de notícias ajudará a transformar a energia eólica
sobre os possíveis efeitos do aquecimento numa pedra angular da nova economia
global, tais como ondas de calor e secas energética.
recordes, maiores enchentes destruidoras,
degelo polar e das neves de montanhas,
Adaptado por Página Viva do texto de Lester R. Brown, disponível
como também elevação do nível do mar. no site www.worldwatch.org.br/

Meio Ambiente e Trabalho • 41


14•CA01T02P4.qxd 12/12/06 9:29 PM Page 42

Mudanças climáticas
TEXTO 14

POR QUE O PLANETA ESTÁ


ESQUENTANDO
Infografe

Cerca de 30%
da radiação
infravermelha SOL
volta para o espaço
Radiação solar absorvida pela Terra
A superfície da Terra
irradia calor de volta
para a atmosfera

Sugestão de arte:
infografia do efeito estufa,
C centralizada na página.

sorvida pela
Terra
Te

Queima de Fábricas liberam


combustíveis dióxido de carbono
fósseis e
Os oceanos se aquecem, emissão de
liberando vapor de água gases pelos
que contribui para o veículos
aquecimento da atmosfera automotores

42 • Meio Ambiente e Trabalho


14•CA01T02P4.qxd 12/12/06 9:29 PM Page 43

Os fatores são muitos, mas os gases estufa são o principal

ez entre dez cientistas que estudam O aquecimento global é o principal desafio

D o clima não têm dúvidas: a Terra


está cada vez mais quente desde a
Revolução Industrial. Nos últimos setenta
ambiental do planeta?
Sem dúvida, é o desafio do século. E
é perceptível, o clima já se modificou. A
anos, o consumo crescente de energia primeira evidência é que a compilação
proveniente de combustíveis fósseis, o dos dados da superfície do planeta mostra
desmatamento e o acúmulo de resíduos que a temperatura vem subindo desde,
orgânicos e químicos fizeram disparar a pelo menos, 1870, período da Revolução
emissão de alguns gases: dióxido de car- Industrial.
bono, metano, óxido nitroso e outros me-
nos conhecidos, todos chamados de gases Seriam os gases do tipo estufa os
do tipo estufa por reter a radiação térmi- responsáveis por esse aquecimento?
ca e assim impedir que o calor da Terra As temperaturas do planeta já so-
atravesse a atmosfera e se disperse no freram oscilações de vários graus em nosso
espaço. Nesses setenta anos, a temperatu- passado climático. A diferença é que essas
ra do planeta subiu em média 0,7 grau, oscilações eram percebidas em uma escala
como resultado da interferência das ativi- de milhares de anos, associadas aos perío-
dades humanas na troca energética entre dos glaciais, quando a temperatura do
a Terra e o Sol. Para entender o que está planeta pode cair 6, 7 graus, em média.
acontecendo e o que pode acontecer se o Também ocorrem variações de tempe-
acordo mundial para baixar as emissões ratura em períodos interglaciais, como
de gases do tipo estufa – o Protocolo de esse que estamos vivendo, mas o que
Kyoto, ratificado em fevereiro passado – ocorre é que o aquecimento atual é muito
não conseguir mudar o rumo dessa mais rápido – isso é perceptível quando
história, entrevistamos Carlos Nobre, se acompanham as médias de temperatu-
engenheiro, doutor em meteorologia e ra principalmente nos últimos cinqüenta
pesquisador do Centro de Previsão do anos. O argumento mais poderoso para os
Tempo e Estudos Climáticos do Instituto que defendem a tese da relação entre os
Nacional de Pesquisas Espaciais e coorde- gases do tipo estufa e o aquecimento, no
nador internacional do LBA (Experimento entanto, vem de nosso conhecimento cien-
de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera tífico com base nos chamados modelos
na Amazônia), financiado pela NASA. climáticos globais, feitos nos computadores.

Meio Ambiente e Trabalho • 43


14•CA01T02P4.qxd 12/12/06 9:29 PM Page 44

Te x t o 1 4 / Mudanças climáticas

Nesses modelos, podemos simular quais proporções. A areia da praia reflete muito
seriam os efeitos se colocássemos mais ou mais, por exemplo, do que a água do
menos gases na atmosfera, e simular os oceano. Os grãos da poeira vulcânica tam-
fatores naturais. Por exemplo, há peque- bém refletem radiação solar, que por isso
nas variações da quantidade de radiação chega em menor intensidade à superfície
solar em nosso planeta porque o fluxo da do planeta, baixando a temperatura. Já no
radiação solar não é constante. Por meio caso dos gases do tipo estufa, a radiação
de cálculos astronômicos precisos, pode- solar passa por eles sem problemas, porque
mos determinar qual o valor dessas peque- os gases não são partículas como a poeira,
nas variações na energia solar e incluí-las e eles absorvem a radiação térmica. A radi-
em nossos modelos. Fazemos isso com ação térmica é radiação do calor, que a
todos os outros fatores que interferem no Terra libera, devolve para a atmosfera e de
clima do planeta, como a poeira das lá para o espaço. Ela recebe a energia solar
erupções vulcânicas muito intensas, que na forma de radiação de ondas curtas, os
esfriam a superfície da Terra. Assim, dimi- raios ultravioleta, e a manda de volta para
nuímos a margem de erro dos modelos. o espaço na forma de irradiação de ondas
longas, a irradiação infravermelha. Os ga-
E por que a poeira das erupções vulcânicas ses do tipo estufa funcionam como um co-
esfria o planeta e os gases estufa esquen- bertor, impedindo a saída total da radiação
tam? térmica, e por isso a superfície aquece, o
No caso das erupções vulcânicas muito que é condição para a vida no planeta. Se
intensas, como a que ocorreu em 1991 em toda a energia da superfície da Terra fosse
Pinatubo, nas Filipinas, uma quantidade irradiada para o espaço, não haveria calor
imensa de poeira é jogada na estratosfera suficiente para manter a vida como a que
a 20, 25 quilômetros de altura. Essa poeira conhecemos no planeta. O carbono é um
fica circulando durante dois a cinco anos e gás natural, que tem esse papel crucial no
reflete a radiação solar, impedindo que ela clima; o problema é a concentração exces-
chegue à superfície. Isso acontece porque siva desse gás na atmosfera, que faz a Terra
as partículas de poeira são relativamente esquentar demais, como vem ocorrendo
grandes e refletem a luz solar. Quando você atualmente.
vai à praia com sol forte e olha para a areia,
aquilo irrita os seus olhos porque a radi-
ação está sendo refletida; é como se Adaptado por Página Viva do texto de Marina Amaral, publicado na
edição especial Terra em transe da revista Caros Amigos, abril de
estivesse olhando para o Sol, guardadas as 2005

44 • Meio Ambiente e Trabalho


15•CA01T34P4.qxd 12/12/06 9:38 PM Page 45

Pesca artesanal
TEXTO 15

UMA ATIVIDADE AMEAÇADA


A pesca industrial reduz a produção dos pequenos pescadores

Foto: J. J. Leister / AE

Barcos pesqueiros atracados no porto de Cananéia, litoral sul de São Paulo.

Meio Ambiente e Trabalho • 45


16•CA01T37P4.qxd 12/12/06 9:45 PM Page 46

Pesca artesanal
TEXTO 16

MAS ELES RESISTEM

Foto: Wilton Júnior / AE

Pesca artesanal no rio


Suruí, alimentador da
baía de Guanabara,
no Rio de Janeiro.

46 • Meio Ambiente e Trabalho


17•CA01T07P4.qxd 12/12/06 9:45 PM Page 47

Tratamento de lixo
TEXTO 17

RESTOS ALIMENTAM
PLANTAS
Usina transforma lixo orgânico
em adubo e gera empregos para
quarenta trabalhadores da Costa
do Sauípe, na Bahia

lixo orgânico produzido nos hotéis e Sauípe e Previ, o fundo de pensão dos

O pousadas da Costa do Sauípe, no lito-


ral baiano, passa a ser processado na
primeira usina de adubo orgânico da região.
funcionários do Banco do Brasil.
Os trabalhadores cooperados da Verde-
coop, cooperativa formada por moradores
Localizada no município de Entre Rios, na de comunidades vizinhas ao empreendi-
região do complexo hoteleiro que é o maior mento Costa do Sauípe – a maior parte
empreendimento turístico da América Lati- deles, desempregados –, vão ser responsá-
na, a usina de adubo orgânico vai processar veis pela gestão e produção da usina, que
diariamente oito toneladas de lixo. deverá produzir mensalmente 200 tonela-
A usina integra o Programa Berimbau, das de adubo orgânico.
programa social sustentável desenvolvido Além de ser uma alternativa ambien-
pela Fundação Banco do Brasil, Costa do tal para o problema do armazenamento de

Meio Ambiente e Trabalho • 47


17•CA01T07P4.qxd 21.01.07 17:26 Page 48

Te x t o 1 7 / Tratamento de lixo

resíduos na região, a usina vai gerar qua- ga dos alimentos, fecha um ciclo de produ-
renta postos de trabalho diretos e servir de ção completo.”
incentivo aos pequenos agricultores rurais, Além de reduzir o tempo, a tecnologia
que aumentarão sua produção de frutas, que será utilizada na usina tem a vantagem
verduras e hortaliças, com a aquisição do de ser um processo ecologicamente corre-
adubo produzido pela usina a preços até to, já que não utiliza áreas a céu aberto,
20% inferior ao que é hoje praticado no não gera cheiro nem produz resíduos que
mercado. possam atrair insetos e pequenos animais,
Com isso, os trabalhadores coopera- colocando em risco a saúde da população.
dos ganharão em competitividade e volu- A Usina de Adubo Orgânico vai funcio-
me e poderão fornecer seus produtos às nar em um galpão com 1mil e 600 metros
redes de hotéis e pousadas da Costa do quadrados de área construída, instalado em
Sauípe, além de comercializá-los nas pró- um terreno de 10 mil metros quadrados
prias comunidades. que se localiza na Linha Verde, a aproxima-
“Esse é mais um passo na conquista do damente 4 quilômetros do empreendimen-
desenvolvimento sustentável da região, por to hoteleiro.
meio de ações que priorizam a criação de
cadeias produtivas geradoras de trabalho e
renda”, lembra o diretor-presidente da
Costa do Sauípe, Alexandre Zubaran. “O
Extraído de http://www.ambientebrasil.com.br
processo, da captação dos resíduos à entre- 2/1/2005

O que é o programa Berimbau?


Lançado em julho de 2003, o Berimbau é resultado O programa está apoiado na elaboração de cadeias
de uma parceria entre a Costa do Sauípe, a Fundação produtivas que beneficiem os cerca de 7.000 habi-
Banco do Brasil e a Previ – Caixa de Previdência dos tantes das comunidades de Areal, Canoas, Curralinho,
Funcionários do Banco do Brasil. Diogo, Estiva, Porto Sauípe, Vila Santo Antônio e Vila
Apoiado pelo International Trade Center – ITC –, Sauípe, dos municípios de Mata de São João e Entre
organismo subordinado à ONU, na qualidade de pilo- Rios. Ao todo, o Berimbau desenvolve 41 ações e já
to de desenvolvimento social com base no turismo, o recebeu investimentos da ordem de 2 milhões de reais
programa tem o propósito de contribuir para a trans- para implementação e realização dessas atividades.
formação social das comunidades do litoral norte da
Bahia.

48 • Meio Ambiente e Trabalho


18•CA01T38P4.qxd 12/12/06 10:40 PM Page 49

Interferência no ambiente
TEXTO 18

UMA ATIVIDADE TÍPICA DO SÉCULO XV

Acervo Iconographia

Engenho de açúcar
no Nordeste do Brasil –
C.J. Visscher, 1640.
(Reprodução)

Meio Ambiente e Trabalho • 49


19•CA01T39P4.qxd 12/12/06 10:35 PM Page 50

Ecossistemas brasileiros
TEXTO 19

O MARACATU ATÔMICO

Fotomontagem A+

50 • Meio Ambiente e Trabalho


19•CA01T39P4.qxd 12/12/06 10:35 PM Page 51

QUE PROTEGE O MANGUE


Bandas nordestinas criam movimento de proteção aos manguezais

hico Science e Nação Zumbi, Mun- interessante. Ele é importante para vários

C do Livre S/A, Cordel do Fogo En-


cantado, Mangue Seco são algumas
das bandas que representaram o movi-
biomas diferentes”, diz Airon.
O Brasil tem uma das maiores exten-
sões de manguezais do mundo. Os man-
mento mais surpreendente da música gues cobrem uma superfície de aproxima-
popular brasileira na década de 1990: o damente 20 mil quilômetros quadrados,
Mangue beat, movimento artístico surgi- do Amapá a Santa Catarina. Eles se desen-
do em Pernambuco que revolucionou a volvem principalmente nos estuários e nas
MPB pela sonoridade e, principalmente, fozes dos rios, onde há água salobra.
pelo engajamento político e a preocupa- Bioma que não recebeu a devida atenção,
ção com o meio ambiente. o manguezal tem sofrido com o cresci-
O nome do movimento musical, Man- mento desordenado das cidades brasilei-
gue beat, inspirou-se no manguezal, bioma ras. A poluição dos esgotos domésticos,
responsável pela reprodução de dois terços por exemplo, é das principais responsáveis
de toda a vida marinha e que no entanto, pela destruição de grande parte dos man-
com toda essa importância, nunca recebeu gues do nosso litoral. Sem contar com a
atenção a não ser dos especialistas em construção de portos, balneários e rodo-
questões ambientais. E é tal preocupação vias costeiras.
que diferencia o movimento. Para o voca- “A única solução para minimizar o
lista da banda Mangue Seco, Airon impacto é a educação ambiental”, diz o
Mangueboy, existe uma relação íntima biólogo Orlando Couto Jr., professor da
entre as características do bioma mangue- Universidade Santa Cecília, de Santos, “por
zal e do movimento musical: “O Mangue meio da sensibilização das comunidades
beat nasceu da junção de várias influências. que vivem em regiões ou em áreas próxi-
O frevo, o maracatu e o samba misturaram- mas de manguezais.”
se com o punk. O mangue serve como um
corredor da vida, filtrando aquilo que é Extraído de www.mundoambiente.com.br

Meio Ambiente e Trabalho • 51


20•CA01T27P4.qxd 12/12/06 10:43 PM Page 52

A luta pelo desenvolvimento sustentável


TEXTO 20

A PALAVRA DA
CONSTITUIÇÃO
A Carta Magna brasileira promete
o céu ambiental, mas não reflete a realidade
DA ORDEM ECONÔMICA E FINANCEIRA

CAPÍTULO I CAPÍTULO VI

DOS PRINCÍPIOS GERAIS DA DO MEIO AMBIENTE


ATIVIDADE ECONÔMICA Art. 225. Todos têm direito ao meio
Art. 170. A ordem econômica, funda- ambiente ecologicamente equilibrado, bem
da na valorização do trabalho humano e na de uso comum do povo e essencial à sadia
livre iniciativa, tem por fim assegurar a qualidade de vida, impondo-se ao Poder
todos existência digna, conforme os dita- Público e à coletividade o dever de defen-
mes da justiça social, observados os seguin- dê-lo e preservá-lo para as presentes e futu-
tes princípios: ras gerações.
I – soberania nacional; § 1º. Para assegurar a efetividade desse
II – propriedade privada; direito, incumbe ao Poder Público:
III – função social da propriedade; I. preservar e restaurar os processos
IV – livre concorrência; ecológicos essenciais e prover o manejo
V – defesa do consumidor; ecológico das espécies e ecossistemas;
VI – defesa do meio ambiente, inclusive (Regulamento)
mediante tratamento diferenciado confor- II. preservar a diversidade e a integri-
me o impacto ambiental dos produtos e dade do patrimônio genético do País e fis-
serviços e de seus processos de elaboração calizar as entidades dedicadas à pesquisa e
e prestação; (Redação dada pela emenda manipulação de material genético; (Regu-
constitucional no 42, de 19/12/2003.) lamento)

52 • Meio Ambiente e Trabalho


20•CA01T27P4.qxd 12/12/06 10:43 PM Page 53

Ilustração: Alcy
quem em risco sua função ecológica, provo-
quem a extinção de espécies ou submetam
os animais a crueldade. (Regulamento)
§ 4º. Aquele que explorar recursos mi-
nerais fica obrigado a recuperar o meio
ambiente degradado, de acordo com solu-
ção técnica exigida pelo órgão público
competente, na forma da lei.
§ 3º. As condutas e atividades conside-
III. definir, em todas as unidades da radas lesivas ao meio ambiente sujeitarão
Federação, espaços territoriais e seus os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a
componentes a serem especialmente pro- sanções penais e administrativas, indepen-
tegidos, sendo a alteração e a supressão dentemente da obrigação de reparar os
permitidas somente através de lei, veda- danos causados.
da qualquer utilização que comprometa a § 4º. A Floresta Amazônica brasileira,
integridade dos atributos que justifiquem a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Panta-
sua proteção; (Regulamento) nal Mato-Grossense e a Zona Costeira são
IV. exigir, na forma da lei, para insta- patrimônio nacional, e sua utilização far-
lação de obra ou atividade potencialmen- se-á, na forma da lei, dentro de condições
te causadora de significativa degradação que assegurem a preservação do meio
do meio ambiente, estudo prévio de im- ambiente, inclusive quanto ao uso dos
pacto ambiental, a que se dará publicida- recursos naturais.
de; (Regulamento) § 5º. São indisponíveis as terras devo-
V. controlar a produção, a comerciali- lutas ou arrecadadas pelos Estados, por
zação e o emprego de técnicas, métodos e ações discriminatórias, necessárias à prote-
substâncias que comportem risco para a ção dos ecossistemas naturais.
vida, a qualidade de vida e o meio ambien- § 6º. As usinas que operem com reator
te; (Regulamento) nuclear deverão ter sua localização defini-
VI. promover a educação ambiental em da em lei federal, sem o que não poderão
todos os níveis de ensino e a conscientiza- ser instaladas.
ção pública para a preservação do meio
ambiente;
VII. proteger a fauna e a flora, veda-
das, na forma da lei, as práticas que colo- Extraído da Constituição Federal Brasileira de 1988, capítulo I

Meio Ambiente e Trabalho • 53


21•CA01T26P4.qxd 12/13/06 12:06 AM Page 54

Mudanças climáticas
TEXTO 21

O aumento crescente das temperaturas do globo promete gerar


verdadeiras tragédias ambientais

á-se o nome de efeito estufa ao

D aquecimento anormal da Terra re-


sultante de fenômenos naturais e,
também, daqueles provocados pela ação
humana por causa do consumo, cada vez
mais alto, de combustíveis fósseis como o
petróleo, o carvão e o gás natural.
O efeito estufa é um fenômeno que
ocorre naturalmente. Alguns gases como
o vapor de água, o dióxido de carbono
(CO2) e o metano (CH4) são chamados de
gases do efeito estufa porque são capazes
de reter o calor do Sol na atmosfera. Sem
esses gases, a radiação solar se dissiparia
no espaço e nosso planeta seria cerca de
30 °C mais frio.

54 • Meio Ambiente e Trabalho


21•CA01T26P4.qxd 12/13/06 12:06 AM Page 55

Com o efeito estufa, parte do calor do


Sol refletido na superfície terrestre fica
“preso” na atmosfera, mantendo a tempe-

Foto: José Paulo Lacerda / AE


ratura necessária para a existência de
grande parte da vida no planeta. O fenô-
meno é semelhante ao ocorrido em uma
estufa, que mantém o calor preso dentro
de um ambiente específico. Daí o nome de Caracarai, em Roraima, só ganhou ligação
“efeito estufa”. terrestre com a capital, Boa Vista, e com Manaus
no fim dos anos 1970, mas já é uma das áreas
mais atingidas pelas queimadas anuais.
Se o efeito estufa é natural,
qual o problema? avião ou queimamos madeira. As árvores
Há claros sinais de que atividades são grandes armazéns naturais de dióxido
humanas estão aumentando a emissão de carbono (CO2). Bilhões de toneladas de
dos gases que causam o efeito estufa. CO2 da atmosfera são absorvidos pelas
Com isso, a Terra está ficando mais quente. florestas do planeta, que, dessa forma,
As últimas décadas do século XX tiveram ajudam a estabilizar o clima mundial. Mas,
as mais altas temperaturas médias. Nos quando florestas são queimadas, a substân-
últimos cinqüenta anos, os Alpes na Eu- cia retida volta à atmosfera.
ropa perderam 50% de sua cobertura de
gelo. Dados sobre amostras profundas de Quais os principais gases que causam o
gelo sugerem que vivemos o século mais aumento do efeito estufa?
quente dos últimos seiscentos anos. Hoje, O dióxido de carbono é o principal
a temperatura média do planeta está 4 °C agente do aquecimento global. A emissão
acima do que era na última idade do gelo, desse gás ocorre devido ao uso de com-
uns 13 mil anos atrás. bustíveis fósseis, assim denominados por-
Mas recentemente houve uma acele- que foram criados milhões de anos atrás
ração nessas variações climáticas. Cientis- pela lenta decomposição subterrânea da
tas afirmam que o aquecimento é resulta- vegetação e de outras matérias vivas. Os
do da intensificação do efeito estufa devido três combustíveis fósseis são o carvão, o
às atividades dos mais de 6 bilhões de seres petróleo e o gás natural.
humanos que habitam o planeta. O mundo começou a liberar CO2 na
O problema se agrava cada vez que atmosfera há duzentos anos, com a Revo-
dirigimos um automóvel, tomamos um lução Industrial, e desde então sua concen-

Meio Ambiente e Trabalho • 55


21•CA01T26P4.qxd 12/13/06 12:06 AM Page 56

Te x t o 2 1 / Mudanças climáticas

tração cresceu mais de um terço. O CO2 e “Futuro submerso” na página 12). O


outros gases que provocam o efeito estufa, derretimento de geleiras das montanhas
incluindo o metano, o óxido nitroso (N2O, poderá provocar avalanches, erosão dos
gerado por atividades como a deposição solos e mudanças dramáticas no fluxo dos
do lixo, a pecuária e o uso de fertilizantes) rios, aumentando o risco de enchentes.
e os clorofluorcarbonos (CFCs) agora Haveria grandes variações no ritmo de
envolvem a Terra como um cobertor, aque- chuvas. Furacões e tormentas, de um lado,
cendo mais e mais o planeta. e secas graves, de outro. Os cientistas
As pessoas que vivem nos países desen- acreditam que os desertos poderão crescer
volvidos queimam muito mais combustíveis e que as condições de tempo nas regiões
fósseis do que as dos países em desenvolvi- semi-áridas, como o Nordeste do Brasil,
mento. Em média, a cada ano um americano serão ainda mais críticas.
adiciona à atmosfera mais de 5 toneladas de Tudo isso poderá repercutir negativa-
carbono, e a contribuição do europeu e do mente na produção de alimentos, pois
japonês chega a 3 toneladas. Mais de 90% áreas agrícolas serão afetadas. As alte-
do CO2 produzido por atividades humanas rações climáticas podem reduzir a popu-
provém da Europa e da América do Norte. lação ou levar à extinção de muitas espé-
cies que não seriam capazes de se adap-
O que pode acontecer se o efeito estufa se tar às novas condições ambientais, afe-
agravar? tando o equilíbrio de diversos ecossis-
A temperatura média da Terra au- temas. Além disso, o calor facilita a ocor-
mentará ainda mais. À medida que o plane- rência de epidemias de doenças transmi-
ta esquenta, a cobertura de gelo dos pólos tidas por insetos. Aumentam as chances
Sul e Norte derrete. Quando o calor do Sol de sobrevivência dos germes, bactérias,
atinge essas regiões, o gelo reflete a radiação esporos e outros organismos prejudiciais
de volta para o espaço. Se a cobertura de à saúde humana.
gelo derreter, menos calor será refletido. É
provável que isso torne a Terra ainda mais
quente.
Na medida em que o gelo das calotas
polares derrete, o nível do mar se eleva,
provocando a inundação de terras mais
baixas e, talvez, a submersão de ilhas (paí-
ses) no oceano Pacífico (veja a matéria Extraído de www.wwf.org.br

56 • Meio Ambiente e Trabalho


22•CA01T33P4.qxd 12/12/06 11:14 PM Page 57

Desenvolvimento sustentável
TEXTO 22

Foto: Regic Lay Saady / Pagos – Mapa: Infografe


RESERVA CHICO MENDES
Roberto Manera N

PERU
AMAZONAS

Símbolo da luta ACRE RESERVA


dos seringueiros CHICO MENDES

pela conservação BOLÍVIA


0 225
da Amazônia km

Bombeiro em ação na reserva Chico Mendes, em Xapuri, no Acre, queimada em outubro de 2005.

reserva extrativista Chico Mendes, Em maio de 2006, os governos estadual

A em Xapurí, no estado do Acre, foi cri-


ada em 1990, em homenagem ao
líder dos seringueiros assassinado em1988
e federal anunciaram a construção da pri-
meira fábrica de preservativos a utilizar
como matéria-prima a borracha nativa de
no auge de sua luta pela preservação da flo- Xapuri. Embora a indústria tenha gerado
resta e a exploração sustentada dos recur- intensa polêmica, pois especialistas temem
sos renováveis, como o látex das seringuei- que a mão-de-obra local não seja adequada
ras ou a castanha nativa. à manipulação de amônia, essencial para o
A reserva de Xapuri, que recebeu o beneficiamento da borracha, os governos
nome de Mendes, tem 970 mil hectares ocu- mantêm a expectativa de aumentar a renda
pados por cerca de 9 mil habitantes. Cada local, com a venda de produto beneficiado,
família da reserva ocupa uma área média e suprir a campanha nacional de preservati-
de 500 hectares para a criação, agricultura vos gratuitos, iniciada em 1997 com a dis-
de subsistência e moradia. tribuição de 13,4 milhões de unidades e que
As terras das reservas pertencem à deve chegar ao fim de 2006 com 1 bilhão
União e são usufruto dos que nelas traba- de camisinhas distribuídas em todo o país.
lham. Elas foram criadas pelo governo fede-
ral para proteger a natureza e as atividades
tradicionais dos povos extrativistas. Roberto Manera é escritor e jornalista

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23•CA01T01P4.qxd 12/12/06 11:22 PM Page 58

O trabalho em harmonia com a natureza


TEXTO 23

UM AMOR,
UMA CABANA
A escritora proclama seu amor pela rústica construção
de taipa, que faz parte da terra, como formigueiro,
como disse o arquiteto Lúcio Costa

ossos pais diziam que para nos tornar seres completos

N
Ana Miranda
era preciso escrever um livro, plantar uma árvore e ter
um filho. Meu pai, que era engenheiro, acrescentava:
construir uma casa. Escrevo livros, até demais, tenho um filho
e plantei uma árvore, no jardim da casa onde cresci, uma
muda de pau-rosa, ou flor-do-paraíso, que havia sido esqueci-
da ao lado de uma cova estreita e funda, uma muda frágil,
com poucas folhas, mais alta do que a menininha que a salvou.
A muda cresceu, transformou-se em um majestoso flamboyant,
coberto de flores vermelhas.
Mas nunca construí uma casa. Sonho com isso. Gosta-
ria de construir uma casa de taipa, com as próprias mãos,
amassar o barro, atirar o barro nos enxaiméis e fasquias de
madeira. Não se trata de uma idiossincrasia, nem de um gesto
poético, muito menos uma visão religiosa. A taipa é um mate-
rial apaixonante. Tem uma nobreza histórica. As reforçadas
casas e igrejas coloniais brasileiras foram feitas em taipa de
pilão, há ainda hoje na Alemanha casas em taipa construídas
no século XIII, a própria Muralha da China, símbolo de soli-
dez, é taipa. A taipa tem mais de 9 mil anos, serviu a constru-
ções no Egito e Mesopotâmia.
Um amigo meu, arquiteto, projetou e construiu belíssimas
casas de taipa. Ele se chama Cydno da Silveira e o conheci em

58 • Meio Ambiente e Trabalho


23•CA01T01P4.qxd 12/12/06 11:22 PM Page 59

Foto: @c’s
Brasília, poucos anos depois de
plantar meu flamboyant. Cydno
estudava na UnB quando, obser-
vando residências rurais, sur-
preendeu-se com a quantidade de
casas de taipa, feitas de maneira
intuitiva, quase como as abelhas
fazem suas colméias. Nunca tinha
ouvido falar naquilo em seu curso
e percebeu o quanto era elitista o ensino da arquitetura. Foto- Casa de pau-a-pique na Serra de
Petrópolis no estado do
grafou todas as casas de taipa que encontrava. Ele se formou,
Rio de Janeiro.
passou a trabalhar com as técnicas industriais, como concreto
armado, mas nunca esqueceu a taipa. Percebeu que não sabia
construir da maneira mais rudimentar e resolveu aprender.
Estudou durante anos a técnica. Descobriu taipas diversas,
como a de pedra, usada no Piauí, a de madeira com bolas de
barro, vista no Maranhão, a taipa de carnaúba, a taipa mista
de moldura de tijolos, a taipa feita com sobras de madeira e
sucata. Descobriu a maleabilidade incrível do barro, novas
estruturas, novos dimensionamentos do espaço e imensas
possibilidades de melhoria na técnica tradicional. Estudou a
combinação com elementos da cultura industrial, mas sem
descaracterizar a antiga construção de estuque.
A casa de taipa nasce do chão, vem da natureza, é cons-
truída com o material que está ali, a terra e as árvores, e tem
uma grande contribuição a dar a um país que não oferece
moradia para todos, como o Brasil. O projeto de casas popula-
res, que Cydno afinal desenvolveu, ensina o homem a cons-
truir sua própria casa e a cuidar dela. Tem o sentido de manter
viva a sabedoria popular da taipa. Está sendo feita uma expe-
riência na cidade de Bayeux, Paraíba, para treinamento de
pessoas no projeto, construção, melhoria e restauração de
edificações em taipa e pau-a-pique. Não recebendo a casa
pronta, mas construindo-a, o dono toma por ela mais amor.

Meio Ambiente e Trabalho • 59


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Se for privado de sua terra, ele saberá construir uma nova


habitação. O saber lhe pode servir como meio de vida, e a
profissão tem um nome: taipeiro.
A casa de taipa é uma grande alternativa para a habi-
tação no meio rural e nas periferias urbanas. Típicas das
populações mais pobres, é uma forma de independência,
uma estratégia milenar de abrigo, preservada nos sertões
brasileiros especialmente pelas mulheres. O sistema de auto-
construção elimina a aquisição de material, o transporte, o
crédito, elimina o BNH e o processo industrial de constru-
ção, permite o mutirão e, principalmente, educa. É rápida a
construção, usa-se mão-de-obra não qualificada, e é um
instrumento para a posse imediata da terra. Permite uma
construção tanto de caráter transitório quanto perene e a
técnica pode ser levada a lugares onde não chega o material
industrializado. Uma simples caiação evita a umidade e basta
fechar as frestas onde o barbeiro gosta de fazer seu ninho.
Integra a família, as mulheres e crianças trabalham na cons-
trução e integra o grupo na sociedade quando em regime de
mutirão. Apesar de tudo isso, é completamente ignorada
pelos meios administrativos, considerada subabitação, não
há nem mesmo linha de crédito nos órgãos do governo para
casa de taipa. Marcos Freire, antes de morrer, estava tratan-
do de corrigir esse lapso. Nas esferas “civilizadas” há dificul-
dade em compreender a taipa. Não há legislação nem a favor
nem contra. Quando da construção de Carajás, Cydno reali-
zou um projeto de moradias em taipa de pau-a-pique para
os empregados, utilizando o fartíssimo material do lugar. Seu
projeto não foi aceito e os tijolos, o cimento e o ferro viaja-
ram de avião até Carajás.
Na taipa não há desperdício de material nem agressão
ecológica, a madeira usada nas estruturas é em quantidade
cinco vezes menor do que a necessária na queima de tijolos
para uma parede das mesmas dimensões. “A tomada de cons-

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ciências ecológicas, surgida como uma ponte de luz no extre-


mo mais estreito do túnel da crise de energia, vai servindo
para provar-nos que nem sempre o hábitat humano está
condenado a ser feito de concreto, aço e vidro. Assim, quando
tudo em arquitetura parecia dirigir-se para uma negação
sempre maior da natureza que volta a oferecer uma saída
diante das agruras da crise. E o faz com aquilo que lhe é
primeiro e essencial, a terra, o elemento mais fecundo de tudo
o que nos cerca”, escreveu o arquiteto Roberto Pontual.
Quando, nos anos 1930, Lúcio Costa projetou uma vila
operária, em Monlevade, toda em taipa e pau-a-pique, escre-
veu: “... faz mesmo parte da terra, como formigueiro, figueira-
brava e pé-de-milho – é o chão que continua... Mas justamente
por isso, por ser coisa legítima da terra, tem para nós, arquite-
tos, uma significação respeitável e digna, enquanto que o pseu-
domissões, ‘normando ou colonial’, ao lado, não passa de um
arremedo sem compostura”. E aconselha: devia ser adotada
para casas de verão e construções econômicas de um modo
geral. É uma técnica muito mais barata, atende aqueles casais
remediados que desejam uma casinha de campo. O projeto de
Lúcio Costa, claro, não foi aceito pela Belgo Mineira.
O Cydno vai projetar a minha casa de taipa. Vou querer
na casa uma lareira, um fogão a lenha e uma vassoura daque-
las de graveto. Uma árvore frondosa por perto, pode ser um
flamboyant, um gramado na sombra para piquenique, contem-
plação ou leitura. Também dizia meu pai, nas coisas mais
simples está o sentido da vida.

Texto publicado na revista Caros Amigos, no 5, de agosto de 1997

Meio Ambiente e Trabalho • 61


24•CA01T40P4.qxd 12/13/06 6:19 PM Page 62

Degradação ambiental
TEXTO 24

THE END
OF THE NIGHT SKY

Hong Kong city, night of July, 6th, 2002.

he increase of artificial illumination Astronomical Association (BAA), explains

T in recent years has been enormous:


street lamps, illumination of sports
stadiums and golf courses, illumination of
the seriousness of the problem:
“Approximately 90% of people in this
country have a polluted night sky. And the
historic buildings, security illumination of recent research by Cinzano shows that
homes and offices. more than 50% of the population of Euro-
Unfortunately, there is so much illumina- pe now do not see the Milky Way from their
tion today that the darkness has practically locality. We think this is an environmental
disappeared – and with it our view of the disaster, really. The problem is that the sky
night sky and the stars, planets and mete- is not a private property, so it is difficult to
ors that are part of the universe. legislate for its protection.”
Bob Mizon, UK Coordinator for the Light pollution is artificial human-
Campaign for Dark Skies with the British made illumination. The astronomer, Mizon,

62 • Meio Ambiente e Trabalho


24•CA01T40P4.qxd 12/13/06 6:19 PM Page 63

Most of the occidntal world


doesn’t know anymore what
complete darkness means. The
light pollution, besides being an
enormous waste, brings long
term effects on human
behavior.

COMO SE DIZ EM INGLÊS?


How do you say in English?
is protesting against light pollution since Sky. céu
Increase. aumento
1989. Our galaxy contains approximately
Lamps. lâmpadas
150,000 million stars. In a dark night sky
Buildings. edifícios
in theory it is possible to see 2 or 3 thou- Unfortunately. infelizmente
sand stars, but today, in the center of Darkness. escuridão
London, it is possible to see only 12 stars. View. vista
Stars. estrelas
Country. país
Research. pesquisa
To show. mostrar
Milky Way. Via Láctea
Environmental. ambiental
Only. somente
Extraído da revista Speak Up edição 210 – novembro/2004.

Meio Ambiente e Trabalho • 63


eja_expediente_Meio_2378.qxd 1/26/07 3:26 PM Page 64

Expediente
Comitê Gestor do Projeto
Timothy Denis Ireland (Secad – Diretor do Departamento da EJA)
Cláudia Veloso Torres Guimarães (Secad – Coordenadora Geral da EJA)
Francisco José Carvalho Mazzeu (Unitrabalho) – UNESP/Unitrabalho
Diogo Joel Demarco (Unitrabalho)

Coordenação do Projeto
Francisco José Carvalho Mazzeu (Coordenador Geral)
Diogo Joel Demarco (Coordenador Executivo)
Luna Kalil (Coordenadora de Produção)

Equipe de Apoio Técnico


Adan Luca Parisi
Adriana Cristina Schwengber
Andreas Santos de Almeida
Jacqueline Brizida
Kelly Markovic
Solange de Oliveira

Equipe Pedagógica
Cleide Lourdes da Silva Araújo
Douglas Aparecido de Campos
Eunice Rittmeister
Francisco José Carvalho Mazzeu
Maria Aparecida Mello
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Equipe de Consultores (Câmara Brasileira do Livro. SP, Brasil)

Ana Maria Roman – SP Meio ambiente e trabalho / [coordenação do projeto


Antonia Terra de Calazans Fernandes – PUC-SP Francisco José Carvalho Mazzeu, Diogo Joel Demarco,
Luna Kalil]. -- São Paulo : Unitrabalho-Fundação
Armando Lírio de Souza – UFPA – PA
Interuniversitária de Estudos e Pesquisas sobre o Trabalho ;
Célia Regina Pereira do Nascimento – Unicamp – SP Brasília, DF : Ministério da Educação. SECAD-Secretraria
Eloisa Helena Santos – UFMG – MG de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade,
2007, -- (Coleção Cadernos de EJA)
Eugenio Maria de França Ramos – UNESP Rio Claro – SP
Giuliete Aymard Ramos Siqueira – SP Vários colaboradores.
Lia Vargas Tiriba – UFF – RJ Bibliografia.
ISBN 85-296-0060-6 (Unitrabalho)
Lucillo de Souza Junior – UFES – ES
ISBN 978-85-296-0060-4 (Unitrabalho)
Luiz Antônio Ferreira – PUC-SP
1. Livros-texto (Ensino Fundamental) 2. Meio ambiente
Maria Aparecida de Mello – UFSCar – SP
3. Trabalho I. Mazzeu, Francisco José Carvalho.
Maria Conceição Almeida Vasconcelos – UFS – SP II. Demarco, Diogo Joel. III. Kalil, Luna.
Maria Márcia Murta – UNB – DF IV. Série.
Maria Nezilda Culti – UEM – PR 07-0391 CDD-372.19

Ocsana Sonia Danylyk – UPF – RS Índices para catálogo sistemático:


1. Ensino integrado : Livros-texto :
Osmar Sá Pontes Júnior – UFC – CE
Ensino fundamental 372.19
Ricardo Alvarez – Fundação Santo André – SP
Rita de Cássia Pacheco Gonçalves – UDESC – SC
Selva Guimarães Fonseca – UFU – MG
Vera Cecilia Achatkin – PUC-SP

Equipe editorial
Preparação, edição e adaptação de texto: Pesquisa iconográfica e direitos autorais:
Editora Página Viva Companhia da Memória

Revisão: Fotografias não creditadas:


Ivana Alves Costa, Marilu Tassetto, iStockphoto.com
Mônica Rodrigues de Lima,
Apoio
Sandra Regina de Souza e Solange Scattolini
Editora Casa Amarela
Edição de arte, diagramação e projeto gráfico:
A+ Desenho Gráfico e Comunicação

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