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Vamos resumir as duas primeiras partes do livro. A terceira e a quarta dizem respeito à
teologia bíblica e ao confronto com alguns filósofos e não trazem tanta ocasião de
reflexão como as duas primeiras partes.
Na introdução o autor indica que o objetivo do livro é de procurar saber do que se fala
exatamente quando se fala de moral ou de ética; de que é feita esta disciplina do
pensamento e da ação e de qual método pode dispor para chegar à sua finalidade : a
capacidade de tomar uma decisão justa.
2. ÉTICA E PSICANÁLISE : Freud recusa a imagem que o ser humano quer dar de si-
mesmo pela qual se obriga a tomar atitudes que traem antes de tudo seu medo de
viver. A moral não é um dado inato : é fruto da necessidade de gerir sua agressividade
inata. Para a psicanálise, a moral é o resultado deste delicado exercício de renúncia às
satisfações imediatas da libido em vista de vantagens afetivas e relacionais. Porém, o
super-ego pode tornar-se opressor pela severidade de suas exigências e a pouca
preocupação que tem da felicidade do ego. Este deve aprender a distanciar-se das
demandas excessivas do super-ego, embora aceitando o que tem de estruturante nelas,
quer dizer o que lembra a existência do outro e seus direitos. Trata-se então de passar
do estágio de um narcisismo primário para o reconhecimento da alteridade do outro.
O ego deve arbitrar entre o princípio de prazer e o princípio de realidade. É através de
uma longa formação, marcada por lutos, culpabilidade e consentimento aos próprios
limites que a consciência moral encontra seu justo lugar e sua função. A moral opera
nestes três ordens de realidade : o reconhecimento do outro, a aceitação do
sofrimento e a impossibilidade da perfeição. Todavia, além do discurso psicanalítico, é
preciso uma reflexão filosófica que leve em consideração como as figuras morais
arraigam-se nas várias instâncias psíquicas, não se reduzindo e elas.
O autor oferece uma visão mais indutiva da reflexão ética a partir da questão que
formulou inclusive como título de sua obra : como fazer para fazer bem feito ? É um
livro sem pretensão mas que oferece bons subsídios para introduzir as pessoas não
iniciadas a uma reflexão ética. Nos parece estar mais dentro de um paradigma de moral
renovada, dentro de uma visão mais marcada pela problemática européia : não existe
nada a propósito de questionamentos morais mais econômicos ou políticos. A
preocupação é ajudar as pessoas como indivíduos a agir e questionar seu agir tão
individual quanto coletivo de modo a fazer bem feito !