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OnE NT On OCue Sates IMAGINARIOS Jorge Luis Borges © Margarita Guerrero ‘OBO orge Luis Borges é, sem duvida, 0 grande expoente da literatura fantastica, como © comprovam seus contos de Ficgdes e O Aleph, cuja sime- EME lolisiaitle-WaloeU sole soinTe( a cada volta com o mistério e 0 terror da condigao huma- iirc [Keone leo le llr BN oLeood ta ou ensaista, a maior parte de seus criticos nao hesita em situa-lo entre os dez maiores escritores do mundo con- temporaneo e na primeira li- nha dos autores de lingua es- panhola de todos os tempos. Nesta moderna versdo dos tradicionais bestiarios medievais, convivem as figu- ras célebres da mitologia classica grega, como o mino- tauro, 0 centauro, a esfinge, o Cérbero, e da oriental, como a fénix, o Golem, o dragao, o elefante de seis presas que predisse o nasci- mento de Buda, ao lado dos ofc ot ALi coee (TAA) Cerefare lll Xena oro lm.) 9 [FG das curiosas, liricas e som- Lire reeleee (OMAN Geli. de um Edgar Allan Poe e de um C. S. Lewis. Mesmo os fugidios elfos e duendes do folclore europeu € os mons- tros ora ameacadores, ora tisiveis da tradigao latino- americana nao sao esqueci- dos, culminando o livro com a apresentacao de criaturas ignotas como o A Bao A Qu O Livro dos Seres Imagi- ndarios contou com a colabo- ragaéo de Margarita Guerrero, ex-profissional de danca mo- derna na década de 40 e amiga de longos anos do au- tor. Por forga de seu casa- mento com um diplomata ar- gentino, Margarita residiu na Alemanha no periodo de 1955 a 1961. Além deste li- icoPmr IU ool ste] FX CM OLcies quisas para um estudo sobre Martin Fierro, valendo-se de OEM ture Me (om rete (Ocoee Mirco) dosa e do conhecimento de Coleen UEC JORGE LUIS BORGES E MARGARITA GUERRERO O LIVRO DOS SERES IMAGINARIOS Tradugéio: Carmen Vera Cirne Lima Revisdio da traducdao: Maria Carolina de Araujo Prefacio: Sylvia Molloy Nova edicao, revista e ilustrada “Talo da eaigio angentina io de oe Sve Iago: Copyright 1974 by MargstaL Céppota Gaerera Copyright © 1978 by Emec Elites SA ~ Buenos Alves, Argentina (Capa: Hao de Alida ItstragGes etal da edo hdngaza ipa Legs Kone (0 Lito do Sores Ii), ‘te Edtora Hellkon, Budapest Coordenasio eto da odio bras: Fina Si “Assessor ete: Jorge Shwartz Dreparago de text: Maria Carolina de Arado Revisio de textos: Mirela Menin Pjto gro, Alves e hr dora Lida Diritos exclusives de digo om lingua poraguest, ‘rao Bas adgudas por EDITORA GLOBO 8.0 Avenida Jaguaré 455, ‘CEP 05846902 Tel: 3767-760, S30 Palo, SP ‘ental: atendimento@edglabo comnbe “adoro dios reervads. Nenu parte desta eco pode ser uid ou sepredusida em qualguar melo a formas mini elt tos i, ravagio ct —remt apropsadn ou esac em sera de banc de dads, Fem a expestaautrzag ds dios, Inpesin¢AcaetIrprenss dF dio, 2000 2 repress, 2004 Bowes Fee al, 1099986 1 ivte dos ‘sees imagintios / Jonge Lals Borges ¢ Margin ‘Guero tur Carmen er Ce Lina prt Syvia Mok SCT SS Palo: Chae 0" ee ISBN 8525005050 1. Animais mice 2. esi 3. Feo agetina Gare, Ma ‘patel Ti, od ne Indices para atslogasstemaico 2 Detaron oko 39869 {Pa Soo 2 Lear argentina 4EStealo 20 Literatur args 8634 INDICE Prefiicio, por Sylvia Molloy Prologo 1 Bao A Qu Os pigmeus \ anfisbena Animais dos espelhos Animais esféricos Dois animais metafisicos Um animal sonhado por Kafka. Um animal sonhado por C. $. Lewis © animal sonhado por Poe . Abau e Anet © aplanador. Harpias © asno de trés patas A fenix 0 centauro. O paissaro roca. Bahamut O cio Cérbero © basilisco. r O elefante que predisse © nascimento de Buda © catoblepas © Bebemoth. 13 15 7 19 a1 22 24 26 28 29 31 33 34 35 37 39 42 44 46 48 51 34 35 37 Cronos ou Hércules Uma cruza Garuda Os elfos, © borametz: O dragio O dragao chinés © devorador das sombras O cavalo-do-mar. A esfinge © Burak Fauna dos Estados Unidos Os silfos A fénix chinesa. © Golem © grifo O cem-cabec: A Banshee Haniel, Kafziel, Azriel e Aniel, © hipogrifo A hidra de Lerna Haokah, deus do trovao ‘A mandrigora © Kami © minotauro A mie das tartarugas, Os monéculos . . (© macaco da tinta (© Manticora Lilith ‘Os gnomos Remora A Quimera. O petitio A raposa chinesa . 63 1 101 103 105 107 110 a is) 14 15, uy ug 121 Fauna chinesa O monstro Aqueronte © mirmecoledo Os nagas A serpente dctupla . Youwarkee. O Odradek A pantera. O pelicano: O gato de Cheshire € os gatos de Kilkenny. . O simurg A salamandra Sereias As ninfas Talos © zarata duplo. O squonk. kraken 0 unicémio Os tigres do Anam A Peluda de La Ferté-Bernard © unicérnio chinés 0 uroboros or Os demédnios de Swedenborg . Fastitocalon Os Lamed Wutniks 0 cervo celestial Os djins. Os brownies. . Um rei de fogo e seu cavalo Um réptil sonhado por C. S. Lewis Crocotas € leucrocotas O Fao-tieb i 123 pei) 127 128 - 130 132 133, 135 137 139 140 142 146 148, 149 150 153 154 155 157 159) 161 163 165 167 168, 169 170 . 171 173, 174 175 176 7 178 As Valquirias As nornas: Porca com correntes Ietiocentauros Os seres térmicos Deménios do judaismo O filho de Leviata O nesnas : Os anjos de Swedenborg, Hochigan Khumbaba Os antilopes de seis patas Os El6i € os Morlocks. Os trolls. Baldanders. . As limias Os lémures . As fadas. Kujata Os sitiros. galo celestial, paissaro que traz a chuva. A lebre lunar . 179 180 181 182 183 184 185 186 187 189 190 191 192 = 193 194 196 197 - 198 199 200 201 202 203 PREFACIO © prélogo a0 Manual de Zoologia Fantastica, precursor nao to distante deste Livro dos Seres Imagindrios, recupera aquele momento privilegiado em que uma crianga — a crian- a que foi Borges ou qualquer um de nés — visita pela pri- meira vez um jardim 2oolégico. “Nesse jardim, nesse terrivel jardim, © menino vé animais vivos que nunca viu; [..) Vé pela jira vez a desatinada variedade do reino animal, e esse espeticulo, que poderia alarmi-lo e horrorizé-lo, agrada- Ihe.”' Esse prazer infantil, ligado inextricavelmente a inquie- taco, nao difere da misteriosa alegria ou do feliz assombro (ambas as expressdes so de Borges) que fundamentam o fato literdrio: exercicios prazenteiros e inquietantes, a escritu- ra ea leitura ~ nao se cansa de afirmar Borges — nos apartam do mundo. Enganosamente ingénuo, autenticamente divertido, O Li- vro dos Seres Imagindrios articula, como todo texto borgiano, uma concepeao da literatura. Como 0 enciclopedista chines, ou como Funes, 0 memorioso, Borges recorre 4 coleco hete- r6clita, O arremedo de ordem que oferece o alfabeto no faz sendo recalcar “a desatinada variedade” de um conjunto em que se rocam assombrosamente 0 Pelicano ¢ a Peluda de La Ferté-Bernard, 0 Uroboros ¢ a Valquiria. O exotismo desses ‘Tome Tas Bones Margarita Guero, Manual de Zoskogin antdstica (México: Fondo ‘de Cultura Economica, 1957), p. 7, seres descomunais, sua frigil coabitagdo nesta série borgiana sao por certo surpreendentes. Mas no menos surpreenden- te, sugere Borges, € a coexisténcia de termos sem qualquer concatenacao lingiistica, qualquer organizacio verbal, qual- 10 de palavras. A literatura 6, afinal de contas, quer sucessa uma monstruosa série de imaginacdes. Menos que um dicionario fantastico ou um catilogo tera- tol6gico, O Livro dos Seres Imagindrios € uma licida reflexao sobre a literatura como fato temporal e mével. Um catilogo de seres imagindrios fixos — um repert6rio estvel de mons- tros, digamos ~ interessa pouco a Borges, mais atento as va- riantes que as definigdes redutoras do dicionario brutal, O que © atrai é a inevitdvel transformagiio que trazem as imagina- des primeiras, tao vistosas que pareceriam definitivas, as le turas sucessivas, as novas versdes, as digressdes, as erratas. Recorda Valéry que ha mitos que nascem de uma consonan- cia feliz. e que certas grandes divindades devem sua existéncia a meros jogos de palavras. Nao sucede senao isto aos gran- des monstros, diz-nos este livro, como aquele Mirmecoledo, inconcebivel justaposigao de ledo ¢ formiga, surgido de uma traducdo tio anémala como propicia. Os seres imaginarios que descreve Borges, como o Baldanders, “cujo nome pode- mos traduzir por ‘J diferente’ ou ‘J4 outro”, sio monstros sucessivos, criaturas do tempo, Gertas €pocas ressaltam sua di ferenca; outras a esquecem. No tempo de Plinio, o Basilisco, cujo nome significa pequeno re, era uma fantasia discreta, “uma serpente que tinha na cabega uma mancha clara em forma de coroa”, Com o tempo, sua monstruosidade se bar- roquiza, torna-se chamativa. Transforma-se em galo; com penas amarelas; com escamas; com cauda de serpente que conclui em gancho; com cauda que conclui em outra cabe- a de galo; com oito pés. Similar acréscimo sofre a pantera, que em seus modestos primérdios “para os saxdes nao era uma besta feroz, mas sim um som exético, nao respaldado por uma representaco:muito concreta’. Em compensacio, 10 2 Quimera, originariamente apavorante, mescla de ledo, cabra e serpente, sofre um processo inverso, é demasiado heterogé- nea, Sua propria incoeréncia pressagia seu desgaste: “Ja estava cansando as pessoas. Melhor que imaginé-la seria converté- Ja em qualquer outra coisa. (... A incoerente forma desapare- ce ea palavra fica, para significar o impossivel” RecriacGes fantasiosas, os exercicios de Borges sio oca- sido de observacdes paradoxais ¢ de deslocamentos fecun- dos, Considera mais perturbadora que um homem com cabeca de touro a idéia de uma casa feita para que as pes- soas Se percam: 0 monstruaso ~ propde, invertendo os ter- mos — é 0 labirinto como morada, nao o Minotauro, seu soli- tirio morador. Recupera a estranheza do Behemoth, hoje desgastada a ponto de subsistir apenas como mengio no Livro de J6, ao recordar-nos que Behemoth, como Elohim, 0 nome de Deus, é em hebraico um termo plural, por su: “desmesurada grandeza”. O detalhe gramatical que harmoni xa 0 divino € 0 teratologico renova a atrocidade do monstro — assim como a da divindade. ‘A leitura de Borges € to generosa quanto anacr6nica, Resgata do esquecimento monstros ilustres, reescreve-os des- de nosso presente, dotando-os de nova e fragil vida, a do tempo de nossa leitura. Com acerto, detém-se no detalhe efi- caze patético: © Catoblepas, de cabeca to pesada € pescoco ténue, que vive com os olhos voltados para 0 chao, 0 Squonk, que se dissolve em suas proprias lagrimas, o hibrido de Kafka, metade gato, metade cordeiro, misfit por exceléncia que chora as ligrimas de seu amo. Nao elude, tampouco, o lado brincalhdo de certas combinag6es. Assim, do abundantemen- te alegorico Unicémio, simbolo, em sucessivas versdes, do “Espirito Santo, Jesus Cristo, do merciirio e do mal”, diz-nos que € “um cavalinho branco, com patas traseiras de antilope, barba de cabrito € um chifre longo e retorcido na testa’ Ao falar de um de seus contos, “A casa de Astérion”, observa Borges em uma entrevista: “Na verdade, mais que ae um monstro, 0 Minotauro € um freak”. E depois acrescenta, trasladando 0 valor do termo: “Temo que meus contos sejam uns freaks’ £ essa freakishness que tenta recuperar ~ € cele- brar — O Livro dos Seres Imagindrios. Os seres que 0 povoam so menos monstros sagrados que simulacros, “deformagdes trémulas € enormes”, toscas ¢ comovedoras tentativas de nomear 0 Unbeimliche, de conjuri-lo dando-Ihe forma passa- geira. Talver Borges, como Chesterton, “nao tivesse tolerado a imputagio de ser um urdidor de pesadelos, um monstro- rum artifex’ ® No entanto, pareceria ser a representacdo que, afinal de contas, € mais fiel ao espirito de sua obra. SyiviA Moutoy Traducao de Teresa Crstdfant Barreto James Eby, “Encuentro con Borges’, em James F. iby, Napoléon Murat e Carlos Pera (ed), Bteuenteo con Bonges (Buenos Aires: Galeri, 1958), . 35, 4 Jone luis Borges, “Sobre Chesterton", em Obras Chmpetas (S80 Paulo: Globo, 199) v-ll p78 12 PROLOGO O nome deste livro justificaria a inclusdo do principe Hamlet, do ponto, da linba, da superficie, do bipercubo, de todas as palavras genéricas e, talvez, de cada um de nds e da divin- dade. Fm suma, quase do universo. Ativemo-nos, contudo, ao que imediatamente sugere a locugao “seres imagindrios”, compilamos um manual dos estranbos entes que engendrou, ao longo do tempo e do espaco, a fantasia dos homens. Ignoramos 0 sentido do dragao, como ignoramos 0 sent do do universo, mas algo hd em sua imagem que se harmo- niza com a imaginacéo dos homens, e assim o dragdo surge em diferentes latitudes e épocas. Um livro desta indole & necessariamente incompleto; cada nova edigéio 6 0 nticleo de edigdes futuras, que podem multi- plicar-se ao infinito. Convidamos 0 eventual leitor da Colémbia ou do Para- _guiai a nos remeter os nomes, a fidedigna descricéo e os habi- Jos mais conspicuos dos monstros locais. Como todas as miscelaneas, como os inesgotdvets volu- ‘mes de Robert Burton, de Fraser ou de Plinio, O. Livro dos Seres Imaginarios ndo foi escrito para uma leitura ininterrupta, Desejariamos que os curiosos 0 freqtientas- sem como quem brinca com as formas varidveis que reve- Ja um caleidoscépio. 13, Muiltiplas sao as fontes desta ‘silva de varia leccién”; nos as registramos em cada artigo. Que alguma omissdo involun- dria nos seja perdoada. J on ii M. Martinez, setembro de 1967. 14 O DRAGAO O dragio possui a capacidade de assumir muitas formas, mas estas So inescrutaveis. Em geral o imaginam com cabe- ca de cavalo, cauda de serpente, grandes asas laterais € qua- tro garras, cada uma dotada de quatro unhas. Fala-se também. de suas nove semelhangas: seus comos se assemelham aos de lum cervo, sua cabega a do camelo, seus olhos aos de um deminio, seu pescogo ao da serpente, seu ventre ao de um mo- lusco, suas escamas as de um peixe, suas garras as da Aguia, as plantas de seus pés as do tigre e suas orelhas as do boi HA espécimes aos quais faltam orelhas € que ouvem pelos chifres. E comum representé-lo com uma pérola, que pende de seu pescogo e é emblema do sol. Nessa pérola esté seu poder. £ inofensivo se despojado dela, A historia Ihe atribui a paternidade dos primeiros impe- adores, Seus ossos, dentes e saliva desfrutam de virtudes medicinais. Pode, segundo sua vontade, ser visivel ou invisi-" vel aos homens. Na primavera sobe aos céus; no outono sub- merge na profundidade das 4guas. Alguns nao tém asas ¢ ‘voam com proprio impulso. A ciéncia distingue diversos géneros. O dragio celestial leva no lombo os pakicios das divindades e impede que esses caiam sobre a terra; 0 dragito divino produz os ventos as chuvas, pata o bem da huma- nidade; 0 dragio terrestre determina 0 curso dos tiachos dos rios; 0 dragio subterrineo cuida dos tesouros vedados 15 a0s homens. Os budistas afirmam que os dragdes nao sto menos abundantes que os peixes de seus muitos mares con- céntricos; em alguma parte do universo existe uma cifra sagrada para expressar seu ntimero exato, O povo chines cré mais nos dragdes que em outras deidades, porque os vé com tanta freqiiéncia nas nuvens inconstantes. Paralelamente, Shakespeare havia observado que hd nuvens com forma de dragdo sometimes we see a cloud that’s dragonish”) (© dragio rege as montanhas, vincula-se 4 geomancia, mora perto dos sepulcros, est associado ao culto de Conficio, € 0 Netuno dos mares e aparece em terra firme. Os reis dos dragoes do mar habitam resplandecentes palicios sob as aguas € se alimentam de opalas e de pérolas. Ha cinco desses reis; 0 Principal esté no centro, os outros quatro comespondem aos pontos cardeais, Tém uma légua de comprimento; ao mudarem de posicio, fazem as montanhas se chocarem, Sao revestidos de uma armadura de escamas amarelas. Abaixo do focinho tém uma barba; as pernas e a cauda sao peludas. A testa se projeta sobre os olhos chamejantes, as orelhas sd0 pequenas € grossas, a boca sempre aberta, a lingua comprida e os den- tes afiados. O hilito ferve os peixes, as exalagdes do corpo 8 fazem assar, Quando sobem a superficie dos oceanos, produzem redemoinhos e tufdes; quando voam pelos ares, causam tormentas que destelham as casas das cidades ¢ inundam os campos. S30 imortais ¢ podem comunicar-se entre si apesar das distincias que os separam e sem necessi- dade de palavras. No terceito més fazem seu informe anual 0s céus superiores. 16 A BAO A QU Para contemplar a paisagem mais maravilhosa do mundo, © preciso chegar ao iiltimo andar da Torre da Vitoria, em Chitor. Existe af um terrago circular que permite dominar todo © hori- vonte, Uma escada em caracol leva ao terraco, mas s6 se atre- vem a subir aqueles que nao créem na fabula, que diz, assim: “Na escada da Torre da Vit6ria mora desde principio clos tempos © A Bao A Qu, sensivel aos valores das almas humanas. Vive em estado letirgico, no primeiro degrau, € s6 desfruta de vida consciente quando alguém sobe a escada. | vibraco da pessoa que se aproxima Ihe infunde vida, e uma luz interior se insinua nele. Ao mesmo tempo, seu corpo © sua pele quase translticida comecam a se mover. Quando \lguém sobe a escada, 0 A Bao A Qu pOe-se quase nos cal- canhares do visitante € sobe agarrando-se a borda dos dlegraus curvos e gastos pelos pés de geracdes de peregrinos Fm cada degrau sua cor se intensifica, sua forma se aperfei- ea luz que irradia € cada vez mais brilhante. Testemunha le sua sensibilidade é 0 fato de que s6 consegue sua forma perfeita no Gitimo degrau, quando o que sobe € um ser evo- luido espiritualmente. Nao sendo assim, 0 A Bao A Qu fica como que paralisado antes de chegar, 0 corpo incompleto, a cor indefinida e a luz vacilante. O A Bao A Qu sofre quando nao consegue formar-se totalmente ¢ sua queixa € um rumor pouco perceptivel, semelhante ao rogar da seda. Porém, V7 quando © homem ou a mulher que o revivem esto cheios de pureza, 0 A Bao A Qu pode chegar ao tiltimo degrau, ja completamente formado e irradiando uma viva luz azul. Seu regresso i vida € muito breve, pois, ao descer 0 peregrino, 0 A Bao A Qu cai rolando até © primeiro degrau, onde, ja apa- gado e semelhante a uma limina de contornos vagos, espe- r2 0 prOximo visitante, $6 é possivel vé-lo bem quando chega A metade da escada, onde os prolongamentos de seu corpo, que, como pequenos bragos, o ajudam a subir, definem-se claramente, Ha quem diga que ele vé com todo 0 corpo e que ao tato lembra a pele do péssego". No curso dos séculos, 0 A Bao A Qu chegou apenas uma vez a perfeicao. © capitio Burton registra a lenda do A Bao A Quem uma das notas de sua versio de As Mil e Uma Noites. 18, OS PIGMEUS Para 0s antigos, esta nagdo de andes habitava os confins «lo Industdo ou da Eti6pia. Certos autores asseguram que os pigmeus edificavam suas moradas com cascas de ovo. Outros, como Aristételes, escreveram que viviam em tocas subterraneas. Para colher o trigo armavam-se de machados, como se para derrubar uma floresta. Cavalgavam cordeiros € cabras, de tamanho adequado. Anualmente eram invadidos por bandos de gruas, procedentes das planicies da Raissia Pigmeu era também o nome de uma divindade, cujo rosto os cartagineses esculpiam na proa das naus de guerra para aterrorizar seus inimigos. 19 Anfisbena A ANFISBENA A Farsélia enumera as verdadeiras ¢ imaginirias serpen- tes que os soldados de Cato enfrentaram nos desertos da Africa; ai esto a parca, “que ereta como baculo caminha”, o jaculo, que vem pelo ar como uma flecha, ¢ a pesada anfis- ena, que tem duas cabegas. Quase com iguais palavras a descreve Plinio, que acrescenta: “Como se uma niio the bas- tase para descarregar seu veneno”. O Tesouro de Brunetto Latini ~ a enciclopédia que este recomendou a seu antigo dis- cipulo no sétimo circulo do Inferno ~ é menos sentencioso e mais claro: “A anfisbena é serpente com duas cabegas, uma em seu lugar e a outra na cauda; € com as duas pode mor- der, € corre com ligeireza, e seus olhos brilham como can- deias". No século XVII, Sir Thomas Browne observou que no existe animal sem embaixo, em cima, na frente, atras, esquerda e direita e negou que pudesse existir a anfisbena, em que ambas as extremidades so anteriores. Anfisbena, em grego, quer dizer “que vai em duas direcdes". Nas Antilhas em certas regides da América, o nome se aplica a um réptil habitualmente conhecido por “dupla andadora’, por “cobra- de-duas-cabegas” € por “mae-

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