No momento em que na Assembleia da Repblica se discute a
eutansia, preocupa-nos que a lei possa vir a deixar de proteger os cidados, em especial os membros mais fragilizados da sociedade.
Compreendemos que quem defende a eutansia movido por uma
inteno de cuidado, alvio, compaixo. Mas este um daqueles casos em que o mal pode ser feito sem que isso seja inteno de ningum. O perigo da morte a pedido est no seu prprio conceito: com a eutansia o Estado declara que h vidas que no contam.
Aniquilar aquele que sofre afirmar que ele j no tem valor.
Quando se julga o valor de uma vida, essa vida desvalorizada. Mesmo que um doente terminal esteja disposto a encarar a sua vida como indigna de ser vivida, no podemos simplesmente aceitar como definitivo esse desnimo. A nossa responsabilidade afirmar que, mesmo nos momentos de maior sofrimento, essa vida sempre preciosa. Ao invs, matar por compaixo matar a compaixo. Achamos por isso estranho que comunidade poltica possa declarar que aqueles que a elegem sero mais bem servidos pondo fim s suas vidas. No se pode dizer s pessoas que elas tm um valor inesgotvel trabalhando incansavelmente pelo seu bem e depois dizer-lhes que afinal no valiam assim tanto.
No se elimina o sofrimento com a morte; com a morte elimina-
se a pessoa que sofre. A liberdade no pode incluir a eliminao da vida em que reside. No podemos encarar a destruio da nossa liberdade como um exerccio da mesma liberdade.
E porque nos importa tudo isto? Porque se o Estado admitir a
legalizao da eutansia, afirma que vivemos num pas em que a dignidade das pessoas se mede pela sua aptido fsica, capacidade ou utilidade. E ns gostvamos de viver numa sociedade em que isso no tudo.