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Mestrando do programa de pós-graduação em Artes da Universidade de Brasília. Formado em
comunicação pela Universidade de São Paulo e especialista em Arte e Crítica de Arte pela
Universidade Complutense de Madri.
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O Jargon File foi iniciado em 1975 pelo cientista da computação norte-americano Raphael Finkel. Em
seus primórdios, reunia gírias das comunidades de pesquisadores dos laboratórios de inteligência
artificial do Massachusetts Institute of Technology e da Universidade de Stanford, bem como
usuários da rede ARPANET espelhados por outras universidades e por companhias de alta tecnologia.
O compêndio é atualizado na página http://www.catb.org/~esr/jargon.
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Hackeamento e contracultura
A abordagem utópica de Pierre Lévy sustenta, por sua vez, a emergência de uma
universalidade sem totalidade, formada pela interconexão geral dos seres humanos,
formação de comunidades virtuais e aprimoramento contínuo da inteligência coletiva
(LÉVY, P., 1997, 1999, pp. 127-131) – linha de pensamento bastante próxima, em teoria,
da ética hacker. Por outra via, Sherry Turkle observa o fenômeno social dos hackers sob
o viés da transição da cultura de cálculo modernista para uma cultura de exploração e
simulação anárquicas. Segundo o seu pensamento, o hacker se assemelharia a um faz-
tudo ambulante, capaz de remendar problemas a partir do exame e uso de objetos
disponíveis.
Esse comportamento descrito por Turkle é demonstrado pelos hackers desde suas
origens, no Tech Model Railroad Club – grupo pioneiro formado no Massachusetts
Institute of Technology (MIT), na virada dos anos 50 para os 60. Essa comunidade
demonstrava uma obsessão incomum até sua época: a de tatear fisicamente os
computadores e tocar, de modo simulado, em seus sistemas, até desvendá-los de sua
opacidade (LEVY, S., op. cit.). A apropriação desses sistemas através da manipulação e
envolvimento com objetos ou idéias específicas remte ao jogo de bricolage praticado pelo
hacker (TURKLE, op. cit., p. 48).
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Castells comenta que a evolução dos sistemas de comunicação mediada por computador é marcada
por uma espécie de simbiose entre a exploração informal das tecnologias pelos hackers e o trabalho
científico oficial a propósitos militares (op. cit., p. 380).
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Deve-se ter cuidado, porém, na aplicação dos termos catedral e bazar como
índices inequívocos e respectivos de dominação e rebeldia. Taylor repara na indefinição
cada vez maior das fronteiras entre o underground digital e a indústria da informática
(TAYLOR, 1999, pp. X-XI). Para ele, a nociva mistificação do hacker se apóia na
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Douglas Thomas, por sua vez, propõe uma reflexão sobre o segredo, em que a
abordagem hacker da tecnologia poderia ser entendida como um fenômeno
contracultural que reage, particularmente, ao crescimento e institucionalização da
indústria da informática e à ascensão do poder das corporações multinacionais. Duas
funções da computação e da telemática teriam se estabelecido desde os seus
primórdios: a necessidade de guardar e desvelar códigos (THOMAS, 2003, pp. 12-13).
Porém, uma importante mudança marca o contexto tecnológico experimentado pelas
gerações de hackers posteriores àquela das universidades norte-americanas dos anos
60. Em lugar da instituição, o hackeamento passa cada vez mais a ser realizado de modo
corriqueiro, em um mundo repleto de senhas (ibid., p. XI).
indiscriminada dos hackers pela polícia, justiça e mídia – fator que contribuiu para o
aparecimento da Fundação da Fronteira Eletrônica4 (STERLING, 1992).
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Instituição criada em 1990 por John Perry Barlow, John Gilmore e Mitch Kapor, com o objetivo de
promover o respeito à liberdade de expressão, à privacidade, à inovação e aos direitos do
consumidor no ambiente digital. http://www.eff.org
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A coletiva Open_Source_Art_Hack, apresentada em 2002 no New Museum of Contemporary Art, em
Nova York, reuniu uma série artistas e coletivos de vários países, cujos trabalhos dialogavam com o
hacktivismo. http://netartcommons.org/index.pl
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Trabalho apresentado na exposição Free Beer – Superflex, de novembro a dezembro de 2007, na
Galeria Vermelho, em São Paulo. http://www.freebeer.org.
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Trabalho selecionado pela curadoria da 27ª Bienal de São Paulo, mas excluído da montagem final da
mostra. Exibido em outubro de 2006, na Galeria Vermelho, em São Paulo.
http://www.guaranapower.org.
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http://www.etoy.com
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http://www.lucasbambozzi.net
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Trabalho exibido no FILE – Festival Internacional de Linguagem Eletrônica, em agosto de 2008, na
Galeria do SESI, em São Paulo. http://www.marianamanhaes.com
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http://paulonenflidio.vilabol.uol.com.br
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http://www.galerialeme.com/artistas_bio.php?lang=por&id=41
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A ciência nômade é tema do capítulo “Tratado de Nomadologia: A Máquina de Guerra”, de Mil Platôs.
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Segundo a autora: “Our culture tends to equate the word ‘soft’ with unscientific and undisciplined as
well as with the feminine and with a lack of power. Why use a term like ‘soft’ when it could turn
difference into devaluation? What interests me here is the transvaluation of values. ‘Soft’ is a good
word for flexible, nonhierarchical style, one that allows a close connection with one’s objects of
study. Using the term ‘soft mastery’ goes along with seeing negotiation, relationship, and attachment
as cognitive virtues”. p. 56
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“A rua descobre seus próprios usos para as coisas”. A frase aparece no conto Burning Chrome
(1981) e é retomada, no artigo “Rocket Radio”, publicado na revista Rolling Stone, de 15 de junho
de 1989: “The Street finds its own uses for things - uses the manufacturers never imagined. The
microcassette recorder, originally intended for on-the-jump executive dictation, becomes the
revolutionary medium of magnizdat, allowing the covert spread of suppressed political speeches in
Poland and China”.
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REFERÊNCIAS
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil Platôs. São Paulo: Editora 34, 2005.
HIMANEN, Pekka. Ética dos hackers e o espírito da era da informação: A diferença entre
o bom e o mau hacker. Rio de janeiro: Campus, 2001.
RAYMOND, Eric S. The Cathedral & the Bazaar. In: LINUX KONGRESS, 2000,
Würzburg. Version 3.0 available at: http://www.catb.org/~esr/writings/cathedral-
bazaar/cathedral-bazaar. Retrieved on 16th August, 2008.
SAMUEL, Alexandra Whitney. Hacktivism and the Future of Political Participation. Thesis,
Harvard University, Cambridge, Massachusetts, September 2004.
STERLING, Bruce. The Hacker Crackdown: Law and disorder on the electronic frontier.
[?], USA: Spectra Books, 1992. Available at: www.mit.edu/hacker/hacker.html. Retrieved
on: 6th April 2008.
TAYLOR, Paul A. Hackers: Crime in the Digital Sublime. London: Routledge, 1999.
TURKLE, Sherry (1995). Life on the Screen: Identity in the Age of the Internet. New York:
Touchstone, 1997.