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O OLHAR DE HARTOG
LANGLOIS, SEIGNOBOS E MARC BLOCH.
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A prova documental est ligada verdade histrica. Conforme Momigliano,
foram os debates do sculo XVII, entre antiqurios e pirronismo histrico (inspirado por
Sexto Emprico), que definiram os contornos do moderno conceito de histria. O apego
antiqurio evidncia ajudou-os a afastar a tese dos ceticistas de que os livros de
histria eram apenas testemunhos partidrios. Contudo, para Ginzburg, essa trajetria
vigorosamente delineada por Momigliano deve ser antecipada de um sculo.80 Ela
comea justamente com Robortello.
O fillogo-antiqurio, em meio s contradies de suas reflexes81, ressaltou o
papel dos anais para o estabelecimento da cronologia primordial de uma histria
antiquria. Os anais se configuram como uma espcie de gnero intermedirio entre
histria e estudos da Antigidade.82 As consideraes de Robortello sobre os anais
seriam levadas em conta por Sperone Speroni em seu Dilogo da Histria, de mais ou
menos 1588, em que os anais eram mais valorizados que a histria, pois apresentavam
os fatos de forma mais simples e aberta, sem todos os ornamentos que a tradio
histrico-retrica de Ccero prezava tanto nos escritos histricos e que, de acordo com
Speroni, interferiam na verdade das coisas.83 Simultaneamente, em 1588, publicado o
primeiro volume dos Anais eclesisticos de Cesare Baronio. Antes de escrever seus
anais, Baronio cogitara escrever uma Histria eclesistica controversa, mas enfim
decidiu executar a primeira opo, porquanto queria evitar o costume pago [...] de
inserir longos discursos fictcios, entremeados de ornamentos retricos.84 Para
demonstrar a verdade de suas afirmaes Baronio indicava sinais topogrficos nas
margens de suas pginas que expunham sua lealdade aos testemunhos
competentssimos que havia consultado. Era o incio das citaes, das notas, artifcios
que, para Ginzburg, podem ser interpretados como equivalentes da enargeia dos gregos.
Elas comunicavam um efeito de verdade.85