0 evaluări0% au considerat acest document util (0 voturi)
61 vizualizări3 pagini
A fórmula de Calcedónia estabelece que Jesus Cristo é um só e mesmo Filho, verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem, reconhecido em duas naturezas distintas, divina e humana, sem confusão, mudança, divisão ou separação. No entanto, não resolve completamente a questão das relações entre as duas naturezas, deixando espaço para interpretações posteriores.
Descriere originală:
Tópicos de compreensão da questão cristológica no Concílio de Calcedónia
A fórmula de Calcedónia estabelece que Jesus Cristo é um só e mesmo Filho, verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem, reconhecido em duas naturezas distintas, divina e humana, sem confusão, mudança, divisão ou separação. No entanto, não resolve completamente a questão das relações entre as duas naturezas, deixando espaço para interpretações posteriores.
A fórmula de Calcedónia estabelece que Jesus Cristo é um só e mesmo Filho, verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem, reconhecido em duas naturezas distintas, divina e humana, sem confusão, mudança, divisão ou separação. No entanto, não resolve completamente a questão das relações entre as duas naturezas, deixando espaço para interpretações posteriores.
A sntese dogmtica do Conclio de Calcednia pode ser considerada como o princpio
e fundamento da Cristologia: Um s e mesmo Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, o
mesmo perfeito em divindade e perfeito em humanidade, o mesmo verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem reconhecido em duas naturezas, sem confuso, sem mudana, sem diviso, sem separao uma s pessoa e uma s hipstase, um Cristo que no se fraciona nem se divide em duas pessoas, mas um s e mesmo Filho, nico gerado, Deus-Verbo, Senhor Jesus Cristo (DH 301-302).
No debate cristolgico, Nestrio e Cirilo reflectem o esquema
conceptual das escolas onde se inserem: de Antioquia e de Alexandria, respectivamente. A escola antioquena, numa perspectiva mais aristotlica, parte do esquema Logos-anthropos, sublinhando o movimento ascendente da encarnao (na medida em que considera o homem Jesus enquanto assumido pelo Verbo de Deus) e preservando a dualidade de naturezas; a escola alexandrina, de teor mais platnico, parte do esquema Logos-sarx, que reala o movimento descendente (contempla mais o momento em que o Verbo se fez carne), sublinhando a unidade em Cristo. Tanto uma como outra tm vantagens e desvantagens. A perspectiva antioquena sublinha a distino da divindade e da humanidade, realando a humanidade de Cristo, mas tem dificuldade em expressar a unidade concreta de Cristo, resvalando na afirmao de dois sujeitos distintos presentes em Cristo. Por usa vez, se a escola de Alexandria sublinha a unidade de Cristo, tem dificuldades em expressar a distino entre naturezas depois da unio, desvalorizando, consequentemente, a humanidade de Cristo e acenando assim para um monofisismo. Ora, daqui percebe-se como ambas as escolas acabam por representar dois polos do mesmo pndulo. Alm disso, necessrio considerar que por detrs do debate havia a questo da linguagem que no favorecia o entendimento dos dois lados, uma vez que a compreenso do contedo dos termos no era comum: para Cirilo, phusis e hipstase eram sinnimos, enquanto para Nestrio hipstase era sinnimo de prosopon. Por fim, apesar de Nestrio acabar como herege, a sua primeira preocupao a de manter a ortodoxia, contra Ario e Apolinrio. Por isso, fala da conjuno de naturezas, em vez de unio, a fim de salvaguardar a dualidade. Em contrapartida, apesar de Cirilo se manter na ortodoxia, a sua confuso entre phusis e hipstase acabaria por motivar o monofisismo, alm de que a sua actuao no Conclio de feso acabaria por pr em causa o prprio conclio. Neste sentido, ambos foram a reflexo, mas no resolvem a questo de fundo: como se relacionam a naturezas divinas e humanas em Cristo? Contra o monofisismo de Apolinrio e Eutiques, mas tambm de Cirilo, o Conclio, ao afirmar sem confuso, sem mudana, salvaguarda que as duas naturezas reconhecidas no Filho Nosso Senhor Jesus Cristo, no se confundem nem se alteram. Nem o Verbo se transforma na carne, nem a humanidade diluda na divindade. Contra o dualismo nestoriano, ao dizer sem diviso, sem separao, afirma que a diferena no pe em causa a unidade, isto , no significa uma distino de dois subsistentes distintos. Jesus no um hbrido, ora deus ora homem. Em contrapartida, em Jesus Cristo, o Filho vive a sua identidade filial na nossa humanidade. Desta forma, em vez de responder forma como se relacionam a divindade e humanidade de Cristo (questo fundamental presente nos debates cristolgicos) Calcednia salvaguarda a tenso que deve permanecer entre as duas naturezas, de modo que tudo o que se diz de Jesus Cristo tem que garantir que ele verdadeiro homem e verdadeiro Deus e que ns fomos verdadeiramente salvos por Deus encarnado.
A frmula de Calcednia constitui a grande frmula da Igreja.
Neste sentido, Calcednia teve o mrito de balizar toda a concepo cristolgica que deriva da f em Jesus Cristo, identificando, na linha dos ensinamentos adquiridos, no ser Filho o princpio de identidade de Jesus Cristo e procurando interpretar a cristologia anterior. No entanto, no resolveu de facto a questo cristolgica, como se pode perceber pela histria dos anos (e sculos) posteriores ao referido Conclio. Fechou um ciclo, mas abriu a porta para novos desenvolvimentos. Embora fosse inevitvel o encontro do cristianismo com a cultura e o pensamento gregos, tal formulao acabou por descurar a fora narrativa da revelao, desvalorizando a dimenso histrica na compreenso da identidade de Jesus Cristo. Apesar de afirmar a dualidade, essa dualidade acabaria por ser assumida, muitas vezes, como dualismo. A dualidade haveria de ser vista como adio de partes, o que fez com que na Idade Mdia, por exemplo, se procurasse esquemas que salvaguardassem as propriedades de ambas as naturezas, sendo sempre desvalorizada a natureza humana. No entanto, na encarnao, Deus mostra como pode assumir, sem se destruir, a diferena absoluta que O separa de ns. Por fim, acaba por estabilizar a linguagem, mas a compreenso do seu contedo no explicitada, o que levou a que as ambiguidades lingusticas permanecessem, de certa forma, nos debates posteriores.
Bibliografia B. Sesbo (ed.), O Deus da Salvao (sculos I-VIII), Loyola, So Paulo 2005, 291-353.
G. Cardedal, Cristologa, BAC, Madrid 2008, 274-286.
W. Kasper, Jess, el Cristo, 13 ed. Sgueme, Salamanca 2012, 333-345.